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O CONCEITO DE PULSÃO NA PSICANÁLISE FREUDIANA

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1 
 
O CONCEITO DE PULSÃO NA PSICANÁLISE DE FREUDIANA 
 
 
Antonio Macedo dos Santos 
 
RESUMO 
Nas Ciências Humanas a Psicanálise vem sendo cada vez mais aprofundada. Se na psicologia 
ela é uma protagonista, na Filosofia, seus termos inquietam os estudiosos. No caso específico 
da Filosofia um dos conceitos que mais se encontra é o de Pulsão. Partindo de uma leitura 
filosófica o texto apresenta o conceito de Pulsão forjado por Freud, utilizando-se de uma 
metodologia bibliográfica, com o objetivo de explicar introdutoriamente a temática das 
Pulsões. Tendo a obra Além do princípio de prazer como base para reflexão, o artigo trabalha 
em torno de três eixos: o discurso referente a um princípio de prazer que estimula o 
funcionamento da vida psíquica; a análise de um mecanismo psíquico teorizado por Freud que 
aponta para algo a mais que um princípio de prazer: a compulsão à repetição e as suas 
manifestações; e descrição sobre esse além do princípio de prazer. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Princípio. Prazer. Transferência. Pulsão. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Não poucas são as interessantes reflexões que Freud, o pai da psicanálise, nos faz ter 
quando nos debruçamos sobre suas descobertas acerca do psiquismo. Na sua obra Além do 
princípio de prazer, ele nos conduz numa reflexão acerca daquela natural inclinação humana 
a conservar a vida. Ele reflete, na verdade, que essa natural inclinação é repleta de muitos 
labirintos e tem uma história que se confunde num passado remoto da existência entendida de 
modo global. 
 Este texto justifica-se na medida que se propõe a refletir um marco no pensamento 
Freudiano: o conceito de Pulsão. Efetivamente, de suas contribuições para a psicologia, para a 
antropologia e para a filosofia, o conceito de Pulsão é um daqueles que mais agudamente 
chamou a atenção dos estudiosos da psicanálise, pois representa para eles a possibilidade de 
uma síntese entre as intuições freudianas, as filosofias de Schopenhauer, Nietzsche e até de 
Empédocles, este último filósofo que viveu no século VI a.C1. 
 
 Professor de Filosofia na FADISI, Especialista em Psicopedagogia pelo Instituto Envira e Mestrando em 
Educação pela UFAC. 
1 C. GUIMARÃES, Freud e Schopenhauer: aproximações entre os conceitos de Pulsão e Vontade. In 
Perspectiva, Erechim, v.37, n.140, dezembro/2013, p. 113-124; A. M. SANTOS; A. S. PAES, A. S. A 
2 
 
 Para o aprofundamento deste conceito estruturamos o texto em três seções. Na 
primeira, O princípio de prazer, apresentamos a constatação do pai da psicanálise, Freud, de 
que existe um princípio (de prazer) que rege o funcionamento do aparelho psíquico. 
Descrevemos como Freud delineou esse princípio e quais outros princípios podem a ele ser 
correlacionados. 
 Na segunda seção, Uma compulsão à repetição pelo “fort da” e pela Transferência, 
abordamos o que Freud chegou a intuir como a indicação de que na repetição das mesmas 
vicissitudes pelo sujeito – às vezes até desagradáveis – tenha algo que não se alinha ao 
princípio de prazer e podendo ser anterior a ele ou estar-lhe além. 
 Na terceira seção, Além do princípio de prazer, refletimos sobre esse “além” plasmado 
no conceito de pulsão. Nesta seção, apresentamos todo um itinerário hipotético que o inventor 
da psicanálise propõe e ao qual buscará fundamentação, para explicar a questão das pulsões 
nos seres vivos ou no organismo como ele prefere dizer. 
 
