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Indaial – 2021 Custos IndustrIaIs Profª. Giuliani Facco Profª. Viviane D’ Barsoles Gonçalves Werutsky 2a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Profª. Giuliani Facco Profª. Viviane D’ Barsoles Gonçalves Werutsky Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F138c Facco, Giuliani Custos industriais. / Giuliani Facco; Viviane D’ Barsoles Gonçalves Werutsky. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 202 p.; il. ISBN 978-65-5663-730-3 ISBN Digital 978-65-5663-726-6 1. Métodos de custeio. - Brasil. I. Werutsky, Viviane D’ Barsoles Gonçalves. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 658.1552 apresentação Olá, acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Custos Industriais! Você sabe qual é a importância de estudar Custos Industriais? Pois bem, os custos industriais representam todo o dinheiro injetado diretamen- te nos recursos de produção, como a mão de obra, matéria-prima, energia elétrica, materiais de conservação e limpeza, entre outros insumos, que são necessários para a atividade-fim de uma empresa. Esses são elementos es- senciais para o funcionamento de qualquer indústria. Assim, para que a empresa se mantenha competitiva, é importante que seus custos se mantenham tão baixos quanto possível, e para isso, é fundamental que eles sejam geridos. Uma gestão eficaz possibilita não só que os custos se man- tenham baixos, mas que a margem de lucro aumente, além de dar mais segurança ao desempenho da empresa, a tomada de decisões e estratégicas eficazes. Este livro didático está disposto em três unidades. A Unidade 1 abor- da os conceitos, princípios, classificações e terminologias de custos indus- triais, também traz o processo de elaboração e análise dos sistemas de custos e o papel da contabilidade de custos no planejamento e controle dos resulta- dos e do lucro da empresa. Na Unidade 2 são apresentados os principais métodos de custeio que existem, possibilitando o entendimento das características de cada um, as vantagens e desvantagens, competências e limitações, contribuindo com os gestores para tomadas de decisões futuras. A Unidade 3, última do livro, se destina aos métodos de custeio adi- cionais, visando a uma abordagem bem completa deste tema. Também são tratados os fundamentos de custos para formulação dos preços de vendas de produtos/serviços e os métodos de precificação com base em investimentos, giro de estoque e método misto. Esperamos que o conteúdo deste livro didático auxilie não só a sua vida acadêmica, mas também a sua vida profissional. Lembre-se de que a busca cons- tante por atualização é a melhor forma de enriquecer seus conhecimentos. Desejamos ótimos estudos! Profª. Giuliani Facco Profª. Viviane D’ Barsoles Gonçalves Werutsky Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumárIo UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS ........................................... 1 TÓPICO 1 — CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS ...................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CONTABILIDADE DOS CUSTOS .................................................................................................. 4 3 DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA ENTENDER CUSTOS ............................................................... 5 4 DIFERENÇA CONTÁBIL ENTRE CUSTOS E DESPESAS ........................................................ 7 5 CUSTOS DE FABRICAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO .................................................................. 9 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS ..................................................... 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 2 DEPARTAMENTALIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NOS CUSTOS ...................................... 20 3 CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS PELA VARIABILIDADE ................................................... 22 4 CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS PELA FACILIDADE DE ALOCAÇÃO ............................ 28 5 INTEGRAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS............................................................. 30 6 OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DE CUSTOS ................................................................................. 32 7 SISTEMAS DE CUSTEIO ................................................................................................................ 32 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 38 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 39 TÓPICO 3 — RELAÇÃO DOS CUSTOS, VOLUME E LUCRO (CVL) ...................................... 41 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 41 2 MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO ................................................................................................... 43 3 MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E OS FATORES LIMITANTES DE PRODUÇÃO .......... 45 4 PONTO DE EQUILÍBRIO ................................................................................................................ 46 5 PONTO DE EQUILÍBRIO CONTÁBIL, ECONÔMICO E FINANCEIRO ............................. 47 6 MARGEM DE SEGURANÇA ......................................................................................................... 54 7 PONTODE FECHAMENTO ........................................................................................................... 56 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 58 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 61 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 63 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 65 UNIDADE 2 — MÉTODOS DE CUSTEIO ...................................................................................... 67 TÓPICO 1 — MÉTODO DE CUSTEIO POR ABSORÇÃO .......................................................... 69 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 69 2 CONTEXTO GERAL DO CUSTEIO POR ABSORÇÃO ............................................................ 70 3 CUSTOS DE MATÉRIA-PRIMA .................................................................................................... 73 3.1 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DOS ESTOQUES ...................................................................... 74 4 CUSTO DE MÃO DE OBRA ........................................................................................................... 79 5 JORNADA DE TRABALHO ............................................................................................................ 80 6 CUSTOS INDIRETOS ..................................................................................................................... 84 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 89 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 90 TÓPICO 2 — MÉTODO DE CUSTEIO DIRETO OU VARIÁVEL ............................................. 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93 2 PRINCÍPIOS DO CUSTEIO VARIÁVEL ...................................................................................... 94 3 MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E PONTO DE EQUILÍBRIO ............................................... 96 4 ETAPAS DO CUSTEIO VARIÁVEL .............................................................................................. 99 5 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO CUSTEIO VARIÁVEL ........................................... 101 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 103 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 104 TÓPICO 3 — MÉTODO DE CUSTEIO POR ATIVIDADE (ABC) ........................................... 107 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 107 2 NOÇÕES INICIAIS DO CUSTEIO ABC .................................................................................... 108 3 ETAPAS DO CUSTEIO ABC ......................................................................................................... 110 4 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO CUSTEIO ABC ........................................................ 116 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 118 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 119 TÓPICO 4 — MÉTODO DE CUSTEIO UEP (UNIDADE DE ESFORÇO DE PRODUÇÃO) ....................................................................................................... 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 121 2 PRINCÍPIOS DAS UEPS ................................................................................................................ 122 3 IMPLANTAÇÃO DO MÉTODO UEP ......................................................................................... 123 4 OPERACIONALIZAÇÃO DO MÉTODO UEP ......................................................................... 125 5 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MÉTODO UEP ........................................................ 