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CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Entender os conceitos básicos para operar aferições e coletas de dados. Compreender a importância da contabilidade na gestão do agronegócio. Calcular o custo unitário de produção para qualquer produto agropecuário. 10 CONTABILIDADE RURAL 11 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A contabilidade gerencial de custos trata do tema por meio de técnicas contábeis que são as mesmas aplicadas na contabilidade fi scal. A contabilidade fi scal é aquela utilizada pelos contadores para relatar ao fi sco o nosso patrimônio e a nossa renda. Já a contabilidade gerencial busca a gestão como propósito, portanto a contabilidade é a mesma, a diferença são os propósitos de uma ou de outra. Os contadores utilizam dados provenientes das receitas, das despesas e do patrimônio físico das pessoas e das empresas para elaborar seus relatórios dentro de uma sistemática legal. Os administradores utilizam, entre outros elementos (ou ao menos deveriam utilizar), os mesmos dados (receitas, despesas e patrimônio) como uma das formas de auxiliá-los nas decisões, medir resultados de operações e corrigir rumos que estão em desacordo com o esperado para suas metas e objetivos de resultado de seus acionistas e clientes. Os critérios de decisão e controles serão tão confi áveis quanto forem verídicos os dados de custos coletados a serem utilizados, portanto entende-se que administrar aproxima-se do conceito de controlar, ou seja, se eu administro alguma coisa, entende-se que eu tenho controle sobre os meios para chegar aos resultados desejados (no caso de um gerente de departamento ou similar). A assertividade nas decisões administrativas guarda uma forte relação com os critérios utilizados para tomar decisões, e a contabilidade de custos pode fornecer alguns critérios, tornando- se assim uma importante fonte para tomadas de decisão na administração. Tratando de dados de custos, apresentamos os principais elementos implicados na qualidade de uma decisão: a) Veracidade dos dados. b) Quantidade de dados. c) Organização dos dados. d) Conhecimentos do analista ou administrador Quanto ao primeiro elemento – veracidade dos dados –, queremos pedir perdão ao leitor pela afi rmação ser tão elementar, mas é importante que tenhamos estas questões presentes no dia a dia de um administrador, gerente de departamento ou setor e, ainda, de uma empresa ligada ao agronegócio. A veracidade signifi ca a exatidão, a fi delidade dos reais acontecimentos, sem desvios de qualquer natureza ou o mínimo de desvios possíveis. A aproximação de 100% da realidade só acontece se os líderes carregam esse princípio na sua condução da gestão, do contrário, desastres administrativos podem ocorrer. Por exemplo, relatórios de séries de vendas, que não identifi cam devidamente os produtos, podem gerar pedidos de compra equivocados, tanto em compras excessivas como em compras insufi cientes. 12 CONTABILIDADE RURAL No agronegócio, especialmente nas atividades rurais, a veracidade total de dados é extremamente difícil de obter. Por exemplo, inúmeras vezes as operações não sofrem controle nas unidades produtivas porque não existem pessoas treinadas para coletar dados, ou porque as características das atividades são desenvolvidas em extensões muito grandes de área, o que também contribui para difi cultar as coletas de dados. Nesse mesmo contexto podemos citar, como causa da difi culdade na coleta de dados com veracidade, o desconhecimento (por parte de muitos administradores) da importância dos dados e a falta de expertise adequada para tanto. Cabe ao gestor comandar esses processos de coleta com efi ciência, tanto no campo como fora dele. Sobre o segundo elemento, a quantidade de dados, absolutamente, não quer dizer que, de posse de poucos dados, não se consiga apoiar decisões. Por exemplo, um administrador pode ter apoio para analisar os custos com energia elétrica de posse das últimas 12 contas de luz da empresa, implicando em 12 valores discriminados mensalmente. A questão é: Para as decisões que precisamos tomar, os dados que possuímos apresentam temporalidade sufi ciente? No caso de um ciclo produtivo longo, em que o produto fi nal a ser comercializado pela empresa leva um ano, por exemplo. Como poderíamos coletar dados durante seis meses e obter o custo de produção próximo da máxima chance de acerto? Ou ainda, como um gerente pode comparar custos de produção com base em apenas um exercício anual? Neste sentido, primeiro capítulo podemos discorrer a respeito dos ciclos produtivos na agropecuária. Um ciclo produtivo refere-se ao tempo necessário para transpor um produto desde a sua fase inicial até a fase de produto pronto para a venda. É o caso da fabricação de um queijo, que vai desde o recebimento da matéria-prima, depois a sua maturação e, fi nalmente, a sua venda e recebimento, que pode levar dois anos ou mais. No caso de um vinho fi no, esse tempo pode ser multiplicado. Em uma produção de hortaliças, o ciclo leva por volta de 60 a 90 dias. Na pecuária de bovinos de corte, um ciclo desde a concepção de uma matriz (fêmea) até a engorda de seu produto (um animal pronto para o abate), dependendo do sistema produtivo adotado, pode levar de dois a seis anos. 13 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Assim, as coletas de dados que visam medir resultados de custos de produção e outros elementos importantes, como determinadas rubricas, devem levar em consideração o importante elemento do ciclo produtivo do bem em questão. Pedimos que você não fi que preocupado, caso desconheça alguns termos que estamos utilizando, pois no decorrer do curso esclareceremos. Neste momento, a discussão se refere somente à importância da temporalidade na coleta de dados e, consequentemente, na quantidade que importa para um gerente. Guardadas as observações referentes ao ciclo de produção, dentro do tema da quantidade de dados podemos resumir que temos maior confi abilidade de dados brutos na medida em que os dados se apresentam de maneira verossímil e em quantidades adequadas. Assim, se um gerente possui séries de dados de vários anos de atividades, ele geralmente terá nos seus relatórios e nas suas decisões uma condição superior em relação àquele gestor com menores quantidades de dados, desde que os seus dados sejam fi dedignos. A afi rmação anterior obedece ao princípio de que uma maior quantidade de dados tende a fornecer uma expressão mais próxima da realidade, pois guarda consigo as variações decorrentes de diferentes contextos temporais. Por exemplo, a avaliação da sazonalidade nas vendas somente será verifi cada com precisão nos casos em que existam coletas de dados (mais de um ano) para tomar como base a repetição de quedas e aumentos nas vendas de maneira repetida durante mais de um ciclo de produção. Neste caso, quanto maior o número de anos descritos nos dados, maior será a confi abilidade na descrição de alguma sazonalidade nas vendas. A condição, comentada como requisito de uma decisão baseada em critérios, referente à organização dos dados, pode contextualizar diversas formas de organização de dados, e no decorrer do curso tomaremos posse dessas metodologias com maior precisão. O que pode fi car registrado, nesta altura, é que os padrões de organização – ou as formas contábeis de ordenar os grupos de custos – merecem o exame administrativo especial do gestor. Com o uso de planilhas eletrônicas fi ca mais fácil a estruturação ou a sistematização de formatos de distribuição dos custos. Veremos que existem algumas formas diferentes de agrupar os dados, e em planilhas eles são facilmente agrupáveis da forma mais conveniente. No entanto, isso deve ser pensado de antemão. Quando estamos diante de fatoresde produção utilizados em mais de um produto, por exemplo. Como devemos distribuir estes custos da melhor maneira? 14 CONTABILIDADE RURAL Em economia, fatores de produção ou recursos são elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. Tradicionalmente, consideram-se como fatores de produção a terra, o trabalho e o capital. Fonte: Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Fatores_de_produção>. Acesso em: 1 fev. 2018. Alocação de recursos é o processo pelo qual recursos existentes são distribuídos entre usos alternativos. Podem ser fi nais (programas ou atividades-fi m), intermediários (os diversos insumos e atividades necessários à produção do serviço fi nal) ou defi nidos em termos dos usuários dos serviços. Fonte: Disponível em: <http://portalses.saude.sc.gov.br/arquivos/sala_de_ leitura/saude_e_cidadania/ed_10/07_01.html>. Acesso em: 1 fev. 2018. Se a máquina usada para preparar a terra para a semeadura da soja também é utilizada para preparar bebedouros para pecuária de corte, como realizaremos uma alocação adequada? Ou se o trator utilizado na semeadura da soja também é utilizado na semeadura da aveia, como realizaremos a alocação dos custos de uma forma adequada? Se soubermos o tempo de trabalho de cada operação poderemos facilmente alocar custos na mesma proporção do uso de horas para cada atividade. Na prática, infelizmente não se veem muitos casos desse tipo, portanto a forma como se organizam os elementos pode ter diferentes repercussões em nossos relatórios gerenciais. Enfatizamos novamente: administrar algo signifi ca, de maneira simplifi cada, ter o controle daquilo que se gerencia. Ter o controle de alguma coisa requer o emprego de critérios sólidos e, para que isso seja alcançado com efi ciência, dados precisam ser coletados. A contabilidade gerencial inicia invariavelmente com a coleta sistemática de dados e sua organização vem após esse primeiro passo. 