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A GUERRA SECRETA ESPIÕES, CÓDIGOS E GUERRILHAS UMA ANÁLISE GLOBAL DAS NARRATIVAS DE ESPIONAGEM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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Prévia do material em texto

ISBN 978-989-8849-38-0
História
A GUERRA
SECRETA
ESPIÕES, CÓDIGOS E GUERRILHAS
1939–1945
«Um monumental 
novo trabalho.»
The New York Times
O aclamado jornalista e historiador • Bestseller internacional
A GUERRA SECRETA
«Pleno de autoridade, entusiasmante e notavelmente 
bem escrito.»
�e Telegraph
«O Sr. Hastings volta a ser o melhor. Depois de um 
quarto de século a criticar livros sobre serviços secre-
tos, A Guerra Secreta é o mais importante.»
�e Washington Times
«O melhor livro acerca do papel dos serviços de infor-
mações na Segunda Guerra Mundial.»
Sunday Times
«Este livro é altamente recomendado enquanto visão 
completa e panorâmica sobre o mundo da espionagem 
e os serviços secretos na Segunda Guerra Mundial, 
algo que há muito faltava na historiogra�a deste con-
�ito.»
New York Journal of Books
Os espiões, os códigos e as guerrilhas tiveram um papel central na Segunda Guerra 
Mundial. Foram usados por todas as nações para obter informação secreta sobre os 
seus inimigos e antecipar movimentações, tendo in�uenciado decisivamente o con�i-
to. Em A Guerra Secreta, Max Hastings, historiador especialista neste período e autor 
dos aclamados Catástrofe e Inferno, apresenta as mais extraordinárias sagas de infor-
mação e resistência, avaliando os verdadeiros triunfos dos espiões e dos decifradores de 
códigos e corrigindo mitos e falsas histórias, naquela que é uma nova perspetiva acerca 
do maior con�ito de sempre.
Hastings explora não só Alan Turing e os génios da encriptação de Bletchley Park, 
mas também os seus homólogos alemães, que obtiveram os seus próprios triunfos 
contra os Aliados. O livro mapeia as extraordinárias redes de espionagem da União 
Soviética, dos Estados Unidos, do Japão e da Grã-Bretanha e tenta compreender 
porque Stalin rejeitava tão frequentemente a informação recolhida pelos seus agentes 
desde o coração da máquina de guerra do Eixo.
Relacionando momentos fulcrais de batalhas no ar, em terra e no mar com o trabalho 
dos que, a partir dos seus países, combatiam a tecnologia do inimigo, Hastings desven-
da os documentos mais preciosos e os momentos-chave nesta guerra secreta, que 
garantiram que nenhuma nação desse por mal empregues as vidas e recursos gastos em 
busca de informação privilegiada. 
Um livro que expõe tudo sobre os serviços de informação dos Aliados e do Eixo, 
obrigatório para todos os interessados na Segunda Guerra Mundial
9 789898 849380
Sir Max Hastings é autor de 25 livros, muitos deles sobre 
guerra. Frequentou o University College, em Oxford, que 
abandonou ao �m de um ano para se dedicar ao jornalismo.
Passou muitos dos seus primeiros anos de jornalista como 
correspondente da BBC e de diversos jornais, tendo estado 
em 64 países e acompanhado 11 con�itos militares, entre os 
quais a guerra Israelo-Árabe de 1973, a Guerra do Vietname 
e a Guerra das Malvinas.
Entre 1986 e 2002, foi chefe da redação do Daily Telegraph 
e depois diretor do Evening Standard. Recebeu diversos 
prémios pela sua carreira literária e jornalística, incluindo, 
em 2012, o prémio da Pritzker Military Library e a Medalha 
do Duque de Westminster para a Literatura Militar pelo 
seu livro Inferno: O Mundo em Guerra.
Tem dois �lhos e vive com a mulher, Penny, numa zona rural 
do sul da Inglaterra, onde ambos praticam com entusiasmo 
a jardinagem.
Em Portugal, tem publicados os livros Operação Overlord 
(ed. Casa das Letras), Os Melhores Anos: Churchill 1940–
–1945 e Inferno (ambos ed. Civilização) e Catástrofe — 1914: 
A Europa Vai à Guerra (ed. Vogais).
Saiba mais sobre o autor em: 
www.maxhastings.com 
Do mesmo autor:
Catástrofe — 1914: A Europa Vai à Guerra 
UMA ANÁLISE GLOBAL DAS NARRATIVAS DE ESPIONAGEM
DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
capa 2 GS.pdf 1 29/08/16 17:10
7
Capítulos
Í N D I C E
Legendas e créditos do extratexto
Legendas e créditos das ilustrações do texto
Introdução
1. ANTES DO DILÚVIO
1.1. Em busca da verdade
1.2. Os britânicos: cavalheiros e jogadores
1.3. Os russos: templos de espionagem
2. REBENTA A TEMPESTADE
2.1. O «fluxo de ficções»
2.2. A sombra de canaris
3. O S M I L AG R E S D EM O R A M U M P O U CO M A I S : 
BLETCHLEY
3.1. «Palpites» e «disparates»
3.2. Namorar a américa
4. OS CÃES QUE LADRAVAM
4.1. A gente de «lucy»
4.2. Os avisos de sorge
4.3. Toca a orquestra
4.4. O surdo no kremlin
5. VENTOS DIVINOS
5.1. O serviço de chá da senhora ferguson
5.2. Os japoneses
5.3. O homem que ganhou em midway
6. CONFUSÃO E INÉPCIA: OS RUSSOS NA GUERRA
6.1. O centro mobiliza-se
6.2. O fim de sorge
11
13
15
31
31
39
49
75
75
91
103
103
134
141
141
148
152
161
175
175
181
197
217
217
222
Í N D I C E
8
A Guerra Secreta
6.3. A segunda fonte
6.4. Gourevitch apanha um comboio
7. A MÁQUINA DE GUERRA SECRETA DA GRÃ-BRETANHA
7.1. A ponta afiada
7.2. O cérebro
7.3. No mar
8. «MARTE»: A MAIS SANGRENTA DISSIMULAÇÃO
8.1. Gehlen
8.2. O agente «max»
9. O ÚLTIMO CONCERTO DA ORQUESTRA
10. GUERRILHA
10.1. Resistentes e agressores
10.2. Soe
11. OS G-MEN DE HOOVER E OS WILD MEN DE DONOVAN
11.1. Aventureiros
11.2. Torres de marfim
11.3. Allen dulles: falar com os alemães
12. GUERRILHEIROS RUSSOS: ATERRORIZANDO OS 
DOIS LADOS
13. ILHAS NA TEMPESTADE
13.1. A pantomima irlandesa do abwehr
13.2. Terra de ninguém
14. UMA PEQUENA AJUDA DOS SEUS AMIGOS
14.1. «Cheira mal, mas tem de ser feito por alguém»
14.2. Os traidores americanos
15. AS FÁBRICAS DE CONHECIMENTO
15.1. Agentes
15.2. A joia das fontes
15.3. Linhas de produção
15.4. Máquinas infernais
227
230
239
239
245
258
269
269
274
287
303
303
309
333
333
349
357
369
383
383
391
403
403
423
445
445
453
460
477
9
Capítulos
16. «BLUNDERHEAD»: O PACIENTE INGLÊS
17. O ECLIPSE DO ABWEHR
17.1. O bletchley park de hitler
17.2. «Cícero»
17.3. «Os fantasistas»
17.4. «O bom nazi»
18. CAMPOS DE BATALHA
18.1. Empunhando a varinha mágica dos ultra
18.2. Suicídio de espiões
18.3. Triunfo manchado
19 VIÚVAS NEGRAS, ALGUNS CAVALEIROS BRANCOS
19.1. Combater o japão
19.2. A lutar entre si
19.3. O inimigo: tatear no escuro
20. «ENORMOZ»
21. DESCODIFICAR A VITÓRIA
Agradecimentos
Notas e fontes
Bibliografia
491
507
507
521
525
534
547
547
555
561
569
569
579
584
591
605
629
631
651
15
Introdução
I N T R O D U Ç Ã O 
Este é um livro sobre algumas das pessoas mais fascinantes que participaram 
na Segunda Guerra Mundial. Soldados, marinheiros, aviadores e civis tive-
ram muitas e diversas experiências, forjadas pelo fogo das armas, a geogra-
fia, a economia e a ideologia. Aqueles que se mataram entre si foram os mais 
visíveis mas, em muitos aspetos, os menos interessantes: os resultados foram 
também profundamente influenciados por um conjunto de homens e mu-
lheres que nunca dispararam um único tiro. Ao mesmo tempo que na Rússia, 
entre as grandes batalhas, decorriam intervalos de meses, já todos os parti-
cipantes travavam uma incessante guerra secreta — uma luta pelo conheci-
mento do inimigo para poder dar ferramentas e força aos respetivos exércitos, 
Marinhas e forças aéreas, através da espionagem e da decifração de códigos. 
O tenente general Albert Praun, último chefe das comunicações codificadas 
da Wehrmacht, escreveria sobre o assunto o seguinte: «Todos os aspetos res-
peitantes a esta moderna «guerra fria das ondas de rádio» foram mantidos de 
forma constante, mesmo quando as armas se calaram.» Os Aliados também 
promoveram campanhas de guerrilha e de terror sempre e quando, nos terri-
tórios ocupados do Eixo, tinham meios para o fazer, e as operações secretas 
assumiriam uma importância sem precedentes.
Este livro não pretende ser uma narrativa exaustiva, geradora de um número 
incontável de volumes. É, pelo contrário, um estudo da guerra secreta levada a 
cabo pelos aparelhos de ambos os lados, bem como de algumas das personagens 
que os influenciaram. A existência de quaisquer outras revelações que possam 
vir a alterar o contexto do estudo é muito improvável salvo, possivelmente, as 
que se consigam a partirdos arquivos soviéticos atualmente bloqueados por 
Vladimir Putin. Em 1945, os japoneses destruíram a maior parte dos arqui-
vos dos seus serviços secretos e os remanescentes permanecem inacessíveis em 
Tóquio. Contudo, há uma década, entrevistei alguns dos veteranos, que forne-
ceram significativos testemunhos do pós-guerra.