128 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 130 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 133 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 135 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 137 UNIDADE 3 — CUSTOS: MÉTODOS ADICIONAIS E FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA ............................................................................................................. 139 TÓPICO 1 — MÉTODOS DE CUSTEIO ADICIONAIS ............................................................. 141 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 141 2 MÉTODO DE CUSTEIO RKW – MÉTODO DAS SEÇÕES HOMOGÊNEAS OU POR CENTRO DE CUSTOS .................................................................................................. 142 3 MÉTODO DE CUSTEIO POR ORDEM DE PRODUÇÃO ...................................................... 144 4 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE GESTÃO ECONÔMICA – GECON ............................. 148 5 MÉTODO CUSTEIO ALVO ........................................................................................................... 149 6 MÉTODO DE CUSTEIO KAIZEN ............................................................................................... 152 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 154 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 155 TÓPICO 2 — FUNDAMENTOS DE CUSTOS PARA PRECIFICAÇÃO ................................. 157 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 157 2 RECEITA MARGINAL, CUSTO MARGINAL E MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS ............. 158 3 CUSTOS E DESPESAS ................................................................................................................... 162 3.1 GASTO .......................................................................................................................................... 162 3.2 DESEMBOLSO ............................................................................................................................ 163 3.3 CUSTO .......................................................................................................................................... 164 3.4 DESPESA ...................................................................................................................................... 165 3.5 INVESTIMENTO ........................................................................................................................ 165 3.6 PERDA ..........................................................................................................................................166 4 CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS ................................................................................................ 167 4.1 EM RELAÇÃO A PRODUTOS FABRICADOS E SERVIÇOS REALIZADOS .................... 167 4.1.1 Custos diretos ..................................................................................................................... 167 4.1.2 Custos indiretos ................................................................................................................. 168 4.2 COM RELAÇÃO AO NÍVEL DE PRODUÇÃO ..................................................................... 169 4.2.1 Custos fixos ......................................................................................................................... 169 4.2.2 Custos variáveis ................................................................................................................. 170 5 MATERIAL DIRETO....................................................................................................................... 170 5.1 MÃO DE OBRA DIRETA E INDIRETA ................................................................................... 171 5.2 CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO ............................................................................... 173 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 178 TÓPICO 3 — MÉTODO DE PRECIFICAÇÃO COM BASE EM INVESTIMENTOS, GIRO DE ESTOQUE E MÉTODO MISTO .......................................................... 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 181 2 MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO ................................................................................................. 181 3 PONTO DE EQUILÍBRIO .............................................................................................................. 183 4 PREÇO DE VENDA ......................................................................................................................... 184 5 FATORES QUE INFLUENCIAM NA FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA ................... 185 5.1 MÉTODOS DE PRECIFICAÇÃO ............................................................................................. 186 5.2 ORIENTADO PELOS CUSTOS ................................................................................................. 186 5.3 PRECIFICAÇÃO PELO CUSTO PLENO ................................................................................ 187 5.4 CUSTO DE TRANSFORMAÇÃO ............................................................................................. 188 5.5 CUSTO VARIÁVEL .................................................................................................................... 189 5.6 RENDIMENTO SOBRE O CAPITAL INVESTIDO ................................................................ 190 5.7 ORIENTADO PELO MERCADO ............................................................................................. 191 5.8 MARK-UP .................................................................................................................................... 192 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 194 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 197 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 198 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 200 1 UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • proporcionar ao acadêmico conhecimento dos conceitos, princípios, classificações e terminologias de custos industriais; • compreender o processo de elaboração e análise dos sistemas de custos, com foco ao gerenciamento da produção; • evidenciar o papel da contabilidade de custos como instrumento de pla- nejamento e controle dos resultados e do lucro da empresa; • entender a relação custo, volume e lucro. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS TÓPICO 2 – CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS TÓPICO 3 – RELAÇÃO DOS CUSTOS, VOLUME E LUCRO (CVL) Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS 1 INTRODUÇÃO Para que tenhamos o melhor entendimento possível sobre custos indus- triais, a primeira e importante coisa a fazer é entender os conceitos básicos deste tema. Para isso, começaremos pela indústria ou empresa industrial. Empresa in- dustrial pode ser definida como aquela que adquire e converte uma determinada matéria-prima, em produtos acabados que serão consumidos por pessoas (esse tipo de processo é chamado de vendas para uso e consumo próprio), ou então por outras indústrias (esse tipo de processo é chamado de vendas para industrializa- ção). Para isso, são utilizadas máquinas e ferramentas, que são operadas por mão de obra especializada. Veja alguns exemplos de empresas industriais: • uma indústria automobilística adquire metal, borracha, plástico como maté- ria-prima e as transforma em carros (produtos acabados); • uma indústria têxtil compra malha, linha, elástico etc., como matéria-prima e as transforma em camisas, camisetas e calças (produtos acabados); • uma indústria cervejeira adquire a cevada, o lúpulo, o malte e a água (maté- rias-primas) e as transformam em cervejas (produto acabado). A seguir, nós observamos na Figura 1, a representação de uma empresa industrial, convertendo a matéria-prima (metal) em produto acabado (latas). FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO DE UM PROCESSO DE UMA EMPRESA INDUSTRIAL FONTE: As autoras UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS 4 Por ser uma atividade econômica que compra, produz e vende bens co- mercializáveis, os gestores das empresas industriais necessitam entender e conta- bilizar seus custos, principalmente quando atuamos na globalização econômica, e a concorrência aumenta. A busca por alcançar resultados, se inserir em novos mercados, inovar, expandir e continuar competitiva, também é um incentivo para que os gestores busquem cada vez mais o entendimento dos cálculos relaciona- dos aos seus custos (SCHIER, 2013). 