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1 2 https://bit.ly/2UM6BlR https://curso.professorizando.com.br/autismo https://api.whatsapp.com/send?phone=5561996098844 https://bit.ly/2UM6BlR 3 Agradecimentos Juntos, expressamos nossa gratidão aos mais de 3 milhões de professores e professoras do nosso país. Essa apostila é dedicada aos verdadeiros heróis e heroínas que atuam todos os dias mudando as gerações e transformando o Brasil. Vocês são nossos maiores Mestres. E é por cada um de vocês que sempre nos dedicamos a aprimorar nosso trabalho! “Não temos que ser perfeitos hoje. Não temos de ser melhores do que outra pessoa. Tudo o que precisamos fazer é ser o melhor que pudermos.” Joseph B. Wirthlin Podemos mudar a educação do nosso país se dermos o primeiro passo, transformando um coração, um aluno de cada vez! Bons Estudos! 4 Sumário Agradecimentos ............................................................................................................... 3 Introdução ........................................................................................................................ 6 Capítulo 01 ....................................................................................................................... 8 Contexto Histórico ..........................................................................................................................................8 História do Autismo ........................................................................................................................................9 Capítulo 02 ..................................................................................................................... 11 Mas Afinal, O Que é o TEA (Transtorno do Espectro Autista)? ..............................................................11 Quais São as Causas do Autismo? ................................................................................................................12 Sintomas e Características ............................................................................................................................14 Sinais de Alertas Para Cada Idade: ...............................................................................................................16 Capítulo 03 ..................................................................................................................... 18 Diagnostico .....................................................................................................................................................18 Níveis do Autismo .........................................................................................................................................19 Capítulo 04 ..................................................................................................................... 22 Tratamentos ....................................................................................................................................................22 Autismo e Dieta .............................................................................................................................................26 Capítulo 05 ..................................................................................................................... 28 Desenvolvimento da Linguagem ..................................................................................................................28 Como Brincar com a Criança com Autismo ..............................................................................................29 Posso Chamar Outras Crianças? ..................................................................................................................29 Como Falar Com a Escola? ...........................................................................................................................30 Capítulo 06 ..................................................................................................................... 31 O Que a Escola Tem que Fazer para Acolher esse Aluno? ........................................................................31 Características do Estudante com TEA .......................................................................................................32 Como é Feita a Avaliação do Aluno? ...........................................................................................................34 5 Aluno com Autismo: Como Vencer os Desafios na Escola? .....................................................................34 Criança com Autismo na Escola Regular é Adequado? .............................................................................35 Dicas Para o Dia a Dia em Sala de Aula ......................................................................................................36 Brincadeiras e Estímulos na Sala de Aula ...................................................................................................40 Capítulo 07 ..................................................................................................................... 43 Família: Como Lidar Com Autista ...............................................................................................................43 Do Que as Crianças Precisam? .....................................................................................................................44 A Importância da Família na Aceitação do Autismo .................................................................................45 Autonomia ......................................................................................................................................................45 Capítulo 08 ..................................................................................................................... 46 Birra X Crise ...................................................................................................................................................46 O Que é Birra? ................................................................................................................................................46 O Que é Crise (no autismo)? ........................................................................................................................46 O Que Pode Ser Feito Para Evitar ou Controlar Crises .............................................................................47 Capítulo 09 ..................................................................................................................... 48 Direitos e Legislação ......................................................................................................................................48 Capítulo 10 ..................................................................................................................... 52 Mitos e Verdades Sobre Autismo .................................................................................................................52 Autismo em Adultos ......................................................................................................................................56 Autistas no Ensino Superior .........................................................................................................................57 Mercado de Trabalho .....................................................................................................................................58 Sobre a Autora................................................................................................................ 60 Quem Somos .................................................................................................................. 61 Referências Bibliográficas .............................................................................................................................62 6 Introdução Muito já se ouviu falar sobre o Autismo. E muitas vezes o que ouvimos falar é algo velado,de muito preconceito por quem não conhece e nem estuda a área. A expressão “nem parece que é autista” é uma frase que ouvimos muito e que deve ser banida, pois autismo não tem cura. Quando falamos em autismo pensamos logo em comportamentos descontrola- dos, que vão desde se bater, bater no outro, não olhar no olho e até não ter empatia. Mas, na verdade, o autismo tem características diversas que podem ou não ser iguais ao que a sociedade tornou padrão. Crianças são todas iguais? Não! Principalmente quando falamos do comporta- mento delas - o que não seria diferente quando falamos de autistas, em quem as diferenças são mais evidentes. Todos nós somos indivíduos com particularidades únicas, por isso devemos ter um olhar individual para cada um. Todo mundo já ouviu falar ou conhece alguém que possui esse transtorno. É in- crível como, em cinco anos, o que era praticamente desconhecido tomou uma proporção muito grande. Uma em cada cinquenta e nove crianças apresenta algum Transtorno do Espectro Au- tista, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos. A incidência é maior em homens - a cada cinco crianças com autismo apenas uma é menina. Muitas pessoas pensam que está ocorrendo uma epidemia. Mas será que antigamente não existiam tantos autistas assim? Existiam, só que muitas vezes eram diagnosticados de forma errônea, até mesmo por haver poucos estudos e conhecimento na área. Ainda hoje o autismo é de difícil diagnóstico por se parecer com muitos outros transtornos. Foi apenas em 1993 que o Transtorno do Espectro Autista passou a integrar a Classificação Internacional de Doenças da OMS (Organização Mundial de Saúde). Isso é muito recente - imagine quantas centenas ou até mesmo milhares de pessoas ao redor do mundo que possuíam ou possuem esse transtorno foram diagnosticadas erroneamente. 