A maioria dos livros que abordam os serviços secretos durante a guerra 
foca-se nas práticas de uma nação específica. Em vez disso, tentei explorá-los 
num contexto global. Alguns dos episódios da minha narrativa serão fami-
liares para os especialistas, mas parece-me possível uma nova abordagem que 
os perspetive num quadro mais alargado. Apesar de a atividade dos espiões 
16
A Guerra Secreta
e dos decifradores de códigos ter gerado já uma vasta literatura, os leitores 
podem vir a ficar tão atónitos com alguns dos relatos deste livro quanto eu 
fiquei quando os descobri.
Escrevi de forma mais extensiva sobre os russos, porque as suas ações são 
muito menos familiares para os leitores ocidentais quando comparadas com o 
que se conhece de Bletchley Park na Grã-Bretanha ou Arlington Hall e a Op-
20-G na América. Omiti muitas narrativas lendárias e não fiz qualquer ten-
tativa de recontar os relatos mais familiares acerca da Resistência na Europa 
Ocidental, nem dos agentes do Abwehr (serviços secretos do Exército alemão) 
na Grã-Bretanha e nos EUA, que foram presos num ápice ou «viraram», en-
trando no famoso sistema de Double Cross (Agentes Duplos). Em contrapar-
tida, e apesar dos feitos de Richard Sorge e de «Cícero»* serem conhecidos há 
muitas décadas, a sua importância merece reflexão.
Os feitos de alguns combatentes secretos foram tão deslumbrantes quanto 
os disparates de outros. Como aqui refiro, os britânicos permitiram várias ve-
zes a captura de material sensível, o que poderia ter sido fatal para os serviços 
secretos. Entretanto, quem escreve sobre espionagem tem insistido, de forma 
obsessiva, na traição dos Cinco de Cambridge, na Grã-Bretanha, mas são re-
lativamente poucos aqueles que conhecem aquela a que poderíamos chamar 
a traição dos Quinhentos de Washington e Berkeley — um pequeno exército 
de esquerdistas americanos que serviram de informadores aos serviços secre-
tos soviéticos. O senador Joseph McCarthy estigmatizaria, de forma injusta, 
muitos indivíduos, mas não errou ao considerar que entre 1930 e 1950 o go-
verno dos Estados Unidos da América e as grandes instituições e corporações 
do país tinham nos seus quadros um número surpreendente de agentes para os 
quais a lealdade não era prioritariamente para com a sua bandeira. É verdade 
que entre 1941 e 1945 os russos eram supostamente aliados da Grã-Bretanha 
e dos Estados Unidos, mas Stalin olhou para esse relacionamento com um in-
cessante cinismo, considerando-o apenas uma associação meramente tempo-
rária, cuja finalidade era a destruição dos nazis e das nações que se mantinham 
como inimigas e rivais históricas da União Soviética.
Muitos dos livros sobre os serviços secretos durante a guerra centraram-
-se no que os espiões ou os decifradores descobriram; porém, a única questão 
relevante é saber até que ponto a informação privilegiada mudou o desenla-
ce do conflito. A extensão da espionagem soviética ofusca a de todos os ou-
tros beligerantes e os soviéticos obteriam uma riquíssima colheita tecnológica 
na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, mas a paranoia de Stalin acabou 
por prejudicar a exploração dos segredos políticos e militares que tal safra 
* Colocam-se entre aspas os nomes de código dos agentes apresentados nas páginas seguintes.
17
Introdução
possibilitava. O mais ilustre historiador americano sobre os decifradores que 
atuaram durante a guerra disse-me, em 2014, que depois de ter dedicado mais 
de metade da sua vida a estudar o assunto, concluíra que os serviços secretos 
pouco ou nada contribuíram para o desfecho. Este parece ser um veredicto 
muito radical, mas as observações desse meu amigo mostram como o ceticis-
mo, e também o cinismo, se reproduziram e multiplicaram ao longo de déca-
das, vagueando no pântano da fantasia, da traição e da incompetência em que 
a maioria dos espiões e dos seus acólitos viviam. Os registos sugerem que o 
sigilo oficial sempre fez mais para proteger as respetivas agências de serviços 
secretos da prestação interna de contas das suas próprias loucuras, do que para 
as proteger da penetração dos inimigos. De que serviu, por exemplo, esconder 
do conhecimento público britânico a identidade dos seus próprios chefes de 
espionagem quando durante anos* as operações mais secretas do MI6 foram 
denunciadas aos russos por Kim Philby, um dos seus agentes mais qualifica-
dos? O governo dos Estados Unidos repudiou o intercâmbio bilateral de in-
formações acordado com o NKVD† pelo major general William Donovan do 
OSS (Office of Strategic Services — Gabinete de Serviços Estratégicos — 
considerado o precursor da CIA), contudo as cautelas oficiais pouco contri-
buíram para a segurança nacional quando alguns dos principais subordinados 
de Donovan passaram segredos aos agentes soviéticos.
A recolha de informação não é uma ciência. Não há certezas absolutas, mes-
mo quando se trata da leitura da correspondência inimiga. Existe um «ruído» 
cacofónico, a partir do qual os «sinais» — as grandes e pequenas verdades — 
devem ser extraídos. Em agosto de 1939, nas vésperas do Pacto Nazi-Soviético, 
um agente britânico tinha entre mãos as confusas mensagens, que chegavam 
o Ministério dos Negócios Estrangeiros acerca das relações entre Berlim e 
Moscovo: «Encontramo-nos», escreveu, usando palavras que podem ser apli-
cadas à maioria das informações, «ao tentarmos avaliar o valor destes relatórios 
secretos, numa posição parecida com a do capitão dos Quarenta Ladrões quan-
do, depois de ter colocado uma marca de giz na porta de Ali Baba, descobriu 
que Morgana tinha colocado marcas semelhantes em todas as portas da rua e 
sem ter qualquer indicação de qual era a verdadeira.»
* O MI6 britânico é com frequência conhecido pelo seu outro nome, SIS — Secret Intelligence 
Service —, mas, para ser mais claro, utilizar-se-á a designação anterior ao longo deste trabalho, mesmo 
em documentos citados, para se evitar a confusão com o SIS (Signals Intelligence Service) dos EUA.
† Os serviços secretos soviéticos e os ramos nacionais e estrangeiros seus subordinados foram 
repetidamente reorganizados e rebatizados entre 1934 e 1954, ano em que passou a designar por 
KGB. A sigla «NKVD» é utilizada ao longo de todo este texto, embora se conheça também a partir 
de 1943, a contra organização de serviços de informações SMERSh — Smert Shpionam — e a exis-
tência paralela desde 1926 do ramo de informações militares do Exército Vermelho, o Quarto De-
partamento ou GRU, feroz rival do NKVD no interior e no exterior do país.
18
A Guerra Secreta
Torna-se infrutífero estudar de forma isolada os sucessos de qualquer nação 
e as suas mais preciosas revelações. Estas devem ser observadas no contexto de 
centenas de milhares de páginas de coisas triviais ou absurdas que passam pe-
las secretárias dos analistas, estadistas e comandantes. «Diz-me a experiência 
que os diplomatas e os agentes secretos são ainda mais mentirosos do que os 
jornalistas», escreveu Malcolm Muggeridge, o espião britânico que atuou du-
rante a guerra, que estava familiarizado com três grupos e que era, ele mesmo, 
um charlatão. A esterilidade de grande parte da espionagem seria muito bem 
ilustrada por František Moravec, dos serviços secretos checos. Um dia, em 1936, 
apresentou orgulhosamente ao seu comandante um relatório sobre uma nova 
peça de equipamento militar alemão, pelo qual tinha pago generosamente a 
um informador. O general desvalorizou o que lhe era apresentado, dizendo em 
seguida: «Vou mostrar-te algo bem melhor.» E lançou para cima da secretária 
um exemplar da revista Die Wehrmacht, na qual se destacava um artigo sobre a 
mesma arma, para concluir secamente: «A assinatura desta revistacusta ape-
nas vinte coroas.»
Valor igual tinha a transcrição do Abwehr de dezembro 1944 da mensagem 
do Departamento de Estado norte-americano para o governo polaco exilado 
em Londres, acerca da nomeação de um novo conselheiro para os assuntos 
económicos e na qual se dizia, em dada altura: «As suas despesas de transporte 
e ajudas de custo de Tunis para Londres, via Washington, DC, as despesas de 
transporte e ajudas de custo para a sua família e os custos de expedição autori-
zados estão sujeitos aos Regulamentos de Viagem.» À tradução da descodifi-
cação desta página foi colocado o carimbo de «Top Secret» pelos seus leitores 
alemães. As horas gastas pela máquina de guerra nazi para garantir esta precio-
sidade são demonstrativas da frequência com que os serviços de informações 
defraudaram as expetativas geradas.
A confiança é uma obrigação e um privilégio das sociedades livres. No en-
tanto, a credulidade e o respeito pela privacidade são defeitos fatais dos analistas 
e dos angariadores de agentes secretos. O seu trabalho obriga-os a persuadir os 
cidadãos de outros países a abandonar o tradicional idealismo patriota, seja por 
dinheiro, por convicção, ou ocasionalmente devido a uma ligação pessoal en-
tre o angariador e o informador. Há sempre um território a ser disputado, quer 
sejam aqueles que traindo os segredos das respetivas sociedades foram consi-
derados corajosos heróis sustentados por princípios que identificam uma leal-
dade maior, como os alemães que percebiam a necessidade de uma resistência 
anti-hitleriana ou, em vez disso, considerados traidores, como a maioria de nós 
classificámos Kim Philby, Alger Hiss — e, por estes dias, Edward Snowden. 
O dia de trabalho da maioria dos que trabalham nos serviços secretos é dedi-
cado à promoção da traição, o que ajuda a explicar as razões que levam tanta 
19
Introdução
gente estranha a sentir-se atraída por tal atividade. Malcolm Muggeridge afir-
mou com desdém que «Isso envolve necessariamente tantos enganos, mentiras 
e traições, que não deixarão de ter efeitos perniciosos sobre o caráter. Nunca 
conheci ninguém profissionalmente envolvido nestas atividades que me mere-
ça confiança no que quer que seja».
