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História para Escola de Sargento das Armas Curso Eu Militar – ESA Período Colonial (Parte 4) Revoltas coloniais Podemos dividir as revoltas ocorridas durante o período colonial em dois tipos. Algumas revoltas, chamadas de revoltas nativistas, questionavam alguns aspectos da política adminsitrativa portuguesa, mas não desejavam a separação da colônia. Exemplos dessas revoltas são: 1) Revolta de Beckman (1684-1685) 2) Guerra dos Mascates (1710-1711) 3) Revolta de Vila Rica ou Revolta de Filipe dos Santos (1720) Já outras revoltas assumiam de fato um caráter separatista, desejando a separação de suas regiões em relação ao Reino de Portugal. Exemplos dessas revoltas, chamadas de revoltas separatistas, são: 1) Inconfidência Mineira (1789) 2) Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates (1798) Revolta de Beckman (1684-1685) Revolta ocorrida no Estado do Maranhão e Grão-Pará, no norte da colônia. Para abastecer a região – que era isolada dos centros da colônia – com escravos africanos, gêneros alimentícios e outros produtos, bem como para adquirir e exportar produtos locais, a Coroa Portuguesa criou a Companhia Geral de Comércio do Maranhão. Porém, essa companhia detinha o monopólio do comércio na região, e possuía práticas que desagradavam a população local: 1) Ela obrigava os produtores locais a vender seus produtos para ela a preços muito baixos; 2) Ela vendia as mercadorias que levava para a região a preços muito altos; 3) Havia reclamações da população local quanto à irregularidade do abastecimento dos produtos pela companhia. Essas práticas e a falta de cumprimento de acordos com a população local acabaram gerando a revolta, que foi liderada pelos irmãos Manuel e Tomás Beckman, senhores de engenho da região. Os revoltosos tomaram o governo local e os depósitos da companhia de comércio em fevereiro de 1684. Eles decidiram abolir o monopólio da Companhia Geral e criaram um governo provisório. A Coroa Portuguesa, ciente do que estava acontecendo, decidiu anular os privilégios da companhia e substituir o governador do Maranhão. Em maio de 1685, o novo governador chegou a São Luís. Ele dissolveu o governo provisório, executou Manuel Beckman e Jorge Sampaio e condenou o resto dos líderes da revolta à prisão ou ao degredo. Os monópólios da companhia de comércio, que haviam sido anulados, retornaram. Guerra dos Mascates (1710-1711) Conflito ocorrido entre as elites de Olinda e Recife, em Pernambuco. Após a expulsão dos holandeses do nordeste, o Recife – que havia recebido diversas melhorias e investimentos em infraestrutura urbana – passou a ser o local de moradia de diversos comerciantes portugueses, que eram chamados de mascates. Esses comerciantes atuavam no comércio local e também no abastecimento da região das Minas Gerais, e com isso levaram ainda mais prosperidade ao Recife. Enquanto isso, a antiga sede da capitania de Pernambuco, Olinda, estava em decadência: a produção de açúcar da região sofria com a queda dos preços do açúcar no mercado europeu e com a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas pelos holandeses. Para manterem sua produção diante da crise, os senhores de engenho de Olinda tiveram de recorrer a empréstimos com os comerciantes portugueses do Recife e por isso contraíram dívidas com eles, o que já gerou certo ressentimento dos primeiros em relação aos últimos. O ressentimento dos senhores de engenho de Olinda com os comerciantes do Recife piorou ainda mais em 1709, quando o Recife foi elevado à categoria de vila. Isso significava que os moradores do Recife teriam os mesmos direitos políticos dos olindenses, o que desagradou estes últimos, já que perderiam parte do seu “monopólio” de poder na região. Revoltados, os olindenses invadiram o Recife em novembro de 1710. Em junho de 1711, os comerciantes do Recife – com a colaboração das autoridades de outras capitanias – retomaram o controle da vila. O conflito terminou em outubro de 1711, com a vitória dos comerciantes do Recife. A Coroa responsabilizou mais de 100 aristrocratas olindenses pela guerra e os prendeu. Alguns chegaram a ser degredados para a Índia. Revolta de Vila Rica ou Revolta de Filipe dos Santos (1720) Em 1719, a Coroa Portuguesa passou a intensificar a cobrança do quinto na região das Minas Gerais por meio da construção das Casas de Fundição. Nas Casas de Fundição, o ouro era fundido em barras e com isso o controle sobre sua circulação era facilitado, a cobrança dos impostos tornava-se mais eficiente e o contrabando era prejudicado (pois era feito com ouro em pó). Essas medidas de maior controle de fiscalização, representadas pela construção das Casas de Fundição, desagradaram a maior parte da população de Vila Rica, cidade importante da região mineradora. Em julho de 1720, teve início a revolta. Os sediciosos (escravos negros, homens livres, militares, religiosos, doutores, comerciantes, indígenas) tomaram Vila Rica. Os revoltosos exigiam o fim das Casas de Fundição e a deposição do Conde de Assumar, então governador da Capitania de Minas Gerais. Eles denunciavam também a corrupção de diversos funcionários da Coroa. Os revoltosos, depois de tomarem Vila Rica, seguiram para Vila do Carmo, onde estava o Conde de Assumar. Queriam, com isso, que suas reivindicações fossem atendidas. O Conde recebeu os revoltosos e negociou com eles, afirmando que iria atender às negociações. No entanto, isso foi apenas uma estratégia para ganhar tempo e reunir tropas para enfrentar os revoltosos. Ele reuniu um pequeno exército e seguiu para Vila Rica. Em 17 de julho de 