7 Atualmente quando falamos sobre autismo e sobre a importância da inclusão dos autistas na sociedade, incluindo as salas de aulas regulares, nos esquecemos de que foi percor- rido um longo e atribulado caminho para a educação inclusiva ser o que é hoje. Contudo, por mais que as mudanças e procedimentos tenham conquistado grandes avanços, é necessário ter consciência de que ainda há muito a se aprender e desenvolver. Esse E-book tem como finalidade explicar de forma simples e clara o mundo das pessoas que convivem com o Transtorno do Espectro Autista, para que possamos auxiliar e dar suporte de forma prática e didática aos seus familiares e professores. 8 Capítulo 01 Contexto Histórico A abordagem e a percepção da sociedade em relação às pessoas com deficiências tem se modificado gradualmente durante os anos, no meio social, filosófico e científico. Por mais que as mudanças e procedimentos de melhorias para a inclusão ainda não sejam perfeitos, é importante ter consciência de que foi percorrido um longo caminho para ela ser o que é hoje. No passado algumas sociedades utilizavam-se apenas da força braçal para pro- mover a agricultura, guerra, pecuária e artesanato. Dessa forma, os indivíduos com deficiências físicas eram inaceitáveis para a sociedade - tanto que não havia nenhum problema, ético ou moral, em se descartar bebês com deficiências logo após seu nascimento. Devido a tudo isso os deficientes intelectuais, mesmo não apresentando nenhuma característica física aparente que os sujeitassem a morte, eram escondidos e muitas vezes tornavam-se algo inoportuno para as famílias. Com o fortalecimento do cristianismo na Idade Média, todas as pessoas passa- ram a serem consideradas filhas de Deus. As deficiências eram atribuídas a causas divinas. Com isso algumas pessoas com deficiência eram objetos de caridades e outras, na tentativa de a Igreja se proteger de manifestações sobre o poder abusivo do clero, eram consideradas possessões demoníacas, sendo caçadas e exterminadas. A deficiência passou a ser vista como um infortúnio e improdutiva do ponto de vista econômico, e pela primeira vez houve a tentativa de tratamento em hospital psiquiátrico com uso de alquimia, magia e astrologia, de forma institucional que servia tanto para tratar como para confinar e esconder pessoas que não apresentavam comportamentos dentro dos padrões ditos normais. Dessa forma começa-se a questionar a institucionalização de pessoas com neces- sidades especiais, pois há o reconhecimento de que a vida nas instituições era de certa forma desumana, tornando assim seus pacientes incapazes de viver novamente em sociedade. A luta agora era para acabar com a institucionalização de pacientes, em uma 9 tentativa de integração de pessoas com necessidades especiais na sociedade, colocando-as assim em um sistema mais próximo do que é considerado uma vida normal. História do Autismo O autismo é tão antigo quanto possamos imaginar. Sempre existiram crianças com modos diferentes e mais fechadas no seu próprio mundo. Como o próprio termo grego de autismo diz, “autós” significa “escondidos de si mesmo”. Durante muito tempo, o autismo foi confundido erroneamente com uma forma de esquizofrenia e considerada de difícil diagnóstico. As crianças autistas por muitos anos esti- veram à mercê de condutas pouco claras de avaliação. Os problemas encontrados na definição de autismo refletiram-se também na dificuldade da construção de instrumentos adequados, que pudessem ser utilizados na avaliação e diagnóstico desses casos. O autismo foi identificado pelos médicos Leo Kanner e Hans Asperger. Inúmeros autores dedicaram-se à tarefa de estudar o autismo, baseados em várias teorias e percorren- do caminhos diferentes. Algumas teorias psicogênicas acreditavam que a origem do autismo estava relacionada à falta de afetividade dos familiares com a criança, o que hoje em dia foi comprovado que não tem relação. Acredita-se, atualmente, que autistas tenham uma disfunção biológica estrutural ou funcional que altere gravemente o desenvolvimento e a maturação do sistema nervoso central. O psiquiatra Leo Kanner (1943), publicou um artigo intitulado Distúrbios Autís- ticos de Contato Afetivo na revista NervousChild, que relatava onze casos clínicos de crianças que possuíam uma condição diferente. Kanner identificava nos autistas as dificuldades com linguagem, alimentação, sono e desenvolvimento psicomotor, além do exagerado isolamento, considerado por ele uma das características mais marcantes. Alguns pesquisadores concluirão que a culpa dos sintomas de falta de interação social era da mãe, que não demonstrava afeto suficiente - conhecida como mãe geladeira. Ten- taram solucionar e curar o autismo de várias maneiras com tratamentos psicanalistas intensos e muito caros, o que não estava disponível para toda a sociedade. Muitas famílias vendiam tudo 10 que podiam com a esperança de curar o filho e podendo assim corrigir os erros que acreditavam que eles mesmos haviam causado. Com o passar do tempo, mais especificamente na década de 60, o psicólogo Ivair Lovaas começou a ganhar espaço com seus tratamentos comportamentais, já que seus métodos demonstravam surtir mais efeitos que os métodos tradicionais psicodinâmicos. 11 Capítulo 02 Mas Afinal, O Que é o TEA (Transtorno do Espectro Autista)? É um distúrbio que compromete o desenvolvimento cerebral na área da comu- nicação e da interação social - uma alteração comportamental que apresenta dificuldades na comunicação tanto verbal quanto a não-verbal, de forma que a interação social fica compro- metida. Os portadores de TEA mantêm interesses restritos e estereotipados. Esses sinais perma- necem por toda a vida da pessoa. O autismo é considerado um Transtorno Mental e de Comportamento. Entretan- to, algumas pessoas com autismo podem possuir também uma deficiência intelectual. Não são todas que apresentam alterações intelectuais - algumas inclusive possuem inteligência acima do normal. O TEA (Transtorno do Espectro Autista) é o termo quefoi implementado desde 2013 para englobar todos os antigos transtornos que possuíam as mesmas características só que com diagnósticos diferentes, conhecido também pelo termo “guarda-chuva”. Hoje em dia tudo é uma coisa só: o Autismo, só que em graus diferentes. Devido às dificuldades de lidar com o ambiente social, algumas pessoas que pos- suem esse transtorno podem apresentar um comportamento diferente. Seu comportamento in- comum se deve a uma tentativa de se expressar sobre algo ou uma situação. Os problemas com- portamentais que podem ocorrer derivam em sua maioria da sensibilidade aos sons, ou algo que viu ou sentiu. Por isso eles precisam tanto de uma rotina rígida no dia a dia, para reduzir as incertezas e conseguir entender melhor o mundo que os cerca. Nós seres humanos somos totalmente sociais e isso faz parte da sobrevivência da nossa espécie. Afinal, precisamos nos comunicar e lidar com o outro desde sempre. É cientificamente comprovado que já dentro da barriga o bebê cria laços afetivos com a mãe a partir do que ele é capaz de ouvir na gestação. Quando nasce precisa automati- camente de cuidados externos, procura o colo e o olhar e passa a ter um vínculo de confiança com o qual ele se sente seguro e acolhido. 12 Quando falamos da dificuldade comportamental social, estamos nos referindo aos marcos evolutivos esperados para cada faixa etária. A cada momento que a criança cresce passa a ter mais demandas sociais, de forma a ficar mais evidente a dificuldade dos portadores de TEA de se relacionarem com as outras pessoas. Quais São as Causas do Autismo? Como já sabemos, o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento. Isso sig- nifica que quando o cérebro começa a se desenvolver e formar ligações, ocorre uma cadeia de reações químicas, fazendo com que haja modificações nas células e na transmissão neural que causam vários prejuízos na área de comportamento e interação social, levando a um conjunto de sintomas específicos. O portador de TEA é caracterizado por alterações presentes em seu desenvol- vimento desde muito cedo, normalmente antes mesmo dos três anos de idade, sendo também mais comum em crianças do sexo masculino. Possui um impacto múltiplo e variável, afetando assim a comunicação, a interação social e a capacidade de adaptação. Quanto mais cedo for identificado, mais rapidamente se faz tratamentos para ajudar no desenvolvimento. As causas do TEA não são totalmente conhecidas. Mas hoje em dia está cada vez mais claro que a genética é um dos principais fatores que causam o autismo. Existem centenas de pesquisas em diversos lugares do mundo que confirmam isso. De acordo com os estudos atuais já existem mais de duzentos genes fazendo parte do transtorno do autismo. Em 90% dos casos diagnosticados, a causa do autismo é genética, podendo este ser herdado do pai e da mãe por conta de um conjunto de variações genéticas. Em outros casos, os genes das crianças podem sofrer uma mutação sem motivo aparente, sem receber dos pais. Quando os pais já possuem um filho com autismo, é comprovado que os mesmos possuem a chance de 18% de ter outro filho com o espectro. Existem também as causas ambientais. Quando falamos de causas ambientais não significa ambientes externos como casas e escolas e sim o ambiente intrauterino (gestação). São fatores que prejudicam o feto, como parto prematuro, estresse, infecções, idade dos pais, 13 exposição a substâncias tóxicas e complicações durante a gravidez. Devemos deixar bem claro que a criação familiar não causa o Autismo, afinal o TEA não tem causas emocionais. Antigamente muitas pessoas de forma errônea culpavam os pais pelo aparecimento dos transtornos, dizendo que o motivo desses sintomas era a falta de carinho e atenção dos familiares. 