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CAPÍTULO 2 Decisões Estratégicas de Financiamentos A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender como é formada a estrutura de capital da empresa. � Compreender como se identifica o risco do negócio e o impacto no risco financeiro da empresa. � Compreender as diversas teorias das estruturas de capital e de que forma corroboram com o mix de financiamentos a empresa. � Elaborar a estrutura de capital ideal para a empresa de acordo com o mix de financiamentos da empresa. 92 FONTES DE CAPITAL 93 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Contextualização Neste capítulo, vamos estudar a aplicação das origens dos recursos nas empresas e a forma de avaliar se os investimentos atendem às expectativas dos investidores. As origens dos recursos podem ser de capital de terceiros e de capital próprio. O impacto entre o capital de terceiros e o próprio pode ser medido pela proporcionalidade da taxa de pagamento por juros de capital de terceiros e dividendos para o capital próprio. Pouco adianta despender recursos da empresa para pagar 14% de juros de capital de terceiros e 15% de dividendos aos investidores ao ano, se a empresa buscar R$ 100.000,00 de capital de terceiros e R$ 10.000,00 de capital próprio. O impacto financeiro na hipótese de 14% de capital de terceiros será muito maior. Tal impacto deve ser medido pelo grau de alavancagem. Qualquer investimento a ser realizado deverá obrigatoriamente gerar um resultado que possa absorver os gastos fixos da empresa de forma eficaz. Para isso, os indicadores de Hamada, Trade-Off, Modigliani e Miller podem auxiliar os gestores na avaliação das decisões a serem tomadas. Estrutura de Capital A estrutura de capital das empresas é formada por capital próprio (Ke), ou recursos dos sócios, e capital de terceiros (Ki), ou empréstimos e financiamentos de instituições financeiras. Esses recursos são totalmente necessários para que a empresa possa operar e permanecer atuante no mercado, independentemente da sua área de atuação, com finalidades lucrativas ou não. Segundo Groppelli e Nikbakht (2005, p. 189): A estrutura de capital é a composição do financiamento de uma empresa. Relacionada do lado direito do balanço patrimonial, ela indica as principais fontes de fundos externos obtidos por meio de financiamento. A estrutura de capital da empresa consiste em dívidas de longo prazo, em ações preferenciais e ordinárias. Groppelli e Nikbakht (2005) se referem ao capital próprio e ao capital de terceiros como necessidade da obtenção de recursos financeiros para investimentos. Para melhor compreender como se procedem as origens dos recursos e as aplicações dos recursos da empresa, veja a seguinte figura: A estrutura de capital das empresas é formada por capital próprio (Ke), ou recursos dos sócios, e capital de terceiros (Ki), ou empréstimos e financiamentos de instituições financeiras. 94 FONTES DE CAPITAL Figura 1 – Origens e aplicações de recursos Fonte: Adaptado de Marion (2010). Na perspectiva de Marion (2010), os recursos do capital de terceiros e os recursos de capital próprio são aplicados em ativos operacionais, que são transformados em riqueza para a empresa, riqueza esta gerada com a otimização do fluxo de caixa. Ross et al. (2002) descrevem que a estrutura de financiamento da empresa é que determina como será dividido o valor da empresa entre cada um desses “financiadores”. As pessoas físicas ou instituições que adquirem os títulos de dívida da empresa (títulos representados por emissão de debêntures) são chamadas de credores. Os titulares de direitos de propriedade são chamados de acionistas da empresa. Vamos imaginar a empresa como uma pizza. Primeiramente, o tamanho desta pizza dependerá da qualidade das decisões dos gestores nos investimentos que serão realizados na empresa. Por sua vez, as decisões dos investimentos a serem realizados determinarão o valor dos seus ativos (exemplos: prédios, terrenos e estoques). Em seguida, os gestores da empresa poderão determinar sua estrutura de capital necessária. Inicialmente, poderiam ter obtido recursos para investir em ativos, recorrendo mais a capital de terceiros (Ki) do que a capital próprio (Ke). Agora, os gestores poderiam considerar a modificação dessa estrutura emitindo mais ações, usando o dinheiro obtido para quitar parte das suas dívidas. Decisões de financiamento como estas podem ser tomadas independentemente das decisões originais de investimento. As decisões do volume de capital de terceiros e do volume de capital próprio é que determinam de que forma esta pizza deverá ser repartida. A estrutura de financiamento da empresa é que determina como será dividido o valor da empresa entre cada um desses “financiadores”. 95 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Ross et al. (2002) são bem específicos ao afirmar que a estrutura de capital poderá variar sempre, a todo instante, de acordo com as necessidades da empresa. E, conforme Brigham e Ehrhardt (2010, p. 616-617, grifos dos autores): São cinco os principais fatores que influenciam as decisões de estrutura de capital. 1. Risco do negócio, ou o risco inerente às operações da empresa caso ela não use dívida. Quanto maior o risco do negócio, menor o índice de endividamento ótimo. 2. A posição tributária da empresa. A principal razão para usar dívida é que os juros são dedutíveis da base tributável, reduzindo, assim, o custo efetivo da dívida. Entretanto, se a maior parte dos lucros da empresa se beneficia do mecanismo de economia fiscal por meio de proteção tributária por depreciação, de juros sobre a dívida atual em circulação ou por compensação de prejuízos fiscais, com períodos subsequentes, a alíquota de imposto será menor e, então, a dívida adicional não será tão vantajosa quanto seria para uma empresa com alíquota de imposto efetiva mais elevada. 3. Flexibilidade financeira, ou a capacidade de aumentar o capital em termos razoáveis sob condições adversas. Os tesoureiros das empresas sabem que o fornecimento regular de capital é necessário para que as operações sejam estáveis, o que é fundamental para o êxito prolongado. Eles também sabem que quando há escassez de dinheiro na economia, ou quando uma empresa passa por dificuldades operacionais, os fornecedores de capital preferem oferecer fundos às empresas com balanço patrimonial mais sólido. 4. Agressividade ou conservadorismo administrativo: Alguns administradores financeiros são mais agressivos que outros, assim, algumas empresas tendem a usar dívida em um esforço para aumentar os lucros. Esse fator não afeta a verdadeira estrutura de capital ótima ou de maximização de valor, mas influencia a estrutura de capital-alvo determinada pelo administrador. 5. Oportunidade de crescimento. [...] o valor operacional de uma empresa é igual ao valor dos ativos produtivos somado às opções de crescimento, e esse composto varia consideravelmente de empresa para empresa. Em certos momentos, há maior necessidade de capital de terceiros, e em outros momentos há maior necessidade de capital próprio. E isso irá permear o custo da manutenção da estrutura de capital quanto ao risco inerente ao mercado e à necessidade de geração de resultados para manutenção de custo de captação de capital. Veja a seguir o modelo de balanço patrimonial. 96 FONTES DE CAPITAL Figura 2 – Modelo de balanço patrimonial Ativos circulantes Capital de giro líquido Passivos circulantes Dividas de longo prazo Patrimônio dos acionistas Ativos Permanentes – tangíveis – intangíveis Valor total dos ativos Valor total da empresa para os investidoresFonte: Ross et al. (2002). a) Custo de capital É determinado como custo de capital a exigência mínima que os acionistas esperam como remuneração do seu capital investido na empresa (capital próprio), acrescentada à exigência da remuneração dos donos do capital alheio, ou de terceiros, que são os agentes financeiros. Na prática, os recursos financeiros são alocados no ativo, do qual vai se exigir uma taxa mínima de atratividade, que seria o ponto de equilíbrio econômico, ou seja, o mínimo de retorno necessário que a empresa deverá atingir para remunerar os credores e acionistas. O gestor financeiro deverá decidir quais e quantos são os recursos financeiros necessários a serem captados e quais os destinos desses recursos financeiros. Veja a seguinte figura como forma de ilustração: É determinado como custo de capital a exigência mínima que os acionistas esperam como remuneração do seu capital investido na empresa (capital próprio), acrescentada à exigência da remuneração dos donos do capital alheio, ou de terceiros, que são os agentes financeiros. Figura 3 – Atividade-chave do gestor financeiro Fonte: Ridolfo Neto (2018, p. 10). 