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so la rs ev en /i S to ck p ho to .c o m Os desafios diante das epidemias 01 F e v – 2 0 1 8 01 Edição Mosquito invencível? Urbanização desordenada e desequilíbrio ambiental contribuem para a persistência do Aedes aegypti. Cidadania e saúde Saúde pública começa em casa e todos devem ser protagonistas do combate às endemias. Um médico contra todos Oswaldo Cruz e a sua importante contribuição para os avanços brasileiros em imunização. Por que, mesmo com os avanços da ciência e da tecnologia, as doenças infecciosas ainda assolam e assustam a população? Editorial Nesta edição E x p e d i e n t e Os desafi os diante das epidemias Globalização. Fenômeno recorrente e responsável por tantas mudanças significativas no mundo, seja na economia, no turismo ou nas comunicações. A facilidade de locomoção, provocada por esse fenômeno, é responsável também por mudanças drásticas na saúde pública. Doenças que, antigamente, eram restritas a certas localidades espalham- se com velocidade ao redor do mundo. É por isso que a contenção dessas patologias se torna cada vez mais importante e séria. Não à toa, o número de países que exigem o certificado internacional de vacina ou profilaxia tem aumentado. Um exemplo recente é o da febre amarela, cuja vacina já é exigida por 135 países, incluindo o Brasil – que teve o estado de São Paulo inserido na lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) como área de risco de contágio, em janeiro deste ano. Além da febre amarela, recentes epidemias assustaram e assolaram parte da população mundial. Foi o que ocorreu com a gripe A (H1N1), em 2009, com o ebola, em 2013, e com a zica, em 2015 – doenças virais, de fácil transmissão e alto índice de mortes ou de sequelas nos atingidos, a exemplo dos casos de microcefalia em crianças do Brasil. A palavra de ordem, que deveria ser “prevenção”, muitas vezes é substituída por “medo”, o que, rotineiramente, atrapalha as medidas de contenção das doenças. Nesse contexto, esta edição traz reflexões acerca dos principais surtos e epidemias recentes no Brasil, ressaltando as contribuições científicas e individuais para afastar as moléstias. Na seção “Contexto”, teremos acesso a um panorama dos perigos que um mosquito pode trazer à nossa saúde. Em “Entrelinhas”, conheça as divergências e exigências que existem em torno das vacinas, consideradas fundamentais para conter as epidemias e, por outro lado, tidas como arriscadas por quem se diz antivacina. Já a entrevista deste mês apresenta a carreira de Ciências Biológicas, uma área ampla que permite, ao profissional, descobertas e contribuições nas áreas de meio ambiente, educação, saúde e relações sociais. O “Parêntese” analisa os aspectos individuais para a prevenção de doenças, uma vez que é dever de todos cuidar da saúde pública. No “Extra”, uma carta curiosa fala sobre a contribuição do médico Oswaldo Cruz no desenvolvimento de vacinas e no combate a enfermidades no início do século XX, no Brasil. Tenha uma excelente leitura! Equipe Leia Agora Direção geral Nicolau Arbex Sarkis Gerente editorial Emilia Noriko Ohno Coord. de projetos editoriais Diego da Mata Marília L. dos Santos G. Ribeiro Viviane Rodrigues Nepomuceno Edição / Texto Anaiza Castellani Selingardi Bruno Freitas Cláudio Leyria Edilene Faria Érica M. Bettoni Hayashibara Thaís Inocêncio Projeto gráfico Willyam Gonçalves Revisão Kemi Tanisho Diagramação Willyam Gonçalves Licenciamento Jade Cristina Bernardino 7 NA TRILHA DA IMUNIZAÇÃO ENTRELINHAS Afinal, qual seria o melhor caminho para imunizar contra doenças epidêmicas e garantir a saúde da população? 9 EPIDEMIAS: SURPRESAS OU TRAGÉDIAS ANUNCIADAS?CONTEXTO Evitar a proliferação do Aedes aegypti é necessidade antiga na sociedade. Então, como ele é um dos vilões mais temidos atualmente? 12 CIÊNCIAS BIOLÓGICAS ENTREVISTA Uma área versátil e com desafios que englobam questões do meio ambiente à saúde. 2 // N O TÍC IA S EM FO C O Brasil Ciência Educação Saúde Internacional Esporte Começam inscrições para Prêmio Jovem Cientista Começam hoje (29) as inscrições para a 29ª edição do Prêmio Jovem Cientista, aberto a estudantes do Ensino Médio e Superior e a mestres e doutores que contribuam para trazer soluções inovadoras aos desafios do Brasil. O tema deste ano é “Inovações para a conservação da natureza e transformação social”. O Prêmio Jovem Cientista visa incentivar a pesquisa científica no país e foi instituído em 1981. As inscrições serão encerradas no dia 31 de julho, junto com a entrega dos trabalhos. 29 jan. 2018 – Agência Brasil Sérgio Cabral é denunciado pela 21ª vez na Lava Jato O Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro apresentou mais uma denúncia envolvendo o ex- -governador Sérgio Cabral. Esta é a 21ª denúncia contra Cabral: uma foi apresentada pela força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, e as outras 20 pelo MPF no Rio. O ex-governador já tem quatro condenações pela Justiça Federal. A nova denúncia apresentada pelo MPF é relativa a lavagem de dinheiro e é um desdobramento das operações Calicute, Mascate e Eficiência. 30 jan. 2018 – Agência Brasil Surfe, skate e karatê são apostas do governo para os Jogos Olímpicos de Verão O Brasil aposta no surfe, no skate e no karatê para se destacar nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, em Tóquio, no Japão. Junto com o beisebol e a esca- lada esportiva, essas modalidades serão a novidade na edição da olimpíada daqui a 2 anos. Os brasileiros também têm chance de medalhas no Jogos Olímpi- cos de Inverno, que ocorrem entre 9 e 25 de fevereiro, na Coreia do Sul. Por causa das condições climáticas, a pequena delegação brasileira de apenas nove inte- grantes treina no exterior com o auxílio do Bolsa Atleta. 30 jan. 2018 – Agência Brasil Lula é condenado por unanimidade por corrupção e lavagem de dinheiro O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) condenou por unanimidade o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro. Os desembargadores João Pedro Gebran Neto, relator do processo; Leandro Paulsen, revisor; e Victor Luiz dos Santos Laus mantiveram a condenação em primeira instância, proferida pelo juiz Sérgio Moro, mas decidiram aumentar a pena para 12 anos e 1 mês em regime fechado. O relator do caso, desembargador João Pedro Gebran Neto, aumentou a pena do ex-presidente Lula para 12 anos e 1 mês de prisão em regime fechado, além de 280 dias-multa. 