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TCC Ratio SS - Liz

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RATIO - FACULDADE TEOLÓGICA E FILOSÓFICA 
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
LIZANDRA NADJA DE SOUSA LOPES DUARTE
O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
Fortaleza 
2016
O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
Monografia submetida à aprovação do Curso de Bacharelado em Serviço Social pela Faculdade Teológica Ratio, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Profa. Esp. Adryana Estácio Trummer
Fortaleza
2016
LIZANDRA NADJA DE SOUSA LOPES DUARTE
O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Teológica Ratio, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos (as) professores (as).
Data de aprovação: ____/____/____ 
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Prof.ª Esp. Adryana Estácio Trummer
Orientador (a)
___________________________________________________________________
Prof.a Ms. Maria do Socorro Lima Martins Matos
Ratio- Faculdade Teológica e Filosófica
___________________________________________________________________
Prof. Ms. Jorge Gomes Marinho
Ratio- Faculdade Teológica e Filosófica
Dedico esta pesquisa a todas as pessoas que de alguma forma sentem-se apaixonadas pelo mundo azul e pelas diversas peculiaridades do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A todos que buscam ajudar no processo de inclusão social dos autistas, esta pesquisa também é dedicada a vocês. 
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pois somente Ele é digno de toda honra, glória, louvores e agradecimentos. Sem Ele jamais teria conseguido! Obrigada meu Deus!
Agradeço a meu amado esposo Sérgio Duarte, meu maior incentivador, aquele que não me deixou desistir em nenhum momento e que sempre esteve ao meu lado. Meu grande amigo e companheiro. Obrigada meu amor!
Agradeço aos meus pais, Neto e Meire, vocês são, sem dúvidas, essencias no meu processo de formação acadêmica. Vocês são o alicerce que me faz manter-se em pé.
Agradeço a todos os professores que tive o prazer de conhecer durante essa caminhada de quatro anos. Cada ensino será levado para o resto da vida. Foi de muita importância para meu crescimento pessoal e acadêmico o que cada professor (a) me passou.
Agradeço em especial a minha orientadora Adryana Estácio Trummer, obrigada por ter me ajudado a melhorar em todos os aspectos a minha pesquisa, por ter me orientado sem hesitar. 
Meu muito obrigada a todos vocês! 
“Filho meu, não te esqueças da minha lei, e o teu coração guarde os meus mandamento. Porque eles aumentarão os teus dias e te acrescentarão anos de vida e paz. Não te desamparem a benignidade e a fidelidade; ata-as ao teu pescoço; escreve-as na tábua do teu coração. E acharás graça e bom entendimento aos de Deus e dos homem. Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal. Isto será saúde ao teu âmago, e medula para teus osso.”
PROVÉRBIOS 3. 1-8
RESUMO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma síndrome que atinge diversas crianças e adultos no mundo inteiro. É uma síndrome bastante complexa por trazer características diferenciadas em cada pessoa que é diagnosticada com essa síndrome. Esta pesquisa tem como objetivo geral compreender o papel da família no processo de inclusão social de crianças com TEA atendidas na Casa da Esperança. Como objetivos específicos busca identificar de que forma a família atua no processo de inclusão social de crianças com TEA; descrever quais as etapas do processo da inclusão social e observar / analisar as atividades desenvolvidas pela instituição com as crianças e junto das famílias. O método utilizado na execução deste trabalho foi o método dialetico, tendo em vista que durante o decorrer da pesquisa intercalo os pensamentos dos autores junto ao meu e também as respostas obtidas nas entrevistas com as famílias. Esta pesquisa é de suma importância para o crescimento pessoal e profissional. Como resultado desta pesquisa foi possível ver com mais clareza que as pessoas que são portadoras do autismo costumam ficarem isoladas, sozinhas, e muitas vezes sua única forma de socialização é junto com a família. Assim, pode-se compreender que a família tem uma grande importância dentro do processo de inclusão social de pessoas com autismo, pois será dentro do âmbito familiar que essas pessoas irão adquirir seus primeiros contatos afetivos e se tiverem uma base familiar sólida e sentirem-se confiantes conseguirão, mesmo que vagarosamente, interagir com as demais pessoas da sociedade.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista; Autismo Infantil; Família; Inclusão Social.
ABSTRACT
Autism Spectrum Disorder (ASD) is a syndrome that affects many children and adults worldwide. It is a very complex syndrome because it brings differentiated characteristics in each person who is diagnosed with this syndrome. This research aims to understand the role of the family in the process of social inclusion of children with ASD attended at Casa da Esperança. As specific objectives, it seeks to identify how the family acts in the process of social inclusion of children with ASD; To describe the stages of the social inclusion process and to observe / analyze the activities carried out by the institution with the children and with the families. The method used in the execution of this work was the dialectical method, considering that during the course of the research the authors' thoughts were mixed with mine and also the answers obtained in the interviews with the families. This research is of paramount importance for personal and professional growth. As a result of this research it was possible to see more clearly that people who are carriers of autism are usually isolated, alone, and often their only form of socialization is with the family. Thus, it can be understood that the family has a great importance in the process of social inclusion of people with autism, because it will be within the family that these people will acquire their first affective contacts and if they have a solid family base and feel Confident, even if slowly, to interact with other people in society.
Keywords: Autism Spectrum Disorder; Childhood Autism; Family and Social Inclusion
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABA		Applied Behavior Analysis
AMA		Associação de Amigos do Autista
CAPS		Centro de Atenção Psicossocial
CID		Classificação Internacional de Doenças
CORDE	Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
DPEE		Diretoria de Políticas de Educação Especial
DSM		Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
MEC		Ministério da Educação 
NAF		Núcleo de Atenção a Família
NOB		Norma Operacional Básica
OMS		Organização Mundial da Saúde
ONGs		Organizações Não Governamentais
ONU		Organização das Nações Unidas
PECS		Picture Exchange Communication System
PEP-r		Perfil Psicoeducacional Revisado
PNAS		Política Nacional de Assistência Social
SECADI	Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
SUAS		Sistema Único de Assistência Social
SUS		Sistema Único de Saúde
TCLE		Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TEACCH	Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handcapped Children
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	11
2 TRANTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)	19
2.1 A história do autismo e seus conceitos	19
2.2 Legislações para pessoas com autismo	24
2.3 As diferentes características do TEA	26
2.4 As maiores dificuldades enfrentadas por crianças com TEA	31
2.5 Os tratamentos mais utilizados paracrianças com TEA	34
3 A FAMÍLIA E A INCLUSÃO SOCIAL: UMA VIA DE MÃO DUPLA	38
3.1 Conceitos gerais sobre família	38
3.2 Os diferentes tipos de família	42
3.3 A inclusão social e a importância da família nesse processo	46
4 ANÁLISE DE DADOS	52
4.1 Entrevista realizada com a Assistente Social	52
4.2 O impacto causado ao receber o diagnóstico autismo	54
4.3 O diagnóstico e as decisões tomadas para ajudar a criança autista	57
4.4 atividades, acompanhamentos e tratamentos realizados pela casa da esperança	60
4.5 A importância da família no processo de inclusão social	62
CONSIDERAÇÕES FINAIS	66
REFERÊNCIAS	68
1 INTRODUÇÃO
Os Transtornos do Espectro Autista (TEA) referem-se a um grupo bastante amplo de transtornos caracterizados por um espectro compartilhado de prejuízos qualitativos na interação social, associados a comportamentos repetitivos e interesses restritos pronunciados (BRENTANTI et al., 2013). 
Dentro do grupo dos TEA, são englobadas diferentes síndromes sendo essas marcadas por perturbações que atingem em sua maior parte o desenvolvimento neurológico de crianças e adultos, possuindo três características fundamentais, que podem manifestar-se em conjunto ou isoladamente. Essas características são: dificuldade de comunicação por deficiência no domínio da linguagem e no uso da imaginação para lidar com jogos simbólicos; dificuldade de socialização e padrão de comportamento restritivo e repetitivo (VARELLA, 2014).
Por meio da leitura do livro “Autismo: não espere, aja logo” foi possível compreender que autismo possui diferentes níveis e formas de se manifestar variadas em cada caso diagnosticado e esses chamados níveis variam de moderado a severo. As pessoas que possuem o TEA moderado aparentemente são bastante inteligentes, porém possuem uma grande dificuldade de interação social, essas pessoas conseguem estudar, trabalhar e ter uma vida normal dentro dos seus limites, sendo a maior dificuldade se incluir com as demais pessoas da sociedade. Já as que possuem TEA agudo tornam-se incapazes de falar, de interagir, de se comunicar, de dizerem o que precisam e parecem indiferentes com as demais pessoas, pois sua socialização é muito difícil de acontecer. As crianças que nascem com autismo se tornam adultos com autismo, pois o TEA é uma condição permanente, por mais que existam diversos tipos de tratamento eles irão apenas minimizar os danos.
Em escala mundial, o primeiro registro de uso do termo “autismo” foi em 1908, quando o psiquiatra Eugen Bleuler o usou para descrever um grupo de sintomas que tinham relação com a esquizofrenia. Já em 1944, o pesquisador e psiquiatra Hans Aspeger escreveu o artigo “A psicopatia autista na infância”, neste trata sobre o comportamento diferenciado das crianças com TEA, mostrando suas diversas faces, suas principais características e o modo que se devem tratar as pessoas que possuem esse transtorno, sendo ele o pioneiro em relação ao estudo do autismo. A Síndrome de Aspeger é assim chamada fazendo jus ao nome de Hans Aspeger, que foi o pesquisador renomado sobre esse assunto (ONG AUTISMO E REALIDADE, 2010).