97 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 É nessa incógnita de “quanto e onde buscar os recursos” que o gestor financeiro, no papel de empreendedor, precisa ter fundamental cuidado no momento da formação da estrutura de capital da empresa, em mensurar o custo do capital próprio conjuntamente ao capital de terceiros, para conhecer qual é o retorno mínimo necessário do investimento. Assaf Neto (2005, p. 361) evidencia que: O custo de capital de uma empresa reflete, em essência, a remuneração mínima exigida pelos proprietários de suas fontes de recursos (credores e acionistas). É utilizado como taxa mínima de atratividade das decisões de investimentos, indicando criação de riqueza econômica quando o retorno operacional auferido superar a taxa requerida de retorno determinada pela alocação de capital. Esse é o critério básico de aceitação de uma proposta de investimento, conforme discutido em capítulos anteriores, o qual leva ao incremento do valor de mercado da empresa e, em consequência, da riqueza de seus acionistas. Então, temos na empresa o custo de capital próprio, que é a expectativa de retorno por parte do acionista por ocasião do capital social investido na empresa. Conforme Assaf Neto (2005, p. 364), “[...] é o retorno desejado pelos acionistas de uma empresa em suas decisões de aplicação de capital próprio”. Outro fator que deve ser considerado na avaliação da estrutura de capital da empresa é o custo do capital de terceiros, o qual consiste em ser a remuneração exigida pelos fornecedores de empréstimos e financiamentos. Esses recursos são, conjuntamente ao capital próprio, alocados no ativo da empresa. A remuneração do capital de terceiros é 100% contratual, ou seja, é exigido um contrato prévio com a estipulação de uma taxa de juros, e se a empresa atingir uma rentabilidade acima das expectativas, o agente financeiro ficará satisfeito com o que foi previamente contratado, assim como se sentirá seguro em perceber que a empresa poderá manter a continuidade dos seus negócios e no futuro captar mais recursos financeiros. O excedente desse resultado almejado poderá ser reinvestido na empresa. Assaf Neto (2005, p. 362) prossegue: “o custo do capital de terceiros é definido de acordo com os passivos onerosos identificados nos empréstimos e financiamentos mantidos pela empresa”. Em finanças, a bibliografia é vasta e é possível encontrar outras nomenclaturas, como exemplo, a taxa mínima de atratividade (TMA), que é referência ao custo de oportunidade. O custo de oportunidade é quando um A remuneração do capital de terceiros é 100% contratual, ou seja, é exigido um contrato prévio com a estipulação de uma taxa de juros, e se a empresa atingir uma rentabilidade acima das expectativas, o agente financeiro ficará satisfeito com o que foi previamente contratado 98 FONTES DE CAPITAL investidor está analisando a viabilidade de investimento em mais de um projeto e, nesse rol de investimentos, terá de escolher um. Quando o investidor abandona uma oportunidade e investe em outra, este abandono de rentabilidade será a sua TMA. Segundo Lapponi (1996, p. 15): O investidor tem mais de uma alternativa ou oportunidade de investir seu capital. Toda vez que ele decide por uma alternativa de investimento, deixa de lado outras alternativas, renunciando, portanto, ao lucro que teria recebido com uma dessas alternativas. Esse é o custo de oportunidade, cujo valor é definido pelo custo da melhor alternativa rejeitada, mantendo o mesmo nível de risco do investimento. Para Assaf Neto (2005, p. 171): Um custo de oportunidade retrata quanto uma pessoa (empresa) sacrificou de remuneração por ter tomado a decisão de aplicar seus recursos em determinado investimento alternativo, de risco semelhante. Por exemplo, uma empresa, ao avaliar um projeto de investimento, deve considerar como custo de oportunidade a taxa de retorno que deixa de receber por não ter aplicado os recursos em outra alternativa possível de investimento. O custo de oportunidade não é um conceito de valor absoluto, mas apurado mediante a comparação do retorno esperado de uma decisão com o que seria obtido de uma melhor proposta de investimento, alternativa rejeitada. Observa-se que os dois autores, Lapponi (1996) e Assaf Neto (2005), descrevem similarmente o conceito de custo de oportunidade. Em custo oportunidade, o investidor tem mais de uma alternativa ou oportunidade de investir seu capital. Toda vez que ele decide por uma alternativa de investimento deixa de lado outras de riscos semelhantes, renunciando, portanto, ao lucro que teria recebido com uma dessas alternativas de risco semelhante. Corroboram com esse raciocínio Ross, Westerfield e Jordan (2010, p. 340): Como uma empresa deveria proceder para escolher seu quociente entre dívida e capital próprio? Como sempre, supomos que a regra é escolher a alternativa que maximiza o valor da ação. No entanto, no caso da decisão de estrutura de capital, isso essencialmente equivale maximizar o valor de toda a empresa, e por conveniência, tenderemos a concentrar nossa discussão no valor da empresa. Um quesito fundamental na definição do custo de oportunidade é a comparação de investimentos de riscos semelhantes. Não faz sentido comparar a taxa de retorno de uma decisão com risco a ganhos oferecidos por uma alternativa Em custo oportunidade, o investidor tem mais de uma alternativa ou oportunidade de investir seu capital. 99 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 sem risco (títulos públicos, por exemplo). A diferença entre essas taxas é mais bem entendida como um prêmio pelo risco incorrido. Isso nos remete ao cálculo do quociente do custo médio ponderado de capital como forma para identificar a alternativa para melhor captação de recursos e otimizar o resultado operacional da empresa. Conforme Ross, Westerfield e Jordan (2010, p. 340), “[...] o WACC nos diz que o custo de capital da empresa inteira é igual à média ponderada dos custos dos diversos componentes de sua estrutura de capital”. O estudo do WACC, do inglês Weighted Average Capital Cost, que significa Custo Médio Ponderado do Capital, nos remete à apuração do EVA – Economic Value Added. Primeiramente, iremos apurar o custo total do capital empregado, sendo que o custo do capital de terceiros aparece nas demonstrações de resultado como despesas financeiras e o custo do capital próprio são os dividendos remuneratórios dos investimentos realizados pelos sócios. O valor do EVA pode ser apurado com a finalidadede projetar o resultado operacional da empresa, e, para isso, devemos: • proceder ao ajuste da estrutura patrimonial pelos ativos não operacionais; • apurar o lucro operacional; • apurar o CMPC (Custo Médio Ponderado do Capital); • determinar o EVA (lucro operacional – custo de capital de terceiros – custo do capital próprio). Agora vamos identificar os ativos não operacionais, a partir de um balanço patrimonial, e faremos a projeção do resultado operacional e do EVA da empresa, de acordo com a “estrutura desejada de capital” dos investidores. Conforme Ross, Westerfield e Jordan (2010, p. 340): [...] uma estrutura de capital é melhor do que outra se o resultado for diminuir o custo médio ponderado de capital. Além disso, dizermos que um quociente específico entre dívidas e capital próprio será a estrutura ótima de capital se resultar no menor WACC possível. Essa estrutura ótima de capital algumas vezes também é denominada estrutura “desejada” de capital. 