15 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 O sucesso de uma empresa rural depende basicamente do seu gerenciamento técnico e administrativo, pois essas habilidades tornarão o uso dos fatores de produção (terra, máquinas, capital, trabalho) disponíveis e mais efi cientes, dependendo do grau de conhecimento do gestor (SANTOS; MARION; SEGATTI, 2009). O sucesso de uma empresa também depende de muitos fatores externos. Dentro do agronegócio, os principais elementos externos são: o clima, os preços dos produtos, a oferta e a demanda. As condições de transporte e as políticas de Estado para fomentar regionalmente e de forma contínua a produção (tanto dos produtores de pequena escala como os produtores de média e grande escalas) também são problemas relacionados a fatores externos que não podem ser alterados imediatamente pelas empresas. Tendo essas ressalvas em mente, poderemos nos concentrar nos fatores que podem ser alterados internamente na busca de efi ciência das empresas rurais. A efi ciência depende, em grande parte, do grau de controle do gestor. Vejamos qual é o papel do administrador. Os principais elementos com os quais o administrador deve conviver são: o planejamento, o controle de processos, as decisões, as avaliações de resultados e o melhor emprego possível de recursos, a fi m de tornar máxima a satisfação de seus clientes e o lucro para sua empresa. Ainda devemos acrescentar a todos esses itens as responsabilidades sociais e ambientais (SANTOS; MARION; SEGATTI, 2009). Neste momento, você pode estar pensando: Nossa, é muita coisa! Respondemos que sim. Os elementos com os quais um administrador tem que operar no seu dia a dia são inúmeros e muitas vezes de caráter complexo, no entanto, o estudo proposto em nosso curso abarcará apenas alguns dos elementos internos das empresas do agronegócio, mais precisamente, os elementos contábeis. Apesar desses elementos não representarem uma solução para todos os problemas, eles dão suporte ao administrador em um grande número de decisões internas das empresas e auxiliam em outros elementos, por exemplo, no plano de comercialização de um produto, que provavelmente terá uma ligação forte com o fl uxo de caixa e com os compromissos fi rmados para o futuro próximo. Concluindo, podemos resumir que o papel do administrador está pautado principalmente em organizar de forma racional os recursos disponíveis e eleger as prioridades, visando melhores rendimentos, menores custos e melhores combinações de fatores (GITMAN, 2010). 16 CONTABILIDADE RURAL O primeiro capítulo do curso de Contabilidade Rural trata dos custos de produção e de sistemas de custos. De uma forma reconhecida contabilmente, este capítulo busca fazer com que você venha a exercer o controle dos principais elementos da formulação de um custo de produção. Nossos estudos estarão voltados à estruturação dos custos de produção. INTRODUÇÃO AOS CUSTOS Conhecer as maneiras de chegar ao custo unitário de um bem eleva o potencial para que o profi ssional tenha um entendimento mais completo do mercado, seja ele qual for, pois é a partir do custo unitário que os preços fi nais são formados. Sendo assim, primeiro os custos de todos os fatores de produção devem ser pagos, para que depois seja gerado um lucro que remunerará o trabalho e os outros fatores na produção de um bem qualquer. Conhecer a estruturação da formação dos preços adiciona uma ferramenta fundamental ao gerente, principalmente em mercados sob forte concorrência. Os custos na agropecuária têm características distintas da maioria dos produtos, por conta dos fatores climáticos e de outros elementos. Os mercados dos produtos de origem agropecuária apresentam grande fl utuação de custos e de preços por conta dessas características, portanto ter o controle dos custos de produção na agropecuária é um desafi o para exercer uma atividade administrativa profi ssional. Este capítulo tratará desse desafi o, sem a pretensão de esgotar o assunto. SISTEMAS DE CUSTOS NA AGROPECUÁRIA Um sistema de custos é constituído por uma série de procedimentos que visam a uma correta valorização dos fatores de produção para determinada unidade produzida ou lote produzido no ciclo produtivo do bem em questão. A nomenclatura ou o termo “custos” se refere aos fatores utilizados para produzir algum bem. Normalmente essa quantidade de fatores é traduzida em moeda para que tenhamos um formato padronizado e mensurável, de modo que todos possam interpretar com maior facilidade os dados organizados. Quando compramos algo, dizemos que determinado objeto custou um “X” em valores monetários. Se tivermos que nos locomover até determinado ponto para adquirir o objeto, somamos as despesas com deslocamento ao valor do produto e dizemos: o produto custou “X” + combustível gasto = Custo Total. Para um consumidor comum, essa afi rmação estaria totalmente correta se ele se deslocasse de carona e se o seu tempo não custasse nada. Por quê? 17 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Voltaremos a discutir esse problema ao fi nal do capítulo, quando trabalharmos a elaboração dos custos de produção por unidade, na prática. Com este exemplo, já nos aproximamos fortemente do signifi cado de um custo, neste caso, o custo para o consumidor. Note que o preço é um componente do custo total para o consumidor. Você notou que um custo não é um número obtido sem nenhuma operação? Os custos são componentes que representam uma parte de um bem, a qual é chamada de fatores de produção. Iniciaremos nosso estudo de custos entendendo melhor as nomenclaturas utilizadas. Caso você queira se aprofundar no assunto, deve buscar a lista bibliográfi ca que consta na ementa do nosso curso. Alguns dos principais conceitos estão explicitados a seguir: • Receitas: os recebimentos monetários oriundos de vendas de mercadorias ou serviços correspondem geralmente às receitas. Também podem ser chamadas contabilmente de entradas.As entradas de moeda ou receitas podem ser recebidas à vista (Receita à vista) ou podem estar registradas como direitos, que é o caso das Receitas recebidas a Prazo, ou ainda, Receitas a receber. É importante colocarmos essa diferença entre o que é à vista ou a prazo pelo fato de representarem subgrupos diferentes na confecção do patrimônio de uma empresa. Ambas as receitas (à vista e a prazo) são chamadas de ativos dentro de um Balanço Patrimonial. Balanço Patrimonial signifi ca o levantamento do patrimônio total de uma empresa. Obs.: Veremos detalhadamente o assunto do Balanço Patrimonial no terceiro capítulo deste material. As receitas podem ser classifi cadas como brutas e líquidas. As re- ceitas brutas não deduzem os impostos, por exemplo, ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – e IPI – Imposto sobre Produtos In- dustrializados. Os abatimentos e descontos também não são deduzidos das receitas brutas. Os itens abatimentos e descontos são mais utilizados no co- mércio atacadista e varejista, assim como na indústria. Pode-se demonstrar as receitas, conforme a Fórmula 1, expressa da seguinte forma: 18 CONTABILIDADE RURAL Fórmula 1: = −l b R R deduções lR – Receita Líquida bR – Receita Bruta deduções – Impostos sob as vendas, abatimentos, descontos • Desembolsos: o desembolso é uma representação muito generalista nos sistemas contábeis. O termo signifi ca ou representa qualquer saída monetária do caixa para um pagamento qualquer, então um desembolso engloba uma despesa, um gasto, um custo ou ainda um pagamento de um investimento. Saiu dinheiro do caixa, então ocorreu um desembolso. O termo desencaixe também pode ser usado para determinar um desembolso. • Despesas: todos os bens consumidos para obtenção de receitas são chamados de despesas. A palavra-chave neste conceito é “consumidos”, por que as despesas representam desembolsos com itens fundamentais à produção, itens que serão utilizados para obter um produto ou produtos, e que posteriormente serão vendidos. A característica mais importante e que deve fi car marcada para o bom entendimento desse conceito está relacionada ao uso do ativo que representará uma despesa. Apresentamos como exemplo a compra de um insumo que será utilizado (ou podemos usar o termo aplicado, no sentido do uso) apenas uma vez: um defensivo agrícola que é aplicado em estado líquido por meio de uma pulverização sob a plantação. O defensivo é aplicado (usado) e fi sicamente se incorpora ao sistema fi siológico da planta para exercer sua ação. Sob o olhar da contabilidade, antes do uso ele representa um ativo (estocado em um galpão). Após seu uso, o mesmo defensivo representa, para o sistema de custos, uma despesa, pois para o sistema físico ele deixou de existir. Esse é um exemplo clássico de uma despesa, em que o ativo “defensivo agrícola” não pode ser utilizado novamente, ou seja, uma despesa ocorre quando se utiliza um ativo que é fundamental e que ao mesmo tempo não pode ser reutilizado. Como segundo exemplo, trazemos o combustível, que ao ser queimado em um motor realiza um trabalho fundamental para a produção e posterior receita em uma atividade agrícola, mas é utilizado apenas uma vez, e para comprá-lo foi gerada uma despesa. Outro exemplo é uma comissão paga a um vendedor. A