De acordo com as informações da Revista Autismo, as autoridades de saúde dos Estados Unidos declararam, em 2014, que o número de crianças com autismo teria aumentado 30% em comparação ao ano de 2012. Em 2012, a cada 88 crianças uma teria autismo, já em 2014 a cada 68 crianças uma tem autismo. O relatório aponta que a distribuição geográfica do número de crianças autistas é irregular: enquanto uma a cada 175 crianças no Alabama tem a doença, em Nova Jersey, o distúrbio foi identificado em uma a cada 45 crianças. De acordo com esses números, o autismo é quase cinco vezes mais comum em meninos do que meninas. Entre os meninos, um a cada 42 são afetados e, entre as meninas, uma a cada 189 são afetadas.  No mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 2013) acredita-se haver mais de 70 milhões de pessoas com autismo, afetando a maneira como esses indivíduos se comunicam e interagem.
Dados da Revista Autismo mostram ainda que em 2010 estimou-se que no Brasil, país com uma população de cerca de 190 milhões de pessoas naquele ano, havia cerca de 2 milhões de casos de autismo, segundo o Projeto Autismo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo. Atualmente o número mais aceito é a estimativa de que haja 2 milhões de pessoas com autismo, cerca de 1,0% da população.  Atualmente, aqui no Ceará e em Fortaleza não existem dados específicos sobre o autismo, algo que se torna ate mesmo complexo, devido o grande número de escolas, Organizações Não Governamentais (ONGs), casas de acolhimento, entre outros lugares que trabalham com crianças com TEA.
Geralmente, as crianças que têm o TEA começam a demonstrar os primeiros sinais ainda nos primeiros meses de vida. É necessário que os pais ou professores observem com bastante atenção para que consigam identificar esses sinais, pois muitas vezes eles passam despercebidos devido à criança ser ainda muito nova e os pais e familiares acharem que faz parte da idade aqueles tipos diferentes de agir. Logo nos primeiros meses é possível observar que as crianças com TEA não possuem contato afetivo e não olham quando alguém as chama, porém devido suas formas, a criança autista pode sim olhar nos olhos das pessoas e ainda assim ser diagnosticada com autismo. No primeiro ano essas características começam a aumentar, as crianças passam a ter mais interesse em objetos do que nos seus pais e não demonstram atenção quando os pais fazem brincadeiras, quanto mais cedo for possível perceber essas características, mas eficaz será o tratamento, pois na infância a criança adquire a maioria das coisas que lhe é ensinado e no caso do autismo isso também acontece, por esse motivo torna-se necessário agir com rapidez.
O TEA tem sido um grande problema a se enfrentar, atualmente o número de pessoas que são autistas tem crescido bastante, e para piorar esse problema, muitas dessas pessoas não sabem ao menos que possuem esse transtorno, tendo uma maior dificuldade de buscar uma melhor qualidade de vida. Essa falta de diagnóstico se torna um problema muito sério, pois a mesma faz com que o início do tratamento seja retardado, trazendo assim mais dificuldades para essas pessoas, pois é comprovado que quando mais cedo se inicia o tratamento correto, mais chances se têm de ter uma melhoria significativa tanto no seu comportamento quanto na sua interação social. Por meio do tratamento correto e do acompanhamento de profissionais especializados é possível viver bem e conseguir superar o que para muitos é algo insuperável, como por exemplo, o melhor envolvimento com a família e com a sociedade em que se vive.
A instituição em qual foi feita a pesquisa de campo, conforme mencionada, é a Casa da Esperança, uma casa de referência no tratamento de pessoas com TEA que fica localizada na Rua Dr. Francisco Francílio Dourado da Silva, 11, Água Fria, Fortaleza/ CE. A Casa da Esperança foi fundada no ano de 1993, pela Dra. Fátima Dourado, a qual teve como desafio inicial tentar tirar os dois filhos que são autistas da exclusão social ao qual viviam e assim dar-lhes uma melhor condição para viver. 
A instituição teve seu início com apenas oito mulheres que também eram mães de crianças com autismo, com bastantes dificuldades e desafios, foi montada a primeira equipe multiprofissional. Após dez anos, a instituição já possuía sua sede própria, treinando professores da rede pública, inserindo estudantes com autismo na rede regular de ensino. A instituição com todo seu esforço e com a ajuda dos profissionais e das famílias que lá são atendidas conseguiu inserir jovens e adultos no mundo do trabalho e pôde ver o primeiro dos jovens com autismo concluir um curso universitário. Atualmente, a Casa da Esperança atende 400 pessoas com autismo em regime intensivo que tem duração de quatro a oito horas por dia e realiza mais de mil procedimentos ambulatoriais diariamente.
Com base em leituras e pesquisas feitas sobre a instituição,obtive o conhecimento de que a mesma possui um Núcleo de Atenção a Família (NAF), que existe para dar apoio às famílias de pessoas com autismo e tem como objetivo ajudar no relacionamento entre a família e a equipe terapêutica e educacional, no intuito de potencializar os resultados das intervenções e prestar atendimento às famílias objetivando a inclusão e a participação social. O NAF é coordenado por uma assistente social, o que me incentivou mais ainda a fazer minha pesquisa nesta instituição, pois ver como funciona o papel desta profissional nesta área muito me chama atenção. Foi a partir dessa informação que me veio o interesse de saber sobre o papel da família nesse processo, para assim conseguir responder a minha pergunta de partida: qual é o papel da família no processo de inclusão social de crianças com TEA?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um tema aparentemente novo dentro da sociedade brasileira e do mundo devido as suas diversas fases e da sua forma diferente para cada pessoa que é diagnosticada com TEA. O TEA traz consigo muitas dúvidas, frustrações familiares, medo do que estar por vir e uma enorme insegurança, que vem rodeada de diversos olhares julgadores de uma sociedade carente de informações sobre o respectivo assunto.
Decidir pesquisar sobre o TEA não aconteceu de uma hora para outra, precisei ficar frente a frente com pessoas que vivem com esse transtorno e assim dar inicio a essa jornada tão cheia de mistérios, novidades e acima de tudo tão encantadora. A escolha deste tema para esta pesquisa está diretamente ligada com a minha vida pessoal, a princípio nunca tive nenhum interesse ou curiosidade em estudar sobre o TEA, até o dia em que me vi diante de crianças autistas, nesse momento me vi cercada de dúvidas, medo, receio de jamais conseguir dialogar com aquelas crianças, que ao mesmo tempo em que pareciam tão frágeis se tornavam tão verdadeiras, fortes e cheias de amor. Umas dessas crianças foi uma aluna na escola na qual ensinei durante um ano e a outra é o filho de uma amiga.
Quando comecei a trabalhar em uma escola, logo no primeiro dia me veio á surpresa de que iria ter uma aluna com que já era diagnosticada com autismo. Ao descobrir que ela era autista fiquei receosa por não saber como lidar com ela e, ao mesmo tempo, surgiu em mim uma vontade enorme de ajudá-la pelo menos melhorar seu relacionamento em sala de aula, pois ela sempre estava sozinha, isolada no seu mundo até então desconhecido para mim. Cheguei a casa e comecei a pesquisar na internet, em sites, livros e em todo lugar que pudesse me explicar a me ajudar a entender o que seria o TEA. Após algumas semanas de estudos sobre o assunto comecei a praticar aquilo que estava aprendendo, passei a estimular a aluna a escrever e a ler, comecei a colocá-la para trabalhar em dupla ou em equipe com os demais alunos da sala, para que ela pudesse interagir com a turma e não ficar mais sozinha. Passei a levar atividades voltadas para as suas limitações e a incentivar a turma a ajudar a colega sempre que fosse preciso.
Foi um trabalho difícil; no começo parecia que cada esforço era em vão, por algumas vezes pensei em desistir, mas com o tempo fui vendo que ela já estava tendo um melhor rendimento escolar e pessoal, assim percebi que a falta de estímulo limita qualquer ser humano. Porém, essas dificuldades se tornaram pequenas diante da maior de todas: seus pais e sua família não aceitavam a questão de a aluna ter o TEA e acabavam não a levando para as terapias, e isso fazia com que seu desenvolvimento se tornasse mais lento e demorado. Até conseguir fazer com que os pais entendessem a importância do tratamento para ajuda e desenvolvimento da menina, tive que esperar quase um ano, a não aceitação estava atrasando todas as etapas da vida daquela menina que, aos 15 anos, quase não conseguia nem escrever o seu próprio nome. Após verem que ela estava tendo uma melhora significativa, passaram a levá-la para as terapias e, com isso, ela passou a fazer novas descobertas a cada dia e hoje consegue escrever e ler sozinha, dentro das suas limitações, e isso para mim é muito gratificante e recompensador.