Disse Stalin: «Um espião deve ser como o diabo; ninguém pode confiar 
nele, nem sequer ele mesmo.» O crescimento de novas ideologias, mais signi-
ficativamente do comunismo, levou algumas pessoas a comprometer-se com 
lealdades que cruzaram fronteiras e que, aos olhos dos fanáticos, transcende-
ram o mero patriotismo. Não foram poucos os que se sentiram exaltados ao 
descobrirem virtude na traição, embora outros preferissem trair por dinhei-
ro. Muitos dos chefes da espionagem durante a guerra duvidavam sobre qual 
era o lado que os seus agentes serviam de facto e, em alguns casos, a confusão 
persiste até hoje. O pequeno vigarista britânico Eddie Chapman, conhecido 
como «Agente ZigZag», viveu extraordinárias experiências de guerra como 
pau-mandado dos serviços de informações britânicos e alemães. Em momen-
tos distintos, pôr-se-ia à mercê de ambos, mas parece pouco provável que as 
suas atividades tivessem beneficiado uns ou outros, tendo servido apenas para 
que Chapman se mantivesse sempre «com as costas quentes». Era uma figura 
intrigante mas sem importância, um entre incontáveis «canhões à solta» nos 
secretos campos de batalha. Mais interessante, e pouco ou nada conhecido 
do público, é o caso de Ronald Seth, um agente do SOE (Special Operations 
Executive — Executivo de Operações Especiais) capturado pelos alemães e 
treinado por eles para servir como agente duplo na Grã-Bretanha. Descreverei 
mais à frente a perplexidade do SOE, MI5, MI6, MI9 e do Abwehr sobre de 
que lado Seth teria estado.
A recolha de informações é por natureza um desperdício. Fico impressiona-
do com o número de agentes dos serviços secretos de todas as nacionalidades 
cujos únicos feitos nas suas atividades no estrangeiro era o conseguir manter-se 
vivos, apesar dos elevados encargos que representavam, enquanto a informação 
recolhida pouco representava para o esforço de guerra. Talvez apenas a milé-
sima parte do material obtido por todos os beligerantes na Segunda Guerra 
Mundial a partir de fontes secretas tenha contribuído para mudar o curso dos 
acontecimentos nos campos de batalha. No entanto, essa fração era de tal valor 
que os senhores da guerra nunca se lamentaram nem de uma libra, rublo, dó-
lar ou reichsmark gastos na sua obtenção. Os serviços de informações sempre 
influenciaram as guerras, mas até então os comandantes do século xx apenas 
conseguiam descobrir os movimentos dos seus inimigos através de espiões e da 
observação direta, para a contagem de homens, navios e armas. O aparecimen-
to das comunicações sem fios veio criar uma rede de serviços de informações 
20
A Guerra Secreta
que cresceu exponencialmente até 1930, à medida que a tecnologia avançava. 
«Nunca houve nada, em qualquer outro período da história, que se pudesse 
comparar ao impacto do rádio», escreveu o grande agente dos serviços de in-
formações científicas Dr. R. V. Jones. « Ele foi o produto de alguns dos desen-
volvimentos mais imaginativos alguma vez ocorridos na física e que mais se 
aproximavam de uma espécie de magia aos nossos olhos.» Não só porque mi-
lhões de cidadãos podiam construir os seus aparelhos em casa, como o fizeram 
muitos espiões no estrangeiro, mas porque em Berlim, Londres, Washington, 
Moscovo e Tóquio foram instalados intercetores eletrónicos para sondar o po-
sicionamento e por vezes as intenções do inimigo sem precisar de recorrer a 
telescópios, fragatas ou agentes.
Uma das temáticas deste livro é a de que a guerra das informações através 
dos sinais rádio, nos seus primórdios, foi menos desproporcionada em favor dos 
Aliados do que alguma mitologia popular sugere. Os alemães usaram infor-
mações secretas para planear a invasão de França e dos Países Baixos em 1940. 
Pelo menos até meados de 1942, e mesmo durante algum tempo depois, conse-
guiram ler importantes códigos dos Aliados, em terra e no mar, com significa-
tivas consequências, tanto para a Batalha do Atlântico como para a campanha 
no Norte de África. Também conseguiram explorar a débil segurança do sis-
tema de comunicações sem fios do Exército Vermelho durante o primeiro ano 
da Operação Barbarossa. A partir do final de 1942, porém, os decifradores de 
Hitler começaram a ficar desfasados em relação aos seus colegas Aliados. As 
tentativas de espionagem do Abwehr no exterior eram patéticas.
O governo japonês e os altos comandos do Exército planearam os ataques 
iniciais de 1941 e 1942 a Pearl Harbor e aos impérios europeus no sudeste asiá-
tico com muita eficiência, mas trataram com desdém os serviços de informa-
ções. Travariam a guerra envoltos numa névoa de ignorância acerca das ações 
dos seus inimigos. O serviço de informações italiano e os seus decifradores de 
códigos tiveram alguns assinaláveis sucessos nos anos iniciais da guerra, mas 
em 1942 os comandantes de Mussolini ver-se-iam obrigados a utilizar prisio-
neiros de guerra russos para que espiassem o tráfego das comunicações sem fios 
soviéticas. Foram relativamente poucos os esforços realizados pelas outras na-
ções para espiolhar os segredos italianos, dado que a sua capacidade militar se 
reduziu rapidamente. «A imagem que tínhamos da Força Aérea italiana estava 
incompleta e nosso conhecimento bem longe de ser bom,» admitiu o oficial 
dos serviços de informações da RAF o Capitão Harry Humphreys acerca do 
teatro de operações no Mediterrâneo, antes de acrescentar de forma presunço-
sa, «Mas, felizmente, tratava-se da Força Aérea italiana.»
A primeira exigência para uma utilização bem-sucedida das informações 
sigilosas (secretas) é que os comandantes devam estar disposto a analisá-las 
21
Introdução
honestamente. Herbert Meyer, um veterano do National Intelligence Council 
(Conselho Nacional de Informação) de Washington, definia o seu trabalho 
como apresentação de «informação organizada»;argumentou que, em ter-
mos ideais, os serviços de informações devem prestar um serviço aos respeti-
vos comandantes que se assemelha ao dos sistemas de navegação dos navios 
e aeronaves. Donald McLachlan, um médico da Marinha britânica, obser-
vou: «Os serviços de informações têm muito em comum com a escolaridade, 
e os padrões que são exigidos na escolaridade devem ser os mesmos a apli-
car nos serviços de informações.» Depois da guerra, os comandantes alemães 
que sobreviveram fizeram recair as culpas de todas as falhas dos serviços de 
informações na recusa de Hitler a render-se às evidências. O chefe máximo 
das comunicações sem fios Albert Praun diria: «Infelizmente durante toda a 
guerra Hitler mostrou uma falta de confiança nas comunicações do serviço 
de informações, especialmente quando os relatórios eram desfavoráveis (se-
gundo os seus pontos de vista).»
Para o Eixo, a boas notícias como, por exemplo, às intercetações de infor-
mações que revelassem pesadas perdas aliadas, era dada a mais alta prioridade 
para a transmissão para Berlim, porque o Führer as receberia de bom grado. 
Pelo contrário, às más notícias era prestada pouca atenção. Antes da invasão 
da Rússia, em junho de 1941, o general Georg Thomas do WiRuAmt (o de-
partamento de economia da Wehrmacht) apresentou estimativas da produção 
de armas soviéticas que se aproximavam da realidade, embora por defeito, e 
argumentou que a perda da Rússia europeia não iria necessariamente preci-
pitar o colapso das bases industriais de Stalin. Hitler pôs de parte os números 
de Thomas, porque a sua magnitude era inconciliável com o seu desprezo para 
com todas as coisas eslavas. O marechal-do-exército Wilhelm Keitel acabaria 
por instruir o o WiRuAmt no sentido de parar com a apresentação de infor-
mações que pudessem perturbar o Führer.
O esforço de guerra das democracias ocidentais beneficiou imenso da rela-
tiva abertura de suas sociedades e respetivas governações. Por vezes, Churchill 
tinha reações de raiva para com aqueles que à sua volta expressavam pontos 
de vista indesejáveis, mas sempre houve um debate extremamente aberto nos 
corredores do poder dos Aliados, incluindo os quartéis-generais. O general Sir 
Bernard Montgomery era um considerável tirano, mas aqueles em quem con-
fiava, incluindo o seu chefe do serviço de informações, o brigadeiro-general 
Bill Williams, professor na Universidade de Oxford em tempo de paz, podiam 
expressar-se livremente. Todos os mais notáveis sucessos dos serviços de in-
formações dos Estados Unidos da América foram conseguidos através da des-
codificação e vieram a ser explorados de forma mais dramática na guerra naval 
do Pacifico. Os comandos militares que tinham ficado no território americano 
22
A Guerra Secreta
raramente mostraram muito interesse na utilização dos seus conhecimentos 
para induzir em erro os adversários, como fizeram os britânicos. O Dia-D de 
1944 foi a única operação para a qual os norte-americanos colaboraram empe-
nhadamente na preparação de um plano enganador. Mesmo assim, os britâni-
cos foram os principais impulsionadores, enquanto os norte-americanos apenas 
aquiesceram, por exemplo, ao permitir que o general George Patton se «mas-
carasse» como o comandante do fictício Primeiro Exército Americano supos-
tamente destinado a desembarcar no Pas de Calais. Alguns oficiais americanos 
ficaram desconfiados do entusiasmo britânico em enganar o inimigo, que lhes 
parecia refletir uma forma astuciosa de escapar aos combates mais duros, que 
eram de facto a questão básica da guerra.
O GC&CS, sigla de Government Code and Cypher School (quartel-gene-
ral dos serviços de informações britânicos) em Bletchley Park foi, como é natu-
ral, não apenas o mais importante eixo dos serviços de informações do conflito 
mas, a partir de 1942, constituir-se-ia na mais excecional contribuição da Grã-
Bretanha para a vitória. Há quem acredite, de forma lendária, que a criação de 
Alan Turing da bombe eletromecânica* possibilitou a exposição de todo o sistema 
de comunicações alemão aos olhos dos Aliados, ao quebrar o tráfego das máquinas 
eletromecânicas de criptografia Enigma. Mas a verdade é muito mais complexa. 
