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RENE AMARAL MONTARROIOS POS CIENCIA DA RELIGIAO

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ZAYN – INSTITUTO MINEIRO DE FORMAÇÃO CONTINUADA 
 
 
 
 
RENÊ AMARAL MONTARROIOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS 
PÚBLICAS BRASILEIRAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte - MG 
 
2019 
 
 
RENÊ AMARAL MONTARROIOS 
 
 
 
 
 
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS 
PÚBLICAS BRASILEIRAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte – MG 
 
2019 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Instituto ZAYN como 
requisito para obtenção da Pós-
Graduação em Ciências da Religião 
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS 
 
RENÊ AMARAL MONTARROIOS 
Aprovada em ____/____/_____. 
BANCA EXAMINADORA: 
 
_________________________________________________ 
orientador 
Titulação-Instituição 
 
 
__________________________________________________ 
Membro banca 
Titulação-Instituição 
 
 
__________________________________________________ 
Nome Completo 
Titulação-Instituição 
 
CONCEITO FINAL: _____________________ 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todas as pessoas que de 
alguma forma contribuíram para que eu chegasse 
até aqui. Em especial gostaria de destacar o apoio 
da minha esposa e filhos que são as bases e 
motivação das minhas conquistas. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Jesus Cristo, amigo sempre 
presente, sem o qual nada teria feito. 
Aos meus pais, a quem sou grato 
pelos ensinamentos e correção. 
Ao Prof.° .............., que me 
acompanhou, transmitindo-me as dicas 
e conteúdos necessários 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“As religiões, assim como as luzes, 
necessitam de escuridão para brilhar.” 
 
Schopenhauer 
 
RESUMO 
 
Este Trabalho de conclusão de curso tem como objetivo principal promover uma 
análise e uma reflexão sobre a importância do ensino religioso nas escolas públicas 
brasileiras, exibindo, ainda que de forma não exaustiva, a relação deste item do 
currículo escolar com a história do ensino público nacional e as questões políticas do 
país. O estudo está direcionado demonstrando a relevância do ensino religioso como 
área de conhecimento alicerçado na Ciência da Religião; destaca e pondera a 
multicultural religiosidade da sociedade do país e sua importância na compreensão 
da cultura, e da formação dos brasileiros. Deve-se frisar que a religião é uma 
constante na história da humanidade. O ensino religioso deve ter como princípio a 
cultura do diálogo para a construção a paz e do respeito. A metodologia utilizada para 
a elaboração deste estudo consistiu em pesquisa bibliográfica acerca do tema 
proposto. 
 
Palavras-chave: Ensino Religioso, Escola pública, Igreja Católica, Religião, 
Ecumenismo, Respeito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This paper aims to promote an analysis and reflection on the importance of religious 
education in Brazilian public schools, showing, but not exhaustively, the relationship of 
this item of the school curriculum with the history of national public education. and the 
political issues of the country. The study is directed demonstrating the relevance of 
religious teaching as an area of knowledge based on the Science of Religion; highlights 
and ponders the multicultural religiosity of the society of the country and its importance 
in the understanding of culture, and the formation of Brazilians. It should be stressed 
that religion is a constant in the history of mankind. Religious teaching must have as 
its principle the culture of dialogue for the construction of peace and respect. The 
methodology used for the elaboration of this study consisted of bibliographical 
research about the proposed theme. 
 
Keywords: Religious Education, Public School, Catholic Church, Religion, Ecumenism, 
Respect. 
9 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 9 
1. A MANIFESTAÇÃO DA RELIGIOSIDADE DOS POVOS ............................................................ 14 
1.1- A OBSERVAÇÃO DA MANIFESTAÇÃO DA RELIGIOSIDADE HUMANA. ......................... 14 
1.2- A ESPIRITUALIDADE INDÍGENA BRASILEIRA. ............................................................... 15 
1.3- A ESPIRITUALIDADE AFRICANA. .................................................................................. 18 
1.4- A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ ROMANA. ....................................................................... 20 
2. HISTÓRICO RESUMIDO DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL ................................................ 22 
2.1- O ENSINO RELIGIOSO DO DESCOBRIMENTO AO IMPÉRIO. ......................................... 22 
2.2 - O ENSINO RELIGIOSO APÓS A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA. .............................. 25 
3. O ENSINO RELIGIOSO ESCOLAR NO CONTEXTO DO BRASIL PÓS-MODERNO ..................... 30 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 34 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 35 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Discorrer sobre educação escolar é uma tarefa na maioria das vezes árdua, 
laboriosa, visto que é um campo que se complementa através de inúmeras 
contribuições e possibilidades de uma mesma realidade. A matéria de Ensino 
Religioso na área da educação escolar, ainda provoca diversas discussões, 
porque esse tema não só envolve a educação, mas também a sociedade, 
paixões e ódios diversos, valores culturais e a individualidade de cada ser. 
Segundo Cardoso (2007, p. 7), a compreensão de Ensino Religioso é 
apresentada como um "espaço para levar o aluno a refletir sobre o sentido da 
vida e assumir um compromisso responsável de transformação da realidade 
segundo valores religiosos, por meio de escolhas livres e coerentes". Já para 
Cândido (2004), o Ensino Religioso deve ser construído para atender os alunos 
com relação à busca pelo sentido da vida. Ela ainda defende a possibilidade de 
um ensino confessional católico não proselitista (CÂNDIDO, 2004, p. 164-165). 
Opina Magri (2010), o argumento que valida a oferta da disciplina é "a 
necessidade que o homem tem de buscar a "plenitude", pois, se não o fizer, corre 
o risco de se perder em meio à selva de pedra" (MAGRI, 2010, p. 11). Afirma 
Vieira (2006, p. 5) "na vida comunitária social, as pessoas se relacionam umas 
com as outras ou em grupo assumindo um consenso, em torno de uma 
significação irredutível aos simples mecanismos biológicos e técnicos". Ruedell 
(2005, p. 4) entende a disciplina como "um elemento indispensável para a 
educação integral do cidadão e para a obra de edificar uma sociedade mais justa 
e solidária". Machado informa que (2006, p. 6), é atribuição do Ensino Religioso 
trabalhar a cidadania. Para ele, "desde o entendimento da polis grega até os dias 
atuais, a prática da cidadania como condição natural da educação que defende 
o ser humano contra a barbárie". Dessa forma, ele entende humano como aquele 
que se torna cidadão e se afasta da barbárie no sentido da civilização moderna 
da cultura cristã. Como pode ser visto todas as ideias giram em torno de que a 
11 
 
técnica não é suficiente para oferecer ferramentas para dar-se sentido à vida, 
pois não considera a formação humana em todas as suas dimensões. 
 
 
Soma-se a isso tudo o fato de que os dias atuais são marcados por uma 
sociedade cada vez mais líquida e inconsistente no qual valores e instituições se 
dissolvem facilmente como afirma Bauman: 
 
Em primeiro lugar, a passagem da fase "sólida" da modernidade 
para a "líquida" - ou seja, para uma condição em que as 
organizações sociais (estruturasque limitam as escolhas 
individuais, instituições que asseguram a repetição de rotinas, 
padrões de comportamento aceitável) não podem mais manter 
sua forma por muito tempo (nem se espera que o façam), pois 
se decompõem e se dissolvem mais rápido que o tempo que leva 
para moldá-las e, uma vez reorganizadas, para que se 
estabeleçam (BAUMAN, 2007, p. 7) 
 
Diante dessa inconsistência, a sociedade cada vez fica caracterizada pelo 
pluralismo cultural e de pensamento, além de mudanças rápidas de paradigmas. 
Por seu turno, a religião não está imune a processos de mudanças em seus 
espaços e enfrenta o desafio do ecumenismo também no espaço escolar. 
 