Outro fato que também me motivou a querer conhecer mais sobre o enorme universo autista foi quando o filho de uma amiga minha, que na época já estava com dois anos começou a mostrar características parecidas com as de crianças autistas, neste caso eu já tinha conhecimento sobre os sinais que podem sugerir a presença de um TEA devido à experiência anterior que vivenciei. Conversei com essa amiga e ela não aceitou que isso poderia ser possível, retrucou muito que essa suspeita pudesse ser verdade. Pouco mais de um ano se passou e ela percebeu que seu filho, que já estava com três anos não falava e nem se comunicava com outras pessoas ao seu redor, foi aí que ela procurou especialistas e começou o tratamento correto para o tipo de autismo dele. Atualmente, tanto minha ex-aluna quanto o filho da minha amiga têm o acompanhamento profissional correto e têm apresentado melhorias na sua qualidade de vida e na sua interação com as demais pessoas.
Depois de tudo isso, consegui compreender que a maior dificuldade das famílias de pessoas com TEA tendem a enfrentar é a não aceitação do diagnóstico devido à falta de informações que têm sobre o assunto achando que a crianças com TEA não terá melhorias e acabam abandonando o tratamento antes mesmo de começar, essa não aceitação vai acontecer com algumas pessoas, pois o diagnóstico abala qualquer pessoa. Hoje em dia, na sociedade em que vivemos falar sobre o TEA é algo de bastante importância, pois a cada ano o número de pessoas diagnosticadas com o TEA vem aumentando. Por não terem as informações necessárias, por se privarem, por medo do que pode ser o TEA, as famílias comumente acabam desacreditando na existência de um tratamento eficaz para reverter, mesmo que seja minimamente, o quadro do TEA. Por esses motivos e pela crescente demanda da população com TEA, faz-se necessário, para ampla divulgação e informação na sociedade, que mais pesquisas sobre o TEA sejam feitas, que mais descobertas apareçam para assim suprir e contribuir significativamente com a crescente demanda que vem surgindo.
Como estudante de Serviço Social e como pesquisadora, vejo também a grande lacuna que fica diante dos casos de TEA, a falta de estudos dentro do campo acadêmico onde não inserem como disciplina básica a inclusão de pessoas com necessidades especiais, mesmo quando observado o aumento dos casos na sociedade e sabendo que o assistente social tem um papel importante dentro desse processo, pois essas pessoas com TEA são vistas como minoria na sociedade, e o profissional tem esses sujeitos próximos de si, visto que durante o curso estudamos bastante sobre as chamadas minorias sociais. O problema se dá, alem disso, porque muitos assistentes sociais, ao terminarem o curso, irão querer trabalhar com pessoas com necessidades especiais, porém irão sair do curso sem ao menos terem visto algo relacionado ao assunto. A própria coordenadora do NAF que é Assistente Social relatou as dificuldades enfrentadas dentro deste campo, pois o curso de Serviço Social deixa em falta disciplinas básicas sobre os diversos tipos de deficiência que existem na sociedade e a importância do profissional Assistente Social dentro deste campo.
O TEA é um assunto gigantesco, cheio de descobertas que a cada dia surgem mais. Hoje, já existem leis que protegem e ajudam as pessoas com TEA, porém as leis sozinhas não conseguem nada, pois do que adiantam as leis se não existem profissionais capacitados para executá-las? É preciso, na verdade é necessário, pesquisar sobre o TEA, pois existem pesquisas da Organização das Nações Unidas (ONU) que dizem que os números de autistas no Brasil e no mundo só tendem a crescer.
Este trabalho tem como objetivo central procurar compreender o papel da família durante o processo de inclusão social de crianças com TEA que são atendidas na Casa da Esperança, tendo como objetivos específicos, identificar de que formaa família atua no processo de inclusão social de crianças com TEA; descrever quais as etapas desse processo e observar quais são as atividades desenvolvidas pela instituição junto à família.
Esta pesquisa foi realizada na Casa da Esperança, localizada em Fortaleza. Essa instituição foi escolhida porque é completa ao se tratar de pessoas com autismo, onde não somente fazem o tratamento correto, mas também acompanham o desenvolvimento escolar e a família dessas crianças. A natureza da pesquisa foi qualitativa tendo como foco analisar os sujeitos e seus comportamentos diante da realidade que foi proposta. 
Para a realização deste trabalho os tipos de pesquisa que foram utilizadas foram à pesquisa de campo e a pesquisa bibliográfica. Optei pela pesquisa de campo porque ela me colocou frente a frente com os sujeitos participantes, desta forma pude analisar melhor cada um deles, pois a expressão facial e as emoções apresentadas durante a pesquisa contam muito para a elaboração das analises obtidas. Também utilizei a pesquisa bibliográfica para a realização desta pesquisa, onde estudei o assunto através de livros, artigos, revistas, monografias e teses que já tinham sido feitas em relação ao tema escolhido. 
Decidi realizar minha pesquisa na Casa da Esperança, pois diferente de algumas Organizações Não Governamentais (ONGs) que existem atualmente, esta instituição trabalha integralmente e em sua maior demanda com pessoas com autismo eles também trabalham com as famílias destas pessoas, dando-lhes as garantias previstas em leis para as pessoas que possuem alguma deficiência. 
Realizei três visitas a instituição. Na primeira vez conhecei o ambiente e a estrutura da Casa da Esperança, observei de forma breve como são realizados os atendimentos com as crianças e suas famílias. Na segunda visita realizada fiz a observação direta e participante, na qual pude não somente observar as terapias e métodos utilizados com as crianças e adolescentes em tratamentos, mas também participar das rodas de conversa, das brincadeiras e das apresentações artísticas por eles apresentadas. Neste mesmo dia apliquei um roteiro de entrevista com perguntas relacionadas ao funcionamento da Casa da Esperança a Assistente Social responsável pelo Núcleo de Atenção a Família (NAF). Também pude conhecer um pouco das famílias dessas crianças atendidas e conversar de forma simples e aberta sobre os impactos e as reações de quando se descobre que seu filho é autista. Na terceira visita realizada foi onde tive um momento mais a sós com as famílias lá presentes, pude ficar junto das mesmas na sala onde elas fazem seus trabalhos artesanais, conversar sobre o autismo e outras questões e observar como elas convivem umas com as outras. Neste momento apliquei um roteiro de entrevista com cinco famílias diferentes, onde as mesmas se sentiram muito a vontade para responder as perguntas. Conversamos bastante sobre o autismo e tudo que envolve relacionamento familiar. Foi um momento muito proveitoso, pois pude compreender claramente sobre o papel da família para essas crianças com autismo.
Durante essas visitas e principalmente durante a entrevista foi explicado para cada família sobre o sigilo da pesquisa. Cada família que aceitou participar da entrevista assinou duas vias de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) uma para elas e uma para mim, no qual foi explicado para as mesmas que seus nomes não seriam colocados nesta pesquisa, que seriam trocados por nomes fictícios. Utilizei como método de análise de dados para a elaboração desta pesquisa o método dialético, pois debati com autores que dominam o tema, colocando a opinião deles e a minha, fazendo assim uma interlocução entre meus conceitos aprendidos com a pesquisa e os conceitos dos autores, tirando as conclusões necessárias para aprofundar melhor sobre o tema discorrido e para adquirir mais dúvidas sobre o tema para que o mesmo venha ter continuidade.
Esta pesquisa é composta por esta introdução e mais três capítulos. No segundo capítulo explico sobre a temática do Transtorno do Espectro Autista (TEA), expliquei seus conceitos desde o seu surgimento, suas características mais marcantes, as leis que asseguram os direitos das pessoas com autismo e deficiências em geral, as dificuldades que as pessoas com TEA enfrentam consigo mesmo e com a sociedade e os tratamentos mais utilizados para a melhoria de vida das pessoas com TEA, tudo isso baseado em pesquisas já realizadas e em autores que dominam o tema.
No terceiro capítulo explico sobre a temática da família e da inclusão social. Este capítulo também é dividido por tópicos, em que explico sobre os conceitos gerais sobre a família; os tipos de família existentes e a família e a inclusão social como uma via de mão dupla. 
No quarto capítulo respondo, com base nas entrevistas realizadas com as famílias atendidas na Casa da Esperança e das citações de autores, os objetivos da minha pesquisa. Este capítulo traz toda a análise de dados e os resultados obtidos com base na pesquisa de campo, traz os resultados da entrevista realizada com a Assistente Social e também com as famílias lá atendidas. Por fim, as considerações finais trazem um resumo de tudo o que aprendi e ainda preciso aprender, afinal a pesquisa é algo constante, e a cada estudo feito novo estudos surgem.
2 TRANTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
Todo autista é único! Como pessoas únicas, devem ser conduzidos por caminhos que os façam transcender. Por isso, ensine-o de diversas maneiras, pois ele conseguirá aprender (ISCHKANIAN).
Atualmente falar sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é algo que traz consigo muitas questões envolvidas. O autismo, como é mais conhecido, é caracterizado por uma série de diferentes formas de comportamentos adquiridos ainda na infância e que precisam ser reconhecidos o mais cedo possível para que assim as possíveis formas de melhoria sejam máximas. 
No decorrer deste capitulo irei abordar mais detalhadamente e com posições de diversos autores questões como a história do autismo e o conceito geral, desde os primeiros estudos feitos; as legislações que dão garantias às pessoas com autismo; as diferentes características do TEA; as maiores dificuldades enfrentadas pelos portadores do autismo e os tipos de tratamentos existentes para amenizar as consequências que o autismo traz para cada pessoa.