 
1. O PRINCÍPIO DE PRAZER 
 
No primeiro capítulo de Além do princípio de prazer, Freud versa acerca do princípio 
que intitula a obra, definindo-o como uma espécie de mecanismo do aparelho psíquico cuja 
função é evitar o desprazer e proporcionar o prazer. Conforme Laplanche e Pontalis, é um 
princípio econômico, pois o desprazer está ligado ao aumento da quantidade de excitação e o 
prazer à redução destas no organismo2. 
Freud, conforme Laplanche e Pontalis, põe, ao lado do princípio de prazer, o de 
realidade. Eles regem o funcionamento do aparelho psíquico, todavia, o segundo modifica o 
primeiro na medida em que se impõe como regulador. Quer dizer, a procura da satisfação já 
não se efetua pelos caminhos mais curtos, mas faz desvios e adia o seu resultado. Este 
adiamento se deve às condições impostas pelo mundo exterior. Para Laplanche e Pontalis 
(1998), quando se passa do princípio de prazer para o princípio de realidade, não há uma 
supressão daquele por parte deste. Porquanto este garante a obtenção das satisfações no real e 
aquele continua hegemônico num amplo campo de atividades psíquicas. 
 
cosmologia de Empédocles e a teoria das Pulsões de Freud in Logos: Revista de Iniciação Científica da 
Faculdade Diocesana São José – FADISI, Rio Branco, AC, nº. 8, jan/jun 2017, P. p. 38-54. 
2 cf. J. LAPLANCHE; J. B. PONTALIS. Vocabulário da psicanálise. Trad. Pedro Tamen. 3. ed. São Paulo: 
Martins Fontes, 1998, p. 364. 
3 
 
Essa hegemonia do princípio de prazer começa a ser ameaçada quando se apresenta no 
ser humano, bem como no seio mesmo da natureza, uma compulsão à repetição. Esta 
compulsão manifesta-se, segundo o inventor da psicanálise, de duas maneiras: no jogo do fort 
da e na transferência. 
 
 
2. UMA COMPUÇÃO À REPETIÇÃO PELO FORT DA E PELA 
TRANFERÊNCIA 
 
O fort da é um jogo desenvolvido por um menino observado por Freud. Segundo o 
autor de Além do princípio de prazer, a criança tinha um ano e meio e só pronunciava 
algumas palavras passíveis de compreensão. Além das quais também dispunha de vários sons 
significativos, que eram compreendidos pelos seus. 
O menino não chorava quando, por várias horas seguidas, sua mãe o deixava com 
outra pessoa. Ele mostrava, no entanto, o intrigante costume de arremessar para longe de si os 
objetos que tinha às mãos. Assim que os arremessava pronunciava a expressão o-o-o-o que, a 
juízo de Freud, correspondia a “fort”, que significa “fora” em alemão3. 
Freud notou que aquilo tudo era um jogo que o menino inventara. A finalidade de seus 
arremessos era a de brincar de “estar fora”. Esta notação foi corroborada quando, no decurso 
de algum tempo, Freud notou que menino possuía um carretel de madeira atado a um cordão. 
Ele não arrastava o brinquedo pela casa, mas prendia junto a si o cordão e lançava o carretel 
por sobre os parapeitos de seu berço. Assim, ele fazia com que o carretel desaparecesse sob 
os apoios laterais de seu berço e o fazia também reaparecer, puxando-o pelo barbante. 
Quando era dado este segundo passo, o reaparecimento, ele saudava o brinquedo dizendo 
“da”, que em alemão significa “aqui”4. 
Segundo o pai da psicanálise, este último ato não era tão valorizado pelo menino 
quanto o primeiro. Posto que o maior prazer estivesse ligado ao primeiro ato, ao 
desaparecimento, o ressurgimento continuava a ser incansavelmente repetido. Assim sendo, 
continua Freud, o menino fazia renúncia a um instinto (à satisfação do instinto) ao permitir as 
saídas de sua mãe. Por outro lado, ele se compensava em ato, pondo em cena o mesmo 
desaparecimento e retorno com os objetos que estavam ao seu alcance5. 
 
3 Cf. FREUD. Mas alla del principio del pracer. Trad. Luis Lopez-Ballesteros. In S. FREUD. Obras completas, 
tomo III, 4. ed. Madrid: Biblioteca Nueva, 198, p. 2511. 
4 Cf. Ibidem, cit., p. 2511-2512. 
5 Cf. Ibidem, cit., p. 2512-2513. 
4 
 