O Ensino Religioso no Brasil compõe a educação escolar desde os tempos 
do Brasil Colônia. Nos primórdios nacionais, a religião não era uma escolha 
individual, e sim uma determinação do Estado. O ensino refletia e ressaltava a 
doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, religião oficial do Império. A meta 
era homogeneizar as culturas. Com a proclamação da República (1889), se 
estabeleceu a ruptura entre Igreja e Estado, garantindo-se a liberdade de culto 
e o respeito à diversidade religiosa. A despeito disso, o Ensino Religioso, na 
prática, permaneceu quase que em sua totalidade, ensinando a religião cristã 
católica. Como aponta Junqueira: 
12 
 
 
Na realidade, o ensino religioso tem exigido uma discussão mais 
ampla sobre o pluralismo religioso, fenômeno relativamente 
recente na história do Brasil. Ao longo dos primeiros quatro 
séculos, este país se constituiu como uma sociedade 
unirreligiosa, tendo o catolicismo como religião oficial para a 
plena cidadania brasileira. Tal situação estava relacionada ao 
contexto mais amplo, em que a religião aparecia como princípio 
fundamental de todas as sociedades humanas. Nesta 
perspectiva, a cada sociedade deveria corresponder uma única 
religião, que cimentava as relações sociais que unem as 
pessoas (JUNQUEIRA,2011, p.151). 
 
Com o passar dos anos novas leis foram criadas e depois da alteração do 
Artigo 33 da Lei Nº 9394/96 (LDB) pela Lei Nº 9475/97 houve expressivas 
mudanças na compreensão do Ensino Religioso, além de certificá-lo nas escolas 
públicas. Agora Ensino Religioso passou a ser idealizado como uma relação 
pedagógica, abarcando o ser humano no seu todo, considerando a sua interação 
com o meio, em busca de respostas para as inquirições existenciais, sem 
adesão, em tese, a uma religião particular. Desse modo, o Ensino Religioso 
consiste em ver o Homem como possuidor de uma psiquê transcendente, 
religiosa. A religião, como expressão da espiritualidade humana, existente em 
todos os povos e civilizações e sempre teve uma posição elevada nas vidas das 
pessoas e das comunidades. Assim sendo, a instrução que almeja o efetivo 
progresso do discente não deve negligenciar a educação da religiosidade e do 
fenômeno religioso, cerne da compreensão do ER. 
 
Nesse conceito, o Ensino Religioso como disciplina facilita a retomada dos 
princípios humanos, a partir do entendimento do meio sociocultural da pessoa e 
dos valores que fundamentam a sociedade. Acredita-se que esse resgate de 
concepções contribuirá demasiadamente para a boa postura dos educandos no 
ambiente escolar e em na vida em sociedade, uma vez que a escola possui uma 
função crucial no tocante ao desenvolvimento pleno dos alunos. 
 
13 
 
Considerando esse ponto de vista, é preciso refletir que o país é um povo 
multicultural, por isso é imprescindível aceitar as diversas manifestações 
religiosas dos povos no Brasil inseridos, bem como superar o modelo 
confessional cristão e Católico apenas. Essa deve ser a proposta perseguida 
pelo Ensino Religioso, alicerçada nas Ciências da Religião e com a finalidade de 
formar para a cidadania. Essa nova concepção do Ensino Religioso ajuda ainda 
como ferramenta de transposição das controvérsias isoladas de cada cultura, 
gerando a chance de uma formação crítica e dialética do cidadão, deve-se trazer 
ao aluno o conhecimento das religiões, de modo a estimular o crescimento do 
discente enquanto pessoa, através dos valores dos diversos costumes 
religiosos, além disso o professor tem a chance, não só de trabalhar os valores 
nas diferentes disciplinas, como também desenvolver projetos que despertem as 
capacidades para a construção de uma relação mais fraterna e próxima da 
revelação da espiritualidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
 
1. A MANIFESTAÇÃO DA RELIGIOSIDADE DOS POVOS 
 
1.1- A OBSERVAÇÃO DA MANIFESTAÇÃO DA 
RELIGIOSIDADE HUMANA. 
 
Desde os tempos antigos os pesquisadores procuram investigar sobre o 
fenômeno religioso, para saber o motivo da sua existência. As ciências humanas 
estão sempre pesquisando sobre os mais variados sistemas religiosos que se 
mostram com suas peculiaridades, é fato comprovado pela história e outras 
ciências que não existe nenhum povo sem religião ou sem tradição religiosa. 
 
O fenômeno é um fato universal; ele se encontra em todas as 
culturas. Em todos os tempos, lugares e povos encontramos o 
fenômeno religioso. Segundo Franz Bretano, a fenomenologia é 
a “intencionalidade da consciência humana”. A função da 
fenomenologia é interpretar os fenômenos que se apresentam à 
percepção. A fenomenologia surgiu para extinguir a separação 
entre “sujeito” e “objeto”. Para Emanuel Kant, o fenômeno tem 
duas propriedades: tempo e espaço. O tempo é a priori enquanto 
dedução lógica da coisa, e a posteriori enquanto identificação do 
objeto. Por isso, o homem como ser religioso acredita numa 
divindade, dentro ou fora de si.1 
 
 As distintas religiões que foram se formando no decorrer da história motivam 
a sua compreensão de transcendente, o sentido da vida e da morte, a maneira 
que os indivíduos devem ser e agir no mundo, através de seus escritos sagrados 
e da oralidade. Por mais que se retroceda no tempo, continuamente é 
encontrado vestígios de culto religioso dos mais variados. O homem não vive 
 
1 O FENÔMENO RELIGIOSO. Disponível em: <https://santuariopenapolis.com.br/arquivos> acesso em: 
24/10/2018. 
https://santuariopenapolis.com.br/arquivos
15 
 
sem Deus como diria Santo Agostinho “O coração humano vive inquieto 
enquanto não repousar em Deus”.2 
 
A religião é considerada como um fenômeno unicamente humano, não só 
individual, mas em grupo ou em uma sociedade. Quanto é investigado mais é 
necessário estudos para se descobrir os mistérios entre os céus e a terra. Cada 
tradição religiosa apresenta o seu fenômeno religioso, a partir da visão histórica 
de uma cultura, uma sinopse particular de todas as coisas que fogem à 
percepção humana. Segundo os cientistas da religião, os seres humanos 
criaram as tradições religiosas e as sistematizaram para cultuarem o sagrado, 
na tentativa de explicar o mundo por uma visão diferente da científica. Todas as 
religiões buscam a sua verdade, sejam elas tradicionais ou não, com escritos 
sagrados, orais ou místicos. 
 
1.2- A ESPIRITUALIDADE INDÍGENA BRASILEIRA. 
 
Na tradição religiosa indígena brasileira deve-se destacar alguns pontos 
relevantes que foram fundamentais para a formação cultural brasileira, além 
disso, ela pode ser chamada de uma religião da natureza por estar sempre ligada 
e dependente do meio florestal em que vivem. 
 
Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem 
branco. Todos têm os mesmos direitos e recebem o mesmo 
tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um 
índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. 
Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, 
arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é 
realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. 
As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e 
plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho 
mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores. 
Duas figuras importantesna organização das tribos são o pajé e 
o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os 
 
2 AGOSTINHO, S. Disponível em: < https://www.pensador.com/frases_de_santo_agostinho/> acesso em: 
24/10/2018. 
https://www.pensador.com/frases_de_santo_agostinho/
16 
 
rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o 
curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar 
doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os 
deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O 
cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, 
pois organiza e orienta os índios. A educação indígena é bem 
interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, 
aprender desde pequenos e de forma prática. Costumam 
observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. 
Quando o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para 
que este aprender. Portanto a educação indígena é bem prática 
e vinculada a realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge 
os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia 
para ingressar na vida adulta. Cada nação indígena possuía 
crenças e rituais religiosos diferenciados. Porém, todas as tribos 
acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos 
antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, 
cerimônias e festas. O pajé era o responsável por transmitir 
estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos 
chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de 
cerâmica, onde além do cadáver ficavam os objetos pessoais. 
Isto mostra que estas tribos acreditavam numa vida após a 
morte3 
 
 
Em síntese, os índios brasileiros usam o xamanismo para se relacionar 
com o sagrado. Algumas pessoas na atualidade estão tentando resgatar essa 
cultura de respeito e dependência da natureza. O xamanismo, por ser uma das 
mais antigas formas de conexão do ser humano com o sagrado, se apresenta 
para a cultura indígena como um referencial que visa o reencontro do homem 
com os ensinamentos e fluxo da natureza e com seu próprio mundo interior. É 
através desses ensinamentos que os povos indígenas se relacionam com o 
sagrado, através da observação da natureza e de seus sinais: Sol, lua, terra, 
água, fogo, ar, animais, plantas, vento, ciclos, etc. Essa religião tem como guia 
espiritual, o xamã4. No contexto indígena brasileiro, o pajé corresponde à imagem 
 
3 RAMOS. Jeferson Machado. Índios do Brasil. Disponível em: < https://www.suapesquisa.com/indios/>. 
Acesso em: 03/04/2019. 
4 Xamã (do tungus siberiano "aquele que enxerga no escuro") é um portador de função religiosa, um 
sacerdote do xamanismo, que podem acessar outras dimensões, através de um estado extático e fazer 
contato com aliados (animais, vegetais, minerais) e espíritos ancestrais.[1] Este entra em estado transe 
ou êxtase durante rituais xamânicos, manifestando poderes sobrenaturais e invocação de espíritos da 
natureza, ocorrendo a incorporação em seu corpo. Este contato permite a recepção de orientações e 
ajudas dos espíritos para resolver situações que desafiam o ser humano e seus grupos sociais. 
Enciclopédia Eletrônica Wikipédia. Disponível em:< https://pt.wikipedia.org/wiki/Xam%C3%A3> Acesso 
em: 03/04/2019. 
https://www.suapesquisa.com/indios/
17 
 
do xamã siberiano. Esse sacerdote conhece profundamente de forma empírica a 
maioria das fórmulas de cura das doenças do corpo e da alma. É comum durante a 
pajelança o uso de instrumentos musicais característicos tais como: maracás, 
zunidores, entre outros, típicos do Brasil. O essencial são as técnicas de cura e as 
comunicações espirituais que estão sempre presentes nestes rituais. Um aspecto 
relevante é a preservação da natureza cultuada por essa infinidade dos povos 
indígenas existentes no Brasil, cujo relacionamento com o sagrado se apresenta de 
diferentes formas, que atuam na prática, por isso suas vidas são permeadas de 
valores religiosos. Entre eles não existem desigualdades, tudo é partilhado com o 
outro. De acordo com o professor Castro (2000 p. 7-8), estudioso da questão 
indígena junto ao grupo Arawté - Altamira - PA que apresenta aspectos da religião 
indígena: “Os europeus que chegaram ao Brasil no século XVI deixaram nas cartas 
missionárias uma frase que se tornou chavão na época”. Por isso assevera: 
 
 Os índios Tupinambás não têm fé, nem lei, nem rei. Isto porque, diziam 
os cronistas, não possuem o F, L, R no seu alfabeto. Prova disso, é 
que não conseguem pronunciar tais letras; numa das cartas jesuíticas 
de Manoel da Nóbrega, revelam-se dados curiosos: O povo daqui é 
como papel em branco, pode-se escrever o que quiser nele, porque 
não possui qualquer religião anterior. Ou seja, tudo o que se quiser 
ensinar será fácil, porque todos os obstáculos apresentados à 
conversão são apenas maus costumes, dizia Nóbrega. - Outra carta de 
Nóbrega dez anos depois: Na Índia é muito difícil converter a 
população, porque ela possui sacerdotes, pelos quais são capazes de 
morrer. Mas, uma vez convertida, ficará para sempre. No Brasil, ocorre 
o contrário. O índio é inconstante. Convencido de algo, hoje diz sim e 
amanhã, não, exatamente por não possuir ídolos. - Nóbrega escreveu 
outra carta reveladora, que diz assim: O essencial da religião é servir 
e adorar um Deus soberano. Como esse povo não serve nem adora 
ninguém, não pode -acreditar em nada (CASTRO, 2000, p.7-8). 
 
Por certo que na sociedade brasileira os modos de vida e religião desses 
povos causam certa estranheza. Muitas vezes o colonizador branco afirmava 
que os povos primitivos brasileiros não tinham deuses e sua religião era algo 
irracional e sem valor. O que não asseveravam é que os grupos indígenas 
sempre foram resistentes à conversão, porque para eles o que valia era a sua 
crença. Muitos estudos feitos apresentavam que tinham uma crença em um ser 
superior. Para eles, Deus -Tupã- se apresenta de diferentes maneiras e em toda 
a terra, eles sentem a presença do “Criador”. Apesar da grande diversidade de 
povos indígenas brasileiros eles tinham algo em comum: a inexistência de 
requisitos sociopolíticos da religião, dizendo de outro modo, para os índios de 
18 
 
forma geral, não existem verdades teológicas organizadas com reuniões e 
concílios, nem livro sagrado, porém, cada comunidade tem a liberdade de 
escolher a sua crença, sendo tudo transmitido e perpetuado através da 
oralidade. 
 
1.3- A ESPIRITUALIDADE AFRICANA. 
 
Uma das culturas religiosas mais desprezadas no Brasil certamente são 
as de matriz africana. Em primeiro lugar, a própria igreja católica romana via os 
povos africanos como um jumento de carga ou um cavalo, voltado apenas para 
o trabalho e, portanto, sem alma, escravizáveis e desprezíveis. Eram 
considerados uma raça inferior de seres que não eram considerados humanos. 
A despeito desse preconceito generalizado por parte dos colonizados 
portugueses, a sociedade brasileira sofreu diversas influências da cultura e 
espiritualidade africana como um todo. Apesar disso, os colonizadores europeus 
eram vistos como superiores, e os negros sofriam uma dupla agressividade em 
seus destinos. Em primeiro lugar a escravidão porque além de serem 
considerado uma raça inferior, por causa da cor, costumes e tradições católicas 
eles eram vilipendiados também na sua espiritualidade como povo maligno de 
rituais demoníacos e totalmente primitivos apesar disso resistindo e trazendo 
seus costumes do continente negro até o novo mundo. De acordo com que 
leciona sobre os Orixás migrantes: nadando da África para o Brasil: 
 
Os deuses tiveram que migrar juntamente com seus protegidos. 
Os povos africanos são um exemplo vivo desta „migração 
forçada ‟dos seres divinos. Não teriam suportado, resistido e 
reagido à infame escravidão em terra estrangeira sem o auxílio 
de seus fiéis orixás. [...], os orixás tiveram de dialogar com as 
cortes celestes estrangeiras e fazer algumas concessões. 
Primeiro tiveram que seentender com as divindades indígenas. 
[...], estavam todos no mesmo barco e isso deu à luz a riqueza 
das pajelanças e catimbós [...].(LOBO, 2000, p. 13). 
 