2.1 A história do autismo e seus conceitos
A primeira vez em que se ouviu algo sobre o autismo foi no ano de 1911, quando Bleuer usou esse termo para designar doenças que faziam com que as pessoas se isolassem do ambiente no qual conviviam, a partir desse histórico comportamental Bleuer definiu essa doença como esquizofrenia. Após isso, no ano de 1943, Leo Kanner vêm com a definição do termo autista, que surge da palavra grega autos que significa “de si mesmo” ou “próprio”. (LÓPES, 2016).
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) caracteriza-se por uma série de comportamentos considerados “anormais” para determinada idade. O TEA começa a ser observado em crianças nos seus primeiros anos de vida. O autismo varia de criança para criança, tendo características diferentes em cada uma delas de acordo com o seu nível de severidade.
O autismo é tão cheio de formas e características, que mesmo com todos os estudos que vem sendo feito sobre o mesmo ainda assim é difícil conseguir responder todas as dúvidas e questionamentos que existem sobre o mesmo. 
o transtorno do espectro autista é um distúrbio do desenvolvimento humano que vem sendo estudado pela ciência há quase seis décadas, mas sobre o qual ainda permanecem, dentro do próprio âmbito da ciência, divergências e grandes questões por serem respondidas (MELLO, 2005, p. 11)
Por mais que o autismo seja estudado há alguns anos ainda existem questões em aberto, isso se dá porque o autismo é um transtorno complexo, que traz consigo muitas formas de se desenvolver, sendo essas físicas, emocionais ou nas ações reproduzidas no decorrer da vida, e por isso requer um estudo minucioso.
O autismo também pode serdefinido como um tipo de comportamento que requer uma atenção especial. Em uma entrevista para o site Superando o Autismo, o neuropediatra Dr. José Salomão Schwartzman (2012) traz o conceito do autismo por meio da caracterização de três aspectos fundamentais para a compreensão deste, ele informa:
O que se chama de autismo nada mais é do que um tipo de comportamento que se caracteriza por três aspectos fundamentais. Primeiro: são crianças que parecem não tomar consciência da presença do outro como pessoa. Segundo: apresentam muita dificuldade de comunicação. Não é que não falem, não conseguem estabelecer um canal de comunicação eficiente. Terceiro: têm um padrão de comportamento muito restrito e repetitivo. Atualmente, qualquer indivíduo que apresente esses sintomas, em maior ou menor grau, é caracterizado como autista.
Segundo Sacks (1998, p. 35), “o autismo, embora possa ser visto como uma condição patológica, também deve ser encarado como um modo de ser completo, uma forma de identidade profundamente diferente”. Essa identidade não deve ser vista como uma doença incurável, pois o fato de ter formas de se relacionar diferentes ou até mesmo, o não se relacionar, não faz com que a pessoa seja doente, essa é apenas a sua forma de ser.
O autismo é uma nova forma de ser, não se pode querer mudar totalmente a condição da pessoal com esse transtorno, pois a criança autista consequentemente será um adulto autista, o que se pode fazer é trabalhar as habilidades dessas crianças para que elas possam viver da melhor maneira possível, para que consigam estudar, trabalhar e levar uma vida considerada normal dentro das suas próprias restrições. 
No livro “Olhares que constroem”, López traz uma definição do autismo de acordo com relatos por ela obtidos dentro da sua pesquisa de campo em uma instituição terapêutica. Para essa instituição o autismo ou a psicose infantil, como era chamado no começo de sua descoberta, são concebidos como um fenômeno no qual as suas causas não estão restringidas apenas a questões orgânicas. Para eles, esses transtornos são causados por uma perturbação no processo de formação das estruturas mentais primitivas e dependem de uma boa e adequada relação para se desenvolverem.
O autismo não surgirá em pessoas quando essas já estão na fase adulta, (pois é uma condição que surge nos primeiros anos de vida) ou somente surgirá em pessoas que tem alguma doença mental. Os sintomas do autismo surgem logo nos primeiros anos de vida da criança e é possível observá-lo porque a criança não acompanha as fases do desenvolvimento considerado normal para a sua idade. Iremos ver sobre as características do autismo no decorrer deste capitulo.
O autismo infantil, de acordo com Paiva Junior (2012), começa a mostrar-se mais claramente no decorrer dos três anos de idade. A partir daí deve-se iniciar os acompanhamentos profissionais o mais rápido possível. Segundo a definição da CID-10 (2000), o autismo infantil é
um transtorno global do desenvolvimento caracterizado por: a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos, e b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação, comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se acompanha comumente de numerosas outras manifestações inespecíficas, por exemplo: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade (autoagressividade).
O autismo infantil corresponde a um quadro complexo que exige que abordagens multidisciplinares sejam efetivadas tendo em vista não somente a questão da educação e da socialização, mas em especial a questão médica e a tentativa de estabelecer etiologias e quadros clínicos definidos, passíveis de prognósticos precisos e abordagens terapêuticas.
Segundo a definição do DSM-IV-TR (2002), o Transtorno do Autismo pode ser definido da seguinte maneira:
[...] consiste na presença de um desenvolvimento comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da comunicação e um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo.
Como podemos compreender, apesar de diversas definições, o autismo tem como principal definição a dificuldade das características de desenvolvimento, de comunicação e da interação com outras pessoas no meio social. Essa seria, sem dúvidas, a característica que mais marca os diversos quadros do autismo.
Segundo Kanner (1943, p. 2), o primeiro estudioso do tema descreve o autismo infantil como: “Um quadro específico de adoecimento infantil, e não mais como uma esquizofrenia”. Foram várias tentativas de um consenso para explicar a etiologia e o tratamento do autismo.  Kanner (1943, p. 2) também considerou o autismo infantil como: “Uma perturbação do desenvolvimento, sugerindo a possibilidade de existência de uma componente genética que com passar do tempo se revelou correta, contudo, foi o próprio quem especulou relativamente à possibilidade dos pais contribuírem para o distúrbio”. 
Já para Winnicott (1967), o autismo infantil parte da teoria do amadurecimento, no qual a criança tem essa fase de amadurecer interrompida de alguma foram. Desse modo, Winnicott (1967, p. 194), no que diz respeito ao autismo infantil, informa que “o autismo infantil é uma questão de imaturidade afetiva que pode acontecer quando o amadurecimento da criança é interrompido de alguma forma, pela inadequação ou insuficiência do ambiente perante suas necessidades”. 
Segundo a teoria de Winnicot (1967), as crianças autistas produzem uma organização defensiva, tendo como intuito adquirir invulnerabilidade diante da ameaça de voltar a ser tomada por uma agonia anteriormente sentida, devido a uma “invasão” ou falha do ambiente para com ela, na fase de extrema dependência do início de sua vida. 	
De acordo com essa teoria as crianças tornam-se autistas por não conseguirem adquirir uma confiança necessária que seu desenvolvimento transcorresse de acordo com os marcos do desenvolvimento infantil. Acredita-se que a falta de afetividade leve a essa condição, como se essas crianças agissem de tal modo para ganharem mais atenção e afeto por parte da família.
Ainda dentro desta mesma perspectiva sobre a “negligência” familiar e a adequação das características do autismo, alguns autores tentam explicar que esse transtorno acontece devido o rompimento das bases familiares; entendo que é como se a criança se sentisse excluída, não amada pela sua família e assim começa a se isolar de tudo e de todos, porém outros autores vão dizer que esse problema é mais sério do que uma simples “birra” infantil.
Kanner (1943) vem falar disso em seu livro “Os distúrbios autísticos de contato afetivo”, quando é relatado com base nas crianças analisadas o fato de serem autistas por conta da criação/educação de pais frios, desapegados, perfeccionistas e rígidos. Pais que cuidavam dos filhos como se eles fossem máquinas e por isso as crianças passavam a viver isolados no seu próprio mundo.
Após essa descrição de que o autismo infantil era causado por frustrantes experiências emocionais na área familiar, efeitos devastadores aconteceram nas famílias que tinham crianças com esse diagnóstico, pois as mesmas eram vistas como culpadas pela condição de autística do seu filho (a) e por isso sofriam os maus olhares dados pela sociedade.
Mas, depois de estudos mais aprofundados sobre o TEA foi possível compreender que não se trata de questões emocionais ou de uma forma infantil de chamar atenção. O autismo é um transtorno que traz respostas incomuns para os comandos dados pelo cérebro.
Segundo a Classificação Internacional de Doenças, publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o autismo infantil é
uma síndrome presente desde o nascimento, que se manifesta invariavelmente antes dos 30 meses de idade. Caracteriza-se por respostas anormais a estímulos auditivos ou visuais, e por problemas gravesquanto à compreensão da linguagem falada. A fala custa a aparecer e, quando isto acontece, nota-se ecolalia, uso inadequado dos pronomes, estrutura gramatical imatura, inabilidade de usar termos abstratos. Há também, em geral, uma incapacidade na utilização social, tanto da linguagem verbal quanto corpórea (CID-10,1984, p. 81).
Por se tratar de algo tão raro e diferenciado devido suas diversas formas de ser, como já foi dito, é necessário um constante e detalhado estudo sobre as diversas manifestações desse transtorno que a cada ano vem atingindo mais e mais crianças, para que desta forma consiga-se ajudar na melhora e no aprendizado dessas crianças.