Após tais observações, Freud dirige sua atenção para o fato de que a saída da mãe não 
poderia ser agradável e indiferente para o menino. Sendo assim, a preocupação do inventor da 
psicanálise é de saber como poderia concordar com o princípio de prazer a repetição de um 
jogo nada prazeroso, uma vez que ao lançar o objeto de modo que ele desaparecesse, ou que 
“ficasse fora”, poderia serassim mesmo a satisfação de um impulso vingativo do menino 
reprimido contra sua mãe por haver se separado dele. Assim, Freud conclui, a partir disso, que 
mesmo sob o domínio do princípio de prazer há caminhos suficientes para converter em 
objetos de recordação e da elaboração psíquica acontecimentos desagradáveis6. 
 Quanto à Transferência, no começo do terceiro capítulo de Além do princípio de 
prazer, Freud afirma que no início da psicanálise a tarefa do analista era identificar os 
enigmas do paciente, reuni-los e, no momento oportuno, comunicá-los. Contudo, a questão 
terapêutica não ficava completamente resolvida, porque era preciso que o paciente 
confirmasse, por meio de suas recordações, as interpretações obtidas pelo analista. Nesse 
ponto se chegava a um novo problema: as resistências criadas pelo paciente. Urgia, portanto, 
descobri-las, apontá-las a ele e incitá-lo a superá-las. Essa técnica representou uma inovação 
na medida que fazia intervir a sugestão que se apresentava como transferência7. 
O fim proposto com esta nova técnica – o de fazer consciente o que estava 
inconsciente – não podia ser totalmente alcançado, pois o paciente poderia não recordar todo 
o recalcado8 e poderia não recordar precisamente o que seria mais importante no tratamento. 
Assim, o paciente não se convenceria da interpretação que lhe foi comunicada pelo analista. 
Dessa forma, o paciente sentir-se-ia coagido a repetir experiências pretéritas como se fosse 
um evento atual, o que contrariaria as expectativas do analista, que desejaria que ele as 
recordasse como fatos superados9. 
O inventor da psicanálise arremata o terceiro capítulo de Além do princípio de prazer, 
fazendo eco a seu objetivo ao iniciá-lo: mostrar que a compulsão à repetição já aponta para 
 
6 Cf. Cf. FREUD. Mas alla del principio del pracer, cit., p. 2513. 
7 Cf. Ibidem, p. 2514. 
8 Consoante Laplanche e Pontalis, recalque ou recalcamento é uma operação pela qual o sujeito procura repelir, 
ou manter representações no inconsciente. Recalcar e reprimir não tem o mesmo significado. Reprimir é uma 
operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno. O que 
diferencia recalcado e reprimido é o fato deste último ocorrer de forma consciente. Outro diferencial é que o 
conteúdo reprimido não se tornar inconsciente, mas pré-consciente, pois permanecem acessíveis à consciência, 
como, por exemplo, conhecimentos e recordações não atualizadas, cf. J. LAPLANCHE; J. B. PONTALIS. 
Vocabulário da psicanálise, cit., p. 350, 430, 457. 
9 De resto, Almeida reforça que a transferência comporta três fatores fundamentais: a iteratividade, a 
atemporalidade e a coerção. A iteratividade porque não se sabe determinar o momento em que ela vai cessar; a 
atemporalidade porque a experiência vivenciada outrora pode voltar a qualquer hora, mesmo que sob outra 
nuança, e coerciva por obrigar o sujeito a reviver as mesmas experiências, cf. R. M. ALMEIDA. Nietzsche e 
Freud: eterno retorno e compulsão à repetição. São Paulo: Loyola, 2005, p. 58. 
5 
 
tendências que estão “além” do princípio de prazer e, portanto, são mais elementares do que 
ele e independente dele, que até aquele momento era força dominante nos processos 
psíquicos. Este “além”, segundo Freud, se deixa notar porque traz à tona sentimentos que não 
comportam nenhuma possibilidade de prazer. A estas tendências Freud chamou de pulsões. 
 
 
3. ALÉM DO PRINCÍPIO DE PRAZER 
 
 Uma pulsão, segundo Freud, 
 
seria (...) uma tendência própria do organismo vivo à 
reconstrução de algo anterior, que o animado teve que 
abandonar sob o influxo de forças exteriores, perturbadoras; 
uma espécie de elasticidade orgânica, ou, se se quer, a 
manifestação da inércia na vida orgânica10. 
 