100 FONTES DE CAPITAL Quadro 1 – Balanço patrimonial BALANÇO PATRIMONIAL EMPRESA A ATIVO Ativo Operacional R$1.000.000,00 PASSIVO Passivo Operacional Empréstimos e Financiamentos PATRIMÔNIO LÍQUIDO Capital Social R$ 200.000,00 R$ 600.000,00 R$ 200.000,00 TOTAL R$ 100.000,00 TOTAL R$1.000.000,00 Fonte: O autor. Identificamos neste balanço patrimonial os seguintes dados: - Capital de terceiros = R$ 600.000,00 - Capital próprio = R$ 200.000,00 Suponhamos que o custo do capital de terceiros está em 22% ao ano, o custo do capital próprio, em 15% ao ano, e a alíquota do IRPJ/CLSS está em 34%. Com estes dados podemos apurar o Custo Médio Ponderado de Capital – CMPC para, em seguida, apurar a proporcionalidade do IRPJ/CSLL sobre o montante da captação de recursos e, com isso, planejar o/a: − Resultado operacional. − Planejamento da apuração do IRPJ/CSLL − Capacidade para gerar resultados para quitar os juros sobre capital de terceiros, o valor do IRPJ/CSLL e os dividendos dos investidores. − Economia do IRPJ/CSLL gerada pela captação dos recursos. É necessário tomar determinados cuidados com o nível de endividamentos da empresa, pois, segundo Ross, Westerfield e Jordan (2010, p. 352): Num nível de endividamento relativamente baixo, a probabilidade de falência e de dificuldades financeiras é pequena, e o benefício da dívida supera os custos. Em níveis de endividamento muito elevados, a possibilidade de dificuldades financeiras é crônica, trazendo problemas para a empresa, de maneira que o benefício fiscal da dívida será mais do que anulado pelos custos de dificuldades financeiras. Devemos apurar a taxa do CMPC – Custo Médio Ponderado de Capital Bruto e Líquido da empresa. Nesta etapa, iremos apurar o CMPC Bruto. De endividamento relativamente baixo, a probabilidade de falência e de dificuldades financeiras é pequena, e o benefício da dívida supera os custos. 101 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Quadro 2 – Taxa do CMPC – custo médio ponderado de capital bruto C.M.P.C. Bruto CAPITAL DE TERCEIROS R$ 600.000,00 x 0,2200 = 0,1650 R$ 800.000,00 CAPITAL PRÓPRIO R$ 200.000,00 x 0,1500 = 0,0375 R$ 800.000,00 TOTAL = 0,20250 Fonte: O autor. Neste caso, a taxa do CMPC Bruto está na ordem de 20,25% como custo de capital para manter os investimentos na empresa ABC. Isso é perigoso para a geração de resultados da empresa, você pode perceber que na média ponderada o custo de captação de recursos financeiros da empresa em capital próprio é de 3,75%, pois os 15% remunerados ao acionista são baseados na captação de R$ 200.000,00, e o custo de captação de capital próprio é de 16,50% na média ponderada, que é exageradamente maior, praticamente o triplo dos recursos captados dos sócios. Isso corrobora com Brigham e Ehrhardt (2010, p. 616), que abordam que: A política da estrutura de capital envolve um trade-off (compensação) entre o risco e o retorno: • O uso de mais dívida aumenta o risco do acionista. • No entanto, o uso de mais dívida geralmente conduz a uma taxa de retorno esperada mais alta sobre o capital patrimonial. ROE. O CMPC Líquido do IRPJ/CSLL comportou-se da seguinte forma: 102 FONTES DE CAPITAL Quadro 3 – Taxa do CMPC – custo médio ponderado de capital líquido C.M.P.C. Líquido Líquido IR Capital Terceiros = 0,1452 Fórmula = ( Taxa CT x (1 - Alíquota IRPJ/CSLL )) Fórmula = ( 0,22 x ( 1 - 0,34 )) Fórmula = ( 0,22 x 0,66 )) Líquido IR Capital Próprio = 0,0990 Fórmula = ( Taxa CP x (1 - Alíquota IRPJ/CSLL )) Fórmula = ( 0,15 x ( 1 - 0,34 )) Fórmula = ( 0,15 x 0,66 )) CAPITAL DE TERCEIROS R$ 600.000,00 x 0,1452 = 0,10890 R$ 800.000,00 CAPITAL PRÓPRIO R$ 200.000,00 x 0,0990 = 0,02475 R$ 800.000,00 TOTAL = 0,13365 Fonte: O autor. A taxa do CMPC Líquido está na ordem de 13,365% como custo de capital para manter os investimentos na empresa ABC. Com esses resultados podemos apurar a proporcionalidade do IRPJ/CSLL em relação ao total dos investimentos realizados, e com essa informação faremos a apuração do valor do IRPJ/CSLL máximo que a empresa poderá apurar para fins de planejamento tributário e, inclusive, planejamento do fluxo de caixa. IRPJ/CSLL Proporcional = CPMC Bruto (-) CMPC Líquido. IRPJ/CSLL Proporcional = 20,25% (-) 13,365% IRPJ/CSLL Proporcional = 6,885% O valor do IRPJ/CSLL máximo que a empresa deverá pagar, sem o benefício da dedutibilidade dos juros do capital de terceiros, é o seguinte: ð VALOR MÁXIMO IRPJ/CSLL = TOTAL DE CAPTAÇÃO x IRPJ/CSLL Proporcional ð VALOR MÁXIMO IRPJ/CSLL = R$ 800.000,00 x 6,885% ð VALOR MÁXIMO IRPJ/CSLL = R$ 55.080,00. 103 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Agora, faremos o planejamento do RESULTADO OPERACIONAL da empresa ABC. ð RESULTADO OPERACIONAL = Total Captação x CMPC Bruto ð RESULTADO OPERACIONAL = R$ 800.000,00 x 20,25% ð RESULTADO OPERACIONAL = R$ 162.000,00 Com o resultado operacional previsto em R$ 162.000,00 faremos o cálculo da prova real dessas informações para verificar a veracidade dos dados apurados. Suponhamos a seguinte Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) da empresa ABC. Quadro 4 – Demonstração do resultado do exercício com EVA zero DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO - E.V.A. ZERO Vendas Brutas R$ 4.000.000,00 ( - ) Impostos -R$ 1.080.000,00 = Vendas Líquidas R$ 2.920.000,00 ( - ) Custos -R$ 1.956.400,00 = Lucro Bruto R$ 963.600,00 ( - ) Despesas Operacionais -R$ 801.600,00 = Lucro Operacional R$ 162.000,00 ( - ) Imposto de Renda -R$ 55.080,00 -R$ 10.200,00 = L.O. após I.R. e antes de Juros de C.T. R$ 106.920,00 ( - ) Juros/CCT antes do I.R. R$ 132.000,00 Economia I.R. -R$ 44.880,00 R$ 87.120,00 CUSTO FINANCEIRO LÍQUIDO = L.L. após I.R. R$ 19.800,00 ( - ) Custo do Capital Próprio -R$ 19.800,00 = E.V.A. R$ 0,00 Fonte: O autor. Podemos observar com essa Demonstração do Resultado do Exercício – DRE que, se a empresa atingir o resultado operacional de R$ 162.000,00, terá um efeito tributário de R$ 55.080,00 (R$ 162.000,00 x 34% = R$ 55.080,00) de IRPJ/CSLL. Porém, com o benefício tributário de 34% IRPJ/CSLL sobre o valor dos juros de capital de terceiros de R$ 132.000,00 x 34% IRPJ/CSLL = R$ 44.880,00 de economia de IRPJ/CSLL, a empresa pagará de IRPJ/CSLL o valor líquido de R$ 10.200,00 (R$ 55.080,00 – R$ 44.880,00 = R$ 10.200,00). O valor dos juros pagos ao capital de terceiros é apurado de acordo com a captação de R$ 600.000,00 x 22% da taxa de juros, o que representa o valor final de R$ 132.000,00 de juros pagos. 104 FONTES DE CAPITAL Este modelo de Demonstração do Resultado do Exercício – DRE é gerencial, para que o gestor financeiropossa identificar com facilidade e clareza o efeito da economia do IRPJ/CSLL sobre o custo financeiro dos juros de capital de terceiros. Para efeitos legais em atendimento das premissas contábeis e fiscais, a DRE segue o seguinte modelo: Quadro 5 – Apuração do lucro operacional DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO Lucro Operacional R$ 162.000,00 ( - ) Juros sobre C.C.T ############ = Lucro Antes do I.R. R$ 30.000,00 15,00% ( - ) Imposto de Renda e Contribuição Social s/ Lucro Líq. 34,00% -R$ 10.200,00 = L.L. após I.R. (Dividendos). R$ 19.800,00 9,90% Fonte: O autor. E como a empresa poderia gerar EVA positivo? Uma das formas que iremos propor aqui é a redução em 8% das despesas operacionais. Com essa redução, a Demonstração do Resultado do Exercício – DRE se apresenta da seguinte forma: 105 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Quadro 6 – Demonstração do resultado do exercício com redução nas despesas operacionais DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO - REDUÇÃO EM 8% DESPESAS OPERACIONAIS Receita de Vendas Bruta R$ 4.000.000,00 ( - ) Impostos ############# = Vendas Líquidas R$ 2.920.000,00 ( - ) Custos ############# = Lucro Bruto R$ 963.600,00 ( - ) Despesas Operacionais -R$ 737.472,00 = Lucro Operacional R$ 226.128,00 ( - ) Imposto de Renda -R$ 76.883,52 = L.O. após I.R. e antes de Juros de C.T. R$ 149.244,48 ( - ) Juros/CCT antes do I.R. R$ 132.000,00 Economia I.R. -R$ 44.880,00 R$ 87.120,00 PERDA DE JUROS = L.L. após I.R. R$ 62.124,48 ( - ) Custo do Capital Próprio -R$ 19.800,00 = E.V.A. R$ 42.324,48 Fonte: O autor. Observa-se que com a redução das despesas operacionais de R$ 801.600,00 para R$ 737.472,00, uma redução no valor de R$ 64.128,00 gerou um lucro líquido após IRPJ/CSLL. Desta forma, a empresa gerou um valor de EVA de R$ 42.324,48, o que representa 1,4495% das vendas líquidas da empresa ABC. Então, os investimentos necessários na empresa deverão otimizar os resultados de forma a maximizar o retorno aos acionistas, honrar os compromissos com a captação de recursos de terceiros e promover novos investimentos na empresa. Na figura a seguir, note que há um ciclo que deve ser adotado na empresa em que os investimentos devem gerar recursos (custos de produção), os quais serão transformados em caixa conforme as vendas dos produtos e serviços da empresa. 