Apesar de ser ainda pouco falado sobre o assunto, a frequência estimada dos casos de autismo são de uma criança afetada para cada 160 crianças vivas. Através deste número é possível ver que o autismo já se trata de um caso de saúde pública. Não se trata mais apenas de uma condição rara, de origem desconhecida e sem muitos prognósticos. (PAIVA, 2012)
Com base na análise dessas definições e na leitura mais detalhada de livros e artigos pude observar que o TEA em crianças é muito doloroso e difícil, não apenas para a criança diagnosticada com esse transtorno, mas também à família que irá ter que aprender a conviver com o novo, precisará conhecer e tornar-se mais um pesquisador das diversas faces do autismo para assim conseguir dar uma melhor atenção para a criança. 
2.2 Legislações para pessoas com autismo
Hoje em dia, como bem percebemos, existe certa dificuldade de garantir direitos para pessoas com qualquer tipo de deficiência, e isso acontece em maior escala porque muitos nem sequer sabe que existem leis que resguardam esses direitos.
De acordo com dados do site Instituto Autismo e Vida existem algumas leis que asseguram direitos para as pessoas com autismo. Essas leis são: 
Leis gerais federais que também contemplam o autismo:
· Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: arts. 7º, XXXI; 23, II; 24, XIV; 37, VIII; 40, §4º, I; 201, §1º; 203, IV, V; 208, III; 227, 1º, II, §2º; e 244);
· Lei nº 8.069/90, que "Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências"; 
· Lei n° 9.394/96 que "Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional".
Leis federais de apoio à inclusão escolar:
· Lei nº 10.845/04 que "Institui o Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência, e dá outras providências";
· Lei nº - 13.146/15 que "Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência)";
· Portaria nº 243/16 que estabelece os critérios para o funcionamento, a avaliação e a supervisão de instituições públicas e privadas que prestam atendimento educacional a alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação;
· Nota Técnica nº 35/16 - DPEE / SECADI / MEC - a qual recomenda a adoção imediata dos critérios para o funcionamento, avaliação e supervisão das instituições públicas e privadas comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos especializadas em educação especial.
Leis federais que garantem benefícios:
· Lei nº 7.853/89 que "Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências." (LEI ORDINÁRIA) - Regulamentada pelo Decreto nº 3.298/99;
· Lei nº 8.899/94 que "Concede passe livre às pessoas portadoras de deficiência no sistema de transporte coletivo interestadual." - Regulamentada pelo Decreto nº 3.691/00;
· Lei nº 10.048/00 que "Dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e dá outras providências" - Regulamentada pelo Decreto nº 5.296/04;
· Decreto n° 3.956/01, que promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência (Convenção da Guatemala);
· Lei n° 12.764/12 que "Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com o Transtorno do Espectro Autista”.
· Lei nº 13.234/15 que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), para dispor sobre a identificação, o cadastramento e o atendimento, na educação básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades ou superdotação.
Leis do Estado do Ceará
· Lei nº14.798, de 26/10/10, institui o dia de conscientização sobre o autismo no Ceará a ser celebrado no dia 02 de abril de cada ano.
· Lei nº 16.094, de 27/07/2016, proíbe a cobrança de valores adicionais, sobretaxas para matrículas ou mensalidade, de pessoas com deficiência, síndrome de down, autismo, transtorno invasivo do desenvolvimento ou outras síndromes.
Mesmo com essas leis que asseguram direitos para as pessoas com autismo ainda podemos ver que existem famílias que desconhecem as garantias que as leis lhe oferecem. E mesmo com o aumento crescente dos casos de autismo as leis ainda são poucas comparadas com as necessidades que essas pessoas enfrentam.
2.3 As diferentes características do TEA
Como já foi descrito anteriormente, o TEA traz como sua principal característica as diversas formas de se manifestar em cada pessoa. Não é como uma doença que tem os mesmos sintomas, ele é diverso, pode ter características típicas em uma pessoa e em outra ser totalmente diferente. Diante disso iremos destacar nesse tópico algumas das características que podemos chamar de mais comuns em crianças com autismo. 
Sobre as manifestações dos primeiros sinais do TEA e as características mais marcantes que as crianças podem apresentar Cunha explica que
O autismo pode surgir nos primeiros meses de vida, mais em geral, os sintomas tornam-se aparentes por volta da idade de três anos. Percebe-se na criança o uso insatisfatório de sinais sociais, emocionais e de comunicação, além da falta de reciprocidade afetiva [...] Uma das maneiras mais comuns de identificar casos de autismo é verificar se a criança aponta para algum objeto ou lugar. A criança tem dificuldade para responder a sinais visuais, e normalmente, não se expressa mimicamente, mesmo quando é estimulada (2014, p. 24-25).
No livro “Autismo: não espere, aja logo”, o autor retrata os diversos sinais que notou no comportamento do seu filho até receber o diagnóstico de que a criança era autista. Esses sinais, muitas vezes são muito sutis e acabam passando despercebidos pelos pais dessas crianças, principalmente por não terem o conhecimento sobre o mesmo.
Para Paiva Junior (2012), o autismo tem vários níveis e faz parte de um grupo de transtornos que se caracteriza por atrasar as funções no desenvolvimento da comunicação, da socialização e do comportamento. Sendo o atraso dessa tríade a única característica igual em todas as crianças diagnosticadas com autismo.
Não se trata aqui que as crianças venham a ter as mesmas características, mas esse atraso na voz, na comunicação e no relacionamento com as demais pessoas é uma característica de grande importância, por isso torna-se necessário sempre observar como está sendo o desenvolvimento da criança e ao perceber as diferenças, buscar ajuda o quanto antes.
Dentro desse mundo tão cheio de peculiaridades as características mais comuns nos casos de autismo citadas pelo autor são:
· Movimentos repetitivos e estereotipados
A criança passa a fazer os mesmos movimentos diversas vezes, Paiva Junior (2012, p. 36) vai relatar como percebeu essa característica no seu filho: “ao brincar com qualquer jogo educativo de montar, pegava uma peça, a levantava até a altura do rosto e deixava cair, pegava de novo e fazia a mesma coisa, e assim repetia esse movimento por diversas vezes”.
Os movimentos repetitivos dão um grande alerta para os pais veem que seus filhos estão fazendo algo sem propósito e basta um pouco de atenção a sem semblante para perceberque não estão ali. Estão distantes. Desligados. Em outro mundo. No seu próprio mundo. [...] A fascinação por movimentos circulares também é comum em um quadro do espectro autista (PAIVA, 2012, p. 53-54).
 
Devido à dificuldade enfrentada por essas crianças autistas em aprender coisas novas elas tendem a repetir os movimentos por elas já conhecidos. Isso lhes traz segurança, pois o fato de não aprender traz frustrações para a mesma.
Para pessoas que já conviveram com crianças diagnosticadas com autismo esta característica é muito notória, pois a criança repete os movimentos varias vezes durante um longo período. Em alguns casos a criança fica rodando como se aquele movimento lhe trouxesse uma alegria indescritível.
· Não atender pelo nome
Desde pequeno somos acostumados a sermos chamado pelo nosso nome. Sempre que ouvimos o nosso nome olhamos para a pessoa que o pronuncia. Na infância quando escutamos um nome igual ao nosso ficamos surpresos, pois aquele nome é característico próprio. No caso das crianças com autismo, tem-se:
a característica mais marcante e a que primeiro detectamos em nosso filho foi o fato dele não atender pelo nome. Sempre o chamamos pelo nome, sem apelidos, sem “bebê”, sem “filhinho”, nem nada disso. Sempre pelo nome. Porém ele atendia na minoria das vezes. Posso dizer que era quase nunca (PAIVA, 2012, p. 45).
· Não olhar nos olhos de outra pessoa
Olhar nos olhos pode parecer uma característica não muito confiável, pois muitas pessoas, já adultas, costumam conversar sem querer olhar nos olhos, muitas vezes de cabeça baixa. No caso de crianças essa característica é um sinal de alerta, pois as crianças costumam sempre olhar para quem está com ela, é uma forma de conhecer a pessoa a qual está vendo. Sobre essa característica o autor vai explicar que olhar nos olhos, olhar na face humana é uma característica natural das pessoas. Desde o nascimento, desde pequeno, mesmo com dificuldades para enxergar, o bebê, já deve ter atração pela face humana, em especial pela sua mãe.
· Agressividade e falta de vínculo afetivo
As crianças com autismo geralmente não gostam de contato afetivo. São crianças que na maior parte ficam isoladas no seu próprio mundo. A agressividade pode ser vista quando a criança deseja algo mais isso não é dado. Muitas vezes essa agressão é contra ele mesmo. Sobre essa falta de afetividade o autor vai retratar que essa característica faz com que a criança não goste de ser tocada. Hagashida (2014) relata o porquê das crianças autistas não gostarem de contato físico:
De modo geral, para um autista o fato de ser tocado significa que outra pessoa está exercendo controle sobre um corpo que nem mesmo o seu dono é capaz de controlar direito. É como se perdêssemos o que somos. [...] Levantamos uma barreira ao nosso redor para manter os outros do lado de fora (HIGASHIDA, 2014, p. 63-64).