Os Alemães empregavam dezenas de diferentes chaves, muitas das quais foram 
lidas apenas de forma intermitente, e muitas vezes desfasadas do «tempo real», 
o que significava uma insuficiente rapidez capaz de tornar possível uma respos-
ta operacional, ou algumas vezes mesmo nenhuma. Os britânicos tiveram acesso 
a algum material Enigma imensamente valioso, mas a cobertura conseguida foi 
muito pouco abrangente e foi especialmente fraca no que ao tráfego do Exército 
dizia respeito. Para além disso, um volume cada vez maior das mais secretas co-
municações alemãs era transmitido através de uma rede de teleimpressoras que 
empregava um sistema de criptografia completamente diferente do que era usado 
nas Enigma. A façanha dos matemáticos e linguistas de Bletchley ao conseguir 
quebrar as comunicações da Lorenz Schlüsselzusatz (máquina de criptografia de 
nível muito superior à Enigma) foi bastante distinta e bem mais difícil, ainda que 
os seus destinatários no terreno conhecessem os produtos de todas essas ativida-
des simplesmente como «Ultra».† Bill Tutte, o jovem matemático de Cambridge 
* Equipamento eletromecânico utilizado pelos criptógrafos britânicos para auxiliar na descodifi-
cação das mensagens secretas alemãs criptografadas pela máquina Enigma. [N. do T.]
† Os americanos referem-se ao material diplomático japonês por si descriptografado como «Ma-
gic», mas ao longo deste texto, e para simplificar, usei a designação «Ultra», que se tornou geralmente 
aceite nos dois lados do Atlântico como o termo genérico para produtos de desencriptação de có-
digos e cifras inimigas de alto nível, embora curiosamente a palavra pouco ou nada fosse usada em 
Bletchley Park.
23
Introdução
que fez as determinantes descobertas iniciais, ficou pouco conhecido para a pos-
teridade, contudo merece ser quase tão célebre como Turing.
Os Ultra possibilitaram às lideranças dos Aliados planificar as suas cam-
panhas e operações na segunda metade da guerra com uma confiança nunca 
antes concedida a qualquer dos senhores da guerra de toda a história. No en-
tanto, o conhecimento do «jogo» do inimigo não lhe diminuía a resistência. 
Em 1941 e em 1942, uma e outra vez os britânicos souberam onde o Eixo 
pretendia atacar, como em Creta, no Norte de África e na Malásia, mas isso 
não os livrou de perder as batalhas subsequentes. Um grande poderio mi-
litar, tanto em terra como no mar ou no ar, era indispensável para a explo-
ração das informações secretas. Assim como o era a sensatez por parte dos 
comandantes britânicos e americanos e dos seus Estados-Maiores, que se re-
velou manifestamente ausente em momentos-chave durante o Campanha do 
Noroeste Europeu em 1944 e 1945. Os serviços de informações, no entanto, 
contribuíram de forma importante para o mitigar de alguns desastres iniciais: 
o contributo do jovem Dr. R. V. Jones ao mostrar como gerar interferências
nos feixes de navegação da Luftwaffe diminuíram de forma significativa o
sofrimento infringido pelo Blitz na Grã-Bretanha. No mar, a localização sis-
temática dos submarinos alemães realizada pelos Ultra, com uma alarmante
interrupção de nove meses em 1942, permitiu redirecionar as frotas para que
os conseguissem evitar. Istopode ter sido uma contribuição bem mais impor-
tante para a exploração das linhas de abastecimento abertas no Atlântico do
que afundar submarinos inimigos,.
Os americanos tinham alguma razão para suspeitar da romântica ideia 
dos seus aliados acerca das «estratégias de dissimulação.» O coronel Dudley 
Clarke, especialmente famoso para a polícia espanhola, uma vez que o pren-
deram usando roupas de mulher numa rua de Madrid, realizou uma operação 
de camuflagem maciça no deserto do norte de África antes da Batalha de El 
Alamein em outubro de 1942. Os historiadores têm celebrado a engenhosida-
de de Clarkna criação de forças fictícias que levariam Rommel a deslocar uma 
força significativa bem para sul do foco central do ataque de Montgomery. No 
entanto, tal «estratégia de dissimulação» não poupou ao oitavo Exército uns 
quinze dias de duros combates que viriam a ser necessários para romper as li-
nhas do Afrika Korps.
Os Alemães argumentariam que as atividades de Clarke acabariam por não 
mudar nada, dado que tiveram tempo para se reposicionar a norte ainda an-
tes do decisivo ataque britânico. Na Birmânia, o coronel Peter Fleming, irmão 
do criador de James Bond, foi encarregado de uma arriscada missão na qual 
deveria deixar uma mochila cheia de falsos «documentos secretos» dentro de 
num jipe destruído, onde o inimigo os iria encontrar. Só que os japoneses não 
24
A Guerra Secreta
lhes prestaram qualquer atenção quando os obtiveram. De 1942 em diante, 
os serviços de informações britânicos conseguiram obter uma quase completa 
compreensão das defesas aéreas da Alemanha e das tecnologias eletrónicas que 
utilizavam, mas os bombardeiros Aliados continuaram a sofrer punitiva baixas, 
especialmente antes dos caças-bombardeiros de longo curso americanos terem 
destruído a Luftwaffe no ar, na primavera de 1944.
Fosse qual fosse a contribuição da estratégia de enganos táticos britânicos no 
Norte de África, os estrategas Aliados conseguiram dois importantes e quase 
indiscutíveis sucessos. Em 1943–1944, a Operação Zeppelin criou um fictício 
Exército britânico no Egito que induziu Hitler à manutenção de grandes for-
ças militares na Jugoslávia e na Grécia para repelir um desembarque aliado nos 
Balcãs. Foi essa imaginária ameaça, e não os guerrilheiros de Tito, que provocou 
a deslocação de 22 divisões do Eixo para Sudeste até depois do Dia-D. O se-
gundo sucesso foi, por certo, o da Operação Fortaleza antes e depois do ataque 
na Normandia. Contudo, nenhuma destas ações exerceria tal influência se os 
Aliados não possuíssem um poder de fogo suficiente, conjunto com o coman-
do das forças marítimas, para tornar credível a sua capacidade de desembarque 
de forças territoriais em qualquer lugar.
Algumas das ações de dissimulação dos russos tornariam irrisórias as que 
foram realizadas por britânicos e americanos. A estória do agente «Max», e 
a vasta operação lançada como diversão da ofensiva de Estalinegrado, e que 
custaria 70 mil vidas russas, é uma das mais surpreendentes da guerra, e qua-
se desconhecida dos leitores ocidentais. Entre 1943 e 1944, outros artifícios 
soviéticos levaram repetidamente os alemães a concentrar as suas forças nos 
lugares errados antes dos ataques do Exército Vermelho. A superioridade aérea 
era um pré-requisito essencial, tanto a Oriente como a Ocidente: as ambiciosas 
ações enganadoras dos últimos anos de guerra só foram possíveis porque os 
alemães não puderam realizar um reconhecimento fotográfico que possibili-
tasse refutar as «lendas» que lhes eram vendidas através das ondas rádio e dos 
documentos falsos. Os Aliados Ocidentais tinham muito menos sucesso na 
obtenção de informações através das humint que das sigint.* Ingleses e ame-
ricanos nunca tinham conseguido ter uma fonte colocada ao mais alto nível 
junto do governo alemão, japonês e italiano ou dos respetivos altos coman-
dos, até que em 1943 Allen Dulles do OSS começou a receber algumas boas 
informações provenientes de Berlim. O que os Aliados Ocidentais consegui-
ram não tem comparação com a capacidade de penetração russa em Londres, 
Washington, Berlim e Tóquio, as últimas através do seu agente Richard Sorge, 
* «Humint» é o termo utilizado para as informações recolhidas pelos espiões, e «sigint» o termo 
utilizado para as intercetações das comunicações sem fio.
25
Introdução
que trabalhava na embaixada alemã. Os EUA só se dedicaram às questões 
de espionagem depois de Pearl Harbor e centraram os seus esforços mais na 
sabotagem e descodificação das comunicações do que na colocações de es-
piões em território inimigo, mesmo que diferenciados das equipas parami-
litares. Em Washington, o Departamento de Pesquisa e Análise do OSS foi 
mais efetivo que as suas extravagantes, mas mal direcionadas, ações no terre-
no. É minha convicção que a guerra de guerrilha, patrocinada pelos Aliados 
Ocidentais, fez mais para promover o auto-respeito das nações ocupadas no 
pós-guerra do que para acelerar a destruição do Nazismo. As operações dos 
guerrilheiros russos foram conduzidas numa escala muito mais ambiciosa do 
que as campanhas do SOE/OSS, com a propaganda a exponenciar as suas 
façanhas, tanto nessa época como no pós-guerra. No entanto, os documen-
tos soviéticos de que agora dispomos, dos quais a minha investigadora rus-
soa, a Dr. Lyuba Vinogradovna, fez um extensivo uso, indicam que devemos 
perspetivar os feitos da campanha de guerrilha oriental, pelo menos até 1943, 
com considerável ceticismo.
Tal como em todos os meus livros, procuro aqui estabelecer um quadro 
bem alargado e entrelaçá-lo com estas narrativas humanas dos espiões, de-
cifradores de códigos e chefes dos serviços de informações que serviram os 
seus respetivos líderes — Turing em Bletchley e criptoanalistas de Nimitz 
no Pacifico, a «Orquestra Vermelha» dos agentes soviéticos na Alemanha, 
Reinhard Gehlen do OKH (Estado Maior do Exército Alemão), William 
Donovan do OSS e muitos outros personagens exóticos. A principal razão 
para que os Aliados Ocidentais tivessem um melhor serviço de informações 
foi o terem sabido utilizar de forma brilhante os civis, aos quais tanto o go-
verno americano como o britânico garantiram discrição, influência e, sem-
pre que necessário, patente militar, algo que os seus adversários não fizeram. 
Há 30 anos, quando foi publicado o primeiro volume da história oficial dos 
serviços de informações britânicos do tempo da guerra, comentei com o seu 
principal autor, o Professor Harry Hinsley (um veterano de Bletchley), que 
parecia dar a entender que os amadores terão contribuído mais que os profis-
sionais dos serviços secretos. Hinsley respondeu com alguma impaciência: «É 
claro que contribuíram. Suponho que não imagina que, em tempo de paz, os 
melhores cérebros de nossa sociedade desperdiçariam as suas vidas nos ser-
viços de informações?»