2 CONTABILIDADE DOS CUSTOS A Contabilidade de Custos nasceu da Contabilidade Financeira, mais es- pecificamente da necessidade de avaliar estoques na indústria. Para entender me- lhor o conceito de Contabilidade de Custos utilizamos a definição de Padoveze (2013), que diz que a contabilidade de custos é um segmento especializado em gerir economicamente os custos e preços de vendas de produtos e serviços que são oferecidos pelas empresas em um determinado mercado. Podemos dizer que a origem da contabilidade de custos foi no século XVIII, com a Revolução Industrial, pois foram necessárias metodologias para ge- rir o setor industrial, que surgia cada dia mais inovador e automatizado, quando a produção, até então artesanal, dava lugar à produção em massa. Uma das premissas para entender os conceitos relacionados aos custos, é saber diferenciar o custo dos produtos nas empresas comerciais e o custo dos pro- dutos nas empresas industriais. Nas empresas comerciais, há apenas um insumo para custo das mercadorias adquiridas pararevenda, ou seja, o comércio compra unidades de produtos prontos, já nas industriais, como já vimos, se utilizam vários insumos para que seja possível chegar a um resultado satisfatório, como a maté- ria-prima, ferramentas, maquinários, mão de obra, energia etc., formando assim o custo industrial. Outros fatores importantes a serem levados em consideração nas empresas industriais, são a produtividade, eficiência, desperdícios variados, o que torna muito mais complexos os cálculos dos custos de uma unidade de produto. Você pode se perguntar, “mas e os custos com embalagens? Não seria mais um custo a ser considerado nas empresas comerciais?” Pois bem, você tem razão, no entanto, nas empresas comerciais, como a embalagem é opcional do cliente, esses valores são contabilizados como despesas com vendas (as diferen- ças entre custos e despesas veremos a seguir). Isso porque há casos que uma embalagem pode acondicionar cada produto individualmente, e outros em que vários produtos podem ser acondicionados na mesma embalagem. Dessa forma, torna-se difícil caracterizar o que é custo da embalagem nas empresas comerciais. Entretanto, nas empresas industriais, a embalagem é um componente essencial ao transporte do produto com segurança até o seu destino. Assim, nesse segmen- to empresarial, as embalagens são consideradas custos dos produtos. TÓPICO 1 — CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS 5 É importante determinar os custos unitários dos produtos, pois eles ser- virão para definir os lucros, ajudam a ter controle das operações e nas tomadas de decisões relacionadas ao direcionamento da empresa. Além disso, Megliorini (2011) aponta que a contabilidade de custos também ajuda a: a) determinar custos dos insumos de produção; b) determinar os custos das áreas da empresa; c) definir políticas de redução de custos de insumos da produção ou das áreas; d) controlar operações e atividades; e) solucionar problemas especiais de produção; f) definir políticas de contenção de desperdícios; g) elaborar orçamento; h) definir preço de venda e solucionar possível problemas de precificação; i) solucionar problemas relacionados à contribuição dos produtos para o lucro da empresa; j) definir o nível mínimo de atividades para que o negócio seja viável; k) entre outros problemas específicos. A contabilidade de custos tem duas grandes áreas de atuação, a primeira é o custo contábil, que são conceitos e técnicas que têm o objetivo de apurar os custos relacionados a produtos e a serviços com finalidade contábil e também para atender a necessidades legais e fiscais da empresa. A segunda área são os custos gerenciais, que também são conceitos e técnicas utilizadas no gerencia- mento econômico dos produtos e serviços da empresa, mas com a finalidade de controlar, avaliar o desempenho e tomar decisões (PADOVEZE, 2013). Estas áreas, segundo Padoveze (2013), estão inter-relacionadas, e os con- ceitos utilizados pelas duas são, em parte, os mesmos, contudo, as necessidades gerenciais são muito mais variadas. Neste caso, as técnicas e conceitos de custos são usadas para o seu controle, mas também alcançam metas ou orçamentos pré- -definidos, avaliar a gestão dos responsáveis pelos custos, bem como os custos de suas atividades, para precificar os produtos e serviços e administrar estes preços, para criar estratégias para tomadas de decisão que envolvam a rentabilidade dos produtos e serviços, principalmente, a decisão de fabricar ou adquirir de terceiros. 3 DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA ENTENDER CUSTOS No estudo dos custos industriais, é muito comum se ouvir termos como “gasto”, “desembolso”, “despesa”, “perda”, e em um primeiro momento essas palavras podem parecer sinônimas, e de fato, em alguns casos podemos utili- zá-las assim, porém como vamos nos aprofundar um pouco mais neste meio, é importante entender melhor, e de forma mais técnica, essas terminologias. Utilizamos gasto ou investimento quando vamos nos referir a um deter- minado valor de bens e/ou serviços que são comprados pela empresa. Para exem- plificar vamos pensar em uma máquina, que será utilizada em algum processo para fabricação de um determinado item utilizado para compor o produto final. UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS 6 O conceito de desembolso pode seguir o mesmo exemplo anterior, porém a empresa só fará um desembolso quando realizar o pagamento da máquina. Se a compra da máquina foi realizada com 90 dias de prazo para pagar, enquanto o gasto ocorre de imediato, o desembolso só ocorrerá três meses depois. Já a despesa é um gasto que pode ocorrer hoje, e é lançado hoje, ou seja, ele ocorre em um determinado período e é lançado contabilmente no mesmo, com a finalidade de apuração do resultado periódico da empresa, exemplos disso são os impostos, as despesas administrativas etc. Desta forma, a despesa é lança- da diretamente na demonstração de resultados do período, reduzindo assim, a riqueza da empresa (SANTOS, 2013). Para conceituar a perda, vamos pensar em um processo produtivo, onde, para se entregar x unidades de um determinado produto, são produzidos 2x uni- dades dele, sendo que, todas as unidades produzidas a mais foram detectadas defeituosas, ou seja, houve a perda de metade do que foi produzido já que esses produtos não podem mais ser recuperados (SANTOS, 2013). Um exemplo de perda seria a talhação (processo da área têxtil), onde as sobras dos tecidos são consideradas perdas no processo, portanto, são custo do produto. No entanto, se pensarmos nas perdas ocorridas por intempéries natu- rais, por exemplo, são reconhecidas diretamente no resultado da empresa e não podem ser consideradas como um custo industrial. Os conceitos de gasto, desembolso, despesa, e perda não podem ser confun- didos com o conceito de custos, quando relacionamos à indústria. Custos industriais são os valores que são consumidos na produção de bens e/ou serviços finais, tais como matéria-pri- ma, mão de obra, energia, e outros custos indiretos, como a depreciação dos equipamentos. ATENCAO Na verdade, existem várias definições encontradas na literatura para cus- tos, que também podem variar de acordo com suas aplicações, por exemplo, po- dem ser os custos de mercadorias vendidas comercialmente em supermercados, farmácias e lojas de vestuário. Também podem ser os custos de serviços presta- dos, como bancário, limpeza, dentista. Entretanto, lembre-se de que o foco, neste caso, serão os custos industriais. TÓPICO 1 — CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS 7 Esclarecendo mais estes conceitos, é importante entender que os gastos ou investimentos destinados à produção são transformados em custos, sob a forma de depre- ciação, amortização, conforme sua utilização no processo produtivo. IMPORTANT E 4 DIFERENÇA CONTÁBIL ENTRE CUSTOS E DESPESAS É normal que haja uma confusão na distinção dos conceitos de custos e despesas, por isso vamos tentar entender melhor estes conceitos e as diferenças entre eles. De acordo com Neto (2008), podemos dizer que os custos vão para as prateleiras, ou seja, eles estão agregados aos estoques dos almoxarifados, por exemplo, até serem utilizados na produção de bens. Já as despesas não são utili- zadas diretamente na fabricação dos produtos ou nos serviços prestados. Enquanto os custos estão diretamente ligados ao processo de produção, e só fazem parte do lucro ou prejuízo da empresa, quando os produtos e/ou ser- viços são vendidos, e assim incorporados à demonstração de resultados e compa- rados as receitas. As despesas não estão associadas a área fabril, e sim nos gastos administrativos e comerciais, e estão integradas à demonstração de resultados no mesmo período em que ocorrem (NETO, 2008). A importância de entender essa diferença entre custos e despesas é que a partir disso poderemos realizar uma análise da margem de contribuição por produto, ou seja, descobrir o valor que sobra da venda de um produto quando retiramos do seu valor bruto arrecadado, os gastos com deduções de vendas e comos custos de produção. A margem de contribuição é o que nos dirá se é viável ou não continuar pro- duzindo o produto. Sem diferenciar as despesas administrativas dos custos de produ- ção, se torna impossível para as empresas aumentar essa margem de contribuição, e consequentemente melhorar seus preços. Por isso que os custos e as despesas, apesar de serem conceitos diferentes, são fundamentais para avaliação da saúde financeira da empresa. No Quadro 1, nós podemos ver alguns exemplos de custos e despesas. UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS 8 QUADRO 1 – EXEMPLOS DE CUSTOS E DESPESAS FONTE: As autoras CUSTOS DESPESAS • Matéria-prima. • Energia. • Salários dos profissionais da produção. • Maquinário utilizado na produção. • Ferramentas utilizadas na produção. • Depreciação. • Aluguel. • Telefone. • Comissão de vendedores. • Materiais de escritório. • Salários da equipe administrativa. • Impostos. Um último e bom exemplo para distinguir esses dois conceitos é o gasto que as empresas têm com publicidade. Analisamos: se os gastos com publicidade fossem cortados, haveria alguma alteração na produção