despesa é um elemento fundamental ao negócio, pois ajuda a gerar receita. O item adquirido através de uma despesa não pode ser reaproveitado, uma vez consumido, não pode ser utilizado novamente. Podemos também 19 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 entender o conceito de despesas através da diferenciação entre investimentos e perdas. Valores desembolsados do caixa e que não representam investimentos ou perdas, geralmente são as despesas. Esse item (despesa) compõe a maioria dos elementos que construirão os custos unitários de produção de um bem qualquer. Alguns autores consideram como despesas somente os gastos com escritório e administração. Os gastos com produção são chamados de custos. • Perdas: o termo perdas é muito simples de conceituar, ele representa os desembolsos anormais de contingência de acidentes, incêndios, produtos perdidos por deterioração, validade etc. • Investimentos: a diferença entre um investimento e uma despesa está pautada principalmente no uso do bem ou serviço adquirido ou fator de produção. Enquanto a despesa será consumida no momento em que for utilizada pela empresa em algum processo de fabricação, o investimento será consumido em mais de um ciclo produtivo, portanto irá colaborar com a geração de receita por mais de uma vez, a exemplo de uma máquina qualquer, que terá um tempo de uso de dez anos em uma empresa cujo produto tem um ciclo produtivo diário. Nesse caso, será desembolsado um valor para comprar a máquina e se obterá o benefício de seu uso pelo tempo de dez anos, acrescentado um patrimônio à empresa cujo uso será de uma década. Outro exemplo de investimento em uma empresa rural que geralmente causa discussão são as lavouras temporárias. No caso da madeira de refl orestamentos, por exemplo, teremos um desembolso na implantação de uma fl oresta, no entanto a colheita ocorre parceladamente. Temos, então, um investimento na implantação. Lavouras permanentes: compreende a área plantada ou em preparo para o plantio de culturas de longa duração, que após a colheita não necessitam de novo plantio, produzindo por vários anos sucessivos. Foram incluídas nesta categoria as áreas ocupadas por viveiros de mudas de culturas permanentes. 20 CONTABILIDADE RURAL Lavouras temporárias: abrange as áreas plantadas ou em preparo para o plantio de culturas de curta duração (via de regra, menor que um ano) e que necessitam, geralmente, de novo plantio após cada colheita. Incluíram-se também nesta categoria as áreas das plantas forrageiras destinadas ao corte. Fonte: Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/ agropecuaria/censoagro/conceitos.shtm>. Acesso em: 2 fev. 2018. • Ganhos e lucros: os ganhos, da mesma forma que as perdas, podem ser enquadrados em eventos inesperados ou que estejam fora das atividades produtivas, como aplicações fi nanceiras. Os lucros já são decorrentes da atividade em si, ou seja, derivam das receitas subtraídas das despesas, investimentos e impostos, ou também podemos dizer que os lucros são o resultado do valor de receitas totais deduzidas dos custos totais. Máximo Lucro = Máxima diferença possível entre Receita Total e Custo Total de um produto pronto (acabado). A seguir, apresentamos uma forma simplifi cada de se obter resultado do Lucro Bruto: Fórmula 2: =b bL R – bL bL – Lucro Bruto bR – Receitas Brutas tC – Custos Totais – Receita Bruta provém da quantidade vendida multiplicada pelo valor de venda por unidade, lote ou quantidade de produto ou serviço, sem deduzir impostos e abatimentos, conforme visto na Fórmula 1. – Custos Totais são gerados pelo somatório de todos os custos empregados na produção de uma unidade, lote ou quantidade específi ca de um produto ou serviço. 21 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Os leitores que buscarem outras bibliografi as para um aprofundamento no tema se depararão com esta nomenclatura e com outras menos utilizadas. Ainda podemos citar outro termo importante no que tange a sistemas de custos e que é utilizado correntemente em publicações, é o termo “custos de produção”. ando vemos as palavras “custo de produção”, poderemos pensá-las de duas formas: os Custos Unitários de Produção e os Custos de Produção. Os dois termos tratam de uma mesma base fundamental que se refere ao emprego dos fatores utilizados na produção de determinado bem, mas os dois termos guardam sutis diferenças que podem passardespercebidas, por isso vamos esclarecer em nossos estudos. Para saber mais sobre os custos de produção, acesse o link: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1546&t=2>. Os custos de produção estão associados aos gastos com a produção em geral e incluem os insumos, a mão de obra, embalagens etc., enfi m, podemos dizer que os custos de produção se referem a todos os insumos utilizados direta e indiretamente na produção. O termo custo se identifi ca com o produto, enquanto despesa se refere aos gastos do período. Essa diferença é interessante no tocante ao entendimento dos conceitos, mas na prática essa diferenciação é pouco notada em relatórios e registros gerenciais. Podemos ver também alguns autores citarem o termo “custo do produto vendido”. Então, quando você ouvir que os custos de produção estão subindo, logo saberá que são os fatores de produção que estão fi cando mais caros, ou seja, o produtor de um bem está desembolsando ou gastando mais para adquirir insumos, matérias-primas ou mão de obra, a fi m de produzir os mesmos produtos de um momento anterior em que ele gastava menos. O custo unitário de produção se refere à razão entre a soma dos gastos e a quantidade de produtos produzidos. Se utilizarmos o termo custo de produto vendido, provavelmente deveremos acrescer algum custo de venda após o produto pronto. 22 CONTABILIDADE RURAL Todas as empresas bem organizadas possuem os gastos e as quantidades de produtos e de estoques, imediatamente disponíveis, após demandados relatórios desta natureza, pois de outra forma, uma empresa estará “no escuro”. Sem saber todos os valores recebidos e todos os valores que foram desembolsados em um ano, ou em um exercício, qualquer fi rma estará fadada a sofrer consequências negativas como resultado direto do desconhecimento de sua realidade fi nanceira. Então, quando alguém comentar que seus custos unitários de produção subiram, signifi ca dizer que o resultado numérico da soma de todos os custos, divididos pelas unidades de produtos fi nais, aumentou. Como vimos, um custo por unidade é a razão entre os custos totais e as unidades produzidas, como demonstrado na Fórmula 3: Fórmula 3: = t p CC U U C U – Custos por Unidade Produzida tC – Custos Totais pU – Número de Unidades Vendidas ou Produzidas Os movimentos de custos estão demonstrados a seguir para ilustrar melhor nossa discussão: Quadro 1 – Movimentos de custos Fonte: O autor. 23 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Fonte: O autor. Como você pôde notar, são mostrados dois momentos. Sob efeito da Fórmula 3, no momento 1 temos um custo por unidade de 6, enquanto no momento dois temos um custo por unidade de 8,3. Fica evidente que os custos por unidade se alteram para mais por conta do aumento dos custos totais. Um movimento reverso poderia acontecer caso os custos totais se reduzissem. No entanto, a alteração de custos unitários também pode ocorrer por meio de uma alteração na produção. Por exemplo, basta ocorrer perdas de matéria-prima que levem a uma quantidade menor de unidades produzidas ou uma queda de efi ciência qualquer por algum fator externo ou interno. Assim, mesmo com os custos totais mantidos, teremos maiores custos por unidade, conforme mostrado a seguir: Quadro 2 – Momentos de custos Agora que temos mais clareza do signifi cado do conceito de custos e de custos de produção unitários, abordaremos conceitualmente outras defi nições que podem surgir e que deveremos ter em mente para que não façamos confusão. Poderemos nos deparar com o conceito “Custo Histórico”, que para Santos e Marion (1996) trata de ativos do patrimônio, que são valorizados pelo seu custo de compra, independentemente do tempo que estejam estocados. Veremos o Balanço Patrimonial em um capítulo específi co, aqui estamos esclarecendo termos relacionados a custos. O custo histórico pode ser corrigido por um indexador para tornar seu valor atualizado, passando a chamar-se, após essa manobra, de Custo Histórico Corrigido. Também poderemos nos deparar com o termo Custo de Reposição, que signifi ca uma valorização de estoques para o caso do uso na formação do preço. Esta formulação é utilizada para não ocasionar perdas por valorização defasada de insumos em estoque com preços antigos. Assim são utilizados valores atualizados de mercado para estoques comprados em momentos anteriores aos reajustes. Lembramos que no caso das commodities agrícolas os produtores exercem a posição de tomadores de preço, portanto o princípio dos custos de reposição normalmente não é utilizado desta maneira por produtores rurais ou indústrias de armazenagem de grãos que não realizam maiores transformações nos seus produtos fi nais, ou seja, processam somente secagem, limpeza e armazenamento de produtos agrícolas. 