Sempre pensei que este era um ponto importante, e que fez eco nos escritos 
de outro académico, Hugh Trevor-Roper, que serviu o MI5 e o MI6, e cujas 
façanhas pessoais o fazem parecer um dos mais notáveis agentes dos serviços 
secretos britânicos durante a guerra. Em tempos de paz, a maior parte dos ser-
viços secretos cumpriram as suas funções de forma adequada ou, pelo menos, 
26
A Guerra Secreta
sem grandes falhas, ao serem compostos por pessoas com aptidões medianas. 
Iniciada a luta pela sobrevivência nacional, no entanto, os serviços de informa-
ções tinham de se tornar parte do centro condutor do esforço de guerra. Os 
confrontos nos campos de batalha podiam ser travados por homens com dons 
relativamente limitados, mas com qualidades para a atividade desportiva — ap-
tidão física, coragem, garra, alguma iniciativa e senso comum. Mas os serviços 
de informações, num ápice, passaram a necessitar de mentes brilhantes. Parece 
banal afirmar-se que tinham de recrutar pessoas inteligentes mas, como alguns 
sábios do século xx observaram, este princípio era questão de honra para poder 
quebrar as comunicações inimigas.
Algumas palavras sobre a arrumação deste livro: enquanto a minha abor-
dagem é amplamente cronológica, para evitar saltos demasiado confusos en-
tre traidores em Washington, espiões soviéticos na Suíça e matemáticos em 
Bletchley Park, a narrativa persiste com alguns temas que vão para além do 
seu tempo sequencial. Tenho-me baseado nos trabalhos cuja autoridade é mais 
reconhecida neste campo, tais como os de Stephen Budiansky, David Kahn e 
Christopher Andrew, alguns dos mais notáveis, mas também explorei arquivos 
na Grã-Bretanha, Alemanha e Estados Unidos da América, juntamente com 
muito material russo ainda por traduzir. Nãofiz qualquer tentativa para dis-
cutir a matemática dos decifradores, como tem sido feito por escritores muito 
mais conhecedores dessa matéria do que eu.
Diz-se com muita frequência que os livros de Ian Fleming não têm qualquer 
relação com o mundo real da espionagem. No entanto, ao ler relatórios soviéticos 
da época, ao ouvir conversas gravadas, juntamente com os livros de memórias 
de agentes dos serviços de informações de Moscovo durante a guerra, fico im-
pressionado pela forma como eles estranhamente espelham os diálogos loucos 
e monstruosos de tais personagens na obra de Fleming From Russia With Love 
(007 Ordem Para Matar). E algumas das tramas planeadas e executadas pelo 
NKVD e a GRU não eram menos fantásticas que as suas.
Todas as narrativas históricas são necessariamente provisórias e especu-
lativas, mas ainda o são muito mais quando nelas se envolvem espiões. Na 
narração de batalhas, pode-se registar de forma confiável o número de na-
vios afundados, de aviões derrubados, de homens mortos e quanto território 
se ganhou ou se perdeu. Mas os serviços secretos geram uma literatura vasta 
e não confiável, sendo alguma dela produzida pelos protagonistas para a sua 
própria glorificação ou justificação. Um relato muitíssimo popular acerca dos 
serviços secretos aliados, Bodyguard of Lies, publicado em 1975 é, em grande 
parte, uma obra de ficção. Sir William Stephenson, o canadiano que chefiou 
a organização que coordenava os serviços de informações britânicos em Nova 
Iorque, realizou uma valiosa função de ligação, mas nunca foi propriamente 
27
Introdução
um espião. Isso não o impediu de colaborar em 1976 na elaboração de uma 
biografia descontroladamente fantasiosa de si mesmo, A Man Called Intrepid 
(Um Homem Chamado Intrépido), embora não haja qualquer evidência de 
que alguém, alguma vez, o tenha tratado por qualquer coisa parecida com 
isso. A maioria das narrativas dos agentes do SOE durante a guerra, parti-
cularmente das mulheres e especialmente em França, contém grandes doses 
de disparates românticos. As falsidades de Moscovo não diminuíram com o 
tempo: a história oficial do KGB, publicada recentemente, em 1997, afirma 
que os Negócios Estrangeiros britânicos ainda escondem documentação so-
bre as suas negociações secretas com a Alemanha «fascista» e também do seu 
conluio com Hitler.
As operações dos decifradores aliados contra a Alemanha, a Itália e o Japão 
exerceram uma muito maior influência do que qualquer espião. É impossível 
quantificar o seu impacto, no entanto não deixa de ser desconcertante que Harry 
Hinsley, o historiador oficial, tenha afirmado que os Ultra tenham, provavel-
mente, encurtado a guerra em três anos. Isto é tão tendencioso como a afirma-
ção do Professor M. R. D. Foot na sua história oficial do SOE em França, em 
que diz que os comandantes aliados consideraram que a Resistência teria re-
duzido a duração da contenda em seis meses. Os Ultra foram uma ferramenta 
de britânicos e americanos que desempenhou um papel secundário na destrui-
ção do Nazismo, que foi, de forma esmagadora, consequência de um esforço 
militar russo. É tão impossível medir o contributo de Bletchley Park para o 
momento específico da vitória como o de Winston Churchill, dos navios da 
liberdade ou o dos radares.
Do mesmo modo, os publicitários que alegam que alguns dos livros sen-
sacionalistas atuais relatam «a história de espionagem que mudou a Segunda 
Guerra Mundial» bem podiam estar a citar Mary Poppins. Uma das obser-
vações de Churchill com maior profundidade foi feita em outubro de 1941, 
em resposta ao pedido de Sir Charles Portal, chefe do Estado-Maior da 
Força Aérea, para um compromisso de construir 4 mil bombardeiros pesa-
dos — os quais, na sua opinião, fariam cair a Alemanha em seis meses. O 
primeiro-ministro responder-lhe-ia que, enquanto se fazia tudo o que era 
possível para criar uma grande força de bombardeiros, lamentava as tentati-
vas de colocar uma confiança ilimitada em qualquer um dos meios que pu-
dessem garantir a vitória. «Todas as coisas se movimentam em simultâneo», 
declarou. Esta apreciação revelou-se muito importante para o que às ques-
tões de relações humanas dizia respeito, em especial durante a guerra — e, 
acima de tudo, aos serviços de informações. É impossível atribuir com jus-
teza a um único fator todos os créditos pelo sucesso ou todas as culpas pelas 
falhas de uma operação.
28
A Guerra Secreta
Contudo, se é indispensável haver algum ceticismo acerca deste mundo se-
creto, também deve existir a capacidade de nos deixarmos surpreender com 
ele, dado que algumas das narrativas fabulosas vieram a provar-se verdadeiras. 
Ainda sinto algum embaraço quando recordo o dia, em 1974, em que fui con-
vidado por um jornal para fazer uma crítica ao livro de FW Winterbotham, 
The Ultra Secret. Naqueles tempos, eu era ainda um jovem e inexperiente es-
tudante ocasional da guerra de 1939–1945 e, assim como o resto do mundo, 
nunca ouvira falar de Bletchley Park. Olhei para o livro acabado de publicar e, 
de imediato, recusei-me a escrever sobre ele: Winterbotham fazia afirmações 
de tal modo extraordinárias que eu não podia dar-lhes crédito. No entanto, é 
claro que o autor, um agente do MI6 durante a guerra, tinha sido autorizado 
a abrir uma janela acerca de um dos maiores e mais fascinantes segredos da 
Segunda Guerra Mundial.
Nenhuma outra nação tinha alguma vez produzido uma história oficial de-
dicada, de forma explícita, aos serviços de informações dos tempos de guerra 
com a magnitude dos cincos volumes britânicos com mais de 3 mil páginas, 
publicados entre 1978 e 1990. Este generoso compromisso para com a histo-
riografia desse período, financiado pelos contribuintes, reflete o orgulho britâ-
nico pelos seus feitos, sustentado no século xxi por esse absurdo filme de 2014 
(assim designado pela sua insignificante relação com a verdade) que obteve 
enorme sucesso, O Jogo da Imitação. Hoje, as pessoas mais bem informadas re-
conhecem o papel secundário da contribuição da Grã-Bretanha para a vitória 
dos Aliados quando comparado com o da União Soviética e dos Estados Unidos 
da América, mas também reconhecem que a gente de Churchill fez algumas 
coisas com mais eficácia do que quaisquer outros. Ainda que haja neste livro 
muitas narrativas acerca de disparates e fracassos, no que respeita aos serviços 
de informações, tal como no resto, não é adquirido que os conflitos se ganham 
por quem não comete erros, mas sim por aqueles que cometem menos erros 
que o lado contrário. No cômputo geral, o enorme triunfo dos britânicos e dos 
americanos no que à guerra secreta respeita teve igual dimensão na coligação 
entre os diferentes exércitos, Marinhas e forças aéreas. A realidade final é que 
os Aliados ganharam.
Finalmente, enquanto alguns dos episódios que a seguir se descrevem po-
dem parecer cómicos ou ridículos, e refletem as fragilidades e loucuras hu-
manas, não se deve esquecer que, em cada aspeto do conflito global, o que 
estava em jogo eram a vida ou a morte. Centenas de milhares de pessoas de 
muitas nacionalidades arriscaram as suas vidas e muitas sacrificá-las-iam, tan-
tas vezes na solidão da madrugada diante de um pelotão de fuzilamento, para 
poder reunir informações ou prosseguir as operações de guerrilha. Nenhuma 
das perspetivas do século xxi sobre as personalidades e os acontecimentos, 
29
Introdução
os sucessos e fracassos daqueles dias deve diminuir o nosso respeito e reve-
rência para com a memória daqueles que pagaram um elevado preço para fa-
zer a guerra secreta.