19 
 
Para a maioria desses povos, a vida e a religião eram uma coisa só, não 
havia separação entre vida sagrada e profana e não existiam ateus. A divindade 
maior era chamada de Olorum, o qual entrega uma série de características aos 
seus admiradores e que também veneram esse ser supremo, como um ser de 
bondade e clemência. Por outro lado, esse Ser para eles também é capaz de 
mostrar a sua ira, mandando catástrofes e inundações, eliminando assim muitas 
vidas. Seus cultos estão ligados aos seus antepassados e às suas divindades. 
 
Nas tradições religiosas afro-brasileiras, o ser humano é 
dimensionado como parte integrante desta totalidade 
cosmológica. Homem-Orixá-Deus criador integram esta 
totalidade divina. Apesar da cristianização e ocidentalização, 
imposta a eles, essa cultura ainda surpreende enquanto religião 
tradicional, devido o apego à terra dos seus antepassados. Isso 
é uma inquietação para essas pessoas, quando têm como 
modelo cultural religioso a sua religião (LOBO, 2000, p. 7) 
 
 
No início da chegada dos africanos ao Brasil tudo era bem difícil pois 
tinham que adaptar seus ritos aos Santos Católicos. De tanto resistirem os 
negros conseguiram algo importante que foi o sincretismo religioso. Com o 
surgimento do sincretismo religioso em que os escravos eram obrigados pelos 
jesuítas a adorarem as imagens dos santos, no imaginário deles faziam isso 
pensando em seus orixás, eles queriam a todo custo confundir os ritos católicos 
no intuito de resgatar o misticismo da sua própria cultura e o contato com a 
natureza era a forma que podiam se comunicar com suas divindades. Ainda 
existe nos dias de hoje resquícios do cristianismo em relação aos santos em 
muitos terreiros. De qualquer forma este sincretismo religioso, envolvendo estas 
três culturas: Cristianismo católico, Indígenas e africanas, que cultuam o seu 
sagrado de forma diferente, até hoje perdura não só nos rituais, mas em toda a 
tradição cultural brasileira. Em seu artigo Botas define quem é Deus para os 
africanos: 
 
20 
 
Deus é a força vital – o axé – que organiza e integra o homem e 
o mundo além das aparências. Não existe uma separação como 
no catolicismo, entre terra e céu. Existe o mundo visível – ayé – 
e o mundo invisível – orún. Por isto o Deus africano não é 
somente transcendente, mas imanente, pois está sempre 
presente na vida cotidiana. Ele não é um Deus puramente lógico 
ou racional, mas é o Deus do coração. É ativo, pai e mãe, é o 
Deus da vida. Não é um Deus abstrato e distante. É concreto, 
real e existente no seio da família e da comunidade. O Deus 
africano é um ser social, interessado na tensão cotidiana, na 
frustração, na desilusão e na bênção (BOTAS, 2002, p. 14). 
 
 É interessante conhecer um pouco sobre o fenômeno religioso dessas 
culturas tão importantes, mas oprimidas e excluídas até hoje da sociedade 
brasileira por isso mesmo se faz tão importante que esse conteúdo também seja 
disponibilizado em sala de aula, pois esses povos muito contribuíram na 
formação do povo brasileiro. 
 
 
1.4- A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ ROMANA. 
 
A tradição religiosa cristã, introduzida no Brasil pelos portugueses com o 
fundamental auxílio dos padres jesuítas, foi a predominante no País até os dias 
atuais. Tendo como precursor Jesus de Nazaré que foi o ungido de Deus para a 
salvação do Homem eis o significado da palavra Cristo (ungido). O Cristianismo 
católico romano define Deus em Jesus Cristo, que subsiste em três pessoas 
Deus Pai, Deus Filho, e Deus Espírito Santo. Esse dogma é chamado de 
Santíssima Trindade. Além disso a Igreja Romana ensina que certas pessoas 
com vidas retas diante de Deus intercedem por nós nos céus como a Mãe de 
Jesus, Maria, O Pai José e diversos outros que comumente são chamados de 
santos e adorados em diversos altares espalhados pelo panteão católico no 
mundo. De acordo com o Livro Sagrado chamado Bíblia, há uma vida além da 
morte que se chama ressurreição e um lugar de bem-aventurança chamado 
paraíso bem como um lugar de castigo eterno chamado inferno. Por mais de dois 
séculos essa religião foi discriminada pelos romanos, vista como uma religião de 
pobres, fracassados e escravos, não se deve perder de vista que Jesus morreu 
21 
 
em uma cruz algo que era totalmente vergonhoso e ultrajante tanto para Judeus 
como para Romanos pois era determinada esse tipo de pena aos piores 
salteadores da época. Os cristãos reuniam-se às escondidas semanalmente 
para partilhar a Palavra de Deus, pois não tinham sacerdotes, altares, cultos e 
templos sagrados. Só bem mais tarde é que foram introduzidos elementos 
estranhos ao cristianismo graças a suposta conversão do Imperador Constantino 
que ordenou que todos os súditos deveriam ser cristãos sob pena de serem 
mortos. os termos: diocese, mitra, cúria, província, Eclésia, bispos, entre outros, 
eram trazidos do Império Romano dando sinais de um cristianismo de Estado 
chamado católico romano. 
 
Nos dias atuais existem três divisões do Cristianismo: Protestantismo, 
Catolicismo e Igreja Ortodoxa. Em razão disso, existem, também, díspares 
entendimentos e aspectos em cada um deles. Todavia, de forma geral, pode-se 
afirmar que os adeptos do cristianismo creem na existência de um Deus, criador 
do universo; de Jesus Cristo, elemento essencial da religião, estimado como 
redentor da humanidade; e da vida após a morte. 
 
O Catolicismo Romano, foi se renovando com o passar dos séculos e hoje 
em dia sugiram movimentos espirituais de renovação carismática, movimentos 
que chegam bem perto do povo, falando a sua linguagem, entoando hinos que 
falam de um Deus que cura e que mexe com a emoção do povo. Esse mesmo 
Deus dá emprego e restaura a saúde. 
 
Em geral o homem perdeu o élan de sua autorrealização, ficando 
condicionado à onda da moda. Tornou-se um ser determinado, 
quer biologicamente, de acordo com os darwinistas; quer 
psicologicamente, conforme os freudianos; quer 
economicamente, segundo os marxistas; quer tecnicamente, de 
acordo com a filosofia de produção-consumo [...] é preciso que 
a sabedoria dos antigos helênicos volte a orientar o homem da 
técnica, perdido nos meandros das fugacidades temporais. O 
homem como ser livre se rege por leis morais, que para Deus 
são eternas e invioláveis, mas que para o homem podem ser 
22 
 
violadas, apesar de causarem a sua desgraça como também a 
desordem no universo criado”. (ARESI, 1980, p.21,25). 
 