24 jan. 2018 – O Globo Conflitos e desastres naturais deixam 59 milhões de jovens analfabetos Cerca de 59 milhões de jovens estão ficando analfabetos em países que enfrentam conflitos ou grandes impactos de desastres naturais ao redor do mundo. O levantamento foi feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e envolve jovens de 15 a 24 anos. Segundo a diretora- -executiva do UNICEF, Henrietta Fore, “os números são um lembrete do impacto trágico dessas crises na educação das crianças”. A situação é mais complicada para as meninas e mulheres jovens, já que 33% delas não conseguem ter acesso ao básico do ensino. 1 fev. 2018 – Agência Brasil Moro determina leilão público de triplex atribuído a ex-presidente O juiz federal Sérgio Moro determinou a venda, em leilão público, do triplex do Guarujá (litoral paulista), que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), pertenceria ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão foi tomada após o imóvel ter sido penhorado a pedido da 2ª Vara de Execução de Títulos Extrajudiciais da Justiça Distrital de Brasília, em processo da empresa Macife contra a OAS. O juiz determina que os valores a serem obtidos com o leilão do triplex sejam revertidos à Petrobras. 30 jan. 2018 – Agência Brasil Sem passaporte, Lula cancela viagem à Etiópia, onde falaria em série de eventos sobre corrupção Leia em: <www.bbc.com/portuguese/brasil-42827689>. Vale lembrar! Estados Unidos voltam a permitir entrada de refugiados de 11 paísesOs Estados Unidos voltaram a autorizar, nesta segun- da-feira (29), a entrada de refugiados de 11 países, 94 dias depois da suspensão, e ampliaram as medidas de segurança do programa que fiscaliza a entrada des- ses imigrantes no território americano.Mas o governo Trump anunciou que eles passarão por avaliações mais rígidas, baseadas no risco do local de origem. 29 jan. 2018 – G1 3 *Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 2 fev. 2018. lu lik a/ S hu tt er st o ck .c o m Produção de vacina contra febre amarela deveria ser dez vezes maior Leia em: <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- deveria-ser-dez-vezes-maior.htm>. Vale lembrar! Produção de vacina contra febre amarela deveria <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- foram acessados em 2 fev. 2018. ser dez vezes maior Leia em: estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- deveria-ser-dez-vezes-maior.htm>. Produção de vacina contra febre amarela deveria <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- foram acessados em 2 fev. 2018. Produção de vacina contra febre amarela deveria <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela-estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- deveria-ser-dez-vezes-maior.htm>. Produção de vacina contra febre amarela deveria foram acessados em 2 fev. 2018. Produção de vacina contra febre amarela deveria ser dez vezes maior Leia em: estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- deveria-ser-dez-vezes-maior.htm>. Produção de vacina contra febre amarela deveria <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- Produção de vacina contra febre amarela deveria <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- Produção de vacina contra febre amarela deveria <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- Produção de vacina contra febre amarela deveria <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- foram acessados em 2 fev. 2018.foram acessados em 2 fev. 2018.foram acessados em 2 fev. 2018.sites *Todas as notícias foram adaptadas e todos os *Todas as notícias foram adaptadas e todos os *Todas as notícias foram adaptadas e todos os *Todas as notícias foram adaptadas e todos os *Todas as notícias foram adaptadas e todos os *Todas as notícias foram adaptadas e todos os *Todas as notícias foram adaptadas e todos os *Todas as notícias foram adaptadas e todos os Produção de vacina contra febre amarela deveria ser dez vezes maior <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ lu lik a/ S hu tt er st o ck .c o m estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- deveria-ser-dez-vezes-maior.htm>. Produção de vacina contra febre amarela deveria ser dez vezes maior <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ lu lik a/ S hu tt er st o ck .c o m estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- deveria-ser-dez-vezes-maior.htm>. Produção de vacina contra febre amarela deveria ser dez vezes maior <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ lu lik a/ S hu tt er st o ck .c o m estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- deveria-ser-dez-vezes-maior.htm>. Produção de vacina contra febre amarela deveria ser dez vezes maior <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ lu lik a/ S hu tt er st o ck .c o m estado/2018/01/30/producao-de-vacina-contra-febre-amarela- deveria-ser-dez-vezes-maior.htm>. *Todas as notícias foram adaptadas e todos os *Todas as notícias foram adaptadas e todos os Vale lembrar! // N O TÍC IA S EM FO C O Número de mortes por febre amarela no estado do Rio chega a 13 Mais uma pessoa morreu de febre amarela no mu- nicípio de Rio das Flores, elevando para 13 o número de óbitos causados pela doença este ano no estado do Rio de Janeiro. A informação consta do boletim epidemiológico divulgado na noite desta quinta-feira (1º) pela Secretaria de Estado de Saúde. As mortes ocorreram em oito municípios: Valença (4); Teresópolis (2); Rio das Flores (2); Nova Friburgo (1); Miguel Pereira (1); Cantagalo (1); Paraíba do Sul (1) e Sumidouro (1). Os dados levam em consideração o local de provável infecção. Em 2018, 34 pessoas já contraíram a doença no estado. 1 fev. 2018 – Agência Brasil É “inadmissível” agredir a Justiça, diz Cármen Lúcia A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, abriu nesta quinta-feira (1º) os trabalhos do Judiciário em 2018 com um discurso em defesa da Justiça. Ela disse ser “inadmissível e inaceitável” atacar a instituição e ressaltou que uma pessoa pode até discordar de uma decisão judicial, mas deve fazer a reclamação dentro dos “meios legais”. Para ela, “justiça individual” é vingança. Em sua fala, Cármen Lúcia também enalteceu o papel da Constituição, das leis e da Justiça em momentos de crise. Ela disse esperar que os cidadãos saibam conviver com responsabilidade e zelar pela liberdade. 1 fev. 2018 – G1 Nascem os primeiros primatas clonados Pela primeira vez na história, cientistas criaram clones de macaco por meio da mesma técnica que deu origem à famosa ovelha Dolly, em 1996. Zhong Zhong e Hua Hua, nascidos na China, são bebês idênticos e saudáveis da espécie Macaca fascicularis. O método de clonagem aplicado já foi usado para criar cópias de várias outras espécies de mamíferos – como cães, gatos, bois e ratos. 