14 Sintomas e Características Já que o autismo não é igual para cada criança, como podemos ficar atentos a suas características e sintomas? Existem sinais que as crianças apresentam, muitas vezes antes mesmo de um ano de idade. Os marcos evolutivos do desenvolvimento infantil indicam que em cada idade a criança precisa apresentar algumas características. Se a mesma não demonstra o que se é es- perado para sua faixa etária, apresentando alguns atrasos, devemos ficar em estado de alerta e fazer uma investigação mais detalhada. Mesmo sabendo que cada criança tem seu tempo, existem características que devem estar presentes. Nós precisamos ficar atentos a esses sinais de alerta para a possibilidade da pre- sença do Transtorno do Espectro Autista. A existência de alguns desses sintomas não significa que a criança seja autista, mas deve sinalizar a importância de uma avaliação comportamental mais detalhada. Duas coisas podem acontecer com uma criança com o TEA (lembrando que nun- ca é igual para todo mundo; existem variações): ela nunca desenvolver as características sociais esperadas pela idade ou desenvolvê-las a partir de dois anos, sofrer uma regressão e perder algumas conquistas alcançadas. Os bebês com o espectro tendem a apresentar falta de interesse na voz humana e evitar o contato visual, e algumas vezes não demonstram expressões de afeto quando acaricia- dos. E tendem a não imitar ou rir das gracinhas que comumente fazemos. Com um ano de idade a criança já precisa falar uma palavra com função (quando tem a intenção de se comunicar) e ter gestos comunicativos como: apontar, chamar ou usar ou- tros meios para se comunicar. Com dois anos ela precisa falar no mínimo duas palavras. Outras características que devemos observar nessa idade é a atenção comparti- lhada. Quando você mostra algo para a criança e ela consegue olhar para o que você mostrou e te olhar de volta, formando assim um triângulo de comunicação. Com um ano deve ter a 15 referência social, já saber quem é mãe e o pai, gostar de ficar com eles, e buscar sempre os cui- dadores. sse por brincar em grupos. Brincam de forma diferente com seus brinquedos, preferindo algumas vezes girar a roda dos carrinhos ao invés de brincar de vai e vem com eles. Alguns possuem ações estereotipadas como se mover para frente e para trás, mo- vimentos circulares com as mãos, o hábito de cheirar e lamber objetos e bater palmas de forma repetitiva. Pode ocorrer também a sensibilidade a determinados barulhos em alguns ambien- tes e a texturas diferentes, como massinha de modelar, tinta guache e muitas vezes texturas de alimentos. Portadores do espectro autista podem ainda desenvolver uma fala robotizada, que não apresenta alteração de voz com entonações, parecendo algumas vezes que ele não tem sentimentos. Ao contrário do que muitos pensam, a agressividade não é critério para o diag- nóstico do Transtorno do Espectro Autista. No manual mundial dos DSM-V (Manual Diagnós- tico e Estatístico de Transtornos Mentais) a agressividade não entra como característica. O Ministério da Saúde afirma que, como em qualquer patologia, os casos mais graves são diagnosticáveis com mais facilidade. No entanto, algumas crianças autistas possuem comportamento estranho ou considerado fora do normal. Algumas rejeitam o contato físico até mesmo de seus familiares. Outras, no entanto, buscam contato físico, de forma exagerada, até mesmo com estranhos. De acordo com o livro O Reizinho Autista dos autores Mayra Gaiato e Gustavo Teixeira, temos uma série de características associadas ao desenvolvimento de uma criança co- mum e devemos estar alertas para certos comportamentos, sendo estes: 16 Sinais de Alertas Para Cada Idade: Aos quatro meses de idade: Não acompanha objetos que se movem na sua frente. Não sorri para as pessoas. Não leva as mãos ou objetos à boca. Não responde a sons altos. Dificuldade em mover os olhos para todas as direções. Aos seis meses de idade: Não tenta pegar objetos que estão próximos. Não demonstra afeto por familiares. Não emite pequenas vocalizações. Aos nove meses de idade: Não senta, mesmo com auxílio. Nãobalbucia. Não reconhece o próprio nome. Não olha para onde você aponta. Não passa o brinquedo de uma mão para outra. Aos doze meses de idade: Não faz contato visual. Não engatinha. Não fica de pé com apoio. Não procura objetos que vê sendo escondidos. Perdeu habilidades que já possuía. Aos dezoito meses de idade: Não anda. Não fala pelo menos uma palavra. Não expressa o que quer. Não aponta. Não se importa se seu cuidador se afasta. Perdeu habilidades que já possuía. Aos dois anos de idade: Não fala frases com duas palavras. Não copia ações ou palavras. Não segue instruções simples. Não entende o que fazer com utensílios comuns do dia a dia. 17 Perdeu habilidades que já possuía. Aos três anos de idade: Cai muito ao andar. Fala pouco ou de maneira incompreensível. Não compreende comandos simples. Não brinca de faz de conta. Não demonstra interesse em brincar com outras crianças. Aos quatro anos de idade: Não brinca com outras crianças. Interage com poucas pessoas. Tem dificuldades na fala. Tem dificuldades para rabiscar um desenho. 18 Capítulo 03 Diagnostico Então você conseguiu perceber alguns dos sintomas em uma criança. O que fazer a partir daí? Bom, o primeiro passo é marcar uma consulta com um neuropediatra ou psiquia- tra infantil, que fará através da observação direta do comportamento uma entrevista com os pais regida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) para um primeiro diagnóstico clínico. É necessário um neuropediatra ou um psiquiatra da infância nesse primeiro mo- mento, não só para casos que envolvem medicação, mas também para que o médico possa acompanhar periodicamente a evolução dessa criança. Para que se possa realmente fechar um diagnóstico de autismo, deve ocorrer um processo colaborativo juntamente com uma equipe multidisciplinar, pois como ainda não existe um exame de imagem ou de sangue que possa dar certeza do laudo, é preciso chegar a um diag- nóstico por meio de processos clínicos de observação direta. Essa equipe deve ser composta por psicólogo, psiquiatra infantil ou neuropediatra terapeuta comportamental e fonoaudiólogo, entre outros profissionais. Os sintomas costumam estar presentes antes mesmo dos três anos de idade, sendo possível fazer o diagnóstico por volta dos dois anos. Diagnóstico precoce é muito importante. Quando a criança ainda é pequena, seu cérebro possui a neuroplasticidade - uma capacidade incrível de se reprogramar e criar cami- nhos para novos aprendizados, formando novas conexões para os neurônios e sendo capaz de fazer caminhos que não existiam antes, o que facilita muito a eficácia dos tratamentos. Quanto mais cedo houver um diagnóstico, mais cedo se pode entrar com intervenções para que essa criança possa sair de graus como moderado e grave, e ter uma vida social interativa melhor. 19 Níveis do Autismo O Espectro Autista é separado em níveis de gravidade que vão desde os mais leves até os mais severos. Para que possamos entender melhor esses níveis, vamos imaginar o autismo como uma cor - a cor verde por exemplo. Na cor verde existem várias derivações de tons, indo do verde claro até o mais escuro, mas de forma alguma deixou de ser verde. Assim funciona o autismo - mesmo com toda a sua variação de características e a individualidade de cada uma, ainda é um transtorno de condições neurobiológicas generaliza- das por anormalidade de interação social e comportamental. O que divide e caracteriza os níveis de autismo é a quantidade de ajuda e apoio que o autista precisa para lidar com as interações básicas da vida. Vai desde necessitar de pouca ajuda até precisar de ajuda a todo momento para realizar as atividades mais simples do cotidia- no.Independentemente do nível que esse autista pode se encontrar, é possível sair sim de níveis mais severos e progredir até chegar em um grau leve. Com as mediações e intervenções corretas irá ocorrer progressos. O primeiro nível de gravidade, conhecido também como autismo leve, é aquele que tem o melhor funcionamento cognitivo. A criança portadora costuma não ter muitas difi- culdades na escola e na maioria das vezes não precisa de tantas intervenções. Ela possui algu- mas das características do espectro, tem sintomas e dificuldades, mas precisa de muito pouco tratamento para conseguir se desenvolver. O autista com nível leve não possui a deficiência intelectual associada. E tem uma verbalização com domínio de fala muito mais tranquilo. Ele consegue se comunicar mesmo com as dificuldades. Uma das maiores dificuldades é na interpretação de gestos e comunicações. Uma das principais características que difere um autista leve de um moderado é a quantidade de mediações que essa criança precisa para conviver em sociedade. Ela consegue aprender na escola sem um apoio especializado, pois possui a capacidade e condições de apren- der o que se é ensinado. 