Max Hastings
West Berkshire & Datai, Langkawi
junho de 2015
31
Antes do Dilúvio
1
A N T E S D O D I L Ú V I O
1 . 1 . E m b u s c a d a v e r d a d e
A guerra secreta começou muito antes de ser disparado o primeiro tiro. Num cer-
to dia de março em 1937, uma carta caiu sobre a secretária do coronel František 
Moravec, o destinatário era o «Chefe dos Serviços Secretos da Checoslováquia», 
ele mesmo. Começava assim: «Venho oferecer-lheos meus serviços. Devo di-
zer-lhe, antes de mais, quais são os meus conhecimentos: Desenvolvimento do 
Exército alemão. (a) A infantaria » E assim por diante em três páginas dati-
lografadas. Os checos, sabendo-se uma presa potencial de Hitler, realizavam 
espionagem com uma intensidade ainda ausente em todas as democracias da 
Europa. Inicialmente, responderam a esta abordagem com ceticismo, presu-
mindo tratar-se de mais um ardil nazi, entre tantos outros. Mas, no entanto, 
Moravec decidiu arriscar uma resposta. Depois de prolongada troca de corres-
pondência, o autor da carta, que Praga designaria de agente A-54, acordou um 
encontro na cidade de Kraslice situada na cadeia montanhosa dos Sudetos. O 
encontro quase ia sendo abortado por causa de um tiro: um dos assessores de 
Moravec estava tão nervoso que fez disparar o revólver no bolso, atravessando 
com uma bala a perna das calças do coronel. Felizmente, a tranquilidade foi 
restaurada antes da chegada do visitante alemão, que de imediato foi levado 
em segurança para uma casa vizinha. Trouxe consigo um maço de documentos 
secretos, que despreocupadamente tinha transportado numa mala de viagem 
através dos postos fronteiriços. Entre o material estava uma cópia do plano de 
defesa da Checoslováquia que revelou a Moravec a existência de um traidor 
nas suas próprias fileiras, que posteriormente viria a ser enforcado. A-54 par-
tiu de Kraslice ainda sem nome, mas com mais 100 mil marcos no seu pecúlio. 
Prometeu voltar a entrar em contacto e, de facto, forneceria informação de alta 
qualidade durante os três anos seguintes. Só muito mais tarde foi identificado 
como Paul Thummel, um agente dos serviços de informações do Abwehr com 
trinta e quatro anos de idade.
Episódios como este passaram a ser uma rotina quase diária para Moravec. 
Era uma figura apaixonada, ferozmente energética e de estatura mediana. 
Jogador perspicaz, especialmente de xadrez, falava fluentemente seis idiomas e 
conseguia ler algum latim e grego. Em 1914, com dezoito anos de idade, estudava 
32
A Guerra Secreta
na Universidade de Praga, com aspirações a tornar-se um filósofo. Recrutado 
para o Exército austro-húngaro, como a maioria dos checos, não estava dis-
posto a morrer pelos Habsburgo e, uma vez na frente, aproveitou a primeira 
oportunidade para desertar para o lado russo. Sob bandeira russa, foi ferido 
na Bulgária e acabou a guerra com a força voluntária Checa na frente italiana. 
Quando a Checoslováquia se tornou um Estado independente, de bom grado 
pôs de lado essas emaranhadas lealdades para se tornar num oficial do seu novo 
exército. Juntou-se aos serviços secretos em 1934, e viria a assumir a sua chefia 
três anos depois. Moravec aprendeu a maior parte desse ofício a partir de his-
tórias de espionagem compradas nas livrarias, e em breve descobriu que muitos 
dos agentes dos serviços de informações da vida real transitaram da ficção: os 
supostos informadores do seu antecessor provaram ter sido efabulações fruto 
da imaginação do homem, uma artimanha para esconder fraude.
O coronel direcionou grande parte dos recursos dos seus serviços secretos 
à prospeção de informadores na Alemanha, numa meticulosamente reservada 
rede de comunicações. Instalou uma empresa de empréstimos de curto prazo 
no interior do Reich, destinados aos clientes militares do seu serviço de infor-
mação. No prazo de um ano, noventa representantes do banco andavam por 
toda a Alemanha, a maioria funcionários competentes, mas alguns deles agentes 
dos serviços de informações que identificavam potenciais clientes com acesso a 
informação, e vulneráveis a suborno ou chantagem. Os checos foram também 
pioneiros das novas tecnologias: Microfilmagem, raios ultravioleta, escrita se-
creta e a mais moderna telecomunicação sem fios. O reconhecimento do seu 
papel na linha de frente fez com que Moravec fosse fortemente financiado, e 
isso permitiu-lhe ser capaz de pagar a um Major da Luftwaffe, de seu nome 
Salm, 5 mil Reichsmarks (cerca de 500 libras), como adiantamento, e poste-
riormente a enorme quantia de um milhão de coroas checas (7500 libras) pelos 
planos de combate da Força Aérea de Göring. Salm, no entanto, acabou por 
ser demasiado ostensivo nas manifestações da sua fortuna recente e acabaria 
por ser preso, julgado e decapitado. Entretanto, os espiões ao serviço de outros 
não estavam ociosos na Checoslováquia: só no ano de 1936, os agentes de se-
gurança de Praga prenderam 2900 suspeitos, a maioria deles supostamente a 
atuar em favor da Alemanha ou da Hungria.
Todas as grandes nações procuravam sondar os segredos das outras da 
mesma forma, utilizando meios explícitos ou ocultos. Depois da sua visita à 
Grã-Bretanha, em abril de 1934, o Marechal Russo Tukhachevksy, transmi-
tiu pessoalmente a Stalin a descrição feita por um agente da GRU do novo 
bombardeiro Handley Page Hampden da RAF, detalhando as suas variantes 
de motores Bristol e Rolls-Royce, e incluindo em anexo um esboço onde se 
mostrava o seu armamento:
33
Antes do Dilúvio
Em 1935, o Abwehr conseguiu o calendário de jogos da equipa de futebol 
de uma das fábricas da empresa britânica de produtos químicos ICI (Imperial 
Chemical Industries) que, ao longo da época, defrontaria a maioria das equipas 
das outras fábricas da empresa. Com esse estratagema, Berlim localizaria, com 
algum êxito, várias instalações químicas que a Luftwaffe até então desconhe-
cia. O aviador australiano Sidney Cotton foi pioneiro na realização de raides 
fotográficos sobre a Alemanha, a mando de Fred Winterbotham, comandan-
te de uma das alas do MI6. As estradas de verão da Europa fervilhavam com 
jovens casais em férias de turismo, alguns dos quais foram financiados pelos 
respetivos serviços de informações, e que mostravam um interesse pouco ro-
mântico em campos de aviação. O MI6 enviou um agente da RAF, designado 
como Agente 479, acompanhado de uma secretária que completava o disfarce, 
para um passeio de três semanas ao longo da Alemanha, e que foi um pouco 
prejudicado pelo facto de os perímetros das instalações da Luftwaffe raramen-
te estarem situados junto a rodovias, ao que se acrescia o problema de nenhum 
dos visitantes falar alemão. O aviador tinha inicialmente planeado levar a irmã, 
que era fluente no idioma, mas o marido não consentiu.
Para satisfazer interesses nazis, em agosto de 1935, o Dr. Hermann Görtz 
passou algumas semanas a passear nas regiões de Suffolk e Kent numa moto 
Zündapp, para identificar as Bases da RAF acompanhado da jovem Marianne 
Emig que viajava no seu sidecar. Mas Emig cansou-se do trabalho, ou perdeu a 
coragem, e Görtz, um advogado de quarenta e cinco anos, natural de Lübeck, 
e que tinha aprendido Inglês com a sua governanta, viu-se obrigado a acom-
panhá-la de volta à Alemanha. Regressaria para recolher a máquina fotográfi-
ca e outros bens que o casal tinha deixado para trás num bungalow alugado em 
Broadstairs, onde se incluíam planos da RAF em Manston. Infelizmente para 
o aspirante a super espião a polícia já estava na posse destes materiais incrimi-
natórios, depois de uma denúncia do senhorio. Görtz foi preso em Harwich e
condenado a quatro anos de prisão. Seria libertado e deportado em fevereiro
de 1939. Ainda ouviremos falar de Hermann Görtz.
Para chegar aos segredos dos seus vizinhos, todas as estruturas dos servi-
ços de informações das várias nações tinham ao seu serviço agentes colocados 
nas embaixadas no estrangeiro. O coronel Noel Mason-MacFarlane, adido 
militar em Berlim, era um dos mais proeminentes desses agentes britânicos. 
34
A Guerra Secreta
«Mason-Mac» era astuto, mas também bombástico. Um dia, em 1938, assus-
tou um visitante Inglês ao apontar-lhe, através da janela, o local onde Hitler 
assistiria, no dia seguinte, ao desfile de aniversário da Wehrmacht. «Tiro de 
espingarda facílimo,» disse o coronel, laconicamente. «Acabava com esse gajo 
enquanto o diabo esfrega o olho, e estou mesmo a pensar fazê-lo Com aquele 
lunático fora do caminho é bem possívelque as coisas passem a entrar nos ei-
xos.» É claro que Mason-MacFarlane não fez nada disto. Nos seus momentos 
de maior moderação tornar-se-ia muito próximo de alguns oficiais alemães, e 
transmitiu para Londres muitas informações acerca das intenções nazis. Esta 
breve descrição ajuda a ilustrar o papel que a fantasia desempenhava na vida 
dos agentes dos serviços de informações, que viviam equilibrados numa corda 
bamba entre as mais altas intenções e a baixa comédia.
Segundo as críticas mais desdenhosas, o governo americano não tinha ser-
viços de informações. Em sentido restrito, assim era, não tinha colocado agen-
tes no exterior. No seu território, o FBI (Federal Bureau of Investigation) de J. 
Edgar Hoover era o responsável pela segurança interna dos Estados Unidos. 
Apesar dos alardeados sucessos do FBI contra os gangsters, da vigilância in-
tensiva ao Partido Comunista dos Estados Unidos da América e aos sindica-
tos, pouco sabia dos espiões da União Soviética que andavam por todo o país, 
e nada fez para impedir o aumento exponencial das atividades das empresas de 
alta tecnologia. O adido militar alemão general Friedrich von Bötticher dizia, 
com alguma sobranceria, sobre seus anos de serviço em Washington o seguin-
te: «Foi tão fácil, os americanos têm uma mente tão aberta, publicam tudo. Não 
são necessários serviços secretos. Basta alguma dedicação e ler os jornais!» Em 
1936 foi possível a Bötticher enviar para Berlim detalhadas informações sobre 
as experiências americanas com foguetes. Um traidor americano vendeu aos 
alemães cópias de uma das conquistas tecnológicas mais acarinhadas no país, a 
mira para bombardeiros Norden. O general pediu ao Abwehr para não se in-
comodar a introduzir agentes secretos nos Estados Unidos da América, para 
preservar a boa-fé dos anfitriões na boa vontade nazi.