Nessa definição de pulsão, Freud destaca, como acabamos de notar, uma tendência 
para o inorgânico, soa um tanto estranho, visto que era comum significá-la como um fator que 
impulsiona à modificação e à evolução. Agora, com essa nova concepção, é preciso que se 
reconheça exatamente o contrário, ou seja, a manifestação da natureza conservadora do 
animado. Além disso, as pulsões são dotadas de um caráter historicamente adquirido11. 
No nosso entendimento, corre-se o risco de não notar-se este caráter quando a tradução 
da obra de Freud que se tem em mãos utiliza – como faz a tradução brasileira – no lugar de 
“pulsão” a palavra “instinto”, pois “instinto” é entendido como um esquema de 
comportamento herdado, próprio de uma espécie animal, que pouco varia de um indivíduo 
para outro; que se desenrola numa sequência temporal pouco suscetível de alterações e que 
parece corresponder a uma finalidade. Com as pesquisas contemporâneas o significado de 
“instinto” passou a indicar, também, a noção de um padrão de conhecimentos, de mecanismos 
inatos de desencadeamento, etc., muito diferente da noção freudiana de pulsão. Laplanche e 
Pontalis reforçam que como tradução mais adequada ao termo usado por Freud, “trieb”, seria 
necessário recorrer à palavra “pulsão”, como fizemos, porque, assim como “trieb”, ela 
também conserva a nuança de uma impulsão, de um impelir a algo12. 
Para confirmar tanto o caráter historicamente adquirido quanto uma natureza 
conservadora quanto, Freud utiliza como exemplo algumas espécies de peixes que, no período 
 
10 FREUD. Mas alla del principio del pracer, cit., p. 2524. 
11
 Cf. Ibidem, p. 2525. 
12 Cf. J. LAPLANCHE; J. B. PONTALIS. Vocabulário da psicanálise..., cit. p. 242, 394. 
6 
 
da desova, migram para águas distantes das que habitam. O objetivo deles é depositar nessas 
águas os seus ovos. Essa migração, segundo os biólogos do tempo de Freud, se deve ao fato 
deles buscarem os lugares que antigamente sua espécie ocupava13. 
Mas se as pulsões são conservadoras, e se elas tendem à morte ou, mais precisamente, 
à restauração de um estado anterior, a que se deve o progresso e a evolução na vida? 
Para responder a este problema o inventor da psicanálise reafirma que todas as pulsões 
orgânicas são, de fato, conservadoras e historicamente adquiridas. Assim, segundo ele, todos 
os êxitos da evolução orgânica devem ser creditados às influências exteriores. Tais 
influências, portanto, foram perturbadoras e desviantes. O ser animado elementar – continua 
Freud – não queria transformar-se desde seu princípio. Ele havia repetido sempre sob 
condições idênticas um só e mesmo caminho vital. O que deixou uma sequela sob esse 
processo evolutivo foram, em última instância, as transformações sofridas pela terra devido a 
sua rotação em torno do sol14. 
As pulsões orgânicas conservadoras receberam cada uma destas forçadas 
transformações no curso da sua vida, conservando-as para a repetição. Deste modo, elas têm 
de reproduzirem a enganadora impressão de que essas transformações forçadas conduzem à 
evolução e ao progresso, quando antes se propõe não mais do que, por caminhos tanto novos 
quanto velhos, alcançar um antigo fim15. 
Este fim consiste num estado antigo, um ponto de partida que o animado abandonara 
alguma vez e para o qual tende a voltar por todos os caminhos da evolução. Assim sendo, 
continua Freud, se por experiência temos de aceitar que todo vivente morre por causas 
“internas”, voltando, por assim dizer, ao inorgânico, pode-se afirmar que: “A meta de toda 
vida é a morte. E com igual fundamentação: O inanimado era antes que o animado”16. Deste 
modo, a morte parece ser uma espécie de lei natural. 
Freud aprofunda ainda mais esta afirmação, acrescendo-lhe que numa época 
indeterminada foram despertas na matéria inanimada as qualidades de vivente. Quando isso 
aconteceu foi gerada uma tensão na matéria. Esta matéria, que antes era inanimada, tentou 
neutralizar essa tensão. Ao fazê-lo, surgiu a primeira pulsão: a de voltar ao inanimado.Para 
essa substância, então vivente, morrer era algo extremamente fácil. Isso porque não teria que 
 