Paiva Junior (2012, p. 52) explica sobre a necessidade de minimizar o mais rápido possível essas características: “vinculo afetivo e agressividade são fatores que, sem dúvida alguma, quanto antes forem minimizados, maior será a qualidade de vida da criança e da família”.
· O autista não imita
Diante dessa característica está a resposta pela demora do aprendizado das crianças com autismo. Para sermos alfabetizados, primeiro copiamos e depois disso aprendemos a fazer sozinhos. Como a criança com autismo não imita, consequentemente, terá uma maior dificuldade em aprender algo naturalmente. Pois aquilo que é visto como um instinto humano falta nas crianças autistas. Pois a condição de imitar algo é que traz o aprendizado para das próximas vezes reproduzir sem necessariamente ver. Paiva Junior (2012, p 59) explica: “Creio que talvez eu tenha chegado a uma definição mais abrangente: aprender sem imitar é como lutar com a inteligência para ser compatível com um mundo incompatível ao seu. É fazer a diferença para não ser diferente”.
· Inteligência comprometida
A inteligência, segundo Paiva Junior (2012) é um assunto a destacar. Pois, através dos ensinamentos do Dr. Schwartzman, neuropediatra do seu filho, cerca de 70% das crianças autistas tem a inteligência comprometida. Aprender coisas tão básicas se torna complexo para uma criança autista. Mas como o próprio autor vai dizer, a inteligência de tal criança pode ser considerada muito maior do que as das outras pessoas, pois irá aprender algo sem saber imitar. Aprenderá de forma mais difícil, menos natural.
· Brincar com partes de um brinquedo
As crianças que são caracterizadas com autismo geralmente gostam de desmontar seus brinquedos e pegar apenas partes dele para brincar, como por exemplo: brincar apenas com a roda de um carrinho. Isso acontece também associado à outra característica que é o fato de crianças não demonstrarem ter imaginação da mesma forma que crianças consideradas normais demonstram. 
De acordo com Paiva Junior (2012) essa forma diferente de brincar não significa que a criança não esta aproveitando a sua fase tão importante que é a infância. Ela está aproveitando e vivendo essa fase da sua maneira.
· Ficar pulando sem parar
Quem já conviveu com alguma criança com autismo sabe o quanto elas gostam de pular. No livro “O que me faz pular”, o autor (que é uma criança autista) explica o porquê desses pulos:
Mas, quando pulo, é como se meus sentimentos rumassem e direção ao céu. Na verdade, minha necessidade de ser engolido pela imensidão lá em cima é suficiente para estremecer meu coração. Quando estou pulando, posso sentir melhor as partes do meu corpo – as pernas saltando, as mãos batendo-, e isso me faz muito, muito bem. (HIGASHIDA, 2014, p. 87)
· Cobrir os ouvidos quando ouvem muito barulho
Como podemos perceber algumas crianças com autismo tem uma sensibilidade auditiva aguçada, é possível ver que muitas delas ao ouvir algum barulho, mesmo que para nós este barulho não seja incômodo, elas cobrem os ouvidos com as mãos. Higashida (2014) explica essa característica.
Existem certos ruídos que vocês não percebem, mas que nos incomodam bastante. O problema é que vocês não entendem como esses sons nos afetam. Não é bem pelo fato de que o barulho nos dá nos nervos. Tem mais a ver com o medo de que, se continuarmos a ouvir, perderemos toda a noção de onde estamos. Nesses momentos, sentimos como se o chão estivesse tremendo, como se tudo ao redor estivesse vindo em nossa direção, e isso é muito apavorante. Então para nós, cobrir os ouvidos é uma forma de nos protegermos e recuperarmos a consciência do lugar onde estamos (HIGASHIDA, 2014 p. 93).
A falta de controle emocional também é uma característica que marca as crianças que tem o autismo. Isso acontece porque as mesmas não conseguem administrar suas emoções. Por isso muitas vezes quando elas querem algo ficam chorando, gritando e até mesmo batem em si ou nos outros. Essa característica acontece porque as crianças com autismo não sabem pedir algo quando a desejam.
No Guia Prático do Autismo, a autora também fala sobre as manifestações mais comuns do autismo. Para ela o que mais chama a atenção é o fato da criança ser extremamente calma e sonolenta, ou então, chorar inconsolavelmente por um período longo. 
Devido a sua grande complexidade e suas diferentes características em cada pessoa, o TEA se torna muito difícil de ser estudado e entendido e isso faz com que muitas vezes o diagnóstico seja mais demorado (CUNHA, 2014). De acordo com Cunha:
 
O TEA trata-se de uma síndrome tão complexa que pode haver diagnósticos médicos abarcando quadros comportamentais diferentes. Tem em seus sintomas incertezas que dificultam, muitas vezes, um diagnóstico precoce [...]. Não há padrões fixos para sua manifestação, e os sintomas variam grandemente (2014, p. 19-20).
Diante do que se ver sobre o TEA, é possível compreender a grandeza deste transtorno. Ele pode se manifestar de diversas formas. A criança pode não apresentar quase nenhuma das características típicas do TEA e ainda assim possuir o mesmo. (PAIVA, 2012.) Segundo Paiva Junior (2012, p. 27), no livro “Autismo: não espere, ajalogo”:
O espectro do autismo é tão grande que uma criança pode ser autista ainda que olhe nos olhos, fale e sorria em resposta ao seu olhar. A ausência de qualquer dos sintomas apresentados aqui não exclui a possibilidade de a criança estar no espectro do autismo. O autismo se apresenta de formas variadas e únicas em cada indivíduo. Cada um é cada um, principalmente quando se trata deste complexo Transtorno do Espectro do Autismo. 
Paiva Junior (2012) ainda explica que, em relação ao tratamento das crianças com TEA, é sempre necessário levá-las a um médico especializado, pois devido às especificidades em cada pessoa, o tratamento nem sempre será igual. O que serve para um, poderá não servir para outro (PAIVA, 2012).
Mesmo com todas essas características, que muitas vezes parecem serem irreversíveis, a família deve sempre acreditar no potencial do seu filho. A criança precisa sentir-se motivada e ver que tem o apoio necessário para “tentar” mais uma vez.
O autismo pode “esconder” diversas capacidades e habilidades que podemos julgar nunca terem existido e, se nós não acreditarmos que a criança pode mais, podemos não dar a ela a oportunidade de mostrar isso em algum momento. Portanto, acredite sempre que algo mais pode vir daquela pessoa. (PAIVA, 2012, p. 61)
Deve-se sempre lembrar que nem todas as crianças com autismo terão todas essas características citadas acima. Essas são as principais, as mais notadas por famílias que foram diagnosticadas com tal condição. Por isso é sempre necessário procurar profissionais que possam ajudar na definição do problema que vem ocorrendo. 
2.4 As maiores dificuldades enfrentadas por crianças com TEA
Após pesquisas e leituras de alguns livros pude constatar que a maior dificuldade que as crianças com TEA enfrentam é o preconceito que os demais têm sobre a sua condição. Ser inserido em uma escola de ensino regular, que hoje devido a grande abordagem da inclusão social, deveria ser algo de maior acesso e respaldo ainda se torna motivo de grande preocupação, pois muitas escolas dizem não sentirem-se preparadas para tal missão, ensinar crianças com autismo, e acabam rejeitando a mesma. 
No livro O Que Me Faz Pular, o garoto autista Naoki Higashida traz relatos de como é difícil para as pessoas autistas conviverem com suas limitações. Não é que eles não queiram ou não saibam fazer algo ou alguma coisa, o que acontece é que eles não sabem a hora exata de obedecer aos comandos que o cérebro manda. Naoki Higashida (2014, p. 168) “[...] como é doloroso quando não é possível se expressar para as pessoas amadas”.
Higashida (2014) relata também respostas para perguntas que para nós (que não somos autistas) aparentemente são impossíveis de se compreender. Em relação à dificuldade deles de encararem a claridade com o rosto levantado e sem colocar as mãos nos olhos ele explica: 
“Balançar as mãos na frente do rosto permite que a luz entre em nossos olhos de forma agradável, filtrada. Quando fazemos isso, a iluminação se torna suave e gentil, como a do luar. Já a luz direta, “sem filtro”, meio que “alfineta” a vista dos autistas com suas linhas diretas e afiadas, pois vemos a luz de forma mais concreta. Isso chega a ser doloroso para os nossos olhos” (HIGASHIDA, 2014, p. 114).
As crianças com autismo também sofrem o preconceito de não serem convidadas para aniversários de colegas, como vimos recentemente em telejornais, um caso que todos os colegas de sala foram chamados para a festa menos a criança autista. 
Dalva Tabachi (2006) descreve no seu livro como é difícil para a pessoa autista e a sua família as diversas formas de preconceito e rejeição. A seguir, ela relata a história de quando seu filho foi para a escola maternal.
A discriminação chegou a um nível insuportável na escola maternal. A direção da escola pediu que mandasse uma babá para ficar exclusivamente com ele na sala de aula. Quando a professora entrava, a babá, por ordem dela, saía com Ricardo para o pátio “assim não atrapalharia as outras crianças” (TABACHI, 2006, p. 44).