 
Diante do exposto, pode-se perceber que o Brasil é um misto de 
entendimentos religiosos que não pode ficar de fora também da sala de aula 
todos eles sem exceção são importantes para o entendimento do povo Brasileiro 
sua formação crenças e cultura como um todo. 
2. HISTÓRICO RESUMIDO DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL. 
 
2.1- O ENSINO RELIGIOSO DO DESCOBRIMENTO AO 
IMPÉRIO. 
 
Nos tempos do descobrimento do Brasil a preocupação central do reino 
português era a catequização e conversão do novo mundo à fé católica com suas 
tradições e “civilidade” trazidas da Europa. Os costumes e a religião do povo não 
eram respeitados ou vistos com bons olhos a hegemonia eurocêntrica se fazia 
presente, vejamos o que diz Sangenis: 
 
os jesuítas empreenderam no Brasil uma significativa obra 
missionária e evangelizadora, especialmente fazendo uso de 
novas metodologias, das quais a educação escolar foi uma das 
mais poderosas e eficazes. Em matéria de educação escolar, os 
jesuítas souberam construir a sua hegemonia. Não apenas 
organizaram uma ampla ‘rede’ de escolas elementares e 
colégios como o fizeram de modo muito organizado e contando 
com um projeto pedagógico uniforme e bem planejado, sendo o 
Ratio Studiorum a sua expressão máxima (SANGENIS, 2004, p. 
93). 
 
A criação de um novo mundo católico no formato dasociedade portuguesa 
da época era um dos principais objetivos do colonizador português, uma tarefa 
difícil, mas fundamental para constituição da sociedade ensejada. 
23 
 
 
As Constituições Primeiras produzidas pelo arcebispado da Bahia foram 
uma documentação legal e moral como é informado por Casimiro: 
 
no início do século XVIII, refletindo a teologia moral em vigor e 
sintetizando as ideologias religiosas reinantes, surgiram, no 
Brasil, as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, 
publicadas em 1707, pela Igreja Católica (...) Esta obra traduzia, 
de forma muito fiel, as tendências teológicas daquele momento 
específico, bem como normatizava a prática religiosa, 
detalhadamente, para uma sociedade específica, que era a 
sociedade colonial.5 
 
Dentre outras coisas obrigações estava previsto o encargo dos 
proprietários de escravos sobre o cuidado com a formação religiosa deles: 
 
Segundo o entendimento do Padre Benci, as Constituições 
Primeiras consideravam que o cumprimento dos deveres 
cristãos dos escravos era uma responsabilidade dos seus 
senhores. Como os pais de família tinham obrigações religiosas 
com os filhos que dependiam deles, da mesma forma os 
Senhores as tinham com os escravos (n.4). As obrigações 
religiosas fundamentais dos senhores para com os escravos 
eram duas: ensinar-lhes a doutrina cristã e cuidar da 
administração dos sacramentos em especial o batismo. 
Também se esperava, que como cristãos, os senhores 
respeitassem o casamento dos escravos, corrigissem as 
mancebias que estes praticavam e os fizessem assistir à missa 
aos domingos. Além disso, os senhores ficavam obrigados a dar 
aos escravos um enterro decoroso em lugar sagrado. 6 
 
A função designada aos sacerdotes era a de ensinar a doutrina católica 
aos escravos e aos garotos. Aqui não que se falar em ensino religioso como 
disciplina, mas apenas como um curso de formação do caráter religioso da 
 
5 CASIMIRO, Ana Palmira Bittencourt Santos. CONSTITUIÇÕES PRIMEIRAS DO ARCEBISPADO DA BAHIA: 
Educação, Lei, Ordem e Justiça no Brasil Colonial. Disponível em: < 
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/44753> Acesso: 19/10/2018. 
6 LONDONO, Fernando Torres. As Constituições do Arcebispado da Bahia de 1707 e 
a presença da escravidão. Disponível em: < https://tinyurl.com/y5djhx87 > Acesso: 09/01/2019. 
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/44753
https://tinyurl.com/y5djhx87
24 
 
época. Aos meninos eram dirigidos e ensinados a leitura e a escrita por meio de 
textos sagrados e acontecia a alfabetização e a doutrinação simultaneamente. 
Letras e matemática era a temática da época mesclado ao ensino religioso 
católico. Deve-se lembrar que no período o rei era o representante da Igreja no 
Brasil podendo até nomear bispos e pagava o salário do clero. 
 
 A segunda documentação de destaque advém do Código de Direito 
Canônico, o qual assevera que toda a formação religiosa dos moços, em 
qualquer escola, está sujeita à ordem e verificação eclesiásticas. A educação era 
comandada e monopolizada pela Santa Sé, que detinha todas as instituições de 
ensino da época. 
 
Durante o império do Brasil, a Constituição de 1824 declarava em seu 
artigo 5º que a Igreja Católica Apostólica Romana era a religião oficial do Império 
e devido a essa união nas escolas públicas nacionais se refletia no seu ensino 
religioso. A união entre os dois era tamanha que houve quem afiançasse ser a 
Santa Sé apenas um apêndice da administração civil (JUNQUEIRA, 2004, p. 28) 
 
Em 1827 Dom Pedro I estabelece um decreto que determina a criação de 
escolas em todos os municípios, cidades e lugares mais populosos do país. Em 
seu artigo 6º estabelecia que: 
“Os Professores ensinarão a ler, escrever as quatro operações 
de arithmetica, pratica de quebrados, decimaes e proporções, as 
nações mais geraes de geometria pratica, a grammatica da 
lingua nacional, e os principios de moral chritã e da doutrina da 
religião catholica e apostolica romana, proporcionandos á 
comprehensão dos meninos; preferindo para as leituras a 
Cosntituição do Imperio e a História do Brazil.”7 
 
 
7 BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. Disponível em< https://tinyurl.com/yxftuhax > acesso: 
10/02/2019. 
https://tinyurl.com/yxftuhax
25 
 
No final do século XIX o ER começou a ser retirado das escolas públicas 
nacionais em seu lugar foi instituído a disciplina de moral e cívica, outro ponto 
importante foi a liberação daqueles que professavam outras religiões não serem 
constrangidos mais a assistir aulas do ensino religioso romano. A disciplina de 
Moral e Cívica serviria para difundir às novas gerações valores republicanos e 
virtudes cívicas. Seus maiores incentivadores são os maçons com a tentativa de 
início de uma nova religião agora uma religião cívica, alicerçada na razão e no 
culto ao progresso científico apregoado pelo positivista August Comte. Cada vez 
essa disciplina se agiganta nos primeiros momentos do regime republicano 
formando a moderna identidade nacional desejosa de ser totalmente apartada 
da Igreja. 
 
2.2 - O ENSINO RELIGIOSO APÓS A PROCLAMAÇÃO DA 
REPÚBLICA. 
 