106 FONTES DE CAPITAL Figura 4 – Investimentos e gastos incrementais Balanço Patrimonial Produtos ou serviços elaborados Consumo associado à elaboração do produto ou serviço Consumo associado ao período Investimentos Demonstração do Resultado do Exercício Despesas Custos Gastos { { Fonte: O autor. O termo gastos incrementais significa que a empresa se obriga a ter determinados gastos para que se promovam todos os investimentos necessários. Conforme Ross, Westerfield e Jordan (2010, p. 340): A principal razão para estudar o WACC é que o valor da empresa será maximizado quando o WACC for minimizado. Para enxergar isso, lembre-se de que o WACC é a taxa de desconto apropriada para os fluxos de caixa gerais da empresa. Como os valores e as taxas de desconto se movem em direções opostas, minimizar o WACC maximizará o valor dos fluxos de caixa da empresa. Vamos analisar como se comportaria o resultado da empresa utilizando o mesmo exemplo de cálculo anterior, mas alternando as taxas de captação. Vamos supor que a taxa de captação de recursos de terceiros será menor que a taxa de captação de recursos e capital próprio. O termo gastos incrementais significa que a empresa se obriga a ter determinados gastos para que se promovam todos os investimentos necessários. Quadro 7 – Taxa atualizada do CMPC C.M.P.C. Bruto CAPITAL DE TERCEIROS R$ 200.000,00x 0,2200 = 0,0550 R$ 800.000,00 CAPITAL PRÓPRIO R$ 600.000,00x 0,1500 = 0,1125 R$ 800.000,00 TOTAL = 0,16750 Fonte: O autor. 107 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Observe que o Custo Médio Ponderado de Capital é de 16,75%, menor que os 20,25% apurados anteriormente. Assim, a empresa poderá gerar valor adicionado (EVA) na ordem de 3,50%, o que representa o ganho gerado em valor de R$ 28.000,00 sem o efeito do Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido. Quadro 8 – Demonstração do resultado do exercício com EVA positivo DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO - E.V.A. POSITIVO Vendas Brutas R$ 4.000.000,00 ( - ) Impostos -R$ 1.080.000,00 = Vendas Líquidas R$ 2.920.000,00 ( - ) Custos -R$ 1.956.400,00 = Lucro Bruto R$ 963.600,00 ( - ) Despesas -R$ 801.600,00 = Lucro Operacional R$ 162.000,00 ( - ) Imposto de Renda -R$ 55.080,00 -R$ 40.120,00 = L.O. após I.R. e antes de Juros de C.T.. R$ 106.920,00 ( - ) Juros/CCT antes do I.R. R$ 44.000,00 Economia I.R. - R$ 14.960,00 R$ 29.040,00 CUSTO FINANCEIRO LÍQUIDO = L.L. após I.R. R$ 77.880,00 ( - ) Custo do Capital Próprio -R$ 59.400,00 = E.V.A. R$ 18.480,00 Fonte: O autor. Se excluirmos o efeito dos 34% do Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido, o valor final será de R$ 18.480,00; onde R$ 28.000,00 x 0,66 = R$ 18.480,00. O coeficiente 0,66 é resultante de 1,00 (-) 0,34 do Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido. Segundo Brigham e Ehrhardt (2010, p. 616): O risco mais alto tende a abaixar o preço de uma ação. Mas um ROE esperado mais alto tende a aumentá-lo. Portanto, a estrutura de capital ótima deve atingir um equilíbrio entre o risco e o retorno, de modo a maximizar o preço da ação da empresa. Desta forma, a empresa terá menor risco para honrar seus compromissos de captação de recursos financeiros. Segundo Groppelli e Nikbakht (2010, p. 160), “a empresa deve ganhar uma taxa mínima de retorno para cobrir o custo de geração de fundos para financiar os investimentos, de outra forma, ninguém se interessaria em comprar seus títulos, ações preferenciais e ações ordinárias”. “a empresa deve ganhar uma taxa mínima de retorno para cobrir o custo de geração de fundos para financiar os investimentos, de outra forma, ninguém se interessaria em comprar seus títulos, ações preferenciais e ações ordinárias”. 108 FONTES DE CAPITAL Isso significa que esse custo de capital é o mínimo que a empresa deve atingir para pagar seus investidores e induzi-los a arriscar seus fundos. Então, de acordo com o resultado do EVA no valor de R$ 18.480,00, apurado na Tabela 9, o montante negociado em cada tipo de captação permitiu a riqueza gerada, e isso induz o investidor a prosseguir com os investimentos no empreendimento. Leia o artigo referente ao CMPC (Custo Médio Ponderado de Capital), disponível em: <http://www.cavalcanteassociados.com.br/ utd/UpToDate164.pdf>. Risco do Negócio e Risco Financeiro O risco de qualquer ativo é composto por uma parte sistemática (não diversificável) e outra parte não sistemática (diversificável). O risco sistemático é determinado pela conjuntura (por exemplo, oscilações na economia), por isso ele não é diversificável, seu grau independe das decisões da empresa, pois é inerente a todas as empresas e ativos do mercado. Já o risco não sistemático está diretamente relacionado às decisões da própria empresa. Portanto: Risco Total = Risco Sistemático + Risco Não Sistemático O risco de uma empresa é segmentado em duas grandes partes, risco operacional ou econômico e risco financeiro. Segundo Assaf Neto (1998), o que determina o risco financeiro é o endividamento da empresa, enquanto o risco operacional é decorrente do ativo da empresa, da natureza de sua atividade. Reflete a estabilidade dos negócios da empresa diante do comportamento da conjuntura econômica. Para Brigham, Gapenski e Ehrhardt(2001, p. 870), existem algumas razões para administrar o risco e descrevem: Sabemos que os investidores não gostam do risco. Também sabemos que a maioria dos investidores mantêm carteiras de investimento bem diversificadas, de forma que ao menos em teoria o único “risco relevante” é o risco sistemático. Portanto, se você perguntasse a executivos de empresas com qual tipo de risco eles estavam preocupados, poderia esperar que a resposta fosse o “beta”. O risco financeiro é o endividamento da empresa, enquanto o risco operacional é decorrente do ativo da empresa, da natureza de sua atividade. 109 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 No sentido mais básico, risco é a probabilidade de o retorno ser diferente do esperado. Nesse sentido, “risco é usado no lugar de incerteza como referência à variabilidade de retornos”. (GITMAN, 2003, p. 74). O risco é fato presente nas operações financeiras de todas as empresas e apresenta-se das mais variadas formas, porém existem algumas maneiras de minimizá-lo, se bem administrado. Para tanto, sabe-se que os gestores precisam entender muito bem de seu negócio e, principalmente, acompanhar as mudanças econômicas, tanto mundiais como de seu país e região, e estar atentos aos seus investimentos, de maneira que não se deparem com situações que possam pôr em risco a companhia. [...] as maiores empresas designaram “administradores de risco”, que se reportaram ao Diretor Financeiro, enquanto os CFOs das empresas menores assumem, pessoalmente as responsabilidades da administração de risco. Em qualquer caso, a administração de risco está se tornando cada vez mais importante e é algo que os estudantes de finanças devem entender (BRIGHAM; GAPENSKI; EHRHARDT, 2001, p. 889). O risco é a variação ou instabilidade na rentabilidade esperada ou a possibilidade de que o emissor descumpra com o pactuado, isto é, o pagamento do principal e dos juros. Em outras palavras, o risco depende de um conjunto de variáveis relacionadas com o emissor, o mercado e outros fatores diversos. Os principais riscos relacionados às aplicações financeiras apresentam-se em cinco classificações: Quadro 9 – Riscos relacionados às aplicações financeiras Risco de mercado 1) Possibilidade de perdas, decorrentes da flutuação adversa do valor de ajuste diário de mercado de portfólio financeiro durante o período necessário para liquidação. 2) Possibilidade de perdas, em função de flutuação desfavorável do valor de ativos, valores mobiliários ou qualquer outro instrumento utilizado pelo mer- cado financeiro. 3) Possibilidade de perdas decorrentes da má utilização de instrumentos fi- nanceiros, como hedge e swap, diversificação excessiva ou insuficiente etc. Risco de crédito Possibilidade de não-pagamento por parte: a) Do tomador de recursos, ou b) Do emitente de um título de crédito. c) Do comprador a prazo. Risco legal Possibilidade de perda em caso de situações envolvendo modificações na leg- islação ou no regime tributário a que se submetem as aplicações financeiras. São ainda riscos legais julgamentos desfavoráveis em situações contratuais, compromissos em contratos omissos, mal redigidos ou sem amparo legal. Assinaturas em contratos por pessoa que não representa a instituição, não execução de garantias, informalidade na execução de ordens de compra e venda de investimentos estão entre as principais situações de risco legal. 