13 Cf. FREUD. Mas alla del principio del pracer..., cit., p. 2525. 
14 Cf. Ibidem, p. 2526. 
15 Cf. Ibidem, p. 2526. 
16 Ibidem, p. 2526, itálicos do autor, trad. nossa. 
7 
 
percorrer mais que um pequeno curso vital, cuja direção, segundo Freud, já se achava 
determinada pela composição química da jovem vida17. 
Durante longo tempo, continua o pai da psicanálise, a substância viva sucumbiu 
facilmente e foi incessantemente recriada. Entretanto, as tais influências externas reguladoras 
se transformaram de maneira tal que impeliram a substância ainda sobrevivente a desvios 
cada vez mais consideráveis de seu primitivo curso vital e a forçou a trilhar sendas mais 
complicadas até chegar à sua meta derradeira: a morte18. 
Mas essa ideia de que as pulsões, em sua totalidade, servem para reconduzir a 
substância viva ao inorgânico propicia um novo problema para Freud, pois ela se coloca em 
oposição às chamadas pulsões de auto conservação. Freud responde, então, que estas últimas 
são pulsões parciais, porque se destinam a assegurar ao organismo um caminho próprio para o 
retorno ao inorgânico e a manter afastadas todas aquelas possibilidades de retorno que não são 
imanentes ao organismo. Resta que a misteriosa e inexplicável tendência do organismo a 
afirmar-se contra o mundo inteiro desaparece e só permanece o fato dele não querer morrer 
senão à sua maneira. Desse modo, ajunta Freud, surge o paradoxo de que o organismo 
vivente se revela energicamente contra perigos que poderiam ajudá-lo a alcançar por um 
caminho breve seu fim último19. 
Chegado a este ponto, o autor de Além do princípio de prazer questiona esta resposta e 
opera nela uma correção. Esta correção, ele a inseriu por ter reconhecido na conservação do 
indivíduo um caso particular das pulsões de vida. Analisando os organismos elementares que 
compõem o complexo corpo de um ser animado superior, Freud observou que nem todos eles 
percorrem todo o caminho evolutivo até chegarem à morte natural. Alguns desses elementos – 
as células germinativas – conservam, provavelmente, a estrutura primitiva da substância viva. 
Contudo, ao final de algum tempo, elas se separam totalmente do organismo. Separados do 
organismo elas levam consigo toda a carga pulsional adquirida e herdada. De acordo com 
Freud, talvez seja justamente esta carga pulsional adquirida e herdada que tornam possível a 
existência independente destes organismos20. 
Postas em condições favoráveis, estas células começam a se desenvolver, isto é, a 
repetir o mecanismo ao qual devem sua existência. Este processo termina levando até o final 
do desenvolvimento uma parte de sua substância, enquanto a outra, na qualidade de um novo 
resto germinativo, retorna ao começo da evolução, ou seja, é reabsorvida pelo corpo. A todo 
 
17 Cf. S. FREUD. Mas alla del principio del pracer..., cit., p. 2526. 
18 Cf. Ibidem, p. 2526-2527 
19 Cf. Ibidem, p. 2527. 
20 Cf. Ibidem, p. 2527. 
8 
 
esse esforço do organismo de preservar essas células germinativas, Freud ajunta o fato de que 
esse mesmo organismo propicia o encontro dessas células com outras semelhantes a elas e, ao 
mesmo tempo, diferente delas21. 
As pulsões que cuidam dos destinos destes organismos elementares que sobrevivem ao 
ser unitário, procurando refugiá-los durante todo o tempo em que permanecem indefesos 
frente às excitações do mundo exterior e facilitando o seu encontro com as células germinais 
constitui, conforme Freud, o grupo das pulsões sexuais. Estas pulsões são conservadoras no 
mesmo sentido que as outras, dado que reproduzem estados anteriores da substância animada. 
Porém, o são em grau superior por duas razões. Primeiro porque se mostram mais resistentes 
contra as atuações exteriores e, segundo, por conservarem a vida por um espaço de tempo 
maior. Elas são as verdadeiras pulsões de vida22. 
Pelo fato de atuarem contra a tendência das pulsões, cuja função é conduzir a 
substância viva à morte, surge uma oposição entre elas. Para o autor de Além do princípio de 
prazer, parece haver uma espécie de retardamento23 na vida do organismo. Enquanto um dos 
grupos de pulsão se precipita para adiante a fim de alcançar o fim último da vida, o outro 
grupo retrocede ao chegar a determinado ponto do caminho e volta a empreendê-la de novo, 
desde um ponto anterior, e, assim, prolongar, sua duração. Esta afirmação do pai da 
psicanálise revela uma “oposição”, mas não compreendida tecnicamente. Na verdade, seria 
mais ajustado afirmar que estas duas pulsões estão num combate no qual o entrelaçamento e, 
portanto, as trocas de forças, se desenrolam indefinida e continuamente24. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Ao iniciar essas reflexões afirmamos o objetivo outro não era senão o de fornecer ao 
leitor uma inicial aproximação ao conceito de pulsão em Freud. Sendo assim, o 
desenvolvimento do texto foi centrado nos textos de Freud e muito pouco nos referimos a 
comentadores, a não ser para esclarecer ou ilustrar mais algum conceito em especial. 
 Foi alcançado o objetivo? Pensamos que sim, na medida que não foram protelados e 
nem preteridos conceitos e definições que cercam o tema de modo geral. De fato, na primeira 
 