Em 1889 proclamou-se a República no Brasil e a parceria da Igreja com 
o Estado terminou. Em 7 de Janeiro de 1890 a Igreja é afastada do Estado em 
decorrência da sua laicização que foi confirmada com a constituição de 1891. 
Vários itens que à época necessitavam da Igreja se secularizaram tais como: 
Casamento, Cemitérios, Certidões de Nascimento etc. O ER foi retirado de vez 
das escolas públicas em nome da laicidade do ensino. Segundo Figueiredo: 
 
Com a mudança do regime monárquico para o republicano, 
desarticula-se o que parecia imóvel, abala-se o que se 
considerava permanente por de curso de tempo, interrompe-se 
o que sempre se concebia contínuo por força dos costumes 
vigentes. [...] No entanto, tais conflitos permanecem até os dias 
atuais. Com outras palavras, tem início e continuidade um 
movimento que acontece ao mesmo tempo em que o Estado 
Republicano é instalado e cujo regime continua em pleno vigor, 
com as mesmas características. Tal movimento é intensificado 
nos momentos de elaboração, promulgação, implementação e 
implantação das sucessivas Cartas Magnas e Leis 
regulamentares [...] (FIGUEIREDO,2005, p.61). 
 
26 
 
Os positivistas e os liberais defendiam a separação total entre a religião e 
o Estado e entre o poder temporal e o poder espiritual. Como pode ser visto na 
constituição de 1891: 
 
Isso posto, em relação ao aspecto religioso, a Constituição de 
1891 apresentava as seguintes características: a) vedava aos 
estados e à União estabelecer, subvencionar, ou embaraçar o 
exercício de cultos religiosos (art.11, n.2); b) vedava o 
alistamento eleitoral (aos pleitos federais e estaduais) dos 
religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações, ou 
comunidades de qualquer denominação sujeitas a voto de 
obediência, regra ou estatuto, que importe renúncia da liberdade 
individual (art.70, n.4); c) assegurava a liberdade religiosa a 
todos os indivíduos e confissões, que poderiam exercer pública 
e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e 
adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum 
(art.72, n.3); d) dispunha que a República reconheceria apenas 
o casamento civil, cuja celebração seria gratuita (art.72, n.4); e) 
determinava a secularização dos cemitérios, que viriam a ser 
administrados pela autoridade municipal, ficando livre a todos os 
cultos religiosos a prática dos respectivos ritos em relação aos 
crentes, desde que esses não ofendessem a moral pública ou 
as leis (art.72, n.5); f) dispunha que o ensino ministrado nos 
estabelecimentos públicos deveria ser leigo (art.72, n.6); g) 
estabelecia que nenhum culto ou igreja gozaria de subvenção 
oficial, nem teria relações de dependência ou aliança com o 
governo da União, ou o dos estados (art.72, n.7); h) assegurava 
que, pormotivo de crença ou função religiosa, nenhum cidadão 
brasileiro poderia ser privado de seus direitos civis e políticos, 
nem eximir-se do cumprimento de qualquer dever cívico (art.72, 
n.28); i) dispunha que os que alegassem motivo de crença com 
o fim de se isentarem de qualquer ônus que as leis da República 
impusessem aos cidadãos perderiam todos os direitos políticos 
(art.72, n.29) (LEITE, 2011, p.40). 
 
Obviamente houve reação da Igreja Católica à essa secularização sob a 
liderança de alguns bispos brasileiros tais como D. Sebastião Leme, D. João 
Becker e D. Vicente Scherer e de intelectuais católicos, Pe. Leonel Franca, Mario 
de Lima, Alceu Amoroso Lima de viés conservadores que desejavam promover 
a diferença do poder espiritual do temporal mas não sua total ruptura, ou seja 
eram contra total afastamento do Estado e da Igreja. Nesse sentido, a liderança 
mencionada acima entendia que a Igreja deveria comandar o poder espiritual e 
tudo aquilo que se relaciona com as questões espirituais e sobrenaturais. Já o 
27 
 
poder temporal deveria se preocupar com as questões naturais e de ordem 
política e social. Ambos os poderes tinham suas responsabilidades e 
competências específicas, mas deveriam viver em clima de harmonia e aliança. 
O eminente Rui Barbosa, no entanto, fazia a defesa de uma escola laica sob 
controle do Estado. Para esse idealista, não caberia à escola ensinar o ER. 
Contudo, este poderia ser oferecido por representantes das várias crenças, mas 
fora do horário regular, sem qualquer conexão com o currículo oficial. Com ideais 
positivistas, optava por uma educação liberal. Durante um bom período o E.R. 
foi eliminado das escolas. 
 
 
Para os republicanos o que deveria prevalecer era a formação da razão 
ou a formação do pluralismo de ideias, desde que sejam ideias científicas, 
racionais e comprováveis. Nesse viés ideológico, defende-se a "laicidade" da 
escola pública a partir da ideal de separação total entre a religião e a coisa 
pública. Para os defensores do cancelamento do total das aulas de E.R. diziam 
que a escola é o lugar da ciência e dos saberes racionais e comprováveis. Infere-
se, que os saberes racionais ou comprováveis são saberes que respeitam a 
liberdade e a pluralidade ou pluralismo de ideias. Os saberes sobre a religião 
e/ou da religião, por sua vez, promovem intolerância e deveriam ser tratados no 
âmbito privado ou a partir de outras disciplinas escolares sempre de forma 
superficial e acessória. 
 
Para os bispos do Brasil, o ideal de uma escola laica, pública, neutra e 
indiferente à religião era uma maneira de acabar com o cristianismo na 
sociedade brasileira formando ateus e impenitentes. Não era razoável para eles 
que a maior religião do Brasil, o catolicismo, não fizesse parte do ensino nas 
escolas públicas. Dessa forma, as crianças e adolescentes não necessitavam de 
uma mera educação laica e sim de uma educação religiosa católica para formar 
a alma, para moldar o caráter cristão e sua personalidade de acordo com os 
princípios do bom fiel católico. 
28 
 
 
Durante o período da revolução de 1930, o governo provisório de Getúlio 
Vargas aprova uma série de medidas na seara educacional, cria o Ministério da 
Educação e Saúde Pública, (hoje o MEC), o ER volta nas escolas públicas 
primárias, secundárias e normais do país, sendo inicialmente admitido em 
caráter facultativo através do Decreto nº 19.941 de 30 de abril de 1931, por conta 
da concretização da Reforma Francisco Campos. Este reorganizou ainda o 
ensino secundário e oficializou os currículos nas escolas oficiais. 
 
Em 1934, entrou a Carta Magna, normatizou o ensino religioso no seu 
artigo 153 que define: “O ensino religioso será de frequência facultativa e 
ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno 
manifestada pelos pais ou responsáveis e constituirá matéria dos horários nas 
escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais.” (BRASIL, 
1934). Já em 1946 a nova constituição afirma sobre o Ensino Religioso: “O 
ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de 
matrícula facultativa e será ministrado de acordo com a confissão religiosa do 
aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou 
responsável.” (BRASIL, 1946). 
 
Por fim, pode-se destacar no processo de redemocratização do Brasil em 
1988, a Assembleia Constituinte aprovou no artigo 210, parágrafo primeiro que: 
“O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários 
normais das escolas públicas de ensino fundamental”. O artigo 5º define que: “é 
inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre 
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais 
de culto e a suas liturgias”. No artigo 19 verifica-se: 
 
É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, 
subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter 
com eles ou seus representantes relações de dependência ou 
29 
 
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse 
público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar 
distinções entre brasileiros ou preferências entre si. (BRASIL, 
1988). 
 