24 CONTABILIDADE RURAL Como temos em mente algumas defi nições importantes, podemos nos ater fi nalmente às funções primordiais dos sistemas de custos. A contabilidade de custos está reservada para analisar a apuração de resultado na forma de lucro, controle do custo de produção e as análises de ponto de equilíbrio que mostram a quantidade mínima vendida dentro do custo aplicado, para que uma empresa qualquer logre o equilíbrio entre os custos totais e as receitas totais. Nesse caso (no ponto de equilíbrio), as receitas deduzidas dos custos totais resultaram em valor zero para o lucro líquido, pois o valor das receitas é igual ao valor do custo total no ponto de equilíbrio, que pode ser demonstrado a seguir: Fórmula 4: L = 0 ou ( tlR – 0=tC . ) No cálculo do ponto de equilíbrio deveremos utilizar a Receita Líquida Total ( tlR ) (Fórmula 5), caso contrário o resultado real será negativo, pois não foram descontados os impostos de venda (ICMS, IPI, etc.). A seguir está descrita a equação da Receita Líquida total: Fórmula 5: = −lt tR R deduções ltR – Receita Líquida Total tR – Receita Total Sabemos que os custos totais e as unidades produzidas compõem o custo unitário, como também o signifi cado do conceito de custos de produção e de muitas outras nomenclaturas importantes. Então já podemos calcular custos? A resposta é não! Ainda não podemos calcular ctos com a precisão necessária. Isso ocorre porque alguns custos não são tão fáceis de mensurar, por exemplo, como um investimento ou um bem utilizado por mais de um ciclo produtivo. De forma prática, cita-se um bem que é adquirido e pago em parcelas que levam 1,5 ano para que sejam quitadas totalmente, e a empresa que adquiriu este bem ou ativo faz uso dele por sete anos. Fica a pergunta: Qual é o custo do investimento, se ele foi pago e continua sendo usado? Imagine que determinada equipe de manutenção repara duas unidades fabris de produtos diferentes e é remunerada mensalmente pela empresa proprietária das duas unidades. Qual será o custo desta mão de obra se a equipe trabalha para unidades diferentes da mesma indústria e os trabalhadores são contratados fi xos em regime CLT? Para entendermos melhor esses problemas, 25 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 partiremos para algumas defi nições que serão fundamentais no momento de calcularmos os custos, que são as defi nições de custos fi xos e variáveis e de custos diretos e indiretos. Lembramos novamente que este grande número de conceitos é realmente importante para se apropriar de um novo patamar de conhecimento na contabilidade gerencial. Nesses termos, pedimos que você tenha paciência, pois reconhecemos que estamos tratando de um tema novo para muitos e qualquer matéria apresenta inúmeros elementos estruturantes. Estes termos a que nos referimos (custos fi xos e variáveis e custosdiretos e indiretos) podem adquirir um caráter mais complexo na medida em que os conceitos se encaixam um sobre o outro. É possível que na prática o gestor tenha que lidar com custos que são fi xos e indiretos ou variáveis e indiretos, ou ainda, diretos e fi xos ou diretos e variáveis. O que não ocorrerá, de maneira alguma, são custos classifi cados como fi xos e variáveis ao mesmo tempo ou diretos e indiretos ao mesmo tempo. Isto posto, vamos defi nir o que signifi ca cada elemento, assim você terá clareza do assunto, e ao fi nal do capítulo aplicaremos esses conceitos para uma fi xação defi nitiva sobre o assunto. Existe um princípio contábil largamente conhecido no meio dos contadores e profi ssionais, que trata desse assunto que nos é pertinente no momento. Chama- se Princípio da Consistência. Para Mattos (1999), o Princípio da Consistência signifi ca que uma vez seguido um conjunto de critérios, a empresa deve tomar esses critérios como padrões e não abandoná-los, referindo-se, claro, a critérios contábeis. A afi rmação da autora é reforçada por meio da justifi cativa de que os relatórios contábeis devem permitir, com a padronização, que diferentes resultados sejam comparáveis entre períodos. 26 CONTABILIDADE RURAL No caso de mudanças necessárias de critérios contábeis, tais mudanças devem ser devidamente comunicadas aos acionistas e registradas em atas e documentos que a justifi quem devidamente. As observações citadas anteriormente são fundamentais em nossa discussão, já que poderemos ter uma junção de classifi cações de custos de acordo com os conceitos. Isso geraria, com certeza, possibilidades de erros que podem desencadear falhas de interpretação nos custos, pois, conforme já foi citado, um custo pode ser ao mesmo tempo fi xo e indireto ou variável e indireto etc. A saída para evitarmos erros está contida no princípio da consistência, ou seja, adotar uma classifi cação e segui-la, usar custos diretos e indiretos ou fi xos e variáveis no sistema de avaliação. CUSTOS DIRETOS E CUSTOS INDIRETOS Os custos diretos e indiretos são assim defi nidos pela identifi cação do custo com o produto fi nal. Se o custo tem uma identifi cação direta com o produto (é parte integrante), ele se chamará custo direto, por exemplo, os insumos utilizados em determinada produção fazem parte do produto e são classifi cados como custos diretos. As defi nições dos subtítulos (custos diretos e indiretos) se referem, segundo Santos e Marion (1996), à facilidade que se tem em identifi car estes elementos dentro de um sistema de custos ou de uma série de despesas. Os custos que são indiretos não estão ligados diretamente à produção, a exemplo, os juros pagos a compromissos fi nanceiros, as depreciações de máquinas e equipamentos. Então, é muito simples fazer este reconhecimento do que é direto para o que é indireto? Realmente, é muito intuitivo o reconhecimento da divisão de custos entre diretos e indiretos. Agora poderemos incrementar a nossa fórmula de custos, pois os Custos Totais compreendem os custos diretos somados aos custos indiretos para que seja calculado o custo por unidade. Lembramos que esta não é a única maneira de calcularmos custo unitário. Mostraremos outras formas de examinar a questão quando esclarecermos os custos fi xos e variáveis. Por hora, fi camos com uma formulação de custo unitário com base em custos diretos e indiretos. Vejamos: 27 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Fórmula 6: t d IC C C= + Então: Fórmula 7: d I p C CC U U + = C U – Custos por Unidade Produzida dC – Custos Diretos iC – Custos Indiretos pU – Número de Unidades Produzidas tC – Custos Totais Os custos de fácil identifi cação são diretos e os custos de difícil identifi cação são indiretos. Essa classifi cação está correta, mas veremos algumas formas mais apropriadas para a realizarmos, pois da forma como foi exposta, ainda está vaga. Vejamos primeiro os custos diretos. Esses custos são de identifi cação direta, exatamente como seu nome. Representam o valor de lançamento nas despesas, tais quais foram escritos no fl uxo de caixa, por exemplo, insumos, mão de obra exclusiva da atividade, gastos com manutenção de máquinas e equipamentos, fretes etc. Estão relacionados claramente com o item ou elemento ao qual se vinculam. Quanto à apuração dos custos diretos, podemos dizer que se trata simplesmente da coleta sistemática. Voltamos aos primeiros parágrafos deste material, quando falamos da importância da coleta. Na sequência, temos um exemplo fi ctício (Quadro 3representativo de planilha de coleta de dados utilizando a separação entre custos diretos e indiretos: 28 CONTABILIDADE RURAL Quadro 3 – Custos organizados pelos princípios dos custos diretos e indiretos Fonte: O autor. Vejamos o polo oposto aos custos diretos para melhorar o entendimento. Os custos indiretos representam os investimentos em uma atividade, assim como os elementos ou fatores que não servem somente a uma atividade-fi m. Assim, os custos indiretos estão relacionados a mais de um produto ou necessitam ser considerados em frações quando se tratam dos sistemas de custos, tanto na composição dos custos de produtos como nos custos unitários do mesmo produto ou bem. Santos e Marion (1996) defi nem custos indiretos como custos necessários à produção de mais de um produto e que são alocados arbitrariamente por um sistema de rateio, por estimativas e por outros meios de distribuição para compor o custo. Em geral, as empresas vendem ou produzem mais de um produto ou serviço, contudo alguns itens fundamentais ao funcionamento rotineiro dessas empresas são utilizados de maneira generalizada, ou seja, são usados para compor ou construir mais de um produto ou para todos os produtos fabricados. Por exemplo: Uma distribuidora de produtos agropecuários possui em seu portfólio 25 produtos. 29 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Essa distribuidora possui empilhadeiras para todos os produtos, um staff administrativo de oito pessoas que operam e coordenam inúmeros processos para todos os produtos da distribuidora para que seus produtos atendam efi cientemente ao varejo. Temos assim, dois elementos de custos indiretos: empilhadeiras e administração. Staff é um termo inglês que signifi ca “pessoal”, no sentido de equipe ou funcionários. O termo é utilizado para designar as pessoas que pertencem ao grupo de trabalho de uma organização particular. Também se refere ao quadro de funcionários de uma empresa, aos recursos humanos ou órgão de staff. Os custos de uma distribuidora, com toda certeza, vão além do valor de compra dos produtos das respectivas fábricas. Imediatamente, uma pergunta vem à cabeça: Como poderemos apropriar adequadamente esses custos em cada produto para que possamos saber os custos desta distribuidora? Neste ponto entram os sistemas de rateio ou sistemas estimados, como bem citam Santos e Marion (1996). Afi nal, o que são sistemas de rateio ou distribuição? São formas lógicas, racionais, para apropriar aqueles custos indiretos aos “produtos que fazem uso” desses fatores. Os custos que merecem ser distribuídos desta forma são indiretos. Eles podem ser de natureza mais relacionada a despesas, como a administração ou a energia elétrica utilizada em mais de uma atividade dentro da mesma empresa, ou ainda podem ser relacionados aos investimentos que sofrem perdas de valor com o decorrer do tempo devido a desgastes naturais. A nomenclatura utilizada para classifi car esses desgastes naturais, tanto de investimentos em maquinários e equipamentos, como em elementos biológicos (plantas perenes), é chamada de depreciação, amortização,ou ainda, exaustão. 