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UNIVERSIDADE TIRADENTES GABRIELLE GIOVANA ALMEIDA MARIA RAPHAELA MARTINS DE LIMA MATHEUS FRANÇA OS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA PREVISTOS NO ESTATUTO DA CIDADE (LEI 10.257/2000): USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO Aracaju 2020.1 GABRIELLE GIOVANA ALMEIDA MARIA RAPHAELA MARTINS DE LIMA MATHEUS FRANÇA OS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA PREVISTOS NO ESTATUTO DA CIDADE (LEI 10.257/2000): USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO Artigo científico apresentado como um dos pré-requisitos para aprovação na disciplina F111422 – Planejamento Urbano e Regional III. Orientador do artigo: Profº. Me. Ricardo Soares Mascarello Aracaju 2020.1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 4 2 USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO.................................... 6 2.1 Usucapião extraordinária................................................................................... 6 2.2 Usucapião ordinário........................................................................................... 6 2.3 Usucapião especial urbana................................................................................. 7 2.4 Usucapião coletiva............................................................................................. 7 2.5 Usucapião por abandono do lar......................................................................... 7 2.6 Utilização do instrumento usucapião no Brasil................................................. 8 3 APLICAÇÃO DO INSTRUMENTO NO PLANO DIRETOR DE ARACAJU/SE................................................................................................. 11 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 14 REFERÊNCIAS............................................................................................... X 4 1 INTRODUÇÃO A necessidade de o homem primitivo ter um local para se estabelecer foi uma das primeiras condições para o surgimento das cidades, seguido do desejo de possuir um local onde pudesse cultivar sua subsistência, criar animais e realizar trocas com os demais habitantes circunvizinhos. Desde os tempos da primeira revolução industrial, ainda na Europa, é notável o crescimento desordenado das cidades. Toda essa expansão, no entanto, não acompanha o processo de desenvolvimento da urbanização das cidades. O caso não se difere do Brasil, uma vez que “a parcela urbana da população brasileira cresceu de 58%, em 1970, para 80%, em 2000” (MATA et. al., 2006), causado, dentre outros fatores, pelo êxodo rural ocasionado pela mecanização do campo e pela procura de melhores condições de vida nos centros urbanos, que acabou gerando uma cidade desigual e iníqua. Com a volta da democracia brasileira no ano de 1984, um dos grandes marcos desse período foi a promulgação da Constituição Federal de 1988, que, dentre outros pontos, dedicou um capítulo à política urbana e, por conseguinte, possibilitou a criação do Estatuto da Cidade a fim de regulamentar os artigos 182 e 183 da Carta Magna brasileira. A Constituição de 88 e a criação do Estatuto da Cidade (...) colocou para a propriedade urbana a necessidade de cumprir sua função social. A ação dos municípios passou a depender da edição de uma lei federal de diretrizes gerais da política urbana. O Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257, foi aprovado no dia 10 de julho de 2001, regulamentando os artigos 182 e 183 da Constituição, estabelecendo diretrizes gerais da política urbana e dando outras providências. Ele garante um conjunto de instrumentos para a execução da política de desenvolvimento urbano (SENADO FEDERAL, 2011, p.7). Com a dificuldade de acesso ao solo urbano devido aos altos preços, grande parte da população busca outros meios de moradias, sendo estes distantes da parte urbanizada da cidade e de serviços básicos como educação, saúde e lazer. Toda essa situação gera uma grande desigualdade social e segregação espacial. Desse modo, o Estatuto da Cidade, com a função de garantir a função social da propriedade urbana, estabelece diretrizes e instrumentos para promover e garantir o bem estar dos seus habitantes. Dentre as diretrizes gerais do Estatuto pode-se citar a gestão democrática, direito às cidades