20 Por possuir características mais leves, o diagnóstico torna-se mais difícil, muitas vezes havendo uma confusão com outros transtornos. Por isso é importante prestar atenção em todos os sinais desde antes de um ano de idade, pois quanto mais cedo ocorrerem as interven- ções, maiores são as chances de haver um desenvolvimento saudável e seus sintomas minimi- zados. O segundo nível de gravidade, conhecido como grau moderado, é caracterizado pela necessidade de receber uma ajuda de forma mais intensiva. Possui o sistema cognitivo mais comprometido, necessitando de ajuda na escola, tratamento em casa e em uma clínica especializada. O atraso da fala é mais evidente, ou até mesmo a falta da verbalização. Esse nível está bem no meio termo entre os graus leve e severo. Ou seja, ele não é tão independente e verbal como um autista de grau leve, mas também não necessita da mesma quantidade de apoio que um nível mais severo. O terceiro nível de gravidade, conhecido como grau severo, precisa de muito apoio, muita terapia e um acompanhamento terapêutico dentro de casa e na escola. Os autistas de grau severo são dependentes nas atividades da vida diária, precisando de ajuda para comer, ir ao banheiro e cuidados básicos de higiene. São totalmente dependentes de outras pessoas. Essas crianças costumam ser muito isoladas, gostam de ficar fazendo suas pró- prias coisas e se recusam a mantar contato social. Detestam interferência e, quando isso ocorre, pode desencadear uma série de crises e uma desordem mental. Geralmente elas possuem um atraso cognitivo e um nível de deficiência intelectual, o que torna necessário um tratamento para a vida toda. Mesmo possuindo tantas dificuldades, não significa que não conseguem fazer nada. Elas também são espertas e realizam coisas boas e interessantes - só precisam ser estimu- ladas da forma correta. Quando é um grau mais severo e o autista não fala, temos que aprender a entender seus sinais, já que eles estão sempre exibindo vários comportamentos difíceis de 21 serem decifrados. A comunicação não acontece exclusivamente por meio da fala, mas pode ser expressada de diversas formas. Independentemente do nível em que esse autista se encontre, é possível sim sair de níveis mais severos e progredir até chegar em um grau mais leve. Com as mediações e inter- venções corretas poderá ocorrer progressos. 22 Capítulo 04 Tratamentos Um dos grandes problemas relacionados ao tratamento é a demora no diagnós- tico, levando a um atraso na assistência necessária. Quanto mais demoramos para começar as mediações, perdemos momentos únicos que são verdadeiras portas para a mudança que só ocorrem na infância. Até os dias de hoje não se sabe sobre uma cura para o TEA. Precisamos ter muito cuidado com informações errôneas que aparecem a todo momento. A melhor forma de ajudar alguém com esse transtorno é se informando por fontes seguras e atualizadas. A todo momento são feitas novas descobertas. Não existe cura, mas existem tratamentos adequados que amenizam ossintomas e trabalham para que o indivíduo possa ter um desenvolvimento saudável e minimize os sinto- mas do TEA ao longo da vida. Um dos tratamentos mais indicados é a psicoterapia comportamental. O ideal é começar o tratamento antes dos três anos. Mesmo que passe dessa idade, é importante deixar bem claro que não existe casos perdidos. Nós precisamos dar sentido à vida dessas pessoas. A terapia comportamental tem como objetivo auxiliar a criança com TEA, traba- lhar a comunicação verbal e não verbal, emoções, interações sociais e o dia a dia. Existem vá- rios métodos comportamentais que tem sua eficácia cientificamente comprovada no tratamento do autismo. São usados diversos meios e estratégias para fazer essa intervenção, com utiliza- ção de brincadeiras, imagens, esportes e música, entre outros. O céu é o limite quando se refere a meios para compor a estimulação cerebral do universo autista. Uma das ciências mais conhecidas mundialmente e com mais êxito no que se re- fere aos tratamentos é a ABA (Applied Behavior Analysis), conhecida também como Análise do 23 Comportamento Aplicada. Seu intuito é criar programas para montar intervenções junto a uma criança autista. O ideal é que o programa seja feito em um modelo Naturalista, sendo colocado dentro do ambiente da criança no contexto diário. O autor mais influente para o modelo ABA foi Skinner, que em 1930 comprovou experimentalmente que através dos estímulos do ambiente é possível compreender e controlar o comportamento, tanto negativamente como positivamente. O objetivo é construir junto com a criança uma grande variedade de programas, focando em potencializar comportamentos adequados e eliminar comportamentos inadequa- dos, trabalhando com o desenvolvimento cognitivo e ajudando-a a tornar-se mais funcional para o dia a dia. O tratamento com o ABA é dividido em cinco etapas: anamnese, avaliação com- portamental, programação individual, análise de dados e atendimentos Anamnese A anamnese é a primeira etapa a ser realizada, pois é quando ocorrerá a entrevis- ta com a criança e os pais para poder montar um tratamento mais adequado. Avaliação comportamental A avaliação comportamental é feita após a entrevista com a criança, usando os dados coletados pela anamnese. Nessa etapa são realizados diversos testes por categorias de estímulos, como sociais, cognitivos, comportamentais, motores e de linguagem, para que o te- rapeuta a partir das respostas coletadas possa identificar as áreas que precisam ser estimuladas ou ampliadas. 24 Intervenção comportamental A intervenção comportamental é feita com o terapeuta e a criança. A interação se dá por meio de tentativas de comunicação, atividades prazerosas e materiais de estímulos reforçadores no intuito de motivar a participação da criança e manter uma relação agradável. Programação individual Na programação individual, após todo o mapeamento da criança, é quando são estimuladas as habilidades que estão ausentes, no intuito de que ela passe a adquirir essas novas capacidades para atender às especificidades de seu aprendizado. Análise de dados A análise dos dados é feita por meio das folhas de registro e é a partir dessas que toda a equipe multidisciplinar pode conversar e acompanhar as evoluções ou os retrocessos, facilitando assim a comunicação entre os terapeutas. Dessa maneira eles podem discutir novas estratégias e mapear novos programas. Os atendimentos pelo programa ABA podem e devem ser realizados em diversos ambientes, não necessariamente na clínica. Quanto mais presentes no dia a dia da criança autis- ta, melhor é o seu desenvolvimento. Por isso é muito importante que na escola a criança tenha um mediador que a auxilie nas tarefas, ensinando-a a lidar da melhor maneira com a rotina escolar. Em casa é essencial que os pais dêem continuidade à terapia, auxiliando a criança nas rotinas diárias, que muitas vezes são tão difíceis. E a forma com que os pais lidam com os comportamentos é de suma importância para que a criança se desenvolva negativa ou positi- vamente. Com tantas possibilidades de tratamento, qual é a importância do uso da medi- cação no autismo? A medicação dentro do espectro autista possui vários objetivos, sendo que o 25 primeiro é ajudar a reduzir alguns comportamentos como as estereotipias, agressividade, ansie- dade e a hiperatividade, pois são comportamentos que atrapalham muito no cotidiano escolar e social. O foco é proporcionar uma maior qualidade de vida, para que a criança possa socializar e interagir com mais facilidade. Outro ponto importante da medicação é que ela auxilia nas dificuldades que muitas vezes estão associadas ao autismo, como o distúrbio do sono, distúrbios alimentares, Transtorno Opositivo Desafiador e fobias sociais. Ou seja, a medicação também ajuda a crian- ça a lidar com as situações de conflitos e frustrações com que ela tem que conviver. A medicação tem como objetivo melhorar também a atenção e o foco nas ativida- des do dia a dia. Para que um terapeuta, fonoaudiólogo ou pedagogo possa realizar atividades e programas, é necessário que essa criança consiga se concentrar, para absorver e assimilar o que está sendo ensinado. Como toda medicação, ela pode apresentar alguns efeitos colaterais e riscos para a saúde. Por isso é imprescindível ter um acompanhamento com médico para que juntos pos- sam tomar a melhor decisão. 26 Autismo e Dieta Ainda não é muito comum ver pessoas associarem o comportamento de uma pessoa que possui TEA com a alimentação. Porém, hoje em dia, temos alguns estudos que comprovam que uma alimentação saudável e rica em vitaminas e a diminuição da ingestão de alimentos industrializados podem sim impactar no comportamento das pessoas. Isso ocorre principalmente pelo fato de que o TEA é uma condição que atinge os neurotransmissores relacionados a comportamento e comu- nicação. Sendo assim, alimentos que contêm glúten devem ser cortados da alimentação da criança, pois além de poder causar desconforto gastrointestinal, como gases e cólicas, quando chega na corrente sanguínea o glúten atinge os neurotransmissores, podendo alterar o compor- tamento do indivíduo. Também é comum que a pessoa com autismo esteja condicionada a um problema que torna sensível o intestino quando se trata de absorver o glúten e uma proteína chamada caseína, presente no leite e derivados. Portanto, recomenda-se que além da equipe multidisciplinar, como psicólogo, neurologista, psicopedagoga e fonoaudiólogo, o autista tenha o acompanhamento de um nu- tricionista, pois muitas pesquisas hoje em dia ligam certos comportamentos e excesso de crises à má alimentação. Pode parecer complexo mudar toda a dieta de alguém, mas muitas vezes essas mudanças atingem a todos na casa e traz benefícios para toda a família. Indica-se que os seguintes alimentos sejam cortados ou diminuídos da dieta da criança com TEA: » Pães, bolos, salgados, biscoitos e tortas; » Macarrão, pizza; 27 » Gérmen de trigo, sêmola de trigo; » Ketchup, maionese ou molho shoyu; » Salsichas e outros produtos industrializados; » Cereais; » Alimentos que sejam feitos a partir de cevada, centeio e trigo. É importante lembrar que cada caso de transtorno é único e contém suas par- ticularidades e que apenas um profissional da área será capaz de analisar o caso e orientar o responsável da melhor maneira possível. 