110 FONTES DE CAPITAL Risco individual Risco aceito por um investidor, depois de avaliar as condições de liquidez, rentabilidade e segurança do investimento que realizou. Risco soberano Risco legal, ou político, de liquidação e de outros riscos relacionados com transações com títulos públicos de um país. Quando relacionado a transações internacionais, denomina-se risco de país, ou risco geográfico. Fonte: Cavalcante, Misumi e Rudge (2009, p. 197). Assim, Brigham, Gapenski e Ehrhardt (2001, p. 893) descrevem que “[...] as decisões da administração de risco, como todas as decisões das empresas, deveriam estar baseadas em uma análise de custo/benefício para cada alternativa possível”. Finalizando, para Assaf Neto (2010, p. 122), “desde que o risco não possa ser eliminado, é essencial que sejam adotadas medidas para minimizá-lo de maneira a permitir que a organização atinja, da melhor forma possível, seus objetivos estabelecidos”. Conforme Brigham e Ehrhardt (2010, p. 618): Agora, introduzimos duas novas dimensões de risco: (1) o risco do negócio, ou o risco das ações da empresa caso ela não use dívida, e (2) o risco financeiro, que é o risco adicional atribuído ao portador de ações ordinárias como resultado da decisão da empresa de utilizar dívida. Conforme Brigham e Ehrhardt (2010, p. 618): Conceitualmente, a empresa tem uma quantidade de risco inerente à suas operações: o chamado risco do negócio. Caso use dívida, então, na verdade, a empresa divide os seus investidores em dois grupos e concentra a maior parte do risco do negócio em uma classe de investidores - os detentores de ações ordinárias. No entanto, esses acionistas exigirão uma compensação por assumirem maior risco, e assim, requerem uma taxa de retorno mais alta. Ainda segundo Brigham e Ehrhardt (2010, p. 620, grifos dos autores), existem fatores que interferem no risco do negócio, sendo os principais: 1. Variabilidade da demanda. Quanto mais estável a demanda pelos produtos da empresa, mantendo-se constantes os demais fatores, menor o risco do negócio. 2. Variabilidade do preço de venda. As empresas cujos produtos são vendidos em mercados altamente voláteis estão sujeitas a maior risco do negócio que as empresas similares cujos preços de venda são mais estáveis. 3. Variabilidade do custo de entrada. Empresas cujos custos de entrada são altamente incertos estão expostas a alto grau de risco de negócio. As decisões da administração de risco, como todas as decisões das empresas, deveriam estar baseadas em uma análise de custo/benefício para cada alternativa possível. 111 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 4. Habilidade de ajuste nos preços das vendas em razão das mudanças nos custos dos insumos. Algumas empresas têm maior habilidade para elevar seus próprios preços de venda do que outras quando há um aumento nos custos dos insumos. Quanto maior a capacidade de reajuste no preço de venda para refletir as condições do custo, menor o risco do negócio. 5. Capacidade de desenvolvimento de novos produtos no tempo oportuno e com custo compensador. Empresas como as do setor de alta tecnologia, por exemplo, as indústrias farmacêuticas e de informática dependem de um fluxo contínuo de novos produtos. Quanto maior a velocidade com que o produto se torna obsoleto, maior o risco do negócio da empresa. 6. Exposição ao risco estrangeiro. As empresas que geram uma porcentagem elevada de sua receita no exterior estão sujeitas à redução dos lucros devido às flutuações da taxa de câmbio. Além disso, se a empresa opera em uma área com instabilidade política, também está exposta à riscos políticos. [...] 7. Extensão dos custos fixos: alavancagem operacional. Se uma grande porcentagem dos custos é fixa e, portanto, não diminui quando a demanda cai, então a empresa está sujeita a um grau relativamente alto de risco do negócio. Esse fator é denominado alavancagem operacional, [...]. Além dos riscos do negócio, existem os riscos financeiros que estão diretamente relacionados com a gestão do fluxo de caixa da empresa. O gestor financeiro da empresa deverá atentar para que as operações financeiras da empresa não venham a prejudicar o seu resultado final, pois qualquer decisão equivocada tomada pode, inclusive, inviabilizar o negócio como um todo. Sem geraralavancagem nos resultados, mesmo tomando recursos financeiros emprestados do mercado, as atividades podem ser comprometidas. Alguns dos motivos que levam a gerar riscos financeiros na empresa podem estar relacionados com administração financeira ineficaz, endividamento inadequado com volume de negócios da empresa, elevada exposição a variações de câmbio em função de enormes volumes de importação de matéria-prima ou maquinários para o imobilizado, taxas de juros negociadas fora dos padrões de mercado (muitas vezes, o desespero do gestor em obter dinheiro no mercado financeiro coopera para se contratar juros irreais ao mercado), investimentos em mercados com alto grau de incerteza (países com alto índice de risco político) e baixa qualidade das informações para a tomada de decisões. Brigham e Ehrhardt (2010, p. 624) corroboram dizendo que: O gestor financeiro da empresa deverá atentar para que as operações financeiras da empresa não venham a prejudicar o seu resultado final, pois qualquer decisão equivocada tomada pode, inclusive, inviabilizar o negócio como um todo. 112 FONTES DE CAPITAL O risco financeiro consiste no risco adicional arcado pelos acionistas ordinários como resultado da decisão de financiar uma dívida. Conceitualmente, os acionistas enfrentam certo risco inerente às operações da empresa – ou seja, ao risco do negócio, definido como a incerteza inerente às projeções do lucro operacional futuro. Se a empresa usa dívida (alavancagem financeira), concentra o risco do negócio sobre os acionistas ordinários. A própria política adotada pela empresa, relacionada à estrutura de capital, pode envolver fatores de risco e retorno. Isso é fato, quanto maior for a utilização de capitais de terceiros, pressionados muitas vezes pela oferta de juros mais baratos, mais elevado se torna o fator de riscos de ganhos da empresa, pois dívidas assumidas são dívidas que precisam ser pagas, e a empresa precisa gerar caixa suficiente para honrar esses compromissos. Assim, o risco do prazo pela não liquidação das dívidas assumidas, segundo Groppelli e Nikbakht (2010, p. 77), significam que “[...] quanto maior o tempo em que os fundos permanecem aplicados, maior é o risco envolvido”. O simples endividamento pode gerar insegurança de recebimento para os acionistas, isso porque os juros das dívidas de capital de terceiros reduzem os lucros da empresa, o que pode criar uma fonte de incerteza em relação ao pagamento dos dividendos ao final do exercício social. O alto índice de endividamento pode levar a uma taxa de retorno desejada mais elevada, isso significa que se o investidor colocar seu dinheiro em empresas que atuam em mercado de riscos elevados, com certeza buscará o retorno do investimento (recuperar o dinheiro aplicado) de forma mais rápida. Conforme Brigham e Ehrhardt (2010, p. 624): Para exemplificar a concentração de risco do negócio. Ampliaremos o exemplo da Strasburg Electronics. Até a presente data, a empresa jamais usou dívida, mas o tesoureiro agora está considerando uma possível mudança na estrutura de capital. As mudanças no uso da dívida provocarão alterações no lucro por ação (LPA), bem como no risco – ambos, por sua vez, afetarão o preço da ação. Isso pode ser perigoso para a empresa, pois se o investidor tirar o mais rápido possível o dinheiro investido, pouco sobrará para reinvestir na própria empresa e, quem sabe, reduzir o risco financeiro ao longo do tempo. E isso pode reduzir o preço das ações para as empresas de capital aberto em decorrência dessa incerteza gerada. 