dos produtos finais? Pro- vavelmente não, e por isso este não é considerado um custo. Sem publicidade o que poderia ocorrer é a queda nas vendas. No entanto, se pensarmos no corte de gastos com a compra de malha para a produção de camisetas, este sim, trata-se de um custo, pois caso fosse cortado este gasto, não seria possível produzir camise- tas, afetando assim diretamente a produção e os estoques da empresa. Outro termo bastante utilizado é desperdício, na verdade este não é um termo técnico de custos, no entanto, tem sido utilizado quando se refere à gestão ou redução de custos. Bornia (2019) define desperdício como um esforço econô- mico que não agrega valor ao produto, também pode ser entendido como as ine- ficiências normais do processo. Contribuindo para essa definição Padoveze (2013) diz que há desperdícios quando um processo, tarefa ou atividade poderia ter sido realizada de maneira mais eficiente ou eficaz e com uso de menos recursos. Os desperdícios, além de não agregar valor, podem até diminuir o valor de um produto, como no caso de itens defeituosos. Por isso é importante que as empresas industriais foquem algum esforço para identificá-los, pois com isso, é possível eliminá-los e tornar o processo mais ágil e eficiente, agregando assim mais valor ao produto ou serviço final. Vários autores identificam na literatura sete desperdícios, que alegam ser os principais da produção, que são: I. produção em excesso; II. desperdício de tempo; III. transportes desnecessários; IV. excesso de processos; V. movimentos desnecessários; VI. defeitos; VII. excesso de inventário. TÓPICO 1 — CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS 9 A mensuração e eliminação dos desperdícios é hoje uma das principais tarefas dos gerentes das empresas que querem se manter competitivas no mercado, pois estas atividades estão diretamente ligadas à eficiência dos processos produtivos, e um sistema que identifique e quantifique estes desperdícios pode se tornar uma ótima ferramenta de apoio gerencial (BORNIA, 2019). 5 CUSTOS DE FABRICAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO Agora, entenderemos mais sobre os custos relacionados à produção e transformação. Para isso vamos retomar o conceito de indústria que foi visto lá no começo do tópico. Vamos pensar que a indústria é o processo de transformação de recursos ou insumos em bens, podendo ser produtos ou serviços. Dessa forma, podemos dizer ainda que a indústria é composta pela fábrica, onde são produ- zidos, de fato, esses produtos ou serviços, pela administração, que é quem faz o gerenciamento das atividades empresariais, o que é muito essencial para manter a organização e a condução da empresa de forma eficaz, e pela comercialização, que é quem cuida da parte de vendas e entrega dos produtos. Esse setor pode ser composto por áreas como marketing, vendas e distribuição ou logística. Como já vimos, a contabilidade dos custos cuida dos gastos industriais para formar o custo dos produtos e estoques industriais. Apesar desta área englo- bar também os gastos da administração e da comercialização, são os gastos das fábricas que dão mais trabalho. E é por isso que vamos procurar entender estes custos de uma forma mais aprofundada. Se pensarmos na fábrica como um grande sistema, podemos identificar facilmente os elementos clássicos de um sistema, como entradas, processos e sa- ídas (PADOVEZE, 2013). Observando a Figura 2 podemos entender o enfoque sistêmico que o autor cita quando se relaciona à fábrica. FIGURA 2 – ENFOQUE SISTÊMICO DA FÁBRICA FONTE: Adaptado de Padoveze (2013) UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS 10 Na Figura 2 observamos que é na fábrica que acontecem os processamentos necessários para que, através de recursos de entrada, se obtenha um produto ou ser- viço. De acordo com Padoveze (2013), o processamento é onde são manipulados os materiais, utilizando mão de obra e equipamentos, tudo isso inserido dentro de um espaço, que também pode consumir outros tipos de recursos essenciais para a pro- dução e o seu controle. Após a produção, os produtos ou serviços serão despachados. Todo o custo relacionado a este sistema, para transformar matéria-prima em produto acabado, são custos de produção ou transformação, pois correspon- dem ao valor agregado da produção, ou seja, o valor que a empresa agrega à matéria-prima utilizada. Estes custos, segundo Bornia (2019), estão relacionados com o que é de fato utilizado. Portanto quando uma empresa compra 5 kg de uma determinada matéria-prima, e só utiliza 2 kg no período, apesar de gastar referente aos 5, os custos serão relativos aos 2 kg utilizados para a produção na- quele período, como ilustra a Figura 3. FIGURA 3 – EXEMPLO DE CUSTOS DE MATÉRIA-PRIMA FONTE: As autoras A composição do custo dos produtos e dos estoques industriais normal- mente é realizada por três recursos, que são: • MP: matéria-prima. • MOD: mão de obra direta. • CIF: custos indiretos de fabricação. Ou seja: TÓPICO 1 — CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS 11 Custos totais de produção = MP + MOD + CIF Matéria-prima (MP) Matéria-prima são os materiais que fazem parte diretamente do produto final. Na teoria, todos os materiais diretos podem ser chamados de matéria-prima, no entan- to, existem alguns materiais que os custos não são tão importantes, como um prego na composição do custo de um produto, e por isso podem ser vistos como um material de consumo, onde sua análise é feita de forma bem mais simples (BORNIA, 2019). Existem métodos para a análise dos custos de matéria-prima, mas isso vere- mos na Unidade 3. ESTUDOS FU TUROS Mão de obra direta (MOD) A mão de obra direta (MOD) são os custos relacionados aos salários e encargos sociais dos funcionários em atividades na produção da fábrica. Encargos sociais são os valores pagos por força de lei (FGTS, férias, 13º, férias, INSS), e também aqueles conhe- cidos por benefícios, como a plano de assistência médica, odontológica, educação etc. Também há a mão de obra indireta, que são aqueles funcionários que não trabalham diretamente com a fabricação, mas essa é contabilizada como custo indireto. É muito importante que você também saiba que, mesmo sendo Mão de Obra Direta, se ela não for completamente aproveitada no processo industrial, deverá ser consi- derado PERDA aquela parcela que não for utilizada na produção. Só podem ser considera- das como MOD as horas efetivamente produtivas. Exemplo: se o valor total da MOD é de R$ 100.000 e foram utilizadas 90% das horas, então R$ 90.000 são custos de produção e R$ 10.000 são perdas, pois se tratam de horas ociosas. IMPORTANT E UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS 12 Custos indiretos de fabricação (CIF) Os custos indiretos de produção são o agrupamento de todos os demais cus- tos de produção, como os materiais indiretos, a mão de obra indireta, os materiais de consumo (exemplo doprego), a depreciação das máquinas e equipamentos de pro- dução, a energia elétrica gasta na produção, água etc. Estes itens foram agrupados, pois não eram considerados tão relevantes, no entanto, com o passar do tempo, essa história foi mudando, e estes custos tornaram-se maiores e mais complexos. Desdobrando os custos indiretos de fabricação, também é importante en- tendermos alguns deles, como os materiais indiretos, que também são utilizados no processo produtivo, mas não compõe o produto final, como EPIs (Equipamen- to de Proteção Individual), que são equipamentos de segurança para os funcio- nários da produção, as ferramentas que são utilizadas no processo, materiais de expediente, materiais para manutenção etc. Para diferenciar os materiais indire- tos dos diretos, podemos pensar que os materiais diretos serão vistos no produto final, mesmo que de outra forma, processados, já os indiretos não. A mão de obra indireta são funcionários que prestam apoio às atividades diretas, ou seja, este funcionário não manipula os produtos, por exemplo, os fun- cionários do setor de planejamento e controle de produção, o setor de qualidade, de desenvolvimento de produto, manutenção etc. A depreciação é a perda de valor dos ativos imobilizados utilizados no pro- cesso industrial, mas o que isso quer dizer? Quer dizer a perda de valor quando uma máquina, equipamento, utensílio, veículo ou imóvel é desgastado pelo uso ou seu tempo de vida útil vai chegando perto do fim. Este valor perdido, comparado à compra de um produto igual novo, é chamada depreciação. Essa perda de valor é um custo de fabricação. O cálculo do custo de depreciação é realizado pelo tempo em que ele é usado, ou seja, quanto mais usado maior o valor de depreciação. Existem alguns modelos que representam os custos de depreciação. O mais utilizado é o modelo linear, onde a depreciação por unidade de tempo é igual ao valor do equipamento dividido por sua vida útil. Por exemplo, se uma empresa compra um certo equipamento por R$ 500 mil e o estimado é que ele tenha uma vida útil de 12 anos, este equipamento será depreciado ao longo dos 12 anos, como mostra o gráfico da Figura 4. TÓPICO 1 — CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS 13 FIGURA 4 – GRÁFICO DE DEPRECIAÇÃO DO EQUIPAMENTO FONTE: As autoras Há casos onde, devido à relevância deste custo, é possível fazer o acom- panhamento do valor do item no mercado durante toda sua vida útil