As discriminações são muitas, e por mais que se fale em respeitar o próximo, aceitar as diferenças, na prática isso não acontece, ou acontece, com pouca frequência. Dalva Tabachi (2006, p. 45) vai relatar a discriminação sofrida em uma viagem: “Encontrei muita discriminação ao longo da minha vida com Ricardo. Numa viagem de avião, Ricardo fez um barulho muito grande. Escutei uma pessoa gritar: “Manda esse garoto descer”. O avião já estava no ar!”.
No decorrer do livro, Dalva Tabachi (2006) traz vários relatos sobre as evoluções que seu filho vai adquirindo com o passar do tempo. Aprende a se comunicar; passa a interagir com as demais pessoas; começa a aprender a ler e a escrever, entre outras coisas, mais tudo isso dentro das suas limitações. 
O autismo é uma condição de vida que requer bastante cuidado por parte das demais pessoas que convivem com o autista, não falo aqui somente dos familiares, mas também da sociedade em si que rodeia o mesmo. Por si só a criança autista se exclui do convívio das demais pessoas, então seria muito mais fácil para essa criança que as pessoas que não tem as mesmas dificuldades, passassem a conviver com ela de maneira a fazer-se interagir com as outras pessoas.
Para Higashida (2006, p. 82) a pior coisa em ser uma criança autista é saber que causa um sofrimento para a família e amigos, ele diz: “a maior de nossas provações é a ideia de que estamos causando sofrimento aos outros. Conseguimos lidar com nossas próprias dificuldades, mas o pensamento de que nossa vida é a fonte da infelicidade de alguém é quase insuportável”.
Muitos de nós achamos que crianças com autismo não entendem o que está se passando ao seu redor. Ao ler livros que retratam sobre este assunto, ficou mais clara a compreensão de que eles podem se sentir muito culpados por serem diferentes das demais crianças da sua idade. Essa frustração por não conseguir coordenar seus passos e decisões os torna ainda mais isolados da sociedade ao seu redor. Não é que não queiram fazer algo ou obedecer quando alguém lhes manda, é que realmente, não possuem controle sobre suas escolhas. Sobre essa dificuldade de não conseguir fazer o que lhe pedem, o autor explica:
Crianças com autismo fazem sempre o que não devem, não importa quantas vezes se tenha falado que aquilo é errado. Nós entendemos o que vocês dizem, mas, de alguma forma, sempre repetimos o erro. [...] Primeiro faço uma ou outra coisa que não deveria, e isso tem uma consequência. Depois, sou advertido sobre o que aprontei. E, no fim, minha compulsão em fazer tudo de novo se sobrepõe ao fato de terem me dito que aquilo era errado. E acabo repetindo tudo. (HIGASHIDA, 2014 p. 151)
A dificuldade em se comunicar com as demais pessoas também traz para as crianças com autismo um enorme desconforto. Eles querem relacionar-se normalmente com as demais pessoas, mas para eles conversar e um trabalho duro. Conversar e ser compreendido são para eles como se tivessem que aprender uma língua estrangeira a cada minuto do dia. Eles até compreendem o que escutam, mas não conseguem responder por que rapidamente se esquecem das coisas que ouviram há poucos minutos atrás. (HIGASHIDA, 2014)
Tratar pessoas com autismo como se ainda fossem bebê é outra coisa que costuma incomodá-los. Eles também crescem e evoluem ao longo do tempo, é necessário, trata-los de acordo com a idade que possuem, não com um linguajar difícil de ser compreendido, mais da forma adequada para que não se sintam inferiores ao demais.
Crianças com autismo também crescem e se desenvolvem a cada dia, mas, mesmo assim, somos tratados como bebês para sempre. Imagino que seja porque parecemos nos comportar como se fôssemos mais novos do que somos, só que, toda vez que falam comigo como se eu ainda fosse uma criancinha, fico realmente incomodado. [...] Não estou pedindo que falem difícil quando conversarem com autistas, apenas se relacionem conosco como somos, de acordo com a nossa idade. Cada vez que alguém me subestima, eu me sinto extremamente infeliz– como se não tivesse nenhuma chance de um futuro decente (HIGASHIDA, 2014 p. 37-38).
Essa subestimação da capacidade da criança autista de compreender o que é dito lhe faz travar diante das situações simples, como responder uma pergunta, por isso, sempre que se relacionar com pessoas com essa condição deve-se dar o máximo de atenção e incentivá-las a sempre buscar aprender mais. 
Diante dos preconceitos e dificuldades que os autistas enfrentam no decorrer da sua jornada fica bastante visível a total necessidade de um acompanhamento adequado para ajudá-los a enfrentar as adversidades que virão. Procurar tratamentos específicos para cada caso é a forma mais prática de adquirir uma melhor qualidade de vida para essas pessoas. Aceitar o autismo e reconhecer a sua condição é o primeiro passo a ser dado por cada família que enfrenta esse desafio, buscar profissionais e tratamento de qualidade é o próximo passo a ser dado dentro dessa difícil, mas não impossível caminhada por melhoria na vida dos autistas.
2.5 Os tratamentos mais utilizados para crianças com TEA
Após aprendermos sobre as diversas características que as crianças com autismo costumam apresentar e de vermos o quão doloroso é para elas serem vistas de forma diferenciada pela sociedade devido a sua condição de vida, iremos agora conhecer os tratamentos mais indicados e eficazes para uma melhoria no seu modo de viver. Não se trata aqui de “curar” a criança diagnosticada com o autismo, afinal, já foi dito anteriormente que o autismo é uma condição de vida, e que obrigatoriamente, a criança que é diagnosticada com autismo se tornará um adulto autista. Sobre o início dessa busca por tratamento, Paiva Junior vai explicar que:
A ajuda profissional deve ser de início um pediatra de confiança e, certamente, também um neuropediatra, que é o médico especialista em neurologia infantil e juvenil. Eles farão os primeiros exames e poderão dar um rumo no diagnóstico e, o principal, iniciar as intervenções o quanto antes, possivelmente com psicólogo e fonoaudiólogo, quiçá outros profissionais dependendo da opção de tratamento (PAIVA, 2012, p. 67).
De acordo com os sites Associação de Amigos do Autista (AMA) e Desvendando o Autismo, o tratamento para autistas requer em primeiro lugar a contribuição de uma equipe multidisciplinar. Essa equipe deverá avaliar e desenvolver atividades específicas que venham satisfazer e serem eficazes para aquele indivíduo. Como cada caso é um caso, nem todos os diagnosticados com autismo irão passar pelos mesmos profissionais. Os profissionais que devem fazer parte dessa equipe são:
· Psiquiatra infantil
Pode ajudar a determinar o diagnóstico inicial, prescrever medicações e ajudar o autista a lidar com as relações sociais e a desenvolver o seu comportamento emocional. É um dos primeiros profissionais com quem o autista vai se relacionar no decorrer do tratamento.
· Psicólogo clínico
Especialista que entenda sobre a natureza e o impacto do autismo. Esse profissional deve conduzi-lo a um teste psicológico e assisti-lo no treino de habilidade social e modificação de conduta, este profissional também atua diretamente com a família, o que é de extrema importância. 
· Pediatra especialista em desenvolvimento infantil
Trata os problemas de saúde e os problemas relacionados a defasagens e atrasos do desenvolvimento.
· Fonoaudiólogo
Ajuda a desenvolver a comunicação, focalizando na linguagem e no uso da fala.
· Terapeuta ocupacional
Foca em ajudar o autista a desenvolver a prática da vida diária e autocuidados, como comer e se vestir adequadamente. Esse profissional pode ajudar ainda a adquirir habilidade na coordenação motora grossa e fina e na integração sensorial.
· Fisioterapeuta
Ajuda a criança a se desenvolver motoramente através de exercícios para os músculos, nervos e ossos.
Com a definição dessa equipe multidisciplinar fica clara a total importância que cada um desses profissionais tem no tratamento dessas crianças. A ajuda desses profissionais servirá para todas as áreas da vida da criança autista, pois será através dessas conversas realizadas com a equipe que a criança começará a adquirir a confiança necessária para buscar sua própria autonomia. Mas, é preciso lembrar, que essa possível autonomia não acontecerá da noite para o dia, mais sim dia após dia.
Junto com essa equipe profissional também podem ser vistos alguns métodos utilizados para ajudar as crianças autistas. No Guia Prático do Autismo, a autora explica alguns desses métodos, vejamos:
· TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handcapped Children) 
Esse método utiliza uma avaliação chamada de Perfil Psicoeducacional Revisado (PEP-R) onde a criança é avaliada levando em consideração seus pontos fortes e fracos. Nesse método o profissional faz com que a criança organize o ambiente do local onde está através da rotina, desta forma, visa devolver a independência da criança.
· PECS (Picture Exchange Communication System) 
É um método de comunicação alternativa através de troca de figuras. O PECS tem como objetivo mostrar para as crianças que através da comunicação ela poderá conseguir as coisas que deseja bem mais rápido.
· ABA (Applied Behavior Analysis), 
Esse método tem como objetivo ensinar à criança as habilidades que ela não possui. Cada uma dessas habilidades é ensinada por etapa, em um esquema individual, inicialmente essas habilidades são associadas a uma indicação ou instrução. Neste método a repetição é o ponto mais importante.
