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1) TEMA: Acidente Vascular Encefálico Isquêmico 2) RESUMO DO CASO CLÍNICO Paciente masculino, 73 anos de idade, previamente diabético e hipertenso, procura hospital com ajuda dos filhos, com quadro de mal-estar geral, perda motora no membro inferior esquerdo e que agora se estende também para o membro superior homolateral. Também apresenta dificuldade para falar que se iniciou 30 minutos antes da admissão. Sua pressão arterial está elevada, com valor de 180 x 110 mmHg. 3) Descrever os dados abaixo: ● Monitorização: - Pressão Arterial: 180x110mmHg - Frequência Cardíaca: 122 bpm - Frequência Respiratória: 17 irpm - Glicemia capilar: 85 mg/dL - Temperatura: 36.7° C ● Oxigenação: - SatO2: 95% - Nesse caso, não é necessário ofertar oxigenoterapia para o paciente, pois sua saturação de oxigênio está acima do valor de referência (94%) ● Veia: Obter acesso venoso periférico. ● Sinais e Sintomas: Os filhos referem que há 30 minutos o paciente iniciou com quadro de tontura, mal-estar, perda de equilíbrio com paresia de membro inferior esquerdo. O quadro foi piorando progressivamente. Em cerca de poucos minutos, o paciente apresentava hemiparesia esquerda com disartria importante. Nunca apresentou esses sintomas antes. Na inspeção é possível observar desvio de rima labial para a direita, perda motora e sensitiva completa nos membros superior e inferior esquerdo. ● Alergias: Refere não possuir qualquer alergia a medicamentos ou alimentos. ● Medicamentos de uso contínuo: Uso irregular de Hidroclorotiazida (25mg/dia) e Captopril (50mg/dia). Uso regular de Metformina (500mg/2 vezes ao dia). ● Passado Médico: Hipertensão Arterial Sistêmica diagnosticada há 15 anos, porém não mantém acompanhamento médico ambulatorial para controle da PA há 2 anos. Diabetes Mellitus tipo 2, diagnosticada há 3 anos, em acompanhamento regular com endocrinologista. Não possui histórico de coronariopatia ou outros eventos cardiovasculares. ● Líquidos ingeridos nas últimas horas: Última refeição há 3 horas, quando tomou café da manhã (2 fatias de pão integral com um copo de leite com café), não refere ingestão de água ou qualquer outro alimento desde então. ● Ambiente e eventos relacionados ao quadro: O paciente estava em casa assistindo TV quando os sintomas começaram. ● A (avaliação da via aérea): Via aérea pérvia, sem necessidade de sucção. ● B (respiração): SatO2 95%. Respiração com ritmo e frequência regulares, expansibilidade torácica simétrica. ● C (circulação e sistema cardiovascular): Paciente corado, pulsos fortes, rítmicos, simétricos e regulares. Tempo de enchimento capilar = 2 segundos. Sem sangramentos aparentes. Ausculta cardíaca: bulhas rítmicas normofonéticas em 2 tempos, sem sopros. Ausculta pulmonar: murmúrios vesiculares presentes, sem ruídos adventícios. ● D (exame neurológico): Paciente consciente, com disartria e hemiparesia esquerda. Glasgow 11 (abertura ocular espontânea, resposta verbal com palavras incompreensíveis, resposta motora - lado direito - preservada). Pupilas isocóricas, com reflexo fotomotor preservado. ● E (exposição): Despir o paciente para exposição da superfície corpórea. Não há lesões aparentes. 4) ACHADOS DO EXAME FÍSICO: REG, hidratado, anictérico, afebril Aparelho respiratório: MV bilateralmente presente sem ruídos adventícios Aparelho cardiovascular: Bulhas rítmicas normofonéticas em 2 tempos sem sopros Abdome: Flácido e indolor Exame neurológico: Paciente vigil, apresenta afasia global Escala de Coma de Glasgow = 11 ; Pupilas isofotorreagentes Hemiplegia proporcionada, força muscular 0/5 em hemicorpo esquerdo Disartria com desvio da língua para a esquerda Desvio do olhar conjugado para a direita 5) DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: AIT→ Ocorre com mais frequência em idosos do sexo masculino com fator de risco cardiovascular. As manifestações são semelhantes às do AVE, só que transitórias. Por definição, é um déficit neurológico focal que reverte em até 24 horas. Na prática, o AIT costuma reverter em dentro de 15 a 20 minutos, e tem sintomas bem semelhantes ao AVE isquêmico. Geralmente é causado por pequenas