e criar um modelo próprio, como é o caso das empresas de transporte (BORNIA, 2019). CASE BRISTOL Como a Bristol Parts reduziu seus custos de produção de ferramental em 70% É fato que um sistema de gestão ERP (Enterprise Resource Planning) pode trazer diversos be- nefícios para uma indústria, no entanto, um deles é o mais esperado: a redução de custos de produção. E foi exatamente esse que a indústria Bristol Parts conseguiu enxergar em apenas alguns meses ao implantar a solução, para fazer a gestão da área de ferramentaria da empresa. Sobre a empresa Bristol Parts A Bristol Parts é uma indústria de componentes de alumínio anodizado para embalagens de cos- méticos, atuando há 50 anos no mercado. Seus produtos abrangem a linha de tampas (para per- fumes, lápis e rímel), estojos e luvas de batom, bandejas para sombra, capuz para válvulas pump e aerossóis. Entre seus principais clientes estão a Natura, Boticário, Jequiti, Avon, Mahogany e outros. Quais eram os desafios? A empresa possui uma ferramentaria interna própria de produção de ferramentas para as máquinas, dessa forma, o cliente final é a área de manutenção e o chão de fábrica. Até então, os controles de produção eram feitos de forma manual, em papel, e isso tornava o processo difícil de gerenciar. Os seguintes desafios eram enfrentados: • Necessidade de redução do tempo médio de desenvolvimento de um novo ferramental. • Precisavam melhorar a gestão dos recursos disponíveis: máquinas, materiais e mão de obra. IMPORTANT E UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS 14 • Necessidade de melhorar o planejamento da produção de ferramentas e compra de materiais para produção. • Não havia ordens de produção na fábrica, utilizavam desenhos como orientação do que deveria ser produzido. • Não conseguiam medir a produtividade ou os retrabalhos. • Não sabiam o que estava sendo produzido sem ir até cada máquina verificar. • Atrasava produção pela quantidade de serviços não planejados solicitados pela manutenção. • Não sabiam a quantidade necessária de material a ser utilizado no processo de fabrica- ção de um produto. • Manutenção solicitava um serviço de forma manual (papel escrito a mão) e não era possível mensurar os serviços solicitados x realizados. • O operador muitas vezes parava a produção para fazer uma peça para a manutenção que não estava planejada. • Não realizavam apontamentos de serviço nem de produção e havia dificuldade de saber o tempo de um processo de fabricação. • O custo dos novos desenvolvimentos era estimado e não o real, por falta de informação para mensurar tempo de produção e custo da mão de obra. Soluções propostas A Bristol decidiu implantar o Q4-ERP na Ferramentaria para integrar todos os processos e realizar o planejamento e controle de produção das ferramentas da empresa. Com a dedi- cação dos envolvidos na implantação do projeto, o sistema entrou em produção em ape- nas dois meses. Foram implantados os seguintes processos: 1. Programação da produção com ordem de fabricação Foram criados e documentados os processos de fabricação de todas as ferramentas. O responsável pelo planejamento da produção faz a programação de acordo com a capa- cidade de cada funcionário, visando otimizar os custos de mão de obra. As ordens de fabricação geradas permitem que os colaboradores saibam quais são suas atividades, e aos supervisores a visão do que está sendo produzido. A área de manutenção emite solicitações de serviços eletrônicas, que entram no planeja- mento para a produção. O time segue o planejamento e não mais executa na hora todas as solicitações que chega. Dessa forma, a gestão da produção na ferramentaria passou a ser mensurável e visual. 2. Mrp – cálculo de necessidades de materiais As estruturas de produto foram padronizadas, por isso agora é possível saber quais mate- riais serão utilizados na fabricação de um produto. Dessa forma, foi otimizado o planeja- mento de compras de materiais, o controle de estoque e também a apuração de custos de produção. O processo de abertura de ordem de fabricação é feito de forma automática baseada no planejamento. 3. Gestão da produção com apontamentos de produção Com a emissão de ordens de fabricação, a gestão da produção passou a ser feita via sistema de forma integrada. Agora os apontamentos de produção são feitos via tablet e houve uma redução significativa do uso de papéis e formulários. Com a gestão da produção planejada através das ordens de fabricação, é possível saber o tempo de produção por operação e visualizar o que está sendo produzido em tempo real. Além disso, a engenharia, que costumava ir até a fábrica para consultar a produção, agora pode acessar as informações sem sair de seu escritório. TÓPICO 1 — CONCEITOS BÁSICOS DE CUSTOS 15 4. Gestão da manutenção As solicitações de serviço passaram a ser feitas através do sistema, entrando direto no pla- nejamento. Com isso, a produção deixou de ser “apaga incêndio” para trabalhar com pla- nejamento. Esse processo gerou um melhor controle das solicitações, o tipo de serviço, a quantidade e principalmente, os motivos de paradas de máquinas na produção. Além, é claro, de contribuir fortemente para a redução de custos alcançada. 5. Custo de produção Com a documentação de processo de produção, estrutura de produto e apontamentos de ordem de fabricação, agora é possível fazer a apuração real dos custos de produção. É possível saber quanto está sendo gasto com mão de obra e matéria-prima, e assim chegar no custo de produção real e não apenas estimado. Os resultados mensuráveisLogo nos primeiros meses de uso do ERP na ferramentaria da Bristol já foi possível men- surar os primeiros resultados positivos: • 71,25% de ganho de produtividade: com o planejamento da produção, foi possível redu- zir o tempo total de produção por peça em 71,25% o que gerou um ganho de 592 horas/ mensais, com os mesmos recursos que a empresa já possuía antes; • 70% de redução de custo: com as informações para planejar, acompanhar e mensurar a produção foi possível gerar uma redução de custos de 70% na fabricação de compo- nentes de reposição na ferramentaria. Os resultados imensuráveis Em toda implantação de sistemas de gestão alguns resultados são mensuráveis, no entan- to, existem outros difíceis de serem medidos, mas que trazem muitos benefícios para a empresa. No caso deste projeto, destacamos alguns resultados deles: • Melhora da visibilidade do processo: os líderes podem acompanhar todo o processo de produção e sabem exatamente em que fase de produção cada ferramenta se encontra. • Maior confiabilidade nas informações: quando tudo é registrado em papel, as informa- ções estão propensas a erros. A integração propicia mais confiabilidade nas informações e em todo o processo. • Maior agilidade nos processos: com a integração e automatização, os processos ficam mais ágeis e as pessoas com mais tempo para trabalhar em atividades que geram valor para o negócio. FONTE: <https://bit.ly/2U12pQL>. Acesso em: 12 ago. 2020. 16 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A empresa industrial pode ser definida como aquela que adquire e converte uma determinada matéria-prima, em produtos acabados que serão consumi- dos por pessoas ou por outras indústrias. Para isso são utilizadas máquinas e ferramentas, que são operadas por mão de obra especializada. • Nas empresas comerciais há apenas um insumo para custo das mercadorias ad- quiridas para revenda, ou seja, o comércio compra unidades de produtos pron- tos, já nas industriais, como já vimos, se utiliza vários insumos para que seja possível chegar a um resultado satisfatório, como a matéria-prima, ferramen- tas, maquinários, mão de obra, energia etc., formando assim o custo industrial. • O significado de “gasto”, “desembolso”, “despesa”, “perda”, e “custo” po- dem ser diferentes e que estas terminologias são essenciais para o aprofunda- mento técnico nos estudos de custo. • Há diferenças significativas entre custos e despesas, pois enquanto os custos estão diretamente ligados ao processo de produção, as despesas não estão associadas à área fabril, e sim aos gastos administrativos e comerciais. E que a partir do entendimento dessa diferença será possível descobrir o valor que sobra da venda de um produto quando retiramos do seu valor bruto arreca- dado, os gastos com deduções de vendas e com os custos de produção. • Todo o custo relacionado para transformar matéria-prima em produto acabado, são custos de produção ou transformação, pois correspondem ao valor agregado da produção, ou seja, o valor que a empresa agrega a matéria-prima utilizada. • A composição do custo dos produtos e dos estoques industriais normalmente é realizada por três recursos, que são: matéria-prima (MP); mão de obra direta (MOD); custos indiretos de fabricação (CIF). 17 1 Durante o Tópico 1 pudemos perceber que é normal que haja uma confusão na distinção dos conceitos de custos e despesas, no entanto, também foi discutida a importância de entender essa diferença, pois é a partir dela que poderemos realizar uma análise da margem de contribuição por produto. Desta forma, diferencie, a partir do seu entendimento, custos e despesas. 