Sendo assim, logo que se descobrir que a criança tem o autismo é necessário buscar, o mais rápido possível, profissionais para que possam iniciar o tratamento adequado. Trata-se de correr contra o tempo, pois quanto mais cedo se inicia mais eficazes serão os tratamentos utilizados. Aceitar o problema; entender as formas que o autismo possui; conhecer cada característica citada e buscar ajuda médica são os passos fundamentais para que as famílias possam dar todo o suporte necessário para diminuir as dificuldades que o autismo traz para a vida da criança. 
3 A FAMÍLIA E A INCLUSÃO SOCIAL: UMA VIA DE MÃO DUPLA
A família é a primeira instituição social da qual o ser humano faz parte. É na família que cada indivíduo passa a adquirir suas características, seus pensamentos e suas diversas formas de si relacionar com as demais pessoas. Por ser a família essa primeira instituição na qual somos inseridos ela passa a ter uma considerável importância no processo de inclusão social de crianças com autismo ou qualquer outra necessidade especial. No decorrer deste capítulo abordarei de forma mais detalhada: o conceito de família; os diferentes tipos de família; a inclusão social e a importância da família dentro desse processo de inclusão social para crianças com autismo.
3.1 Conceitos gerais sobre família 
Definir atualmente um conceito sobre família tem se tornado assunto de bastante complexidade. Como já sabemos, a estrutura familiar tem mudado bastante ao longo do tempo. Hoje, família não é mais composta apenas de pai, mãe e filhos, mas sim, da união de pessoas por laços afetivos que tem como intuito criar um lar harmonioso e feliz, porém nem sempre isso acontece às vezes a família fica junta por questões financeiras, por exemplo.
De acordo com o livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, a família pode ser definida como um elemento ativo; não permanece estacionaria, mas evolui de acordo com a evolução da sociedade. Já os sistemas de parentesco, ao contrário da família, são considerados passivos, só se modificam depois que as famílias já se modificaram radicalmente. As famílias passaram por diversas fases até se chegar à família tradicional que conhecemos. Logo quando surgiram as práticas sexuais as famílias podiam relacionar-se livremente com qualquer um de seus membros. Com o tempo isso foi se modificando, as práticas sexuais foram mudando e as relações entre parentes da mesma família foram deixando de existir, e por fim chegou-se ao estado de família e matrimôniono qual presenciamos atualmente. O homem e a mulher devem ter apenas um cônjuge, devem viver de forma monogâmica. Já para Miriam Burd, em seu livro Novas Configurações Familiares, a construção da família se dá da seguinte forma:
A família não e algo natural, biológico, mas uma instituição criada pelos homens em relação, que se constitui de formas diferentes em situações e tempos diferentes, para responder as necessidades sociais. Tal qual viemos a conhecê-la, a partir da era moderna, a família não é um fenômeno universal, sendo historicamente datado: no momento da passagem da sociedade medieval para a industrial. (BURD, 2015 p. 27)
A construção da família acontece de acordo com o tempo em que se é vivido. Cada tempo, cada momento trará novas formas de ser família. Novas configurações nas quais a família é instituída.
Segundo a Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004), a família é entendida como “um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e, ou, de solidariedade”. E a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social NOB/SUAS (2005, p. 90) compreende o conceito de família para além de uma unidade econômica, entendendo-a como “núcleo afetivo, vinculado por laços consanguíneos, de aliança ou afinidade, que circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e gênero”.
Como a PNAS/2004 explica, não é preciso existir apenas laços sanguíneos para que algo seja definida como família, basta que exista, acima de tudo, afetividade. Esses laços que surgem entre pessoas as fazem querer viver juntos de forma mais intensa.
Já para Georges Duby, a família pode ser definida da seguinte maneira:
Na realidade, a família é o primeiro refúgio em que o indivíduo ameaçado se protege durante os períodos de enfraquecimento do Estado. Mas assim que as instituições políticas lhe oferecem garantias suficientes, ele se esquiva da opressão da família e os laços de sangue se afrouxam. A história da linhagem é uma sucessão de contrações e distensões, cujo ritmo sofre as modificações da ordem política. (apud Ariès, 1981, p. 213)
Podemos ver que a família serve como um local de proteção e segurança para quando seus membros sentem-se ameaçados por algo ou alguma coisa. Porém quando esse momento de desconforto e insegurança passa, as famílias tendem a se afastar um pouco e esses laços sanguíneos tendem a se afrouxar. 
O livro “Família: redes, laços e políticas públicas” traz uma explicação de que a noção de família deve ser pensada como uma categoria nativa, onde o sentido da mesma é formado de acordo por quem vive, é como se essa concepção de família fosse um ponto de vista. Assim, autor sugere uma abordagem de família como algo que se define como:
Uma história que se conta aos indivíduos, ao longo do tempo, desde que nascem, por palavras, gestos, atitudes ou silêncios, e que será por eles reproduzida e resignificada, à sua maneira, dados os seus distintos lugares e momentos na família. Dentro dos referenciais sociais e culturais de nossa época e de nossa sociedade, cada família terá uma versão de sua historia, a qual dá significado à experiência vivida. (ACOSTA, 2010 p. 26).
Para a autora, cada família vai se constituir do seu modo próprio, cada família constrói a sua própria história. Quando se pensa desta maneira, que a família é constituída pelo discurso sobre a se própria é uma forma de defini-la sem ultrapassar a sua própria realidade. A família viverá da maneira que lhe convém ser a melhor, independente da estrutura familiar que possui sempre buscará maneiras de exercer o legítimo papel de família, aquele que constrói a sua historia da melhor maneira possível, beneficiando a todos os seus membros.
A família é designada, de forma mais simples, como um grupo de pessoas que têm o mesmo grau de parentesco, que convivem juntos na mesma casa e assim formam um lar. É dentro da família que os membros irão aprender seus valores éticos, morais e sociais. Nesta instituição, o papel da família tem uma grande importância para a formação do caráter e do desenvolvimento de cada indivíduo.
De acordo com o livro didático de Psicologia Aplicada ao Direito, à família é vista como uma instituição pode vir a ser entendida como uma construção social que irá se modificar ao longo da história da humanidade. Antigamente, no período da civilização romana antiga não era necessário ter o mesmo sangue para pertencer à família. Esse sentimento de família que conhecemos começou a ser desenvolvido a partir do século XVI. 
A família passa a ser responsável por garantir a ordem e a formação educacional e afetiva de seus pertencentes. Pois é nesta instituição familiar que aprendemos e formamos o caráter e a personalidade. Ainda sobre a definição de família, sobre a formação da família e as atribuições a ela aderidas, em seu livro “Família: novos conceitos”, a autora Flávia Biroli explica que:
A família se define em um conjunto de normas, práticas e valores que têm seu lugar, seu tempo e uma história. É uma construção social, que vivenciamos. As normas e ações que se definem no âmbito do Estado, as relações de produção e as formas de remuneração e controle do trabalho, o âmbito da sexualidade e afetos, as representações dos papéis sociais de mulheres e homens, da infância e das relações entre adultos e crianças, assim como a delimitação do que é pessoal e privado por práticas cotidianas, discursos e normas jurídicas, incidem sobre as relações na vida doméstica e dão forma ao que reconhecemos como família (BIROLI, 2014, p. 7).
A família é uma construção social. Dentro desta instituição tão preciosa é que serão constituídas todas as formas de relacionamentos e de conhecimentos a respeito do que irá ser vivido na sociedade. A família é que vai tentar determinar as relações entre homem e mulher, instituíra o que se deve ser feito de forma individual ou coletiva, colocará as práticas concretas que devem ser realizadas no cotidiano.
Ainda sobre leituras que fiz durante a formação deste tema, no livro Família Acima de Tudo, o autor traz diversas reflexões sobre a importância de ser família. Ele mostra que a família é de extrema importância para a formação do caráter dos filhos. Por mais que algumas famílias venham a apresentar problemas estruturais, será sempre dentro desta instituição que serão adquiridas as formas mais concretas de se viver em sociedade.
A família, qualquer que seja a sua forma, constitui-se em torno de uma necessidade material: a reprodução. A família exerce também uma função ideológica. Além da reprodução biológica, a família também promove a sua própria reprodução social: a família participa do mesmo projeto global, referente à sociedade na qual está inserida. Ela ensina a seus membros como se comportar fora das relações familiares, em toda e qualquer situação, é a formadora do cidadão (BURD, 2015 p. 27-28).
Como já foi explicado, não importa a forma no qual a família será constituída, se por pai e mãe, somente pai ou mãe, se será homoafetiva, o que importa é que nesta instituição os membros irão a aprender a tornarem-se cidadãos. Desta forma, independente de como a família é formada, ela sempre deverá ser bem estruturada para assim passar para as próximas gerações do seu grupo familiar as melhores formas de se viver.
A autora Miriam Burd (2015) também traz explicações sobre o modelo de família brasileira, que pode ser identificada como uma família de características múltiplas, tanto étnicas quanto culturalmente. Devido à miscigenação dos povos que aqui existiram, as famílias brasileiras são uma mistura de ex-escravos, de brancos de origem ibérica e de indígenas. Alguns dados são citados sobre a formação da família brasileira, esses dados são do Censo de 2010 e nele podemos ver que no Brasil destacam-se o grande índice de divórcios, de casamentos inter-raciais, de casamentos homoafetivos e de famílias chefiadas por mulheres reconhecidas como responsáveis pela casa. Assim vemos mais uma vez que a família muda conforme o tempo mudo. A modernidade

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