24 jan. 2018 – Superinteressante Brasil Ciência Educação Saúde Internacional Esporte Antecedência • A vacina contra a febre amarela deve ser aplicada pelo menos dez dias antes de qualquer viagem para locais onde há recomendação de imunização. O tempo é necessário para o organismo produzir os anticorpos contra a doença. Imunes • Quem já tiver recebido uma dose ao longo da vida não precisa procurar novamente os postos de saúde. Áreas de risco • Ao todo, 20 estados e o Distrito Federal fazem parte da chamada Área com Recomendação de Vacinação. Os estados são: AC, AM, AP, PA, RO, RR, TO, GO, MS, MT, BA, MA, PI, MG, SP, RJ, ES, PR, RS e SC. Ciclo silvestre • Os casos de febre amarela registrados no país permanecem no ciclo silvestre da doença – quando a enfermidade é transmitida apenas por mosquitos encontrados em regiões de mata, dos gêneros Haemagogus e Sabethes. O último caso de febre amarela urbana foi registrado no Brasil em 1942. Diagnóstico • Somente um médico é capaz de diagnosticar e tratar corretamente a doença. Doses • De acordo com o Governo Federal, desde 2017 até o momento, foram encaminhadas cerca de 57,4 milhões de doses da vacina para todo o país, sendo 48,4 milhões de doses apenas para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, onde a estratégia de vacinação está sendo intensificada. Fonte: Agência Brasil e Ministério da Saúde A luta contra a febre amarela Febre amarela: informações importantes 4 Brazil launches world’s largest campaign with fractional-dose yellow fever vaccine Brazil today launched a mass immunization campaign that will deliver fractional doses of yellow fever vaccine to residents of 69 municipalities in the states of Rio de Janeiro and São Paulo. The strategic plan for the campaign was developed with support from the Pan American Health Organization (PAHO) and the World Health Organization (WHO). It will be the world’s largest vaccination campaign, to date, using fractional doses of yellow fever vaccine. 25 jan. 2018 – Pan American Health Organization Bill Gates invertirá 40 millones dedólares para desarrollar una “súper vaca” De genio de la informática a filántropo, Bill Gates tiene ahora un ambicioso proyecto por delante, con el objetivo de ayudar a los más necesitados: crear una “súper vaca”. Con más salud que cualquier otra de su especie, sería capaz de soportar el calor extremo de Africa y de producir más leche que las europeas. 30 jan. 2018 – Clarín BUENOS AIRES Clarín WASHINGTON, D.C. Pan American Health Organization Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 2 fev. 2018. 5 To m az S ilv a/ A gê nc ia B ra si l Na exposição principal do Museu do Amanhã, os efeitos das ações humanas sobre o planeta Terra têm lugar de destaque, o que é chamado de “antropoceno”, termo formulado pelo cientista Paul Crutzen, Prêmio Nobel de Química de 1995. Esse é o tema da exposição “Ameaçados – Planeta em Transformação”. A mostra reúne 30 imagens do fotógrafo brasileiro Érico Hiller, que há dez anos percorre o mundo registrando as transformações no meio ambiente resultantes das modifi cações climáticas. A exposição fi ca em cartaz até abril. O Museu do Amanhã fi ca na Praça Mauá, no centro da cidade do Rio de Janeiro. 24 jan. 2018 – Agência Brasil // IMAGEM EM FOCO 6 7 ENTRELINHAS Na trilha da imunização Surtos de doenças e o crescente movimento antivacina levantam dúvidas sobre o melhor caminho para imunizar e garantir a saúde da população Nos últimos 12 meses, cerca de oito mil pessoas contraíram sarampo na Europa, uma doença que pode ser prevenida com vacina e que, em muitas regiões daquele continente, já estava erradicada. [...] Grande parte desses casos, para as autoridades, cai na conta do movimento antivacina, grupo crescente de pais que decide não vacinar seus filhos, seja por crenças filosóficas, religiosas, medo dos efeitos colaterais ou porque são contra a indústria da imunização. No Brasil, o movimento é tímido, mas a onda global é o suficiente para fazer os médicos daqui se mostrarem vigilantes e dedicarem mais tempo para convencer aqueles que são avessos à vacinação — em geral jovens e com alta escolaridade. Algumas pessoas relatam sangue nas fezes do bebê depois de ele receber a imunização contra o rotavírus humano, por exemplo. [...] Outras vacinas, como a tríplice viral — que protege contra sarampo, caxumba e rubéola —, também são alvo de integrantes do movimento antivacina, que acreditam que ela pode levar a problemas neurológicos e até ao transtorno do espectro autista. https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/movimento-de-pais- contra-vacinacao-cresce-no-mundo-21620399 Leia na íntegra em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/ saude/movimento-de-pais-contra-vacinacao-cresce-no- mundo-21620399>. A vacinação é uma das medidas mais importantes de prevenção contra doenças. É muito melhor e mais fácil prevenir uma enfermidade do que tratá-la, e é isso que as vacinas fazem. A vacinação não apenas protege aqueles que recebem a vacina, mas também ajuda a comunidade como um todo. Quanto mais pessoas de uma comunidade ficarem protegidas, menor é a chance de que qualquer uma delas – vacinada ou não – seja contaminada. www.brasil.gov.br/saude/2014/10/vacinas-sao-armas-eficazes-para- prevenir-doencas Leia na íntegra em: <www.brasil.gov.br/saude/2014/10/ vacinas-sao-armas-eficazes-para-prevenir-doencas>. As vacinas são substâncias biológicas introduzidas nos corpos das pessoas a fim de protegê-las de doenças. Na prática, elas ativam o sistema imunológico, “ensinando” nosso organismo a reconhecer e combater vírus e bactérias em futuras infecções. [...] Há um risco, baixíssimo, em torno das substâncias feitas de microrganismos inativos. Indivíduos com imunodeficiência (incapacidade de estabelecer uma imunidade efetiva) estão sujeitos a esse problema. Há casos raros em que os vírus atenuados provocam a enfermidade. [...] Por prevenção, é recomendado que crianças sejam vacinadas logo cedo – assim que o sistema imune estiver desenvolvido o suficiente para responder a substâncias particulares. www.nexojornal.com.br/explicado/2016/07/22/Vacinas-as-origens- a-import%C3%A2ncia-e-os-novos-debates-sobre-seu-uso Leia na íntegra em: <www.nexojornal.com.br/explicado/2016/ 07/22/Vacinas-as-origens-a-import%C3%A2ncia-e-os- novos-debates-sobre-seu-uso>. A vacinação é uma das medidas mais importantes de A vacinação é uma das medidas mais importantes de TEXTO02 Nos últimos 12 meses, cerca de oito mil pessoas Nos últimos 12 meses, cerca de oito mil pessoas TEXTO03 As vacinas são substâncias biológicas introduzidas As vacinas são substâncias biológicas introduzidas TEXTO01 8 ENTRELINHAS A N Á L I S E Com o recente surto de febre amarela, o assunto “vacinação” voltou à tona com bastante força. Acompanhamos casos de alastramento da doença e campanhas osten- sivas pela vacinação de populações em áreas consideradas de risco. Em consonância com o atual cenário da saúde pública brasileira, o Leia Agora não poderia deixar de