2 Durante o Tópico 1 pudemos perceber que é normal que haja uma confusão na distinção dos conceitos de custos e despesas, no entanto, também foi discutida a importância de entender essa diferença, pois é a partir dela que poderemos realizar uma análise da margem de contribuição por produto. Desta forma, diferencie, a partir do seu entendimento, custos e despesas. O Desperdício, apesar de não ser um termo técnico de custos, é bastante utili- zado quando nos referimos à gestão ou redução de custos. Os desperdícios não agregam valor a um produto e podem até diminuí-lo, como no caso de itens de- feituosos. Por isso é importante identificá-los e eliminá-los, tornando o processo mais ágil e eficiente. Na literatura são comumente citados sete desperdícios na produção, aponte quais são eles e disserte brevemente sobre cada um deles. 3 Considerando as diferenças entre custos e despesas, classifique as alternati- vas a seguir, colocando C para custos e D para despesas. Podemos conside- rar que os itens estão relacionados a uma montadora de carros: ( ) Energia elétrica da fábrica. ( ) Energia elétrica do setor comercial. ( ) Salários dos montadores. ( ) Salários dos vendedores. ( ) Material de escritório. ( ) Gastos advocatícios. ( ) Material auxiliar de montagem. ( ) Gastos de publicidade. ( ) Depreciação de equipamentos de produção. ( ) Consumo de ferramentas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) C – D – C – D – D – D – C – D – C – C. b) ( ) D – C – C – C – D – C – D – C – C – D. c) ( ) C – C – C – C – C – D – D – C – D – D. d) ( ) D – D – D – C – D – C – C – D – D – C. AUTOATIVIDADE 18 4 A Contabilidade de Custos nasceu da necessidade de avaliar estoques na in- dústria, e pode ser entendida como uma área especializada em gerir economi- camente os custos e preços de vendas de produtos e serviços que são oferecidos pelas empresas em um determinado mercado. Dentre as várias atividades em que a contabilidade de custos auxilia, analise as citadas a seguir: I. Determinar os custos das áreas da empresa. II. Definir políticas de redução de custos de insumos da produção ou das áreas. III. Solucionar problemas especiais de produção. IV. Definir políticas de contenção de desperdícios. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas. c) ( ) Somente a afirmativa IV está correta. d) ( ) Todas as afirmativas estão corretas. 5 Entende-se como depreciação, a perda de valor quando uma máquina, equi- pamento, utensílio, veículo ou imóvel, é desgastado pelo uso ou seu tempo de vida útil vai chegando perto do fim. O cálculo do custo de depreciação é realizado pelo tempo em que ele é usado, ou seja, quanto mais usado maior o valor de depreciação. Existem alguns modelos que representam os custos de depreciação, pode-se afirmar que o modelo mais utilizado é: a) ( ) Modelo linear. b) ( ) Modelo da soma dos dígitos. c) ( ) Modelo das horas de trabalho. d) ( ) Modelo das unidades produzidas. 19 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS 1 INTRODUÇÃO Antes de abordarmos a fundo as possíveis classificação dos custos, neste tópico, vamos entender o que é a departamentalização. A departamentalização é a separação dos setores, departamentos, áreas, atividades etc. No estudo de cus- tos, essa departamentalização acontece quando a empresa é dividida em centros de custos contábeis, esses centros representam a menor fração da empresa ou de uma determinada área que desempenha o mesmo trabalho. Assim fica muito mais fácil a apropriação dos custos diretos e indiretos, que também são classifica- ções que veremos neste tópico. Devido a toda variedade de custos possíveis que podemos ter dentro de uma empresa industrial, como já vimos no tópico anterior, é muito importante que se tenham informações adequadas para que seja possível gerenciá-las. Para isso os custos são classificados, de uma forma mais detalhada, com relação as suas principais naturezas e objetivos. Essa classificação é muito relevante, pois se tratarmos todos os custos da mesma forma, ficaria mais difícil identificar um problema financeiro, caso ele ocorra, ou então desenvolver produtos ou serviços que tenham uma boa relação custo/benefício, por exemplo. A classificaçãonos possibilita analisar cada custo de forma individual, facilitando a administração, e as tomadas de decisão quando necessárias. Há várias classificações possíveis, e conceitos definidos para essas classifi- cações. Aqui nós iremos utilizar a classificação definida por Bornia (2019), que pri- meiramente classifica os custos totais de produção dos custos unitários. Entende-se que essa a primeira classificação que devemos aprender. Já vimos no Tópico 1, que os custos totais de produção são compostos da soma dos custos de matéria-prima (MP); mão de obra direta (MOD); e custos indiretos de fabricação (CIF). Bornia (2019) relaciona o custo unitário do total de produção pela seguinte equação: Custo unitário = custo total/ produção Onde o custo total é todo o custo do período para fabricar todos os produ- tos, e o custo unitário é o custo que foi gasto na fabricação de uma única unidade. Além da departamentalização e sua influência nos custos. Neste tópico, nós ire- mos abordar ainda classificações quanto à variabilidade, facilidade de alocação, entre outras classificações. 20 UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS É importante lembrarmos que o cálculo do Custo Total é feito a partir da seguinte equação: Custos totais de produção = MP + MOD + CIF IMPORTANT E 2 DEPARTAMENTALIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NOS CUSTOS A departamentalização, quando nos referimos a contabilidade de custos, é a separação por setor dos gastos de uma empresa. O conceito para a departa- mentalizar parte do processo de produção e também porque é necessário que se tenha uma correta distribuição dos esforços da mão de obra. Para que se entenda melhor, podemos pensar que um produto quando é produzido, passa por várias etapas dentro da empresa, cada etapa é responsável pela agregação de determi- nado valor a este produto, normalmente elas ocorrem dentro de setores especia- lizados, por isso a necessidade do entendimento dos custos de cada um desses setores (PADOVEZE, 2013). O cálculo desses custos é feito da seguinte forma: a contabilidade de cus- tos recebe e os separa por centros de custos, também são captadas a folha de pagamento ou as horas trabalhadas na fábrica, que totalizam as horas de cada centro de custo. Todas as demais despesas também são captadas por setor, assim são obtidos os dados para calcular o custo de fabricação por centro de custo. Lembrando que os centros de custos são as unidades mínimas da empresa, representadas geralmente por homens e máquinas, que desempenham atividades homogêneas, ou seja, como já citado na introdução, a menor fração da empresa ou de uma determinada área que desempenha o mesmo trabalho. É importante que se entenda que nem sempre os departamentos delimitados pela estrutura organi- zacional da empresa é um centro de custos, pois podem haver mais de um centro dentro de um determinado departamento. Por exemplo, se pensarmos que uma empresa define sua estrutura organizacional de forma mais macro, com departa- mentos como diretoria, administrativo, comercial e industrial, podemos pensar que há vários centros de custos dentro de cada um desses departamentos. Para entendermos melhor a classificação dos custos por centro de custos, vamos apresentar o exemplo a seguir, onde no Quadro 2 temos a contabilização tradicional dos gastos de uma determinada empresa, onde os números corres- pondem a um determinado período. TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS 21 QUADRO 2 – CONTABILIZAÇÃO TRADICIONAL DOS GASTOS GASTOS TOTAL Mão de Obra Direta Salários 100.000 Encargos sociais 50.000 Mão de Obra Indireta Salários 146.000 Encargos sociais 73.000 Materiais Indiretos Materiais auxiliares 800 Manutenção e conservação 1000 Segurança 500 Gastos Gerais Energia elétrica 50.000 Água 10.000 Aluguel 30.000 Viagens 5.000 Fretes 4.000 Publicidade 2.000 Treinamentos 1.000 Outros 800 Depreciação Equipamentos 20.000 Outros imobilizados 10.000 TOTAL: 504.100 FONTE: Adaptado de Padoveze (2013) De acordo com Padoveze (2013), para que posteriormente possamos calcular os custos, essa classificação que só relaciona o tipo de despesa não é suficiente. Desta forma, o Quadro 3 apresenta uma classificação por setor, onde podemos ver um grau de detalhamento muito maior, o que facilitará os cálculos futuros dos custos. QUADRO 3 – CONTABILIZAÇÃO POR CENTRO DE CUSTOS GASTOS DEPARTAMENTOS TOTALUnidades de apoio Unidades de produção Adm. Comercial Supervisão de prod. Usinagem Pintura Montagem Mão de Obra Direta Salários 0 0 0 35.000 30.000 35.000 100.000 Encargos sociais 0 0 0 17.500 15.000 17.500 50.000 Mão de Obra Indireta Salários 50.000 46.000 50.000 0 0 0 146.000 22 UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS Encargos sociais 25.000 23.000 25.000 0 0 0 73.000 Materiais Indiretos Materiais auxiliares 50 50 100 300 200 100 800 Manutenção e conservação 100 100 100 200 300 200 1000 Segurança 0 0 100 200 100 100 500 Gastos Gerais Energia elétrica 4000 2000 2000 14.000 14.000 14.000 50.000 Água 100 100 100 2.700 5.000 2.000 10.000 Aluguel 15.000 15.000 0 0 0 0 30.000 Viagens 3.000 2.000 0 0 0 0 5.000 Fretes 0 4.000 0 0 0 0 4.000 Publicidade 0 2.000 0 0 0 0 2.000 Treinamentos 200 100 100 200 200 200 1.000 Outros 100 100 50 100 200 250 800 Depreciação Equipamentos 0 0 0 8.000 8.000 4.000 20.000 Outros imobilizados 2.000 2.000 0 2.000 2.000 