113 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Teorias da Estrutura de Capital No mundo corporativo, muitos avanços surgiram a partir da Revolução Industrial e novas técnicas de produção foram introduzidas com o objetivo de alavancar a produção em larga escala para atender à demanda reprimida de consumidores daquela época. Com novas tecnologias na produção, consequentemente, foram sendo aprimorados os controles de custos e os controles financeiros nas empresas. Grandes grupos econômicos surgiram ao longo de décadas, os quais investiram em outras empresas com o intuito de diversificar os seus ativos e gerar maior riqueza. Estudos e pesquisas foram sendo realizados também na ótica de Teorias da Estrutura de Capital, e algumas dessas teorias iremos estudar nessa seção. a) Estrutura Modigliani-Miller Na década de 1950 do século passado foi publicado um artigo intitulado The cost of capital, corporation finance and the theory of investment apresentado pelos pesquisadores Modigliani e Miller (1958). Esse trabalho de pesquisa se tornou um clássico na teoria das finanças. Os autores se basearam nos pressupostos da existência de mercado perfeito e sem nenhuma carga tributária sobre o lucro (IRPJ e CSLL) e afirmaram que a estrutura de capital adotada na empresa é totalmente irrelevante para se estabelecer o valor de mercado da empresa. Com o tempo, os mesmos pesquisadores mudaram sua opinião quando passaram a considerar os benefícios fiscais em função do endividamento para o cálculo do valor da empresa. Na opinião dos pesquisadores, o valor de mercado da empresa é definido como o valor atual líquido do fluxo de caixa, adicionado do valor atual líquido dos benefícios fiscais do endividamento. Nesse caso, de acordo com a fórmula elaborada pelos pesquisadores, TC é o imposto de renda corporativo (IRPJ + CSLL) e B é o valor da dívida assumida. Então, o valor da empresa poderia ser expresso na seguinte fórmula: VL = VU + TCB Onde: VL = Empresa Alavancada VU = Empresa Não Alavancada TCB = TC é imposto de renda corporativo (IRPJ + CSLL) e B é o valor da dívida assumida. Assim, o valor da empresa é maximizado com o uso de dívida. 114 FONTES DE CAPITAL Em 1977, Merton Miller publicou, no Journal of Finance, o clássico trabalho de pesquisa intitulado Debt and taxes, que complementaria a contribuição de Modigliani e Miller (1958) referente ao uso dos efeitos da tributação inerentes aos rendimentos dos investimentos da pessoa física. Merton Miller concluiu que nos casos em que ocorrer a tributação progressiva da pessoa física (TS), sempre que a sua alíquota do imposto de renda for igual ou superior à pessoa jurídica (TC), não irá gerar nenhum tipo de ganho ou perda pelo simples uso do capital de terceiros. Esta pesquisa demonstra que a ideia anterior sobre a irrelevância da estrutura de capital na determinação do valor da empresa era válida. A vantagem fiscal do endividamento irá ocorrer apenas quando a alíquota de imposto de renda da pessoa física for inferior à da pessoa jurídica. Com base no modelo de Modigliani e Miller (1958), considerando a tributação da pessoa física e da jurídica e que TB é a tributação dos ativos de renda fixa da empresa, Miller (1977) propõe que o valor de mercado da empresa seja calculado conforme a seguinte equação: Onde: VL = Empresa Alavancada VU = Empresa Não Alavancada TC = Imposto de renda corporativo (IRPJ + CSLL) B = Valor da dívida assumida. TS = Tributação da Pessoa Física TB = Tributação de ativos de renda fixa A estrutura de capital, segundo a teoria de Modigliani e Miller (1958), explica que, mesmo que o capital de terceiros seja teoricamente mais barato, por outro lado, ao ser incorporado ao financiamento da organização, existe uma contrapartida com o aumento da taxa de desconto do capital próprio frente ao maior risco da alavancagem financeira. Inicialmente, as proposições de Modigliani e Miller (1958) abordavam um mundo hipotético sem impostos, ignorando os efeitos de qualquer benefício fiscal determinado pelos encargos financeiros das dívidas. Nessa situação, os autores afirmavam que o valor de mercado de uma empresa independe de sua estruturade capital, ou seja, seu valor de mercado não varia em função de 115 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 sua política de financiamento. Os pesquisadores também afirmaram que duas empresas iguais em sua estrutura operacional possuem o mesmo valor de mercado, independentemente de sua estrutura de capital, ou seja, o valor de uma empresa alavancada deve ser o mesmo de uma não alavancada. Se as empresas alavancadas tivessem, por exemplo, preço mais alto de mercado, os investidores tomariam dinheiro emprestado como pessoa física para comprar ações de empresas não alavancadas. O valor da empresa aumenta sempre que a tributação dos juros da pessoa física for inferior ao efeito combinado da tributação na pessoa jurídica e do acionista na distribuição dos dividendos em função dos ganhos nos seus investimentos. Ainda com base em Modigliani e Miller (1958), está confirmado que os gestores das empresas não deveriam ter preocupação com relação ao tipo de financiamento dos investimentos da empresa (se for por capital próprio ou capital de terceiros), pois o valor da empresa não se alteraria com os tipos de escolhas feitas. Porém, se buscarmos os estudos do EVA – Economic Value Added, abordados neste capítulo, perceberemos que houve geração de valor agregado com diferentes captações de recursos. Os montantes que são diferentes exercem pesos relativos diferentes no Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC), ou conhecido também como WACC – Weighted Average Cost of Capital. Isso é fato, se buscarmos R$ 800.000,00 de capital de terceiros e R$ 200.000,00 de capital próprio à taxa de 15% ao ano de CT (capital de terceiros) e 22% ao ano de CP (capital próprio), teremos um CMPC – Custo Médio Ponderado de Capital no valor de R$ 18.480,00 com um percentual de 16,75%, conforme visto na Tabela 9 – Demonstração do Resultado do Exercício com EVA Positivo. No primeiro modelo de cálculo que a Tabela 9 apresenta, o valor do resultado operacional apurado era de R$ 162.000,00 e agora o valor do resultado operacional é de R$ 134.000,00 (R$ 800.000,00 x 16,75% = R$ 134.000,00). A diferença entre o valor anterior do resultado operacional de R$ 162.000 (-) R$ 134.000,00 = R$ 28.000,00 gera um ganho pela manutenção do resultado em R$ 162.000,00. A esse ganho de R$ 28.000,00 deve-se aplicar a alíquota de 34% de Imposto de Renda Pessoa Jurídica e CSLL – Contribuição sobre Lucro Líquido. O valor do efeito tributário será de R$ 18.480,00, pois R$ 28.000,00 x 34% = R$ 9.520,00. O valor líquido é de: R$ 28.000,00 (-) R$ 9.520,00 = R$ 18.450,00. 116 FONTES DE CAPITAL b) Modelo de Hamada Neste modelo, as empresas que estão altamente endividadas incorrem no risco de aumentar o custo de remuneração dos investidores pelo seu capital social investido. O risco de a empresa sofrer insolvência financeira é elevado e por isso há necessidade de manter atraídos os investidores. Somente é possível mantê-los com altas remunerações e dividendos para que tenham o retorno mais rápido possível e reduzir o efeito psicológico de que a empresa possa ter problemas financeiros. Conforme Brigham e Ehrhardt (2010, p. 631), “Um acréscimo no índice de endividamento também aumenta o risco enfrentado pelos acionistas, e isso tem um efeito sobre o custo do patrimônio dos acionistas ordinários, ko. Esse relacionamento é mais difícil de quantificar, mas pode ser estimado”. Com base em Brigham e Ehrhardt (2010), o beta aumenta com a alavancagem financeira e é uma medida relevante de risco para investidores diversificados. Para tanto, Robert Hamada desenvolveu uma equação que especifica o efeito da alavancagem financeira sobre o beta da seguinte forma: Nessa fórmula, o bNA significa beta não alavancado. Prosseguindo, Brigham e Ehrhardt (2010, p. 631) dizem o seguinte: A equação de Hamada mostra o aumento no índice de dívida/ patrimônio líquido eleva o beta. Nessa situação, bNA é o coeficiente beta não alavancado da empresa, ou seja, o beta que ela teria se não houvesse dívida. Nesse caso, o beta dependeria totalmente do risco do negócio e, assim, seria uma medida do “risco básico do negócio” da empresa. D/PL é a medida de alavancagem financeira usada na equação de Hamada. Pelo modelo de Hamada, ajusta-se o Beta, que é o risco do negócio (risco do negócio é o CAPM – Capital Asset Pricing Model determinado por uma medida que mostra o retorno que um investidor aceitaria por investir em uma empresa. Essa medida trata de uma maneira de encontrar uma taxa de retorno exigido que leva em conta o risco sistemático – não diversificável ou risco de mercado –, por meio do coeficiente Beta), e como resultado alavanca-se o Beta com o risco financeiro específico do projeto. E significa que o coeficiente Beta para a avaliação da empresa aumentaria de acordo com o risco da empresa no mercado. Esse risco é determinado tanto por fatores internos da empresa, tais como os fatores restritivos de processo, absenteísmo, fatores restritivos financeiros, como por fatores externos influenciados pela volatilidade cambial, problemas de logística de distribuição dos produtos, risco político, corrupção, dentre outros. 