Claramente fica exposto diante da aprovação desse artigo a atuação 
vencedora dos defensores do ensino religioso foi vitoriosa em face dos que 
defendiam a educação laica nas escolas públicas do país. Basta articular que a 
emenda popular favorável à laicidade recebeu somente 280 mil assinaturas, 
todavia o apoio à manutenção do ensino religioso nas escolas públicas teve a 
maioria indiscutível de 800 mil assinaturas. Contudo, o posicionamento da 
constituição recebe fortes críticas ainda hoje por parte da Igreja Católica como 
expõe o Cônego Carlos Antônio da Silva: 
 
[...] A Constituição fala sobre a educação religiosa, como um 
direito do cidadão. Educação religiosa é sempre confessional, 
não existe uma religião aconfessional. [...] seria transmitir um 
ensino religioso que servisse para qualquer religião. Isso não 
existe. O ensino religioso por natureza é confessional. Impor um 
ensino aconfessional é um absurdo, isso que estaria ofendendo 
a constituição. Os fiéis católicos que desejarem (porque é 
facultativo) que seus filhos tenham educação católica têm o 
direito de que os filhos tenham esta disciplina. Então, não será 
imposto um ensino católico para as pessoas de outras crenças 
e, nem mesmo, para quem é católico e não queira que os filhos 
a estudem. Evidentemente não irá se ensinar religião católica 
para alunos que não sejam católicos. Então, que os evangélicos 
tenham educação evangélica, que os espíritas tenham 
educação espírita, que os budistas tenham educação budista. 
Mas os católicos têm o direito de ter educação católica. É um 
artigo perfeitamente lógico, perfeitamente jurídico e não fere, em 
nada, a Constituição, muito pelo contrário, quem está querendo 
impor um ensino religioso aconfessional é que está ofendendo a 
constituição. Porque está querendo impor um ensino religioso 
que não combina e não serve para a sensibilidade religiosa 
católica e nem evangélica.8 
 
 
 
8 SILVA, Carlos Antonio. Entenda passo a passo o Acordo entre Brasil e Santa Sé. Entrevista concedida à 
Canção Nova em 19 de agosto de 2009, 13h57. Disponível em <http://www.noticias.cancaonova.com> 
Acesso: 09/09/2019. 
30 
 
3. O ENSINO RELIGIOSO ESCOLAR NO CONTEXTO DO 
BRASIL PÓS-MODERNO. 
 
Em um mundo capitalista, cada vez mais acelerado, tomado por tecnologia 
por todos os lados e com certezas se dissolvendo a cada minuto, fica patente a 
necessidade de mudança como afirma em seu Leite em seu discurso: 
 
A liquefação da modernidade transforma-se no período histórico 
também chamado de pós-modernidade. A modernidade 
demonstrava as promessas estáveis, sólidas e que se tornaram 
líquidas.Havia um projeto de vida elaborado pela razão 
instrumental que aos poucos foi se saturando e, passa a 
demandar por outras viabilidades de conveniência (...) Bauman 
com acerto chamou a Ética na Pós-Modernidade como a “Era da 
Moral”. O referido fundamento nuclear dos fenômenos éticos 
não consegue ser exaurido dentro de normas precisas 
calculáveis. A moral, para Bauman, não pode ser demonstrada 
tampouco logicamente deduzida. Moral é categoria contingente, 
ambivalente e incontível. É a única autoridade capaz de orientar 
os seres humanos para compreensão de si, pois flui na incerteza 
do desejo. Bauman advertiu conforme in litteris: “Se não houver 
essa força e essa autoridade, os seres humanos estarão 
abandonados ao seu próprio juízo e à sua própria vontade. E, 
estes, como os filósofos argumentam e os pregadores tentam 
fazer com que as pessoas entendam, e podem dar à luz apenas 
o pecado e o mal; como os teólogos nos explicaram de forma 
convincente, não se pode confiar neles para produzir com 
comportamento correto ou fazer passar um julgamento correto. 
Não pode haver algo como uma “moral eticamente infundada”, e 
uma moralidade autofundada é, gritante e deploravelmente, algo 
infundado do ponto de vista ético. De uma coisa podemos ter 
certeza: não importa quanta moralidade haja ou possa haver 
numa sociedade que tenha reconhecido estar sem chão, sem 
propósito e diante do abismo atravessado apenas por uma frágil 
prancha feita por convenções, ela pode apenas ser uma moral 
eticamente infundada. Como tal, é e continuará a ser 
incontrolável, imprevisível. Ela se constrói da mesma maneira 
pode se demonstrar e se reconstruir de outra forma no curso da 
sociabilidade (...).”9 
 
 
A mudança de paradigmas também se impõe na educação em geral e mais 
especificamente no Ensino Religioso, porque o cenário religioso também passa 
por modificações e o modelo confessional se depara com dificuldades para se 
 
9 LEITE, Gisele. A ética e moral na pós-modernidade. Disponível em < 
https://www.jornaljurid.com.br/colunas/gisele-leite/a-etica-e-moral-na-pos-modernidade> acesso: 
01/10/2019. 
https://www.jornaljurid.com.br/colunas/gisele-leite/a-etica-e-moral-na-pos-modernidade
31 
 
manter. A religião sempre existiu na história do ser humano, não existe povo, por 
mais primitivo que seja, ateu. A religião é algo constante na raça humana e a 
busca pelo transcendente é algo de foro íntimo, portanto o E.R. deve ser 
incentivado também no ambiente escolar com o devido cuidado para que não 
haja favorecimento de religião alguma ou qualquer tipo de proselitismo. O Ensino 
Religioso deve ser abordado com um viés pedagógico e científico do fenômeno 
religioso. Esse modelo é interessante porque propõe uma educação para a 
cidadania, para o saber lidar com as diferenças crenças, está embasado e 
fundamentado no campo das ciências. 
 
Outro aspecto a ser considerado para o E.R. é a rica produção cultural e 
religiosa da sociedade brasileira. A escola deve ministrar ao aluno o 
conhecimento do fenômeno religioso, os seus componentes sociológicos, 
históricos e epistemológicos, a fim de promover o desenvolvimento do educando 
enquanto pessoa, por intermédio de valores e atitudes presentes nas várias 
tradições religiosas, favorecendo assim o entendimento e a reverência à 
diversidade cultural. Com vistas para que se evite, no futuro, cenas deploráveis 
como a de um pastor chutando uma santa em rede nacional.10 Deve-se sempre 
ter em mente que o ER de contínuo foi muito mais do que aparenta, um dos 
objetivos do ER é: “proporcionar o conhecimento dos elementos básicos que 
compõem o fenômeno religioso, a partir das experiências religiosas percebidas 
no contexto do educando”11. 
 