abordar esse tema tão importante. Para dar início à nossa análise, o Texto 1 é um trecho de uma reportagem com caráter informativo. No excerto selecionado, explica-se, objetivamente, o mecanismo de funcionamento das vacinas no or- ganismo, os possíveis riscos da administração delas e a mais comum recomendação de imunização. A reportagem, na íntegra, traça a história do desen- volvimento das vacinas, constatando que há muito estudo antes que uma delas comece a ser fabricada e ainda mais testes antes que seja efetivamente aplicada na população. O Texto 2 provém do site do Governo Federal e discorre sobre a importância da vacinação das pessoas, defendendo que é muito mais fácil conter uma patologia ao tornar as pessoas imunes a ela do que controlar surtos da própria doença. Além disso, o artigo chama a atenção para o fato de que se vacinar não é apenas proteger a si mesmo, mas proteger também aquelas pessoas que não podem se vacinar. Já o Texto 3 revela que um movimento antivacina, mais forte na Europa, mas também presente no Brasil, vem ganhando força no discurso da não imunização de bebês e crianças. Essa corrente se apoia em justificativas religiosas ou filosóficas e questionamentos quanto à seguridade e real necessidade das vacinas. Integralmente, a reportagem elenca alguns dos efeitos adversos relatados por responsáveis de crianças que tomaram certas vacinas, o medo de que elas desencadeiem diversas enfermidades e os métodos alternativos que alguns utilizam para não precisar submeter os pequenos à vacinação. Para analisar textos de natureza informativa e formar uma opinião embasada a respeito do assunto, o mais importante é buscar fontes variadas e questionar as visões que nos são expostas. Ademais, no caso em questão nesta análise, é importante levar em conta que os assuntos de saúde pública vão além do cidadão como indivíduo independente e adentram o campo do indivíduo como parte de uma sociedade. Considerando esses fatores, muitas reflexões sobre vacinação podem ser levantadas. A decisão por não se imunizar (ou não imunizar os filhos), por exemplo, leva em consideração o risco oferecido à saúde de pessoas imunodeprimidas, gestantes, idosos e demais casos em que a vacinação pode não ser recomendada? Por outro lado, embora não tão comumente, os efeitos colaterais das vacinas podem ser graves e levar até mesmo à morte. Se isso já é de conhecimento geral, seriam necessários esforços para aperfeiçoar os métodos de imunização da população? Existiriam outras possibilidades mais seguras a serem aplicadas e/ou desenvolvidas? Sobre o caso mais recente de alerta no país, o da febre amarela, a vacina contra essa doença não é rotineiramente aplicada; ao contrário, espera-se os momentos de surtos para dá-la à população de áreas afetadas e, depois, de áreas de risco. Entretanto, é preciso considerar que essa doença não está erradicada no país.Aproveite o contexto que estamos vivendo e as reflexões aqui propostas para procurar novas fontes de informação e conhecimento e construir uma base sólida para sua argumentação, exercitando sempre seu pensamento crítico e sua função como cidadão responsável e agente de transformação. Sendo assim, que tal agora elaborar sua própria dissertação acerca do tema “A questão da vacinação no Brasil: como garantir imunização segura e saúde à população?”. Para contribuir com seu texto, vale relembrar a Revolta da Vacina; analisar os métodos que foram e que são utilizados para imunização e ponderar sobre sua obrigatoriedade; aprofundar-se nos estudos de caso, usando exemplos de outros países para tecer comparativos. Bom trabalho com suas produções textuais! Editorial Re d K oa la /S hu tt er so tc k. co m Imunodeprimido: indivíduo que que não apresenta respostas imunitárias normais, seja por doença ou por tratamento a que está submetido. N os últimos anos, muito tem se falado sobre as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Trata-se de um pequeno, mas eficiente, mosquito que tem a capacidade de transmitir diversas patologias, levando milhões de pessoas a óbito ao redor do mundo. No Brasil, a luta contra esse mosquito que transmitia a febre amarela urbana teve início no começo do século XX, quando Oswaldo Cruz tentara eliminá-lo. Essa doença apresenta dois ciclos biológicos (urbano e silvestre), que se diferem de acordo com o local de ocorrência do vírus e mosquito transmissor. Na época, a campanha foi marcada pelo apoio militar, com o chamado “exército de mata-mosquitos” entrando de casa em casa à procura desse vetor. Naquele momento, a meta era erradicar o Aedes aegypti em quatro anos, estratégia que provocou a diminuição drástica da doença em área urbana, levando o Brasil a um reconhecimento mundial por esse feito. Com o passar dos anos, a ocorrência da forma silvestre continuou sendo registrada, entretanto, pela diminuição de casos, a febre amarela urbana deixou de ser prioridade na política pública de saúde, culminando para que, posteriormente, fôssemos “surpreendidos” por diversos surtos dessa doença. Contudo, no final dos anos 1930, foi criada a primeira vacina eficaz contra essa enfermidade, intitulada de “cepa 17D” ou “vírus camarada”. Recentemente, o registro de inúmeras mortes de primatas infectados com o vírus da febre amarela vem gerando pânico entre a população humana e uma corrida aos postos de saúde para imunização com a vacina. A febre amarela silvestre ocorre em regiões de matas, e o mosquito envolvido na transmissão é o Haemagogus, que infecta primatas não humanos e, ocasionalmente, pica humanos que adentram as matas. É assim que essas pessoas contraem a enfermidade. O grande perigo está no deslocamento de humanos (não vacinados) entre a área urbana e zonas de mata, os quais, após serem infectados com o vírus e retornarem para áreas urbanas, podem dar início ao ciclo de febre amarela urbana, através do vetor Aedes aegypti. Ta ci o P hi lip S an so no vs ki /S hu tt er st oc k. co m POR MARIANNI DE MOURA RODRIGUES Epidemias: surpresas ou tragédias anunciadas? Dengue, zica, chicungunha e febre amarela são doenças transmitidas sempre do mesmo jeito há muito tempo; quando, afi nal, aprenderemos de vez a evitá-las? 9 Em se tratando de doença transmitida por vetor, a dengue já é uma velha conhecida dos brasileiros, pois os primeiros casos registrados datam de meados dos anos 1920. Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, estima-se que 50 milhões de novos casos de dengue ocorram anualmente no Brasil e que aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas vivam em países onde o vírus pode ser encontrado. Inúmeras tentativas foram feitas para o controle desse vetor. Contudo, fomos surpreendidos em 2014/2015 por duas novas doenças transmitidas por esse mosquito. A zica e a chicungunha, enfermidades recentes e debilitantes, sendo a primeira relacionada ao nascimento de muitas crianças com microcefalia e que apresenta, ainda, correlação direta com a síndrome de Guillain-Barré. A segunda é caracterizada por acometer de forma grave as articulações dos doentes. Mas como pode um pequeno mosquito rajado de preto e branco transmitir doenças que causam tanto sofrimento? Como é possível não conseguirmos acabar com ele? Historicamente, esse mosquito está associado à presença humana, comportamento reiterado por diversos trabalhos científicos que descrevem a presença de Aedes aegypti dentro das casas. Dessa forma, faz-se necessária a cooperação de todos os níveis da sociedade no combate ao mosquito transmissor dessas doenças. Fatores como globalização, industrialização, cres- cimento do tráfego aéreo e terrestre, urbanização desordenada, expansão agrícola, degradação ambiental e ecoturismo favoreceram a propagação e a expansão de muitos vírus. A situação se torna ainda mais delicada em regiões carentes, onde o fornecimento de água potável, o saneamento básico e a coleta de lixo precária aumentam a disponibilidade de criadouros do Aedes aegypti, facilitando a ampliação geográfica dos mosquitos. Essas epidemias agravam a crítica situação da saúde pública no Brasil. Além do impacto direto socioambiental causado pelas infecções virais, essas doenças nos afetam economicamente, tanto no âmbito dos municípios como do estado e do nosso país. São exigidas ações que ultrapassam as despesas do tratamento médico, sendo necessários aumento de recursos com urgência para suprir a demanda de exames, médicos extras, internações e medicamentos. Além disso, há os danos sociais, causados tanto pelas faltas escolares e ausências no trabalho como também pelas perdas por morte prematura de pessoas que não conseguem se curar das doenças. Diante dessa situação difícil, a solução viável para a prevenção do problema é efetivamente o controle do vetor, ação que tem custos expressivamente menores, quando comparada ao tratamento das doenças. O controle da urbanização desordenada e a restauração ambiental de áreas degradadas evitariam o surgimento de novos surtos dessas e de outras doenças já transmitidas e que possam vir a ser transmitidas pelo Aedes aegypti. Esse trabalho não deve ser atribuído somente aos administradores públicos, mas a toda a população, passando por reformulação no sistema de saúde pública, disponibilização de água tratada, saneamento básico e coleta de lixo da forma adequada. As ações para eliminar possíveis criadouros do mosquito transmissor são essenciais no combate ao avanço dessas doenças. Assim, atente para algumas dicas: mantenha bem tampados caixas, tonéis e barris de água; coloque o lixo em sacos plásticos e m rf iz a/ S hu tt er st oc k. co m 1010 mantenha a lixeira sempre bem fechada; não jogue lixo em terrenos baldios; se guardar garrafas de vidro ou plástico, mantenha sempre as bocas para baixo; não deixe água da chuva acumulada sobre a laje; encha os pratinhos ou vasos de planta com areia até a borda; se tiver pneus velhos em casa, retire toda a água e mantenha-os em locais cobertos, protegidos da chuva; limpe as calhas com frequência, evitando que galhos e folhas impeçam a passagem da água; lave, com frequência, com água e sabão, os recipientes utilizados para armazenar água e semanalmente os vasos de plantas aquáticas. Com essas ações de vigilância permanente, conseguiremos evitar o nascimento do transmissor da doença. Enquanto não atuarmos na prevenção e não houver uma conscientização e colaboração de todos os níveis da sociedade, estaremos reféns de epidemias recorrentes e suscetíveis ao aparecimento de novas doenças. Arquivo pessoal/ Marianni de Moura Rodrigues Marianni de Moura Rodrigues tem 32 anos e é bióloga na Agência Transfusional do Hospital Regional do Vale do Paraíba de Taubaté (SP). É graduada pela Universidade de Taubaté (Unitau) e mestre em Ciências pela Coordenadoria de Controlede Doenças SES/SP. A s doenças no Brasil, principalmente as transmitidas por mos- quitos, vêm ganhando os noticiários e as conversas nas ruas ou em nossas casas. Mas, afinal, o que significa surto, ende- mia, epidemia ou pandemia? Denominamos surto dois ou mais casos que, em termos epidemiológicos, possuem relação entre eles. Trata-se da ocorrência de uma doença que fica restrita a um determinado espaço, podendo esse ser em um colégio, uma creche, uma festa, um bairro e outros. O termo endemia, na área da saúde, está relacionado a uma doença que acontece de forma sistemática em populações que habitam determinados espaços. No decorrer do tempo, observam-se ciclos periódicos e regulares dessa doença, com variações cíclicas e sazonais. A epidemia pode vir a ocorrer em uma comunidade ou região em que a doença acometa um enorme número de pessoas em um mesmo período, ultrapassando o limite superior da variação da doença dentro de um diagrama de controle. A pandemia se dá quando uma epidemia atinge um amplo espectro de distribuição geográfica e a doença atinge diversos países ou um continente. Tratando especificamente da febre amarela, é uma doença causada por um vírus advindo da África que chegou às Américas ao longo dos séculos, e os mosquitos africanos provavelmente vieram dentro das em- barcações. As epidemias dessa doença são chamadas de cíclicas, mas não possuímos dados suficientes para determinarmos os períodos epidê- micos. Segundo os pesquisadores, o que pode se levar em consideração é que os casos de febre amarela vêm ocorrendo com maior frequência. A vacina que previne a febre amarela (que tem uma quantidade enorme do vírus) foi criada em 1937. Isso confirma que é uma doença antiga em nosso território. Mesmo a vacina fracionada já é suficiente para imunizar o indivíduo. Aproveitando a explicação, nesse verão, além da febre amarela, outras doenças podem ganhar força. O professor Luiz Tadeu de Moraes Figueiredo, que atua no Laboratório de Virologia da Faculdade de Medici- na de Ribeirão Preto, cita que a zica, a chicungunya, o rocio, a encefalite St. Louis e o oropuche também podem vir a se tornar epidemias. Para entender melhor, ouça a entrevista na íntegra acessando o link a seguir: <http://jornal.usp.br/atualidades/a-febre-amarela-e-outras-seis-doencas- ameacam-o-verao/>. O comportamento das doenças T O Q U E D O E S P E C I A L I S T A Ciências da Natureza e suas Tecnologias Biologia HA BILI DA DES O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estabelece competências e habilidades norteadoras do estudo dos conteúdos exigidos para o Ensino Médio. Por meio do texto “Epidemias: surpresas ou tragédias anunciadas?”, foram trabalhadas as seguintes competências e habilidades