2.000 10.000 TOTAL: 99.550 96.450 77.550 80.200 75.000 75.350 504.100 FONTE: Adaptado de Padoveze (2013) 3 CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS PELA VARIABILIDADE Essa classificação é apresentada por Bornia (2019) considerando a rela- ção dos custos com o volume de produção. Podemos classificar essa relação em custos fixos e custos variáveis. Em que os fixos são aqueles que não variam de acordo com o volume de produção, por exemplo, os salários. Já as variáveis são aquelas que estão ligadas diretamente com quanto é produzido, se a produção é maior, os custos consequentemente são maiores, se a produção é menor, os custos também diminuem, como o custo da matéria-prima. Essa classificação é muito importante, pois fornece subsídios para que os ges- tores de uma empresa tomem decisões. No entanto, nós temos que levar em consi- deração, neste caso, o tempo. Esse tempo seria o período necessário para o planeja- mento da decisão que será baseada nas informações de custos. Isso porque mesmo os custos fixos podem variar em um intervalo muito grande de tempo. A mão de obra direta é um exemplo disso, se levarmos em consideração um mês, este custo será fixo, dado o número de funcionários que a empresa tem. Agora se considerarmos um pe- ríodo de um ano, esse custo pode ser considerado variável, dado que a empresa tem alta rotatividade e houve demissões nesse período (BORNIA, 2019). TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS 23 De acordo coma definição de Megliorini (2011, p. 11) “custo fixos são aqueles que decorrem da manutenção da estrutura produtiva da empresa, independendo da quantidade que venha a ser fabricada dentro do limite da capacidade instalada”. Para entender esse conceito vamos pensar em uma fábrica que tenha capacidade de processar 1,5 toneladas de uma determinada matéria-prima por mês, que aqui vamos assumir como borracha para produção de pneus. Para suportar esse volume de produção a empresa aluga um espaço onde a fábrica funciona, com máquinas instaladas para os processamentos, que sofrem depreciação periodicamente, tam- bém tem o salário dos funcionários e os encargos trabalhistas, entre outros custos. Caso essa fábrica de pneus não produza nada no mês, ou caso ela produza a sua capacidade total, estes custos citados permanecerão os mesmos, ou seja, não haverá alteração influenciada alguma pela menor ou maior produção mensal. Os custos fixos ocorrerem de qualquer maneira, pois são eles que susten- tam a estrutura operacional da empresa. A Figura 5 ajuda a compreender melhor esse conceito, pois representa o crescimento dos volumes de produção, enquanto os custos permanecem constantes.FIGURA 5 – GRÁFICO DE CUSTOS FIXOS FONTE: As autoras Se pensarmos no custo unitário de produto, quanto mais próximo da capacidade máxima de produção a fábrica operar, menor será este custo, ou seja, quanto maior o volume produzido, mais os custos fixos se dissipam, o que pode ser observado no gráfico da Figura 6. O gráfico também mostra que a curva do custo unitário não começa em zero, pois se considerarmos a produção de apenas um pneu, todos os custos fixos serão absorvidos por essa unidade, e conforme a fábrica vai produzindo mais pneus, esse custo vai diminuindo e sendo dividido entre os outros produzidos. 24 UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS FIGURA 6 – GRÁFICO DE CUSTO FIXO UNITÁRIO FIGURA 7 – GRÁFICO DE CUSTOS VARIÁVEIS FONTE: As autoras Para a definição de custos variáveis também vamos nos basear no con- ceito de Megliorini (2011, p.11) onde “custos variáveis são aqueles que aumen- tam ou diminuem conforme o volume de produção”. Se considerarmos o mesmo exemplo do custo fixo, devemos pensar na matéria-prima que a mesma fábrica de pneus compra mensalmente para sua produção, ou então na energia elétrica gasta pelos equipamentos utilizados na produção. Esses custos estão diretamen- te relacionados com o volume de pneus que a empresa produz no mês, ou seja, quando mais ela produzir, mais terá que comprar matéria-prima e mais energia elétrica vai utilizar. Assim, se produzir sua capacidade máxima, terá um custo máximo variável, conforme é observado no gráfico da Figura 7. FONTE: As autoras Quanto ao custo variável unitário, consideramos que, para toda unidade de produto fabricado seja incorporado o mesmo custo. Considerando ainda o exemplo da produção de pneus, podemos entender que cada pneu produzido terá atribuído a ele sempre o mesmo custo variável, pois se pensarmos que para produzir 1.000 pneus compraremos a quantidade de borracha adequada para esse TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS 25 FONTE: As autoras FIGURA 8 – GRÁFICO DO CUSTO VARIÁVEL UNITÁRIO volume de produção e gastaremos a energia elétrica necessária para esse volume, entendemos que caso a produção aumente, a matéria-prima também aumentará e consequentemente o gasto de energia, porém como a produção aumentou, este custo será sempre igual, como mostra o gráfico da Figura 8. No gráfico, assim como no custo fixo unitário, o custo variável unitário também começa em 1, pois com a produção zerada, não existem custos variáveis. Outra classificação possível quanto à variabilidade dos custos, são os custos semivariáveis e os custos semifixos. Os custos semivariáveis são aqueles em que há relação com o volume de produção, mas essa relação não é direta, ou seja, quando o volume de produção é diminuído ou aumentado, o custo reage da mesma forma, porém não na mesma proporção. Esse custo será de zero quando não houver produção, e a partir de qualquer volume de produção ele começa a ser contabilizado (PADOVEZE, 2013). EXEMPLO 1: A empresa ABC Peças Ltda., que produz peças automotivas para várias marcas de automóveis, utiliza na produção das suas peças alguns materiais auxi- liares para manutenção, como óleos, para lubrificação dos equipamentos de pro- dução. O Quadro 4 apresenta o volume de produção e o custo com consumo dos óleos lubrificantes em cada mês, durante seis meses. 26 UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS QUADRO 4 – CUSTO DO CONSUMO DE ÓLEOS LUBRIFICANTES PELA EMPRESA ABC Mês Volume de produção (quantidade) Custo do consumo de óleos ($) Janeiro 0 0 Fevereiro 100 50 Março 200 63 Abril 300 114 Maio 400 135 Junho 500 240 FONTE: As autoras FONTE: As autoras FIGURA 9 – GRÁFICO DE CUSTOS SEMIVARIÁVEIS Se observarmos a relação do volume de produção com o custo do consu- mo dos óleos, podemos ver que há uma relação, pois quando a produção cresce, esse custo também cresce, porém não existe uma proporcionalidade entre essas duas variáveis. Considerando ainda que no primeiro mês do ano a empresa es- tava em férias coletivas e, assim, não houve produção, podemos afirmar que os equipamentos não foram utilizados e consequentemente não precisaram de ma- nutenção, ou seja, não teve consumo de óleos lubrificantes. Neste sentido, nós podemos concluir que o custo do consumo deste óleo é um custo semivariável. O gráfico apresentado na Figura 9 mostra o comportamento dos custos semivariáveis do exemplo anterior. Já os custos semifixos são determinados elementos de custo que possuem parcelas de custos fixos e variáveis, por exemplo, a água gasta por uma empresa, se analisarmos que, caso não haja consumo de água na empresa, ou então o consumo for muito baixo, ainda sim ela pagará uma taxa fixa (custo fixo) estipulada pela com- panhia de fornecimento. No entanto, se a mesma empresa começa a produzir, e essa produção consome água, se entendermos que quanto mais ela produzir, mais água vai consumir, ela pagará cada vez mais caro pelo consumo (custo variável), ou seja, existe variação em relação ao volume de produção, porém a partir de um determina- do ponto, antes disso o custo é fixo (MEGLIORINI, 2011; PADOVEZE, 2013). TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS 27 FONTE: As autoras QUADRO 5 – CUSTO DO CONSUMO DE ÁGUA PELA EMPRESA S.O.S EXEMPLO 2: A empresa S.O.S Bebidas Ltda., que produz sucos de laranja, precisou interromper sua produção durante um mês. A empresa, que utiliza a água como sua principal matéria-prima, viu sua conta cair drasticamente após esse mês pa- rada. A empresa continuou utilizando água nas suas áreas comuns, como admi- nistrativo e comercial, nos banheiros, na cozinha e na limpeza. No entanto esse consumo foi tão baixo, comparado a quando a empresa está em plena produção, que a S.O.S pagou neste mês, apenas a taxa básica de $500, estipulada pela com- panhia de água e saneamento da cidade onde ela está localizada. Nos próximos meses, após a parada, a S.O.S viu sua demanda disparar e suas próximas contas de água voltarem a subir, como pode ser visto no Quadro 5. Mês Volume de produção de sucos (litros) Custo do consumo de água ($) Janeiro 0 500 Fevereiro 2.000 1.500 Março 3.000 2.000 Abril 4.000 2.500 Maio 5.000 3.000 Junho 6.000 3.500 No caso da empresa S.O.S o custo de água é considerado como um custo semifixo, pois, mesmo sem produção, a empresa terá um custo fixo de $500, porém com o aumento do consumo consideravelmente, após um mês com a produção parada, a empresa viu sua conta aumentar proporcionalmente ao seu volume de produção. O gráfico apresentado na Figura 10 mostra o comportamento dos custos semifixos do exemplo anterior. 