28 Capítulo 05 Desenvolvimento da Linguagem Como já dito anteriormente, é fundamental prestar atenção às linguagens pró- prias da criança autista, pois cada criança reage de um jeito com relação à sua condição e o ambiente social em que está inserida. Com os pais e pessoas mais próximas, a comunicação utilizada pode ser algo mais pessoal, porém quando se trata do ambiente escolar, o professor deve ser orientado a tra- balhar com a criança de acordo com o grau de TEA apresentado por um profissional. É importante que não forcemosque a criança fale da forma que acharmos me- lhor, e que deduzimos ser normal e ideal. É preciso respeitar o tempo da criança e saber que até mesmo algumas emissões simples de sons, como “AUA” para representar água, já são formas de comunicação que devem ser valorizadas e estimuladas para melhorar. Para auxiliar e reforçar a comunicação, procure lugares silenciosos onde a crian- ça consiga prestar atenção com mais facilidade e ter maior concentração em sua fala As figuras devem fazer parte do cotidiano da criança, como representação de to- dos os objetos possíveis. Sempre que a criança demonstrar interesse pelo objeto representado na figura, fale o nome da imagem representada e peça para que ela repita. É um trabalho de formiguinha, pode ser demorado, mas não desanime por não ver o resultado logo, pois é um método muito eficaz, mas é preciso ter paciência. Os fonoaudiólogos possuem um papel fundamental para auxiliar nesse processo, já que utilizam técnicas muito eficiente para facilitar e estimular a fala. Deve ser um acompa- nhamento constante, que fará uma diferença altamente significativa. Em se tratando da comunicação partindo da criança, de acordo com o grau do TEA, pode haver uma aceitação maior ou menor. 29 As pessoas em contato com o desenvolvimento de uma criança com TEA podem ainda contar com uma ferramenta muito importante para trabalhar a comunicação de pessoas com TEA - é o chamado PECS, do inglês Picture Exchange Communication System™, desen- volvido nos Estados Unidos. Esse método faz parte da vida de muitas famílias, pois não é neces- sário um profissional para aplicá-lo. Para que seu uso venha a atingir seu objetivo real, os pais devem passar por uma formação de apenas dois dias. Nesse sistema o objetivo não é apenas a comunicação, mas sim o desenvolvimento dela através de seis etapas, fazendo com que a criança torne-se capaz de iniciar uma interação. Como Brincar com a Criança com Autismo Muitas vezes, os pais e outros adultos que fazem parte do convívio social da criança autista ficam sem saber como brincar com ela, pois dependendo de como nos aproxi- mamos, não temos uma resposta positiva da criança. Felizmente existem dicas que ajudam a lidar com essa situação e criar uma forma lúdica de chamar a atenção da criança, levando-a a comunicar-se com o adulto por vontade própria. Uma boa maneira de chamar a atenção da criança é aproximar-se dela e brincar próximo a ela da forma que ela brinca. Caso ela demonstre interesse, é uma boa oportunidade para verbalizar aquilo que está fazendo. Outra maneira é por meio de desenhos - tente desenhar ao lado da criança, fazendo com que ela se interesse pelo seu desenho ou pela forma que você desenha. Independentemente da brincadeira que está acontecendo, o mais importante é a forma como a brincadeira se desenrola. Ao invés de tentar trazer a criança para dentro da brin- cadeira, como costumamos fazer, devemos entrar no mundo dela, tornando o processo mais cômodo para a criança. Posso Chamar Outras Crianças? Sim! Claro! Vamos relembrar que a socialização é um dos pontos mais importan- tes para serem trabalhados, e que deve ser praticada sempre. 30 Se a criança autista não se sentir muito à vontade com os outros, é normal. Crian- ças geralmente fazem muito barulho brincando e isso pode incomodá-la. Nesse caso tente uma brincadeira que seja mais calma para ela possa participar. Como Falar Com a Escola? Muitas vezes os pais acham que seu filho com TEA não tem capacidade de estar em uma escola e acabam privando-o dessa experiência. Em casos severos de TEA o acompanha- mento de profissionais pode ser necessário por um longo período, porém isso não pode impedir a criança de estar próxima de outras crianças. É muito importante que os pais criem um laço estreito com o professor da crian- ça, já que para a criança autista as barreiras enfrentadas dentro de uma escola são muito maio- res do que para os alunos que não apresentam nenhum tipo de transtorno. Desde o primeiro momento na escola é fundamental que os pais levem os exames e orientações para o responsável, pois com essa iniciativa o acolhimento da criança tende a se tornar menos complicado para ela. Marque uma reunião com a escola, para que o professor e toda a equipe pedagógica tenham um caminho para seguir, ajudando a criança a desenvolver todas as suas habilidades e potencialidades no mundo acadêmico. Outra dica simples é que os pais levem seu filho autista para fazer o reconheci- mento da escola, de toda a estrutura física, lugares onde ele possivelmente transitará, e princi- palmente a sala de aula. Isso fará com que a criança não passe por um estresse muito grande quando começar a frequentar aquele ambiente novo. É importante minimizar o choque da criança com ambientes novos e pessoas no- vas no seu convívio. Sendo assim, é fundamental a comunicação dos pais com o professor e com a coordenação, tanto para ajudar na adaptação quanto no desenvolvimento e aprendizagem da criança. 31 Capítulo 06 O Que a Escola Tem que Fazer para Acolher esse Aluno? Uma das questões a que devemos nos ater diz respeito às dificuldades ocorridas na sala de aula e no ambiente escolar. Normalmente as maiores dúvidas de escolas e professores são como criar mecanismos de aprendizagem, avaliação, introdução do tema e como preparar e estruturar uma escola com um sistema educacional que de fato faça a inclusão desses alunos de forma correta. Ainda vivemos em um mundo que convive com o mito de que o autista não aprende e não consegue evoluir na escola. É necessário que a escola se prepare com um processo planejado, organizado, estruturado e integrado de ações que envolvem a área pedagógica, de saúde e gestão curricular. Em primeiro lugar, para inserir o aluno com o transtorno do espectro autista em sala de aula, deve-se entender qual a necessidade desse aluno, pois como já vimos nenhum au- tista é igual a outro - cada um tem suas peculiaridades, personalidade, formas diferentes de ser motivado e sensibilidades. Temos que conhecer o perfil comportamental e o perfil cognitivo. Como é esse aluno? Como ele se desenvolveu até chegar na escola? Quais são os déficits que ele apresenta? Quais são as particularidades dessa criança? Cada caso deve ser muito bem avaliado com de- talhes. E isso não é função apenas do professor, mas sim do corpo interdisciplinar que a escola possui, para que a partir daí possa ser feito um planejamento e a elaboração de métodos e ca- minhos para essa criança. Dentro do suporte escolar existem as seguintes considerações que devem estar presentes nas estratégias que vão ser montadas para essa criança: Quais são as características do estudante com o transtorno do espectro autista? Onde eu devo fazer um trabalho mais aprofundado? Como é essa escola? Qual é o perfil dos profissionais? Quem está à frente da educação especial? Existem gestores preparados para lidar com as mudanças necessárias? Existem profissionais com experiência na área ou teremos que 32 montar um time de profissionais especializados? Deve-se levar em conta a qualidade e a quantidade dos recursos sociais, curricu- lares e institucionais do ambiente escolar. Normalmente as escolas particulares, que não tem estrutura e nem suporte do estado para acolher alunos autistas, precisam criar meios e caminhos próprios. O perfil da equipe é muito importante. A equipe deve gostar de trabalhar com alunos autistas, pois muitas vezes essas crianças não vão seguir o mesmo caminho da maioria. Precisamos pensar nesses três fatores: indivíduo, recurso humano e recurso físico. Os três devem estar muito bem integrados. Características do Estudante com TEA Ao considerarmos um aluno autista, devemos evitar compará-lo com outras crianças que possuem o mesmo transtorno, pois existe uma alta variabilidade comportamental e de desenvolvimento. Variabilidade comportamental são as diferenças marcantes queenvolvem cada um, como autistas que são quietos e outros que são muito agitados, os que são mais carinho- sos e outros mais agressivos, entre outras diferenças marcantes e individuais. Deve-se sempre observar quais os comportamentos que mais preocupam para entender quais modificações es- pecíficas deve-se fazer para acolhê-lo. Na variabilidade do desenvolvimento podemos notar que existem autistas que não falam, outros que falam e ainda os que falam muito bem. Há aqueles que possuem graves problemas motores e outros que possuem uma performance motora exemplar. Na variabilidade acadêmica existem crianças com alto nível de desenvolvimento acadêmico de maneira muito natural, sendo que outras crianças com o mesmo espectro repu- 33 diam qualquer atividade relacionada a formas estruturadas e formais. Existe também a variabilidade intelectual, que indica que 40% dos autistas pos- suem nível intelectual normal, 50% possuem uma deficiência intelectual associada e 10% pos- suem altas habilidades. Então é muito claro que cada criança deve ser auxiliada de forma dife- rente. Quando uma criança possui uma deficiência intelectual associada, os desafios da inclusão e da estimulação pedagógica serão maiores. A escola deve ter em mente que essas variabilidades devem ser levadas em consi- deração e são essenciais para a tomada de decisões da equipe pedagógica. O processo de inclusão não depende apenas do professor, mas também da avalia- ção do neuropediatra, fonoaudiólogo, psicólogo e psicopedagogo. É necessário haver toda uma equipe de apoio, para poder auxiliar o professor na criação de estratégias. Existem algumas características às quais os educadores devem estar atentos com relação ao desenvolvimento