da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias: C1 – Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade. H2 – Associar a solução de problemas de comunicação, transporte, saúde ou outro, com o correspondente desenvolvimento científico e tecnológico. H4 – Avaliar propostas de intervenção no ambiente, considerando a qualidade da vida humana ou medidas de conservação, recuperação ou utilização sustentável da biodiversidade. H12 – Avaliar impactos em ambientes naturais decorrentes de atividades sociais ou econômi- cas, considerando interesses contraditórios. POR MURILO PIRES FIORINI 11 CARREIRA: Ciências Biológicas Ana Carla Arantes é formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), especializada em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal do Sul de Minas (IFSul) e Global Business Administration (GBA) em Sustentabilidade Corporativa pelo Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE/FGV). Atualmente, é educadora ambiental do Parque Natural de Pouso Alegre, em Minas Gerais, além de consultora em Licenciamento Ambiental e em Implantação de Projetos Ambientais. Acredita nessa carreira porque consegue perceber as marcas de suas ações no cotidiano das pessoas envolvidas pelo seu trabalho. A rq ui vo p es so al / A na C ar la A ra nt es sa n je ri /i S to ck p h o to .c o m E N T R E V I S TA | Ana Carla Arantes E N T R E V I S TAE N T R E V I S TA 1212 ? Equipe Leia Agora: Para cursar Ciências Biológicas, quais devem ser os interesses dos candidatos? O que é estudado nesse curso superior? Para se tornar um biólogo, antes de mais nada, é necessário que, entre as tantas áreas possíveis de atua- ção, o candidato já tenha uma forte simpatia por alguma delas, pois o curso de Ciências Biológicas abrange muitos campos. Isso faz do curso uma grande aventura, pois ele envolve desde as disciplinas menos populares entre os acadêmicos, como Biofísica, Cálculo, Bioquímica e Estatística, até as melhores aulas de campo para estudar ecologia marinha na praia, dinâmica de paisagens na montanha ou gestão de unidades de conservação em um parque, por exemplo. É preciso entender que todas essas disciplinas vão se complementar de alguma maneira. Uma característica importante para que o curso seja mais prazeroso é a curiosidade por aprender a fundo os processos biológicos; ter aquela pergunta recorrente de “como as coisas funcionam?”, seja dentro de seu corpo, na multiplicação de um vírus ou mesmo como o Universo vem se transformando evolutivamente ao longo do tempo e do espaço. Equipe LA: Quais são as áreas de atuação de um profissional de Ciências Biológicas? Necessariamente, o profissional trabalhará com Educação? A Resolução 227/2010 do Conselho Federal de Biologia (CFBio) regulamenta que o biólogo pode atuar em três grandes áreas: meio ambiente e biodiversidade, saúde e biotecnologia e produção. Diante dessa vasta possibilidade de atuação, já se nota que a Educação é apenas uma delas, podendo, também, ser sempre uma função que caminhe junto com outra, pois, por experiência própria, quando dei aulas, muito do que eu via no meu cotidiano de trabalho era o conteúdo programático das disciplinas que eu ministrava no curso técnico de Meio Ambiente. Lembrando que existem duas modalidades de curso de Ciências Biológicas: bacharelado, com foco em pesquisa, e licenciatura, que forma professores. Equipe LA: Em um mundo cada vez mais dinâmico, quais são as novas possibilidades de atuação na carreira de um biólogo? E quais seriam as áreas que nunca “saem de moda”? Posso dizer que novas possibilidades promissoras na área da Biologia estão relacionadas a remediações de áreas acometidas por impactos ambientais, por exemplo, toda a região do Vale do Rio Doce, onde houve o derramamento de lama pelo rompimento da barragem da empresa Samarco. Novas tecnologias precisam ser desenvolvidas em pesquisa, a fim de viabilizar novas soluções ambientais. Já as áreas que nunca “saem de moda” são aquelas mais românticas da Biologia, que envolvem o manejo e a conservação de espécies, por exemplo. Equipe LA: Como ingressar no mercado de trabalho? O curso exige que o estudante faça estágios? Para ingressar no mercado de trabalho, é aconselhável que o candidato à vaga já apresente alguma experiência na área de atuação específica daquele cargo. Portanto, os estágios são cruciais. Como disse anteriormente, ter afinidade por algum setor antes de entrar no curso irá ajudar o aluno a focar nas atividades extracurriculares daquela área específica, direcionando o curso para o aprimoramento de determinada habilidade, seja na área ambiental, da saúde ou da biotecnologia. Equipe LA: Biologia e Biomedicina são áreas correlatas? Por quê? A Biomedicina e a Biologia foram regulamentadas na mesma época, o que já evidencia a semelhança entre as duas profissões. A dúvida na hora de escolher entre a carreirade biólogo ou de biomédico é comum, pois há muitas semelhanças na atuação desses profissionais: ambos são cientistas, atuam fortemente com pesquisa, estudam os mais diversos seres vivos e trabalham frequentemente em laboratórios. Mas, na prática, desempenham papéis bastante diferentes. Quem faz Ciências Biológicas tem no seu trabalho uma relação mais ampla com a natureza e com a promoção da sustentabilidade. Já o profissional da Biomedicina tem uma função ligada à saúde do ser humano. O foco do seu trabalho é a prevenção e o tratamento de doenças. “Recomendo a carreira pela importância social que ela representa, pois somos capazes de transformar muitas realidades por meio de nossos estudos e pesquisas, sobretudo pela consciência ambiental que propagamos”. 13 Equipe LA: Qual é o papel da microbiologia, no âmbito de pesquisa e prevenção de doenças e epidemias? A microbiologia tem por objetivo o estudo dos microrganismos e suas atividades. Os microrganismos compreendem as bactérias, os fungos (bolores, leveduras e orelha-de-pau), os vírus, as algas e os protozoários, e o conhecimento acerca deles e das condições ideais para sua proliferação é crucial para o desenvolvimento de protocolos específicos de prevenção. Existem muitos campos de aplicação da microbiologia, sendo a microbiologia médica a que se relaciona à pesquisa e prevenção de doenças e epidemias. Ela estuda os microrganismos patogênicos para o ser humano, para a cavidade oral (microbiologia oral) e para animais (microbiologia animal ou veterinária). Esse campo de aplicação está relacionado ao controle e à prevenção das doenças, associado, portanto, às práticas assépticas, à antibioticoterapia, à quimioterapia e à imunização, bem como à epidemiologia e/ou aos métodos de diagnóstico das doenças infecciosas. Equipe LA: Quais seriam as outras formas de atuação de um biólogo quando o assunto é epidemias e doenças? Como educador