117 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 c) Modelos de Trade-off Este é o modelo que preconiza a existência de uma estrutura de capital ótima para o empreendimento, uma vez que existe uma mescla de recursos financeiros advindos de capital próprio e também recursos financeiros de capital de terceiros alheio. Ambos os recursos deverão maximizar o valor da empresa no mercado. Trade off é uma expressão que define uma situação em que os gestores estarão com conflito de escolhas. Isso somente ocorre quando o gestor abre mão de algum bem ou serviço para que possa obter outro bem ou serviço distinto. Segundo esse pensamento, os gestores da empresa deverão procurar o equilíbrio entre os custos em que a empresa iria incorrer no caso de uma eventual falência, bem como os benefícios de assumir alguma dívida que poderia gerar para a empresa um tipo de “poupança tributária”, assim como os ganhos gerados pela alavancagem financeira, o que indicaria o valor objetivo para o seu endividamento. De acordo com Brigham e Ehrhardt (2010, p. 631): Os argumentos apresentados anteriormente levaram ao desenvolvimento da chamada “teoria de trade-off da alavancagem” em que as empresas compensam os benefícios do financiamento com dívida (tratamento tributário corporativo favorável) em relação aos juros mais elevados e aos custos de falência. Isso quer dizer que se a empresa aumentar o nível de endividamento (assumir mais empréstimos de terceiros), também irá gerar ganhos tributários que estão relacionados com esse grau de endividamento. Na verdade, o que se apresenta em trade-off é que os valores que a empresa paga de juros e capital de terceiros gerará um ganho tributário na ordem de 34% de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre Lucro tributável, quando as empresas estão enquadradas no Lucro Real. Mas, a alavancagem financeira levaria a empresa a aumentar o seu valor de mercado. No entanto, nem sempre isso poderia ser aplicado, pois à medida que aumenta a dívida, também aumentam os custos associados ao endividamento (juros), e isso poderia criar o chamado “risco financeiro”. Veja o cálculo: Trade off é uma expressão que define uma situação em que os gestores estarão com conflito de escolhas. Isso somente ocorre quando o gestor abre mão de algum bem ou serviço para que possa obter outro bem ou serviço distinto. 118 FONTES DE CAPITAL Quadro 10 − Estrutura de capital e taxas de financiamento ATIVO PASSIVO Ativo Operacional R$ 1.300.000,00 Passivo Operacional Capital de Terceiros Capital Próprio R$ 500.000,00R$ 600.000,00 R$ 200.000,00 TOTAL R$ 1.300.000,00 TOTAL R$ 1.300.000,00 Custos dos Capitais de Terceiros (Bruto) Custos dos Capitais Próprios (Bruto) Alíquota do Imposto de Renda 28% a.a 15% a.a 34% Fonte: O autor. Se a empresa obtivesse empréstimos de capital de terceiros no valor de R$ 600.000,00 à taxa de juros anual de 28% e R$ 200.000,00 de capital próprio à taxa de dividendos de 15%, o seu custo médio ponderado de capital (CMPC) seria de 24,75%, conforme apresenta o quadro a seguir: Quadro 11 – Taxa do CMPC com inversão de fontes de capital C.M.P.C. Bruto CAPITAL DE TERCEIROS R$ 600.000,00 x 0,2800 = 0,2100 R$ 800.000,00 CAPITAL PRÓPRIO R$ 200.000,00 x 0,1500 = 0,0375 R$ 800.000,00 TOTAL = 0,24750 Fonte: O autor. Assim, o valor do resultado operacional que a empresa deveria atingir para pagar os juros de capital de terceiros, o Imposto de Renda e a Contribuição Social sobre Lucro Líquido e os dividendos para os acionistas seria de R$ 198.000,00 (R$ 800.000,00 x 24,75%). Porém, se a empresa vinha apurando o resultado operacional de R$ 162.000,00, passará a gerar uma perda no valor de (R$ 23.760,00), já que seu custo financeiro líquido de R$ 110.880,00 é superior ao valor de R$ 106.920,00 do lucro operacional após o Imposto de Renda e antes dos juros de capital de TERCEIROS. 119 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Quadro 12 – Demonstração do resultado do exercício com EVA negativo DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO - E.V.A. NEGATIVO Vendas Brutas R$ 4.000.000,00 ( - ) Impostos -R$ 1.080.000,00 = Vendas Líquidas R$ 2.920.000,00 ( - ) Custos -R$ 1.956.400,00 = Lucro Bruto R$ 963.600,00 ( - ) Despesas -R$ 801.600,00 = Lucro Operacional R$ 162.000,00 ( - ) Imposto de Renda -R$ 55.080,00 R$ 2.040,00 = L.O. após I.R. e antes de Juros de C.T.. R$ 106.920,00 ( - ) Juros/CCT antes do I.R. R$ 168.000,00 Economia I.R. R$ 57.120,00 R$ 110.880,00 CUSTO FINANCEIRO LÍQUIDO = L.L. após I.R. -R$ 3.960,00 ( - ) Custo do Capital Próprio -R$ 19.800,00 = E.V.A. -R$ 23.760,00 Fonte: O autor. Então, os gestores das empresas sempre deverão buscar um certo equilíbrio em relação aos impactos do benefício fiscal e as dificuldades financeiras, possibilitando atingir um ponto de endividamento que maximize o seu valor. As empresas que usam dívidas, em vez de patrimônio líquido, segundo Damodaran (2004, p. 443), se beneficiam de duas formas: Em primeiro lugar, elas obtêm um benefício tributário, porque os juros sobre a dívida são dedutíveis dos impostos, enquanto que os dividendos pagos para os acionistas não o são. E em segundo lugar, a dívida dá condições para que as empresas imponham uma disciplina aos administradores. As empresas devem fazer pagamentos regulares para os portadores de dívidas, e os administradores que investem em maus projetos aumentam a probabilidade de serem incapazes de honrar esses compromissos. Com base em Brigham e Ehrhardt (2011 apud MEIRELES, 2015), a mudança na estrutura de capital aqui exposta forma a base do que foi chamado de teoria de trade-off da alavancagem. Nessa teoria, as empresas equilibram os benefícios do financiamento com capital de terceiros (este favorecido pelo benefício fiscal) com os custos de falência e taxas maiores de juros. Assim, ampliando um pouco o proposto por Modigliani e Miller (1958), a teoria de trade-off diz que o valor de uma empresa alavancada é igual ao valor de uma empresa idêntica desalavancada Os gestores das empresas sempre deverão buscar um certo equilíbrio em relação aos impactos do benefício fiscal e as dificuldades financeiras, possibilitando atingir um ponto de endividamento que maximize o seu valor. 120 FONTES DE CAPITAL mais o valor dos efeitos colaterais que dessa vez incluem, além do benefício fiscal, os custos de falência e outros tipos de estresses financeiros. Os autores ilustram esse aspecto por meio da figura a seguir. Figura 5 – Efeito da alavancagem financeira no valor da empresa Valor Valor com divida nula Valor adicionado pelos benefícios fiscais Resultado de M&M incorporando os efeitos do benefício fiscal (ainda sem custo de falência) Valor reduzido pelos custos relacionados à falência Valor se a firma não utilizasse alavancagem financeira Nível de dívida limiar onde os custos de falência se materializam Estrutura de capital ótima: Ganhos marginais do benefício fiscal = Custos marginais relacionados à falência Alavancagem0 D1 D2 Valor real Fonte: Brigham e Ehrhardt (2011 apud MEIRELES, 2015, p. 20). Para melhor compreender a figura, Brigham e Ehrhardt (2011 apud MEIRELES, 2015, p. 20-21) explicam que: 1. Segundo o modelo de M&M proposto com impostos, o valor da firma aumentaria proporcionalmente na medida em que mais dívida fosse usada na sua estrutura de capital por conta do benefício fiscal. Esta teoria está representada pela linha laranja. 2. O ponto D1 representa o primeiro momento em que os custos da possibilidade de falência deixam de ser irrelevantes e começam a se materializar e vão tomando uma dimensão importante ao ponto de ir corroendo o valor do benefício fiscal em uma velocidade crescente. Entre os pontos D1 e D2, esses custos citados ainda não são capazes de tornar nulo o efeito do benefício fiscal. Nesse momento o preço da ação ainda está subindo por conta do acréscimo da proporção de dívidas, mas já a uma velocidade menor do que antes. A partir do ponto D2, os custos relacionados à falência começam a superar o benefício fiscal trazido pelo uso de dívidas e não se torna mais vantajoso aumentar a proporção do capital de terceiros na estrutura de capital. Portanto, o ponto D2 indica no gráfico o ponto ótimo de estrutura de capital. É importante ressaltar que os D1 e D2 não são fixos e inalteráveis, valendo para todas as empresas. Os riscos de negócio e os custos de falência de cada uma contribuem na determinação deles. 