sustentáveis, ordenação e controle do uso 5 do solo, produção de bens e serviços nos limites da sustentabilidade ambiental, regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por populações de baixa renda, entre outras. O presente artigo científico traz considerações acerca do instrumento do Estatuto da Cidade intitulado “Usucapião especial de imóvel urbano”, as diferentes espécies de usucapião especial urbana, bem como os principais aspectos processuais da ação de usucapião, aplicação do instrumento no Plano Diretor da cidade de Curitiba/PA e Aracaju/SE 6 2 USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO Esse é um instrumento da Política Urbana previsto no Estatuto da Cidade conforme a Lei 10.257/2000. A usucapião é uma ação judicial para aquisição da propriedade de coisas móveis e imóveis por meio da prática de posse durante o perídio previsto no artigo 1.238 do Código Civil de 2002. O tempo é o principal fator que determina a possibilidade de aquisição do direito da usucapião e, após a aprovação, este direito pode ser concedido tanto ao homem quanto à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. Dentre os bens imóveis têm- se terrenos abandonados, residências inocupadas, galpões e latifúndios largados que não exerceram seu dever constitucional de terem uma função social e por esse motivo, podem ser adquiridos por terceiros. A usucapião é dividida em espécies previstas em lei, sendo alguns exemplos, a extraordinária, ordinária, especial, coletiva, abandono do lar, entre outas. 2.1 Usucapião extraordinária De acordo com o artigo n° 1.238 do Código Civil, confere-se como caso de usucapião extraordinária Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. 2.2 Usucapião ordinário Conforme prevista no art. 1.242 do Código Civil, diz: Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que 7 os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. 2.3 Usucapião especial urbana Na Seção V do Estatuto da Cidade o Art. 9º, descreve: Art. 9º. Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 2.4 Usucapião coletiva De acordo com o art. 10 do Estatuto da Cidade, diz: Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por populaçãode baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. § 4o O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. 2.5. Usucapião por abandono do lar O Código Civil, em seu artigo 1.240-A, prevê: Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade dívida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011) A usucapião é uma importante forma de manter o princípio constitucional de dar função social à propriedade e de regularizar situações onde o bem é imprescindível para a 8 moradia, subsistência ou atividade econômica do possuidor. A via extrajudicial para pedido de usucapião, no entanto, não resolve todos os problemas relacionados à prática. O trâmite pode ser longo, ainda mais se várias partes estiverem envolvidas no litígio. Dentre todos os tipos acima, a maior vantagem gerada pela usucapião é o direito de posse de uma gleba (coletivo) ou lote, observando os seus requisitos, base legal e aspectos doutrinários. 2.6. Utilização do instrumento usucapião no Brasil De acordo com o Ministério das Cidades, com base em informações do Censo 2010, existem 18 milhões de domicílios urbanos ocupados irregularmente no Brasil. As regiões Nordeste e Sudeste concentram o maior número de áreas domiciliares nessa situação, ambos com 32,5%. As regiões Sul (17%), Norte (10%) e Centro-Oeste (8%), vêm na sequência. A usucapião especial coletiva urbana é o instrumento mais utilizado para regularização fundiária como é o exemplo das Moradias Sabará, situada no bairro Cidade Industrial em Curitiba – PR, composta por vários assentamentos contíguos e cada um possui um nome, mas acabou sendo designado como Sabará tanto pelos moradores quanto pelas autoridades municipais. A vila Esperança, Nova Conquista e Eldorado integrantes da região do Sabará, foram escolhidas para realização de projeto de regularização fundiária sustentável coordenado pela Organização de Direitos Humanos Terra de Direitos no ano de 2005, que foi apoiada na época pelo Ministério das Cidades, dando início a uma série de ponderações capazes de retroalimentar o debate para o aperfeiçoamento do instrumento em si. Após análise, concluiu-se que parte dos imóveis pertencia