As agências de informação supervalorizam as informações obtidas a partir 
dos espiões. Um dos muitos académicos recrutados para os serviços secretos 
britânicos durante a guerra observaria com desdém: «O MI6 valoriza as infor-
mações na proporção do seu sigilo, não da sua precisão. Dariam sempre mais 
valor a uma fragmento de terceira categoria de desinformação tendenciosa 
contrabandeada desde Sófia nos botões da virilha de um romeno proxeneta e 
vagabundo do que a qualquer informação obtida a partir de uma cuidada leitu-
ra da imprensa estrangeira.» Correspondentes americanos no estrangeiro e di-
plomatas colocados no exterior forneciam a Washington uma visão do mundo 
tão plausível quanto a dos espiões europeus. O Major Truman Smith, o adido 
35
Antes do Dilúvio
militar americano há muitos anos colocado em Berlim e um caloroso admira-
dor de Hitler conseguiu providenciar um quadro mais preciso dos planos de 
combate da Wehrmacht do que o MI6.
Os adidos navais dos Estados Unidos colocados no Japão, o seu mais prová-
vel adversário, limitavam-se muitas vezes a fotografar os seus navios de guerra a 
ultrapassarem navios de passageiros e a trocar bisbilhotices no clube dos adidos 
em Tóquio. Henry Stimson, enquanto Secretário de Estado, tinha fechado em 
1929 o «Black Chamber», o seu departamento das operações de descodificação, 
seguindo o raciocínio de muitos dos seus compatriotas de que uma nação que 
não enfrenta nenhuma ameaça externa podia renunciar a tais sórdidos instru-
mentos. No entanto, tanto o Exército como a Marinha, isolados e numa feroz 
competição, sustentavam equipas de descodificação altamente dedicadas, ain-
da que pequenas. O sucesso de William Friedman, nascido na Rússia em 1891 
e formado em agronomia, cuja organização SIS (Signals Intelligence Service), 
liderada pelo ex-professor de matemática Frank Rowlett, replicaria a máquina 
japonesa de encriptação diplomática «Purple», cuja chave conseguiram que-
brar em setembro de 1940, foi ainda mais notável dado que os criptoanalistas 
americanos tinham parcos recursos. Tinham até aí feito poucas tentativas para 
quebrar as cifras alemãs porque não tinham meios para o fazer.
Os japoneses espiaram de forma enérgica a China, os EUA e os impérios 
europeus no sudeste asiático, que viam como uma presa potencial no futuro. 
Os seus agentes não eram diferentes dos outros: em 1935, quando a polícia 
de Singapura prendeu um expatriado japonês local por suspeita de espiona-
gem, a ansiedade do homem de evitar causar quaisquer embaraços a Tóquio 
foi tal que, seguindo o precedente de E. Phillips Oppenheim, engoliu ácido 
cianídrico na sua cela. Os nacionalistas chineses liderados por Chiang Kai-
shek sustentaram um serviço de contraespionagem para proteger a sua dita-
dura dos críticos domésticos, mas os japoneses conseguiram reunir informação 
quase sem impedimentos em toda a Ásia. Os britânicos estavam mais inte-
ressados na luta contra a agitação comunista interna do que em combater os 
potenciais invasores estrangeiros. Achavam ser impossível levar a sério «os 
rapazolas do oriente» como Churchill chamava de forma depreciativa aos ja-
poneses, ou «os minorcas escravos amarelos» nas palavras do responsável pe-
los Negócios Estrangeiros.
Os diplomatas da Grã-Bretanha foram claramente descuidados com a pro-
teção dos seus segredos ao aderirem às convenções dos cavalheiros vitorianos. 
Robert Cecil, que era um deles, escreveu: «A embaixada era a residência de 
festas do embaixador; seria impensável pensar que um dos convidados pudes-
se estar a espiar os outros.» Já em 1933, os Negócios Estrangeiros tinham re-
cebido uma chamada de atenção, ainda que de forma indireta: depois de um 
36
A Guerra Secreta
dos membros da estrutura se ter suicidado por asfixia num forno a gás, foi re-
velado que ele vendera cifras britânicas a Moscovo. O capitão John King, com 
funções de secretário, foi descoberto a financiar uma amante americana atra-
vés do tráfico de segredos. Em 1937, um funcionário da embaixada britânica 
em Roma, Francesco Constantini, conseguiu surripiar documentos da embai-
xada para os fazer chegar aos serviços secretos italianos, tudo porque o embai-
xador tinha como princípio confiar em quem o servia. Também nesse período, 
os homens de Mussolini conseguiram ler algumas das mensagens codificadas 
dos britânicos. Afinal, nem todos os italianos eram os «patetas alegres» que os 
seus inimigos supunham. Em 1939 quando os serviços de informações japo-
neses quiseram os livros de códigos do consulado britânico em Taipei, os seus 
agentes conseguiram com facilidade que um dos seus homens se tornasse num 
dos guardas noturnos. Durante os seis meses seguintes os agentes de Tóquio 
acederam repetidamente ao consulado de forma segura, assim como aos seus 
arquivos e livros de códigos.
No entanto, em nenhuma parte do mundo os serviços de informações eram 
geridos e avaliados de forma adequada. Embora os segredos tecnológicos fos-
sem de grande utilidade para as nações rivais, é pouco provável que grande parte 
do secretismo febril da vigilância política e militar tenha conseguido fornecer 
mais informação que uma leitura atenta e cuidadosa da imprensa. As rivalida-
des endémicas prejudicavam a colaboração entre as agências de informação. Na 
Alemanha e na Rússia, Hitler e Stalin distribuíram o poder entre as suas po-
lícias secretas, como forma de melhor concentrar o controlo nas suas mãos. A 
principal agência da Alemanha foi o Abwehr, cujo título significa literalmente 
«segurança», embora fosse a responsável tanto pelas informações reunidas no 
exterior, como pela contraespionagem em casa. Tratava-se de um ramo das for-
ças armadas dirigido pelo almirante Wilhelm Canaris. Quando Guy Liddell, 
diretor da contraespionagem do MI5 e um dos seus mais competentes oficiais, 
se esforçou mais tarde por explicar a incompetência do Abwehr, expressou uma 
sincera convicção de que Canaris estaria a soldo dos russos.
Os nazis também tinham a sua própria máquina de segurança, o 
Reichssicherheitshauptamt (Gabinete Central de Segurança do Reich) ou 
RSHA, dirigido por Ernst Kaltenbrunner e sob a alçada da estrutura impe-
rial deHimmler. Dela faziam parte a polícia secreta — Gestapo, e o seu ramo 
irmão da contraespionagem o Sicherheitdienst (Serviço de Segurança) ou SD, 
que se sobrepunha às atividades do Abwehr em muitas áreas. Uma figura chave 
era Walter Schellenberg, assessor de Reinhard Heydrich. Schellenberg seria 
mais tarde encarregado de chefiar os serviços de informações do RSHA no 
estrangeiro, que viria a ser integrado no Abwehr em 1944. O Alto Comando 
e as atividades diplomáticas ligadas à descodificação seriam conduzidas pelo 
37
Antes do Dilúvio
Chiffrierabteilung (Departamento de Cifras) coloquialmente conhecido como 
OKW/Chi, e o Exército tinha o ramo de informação rádio que viria a tornar-
-se no OKH/GdNA. O Ministério da Aeronáutica de Göring tinha opera-
dores de criptografia próprios, tal como a Marinha. A coleta de informação 
económica era coordenada pelo WiRuAmt (departamento de economia), e o 
Ministério dos Negócios Estrangeiros de Ribbentrop recolhia relatórios das 
embaixadas no estrangeiro. Guy Liddell escreveria, irritado: «Com o nosso 
sistema de governo, não havia nada que impedisse os alemães de obter as in-
formação que quisessem.» Mas os complexos serviços de informações e de 
contrainformação nazis eram muito mais eficazes na supressão da oposição 
doméstica do que na exploração das fontes estrangeiras, mesmo quando de-
las obtinham algo útil.
Os departamentos de informação franceses tinham um estatuto humilde 
e, como tal, magros orçamentos. O pessimismo sobreposto à ignorância levá-
-los-ia de forma consistente a exagerar a força militar alemão em pelo menos 
20 por cento. František Moravec acreditava que a política de segurança france-
sa piorava à medida que a ameaça de guerra crescia: «A sua vontade de “saber” 
parecia diminuir proporcionalmente com o aumento do perigo nazi.» O che-
co Moravec foi confrontado com a indiferença dos seus homólogos franceses, 
apesar de ter voltado de uma conferência dos Aliados com um presente de um 
famoso criminologista francês, o Professor Locarde de Lyons: um revelador 
químico que se provou ser útil para expor a escrita secreta.
Desde o início dos tempos, que os governos foram capazes de intercetar 
as comunicações dos outros somente quando os espiões ou os acidentes de 
guerra conseguiram fazer-lhe chegar às mãos mensagens materiais. Agora, 
porém, tudo era diferente. A comunicação sem fios era uma ciência um pouco 
anterior ao século xx, mas tinham sido precisos trinta anos para se transfor-
mar num fenómeno universal. Durante a década de 1930, os avanços tecno-
lógicos iriam provocar uma generalização das transmissões em todo o mundo. 
As ondas do éter cantarolavam e choramingavam com mensagens privadas, 
comerciais, militares, navais e diplomáticas, percorrendo as nações e atraves-
sando os oceanos. Tornava-se indispensável para os governos, generais e al-
mirantes a comunicação através da rádio de ordens operacionais e informação 
a cada subordinado, navio e formação fora do alcance de um telefone fixo. 
Garantir que estas trocas de comunicação fossem seguras implicava decisões 
avisadas. A velocidade à qual um sinal podia ser enviado e recebido e a sub-
tileza da respetiva criptografia eram inversamente proporcionais. Era impra-
ticável municiar as unidades do Exército nas linhas de frente com máquinas 
de cifra e, portanto, em vez disso, empregavam-se as chamadas mensagens 
de papel e lápis (feitas à mão), cuja sofisticação variava. O Exército alemão 
38
A Guerra Secreta
usou um sistema derivado do britânico, designado por Double Playfair (en-
criptação manual simétrica)*.