1720, foi decretada a prisão dos líderes da revolta. A rebelião estava debelada. Mesmo não tendo papel de destaque no movimento, Filipe dos Santos, um pequeno comerciante, foi julgado pelas autoridades e condenado à morte, para que sua punição servisse de exemplo àqueles que ousassem enfrentar a administração da Coroa. A revolta fez com que a Coroa Portuguesa decidisse separar a região das Minas da Capitania de São Paulo. Além disso, a fiscalização sobre a extração aurífera foi aumentada. Inconfidência Mineira (1789) Ao final do século XVIII, a mineração na Capitania de Minas Gerais entrou em crise. Com o declínio da mineração, o valor mínimo estipulado pela Coroa Portuguesa para a cobrança do quinto (100 arrobas de ouro) raramente era pago pelos mineradores. A situação piorou quando a Coroa Portuguesa publicou o Alvará de 1785, que proibia a existência de manufaturas têxteis na colônia. Com isso, a produção fabril da região mineradora ficou paralisada e os mineradores tiveram de recorrer à importação para conseguirem mercadorias, o que piorou a crise financeira. Em 1788, o Visconde de Barbacena assumiu o governo da Capitania de Minas Gerais. Seus objetivos eram claros: cobrar os quintos atrasados e aplicar a derrama, para aumentar a receita da coroa. Essas notícias alarmaram os habitantes da capitania, porque a mineração estava em declínio e a quantia de ouro extraída era baixa. Assim, a aplicação da derrama naquele contexto era vista como algo extremamente injusto. Muitos começaram a tramar uma conspiração contra o governo local, que ficou conhecida como Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira. Os inconfidentes eram, em sua maioria, membros da elite colonial: mineradores, fazendeiros, padres, funcionários públicos, profissionais liberais e militares de alta patente. O mais célebre deles, no entanto, foi um simples alferes: Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes. Influenciados pelas ideias iluministas e pela independência dos EUA, os inconfidentes pretendiam: 1) Proclamar uma república na capitania de Minas Gerais no dia da execução da derrama; 2) Colocar São João del-Rei como capital da nova república; 3) Criar uma Universidade em Vila Rica; 4) Tomar as instalações da Casa da Moeda; 5) Extinguir o monopólio estatal sobre a extração de diamantes; 6) Conseguir a anistia das dívidas com a Coroa Portuguesa;7) Separar Igreja e Estado; A questão da escravidão não foi tratada pelos inconfidentes, possivelmente porque muitos deles eram proprietários de escravos. No entanto, os planos dos inconfidentes começaram a ir por água abaixo quando a esperada derrama não foi decretada na data esperada. Entre fevereiro e março de 1789, o Visconde de Barbacena convocou algumas pessoas para efetuar os pagamentos atrasados. Uma dessas pessoas era um dos inconfidentes: Joaquim Silvério dos Reis. Ele aceitou denunciar os companheiros em troca do perdão de suas dívidas e de um prêmio pela sua lealdade à Coroa. Os inconfidentes foram presos e enviados para o Rio de Janeiro, onde foram julgados em maio de 1789 e condenados por crime de lesa-majestade. Onze deles foram condenados à morte, mas apenas Tiradentes – que assumiu sua participação na conspiração – foi executado e esquartejado. Seus restos mortais foram expostos ao público para servir de exemplo aos demais. Os outros condenados tiveram suas penas alteradas para degredos na África, prisões temporárias ou confiscos de bens. Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates (1798) Ocorreu na Bahia e tem esse segundo nome em razão da forte presença dos alfaiates no movimento. Esse movimento se inspirou nos ideais de igualdade e liberdade da Revolução Francesa, que estavam sendo difundidos na colônia por meio das sociedades maçônicas. Os líderes do movimento (Cipriano Barata, Agostinho Gomes, Francisco Muniz Barreto, Ignácio Siqueira Bulcão, dentre outros), que muitos acreditam terem sido maçons, se reuniam periodicamente para traduzir e estudar textos iluministas de Rousseau e Voltaire. As ideias revolucionárias logo se espalharam para as camadas populares e mais pobres, onde também ganharam apoio. Por isso, na Bahia a revolta não se restringiu apenas à elite: também envolveu mulatos, escravos africanos, negros libertos e brancos pobres. Essas camadas mais populares tinham o objetivo de promover não apenas mudanças políticas de caráter liberal, como também mudanças de caráter social. As camadas populares defendiam o fim da escravidão, ao passo que os membros da elite queriam o fim da opressão da Coroa Portuguesa sobre a colônia. Havia também reivindicações em prol de mudanças no sistema tributário, em prol da liberdade de comércio e em prol da representatividade dos cidadãos no poder público. Em agosto de 1798, foram encontrados panfletos espalhados por Salvador que convocavam a população a fazer uma revolução e implantar uma república igualitária pela Bahia. Temendo uma revolução popular, os intelectuais da elite se afastaram da revolta no momento em que ela se radicalizou. Dessa forma, a liderança do movimento foi tomada pelos populares. O governador da Bahia logo abriu uma investigação para encontrar os responsáveis pelos panfletos. Cartas dos conjurados foram investigadas, denúncias foram recebidas e após alguns dias dezenas de participantes do movimento foram presos. Luiz Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas, João de Deus e Manuel Faustino, mulatos pobres, foram enforcados em 1799 e seus corpos foram esquartejados e expostos em diferentes lugares da capitania.
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