Culturas e Tradições religiosas; Historicidade das religiões; Escrituras 
Sagradas; Teologias Comparadas; Ritos devem ser englobados no currículo do 
ER. Cabe frisar que há ainda liberdade da escola e do professor em tratar outros 
assuntos incluídos como importantes no procedimento de desenvolvimento dos 
discentes. Nesse viés de pensamento, o Ensino Religioso deve alcançar, na sala 
de aula, conteúdos que adaptem ao educando a constituição de interações e 
 
10 Notícia. Revista virtual Fórum. Disponível em: <https://revistaforum.com.br/politica/23-anos-apos-
chutar-imagem-de-nossa-senhora-bispo-faz-discurso-inflamado-pro-bolsonaro-diz-que-pt-e-o-diabo/> 
acesso: 20/08/2019. 
11 PCNER.Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso, (1997). Documento elaborado por 
educadores de diversas crenças religiosas, contendo as diretrizes curriculares que norteiam o ER nas 
escolas públicas brasileiras. (FONAPER). 
https://revistaforum.com.br/politica/23-anos-apos-chutar-imagem-de-nossa-senhora-bispo-faz-discurso-inflamado-pro-bolsonaro-diz-que-pt-e-o-diabo/
https://revistaforum.com.br/politica/23-anos-apos-chutar-imagem-de-nossa-senhora-bispo-faz-discurso-inflamado-pro-bolsonaro-diz-que-pt-e-o-diabo/
32 
 
afinidades entre os saberes que traz do seu cotidiano e os conhecimentos e 
vivências religiosas dos seus pares na escola, e somando-se a isso os 
conhecimentos impressos pela instituição de ensino, oferecendo ao aluno a 
edificação do seu saber religioso por meio da observação e reflexão, atrelado ao 
seu exercício adquirido no colégio. 
 
A indagação existencial, a investigação do sentido da vida e a sensibilidade 
para o sagrado deve ser proporcionado também dentro da atmosfera escolar. E 
por meio do estudo da religião, da reflexão e do acúmulo de conhecimento, o 
educando forjará a sua intelectualidade na diversidade cultural da sala de aula, 
ao mesmo tempo em que será instruído para a aquiescência das diferenças, 
aperfeiçoando pessoas com massa crítica, desprovidas de intolerâncias 
religiosas e receptivas ao debate e a alteridade. 
 
É importante destacar até que os PCNER12, quando tratam das suas 
diretrizes, fazem uma abordagem sobre os conteúdos deste componente 
curricular, conduzido pelos eixos temáticos. É papel do docente trabalhar junto 
aos discentes o aprendizado, mesmo que superficial, das culturas e tradições 
religiosas, sem distinção. Precisa-se ainda entender que a definição de 
Educação é um conceito aberto, dessa forma ela é concebida como um modo 
de aumento das capacidades intelectual, moral, física e de socialização. Olhando 
por esse prisma, a educação religiosa ocorre em todo o tempo, em qualquer 
etapa da vida do ser humano, pois no convívio em sociedade todos estão 
constantemente sujeitos a vários pontos de conexão com as distintas religiões. 
E por mais que a sociedade seja “líquida” o homem nunca deixará de buscar o 
transcendente como afirma Amaral: 
 
o ser humano é transcendente por natureza e nem mesmo o 
pragmatismo e o ceticismo instalados na cultura ocidental 
podem desconsiderar as bases da crença e da religiosidade 
imanentes ao humano. Portanto, o fenômeno religioso se impõe 
como um aspecto indissociável da vida humana, cujo estudo não 
pode ficar fora da escola. (AMARAL, 2010, p. 44) 
 
12 Ibidem. 
33 
 
 
 
Para efetividade do E.R. e sua urgente implementação como algo 
indispensável é necessário que se destaque suas diversas contribuições aos 
educandos cooperando para a sua formação integral. por exemplo, pode-se 
afirmar que o Ensino Religioso afasta o ser humano da barbárie; ele também 
serve como um instrumento para a constituição da cidadania, além disso pode 
ser um fomentador da cultura de paz e da solidariedade, pode-se destacar ainda 
que o E.R. promove no ambiente escolar um espaço para se relacionar com o 
próximo, refletir e através das pequenas atitudes do dia a dia se aproximar do 
sagrado ou do transcendente. O ser humano reduzido a mecanismos técnicos e 
biológicos, é o humano que se perde na "selva de pedras" (MAGRI, 2010, p. 11), 
pode-se citar ainda que outro benefício do Ensino Religioso atualmente é dar um 
sentido para a vida ou para a morte e assim por diante. Nesse mesmodiapasão 
duas mensagens ficam evidentes: 1) o ser humano é aberto ao transcendente 
desde os primórdios e busca um sentido para a vida, 2) o ser humano forma-se 
para a cidadania, paz, solidariedade por meio do Ensino Religioso. É necessário 
fique claro que, todo ser humano é um ser religioso, porque ele tem consciência 
que, foram criados por alguém, e existe uma causa maior que o criou. Para 
Oliveira (2009, p. 74) “(...) o indivíduo acredita vivamente que Deus existe”. O 
indivíduo sente a necessidade de reverenciar, respeitar, adorar, ou obedecer 
cumprindo alguns ritos, para sustentar a sua crença, isso denominamos religião, 
que é o ato de tentar aproximar-se de um ser superior, é a tentativa de relacionar 
com o transcendente. A enciclopédia de Champlin descreve religião dizendo 
que: 
 
 
A palavra Religião vem o latim, religare, “religar”, “Atar”. A 
aplicação dessa palavra é a idéia de que certos poderes 
sobrenaturais podem exercer autoridade sobre os homens, 
exigindo que eles façam certas coisas e evitem outras, forçando-
os a cumprir ritos, sustentar crenças e seguir algum curso 
específico de ação.13 
 
 
13 CHAMPLIN. R.N. ENCICLOPÉDIA DE BÍBLIA TEOLOGIA E FILOSOFIA, VOLUME 5, São Paulo: Editora 
Hagnos. 2012, p. 637 
34 
 
De acordo com esse discurso, seria esse o projeto de humanidade que o 
Ensino Religioso procura instruir, por meio da "formação integral do aluno" corpo 
e alma. Entende-se, portanto, que os dois enunciados fazem parte do mesmo 
discurso na medida em que a assim chamada "formação integral do aluno" é o 
campo associado utilizado como referência. Em resumo a busca pelo 
transcendente é algo inerente aos homens e dá sentido tanto da morte quanto 
da vida aproximando-o do sagrando, além disso, contribui fortemente para a 
formação da cidadania e construção de uma sociedade de paz e fraternidade. 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Nesse trabalho, verificaram-se, de forma sucinta, alguns tópicos relevantes 
correspondentes ao ensino religioso na educação brasileira, utilizando pesquisa 
de contextualização histórica. O início da educação religiosa no Brasil colonial 
se deu com a catequização do índio e este evento histórico influenciou na religião 
do povo, refletindo também um fenômeno social mais amplo. Para que isso fosse 
melhor interpretado foi necessário a incursão por cada cultura religiosa e sua 
efetiva contribuição para formação do povo brasileiro. 
 
Mais tarde, a cisão religião e Estado (entre o poder espiritual e o poder 
temporal) foram observadas como fator de progresso para o país, uma nova 
religião pautada na ciência era o tema central da época. Depois de muitas idas 
e vindas históricas ficou provado que é imprescindível a prática do ensino 
religioso nas escolas. 
 
No tocante ao debate sobre religião, entende-se que a mesma pode ser 
estudada mais eficazmente como temática transversal por todas as Ciências 
Humanas e suas Tecnologias e Filosofias, Portanto, o objetivo principal aqui é 
promover e incentivar a sua evolução, desde que ela se faça de uma forma 
científica e com um objeto de estudo específico como as demais ciências 
escolares. Por fim, apesar de ser uma ciência o E.R. também influencia de forma 
positiva na formação integral do promovendo o afastamento da barbárie e a 
construção de uma cultura de paz e tolerância. 
35 
 
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