21 Cf. S. FREUD. Mas alla del principio del pracer, cit., p. 2527. 
22 Cf. Ibidem, p. 2527. 
23 A expressão “retardamento” é utilizada na tradução espanhola das obras de Freud, que usamos aqui como 
referência. Na tradução brasileira a terminologia usada é “ritmo-vacilante”, cf. S. FREUD, Além do princípio de 
prazer, cit. p. 58. 
24 Cf. S. FREUD. Mas alla del principio del pracer, cit., p. 2527-2528. 
9 
 
seção percorremos, ainda que de maneira muito sintética, a noção do princípio de prazer. Ao 
fazermos isso, percebemos o pressuposto de Freud e suas iniciais convicções. 
 Estas iniciais convicções foram sendo revistas pelo inventor da psicanálise na medida 
que avançava o seu trabalho clínico de observação e o seu trabalho intelectual de fazer 
hipóteses de forças ou, mais precisamente, de tendências que apontavam para algo que 
estivesse além daquelas iniciais certezas sobre o princípio de prazer. Foi quando vimos o jogo 
do fort da daquele menino de um ano e meio e noção de compulsão à repetição. 
 Por este jogo e por esta compulsão o pai da psicanálise intuiu que as forças que regem 
a vida são, em última análise, as pulsões. Estas pulsões dividem-se, basicamente, em dois 
grupos as pulsões de vida e as pulsões de morte. Elas entrelaçam-se numa de forma que uma 
não pode ser pensada, dita, expressa sem a outra, sem a referência, sem a sua diferença. 
Todo o esforço de Freud em torno da questão aqui abordada não passa, como ele 
mesmo afirma, de uma suposição, de uma crença, que acabou assumindo a roupagem de uma 
certeza. Usando uma figura poética, ele acentua que talvez essa crença numa regularidade 
interior, ou numa lei natural para morte, não seja mais do que uma das ilusões que temos 
criado para suportar o peso da existência. De resto, não se trata, afirma ele, de uma crença 
arcaica, visto que a noção de morte natural era algo estranho para os povos primitivos. Estes 
atribuíam cada falecimento em seu meio à influência de algum mau espírito ou inimigo. No 
entanto, para passar da crença para a ciência restava ainda fundamentar esta crença sob outras 
bases25. 
Ele encontrou essas bases na biologia evolucionista de A. Weismann (1834-1914) e de 
modo mais incisivo ainda da filosofia de Empédocles. Dessa forma, especificamente no tema 
das pulsões, Freud, segundo nossa leitura, foi argutíssimo em tecer análises, mas não foi tão 
arguto em construir nenhum estatuo epistemológico próprio para elas. Como ele associou sua 
psicanálise à biologia e à filosofiaé um tema para próximas reflexões, quando novamente nos 
depararemos com as pulsões que se amalgamam vida a fora... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 Cf. S. FREUD. Mas alla del principio del pracer, cit., p. 2528. 
10 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, R. M. Nietzsche e Freud: eterno retorno e compulsão à repetição. São Paulo: 
Loyola, 2005. 
 
FREUD, S. Além do princípio de prazer. Trad. Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: 
Imago, 1976. 
 
FREUD, S. Mas alla del principio del pracer. Trad. Luis Lopez-Ballesteros. In FREUD, S., 
Obras completas, tomo III, 4ª. ed. Madrid: Biblioteca Nueva, 1981. 
 
GUIMARÃES, C. Freud e Schopenhauer: aproximações entre os conceitos de Pulsão e 
Vontade in Perspectiva, Erechim, v.37, n.140, dezembro/2013, p. 113-124. 
 
LAPLANCHE, J.- PONTALIS, J.B. Vocabulário da psicanálise. Trad. Pedro Tamen. 3ª. ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
 
SANTOS, A. M.- PAES, A. S. A cosmologia de Empédocles e a teoria das Pulsões de Freud 
in Logos: Revista de iniciação científica da Faculdade Diocesana São José – FADISI, Rio 
Branco, AC, nº. 8, jan/jun 2017, p. 38-54.

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