das crianças: » Não manter contato visual; » Ter uma preferência específica por objetos ou pessoas; » Movimentos repetitivos e estereotipados; » Andar na maioria das vezes usando a ponta dos pés; » Parecer que não estão ouvindo quando lhe chamam pelo nome; » Intensa agitação motora; » Irritação frequente; » Atraso na fala. Lembrando que algumas dessas características isoladas não determinam que a criança esteja dentro do espectro autista. O diagnóstico deve ser feito juntamente com uma equipe multidisciplinar e não apenas em sala de aula. 34 Como é Feita a Avaliação do Aluno? O que motiva a criança autista? O que desperta afetividade que pode ser uma porta de entrada para o professor trabalhar com ela? Se por exemplo ela gosta muito de cava- los, você pode usar esse animal como um caminho para se aproximar dela, ajudá-la a gostar da escola e usar processos acadêmicos através disso. Deve-se conhecer o ritmo do aluno para se desenvolver materiais e modificar a sala e a quantidade de alunos, pois se não avaliar tudo, pode-se atrapalhar o desenvolvimento desse aluno na rotina escolar. Toda a instituição deve trabalhar de forma integrada, afinal um professor pode fazer um trabalho excepcional em sala de aula, mas um zelador por falta de conhecimento pode acabar atrapalhando a vivência dessa criança de forma que a mesma não queira mais ir à escola. Todos presentes no sistema educacional devem ter um conhecimento básico sobre o autismo. A escola deve preparar-se para lidar com todos os processos que podem surgir e, ainda assim, muitas vezes não vai conseguir sozinha - vai precisar que o aluno tome suas medicações e que tenha intervenção terapêutica. É importante haver também os métodos ou modelos de estruturação educacional, como o ABA. Se a escola não sabe trabalhar e lidar com crianças com esse transtorno, ela pode se tornar a culpada por possíveis traumas, fobias e repulsas ao ensino. Aluno com Autismo: Como Vencer os Desafios na Escola? A inclusão do aluno com TEA no ambiente escolar não é nada fácil. Existem vá- rios desafios e cada um traz consigo suas próprias dificuldades, o que exige uma maior atenção por parte de todos os profissionais, que devem observar sempre cada passo a ser dado, inclusive cuidados na condução de uma determinada tarefa e explicações de conteúdos que devem ser acompanhadas de perto. A relação professor-aluno deve ser de total confiança. Isso é fácil em teoria, mas muito complicado de ser colocado em prática. Conquistar a confiança de uma criança com autismo pode ser um grande desafio. Esse processo necessita de uma preparação do educador. 35 É muito importante que, além de se preparar e capacitar, o professor conheça os pais da criança e ouça tudo o que eles tem para dizer. São relatos, dicas e vivências que ajudam a começar a adentrar no universo do aluno. Demonstre que você está ali para ajudá-lo em todos os desafios escolares que surgirem e que você conta com a parceria deles. Criança com Autismo na Escola Regular é Adequado? Sempre que se fala sobre ter uma criança com autismo no contexto da educação de forma regular, isso gera muitos debates e dúvidas. Será que realmente é a melhor escolha? Será que em uma turma específica a criança aprenderia melhor? A inclusão ajuda ou atrapalha? Vamos considerar os muitos questionamentos acerca da eficácia da inclusão de alunos com autismo no ensino regular. Mas, antes de tudo, precisamos lembrar que no ano de 2007 foi aprovado pelo Ministério de Educação e Cultura o acesso, a participação e a aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino a promover respostas às necessidades edu- cacionais e garantindo: » Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação supe- rior; » Atendimento educacional especializado; » Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; » Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais; » Profissionais da educação para a inclusão escolar; participação da família e da comuni- dade; » Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transpor- tes, na comunicação e informação; » Articulação “intersetorial na implementação das políticas públicas”. (Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2007, on line) 36 Desde a sua vigência existem estudos e várias pesquisas para constatar a eficácia dessa forma de ensino. Esses estudos e pesquisas deixam claro que alunos com transtorno do espectro autista, mesmo apresentando alterações muito significativas nas interações sociais e na comunicação, demonstram um grande potencial para o progresso acadêmico, quando isso é trabalhado de forma correta e regular. Quando há uma abordagem correta e uma acessibilidade coerente, tanto na ade- quação da estrutura física quanto dos conteúdos, o ensino regular só tem benefícios a trazer na aprendizagem. A aprendizagem positiva é possibilitada quando a escola tem toda a sua poten- cialidade e corpo docente trabalhando com um olhar e uma didática que permita a assimilação de conteúdos pelo aluno autista. Dicas Para o Dia a Dia em Sala de Aula Imagine que você professor chega na escola e descobre que um dos seus alunos é autista. É uma situação que a princípio desperta certa insegurança - você se questiona se é capaz de ensinar e se ele vai se sentir incluído no meio acadêmico. Uma criança que possui esse transtorno pode e deve ter uma vida acadêmica bem proveitosa, principalmente se seus pais conciliarem a rotina escolar com as intervenções multi- disciplinares. Deve-se sempre respeitar suas características, ao invés de tentar enquadrá-lo no mesmo sistema de ensino das outras crianças. O melhor meio é saber identificar qual a forma mais proveitosa e eficaz de passar informações para o estudante, podendo ser através de esque- mas como fluxogramas, mapas conceituais ou imagens. Os maiores desafios escolares para os pequenos diagnosticados com autismo são os sintomas que podem prejudicar a absorção do conteúdo pedagógico,como: 37 » Hipersensibilidade; » Problemas de comunicação e linguagem; » Problemas de interação social; » Interesse acentuado em determinado objeto ou assunto; Existem estratégias que podem ajudar a lidar com os desafios que a criança en- contra e a trabalhar de forma mais humanizada: 1. Vá com calma na sua fala. Um dos principais pontos é o cuidado com a fala - ao invés de usar palavras cono- tativas, é importante utilizar os termos em sentido literal, afinal muitos autistas tem dificuldade de compreender o uso de expressões figurativas. Use sempre frases curtas e objetivas, o que facilita o entendimento. Diminua o seu ritmo de fala. Quando estamos em sala de aula é normal falarmos rápido e com mais empolgação. Entretanto tente falar mais pausadamente, de forma clara e simples, e procurando sempre saber se ele está aprendendo e gostando. 2. Paciência. Como já mencionado, o processamento de uma informação para a criança/ado- lescente com TEA tem suas peculiaridades e apresenta a sua própria dinâmica. É interessante que você demonstre paciência para explicar um conceito. Pergunte sempre se há dúvida, procu- re esclarecer algum conceito que não ficou claro, etc. 3. Imagens como recurso didático? Sempre! Sempre que possível, utilize imagens para explicar o conteúdo. Com as figuras, a assimilação do conteúdo e a explicação se tornam mais concretas e de fácil absorção. 4. Fale sobre os assuntos de interesse da criança. Écomum que crianças com TEA tenham algum tema específico de interesse ou fixação por algum assunto. Use isso ao seu favor para conhecer melhor seu aluno e elaborar atividades das quais ele goste para poder estimulá-lo e ajudá-lo a prestar mais atenção em de- 38 terminados assuntos. 5. Participação de toda a sala de aula. É imprescindível que o professor promova dinâmicas e brincadeiras que ajudem a aumentar a socialização em sala, pois a comunicação e socialização são essenciais nas vidas de todos nós. Em sala de aula, o diálogo e o convívio tornam-se habilidades que formam a base para o aprendizado. Seja mediador do aluno autista com o restante dos colegas, ajudando-o a participar e brincar com os demais. O ensino para autistas depende muito desse fator para fazer valer a didática uti- lizada. 6. Torne a sala de aula um ambiente convidativo. Transforme a sala de aula em um ambiente que desperte curiosidade e a vontade do aluno autista de estar ali, descubra do que ele gosta e adapte dentro das possibilidades. Ele deve se sentir acolhido e feliz de estar em um ambiente de aprendizagem. 7. Ele é Importante! Faça com que o aluno se sinta parte do grupo, mostrando que ele é indispensável. Ele deve sentir-se acolhido e necessário igualmente com o resto da turma. 8. O que fazer em caso de birras ou crises? Em um caso de crise ou birra, o primeiro passo é levar a criança para um local calmo e tentar descobrir o que ocasionou essa situação, para assim poder ajudá-la. De forma alguma repreenda o aluno com gritos, pois você é o profissional e é capaz e lidar com a situação. A criança não consegue compreender o mundo como você, então tenha paciência. Ajude-a a tranquilizar-se e depois converse sobre a situação para tentar ajudá- -la a lidar com suas frustrações. 39 9. Caso a criança demonstre muita dificuldade, o que pode ser feito? Se você tiver muita dificuldade para lidar com o aluno autista ou compreender o que ele está tentando expressar, não se esqueça de que não é obrigação do professor dar conta de tudo sozinho - é necessária uma equipe inteira, portanto peça ajuda e auxílio de outros pro- fissionais, pois assim o aluno será melhor amparado em todos os sentidos. Para que exista um trabalho satisfatório e que traga resultados, você professor deve sempre buscar e manter o contato visual com o aluno com TEA, pois isso ajuda a estimu- lar a comunicação e a mediar a interação com as pessoas. A utilização de suportes como com- putadores, tablets, músicas, parlendas e livros também são ideais para facilitar a experiência da criança. É importante salientar que toda a equipe escolar esteja atenta a esses detalhes, pois o professor sozinho não conseguiria desempenhar tal trabalho. 