30 CONTABILIDADE RURAL Plantas perenes são culturas que permanecem em uso por mais de um ano agrícola, ou seja, antes de se tornar improdutiva ou inefi ciente, a cultura produz por mais de um período. Exemplo: erva- mate, chá, café. Os conceitos anteriormente mencionados são utilizados para as duas formas de classifi cação de custos, portanto, caro acadêmico, guarde bem essas frases, porque voltaremos a falar no assunto quando detalharmos os métodos de rateio e distribuição desses custos. Como falamos, os rateios servirão para qualquer forma de avaliação de custos, então, antes de conhecermos os métodos de rateio mais utilizados, veremos uma outra forma importante de classifi car os custos de produção e que são formalizações correntes em relatórios e modelos de avaliação dentro das empresas, tanto do agronegócio como fora dele. Essa classifi cação é diferente do que estamos vendo neste item. Aqui estamos ponderando os custos em diretos e indiretos. Estes mesmos custos podem ser classifi cados em fi xos e variáveis, como veremos a seguir. CUSTOS FIXOS E CUSTOS VARIÁVEIS Inicialmente, queremos enfatizar que as duas classifi cações (custos diretos e indiretos; custos fi xos e variáveis) estão absolutamente corretas e são largamente utilizadas. No entanto, o administrador deve ter muito cuidado nas classifi cações para obter a consistência necessária. Segundo Mattos (1999): Custos fi xos são os custos de certos recursos produtivos cujas quantidades não podem ser mudadas em resposta às mudanças na quantidade produzida a curto prazo. Tais custos, portanto, não variam com as quantidades produzidas. Custos variáveis são custos de recursos cujas quantidades podem ser mudadas a curto prazo como resposta a incentivos ou desincentivos de mercado, com relação ao volume de produção. Esses custos, portanto, variam conforme a quantidade ou volume produzido. Os custos variáveis mudam em proporção direta com o volume de produção. Exemplo: horas-máquina e insumos ou materiais diretos. 31 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Os custos fi xos são aqueles que permanecem inalterados em termos físicos e de valor, independentemente do volume produzido e dentro de um intervalo de tempo relevante. Geralmente são originários de posses de ativos ou de capacidade ou estado de prontidão para se produzir, por isso podem ser chamados também de custos de capacidade (SANTOS; MARION, 1996). Vejamos alguns exemplos comuns de custos fi xos e de custos variáveis que não devem ser tomados como sendo permanentemente fi xos ou variáveis, pois existe uma variação entre as empresas que podem tornar o que é fi xo em uma empresa, variável em outra, mesmo pertencendo ao mesmo setor e região. Ainda podemos ponderar que esta classifi cação poderá mudar dentro da mesma empresa, de um período para o outro, por isso Santos e Marion (1996) colocam o termo “intervalo de tempo relevante” em sua defi nição de custos fi xos. Contudo, temos alguns exemplos que serão sempre custos fi xos quando representarem um desembolso para uma empresa. São eles: aluguéis, salários de funcionários e depreciações. Também teremos exemplos de rubricas que serão sempre variáveis, como insumos e manutenções. Dentro das fases de produção de produtos agropecuários, os custos variáveis representam aqueles ligados fortemente à produção e às tecnologias de produção, enquanto os fi xos estão mais ligados a serviços administrativos e de gestão. Isso ocorre de maneira geral e não deve ser tomado como regra. Para efeito de exemplo, o quadro a seguir mostra uma distribuição de custos que normalmente são fi xos e variáveis. Quadro 4 – Custos organizados pelos princípios dos custos fi xos e variáveis 32 CONTABILIDADE RURAL Fonte: O autor. Alguns custos variáveis não mudam em proporção direta com o volume produzido, ou exatamente na mesma proporção, mas variam na medida em que a produção se altera, portanto podem ocorrer em uma proporção maior ou menor. Esse fato não invalida a nossa classifi cação de custos variáveis, apenas traz uma ressalva ao conceito, tornando-o mais fl exível e prático. Após vermos as duas principais formas de classifi cação dos custos, ainda podemos inserir a forma de classifi car os custos quanto À sua natureza. Essas classifi cações são como subclasses dentro de uma classifi cação mais ampla, que são os custos diretos ou indiretos e fi xos ou variáveis. Essas subclasses normalmente contêm grupos menores de contas e são nomeadas de acordo com o grupo de despesas. Por exemplo: a) Combustível e lubrifi cantes – dentro dessa conta poderemos lançar gastos com combustível para máquinas e equipamentos e todos os tipos de lubrifi cantes. b) Depreciação de máquinas – esta conta abriga os lançamentos referentes aos custos de depreciações pelo uso das máquinas de uma empresa ou propriedade rural. 33 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Atividade de estudo: 1) Qual a diferença entre desembolso e despesa? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Assinale a alternativa correta que completa a frase: O total de unidades produzidas no período anual signifi ca dizer _____: a) Número de sacos por hectare ao ano. b) Quilos totais de produto produzido em uma fazenda. c) Quantidade de um produto qualquer, produzido durante um ano. d) Nenhuma alternativa. 3) Assinale a alternativa correta que completa a frase: Um aumento nos custos totais signifi ca obrigatoriamente: a) Menores lucros. b) Maiores custos por unidade. c) Aumentos no desembolso total. d) Melhores resultados. Entendido isso, vamos trabalhar a forma como deveremos inserir os custos indiretos, oriundos de bens depreciáveis, ao custo de produção e como poderemos inserir os custos fi xos que são depreciáveis, ao custo de produção unitário de produtos. Para executarmos essas técnicas contábeis, primeiro façamos uma leitura a respeito do signifi cado de depreciação, amortização e exaustão. 34 CONTABILIDADE RURAL DEPRECIAÇÃO, EXAUSTÃO E AMORTIZAÇÃO Os termos depreciação, exaustão e amortização, em sentido amplo, podem ser utilizados ou aplicados para qualquer bem de vida útil limitada, porém existem algumas diferenças sutis entre os termos, que servem para diferenciá-los no sentido de direcionar o tipo de bem a ser amortizado, exaurido ou depreciado (SANTOS; MARION, 1996). Para que tenhamos um entendimento amplo, discutiremos do que se tratam os termos. Mattos (1999) comenta que a maioria dos bens de capital estão sujeitos à depreciação, ou seja, há uma queda em seu valor na medida em que o tempo passa. A queda no valor do bem refere-se ao valor de aquisição. Essa queda no valor do bem ocorre por obsolescência e uso, e os valores de depreciação são valores estimados por cálculos. Os principais métodos de cálculo são: • Método linear. • Método da soma dos números naturais. Na classifi cação entre custos diretos e indiretos, as depreciações fazem parte dos custos indiretos, e na classifi cação entre custos fi xos e variáveis, a depreciação faz parte dos custos fi xos de produção. Em dúvida, você deve retornar aos conceitos para prosseguir com esta leitura. Vejamos um exemplo prático. Uma fábrica de processamento de polpa de fruta adquire um novo equipamento de pré-lavagem de frutas. Esse equipamento será usado por aproximadamente 15 anos. Se os gestores apropriarem todo o valor de compra da máquina aos custos de produção do primeiro ano de uso, certamente os custos de cada frasco de polpa de fruta subirão de maneira signifi cativa, pois a máquina é importada e foi adquirida por um alto valor. Suponhamosque nossa máquina tenha custado 2 milhões de reais e tenha capacidade, em um ano, para preparar 100 mil quilos de frutas. Dividindo o valor da máquina pela quantidade que ela processará em um ano, ( 2.000.000 20,00 100.000 = ), teríamos que acrescentar ao custo de produção de cada quilo de polpa pronta para venda o valor de R$ 20,00 reais, somente em referência à depreciação deste equipamento. Lembrem-se: não estamos computando o restante dos custos. Provavelmente, ao computar todos os outros custos de produção e acrescentar o valor da máquina em apenas um ano, 35 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 o preço do produto teria que subir de maneira bem signifi cativa, assim fi caria bem acima do mercado de polpas processadas. A fábrica teria sérios problemas, pois o preço fi nal de seu produto teria que ser elevado de maneira a difi cultar enormemente sua competitividade, por conta de uma supervalorização de um dos fatores de produção. Isso porque o preço fi nal, normalmente, é maior do que os custos de produção para que uma empresa qualquer logre lucros, se mantenha e cresça em qualquer setor da economia. Por outro lado, se os