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Resenha Antígona

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Resenha do texto “Antígona”, de Sófocles 
Aluna: Rafaela de Souza Velasco Teixeira Ceia 
Profª Me. Lívia Campos e Silva 
A) Introdução 
Este trabalho propõe-se a elaborar uma resenha para a tragédia grega 
“Antígona”. Essa obra foi escolhida pela presente aluna para ser objeto de aprendizagem 
por seu apelo à psicologia enquanto desígnio de parecer de grandes mestres da incipiente 
psicanálise e de outros campos de estudo, como a filosofia. Goethe, Hegel e Lacan são 
exemplos dos que se propuseram a estudar essa tragédia. Também foi escolhida porque 
mostra nitidamente a transição da lei do parentesco para a lei do Estado, trânsito 
significativo para a filosofia. 
Em exígua síntese, essa tragédia aborda a situação de Antígona, a cujo irmão 
Polinice não foram dadas honrarias fúnebres (porque lutou contra sua própria pátria, 
Tebas), enquanto a seu outro irmão, Etéocles, o rei Creonte as concede. Antígona, já no 
início da obra, se mostra contra as determinações de Creonte e resolve desobedecê-las 
para lutar pela dignidade de seu irmão. Creonte manda que ela seja enterrada viva em 
uma gruta de pedra. Hêmon, seu noivo e filho de Creonte, se mata ao saber que não pôde 
salvar sua noiva. 
Nessa tragédia vê-se claramente um antagonismo: Creonte, por um lado, está 
certo, pois está seguindo as leis do Estado. Por outro, Antígona também está certa, ao 
invocar o direito natural de dar honrarias fúnebres ao irmão. 
B) Desenvolvimento 
Entre os séculos V a IV a.C. eram populares em Atenas os rituais dionisíacos, 
em adoração ao deus Dioniso. Foi um período no qual a Grécia enfrentou a transição da 
aristocracia para a democracia. Nesses cultos eram encenadas as chamadas tragédias, as 
quais são o prelúdio do teatro. Essas peças tinham características as quais as definiam: 
cenário dividido em dois espaços (o palco e o coro) presença de heróis e heroínas, um 
dilema e final trágico. 
Heróis, após a ocorrência de uma falha aristotélica denominada de hamartia, 
fazem desenrolar uma série de acontecimentos que culminam no trágico. Entra aqui a 
 
 
visão de Aristóteles. Para o ilustre filósofo, a tragédia tem um viés catártico. O espectador, 
ao ver tudo que acontece, emerge em uma catarse na qual sente medo, compaixão, 
piedade. 
Esse efeito terapêutico da tragédia chamado de catarse, é conceito que prega 
que, para a pessoa se sentir bem, deve passar por um processo de descarga emocional 
muito forte. Catarse é sentir algo por meio do outro. Em Antígona, podemos dizer que 
esse processo ocorre nos períodos de maior sofrimento, como quando ela percebe que irá 
enfrentar Creonte para enterrar o irmão (compaixão), ou quando ela é sentenciada à morte 
(medo, piedade). 
Os personagens tentam impor sua vontade, mas acabam sendo determinados 
pelo destino. Isso não é fruto de um erro essencialmente, mas sim de uma ignorância, de 
uma “cegueira” dos personagens. Antígona estava tão centrada na sua vontade que não 
via atos precípuos diante de si; “são personagens que não sabem o que imaginam saber”. 
No entanto, temos que para Jacques Lacan, Antígona não cedeu ao seu desejo, e é aí que 
se debruça a postura ética da psicanálise, e ele abordará esse assunto em um de seus 
Seminários. 
 Com a hamartia pretendiam trazer à tona o sofrimento e os conflitos entre o 
desejo e o destino. Pode-se dizer que a punição é uma resposta à transgressão do que os 
gregos chamavam de harmonia, a “boa medida” que é tão cara aos helenos e está 
relacionada com a preambular democracia. 
A tragédia mimetiza a condição humana. Evidencia nossa vulnerabilidade, 
que a princípio achamos que podemos tudo e na verdade, a qualquer momento a situação 
pode mudar. É nesse momento que a tragédia é formadora do cidadão1, pois tudo está em 
constante mutação. 
Antígona narra o estabelecimento da pólis e a consolidação das regras postas, 
as leis, o direito. Antígona vai tratar exatamente dessa angústia entre as normas adentradas 
na cidade-Estado por via de autoridades e as normas “naturais” à natureza humana. De 
certa forma, pode-se construir o pensamento de que essas regras “naturais”, vistas do 
ponto de vista antropológico, não podem ser aplicadas a todos em todas as sociedades, 
 
1 Bocayuva, I. (2018). Sobre a catarse na tragédia grega. Anais de Filosofia Clássica, 2(3), 46-52. 
 
 
por não existirem leis costumeiras iguais em todos os lugares, por isso a necessidade de 
aplicar regras do Estado. 
Essa necessidade ocorre porquanto “uma sociedade é normalmente pensada 
como um sistema de normas, valores e regras que estruturam formas de comportamento 
e interação. As produções sociais (...) do desejo são (...) avaliadas em referências a 
normatividade que parecem intersubjetivamente partilhadas, e, por isso, dotadas de força 
de coesão”2. Para a filósofa Hannah Arendt, homens convivendo, em relacionamento uns 
com os outros, são capazes de colocar a si mesmos mediante a ação e o discurso: é a 
atividade política por excelência. Entretanto, esse relacionamento que se constrói nos 
corpos sociais ocorre de formas muito diversas. Mas para formar o caráter trágico, vemos 
que Antígona agiu por bondade e fraternidade, que, como aspecto catártico, foi 
imprescindível para essa tragédia marcada pelas relações públicas versus as relações 
privadas. 
C) Conclusão 
Pelo contexto em que surgiram, faz-se mister deixar claro que as tragédias 
têm um caráter mais que poético, são também possuidoras do título de instituição social. 
Por possuírem um coro de cidadãos, coro esse o qual julga, avalia, critica o que é 
encenado e por causa dessa idoneidade para julgar, ele é considerado um mecanismo 
democrático, é a cidade que está “falando” através do coro; Política envolve escutar o que 
o povo tem a dizer. Antígona faz parte do povo e o coro já anuncia essa situação dentro 
da narrativa. 
Ao colocar tantos aspectos em dualidade, a composição da obra reflete a 
conjuntura que estava se erigindo na sociedade grega: a consolidação da democracia e o 
discernimento das leis estatais. 
A personagem não só mostra o viés político e sua antinomia, mas também 
possui uma função terapêutica, que é a catarse. Na catarse o espectador sente pelas 
mesmas circunstâncias dos personagens e da trama, “expurgando-se” e “purificando-se”, 
o que trazia posterior sensação de recomeço e bem estar, questão muito meritória ao início 
da psicologia. 
 
2 SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo. 2ª edição revista. Cosac 
Naify, 2015. 
 
 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000. 
BOCAYUVA, Izabela. Sobre a catarse na tragédia grega. 2018. Anais de Filosofia 
Clássica, 2(3), 46-52. Universidade Estadual do Rio de Janeiro. 
SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do 
indivíduo. 2ª edição revista. Cosac Naify, 2015.

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