ambiental, o biólogo sempre poderá atuar como disseminador de conhecimentos preventivos e informativos, em uma abordagem diferente do que faria um agente de saúde, por exemplo. Trabalhar com prevenção, com as ferramentas científicas a que temos acesso, torna as campanhas mais dinâmicas. É o que estamos vivenciando com os trabalhos de informação sobre a febre amarela, por exemplo. Temos primatas em nossa mata [Minas Gerais], o parque é rico em biodiversidade, e muita gente está confusa, sem saber no que acreditar, já que a mídia e o senso comum acabam virando um “telefone sem fio” da realidade. Nosso papel é levar a informação de maneira técnica e com fácil interpretação, para que a população realmente se previna da forma correta e não cometa nenhum crime ambiental por desinformação. Equipe LA: Uma pessoa formada em Ciências Biológicas pode abrir a própria empresa? Quais seriam as mais adequadas? Pode sim. Dependendo da área em que se pretende atuar, o ideal é que sejam feitas parcerias com outros profissionais para que os serviços oferecidos por essa empresa possam atrair um maior número de clientes. Por exemplo: uma empresa de consultoria ambiental geralmente vai precisar de um agrônomo, um engenheiro e técnicos ambientais para o cumprimento das tarefas correlatas de cada área específica. Existem atribuições que somente o agrônomo poderá assinar (assinatura de responsabilidade técnica), outras só o biólogo e assim por diante. Se um biólogo quer abrir uma empresa, mas não quer outros sócios, o ideal é que ele seja apenas um prestador de serviços, sem precisar arcar com os custos de um empreendimento. © S d ec or et | D re am st im e. co m o m g im ag es /i S to ck p ho to .c o m 1414 Equipe LA: Quais são as expectativas e os desafios do mercado de trabalho nessa área? Acredito que as expectativas vão depender dos objetivos que se pretende alcançar, e os desafios maiores estão associados ao longo caminho que precisamos trilhar para termos uma remuneração à altura. Infelizmente, os cargos de biólogo, inicialmente, não remuneram bem o profissional. Ao longo da trajetória, com mais estudo, mais experiência e muito dinamismo, conseguimos melhorar esse quadro. Equipe LA: Você está satisfeita com a profissão? Por que recomendaria essa carreira? Eu faço parte do grupo de biólogos que estão mais diretamente envolvidos com o meio ambiente e a natureza pura, em seu estado mais vulnerável. Por trabalhar em um parque e por amar o que faço, pois influencio pessoas e ajudo a extrair as potencialidades do espaço em que trabalho de um jeito bastante prazeroso, eu posso dizer que estou satisfeita sim, já que venho atendendo às minhas próprias expectativas profissionais. Não tenho o perfil de estar dentro de um laboratório, assim como muitos biólogos de outras áreas não gostariam de fazer o que faço. A área é muito ampla, e a satisfação pessoal sempre será proporcional ao empenho de cada um em investir onde tiver mais afinidade. Recomendo a carreira pela importância social que ela representa, pois somos capazes de transformar muitas realidades por meio de nossos estudos e pesquisas, sobretudo pela consciência ambiental que propagamos. Equipe LA: Qual é a relação de um biólogo com a vida selvagem no Brasil e no mundo? O biólogo, como estudioso da vida, por meio de suas pesquisas, será sempre um suporte confiável para monitorar e sugerir as melhores estratégias de manejo para as espécies de animais selvagens, tanto no Brasil quanto no mundo. Existem muitos exemplos dessa atuação, como a que ocorreu nos parques africanos que atraíam turistas pela oportunidade de caça. Com muita luta de um grupo de biólogos, hoje em dia esses locais se transformaram em destinos para o turismo ecológico de interpretação e interação ambiental, uma vez que possuem tantas espécies maravilhosas em seus hábitats naturais. A rq ui vo p es so al /A na C ar la A ra nt es “O biólogo, como estudioso da vida, será sempre um suporte confiável para monitorar e sugerir as melhores estratégias de manejo para as espécies de animais selvagens”. A entrevistada Ana Carla em trabalho de campo 1515 Com o aumento de casos confirmados de febre amarela em diversas cidades brasileiras, cresce também a preocupação das pessoas com relação ao surgimento de novos registros da doença. Diariamente, estamos sendo bombardeados por notícias a respeito do assunto, motivando debates sobre o tema entre grupos de amigos, colegas de trabalho, familiares e vizinhos. É nesse contexto que surge a seguinte pergunta: de quem é a responsabilidade por esse tipo de situação? Para responder a esse questionamento, precisamos, antes de tudo, pensar em uma segunda indagação, que coloca cada indivíduo como protagonista de suas ações. Há, de fato, um culpado ou todos nós temos a nossa parcela de responsabilidade no aumento das doenças infecciosas transmitidas por mosquitos, como é o caso da febre amarela, da dengue e da zica? Talvez a segunda hipótese seja a opção mais correta, já que, muitas vezes, esquecemos de olhar, literalmente, para o nosso próprio quintal. Nesse cenário, podemos citar como responsáveis pelo aumento dos casos de febre amarela no Brasil diversos fatores que contribuem para a proliferação do mosquito transmissor da doença, como o crescimento desordenado dos centros urbanos, os hábitos de suas populações e a degradação do meio ambiente, todos resultados da ação do ser humano. Mas isso não tira a responsabilidade dos órgãos governamentais, já que a deficiência de políticas públicas, sobretudo aquelas voltadas ao abastecimento de água, à coleta de esgoto e ao descarte correto dos resíduos sólidos, também é apontada como influenciadora para o crescimento do número de casos da doença. A ação de combate à febre amarela é uma via de duas mãos, na qual governantes e cidadãos devem trabalharem conjunto, pensando naquele velho ditado: “a prevenção é o melhor remédio”. Atualmente, para nos prevenirmos dessa doença, uma opção é a vacina contra a febre amarela, mas combater a proliferação do mosquito transmissor também é uma ação de extrema importância. Assim, além das campanhas de combate aos focos do mosquito transmissor – que são realizadas pelos centros de zoonoses de cada município –, é preciso que haja uma participação massiva da população nessas ações de enfrentamento à febre amarela e a qualquer epidemia. Então, qual é o nosso papel nessa história? Uma dica fundamental é velha conhecida dos brasileiros e muito disseminada em campanhas contra a dengue: evitar o acúmulo de água parada, dentro ou fora de casa. E, além disso, nunca devemos baixar a guarda, já que todo cuidado é pouco para evitar a proliferação de um inimigo que, muitas vezes, passa despercebido aos olhos humanos. De quem é a responsabilidade? P A R Ê N T E S E Ve ct o rD o c/ S hu tt er st o ck .c o m Po r B r uno Fre i ta s Ve ct or D oc /S hu tt er st oc k. co m 16 Nara Britto. Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasileira. Fiocruz, 1995. O livro traz a construção ideológica do mito através da figura de Oswaldo Cruz, médico sanitarista que se tornou um dos ícones da ciência brasileira, tendo enfrentado, dentre as situações mais emblemáticas de sua carreira, a luta contra a febre amarela no Rio de Janeiro no início do século XX. Apresenta forte caráter histórico e variadas fontes de pesquisa. À FLOR DA PELE Estamos acostumados a ver nos noticiários dramas de disseminação de várias doenças, sejam de forma contida ou que tomam conta de várias regiões. Felizmente, a maioria de nós não é acometida pelo mal. Porém, esse conceito nos traz uma questão: como é ter sua liberdade barrada por uma quarentena, por exemplo? Um filme que nos dá uma ideia sobre isso é Ensaio sobre a cegueira (Blindness, 2008), do brasileiro Fernando Meirelles, baseado no livro homônimo do escritor português José Saramago. O elenco tem Julianne Moore, Mark Ruffalo, Gael García Bernal e Danny Glover. A história usa elementos não distinguíveis, como os nomes dos personagens, qual é a metrópole em que o enredo acontece e como surgiu a moléstia que a ameaça. De repente, as pessoas começam a ficar cegas e o governo as confina em instituições praticamente abandonadas e sem recursos, porém vigiadas por soldados armados. Inexplicavelmente, a personagem de Julianne Moore não fica cega, mas ela finge não enxergar para poder ficar junto do marido (Ruffalo). A agonizante situação faz com que pessoas comecem a expor o que há de mais primitivo dentro delas para conseguir um pouco da escassa comida e ameacem outras para obter ganhos materiais e até sexuais. Mas, no meio desse inferno, haverá também compaixão e preocupação com os mais indefesos. A cegueira foi uma forma de Saramago colocar em reflexão o comportamento do ser humano em situações extremas. OswaldoC ruz Contágio. Direção: Steven Soderbergh. EUA, 2011, Warner. Filme com vários personagens cujas histórias se entrelaçam durante o avanço de um vírus letal transmissível pelo ar que mata as pessoas em poucos dias. A doença se espalha em escala global, enquanto a comunidade médica internacional inicia uma empreitada desesperada para encontrar uma cura. A história da saúde pública no Brasil – 500 anos na busca de soluções. Direção: Sylvia Jardim. Vibe Films. Documentário distribuído pela Fiocruz que mostra as epidemias no Brasil desde a época do descobrimento. Com uma edição dinâmica e cheia de bom humor, acompanhamos século a século as condições de um país em busca de soluções para deixar de ficar doente. Acesse: <https://youtu.be/7ouSg6oNMe8>. Mosaico Cultural • A G E N D A • SAÚDE Diários de tuberculose – Epidemia oculta Permanente ONDE: Internet. Esse documentário produzido em 2015 acom- panha comunidades carentes no Rio de Janei- ro, presidiários no Recife e índios no Amazonas, todos indefesos contra o mal da tuberculose. Em pleno século XXI, ainda é uma doença que debilita milhares de pessoas por ano em todo o Brasil. INFO: <https://youtu.be/ruZj_XNKVXs>. ARTE Jean-Michel Basquiat Até 7 de abril ONDE: São Paulo (SP). O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBC) exibe a mostra com gravuras do artista-plástico nova- -iorquino que celebrou a cultura dos negros em um estilo classificado por críticos como neoexpressionista. Basquiat morreu jovem, mas deixou um legado que conquistou seu nicho no mundo da arte. INFO: <www.culturabancodobrasil.com.br/portal/ sao-paulo>. HISTÓRIA Rugendas, um cronista viajante Até 11 de março ONDE: Rio de Janeiro (RJ). A Caixa Cultural abriga a exposição de pinturas do alemão Johann Moritz Rugendas, que percorreu o Brasil entre 1821 e 1825 pintando quadros e que foi um dos poucos que divulgaram para o mundo a natureza e cultura brasileiras no século XIX. São cerca de 50 obras do artista. INFO: <www.caixacultural.com.br> N ow ik S yl w ia /S hu tt er st oc k. co m 17 Rio de Janeiro, capital do Brasil, verão de 1904 Caro Oswaldo Cruz, Parece mentira, mas é verdade. Estamos em fevereiro, as cigarras estouram, o sol incendeia a cidade, e não há febre amarela! Devemos a você este benefício, que nunca seremos capazes de pagar na justa medida. Sim, meu amigo, você foi desacreditado e ridicularizado, sobretudo pela imprensa, ao anunciar que o grande culpado por essa doença é um mosquito, e não o contato direto com as roupas, o sangue ou o suor dos pacientes. Mesmo assim, enfrentou a todos e decidiu não só isolar os doentes como criar a brigada mata-mosquito. Lembro-me de quando os agentes sanitários bateram à minha porta, munidos de inseticidas, a fim de eliminar os criadouros desse inseto. Felizmente, não os encontraram. É com muita alegria que poderei sair às ruas tranquilamente neste Carnaval. Até mesmo da peste bubônica estamos nos livrando! Sem as suas pesquisas, não teríamos o soro antipestoso para os doentes nem saberíamos que essa doença é transmitida pelas pulgas dos ratos. Ah, os roedores... viraram moeda de troca neste mundo capitalista. Quem diria que a sua ideia de incentivar o pagamento pelos ratos capturados levaria as pessoas a criá-los com a intenção de ganhar dinheiro?! Já ouviu a marchinha que vem sendo tocada por aí? Pois o compositor Claudino Costa escreveu: “Rato velho, descarado, roedor / Rato velho, como tu faz horror! / Vou provar-te que sou mau / Meu tostão é garantido / Não te solto nem a pau”. Peço que não se abata pelas críticas dessa população incrédula dos benefícios da ciência. Sei que você tem um novo alvo, a varíola, doença viral que já matou muitos brasileiros este ano. E ouvi dizer que tem tentado convencer o presidente do nosso país, Rodrigues Alves, a implantar a vacinação obrigatória contra a doença. Saiba que haverá opositores, mas que promover a saúde é contribuir para o desenvolvimento do país. Pergunto-me, com frequência, por que duvidam tanto de suas palavras. Um rapaz que ingressou na faculdade de Medicina aos 15 anos de idade, montou um laboratório de pesquisa em seu próprio porão e especializou-se em bacteriologia no Instituto Pasteur, em Paris, o maior instituto de pesquisa científica deste século... era de se esperar que tivesse mais credibilidade. Concluo que a falta de conhecimento está em nossa sociedade. Será que, algum dia, as pessoas saberão a importância de se informar? Meus sinceros agradecimentos. Olavo Bilac* Carta de um poeta a um sanitarista EXTRA! P o r T h a ís In o c ê n c io *Esta é uma carta fictícia. No entanto, Olavo Bilac (1865-1918) foi mesmo contemporâneo de Oswaldo Cruz (1872-1917) e defendeu as ideias do médico sanitarista. 18