a uma sociedade de economia mista municipal, denominada Curitiba S/A, responsável pela implantação e urbanização da Cidade Industrial de Curitiba, sendo outra parcela de dominialidade particular, com alguns imóveis, inclusive, sem proprietário identificado, e também uma estreita faixa da ocupação, ainda, integrava o patrimônio da Companhia de Habitação Popular de Curitiba – COHAB/CT. De acordo com as normas urbanísticas, para que se faça a titulação individual dos imóveis é necessário que se proceda à individualização dos terrenos por meio da operação de parcelamento do solo, a qual envolve etapas de urbanização. Durante a fase de leitura e planejamento participativo do projeto, concluiu-se que a regularização destas vilas deveria abranger, tanto ações de urbanização, como de titulação dos imóveis objetos de posse. A condução simultânea de ambas nem sempre é possível ou aconselhável, uma vez que são 9 distintos os sujeitos que participam de cada uma destas dimensões, e, consequentemente, os conflitos e suas mediações. O projeto de regularização fundiária das vilas do Sabará optou por, primeiramente, promover a titulação coletiva dos imóveis para, posteriormente, proceder, por meio do poder público municipal, a urbanização das áreas, com a individualização dos terrenos. No caso, julgou-se ser mais prudente e eficiente dar início à regularização por meio uma ação coletiva que resolvesse a questão da titulação dos imóveis, assegurando à comunidade o pleno domínio da gleba. Desta forma, com o domínio coletivo da gleba, estaria resolvida qualquer pendência, conflito ou reivindicação do imóvel por parte de antigos proprietários que abandonaram as glebas. Na cidade de São Paulo, mais precisamente na favela de Paraisópolis (imagem 01), uma associação comunitária entrou com uma ação de usucapião requerendo a declaração de domínio aos seus associados. De acordo com o site Conjur (2016), Diante da impossibilidade de identificar os terrenos ocupados por cada possuidor e por não ter sido apresentado nenhum fato capaz de impedir o usucapião, a juíza Renata Pinto Lima Zanetta, da 2ª Vara de Registros Públicos de São Paulo, determinou usucapião especial coletiva a centenas de famílias que ocupam área urbana na comunidade de Paraisópolis, zona sul paulistana. A Associação Projeto Moradia para Regularização Fundiária na Comunidade de Paraisópolis ingressou com ação pedindo a declaração de domínio aos seus associados, ou seja, a aquisição de propriedade dos moradores sobre o imóvel. Eles alegaram que as mais de cem famílias mantêm posse pacífica e contínua há mais de cinco anos da área com cerca de 4 mil metros quadrados. Na sentença, a juíza afirmou que as alegações trazidas pelo município não apontam nenhum fato capaz de impedir, extinguir ou modificar o direito à usucapião coletiva pelos ocupantes da área na comunidade. Imagem 01: Situação habitacional da comunidade de Paraisópolis, localizada na cidade de São Paulo. Fonte: GBC Engenharia (2016). No Estado do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, uma moradora entrou com um pedido de usucapião de imóvel urbano adquirido há cerca de 50 anos, sem nenhuma documentação comprobatória e alegando que durante o tempo de posse, ocupou-se da manutenção, pagamento de impostos e limpeza da mesma, preenchendo, dessa forma, os 10 requisitos legais para declarar domínio sobre o terreno. O imóvel, no entanto, pertencia ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). De acordo com o site DireitoNet (2019), a ação foi julgada improcedente em primeira instância e a moradora recorreu ao tribunal. A 3ª Turma do TRF4 decidiu manter a sentença por unanimidade por considerar que, se tratando de bem público, é inviável sua aquisição por usucapião, já que segundo a Constituição, a ocupação de área pública, quando irregular, não pode ser reconhecida como posse, mas como mera detenção. Por se tratarem de processos judiciais, não são encontradas com facilidade informações precisas, fotos, levantamentos, plantas, etc. que tornem o artigo mais ilustrativo e consistente. 