custos da máquina forem totalmente ignorados, a fábrica não estaria valorizando corretamente seus fatores produtivos no estabelecimento de seu preço fi nal e, provavelmente, não teria recursos para renovar seu maquinário quando este atingir a obsolescência total, que, no caso enfatizado, deve chegar em 15 anos. Como poderíamos estabelecer de forma mais criteriosa este custo de depreciação? Primeiro, pelo método linear, aplicando a equação a seguir: Depreciação pelo Método Linear Fórmula 8: ( )1 . a i rfD V VN= − aD – Depreciação Anual N – Número de anos de vida útil participando das atividades iV – Valor real inicial de aquisição rfV – Valor real residual fi nal do ativo ou valor de sucata Neste caso, a taxa de depreciação anual do ativo é constante, assim o ativo terá depreciação constante durante toda a sua vida útil, conforme mostrado na Figura 5, que trata do nosso exemplo da máquina de pré-lavagem de frutas. Vejamos o exemplo citado, supondo que o valor residual da máquina seja zero (R$ 0,00). Aplicando a Fórmula 8 teríamos: ( )1a i rfD V VN= × − ( )1 2.000.000,00 0,00 15a D = × − ( )0,06666 2.000.000aD X= $1 33.320,00aD R= 36 CONTABILIDADE RURAL A depreciação do equipamento que foi adquirido por R$ 2.000.000,00, com vida útil de 15 anos e valor residual zero, será de R$ 133.320,00 ao ano, ou, ao realizarmos o somatório de custos, no item depreciações teríamos o valor de R$ 133.320.000,00 referente à máquina de pré-lavagem, e isso se aplica em qualquer ano de sua vida útil. Depois de calcular a depreciação anual da máquina (no exemplo anterior), verifi camos que a incidência do custo de depreciação desse equipamento, sob uma produção de 100 mil quilos da fábrica, ( 133.320,00 100.000 ) incide em R$ 1,33 para cada quilo de polpa pronta. Muito diferente dos R$ 20,00 encontrados quando alocamos todo o valor da máquina em um só ano. Gráfi co 1 – Taxa constante de depreciação pelo método linear Fonte: O autor. Vejamos agora a depreciação pelo método da soma dos números naturais. Para isso, utilizaremos um outro exemplo. Temos um trator adquirido por R$ 80.000,00, supondo uma vida útil de 10 anos. O valor residual de uma máquina equivalente, com dez anos de uso, foi investigado no mercado e chegou-se a um valor médio de R$ 10.000,00. Assim, o valor residual do trator é de R$ 10.000,00. Esse método não produz uma depreciação linearmente uniforme como o método anterior. No entanto, nos dá a possibilidade de calcular dada depreciação de um ativo, no ano em que desejarmos, basta acrescê-lo à Fórmula 9. Utilizando o exemplo, faremos o desenvolvimento do cálculo. A depreciação em um ano t qualquer é calculada desta forma, vejamos: 37 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Fórmula 9: ( ) at i rf tD V V d= − × Em que: Fórmula 10: 1 t N td s − + = E: Fórmula 11: ( )1 2 N N S + = atD – Depreciação anual em um ano t qualquer S – Somatório dos números naturais de 1 a N pela fórmula da progressão N – Vida útil em anos td – Taxa de depreciação em um ano t qualquer t – Ano referente à depreciação procurada Calculando a depreciação do trator ao fi nal do primeiro ano, cujo valor inicial foi estipulado em R$ 80.000,00, o valor residual R$ 10.000,00 e vida útil em 10 anos, teremos: 1 1 t N td s − + = 1 10 td s = 1 10 td s = 38 CONTABILIDADE RURAL Calculando valor de S teremos: ( )1 2 N N S + = ( )10 10 1 2 S + = 55S = Portanto: 1 10 0,18182 55t d = = = taxa de depreciação para o 1º ano do trator. Aplicando a fórmula para depreciação, buscando o valor de 1td (ano 1), teremos: ( ) 1 at i rf tD V V d= − × ( )80.000 10.000 0,18182atD = − × 12.727,27 atD = Assim, o valor da depreciação do trator seria de R$ 12.727, 27 ao fi nal do seu primeiro ano de uso. O mesmo cálculo poderá ser executado para qualquer outro ano de depreciação, basta mudar o ano ( t ) dentro da fórmula: 1 t N td s − + = . Agora temos as duas formas de cálculo de depreciação e podemos compará- las nas fi guras a seguir, para que você refl ita e observe como a depreciação incide em cada um dos formatos de cálculo, especialmente na taxa de depreciação, que mostra as diferenças fundamentais nas duas formas de estruturar os valores de depreciação, gerando diferentes valores anuais. Nota-se claramente que, na medida em que um ativo ou bem sofre desgaste (depreciação) sob o método dos números naturais, ocorre uma queda gradativa nas taxas de depreciação. Assim, ocorrem perdas de valor maiores nos primeiros anos de uso, conforme mostra a Figura 7 “Valor da depreciação/ano” (R$): 39 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Quadro 5 – Depreciação com base de cálculo por meio do método linear Fonte: O autor. Fonte: O autor. Quadro 6 – Depreciação calculada por meio do método da soma dos números naturais 40 CONTABILIDADE RURAL Gráfi co 2 – Taxa constante de depreciação pelo método da soma dos números naturais Fonte: O autor. A depreciação, amortização e exaustão não são exatamente a mesma coisa, apesar de serem aplicadas a ativos com vida útil limitada. No que se refere às culturas permanentes (fl orestas, árvores), fala-se que esses ativos são depreciáveis apenas se forem extraídos frutos dessas culturas. Nessa hipótese, o custo de formação dessas culturas é depreciado em tantos anos quantos forem os anos de produção. Os casos de depreciação em plantios permanentes podem ser cafeeiros, laranjeiras, chás e outras árvores frutíferas em geral, assim como alguns animais de trabalho e de produção que são “permanentes”. Naturalmente podemos perguntar: Qual taxa de depreciação deveremos aplicar a essas culturas e animais? Os exemplos das plantas não foram calculados como os exemplos de máquinas. Para sabermos qual o comportamento de determinadas plantas, como sua vida útil e sua taxa produtiva durante a vida útil, deveremos consultar agrônomos e veterinários da região para passar informações mais precisas a respeito. Portanto, se uma videira possuir uma vida útil de 20 anos na região da Campanha Gaúcha, ela terá uma taxa de depreciação de 5% (100/20) ao ano, ou seja, durante sua vida útil serão atribuídos 5% do valor de implantação da cultura ao custo de produção na forma de depreciação, que pode fazer parte dos custos indiretosou fazer parte dos custos fi xos da atividade que está sendo monitorada. Esta incidência de custos de depreciação inicia a partir do momento em que começa a produção da cultura. Antes disso, se acumulará na conta de formação de cultura o valor do ativo permanente. 41 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 As taxas de depreciação para culturas permanentes podem ser calculadas de acordo com o tempo de vida, simplesmente dividindo o tempo de vida útil da cultura por 100, para encontrar a taxa depreciável ao ano, conforme está descrito no parágrafo anterior. Também podemos calcular a depreciação através da estimativa total de produção, como veremos a seguir, no caso de uma depreciação pela estimativa de produção, por exemplo. Em uma determinada cultura permanente estima-se colher em média, ao longo da vida da cultura, o equivalente a 1.000 toneladas por hectare. No primeiro ano de colheita logrou-se a média de 5 toneladas por hectare. Portanto, utilizando o cálculo [(5/1.000)x100] teremos uma taxa de depreciação de 0,5% do valor de implantação alocado ao custo por hectare. A vantagem desse tipo de avaliação repousa no fato de que em anos de quebra de safra teremos um custo de depreciação mais proporcional à colheita. Do contrário, em anos de safra farta poderemos descontar um valor maior de depreciação, e desta forma estabeleceremos um maior equilíbrio nas contas. Quando se tratar de fl orestas de extração de madeira, onde a própria planta é extraída do solo, não restando mais produto a ser colhido da mesma planta, o custo de aquisição ou formação desses produtos será objeto de cotas de exaustão, na medida em que as árvores são ceifadas. Os exemplos mais comuns da aplicação de exaustão são cana-de-açúcar, fl orestas e pastagens perenes. A avaliação da exaustão deverá ocorrer de forma que a incidência do custo de formação de uma fl oresta destinada a corte de árvores, por exemplo, levará um montante proporcional à parcela consumida ou retirada para venda. O formato de cálculo pode levar em conta, para isso, a quantidade de árvores retiradas na razão da quantidade total de árvores existentes no período-base ou original, antes do primeiro corte, ou somente o número de cortes em relação aos gastos de implantação ou formação. Vejamos, por exemplo, uma fl oresta de eucalipto com um total de 150.000 mil árvores e uma previsão de cinco cortes. Neste caso, a exaustão ocorrerá em parcelas de 20% (100/5) sobre o valor de implantação. Caso o valor para implantação fosse de R$ 100.000,00, teríamos R$ 20.000,00 de custos de exaustão em cada corte da fl oresta de eucalipto. Também poderíamos fazer o cálculo pela quantidade de árvores retiradas. Se no primeiro corte foram retiradas dez mil árvores, o que equivale ao percentual de 6,66%, os custos de exaustão para o primeiro corte deverão permanecer em 6,66% do valor de implantação da fl oresta até o momento desse primeiro corte: 42 CONTABILIDADE RURAL 100ti b ACPercentual Exaustão Floresta x At = tiAC – Árvores colhidas em um momento qualquer bAt – Total de árvores-base 10.000 100 150.000 Percentual Exaustão Floresta x = 6,66%Percentual Exaustão Floresta = O termo amortização está reservado tecnicamente para aquisições de direitos a empreendimentos de