Para as mensagens mais secretas, um código quase inquebrável era o que se 
baseava num «one-time pad» (chave de uso único), em que o remetente empre-
gava uma combinação única de letras e/ou números que se tornava inteligível 
apenas para um destinatário a quem fosse previamente fornecida a fórmula de 
descodificação. Os soviéticos privilegiaram este método, apesar de os seus agen-
tes o terem comprometido algumas vezes ao usarem a «one-time pad» mais de 
uma vez, possibilitando aos alemães a sua descoberta. A partir de 1920, algumas 
das principais nações começaram a utilizar cifras consideradas inexpugnáveis 
desde que usadas corretamente, dado que as mensagens eram processadas atra-
vés de máquinas elétricas que permitiam milhares de milhões de combinações. 
A magnitude do desafio tecnológico que representavam os sinais das máquinas 
de criptografia do inimigo não impediu nenhuma das nações de tentar desco-
dificá-los. Este passou a ser o principal objetivo dos serviços de informações 
durante a Segunda Guerra Mundial.
A estrela mais brilhante do Deuxième Bureau, dos serviços de informações 
franceses, era o Capitão Gustave Bertrand, chefe do ramo de criptoanálise na 
Section des Examens (Secção de Análise) do Exército francês que tinha deixa-
do as fileiras militares para ocupar uma vaga que nenhum ambicioso oficial de 
carreira queria. Um dos seus contactos era um empresário parisiense chama-
do Rodolphe Lemoine, com o nome de batismo de Rudolf Stallman, filho de 
um rico joalheiro de Berlim. Em 1918 Stallman adotou a nacionalidade fran-
cesa e começou a trabalhar para o Deuxième simplesmente porque gostava da 
espionagem, que entendia como um jogo em si mesma. Em outubro de 1931, 
transmitiu para Paris a oferta de Hans-Thilo Schmidt, irmão de um general 
alemão, para a venda a França de informação sobre a Enigma, a fim de poder 
resolver um grave problema financeiro. Bertrand aceitou e, em troca de dinheiro 
vivo Schmidt entregou extenso material sobre a máquina, juntamente com as 
respetivas configurações de chave para outubro e novembro de 1932. Depois 
disso, permaneceria ao serviço de França até 1938. Como os franceses sabiam 
que os polacos também procuravam uma forma de quebrar o funcionamento 
da Enigma, as duas nações concordaram numa colaboração: os criptoanalistas 
polacos focavam-se na tecnologia, enquanto os seus homólogos franceses se de-
dicavam à descodificação dos textos. Bertrand também tentou uma aproximação 
com os britânicos, mas estes, numa fase inicial, mostraram-se desinteressados.
* Esta técnica encriptava pares de letras (dígrafos), e, dessa forma, caía na categoria das cifras
conhecidas como cifras de substituição poligráficas. Tal acrescentava uma força significativa a 
esta encriptação, quando comparada com as cifras de substituição monográficas que operavam 
com carateres simples. [N. do T.]
39
Antes do Dilúvio
Os decifradores da Grã-Bretanha tinham adquirido um dos primeiros mo-
delos comerciais da Enigma em 1927, examinando-a minuciosamente. Sabiam 
que modelos mais recentes eram bem mais sofisticados, com a inclusão de um 
complexo circuito elétrico conhecido como Steckerbrett, ou painel de controlo. 
Isso permitia-lhe estar dotada de uma gama de 159 milhões de milhões de mi-
lhões de posições para uma única letra. Aquilo que o engenho humano tinha 
inventado era passível, pelo menos teoricamente, de ser penetrado pelo engenho 
humano. Em 1939, no entanto, ninguém imaginaria, nem por um momento, 
que seis anos mais tarde as informações transmitidas através das ondas rádio 
viriam a provar ser preciosíssimas para os vitoriosos, e mais desastrosas ainda 
para os perdedores, que todos os relatórios feitos por todos os espiões das na-
ções em guerra.
1 . 2 . O s b r i t â n i c o s : c a v a l h e i r o s e j o g a d o r e s
A reputação do MI6 era incomparável à de qualquer outro serviço secreto. 
Embora Hitler, Stalin, Mussolini e os generais japoneses compartilhassem 
o ceticismo, ou até mesmo o desprezo, acerca das condições físicas do «velho 
leão» para lutar, olhavam para os seus espiões com grande respeito, cultivan-
do a ideia da sua omnisciência. As proezas britânicas nas ações clandestinas 
remontam ao século xvi, pelo menos. Francis Bacon escreveu na sua History 
of the Reign of King Henry VII (História do Reinado do Rei Henrique VII): 
«Quanto aos seus Espias secretos, utilizou-os tanto aqui comono exterior, para 
que eles descobrissem quais eram as Práticas e Conspirações que estavam a ser 
preparadas contra si, o que no seu caso seguramente se justificava.» Sir Francis 
Walsingham foi um dos mestres de espionagem da rainha Isabel I. Muito mais 
tarde, apareceriam os romances Kim de Rudyard Kipling, e Richard Hannay de 
John Buchan, pertencentes ao arrojado «clube dos heróis» que jogavam xadrez 
pela Inglaterra com mil peças vivas, num tabuleiro que se estendeu por vários 
continentes. Um agente secreto britânico dos tempos de guerra observou: «No 
que a este quadro respeita, praticamente todos os agentes que conheci tinham 
como preocupação, aqui e no exterior, tal como eu, uma espécie de Hannay.» 
O grande físico dinamarquês Niels Bohr disse ao oficial do serviço de infor-
mações científicas RV Jones que se sentia feliz em cooperar com o serviço se-
creto britânico porque «era dirigido por um gentleman.»
Aos serviços de informações britânicos tinha-lhes corrido bem a Grande 
Guerra. Os decifradores de códigos da Marinha, aos quais pertenceram ho-
mens como Dillwyn Knox e Alastair Denniston, que trabalharam na Sala 40 
do Almirantado, providenciaram aos comandos militares uma profusa infor-
mação sobre os movimentos da frota alemã de alto mar. A descodificação e 
 ISBN 978-989-8849-38-0
História
A GUERRA
SECRETA
ESPIÕES, CÓDIGOS E GUERRILHAS
1939–1945
«Um monumental 
novo trabalho.»
The New York Times
O aclamado jornalista e historiador • Bestseller internacional
A GUERRA SECRETA
«Pleno de autoridade, entusiasmante e notavelmente 
bem escrito.»
�e Telegraph
«O Sr. Hastings volta a ser o melhor. Depois de um 
quarto de século a criticar livros sobre serviços secre-
tos, A Guerra Secreta é o mais importante.»
�e Washington Times
«O melhor livro acerca do papel dos serviços de infor-
mações na Segunda Guerra Mundial.»
Sunday Times
«Este livro é altamente recomendado enquanto visão 
completa e panorâmica sobre o mundo da espionagem 
e os serviços secretos na Segunda Guerra Mundial, 
algo que há muito faltava na historiogra�a deste con-
�ito.»
New York Journal of Books
Os espiões, os códigos e as guerrilhas tiveram um papel central na Segunda Guerra 
Mundial. Foram usados por todas as nações para obter informação secreta sobre os 
seus inimigos e antecipar movimentações, tendo in�uenciado decisivamente o con�i-
to. Em A Guerra Secreta, Max Hastings, historiador especialista neste período e autor 
dos aclamados Catástrofe e Inferno, apresenta as mais extraordinárias sagas de infor-
mação e resistência, avaliando os verdadeiros triunfos dos espiões e dos decifradores de 
códigos e corrigindo mitos e falsas histórias, naquela que é uma nova perspetiva acerca 
do maior con�ito de sempre.
Hastings explora não só Alan Turing e os génios da encriptação de Bletchley Park, 
mas também os seus homólogos alemães, que obtiveram os seus próprios triunfos 
contra os Aliados. O livro mapeia as extraordinárias redes de espionagem da União 
Soviética, dos Estados Unidos, do Japão e da Grã-Bretanha e tenta compreender 
porque Stalin rejeitava tão frequentemente a informação recolhida pelos seus agentes 
desde o coração da máquina de guerra do Eixo.
Relacionando momentos fulcrais de batalhas no ar, em terra e no mar com o trabalho 
dos que, a partir dos seus países, combatiam a tecnologia do inimigo, Hastings desven-
da os documentos mais preciosos e os momentos-chave nesta guerra secreta, que 
garantiram que nenhuma nação desse por mal empregues as vidas e recursos gastos em 
busca de informação privilegiada. 
Um livro que expõe tudo sobre os serviços de informação dos Aliados e do Eixo, 
obrigatório para todos os interessados na Segunda Guerra Mundial
9 789898 849380
Sir Max Hastings é autor de 25 livros, muitos deles sobre 
guerra. Frequentou o University College, em Oxford, que 
abandonou ao �m de um ano para se dedicar ao jornalismo.
Passou muitos dos seus primeiros anos de jornalista como 
correspondente da BBC e de diversos jornais, tendo estado 
em 64 países e acompanhado 11 con�itos militares, entre os 
quais a guerra Israelo-Árabe de 1973, a Guerra do Vietname 
e a Guerra das Malvinas.
Entre 1986 e 2002, foi chefe da redação do Daily Telegraph 
e depois diretor do Evening Standard. Recebeu diversos 
prémios pela sua carreira literária e jornalística, incluindo, 
em 2012, o prémio da Pritzker Military Library e a Medalha 
do Duque de Westminster para a Literatura Militar pelo 
seu livro Inferno: O Mundo em Guerra.
Tem dois �lhos e vive com a mulher, Penny, numa zona rural 
do sul da Inglaterra, onde ambos praticam com entusiasmo 
a jardinagem.
Em Portugal, tem publicados os livros Operação Overlord 
(ed. Casa das Letras), Os Melhores Anos: Churchill 1940–
–1945 e Inferno (ambos ed. Civilização) e Catástrofe — 1914: 
A Europa Vai à Guerra (ed. Vogais).
Saiba mais sobre o autor em: 
www.maxhastings.com 
Do mesmo autor:
Catástrofe — 1914: A Europa Vai à Guerra 
UMA ANÁLISE GLOBAL DAS NARRATIVAS DE ESPIONAGEM
DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
C
M
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CM
MY
CY
CMY
K
capa 2 GS.pdf 1 29/08/16 17:10

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