11 3 APLICAÇÃO DO INSTRUMENTO NO PLANO DIRETOR DE ARACAJU/SE Usucapião especial de imóvel urbano é um processo judicial em que o requerente solicita por via judicial seu documento de posse a fim de conceder a propriedade a quem usa. Para tanto, o local deverá ter um proprietário legal e esse deve estar sendo usado por uma outra pessoa para fins de moradia. Existem outras modalidades de usucapião previstos no código civil relacionados às mais diversas questões, porém o objeto de estudo previsto no Estatuto da Cidade tem como forma reduzir o problema habitacional, uma vez que se constatou que o Brasil é um dos países em que as pessoas mais vivem em situação de irregularidade e que, além disso, há muitas famílias que não possuem moradia e ainda há muita terra semuso nenhum no meio urbano, o que é bastante observado em Aracaju. Ainda na década de 60, iniciou-se um levante local chamado “O movimento pela reforma urbana”, que visava a redistribuição da terra urbana, pois havia muita concentração de solo urbano nas mãos de poucas pessoas e uma parte considerável da população sem ter onde morar ou ocupando o espaço de forma irregular. O processo de usucapião apresenta algumas dificuldades, sendo uma delas a representação legal. Por se tratar de um procedimento procurado principalmente por pessoas de menor poder aquisitivo, muitos não têm como dispor da ajuda legal de um advogado e acabam buscando ajuda da Defensoria Pública. A comprovação e reunião de todos os documentos necessários para validar que o local se encontra em situação de abandono pelo seu proprietário legal e que, de fato, se utiliza aquele espaço há mais de cinco anos para fins de moradia, sem possuir mais nenhum outro imóvel urbana é completamente feita pelo requerente do processo, o que acaba retardando o andamento. Dentre as documentações que o processo judicial exige têm-se o levantamento cadastral do imóvel, juntamente com uma planta de situação e, em alguns casos, memorial descritivo do imóvel, relatando o estado atual da edificação no momento do levantamento cadastral. Para que possa ser validado, os documentos precisam ser elaborados por um profissional habilitado da área de Arquitetura e Urbanismo ou Engenheiro Civil e com suas respectivas RRT’S ou ART’S – Registro de Responsabilidade Técnica e Anotação de Responsabilidade Técnica, respectivamente – emitidas pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo ou Conselho Regional de Engenharia e Agronomia locais, o que acaba se tornando outra dificuldade para andamento do processo de usucapião, uma vez que, caso seja acionada a Defensoria Pública, o órgão não possui um setor responsável para resolver exclusivamente essa questão. 12 Para auxiliar no andamento do processo e oferecer assistência técnica existem algumas organizações que oferecem o serviço de forma gratuita, que é o caso do NUPPE (Núcleo de Projetos, Pesquisa e Extensão) da Universidade Tiradentes, orientada pelas coordenações dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores. No que se refere ao procedimento de levantamento cadastral, elaboração de plantas e memorial descritivo para andamento do processo de usucapião, o mesmo é realizado pelos estagiários do núcleo de projetos; um responsável técnico solicita junto ao CAU/SE a RRT. A cobrança gerada pelo órgão, cerca de R$95,00, é de responsabilidade do requerente e é um dos únicos custos arcados durante o processo judicial. O NUPPE trabalha em parceria com o NPJ (Núcleo de Práticas Jurídicas), também da Universidade Tiradentes. Os supervisores juntamente com os estagiários avaliam a validade do pedido de titularidade do imóvel e em seguida o encaminham para o NUPPE para que a parte documental de levantamento e memorial possa ser resolvida e, assim, devolvida ao NPJ para que o processo corra na justiça. Apesar de parecer um processo simples, poucas pessoas possuem conhecimento dos serviços oferecidos de assistência jurídica e técnica pelos mais diversos órgãos ou entidades, como é o caso do NUPPE e NPJ, pertencentes à Universidade Tiradentes, devido à falta de divulgação; outros meios como a procura de um profissional habilitado não são viáveis financeiramente a maioria das pessoas que precisam desse serviço e, como citado anteriormente, a própria Defensoria Pública não possui um setor próprio para atendimento desse serviço específico, mesmo com a grande demanda. Devido à falta de conhecimento e divulgação muitas pessoas não conhecem e entendem seus direitos, como é o caso do usucapião, garantido pelo Estatuto da Cidade, pelo instrumento intitulado usucapião especial de