40 Brincadeiras e Estímulos na Sala de Aula O brincar é essencial para qualquer criança; é um dos atos mais importantes na vida de uma criança. Na brincadeira conseguimos estimular diferentes habilidades e aspectos, como o sensorial, cognitivo, social, entre outros. As brincadeiras sensoriais trabalham o que as crianças autistas mais precisam desenvolver, já que as ajudam a interagir mais socialmente, a criar mecanismos de comunicação e a reduzir comportamentos repetitivos. Lembrando que nem toda brincadeira é válida. Mesmo que o simples ato de brin- car seja terapêutico e estimulante, nem todas as brincadeiras exercem o papel que uma criança com TEA necessita. Simplesmente deixar que a criança brinque com vários brinquedos não a estimulará da forma que ela necessita. Quando bem utilizadas, as brincadeiras ajudam a reduzir a ansiedade, pois levam o pequeno a trabalhar suas habilidades e valorizam imensamente o contato social, o que facilita a diminuição de alguns sintomas de forma progressiva. Como a criança com autismo não tem muita noção de tempo e nem facilidade de prever o que vai acontecer, ela costuma chegar na brincadeira ansiosa para descobrir o que vai ser feito e muitas vezes insegura, então esteja sempre ao seu lado mediando e mostrando como fazer, até que ela se sinta segura o suficiente para deixar que você saia. Seja paciente e mediador dela com as crianças. Valorize sempre o contato e a interação social. Antes de tudo, conheça o seu aluno, afinal é muito comum que autistas possuam distúrbios sensoriais. Eles podem ter sensações de aperto, hipersensibilidade auditiva e tátil – como por exemplo hipersensibilidade a determinados tons de fala e a determinadas texturas, entre outras situações. Tenha cuidado para não criar uma oportunidade para uma crise no lugar de proporcionar um momento de aprendizagem. A tecnologia pode sim ser uma grande aliada, já que jogos digitais são brinca- deiras sensoriais interessantes e podem ajudar a desenvolver muito o cognitivo, mas eles não 41 impulsionam tanto a interação com o ambiente como outras atividades. Tudo deve ser equili- brado. É bacana que você tenha sempre uma caixa de materiais de todos os tipos de tex- turas, tamanhos, imagens diferentes, pois assim pode-se observar o que mais chama a atenção da criança, o que ajuda a ter ideias do que e como trabalhar com ela futuramente. Jogos compartilhados e cantigas de roda são maneiras incríveis de trabalhar a participação social de forma divertida e interativa. O uso de jogos de encaixe, quebra-cabeças e cartas de cores estimula a criança a trabalhar sua consciência de emoções faciais e coordena- ção motora fina, juntamente com a sensibilidade proprioceptiva. A música é sempre uma ótima aliada! Toque música em tom baixo até que a criança consiga se acostumar. Não tenha medo de trabalhar com recursos simples. Tenha cuidado quando for trabalhar com cheiros, paladares e texturas com a criança autista. Vá com calma e estimule a curiosidade e a vontade dela de participar. Muitos estímulos sensoriais podem ser extremamente desconfortáveis pelo fato de que vários portadores de TEA tem hipersensibilidade, que pode causar um bloqueio total em algumas sensações e ocasionar em crises. Dentro do ambiente escolar deve haver muitas brincadeiras, sempre com um pro- pósito e objetivo. Algumas sugestões são: » Argilas e massinhas » Conteúdos folclóricos que estimulem a criatividade » Quebra-cabeça » Desenhar e colorir » Fantoches » Brincar de faz-de-conta » Danças » Cirandas » Jogos eletrônicos » Jogos de memorização 42 » Contação de histórias (faça caras e bocas e use diferentes tons de voz) » Livros que eles posam manusear » Figuras» Quadros para desenho Para as brincadeiras o céu é o limite! Seja criativo, vá em busca de novidades sempre, atualize-se, deixe sua aula mais divertida e experimental. Conhecer seu aluno abrirá um leque de possibilidades. 43 Capítulo 07 Família: Como Lidar Com Autista Certas pessoas dizem que crianças com TEA não gostam de carinho e afeto. Isso é um erro bem comum, já que muitos caracterizam os autistas como agressivos e acreditam que eles não são afetuosos por alguns não gostarem de contato direto. Porém, como já estudamos, nenhum autista é igual a outro, e as pessoas que não tem convivência direta acabam não crian- do a sensibilidade necessária para lidar com essas situações. A família deve se esforçar para criar momentos e técnicas que assegurem que o pequeno possa aceitar um abraço, um toque, um carinho, pois independentemente da condição, toda criança deve ser criada com o máximo de afeto possível. Não é fácil receber o diagnóstico – a família passa a pensar no futuro e muitas vezes pode achar que não irá dar conta de lidar com esse resultado. Mas é importante manter a calma. É um momento delicado em que a família deve entender que todo o acompanhamento possível tanto da criança e dos pais gera resultados in- críveis. O susto e a insegurança passam, deixando aberta a porta das possibilidades e avanços, acredite. Em alguns casos, quando a comunicação é mais limitada, os pais devem se co- municar por gestos e figuras que levem a uma atitude carinhosa partindo da criança. Mostrem como um carinho faz bem e aos poucos a criança vai assimilando esse momento como algo gostoso de se ter. Mesmo em casos mais severos de TEA, devemos demonstrar carinho com sorrisos, sinais que mostrem positividade e outras coisas que podem parecer pequenas, mas que fazem toda a diferença no universo do autista. Por se tratar de uma condição complexa com relação à forma de se relacionar, os pais devem criar brincadeiras que motivem a interação, diminuindo na medida do possível o contato dessas crianças com ferramentas que estimulam a falta de contato, como jogos de celular e tablets. Criem momentos para vocês, momentos únicos que quaisquer quinze minutos dedicados exclusivamente a isso podem auxiliar e muito no desenvolvimento sócio-afetivo da 44 criança. Sendo assim torna-se imprescindível a criação de uma comunicação própria entre as crianças e os pais. E cabe aos pais auxiliar no relacionamento com outras crianças. No co- meço pode ser difícil e até mesmo parecer que não está funcionando, mas a repetição é a base do aprendizado para qualquer criança. Os pais podem, por exemplo, convidar outras crianças para brincarem com seu filho e permanecerem na brincadeira para que a confiança seja forta- lecida. Do Que as Crianças Precisam? Antes de qualquer coisa, uma criança autista necessita de tudo o que uma criança comum necessita - atenção, carinho, paciência, estímulo, encorajamento. Porém, para além des- sas coisas básicas, em muitos casos os pais devem buscar ajuda externa para aprender a lidar com situações extremas, como as crises que vimos no capítulo anterior. O acompanhamento com uma equipe multidisciplinar é essencial! O primeiro passo é encontrar um neuropediatra de confiança, e a parti daí sair em busca de outros pro- fissionais como psicopedagoga, psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e todos os profissionais que forem indicados para auxiliarem no desenvolvimento e tratamento. Crianças com grau leve de autismo podem apresentar um quadro mais simples, e os problemas apresentados por elas não incluem a dificuldade de relacionamento. Sendo assim, muitas vezes, apenas com a observação e técnicas de relacionamento e comportamento criadas pelos pais, tais crianças podem ter uma vida comum. Já crianças com graus severos de TEA devem ser assistidas em cada momento de sua vida. A presença dos pais nas atividades cotidianas são de extrema importância, pois há diversos casos em que uma criança com grau severo de TEA evoluiu para um grau leve, apenas com técnicas e métodos de interação social e condicionamento psicológico da criança. 45 A Importância da Família na Aceitação do Autismo Dentro do ambiente familiar, a criança com TEA precisará de todo o apoio e aten- ção para se desenvolver plenamente, mas isso só acontecera se os pais aceitarem sua condição, se eles buscarem ajuda de profissionais e orientação para que não haja discriminação por parte dos pais. Sendo assim, é muito importante que os pais busquem orientação, para que pos- sam não apenas lidar melhor com seu filho, mas também para que possam ajudá-lo a ser inclu- ído e aceito na sociedade, sabendo de todos seus direitos como cidadão. Muitas vezes, os pais demoram a aceitar que seu filho pode ter algum grau de TEA, atrasando assim a busca por orientação médica, o que pode comprometer o desenvol- vimento da criança, pois quanto mais cedo for diagnosticado o TEA, mais cedo o tratamento pode começar, gerando resultados positivos para seu desenvolvimento. Autonomia O processo de autonomia é outro requisito muito importante e necessário. A ideia é que a criança autista consiga crescer de forma mais independente possível. O primeiro passo para desenvolver autonomia é o diagnóstico precoce do autismo, pois quanto mais cedo ocor- rer, mais as intervenções e tratamentos dão resultado, modelando assim seu funcionamento e ajudando a abrir novos caminhos. A utilização de figuras e desenhos com a criação de um passo a passo de como tomar banho, escovar os dentes, vestir-se sozinho e a rotina do dia inteiro é um instrumento muito eficiente para trabalhar o processo da autonomia; autistas costumam ter excelente me- mória para rotinas quando as aprendem visualmente e podem adquirir capacidade autônoma de cumpri-las com mais precisão. 