embolias arterioarteriais a partir das carótidas ou vertebrais. Na minoria dos casos, decorre de trombose em evolução ou do baixo débito cardíaco em pacientes com obstrução superior a 50% do lúmen das carótidas por placa de ateroma. Ocorrem sintomas negativos, sem “spreading” ou acometimento de outros sentidos. Ausência de rebaixamento do nível de consciência; amaurose e diplopia transitória geralmente são indícios de AIT. A amaurose fugaz é ocasionada por pequenos êmbolos se alojam transitoriamente na origem da artéria oftálmica. O AIT pode preceder o AVC isquêmico em até 25% dos pacientes. -Encefalopatia hipertensiva (EH) : Ocorre em indivíduos adultos com PAS igual ou superior a 180 mmHg. Alterações neurológicas podem ser secundárias à hipertensão intracraniana. Porém, ao exame físico do nosso paciente não há papiledema, exsudatos hemorrágicos à fundoscopia, nistagmo, turgência jugular ou perda da consciência - que podem ser característicos da EH → Vale ressaltar que TC de crânio não contrastada é indispensável para descartar AVE hemorrágico. Vale ressaltar que o AVE isquêmico só é evidenciado após 24-72h do início dos sintomas (área hipodensa, edema). O AVE hemorrágico é visível de imediato, como uma área hiperdensa. 6) ABORDAGEM INICIAL: 1. Realizar avaliação de sinais vitais. Se houver hipóxia, hipercapnia, instabilidade hemodinâmica ou impossibilidade de manter via aérea pérvia, intubar o paciente. Com a suspeita de AVC, aplicar a escala de NIHSS para avaliar a gravidade na admissão, a cada uma hora nas primeiras 6 horas, e a cada 6 horas nas primeiras 18 horas. 2. Realizar TC de crânio não contrastada 3. Manter paciente deitado, com cabeceira entre 0 e 15° nas primeiras 24 horas. Infundir 1000-1500 mL de Ringer Lactato com Cloreto de potássio. Evitar hiperidratação e soro glicosado (evitando risco de hiponatremia e hipoglicemia, respectivamente) 4. Realizar ECG e os seguintes exames laboratoriais: hemograma completo, dosagem de glicemia plasmática, dosagem de eletrólitos, ureia, creatinina, coagulograma, gasometria arterial e marcadores de necrose miocárdica para melhor elucidação diagnóstica. 5. Obtida TC de crânio com exclusão de hemorragia (AVC hemorrágico), e considerando que a história clínica é compatível com AVCi, deve-se prescrever alteplase, tendo em vista a redução das sequelas. Vale ressaltar que o tempo ideal para infusão do trombolítico é inferior a 3 horas do início dos sintomas. Infundir 0,9 mg/kg (máximo de 90 mg). 10% em bolus, o restante em bomba de infusão contínua por uma hora. Observações: Se houver hipoglicemia (glicose < 60 mg/dL), corrigir prontamente! A glicemia deve ser mantida entre 140-180 mg/d, evitando lesão neurológica adicional. Da mesma maneira, SatO2 deve ser mantida acima de 94% e Tax<38° C Evitar baixar a PA no manejo inicial, a não ser que ela esteja superior a 220x120 mmHg. Afinal, a "penumbra" isquêmica é nutrida por circulação colateral. A normalização abrupta da PA pode causar uma nova área de infarto. A técnica de RNM com estudo de difusão (DWI) eperfusão (PWI) é capaz de detectar a isquemia após alguns minutos do início do quadro neurológico, tendo acurácia superior à da TC, que é capaz de evidenciar o AVC isquêmico apenas após 24 a 72 horas do início das manifestações clínicas. No entanto, por ser pouco disponível no Serviço Público, não faz parte dos protocolos como primeira escolha. O Doppler transcraniano nos permite descobrir qual artéria intracraniana está obstruída. 7) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATLS - 9ª edição. In: ATLS - 9 Edição: Suporte Avançado de Vida no Trauma. [S. l.: s. n.], 2017. v. 1, cap. 1, p. 3 - 22. Disponível em: 2017. Acesso em: 8 jun. 2020. Longo DL, et. al Medicina Interna De Harrison. v. 2, cap. 420. 18 ªEd. New York: McGraw-Hill, 2012. Acesso em: 07 jun. 2020. Lopes AC, et al. Tratado de Clínica Médica. 3ª ed. São Paulo: Roca, 2016. Acesso em 08 jun. 2020. Jauch EC et al. Diretrizes para o manejo precoce de pacientes com AVC isquêmico agudo: orientação para profissionais de saúde da American Heart Association / American Stroke Association. 2013 Mar; 44 (3): 870–947. Acesso em: 8 jun. 2020.