imóvel urbano e pela Constituição Federal de 1988, que garante a todos os cidadãos o direito à moradia. Na cidade de Aracaju, além desse dessa modalidade de apropriação territorial, também ocorre a usucapião extraordinária, que por ser um caminho mais “rápido”, é uma das primeiras escolhas do NPJ, quando viável. Em muitos casos, por falta de conhecimento, as pessoas adquirem terras em locais de ocupações irregulares ou loteamentos clandestinos, causando mais para frente transtornos para os compradores e para a própria administração pública, pois assentamentos clandestinos e irregulares são um dos maiores problemas urbanos da atualidade. Em suma, a usucapião especial de imóvel urbano é um dos poucos instrumentos previstos no Estatuto da Cidade aplicado no Plano Diretor da cidade de Aracaju. A eficácia do instrumento, no entanto, ainda não se mostra totalmente satisfatória devido a fatores como a alta demanda, falta de informação por parte do requerente e de prestação de assistência técnica 13 para àqueles que não têm condições de arcar com a documentação exigida para que o processo possa ser deferido. Embora já existam meios para obtenção do documento de posse da propriedade com auxílio da Defensoria Pública ou instituições que ajudam no processo de forma franca, a alta demanda não permite a alta efetividade do instrumento. Muitos ainda não têm a condição necessária para arcar com as despesas geradas pela assistência técnica e legal e, sendo assim, seria interessante que os órgãos públicos ou Conselhos Regionais pudessem orientar de forma mais eficaz a população acerca dos seus direitos e meios que viabilizem o processo. Dessa forma, a administração pública estaria cumprindo um dos requisitos da Constituição Federal, que é a função social da propriedade urbana, e do Estatuto da Cidade, que é garantir o desenvolvimento urbano, nesse caso, a garantia de propriedade através do instrumento usucapião especial de imóvel urbano. 14 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A dificuldade para ter acesso ao solo urbano tem sido um fator determinante na busca de soluções para diminuição das desigualdades sociais, segregação espacial e regularização para acesso a bens e serviços urbanos. Ainda que não tenha poder para transformar a sociedade e todo seu contexto urbano, a criação do Estatuto da Cidade, em 2001, possibilitou a redução da desigualdade em suas várias esferas na sociedade brasileira. Fruto da urbanização acelerada, desordenada e injusta, a ocupação de espaços de terrenos vazios e criação de loteamentos clandestinos ou irregulares tiveram como consequência a ilegalidade da posse do solo urbano por parte da população, especialmente a mais carente, que gera núcleos não-urbanizados e irregulares. Nota-se que, com a implementação do instrumento usucapião especial de imóvel urbano, há o reconhecimento efetivo do direito ao imóvel ao possuidor, validado pelo Estatuto da Cidade, além de garantir a função social da propriedade urbana prevista na Constituição Federal brasileira. Embora a alta demanda processual não consiga ser atendida devido a diversos fatores, como por exemplo, falta de informação pelo requerente, nota-se o funcionamento do instrumento na grande parte dos Estados brasileiros. Ressalta-se, por fim, a dificuldade de encontrar informações ilustrativas e consistentes acerca das ações de usucapião por se tratarem de processos judiciais em que somente pessoas autorizadas ou órgãos públicos detêm tal conhecimento. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Art. 1238 do Código Civil - Lei nº 10406/02, de 10 de janeiro de 2002. JUS. Disponível em <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10652639/artigo-1238-da-lei-n-10406- de-10-de-janeiro-de-2002>. Acesso em 15 de março de 2020. ________. Processo n. 0123991-63.2007.8.26.0100 do TJSP. JUS. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/processos/49296411/processo-n-0123991-6320078260100-do- tjsp>. Acesso em 13 de abril de 2020.BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001: regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Lex: ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Vademecum universitário de direito. 5. ed. rev. ampl. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira 2002. CONJUR. 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