46 Capítulo 08 Birra X Crise Antes de entrarmos nesse assunto tão delicado e que engloba de forma geral o universo das crianças com autismo, devemos primeiramente separar e identificar o que é cada uma. O Que é Birra? A birra é um comportamento que surge por algum descontentamento, e normal- mente é acompanhado por choros, gritos e atitudes agressivas. É utilizada de forma estratégica para conseguir algo que deseje, e quando a criança consegue o que quer, a birra acaba. O Que é Crise (no autismo)? As crises são ocasionadas quando a criança fica exposta e ocorrem vários estí- mulos sensoriais e/ou quebra de rotinas e padrões com as quais ela está acostumada. Diferen- temente da birra, as crises não são propositais e muito menos uma forma de estratégia para conseguir algo. É importante notar fatores que podem passar despercebidos quando se trata de uma criança com TEA. Como por exemplo, o horário em que a crise costuma acontecer, as pes- soas que podem estar próximas à criança, objetos que podem causar irritação. Devemos ficar atentos para poder inibir ao máximo essas situações. Vale ressaltar que a birra é algo comum que demonstra descontentamento da criança e acontece com qualquer criança. Os pais devem se manter calmos quando seu filho com TEA começar com indí- cios de crise, pois a observação de suas atitudes vai ajudar os pais a entenderem como devem agir. Porém, deve-se notar no comportamento da criança quais aspectos devem ser 47 trabalhados, pois assim como qualquer criança, limites devem ser impostos desde cedo, ou seja, não deve-se ceder a birras e choros. Como dito anteriormente, os pais devem estar muito atentos ao comportamento do filho para que a diferença entre birra e crise seja rapidamente observada. As crises geralmente estão relacionados a fatores específicos. Podem sugerir um esgotamento mental da criança, ou até mesmo a dificuldade de saber lidar com sentimentos. Outro ponto importante que pode estar ligado às crises é a condição de saúde da criança, como por exemplo um desconforto intestinal ou até mesmo uma alergia. Pela sua condição, ela podenão conseguir se comunicar e dizer aos pais que está passando por alguma dificuldade, criando uma tensão e por fim gerando um comportamento semelhante a uma birra. O Que Pode Ser Feito Para Evitar ou Controlar Crises Mesmo buscando observar o ambiente e os fatores que desencadearam a crise para saber reverter essa situação, há momentos em que é difícil entender o que ocasionou uma crise. Por isso é importante pensar em estratégias que ajudem a manter o bem estar da criança. As crises vão acontecer, mas precisamos criar metodologias que ajudem a resolver o problema o mais rápido possível. Ande sempre com objetos que tranquilizam a criança e dos quais ela gosta. Esses objetos são ótimos para amenizar uma situação de crise. Pode ser um brinquedo, um jogo ou um objeto de que ela goste. Conforme a criança for crescendo, você pode ensinar a ela maneiras de lidar com o estresse e situações desconfortáveis, como respirar fundo, contar até dez, afastar-se do am- biente e pedir ajuda. 48 Capítulo 09 Direitos e Legislação De acordo com alguns autores, as primeiras iniciativas especializadas na educa- ção de pessoas com deficiências surgiram na França, em uma escola que tinha como objetivo fazer pessoas mudas falarem e uma instituição em que o foco era a educação de pessoas surdas. Assim foi criado o método de comunicação por linguagem de sinais por Charles M. Eppé. Mais tarde foi criado por Louis Braille o sistema de escrita e leitura sobre relevo, sendo denominado sistema braile. O início da educação para deficientes intelectuais aconteceu por meio do médico Jean Marc Itard. Consistia em métodos de ensino da repetição de experiências positivas na vida do indivíduo. A primeira instituição pública focada em deficiência intelectual foi criada pelo médico Edward Seguin, que usava o método educacional originado da neurofisiologia, que consiste em uso dos recursos didáticos como música, artes e cores para assim despertar a mo- tivação dos alunos. O século XX foi marcado pela declaração dos direitos humanos (1948), que as- segurou a educação pública e gratuita para toda a sociedade juntamente com o movimento nacional de defesa dos direitos das pessoas com deficiência, que por sua vez defendem as opor- tunidades educacionais iguais para todos. Surge então o documento Declaração de Salamanca (1994), fortalecendo as po- líticas inclusivas. Segundo esse documento, necessidades educacionais especiais vão além de crianças com deficiência no âmbito escolar. A Declaração de Salamanca inclui também todas as crianças que por algum moti- vo não tem acesso à escola, afirmando ainda que o princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. 49 A Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL,1961), pela primeira vez trouxe o direito dos excepcionais à educação. O atendimento educacional para as pessoas com deficiências passa ser regido pela Lei Nº4.024/61, que trata dos direitos de educação, preferencialmente dentro do sistema regular de ensino. A Constituição Federal (BRASIL,1988) determina o atendimento educacional es- pecializado aos portadores de deficiências, preferencialmente na rede regular. Ela ainda determina a obrigatoriedade de matrícula de alunos com deficiências nos estabelecimentos públicos ou particulares oficiais, de forma que todas as diferenças fiquem juntas em uma mesma sala de aula. A LDB, Lei N° 9394(BRASIL,1996), em concordância com as legislações e docu- mentos anteriores que amparam a inclusão educacional, menciona em seu art. 58 que a oferta da educação especial deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para os educandos com necessidades especiais, havendo quando necessário, apoio especializado para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. Não sendo possível sua inclusão nas classes comuns, o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especiali- zados, sendo que a oferta da educação especial é dever constitucional do Estado, tendo início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. Do mesmo modo, quanto às incumbências dos sistemas de ensino, o artigo 59, caput e incisos, da Lei 9394 (BRASIL,1996), traz que as instituições de ensino devem assegurar aos educandos os recursos necessários de forma a atender suas necessidades, como os currícu- los, métodos e técnicas, recursos educativos e organização específica, assim como professores capacitados e especializados que possam atender a esses alunos. Além de educação especial para o trabalho visando a sua efetiva vida em socieda- de, condições adequadas para aqueles que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo. A inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro. A educação 50 inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção, abrangendo tanto quem tem deficiência física, como os que têm comprometimento mental ou são superdotados; enfim, todas as minorias e crianças que são discriminadas por qualquer outro motivo. Inclusão está muito além de ser apenas uma necessidade - é um fator imprescin- dível para o desenvolvimento de uma sociedade e seu convívio interpessoal. Inclusão é a forma de enxergar o outro como um ser humano igual a todos nós. No Plano Nacional de Educação-PNE há diretrizes e metas a serem alcançadas até 2024. Na meta de número 04 o foco é que alunos de 4 a 17 anos com deficiências tenham acesso É educação básica e ao atendimento educacional especializado preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de um sistema educacional inclusivo, com salas de recursos multifuncionais e serviços especializados. Apesar de haver grandes avanços na competência conceitual, podemos dizer que ainda existem os preconceitos e estereótipos construídos culturalmente acerca de pessoas com deficiências e transtornos. Essas barreiras são por diversas vezes firmadas na negação das pos- sibilidades dessas pessoas, acreditando assim em suas limitações e incapacidades. São pré-con- ceitos que devemos e podemos interromper. A legislação que abrange os direitos das pessoas com TEA é resultado do esforço mútuo de organizações como a ABRA (Associação Brasileira de Autismo) e a AMA (Associação dos Amigos do Autista) em conjunto com as famílias, que fazem frente aos movimentos políti- cos que cada vez mais abrem espaço para a discussão sobre essa condição que hoje atinge cerca de dois milhões de brasileiros. Dentre muitas leis, a principal é a lei 12.764/2012, que é chamada de “Lei Bere- nice Piana”, em homenagem a uma mãe que, desde que recebeu o diagnóstico de seu filho, luta pelos direitos das pessoas com autismo. 51 Essa lei é responsável por organizar a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas com Autismo. Para além dessa lei, temos a instituição de programas sociais. Desde 2012 com a lei 12.764, os autistas e a família passam a ter acesso à Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, que abarca uma série de programas que vão desde o diagnóstico até o acompanhamento posterior da criança, tanto na área da saúde quanto na educacional. Antes dessas leis, eram comuns as reclamações com relação aos planos de saúde que se recusavam a oferecer tratamento apropriado. Hoje em dia, a legislação proíbe os planos de saúde de limitarem o número de exames. Outra questão que também costumava ser um problema corriqueiro era a co- brança de taxas extras por parte de escolas da rede de ensino privada. Vale ressaltar que esses problemas ainda podem acontecer, mas a família tem o respaldo legal para reclamar seus direitos; porém o problema da desinformação ainda afeta muitas famílias, sendo que a presença de organizações ligadas à questão se faz muito importan- te na conquista de direitos e na divulgação das informações. Outra conquista importante por
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