terceiros, de forma que os custos desses direitos sejam apropriados ao longo do período determinado em contrato, para que a exploração ocorra. Assim, a amortização pode ser contabilizada pelo tempo de contrato, de forma linear, ou ainda com base na proporção de colheita, como foi visto para o caso de exaustão. Como já foi comentado, as pessoas mais indicadas para estimar o tempo de vida útil de empreendimentos rurais como lavouras ou plantas perenes são os profi ssionais da área a ser avaliada, pois estas pessoas teriam maiores condições de julgamento de acordo com o clima, solo, manejo etc. Esses elementos variam de uma região para outra, tornando mais complexas as avaliações para os que não são profi ssionais da área. No caso de máquinas, equipamentos e construções, também temos depreciações sujeitas à avaliação, ou seja, no caso de depreciações de imóveis, benfeitorias, máquinas e implementos, podemos afi rmar o mesmo. A vida útil desses itens pode ser estimada da mesma forma, através de consulta a profi ssionais do ramo. No entanto, existem estimativas que podem servir de orientação ao profi ssional encarregado de elaborar os custos de produção e controlar os resultados. A seguir, apresentamos algumas estimativas de depreciação desses ativos: 43 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Quadro 7 – Estimativas de depreciação para máquinas agrícolas Fonte: O autor. Fonte: O autor. Fonte: O autor. Quadro 8 – Estimativas de depreciação para construções Quadro 9 – Estimativas de depreciação para equipamentos 44 CONTABILIDADE RURAL Quadro 10 – Estimativas de depreciação para culturas perenes Fonte: O autor. Os elementos descritos apresentados tratam de um tipo de despesa indireta ou fi xa, as depreciações ou exaustão e, ainda, as amortizações. Partiremos agora para o tratamento de despesas ou custos indiretos, normalmente presentes em qualquer empreendimento do setor do agronegócio. São aqueles custos que “participam” em mais de uma atividade-fi m, contudo pertencem à mesma empresa. Lembramos que as depreciações podem estar dentro desses custos indiretos que deverão sofrer rateio, pois podem representar mais de uma atividade. Sendo assim, o nosso próximo tema trata desses elementos comuns, portanto os procedimentos para distribuir corretamente estes custos, que são de uso comum para mais de uma atividade-fi m, são o nosso próximo tópico de discussão. Atividade de Estudos: 1) Como os investimentos participam dos custos por unidade produzida? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 45 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 APROPRIAÇÃO DE CUSTOS COMUNS Podemos citar novamente um exemplo para relembrar os custos que são comuns a mais de uma atividade. As despesas com administração são bem representativas destes custos que necessitam de rateio, ou seja, precisam ser distribuídas entre as atividades das quais fazem parte. Vamos a um exemplo: Poderemos facilmente ter uma empresa rural produzindo carne e grãos em diferentes áreas (partes da mesma propriedade rural), ou até mesmo na mesma área, mas em diferentes épocas do ano. No entanto, o escritório que trata dos controles da parte burocrática administrativa é o mesmo. Os custos que se apresentam dessa forma são chamados de custos sujeitos a um rateio ou gastos que atendem a mais de um centro produtivo dentro da mesma unidade. Outra amostra bem clara desses custos é a mão de obra utilizada, ora com uma atividade, ora com outra atividade. Outro exemplo seria um trator que é empregado em duas atividades, que deverá ter tanto seus custos de manutenção, rateados ou distribuídos, assim como sua depreciação também poderá ser dividida e alocada às atividades que estão sendo benefi ciadas com o fator de produção trator. A questão é: como distribuir esses custos oriundos de fatores produtivos que participam em mais de uma atividade? A apropriação desses custos, chamados indiretos, poderá ser realizada por vários procedimentos e não existe a melhor técnica para conceber tal manobra. No caso da máquina e da mão de obra, poderíamos ter o registro fi dedigno das horas trabalhadas em cada atividade e depois alocar os custos de acordo com o tempo utilizado para cada um. Isto seria o ideal a fazer nesses casos, pois teríamos umregistro consistente com o que foi gasto em cada uma das atividades. O que ocorre é que nem sempre teremos esses registros. Veremos a forma de alocar ou realizar rateio proporcionalmente aos custos diretos das atividades desenvolvidas em uma unidade produtiva. Pode ser uma fazenda ou uma distribuidora de produtos, até mesmo uma agroindústria ou prestadores de serviços no agronegócio. Dessa maneira, distribuiremos custos que são comuns na mesma proporção dos custos diretos das atividades, como pode ser observado na Figura 13: 46 CONTABILIDADE RURAL Unidade produtiva: local estabelecido e delimitado para acontecer determinado tipo de produção. No caso de propriedades rurais, as unidades produtivas são as próprias fazendas. No caso de uma indústria, a unidade é representada pelas áreas físicas que a compõem: construções, equipamentos etc. Custos rateados: ratear signifi ca dividir, ou mesmo distribuir segundo a proporção que, por justiça, cabe a cada um. Da mesma forma, podemos conceituar os custos rateados. Aqueles custos passíveis de uma distribuição. A distribuição ocorre nos custos que pertencem a mais de uma unidade produtiva ou atividade produtiva dentro da mesma unidade, mas que foram apropriados ao mesmo tempo para as duas unidades ou atividades. Como exemplo temos as máquinas de uso em duas unidades ou em uma unidade com duas atividades. Quadro 11 – Procedimento de rateio pela proporção de despesas diretas Fonte: O autor. 47 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Perceba que é possível encontrar a proporcionalidade dos custos diretos nas duas atividades e redistribuí-los aos que são comuns (na mesma proporção), somando a parcela proporcional dos custos rateados aos custos já arbitrados diretamente a cada atividade. Como vimos na fi gura anterior, após a coluna de descrição da natureza dos itens (1ª coluna) temos os custos diretos da pecuária, seguidos (da esquerda para a direita) da coluna custos diretos da agricultura e custos comuns às duas atividades, e a última coluna soma os valores. Os dois passos para realizar a distribuição de custos comuns são: a) Encontrar os valores relativos dos custos diretos das duas atividades, como está descrito a seguir e também está descrito na Figura 13, antepenúltima linha. b) Redistribuir os custos que são comuns na mesma proporção, somando os custos rateados e dividir aos custos já arbitrados diretamente a cada atividade. Na sequência, apresentamos o mesmo raciocínio, mas descrito de outra maneira: ( ) 43.700,00 104.300,00 148.000,00Custos diretos totais = + = 43.700,00 100 30% 148.000,00 Proporçãodos custos diretos da pecuária X = ≅ 104.300,00 100 70% 148.000,00 Proporçãodos custos diretos da agricultura X = ≅ Assim, apropriando os custos comuns teremos 30% destes para a pecuária e 70% para a atividade agrícola da fazenda, como está demonstrado a seguir e também na Figura 13: 30% 68.600,00 20.580,00 Apropriaçãodos custos comuns para a pecuária x= = 70% 68.600,00 48.020,00Apropriaçãodos custos comuns para agricultura x= = Desta maneira, após encontrarmos os valores apropriados ou rateados, os somamos aos valores dos custos diretos constantes nas atividades e teremos os custos totais das duas atividades separadas, conforme constam na fi gura anteriormente mencionada: 48 CONTABILIDADE RURAL (20.580,00 43.700,00 64.280,00Custos diretos eindiretos da pecuária = + = ( ) 48.020,00 104.300,00 152.320,00Custos diretos eindiretos da agricultura = + = Seguem outras maneiras de rateio que podem ser empregadas: a) Área utilizada em propriedades rurais. Assim o rateio obedece à proporcionalidade de área utilizada. b) Mediante a rentabilidade da atividade, o que faz com que os investimentos mais lucrativos absorvam maior quantidade de custos comuns a outros negócios da mesma unidade produtiva. c) Tempo de trabalho. Assim, negócios que empregam maior dedicação de tempo de trabalho poderão receber maiores aportes de custos comuns. Esse tipo de rateio normalmente é usado em empreendimentos que empregam grande quantidade de mão de obra e este centro de custos representa um dos principais elementos do custeio total. Neste ponto podemos agregar à nossa fórmula de custos por unidade produzida, os custos que foram rateados e irão compor os custos de uma atividade quando ela faz parte de uma mesma unidade produtiva que trabalha com mais de um produto. Fórmula 12: d I cr p C C CC U U + + = C U – Custos por Unidade Produzida dC – Custos Diretos iC – Custos Indiretos pU – Número de Unidades Produzidas crC – Custos comuns rateados entre atividades CUSTO UNITÁRIO DE PRODUÇÃO Custo unitário de produção, e outras formas de abordar custos no agronegócio, é a última etapa deste pequeno manual de custos. O objetivo fi nal dessa leitura foi dividido em duas etapas dentro do seu plano de desenvolvimento do curso de Contabilidade Rural. 