28 UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS FIGURA 10 – GRÁFICO DE CUSTOS SEMIFIXOS FONTE: As autoras 4 CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS PELA FACILIDADE DE ALOCAÇÃO Esta também é uma classificação importante para as tomadas de decisões da empresa. Esta classificação é feita de acordo com a facilidade de identificar os custos em um produto, processo, atividade, ou seja, se for possível identificar o elemento de custo no produto, processo, atividade etc., o custo será direto, caso não, o custo será indireto. Assim, itens como a matéria-prima, a energia elétrica gasta, os demais ma- teriais utilizados na empresa e até a água e o cafezinho farão parte destes custos. A diferenciação entre os custos diretos e indiretos, vai de encontro à necessidade de estabelecer critérios para compor os custos de um produto, como representa- do por Megliorini (2011) na Figura 11. TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS 29 FIGURA 11 – FUNIL DE SEPARAÇÃO DOS CUSTOS DIRETOS E INDIRETOS FONTE: Adaptada de Megliorini (2011) Para explicar os custos diretos e indiretos, vamos tomar como base a produção de um determinado produto. Podemos chamar de custos diretos tudo aquilo que o produto consumiu de fato, como a matéria-prima e a mão de obra, ou a quantidade de horas que o operador trabalhou em sua produção. Já os custos indiretos não podem ser facilmente atribuídosaos produtos, sendo assim necessita, de rateio, ou alocações. Já estudamos no Tópico 1, exem- plos de Custos Indiretos de Fabricação (CIF) para entender o cálculo do custo de um produto, então podemos recordar exemplos que vimos lá, como os materiais indiretos, e a mão de obra indireta. O sistema de custo tem várias dificuldades para alocar estes custos, pois não são tão simples, o que dá origem aos métodos de custeio, que iremos estudar mais afundo nas próximas unidades. Para entender melhor o rateio ou alocação dos custos indiretos, vamos considerar um exemplo simples: a empresa Beta, que atua no ramo têxtil, produz em sua linha de produção dois tipos de produtos do vestuário social masculino, camisas e calças. As quantidades produzidas de cada item, os custos de maté- ria-prima e mão de obra direta (considerando $28 a hora trabalhada) podem ser verificados no Quadro 6, a seguir: 30 UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS QUADRO 6 – CUSTOS DIRETOS POR PRODUTO Produtos Volume de produção (quantidade) Horas trabalhadas Custos Diretos Matéria- prima ($) Mão de obra ($28/h) TOTAL ($) Camisas 320 350 20.000 9.800 29.800 Calças 180 300 16.000 8.400 24.400 TOTAL 650 36.000 18.200 54.200 FONTE: As autoras FONTE: As autoras QUADRO 7 – CUSTOS INDIRETOS RATEADOS Para calcularmos os custos indiretos que vão compor o custo do produto, consideramos que eles são: materiais de consumo, mão de obra indireta, aluguel etc. O total destes custos é de $25.000. Desta forma, a alocação dos custos será por forma de rateio aos produtos, conforme as horas de mão de obra trabalhadas. O Quadro 7 mostra como isso foi feito e os custos totais da produção. Produtos Volume de produção (quantidade) Horas trabalhadas Custos Totais Matéria- prima ($) Mão de obra ($28/h) Custos indiretos TOTAL ($) Camisas 320 350 20.000 9.800 13.461 43.261 Calças 180 300 16.000 8.400 11.539 35.939 TOTAL 650 36.000 18.200 25.000 79.200 Esse exemplo segue o rateio através das horas trabalhadas para alocação dos custos indiretos que compões cada produto, no entanto, existem outros métodos que podem ser utilizados, e cada um afeta de uma forma os custos totais dos produtos. 5 INTEGRAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS É muito comum de ver a utilização conjunta de alguns conceitos de custo, não que se tenha uma necessidade de juntar todas essas classificações que nós já vimos, no entanto, se observarmos, há certa proximidade entre alguns deles. Por exemplo, os custos diretos e os custos variáveis, ou então os custos indiretos dos fixos. Quando pensamos nos custos diretos, podemos perceber que quase todos eles são variáveis, razão pela qual existe até um método de custeio que leva o nome desses dois custos, e logo mais veremos esse método. Mas de acordo com TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS 31 Padoveze (2013), nem todos os custos variáveis são diretos. Para que você enten- da melhor essa relação, podemos exemplificar com os materiais diretos, que são custos diretos, porque fazem parte da estrutura do produto, mas eles também são custos variáveis, pois são proporcionais ao volume produzido. Ainda assim é importante ressaltar que quando falamos em classificação dos custos quanto a sua variabilidade, nós o estamos relacionando a uma variável, geralmente, ao volume de produção. Já quando falamos na classificação quanto à facilidade de aloca- ção, estamos nos referindo a quão esses custos são identificáveis ou não nos produtos finais. IMPORTANT E E também temos os custos diretos fixos, como royalties, licenças, e os projetos de engenharia, por exemplo, que estão diretamente ligados ao produto, e são custos que não têm uma variabilidade de acordo com a produção (PADOVEZE, 2013). A outra relação bem próxima é a dos custos indiretos e os fixos, pois também podemos dizer que a maioria dos custos indiretos são fixos. Mas é sempre bom lem- brar que nos custos indiretos não é possível uma definição clara deles nos produtos, podendo, assim, serem custos indiretos fixos e custos indiretos variáveis. Para exem- plificar um custo indireto variável vamos pensar na energia elétrica consumida (só o que foi gasto na produção e sem taxas), pois essa energia está indiretamente intrínse- ca no produto final, e também está variando conforme o volume de produção. Mas a maioria dos custos está relacionada aos custos indiretos fixos, que são aqueles gastos que são impossíveis de identificar no produto final e que in- dependem do volume da produção. Os aluguéis, o custo relacionado ao salário da gerência, a depreciação dos equipamentos e ferramentas são exemplos destes custos. Todas essas relações podem ser melhor memorizadas observando seus exemplos na matriz de integração dos custos, apresentada na Figura 12. 32 UNIDADE 1 — FUNDAMENTOS PARA A GESTÃO DE CUSTOS FIGURA 12 – MATRIZ DE INTEGRAÇÃO DOS CUSTOS FONTE: As autoras 6 OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DE CUSTOS Na literatura é possível de encontrar várias outras classificações relacio- nadas a custos, porém, aqui vamos apresentar mais algumas citadas por Bornia (2019), são elas: classificação pelo auxílio à tomada de decisões, e classificação pela facilidade de eliminação. A relevância dos custos para uma determinada tomada de decisão, po- dem ser classificados como custos relevantes e não relevantes. Os custos relevan- tes podem ser entendidos como aqueles que se alteram de acordo com a decisão tomada, e são altamente importantes para subsidiar essas decisões. Já os custos não relevantes independem da decisão. Para essa classificação, primeiramente, é necessário analisar a decisão a ser tomada, pois os custos relevantes para uma decisão podem não ser para outra e vice-versa (BORNIA, 2019). A classificação pela facilidade de eliminação leva em consideração os cus- tos em fixos elimináveis, ou evitáveis e não elimináveis. Custos fixos elimináveis são os que podem ser eliminados em curto prazo, por exemplo, a energia elétrica quando a empresa necessita encerrar por um tempo suas atividades. Os custos fixos não elimináveis não são eliminados em curto prazo, por exemplo, a depre- ciação dos equipamentos quando um determinado produto é descontinuado, ou seja, para de ser produzido pela empresa. 7 SISTEMAS DE CUSTEIO Para a gestão eficiente de uma empresa, é fundamental que ela faça tam- bém a gestão de seus custos. Os sistemas de custeio, dentro de um conceito es- tratégico, são essenciais neste sentido, pois são compostos por uma combinação de princípios e métodos que em conjunto com outras ferramentas de gestão pode trazer consideráveis benefícios às empresas. TÓPICO 2 — CLASSIFICAÇÃO E SISTEMAS DE CUSTOS 33 Para que uma empresa utilize um sistema de custeio, visto que existem várias configurações, é necessário que ela faça uma análise detalhada do seu con- texto, definindo como o sistema será integrado ao modelo de gestão da empresa, onde deverão der considerados recursos humanos, aspectos fiscais e gerenciais, e o seu sistema de informação (FRANCISCO FILHO, 2020). De acordo com o tipo de sistema utilizado e os parâmetros escolhidos, as informações relativas aos custos serão coletadas e processadas a fim de gerar rela- tórios financeiros onde serão apresentados: os custos referentes aos produtos pro- duzidos e aos serviços realizados; custos por departamentalização; índices de con- sumo de insumos; entres outras informações relevantes relacionadas aos custos. De acordo com Bornia (2019), a análise de um sistema de custos pode ser efetuada sob dois pontos de vista, um ele chama de princípio de custeio, que é quando, primeiro são observados que tipo de informação o sistema gera e se são adequadas ao que a empresa precisa. O outro ponto é o método de custeio, que diz respeito a como os dados são processados para que se obtenha as informações. Quanto aos objetivos dos sistemas de custeio podemos dizer que estão relacionados aos objetivos da contabilidade de custos, que são: a avaliação de esto- ques,
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