49 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Compreendendo que você tenha chegado até esta fase da leitura com um grau mais aperfeiçoado de entendimento de alguns conceitos contábeis, partimos a um exemplo de cálculo de custos. O quadro 12 mostra, de uma maneira geral, uma propriedade rural que produz carne bovina e soja, elementos bem tradicionais e presentes nas atividades produtivas no Brasil. Os dados estão organizados conforme classifi cação de custos diretos e indiretos, e também estão divididos por atividade ou centro de custos. Assim, os custos produtivos estão coletados e registrados de forma que poderemos calcular os custos unitários de produção, tanto da atividade agrícola quanto da atividade pecuária de corte. A equação de base (fórmula) que utilizaremos é a de nº 12: d I cr p C C CC U U + + = C U – Custos por Unidade Produzida dC – Custos Diretos iC – Custos Indiretos pU – Número de Unidades Produzidas crC – Custos comuns rateados entre atividades 50 CONTABILIDADE RURAL Quadro 12 – Custos de produção distribuídos em centros de custo por meio da classifi cação custos diretos e indiretos, para duas atividades em uma propriedade rural Fonte: O autor. 51 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Cálculo do custo unitário (kg) de produção pecuária, de acordo com a fi gura anterior. A partir da Fórmula 12, ( d i cr p C C CC U U + + = ) temos: ; d i crPara a pecuária doexemplo C C C+ + = 87.430,00 + 20.200,00 + 40.652,57 148.282,57d i crC C C+ + = ? C U = ?pU = Como você pôde observar, poderemos aplicar o cálculo sem que tenhamos três das variáveis fundamentais, portanto precisamos da quantidade de unidades produzidas. Na pecuária de corte, os animais são considerados produtos prontos para a venda e abate (quando esta se destina à venda de animais para abate) quando estão completamente acabados, pois apresentam acabamento de gordura sufi ciente para os padrões industriais e de consumo. Abate – (1) é uma das operações principais da exploração fl orestal. Consiste no corte de árvores que serão usadas em processos de transformação ou para geração de energia. Normalmente este corte é feito o mais junto possível ao solo, impedindo o rebrotamento; (2) consiste na matança de animais para fi ns de consumo ou comercialização. Terminação ou engorda – termo utilizado para designar a última etapa de uma criaç ã o comercial de animais, na qual é dada a forma fi nal de percentual de gordura, peso e/ou tamanho que o animal vai para o abate. Fonte: Ormond (2006). 52 CONTABILIDADE RURAL Outra afi rmação importante na pecuária trata da quantidadeproduzida, pois animais que ganharam peso, ou seja, produziram e não foram vendidos, não são considerados como quilos produzidos para efeito de contabilidade de custos. Consideramos como produção aqueles animais vendidos, convertidos em quilos. Em nosso caso fi ctício consideraremos os dois fazendeiros sócios, produzindo (vendendo) 110 quilos de carne em cada hectare utilizado (ou 110 Kg/ ha). Aplicamos uma área total de 450 hectares, portanto a produção total anual da propriedade, no que tange à pecuária de corte, será ( ) 110 450 49.500kg ha× = de 49.500 kg (total anual). Assim temos nossa variável – unidades produzidas ( ) pU − encontrada. Aplicando a Fórmula 12, teremos: 148.282,57 49.500 C U = 33 350 11.550)× = Assim, o custo do quilo de carne produzido nesta fazenda é de aproximados R$ 3,00. Para calcularmos o custo do saco de soja produzido abordaremos a mesma formulação, supondo que os produtores operam com uma área de 350 hectares, produzindo em média, no ano em questão, 33 sacos de soja por cada hectare plantado. Portanto a fazenda produziu (33 350 11.550)× = 11.550 sacos de soja. Estamos considerando as duas atividades dentro do ano agrícola, não do ano físico, pois assim ponderamos sobre as duas atividades no mesmo período. Para o cálculo do custo do saco de soja, de acordo com a Figura 14, teremos: d i cr p C C CC U U + + = Em que: : 204.200,00 110.500,00 94.947,00d i crPara acultura da soja doexemplo C C C+ + = + + 53 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 409.647,43d i crC C C+ + = ? C U = 11.550pU = Portanto: 409.647,43 11.550 C U = 35,467 35,50CU = ≅ Assim, o custo do saco de soja produzido nesta fazenda é de aproximadamente R$ 35,50. Lembramos que, se auferirmos a diferença entre o preço de venda e o custo de produção, teremos um lucro antes do imposto, portanto a sobra fi nal ou lucro líquido sobre cada unidade seria resultado da diferença entre o custo de produção por unidade e o preço de venda desta unidade, subtraindo os impostos. Poderíamos ter os mesmos custos produtivos distribuídos de outra forma, e de acordo com o que vimos até aqui, a outra forma seria desenvolvida a partir de uma divisão entre custos fi xos e custos variáveis (ver Figura 15 – outro modo de registrar os custos). Você observará pequenas diferenças nos custos totais das atividades por conta da distribuição dos custos comuns às duas atividades. No caso da divisão dos custos entre fi xos e variáveis, a alocação de custos comuns foi efetuada pela proporção dos custos variáveis de cada atividade. No exemplo anterior havíamos executado esta operação através dos custos diretos de cada atividade. As duas formas são coerentes com as classifi cações utilizadas e as duas formas de rateio são aceitas contabilmente. Basta observar o princípio da padronização da coleta para que o administrador tenha um controle de custos ao longo dos anos. Em um caso em que se utilizam formas alternadas de organização, a difi culdade em examinar os custos ao longo de vários períodos fi ca prejudicada. 54 CONTABILIDADE RURAL Quadro 13 – Custos de produção distribuídos em centros de custo por meio da classifi cação custos fi xos e variáveis, para duas atividades em uma propriedade rural Fonte: O autor. O estudante pode realizar o exercício de calcular os custos de produção para as duas atividades de acordo com a fi gura anterior e verifi car as diferenças entre as escolhas de diferentes formatos de cálculo. 55 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Realizar o exercício utilizando a Figura 15. Calcular o custo de produção total para as duas atividades, alocando 50% dos custos comuns a cada atividade. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Quais são as principais maneiras de alocar os custos de produção? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Marque a alternativa correta que apresenta quais dos seguintes dados precisamos para calcular os custos por unidade: a) Custos totais, área utilizada e tamanho do ciclo produtivo. b) Custos totais, área utilizada, produção por unidade de área. c) Custos diretos, custos variáveis, depreciações e tamanho da propriedade. d) Depreciações, custos diretos e indiretos e juros pagos ao banco. e) Custos indiretos, Custos de manutenção e vendas do período. 56 CONTABILIDADE RURAL De maneira resumida e tomando como exemplo o quadro 13, para calcularmos os custos de produção deveremos realizar os passos descritos a seguir: a) Escolher a forma de organizar os custos (fi xos e variáveis ou diretos e indiretos). b) Organizar espaços específi cos nas coletas de dados, para itens que são comuns a mais de uma atividade e alocá-los devidamente (Figura 15, Coluna G). c) Coletar os dados referentes ao ciclo produtivo de interesse, sistematicamente (padronizando formato, coleta de dados, auditorias etc.). d) Calcular as depreciações dos fatores de produção envolvidos (equipamentos, máquinas, benfeitorias e veículos). A exemplo, na Figura 15, Linhas 11 e 12. e) Somar os custos para chegar ao resultado dos custos totais antes da alocação dos custos comuns (Figura 15, Linha 28). f) Alocar os custos comuns (Figura 15, Linhas 29 e 30). g) Encontrar o custo total depois da alocação de custos comuns (Figura 15, Linha 31). h) Dividir os custos totais pelo número de unidades produzidas e encontrar, como resultado, o custo por unidade produzida. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Dentre as inúmeras decisões que um administrador toma durante o curso de seu trabalho, haverá algumas tomadas com as bases mais racionais possíveis e algumas decisões gerenciais que saem da esfera totalmente racional. Ainda ocorrem decisões com base em alguma fração de cada esfera: racional e irracional (SIMON, 1997). As formas de decidir ou auxiliar no gerenciamento, com base em dados reais ou planejados, passam pela contabilidade. Esse fato decorre da necessidade do emprego de relatórios contábeis para que um exame racional seja elaborado com certa segurança, por isso a contabilidade tem uma forte ligação com o gerenciamento e a administração. Do contrário, sem nenhum dado minimamente organizado para expressar os acontecimentos de interesse do administrador, estaremos no terreno da tomada de decisão intuitiva ou não racional, que normalmente traz maior insegurança e risco. Fizemos algumas considerações a respeito das maneiras de organizar custos, visando nortear as decisões racionais em técnicas reconhecidas. 57 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS Capítulo 1 A partir desse capítulo, espera-se que os futuros gestores tenham adquirido conhecimento capaz de agregá-lo profi ssionalmente e compreender melhor que o seu papel é importante e desafi ante. Desta maneira, aproveite a oportunidade para se debruçar nas bases da contabilidade rural, que é o nosso objeto de estudo, sem esquecer que outros elementos importantes fazem parte da gestão do agronegócio. REFERÊNCIAS GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. LIMA, E. B. Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro. Contabilidade de Custos. Rio de Janeiro, 2014. MARTINS, E. Contabilidade de Custos. 9. ed. São Paulo: Atlas,
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