121 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 3. Ainda que os trabalhos teóricos e empíricos confirmem em geral o formato da curva proposta [...], o gráfico deve ser considerado como uma aproximação e não o formato perfeitamente definido da função. Se for tomado como base o dilema da administração financeira (liquidez x rentabilidade), é necessário analisar a relação entre a situação financeira (endividamento) e o retorno do acionista (rentabilidade). Caso o gestor decida trabalhar com alta liquidez, este mantém um nível de endividamento baixo e por si só evita o risco financeiro com o uso de poucos recursos de capital de terceiros em sua estrutura financeira. O gestor abre mão da rentabilidade que poderia ser proporcionada por estes recursos. E quanto maior for o nível de endividamento, menor será a liquidez e isso gerará maior risco financeiro. d) Modelos de sinalização A teoria da sinalização aplicada ao mercado de trabalho iniciou-se com Spence (1974 apud BONATTO, 2008). “Seu estudo se refere ao um sinal de qualidade, que é o nível de educação do trabalhador, cuja aquisição está necessariamente atrelada a um custo não só monetário, mas também físico como o tempo dispensado em aulas e leituras” (BONATTO, 2008, s.p.). Atualmente, na teoria da informação tem-se aplicado as ideias de sinalização para diversas situações da vida econômica, tais como área industrial, mercado financeiro, política econômica. Esta ideia de sinalização pode ser aplicada, por exemplo, à política de pagamento de dividendos para acionistas em uma empresa. Os dividendos significam um custo para a empresa, pois ela está tirando dinheiro de seu caixa e entregado a seus acionistas. Contudo, existe um incentivo para este tipo de posicionamento, já que o pagamento de altos dividendossinaliza ao mercado que a empresa em questão é lucrativa gozando de boa condição financeira. Desta forma, tais empresas estão aptas a captar recursos menos onerosos à medida que mais pessoas desejariam aplicar suas economias nela. Da mesma forma, empresas que estão em má situação financeira não poderão pagar dividendos, tendo em vista que, provavelmente, estão com dificuldades de caixa e isso implicaria na quebra da empresa (BONATTO, 2008, s.p.). 122 FONTES DE CAPITAL Isso significa que os dividendos serão pagos por aquelas empresas que tiverem investimentos com bom retorno financeiro e econômico. Se uma empresa optar por recursos de terceiros para novos investimentos, analistas de empresas do mercado de crédito irão avaliar se ela apresenta boas condições de pagamento antes de concederem o empréstimo. Os demonstrativos contábeis são uma forma de identificar se a empresa possui capacidade de saldar suas obrigações. Desta forma, a sinalização de mercado se constitui em uma importante fonte de informação, pois, em uma transação econômica, os agentes envolvidos podem lidar com os problemas de seleção adversa. Já que, segundo Bonatto (2008, s.p.), “a parte detentora de informação privada enviará um sinal por meio de uma ação que seja observável pela parte oposta, sinalizando de modo crível a qualidade e o valor de seu produto ou serviço”. Conforme Coco (2000), o uso de sinais com o propósito de informar e evidenciar a qualidade dos diferentes agentes envolvidos em uma transação pode ser a solução para os problemas de seleção adversa. Kreps (1994) chega a mencionar a sinalização como uma possível solução para os problemas de seleção adversa, onde a parte bem informada sinaliza o que ela sabe por meio das ações tomadas. A sinalização funciona em dois níveis, segundo Stadler e Castilho (1997): em um nível se encontra, por exemplo, um gestor que quer mandar um sinal sobre o valor da sua empresa para o mercado com o objetivo de aumentar seu capital e receber um preço justo na emissão das ações. No outro nível, está o mercado, que percebe um sinal concreto sobre a boa saúde financeira da empresa, o que incentiva o gerente desta a manter o endividamento em baixos níveis. Prosseguindo, Leland e Pyle (1977 apud CARNAÚBA, 1993) abordam a situação onde um empreendedor tem oportunidade de investimento e possui conhecimento sobre a qualidade de seu projeto (risco de mercado). Neste caso, o mercado pode discernir sobre a qualidade específica do projeto do empreendedor e assim o avalia pela média do valor de mercado. Podem-se também transmitir as informações sobre a qualidade do projeto por meio das decisões concernentes à estrutura de capital da empresa. Segundo Carnaúba (1993, p. 81), Um empreendedor identificou um projeto cujo retorno é incerto e que ele possui o conhecimento a respeito da distribuição do retorno (lucro). Apenas o empreendedor conhece o valor de mercado da empresa, e por ser adverso ao risco ou possuir poucos recursos Isso significa que os dividendos serão pagos por aquelas empresas que tiverem investimentos com bom retorno financeiro e econômico. 123 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 deseja encontrar parceiros para o projeto. O empreendedor procurar transmitir ao mercado o correto valor da média do retorno do projeto e para tal poderá variar sua participação no projeto (capital próprio) e usar isto como sinal a respeito da qualidade do projeto. Uma grande participação do empreendedor transmitirá ao mercado um sinal de alto retorno do projeto. Outra maneira de transmitir informações, explica Ross (1977 apud CARNAÚBA, 1993, p. 82), é que a “proposição da irrelevância de capital assumida por Modigliani e Miller sugere que o mercado conhece a distribuição dos retornos da empresa e avalia esta distribuição para definir o valor da empresa”. Neste caso, o mercado avalia a percepção do fluxo de retornos da empresa. Logo, se houver uma alteração na estrutura de capital, pode-se alterar a percepção do mercado. Isso significa que, se alterar a estrutura de capital, pode-se alterar a classe de risco em que o mercado enquadra a empresa. e) Alavancagem Alavancagem é o uso de ativos operacionais e/ou de recursos financeiros, com custos e despesas fixas, visando aumentar o retorno dos acionistas. Os custos e despesas fixas não dependem do nível de vendas, são oriundos geralmente de dispositivos contratuais, por exemplo, o aluguel. A alavancagem é um instrumento de gestão financeira que pode trazer efeitos positivos ou negativos. Em situações de crescimento das receitas e dos lucros, é favorável à existência de custos fixos. Em situação de queda, é desfavorável. Cardoso et al. (2007, p. 133) corroboram e esclarecem que “a alavancagem operacional corresponde à ponderação entre a variação porcentual de lucro e a variação de volume”, isto quer dizer que a alavancagem operacional indica quantas vezes o lucro aumenta em relação a cada variação de 1% nas vendas. Tanto o administrador quanto o analista financeiro precisam ter claro esses conceitos. O administrador toma decisões de investimento analisando as expectativas de risco e de retorno inerentes ao objeto de sua apreciação. Simultaneamente precisa tomar decisões inerentes às fontes de capitais que utilizará para financiar os ativos, que decidirá entre o uso de capitais de terceiros (empréstimos) e de capitais próprios, explica Silva (2010). Esclarece ainda que o conceito de alavancagem está associado à ideia de uma alavanca que, em física, possibilita o deslocamento de um corpo com o uso de uma força menor. Alavancagem é o uso de ativos operacionais e/ ou de recursos financeiros, com custos e despesas fixas, visando aumentar o retorno dos acionistas. 124 FONTES DE CAPITAL Para avaliarmos a alavancagem na empresa, devemos separar a alavancagem operacional com os valores da Demonstração do Resultado do Exercício até o resultado operacional (LAJIR-Lucro Antes do Juros e Imposto de Renda). Vejamos o quadro seguinte: Quadro 13 – Áreas de alavancagem da demonstração de resultados Alavancagem operacional Receita de Vendas Alavancagem total (GAT + GAO x GAF) ( - ) Custos/despesas variáveis Margem de contribuição ( - ) Custos e despesas fixas LAJAIR Alavancagem financeira ( - ) Juros ou despesas financeiras LAIR (IR) Lucro Líquido Fonte: Silva (2010, p. 507). A alavancagem financeira será apurada com as informações da DRE – Demonstração do Resultado do Exercício abaixo do resultado operacional. Isso quer dizer que a empresa irá alavancar financeiramente, se conseguir obter recursos do resultado operacional suficientes para cobrir os gastos com juros de capital de terceiros (empréstimos), IRPJ – Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e CSLL – Contribuição Social sobre Lucro Líquido. Esclarecendo, existem três tipos de alavancagem, conforme segue: • Alavancagem operacional: preocupa-se com a relação entre as vendas da empresa e seus lucros antes dos juros e do imposto de renda (LAJIR). • Alavancagem financeira: preocupa-se com o relacionamento entre o LAJIR da empresa e o lucro líquido. • Alavancagem combinada: preocupa-se com o relacionamento entre as receitas de vendas da empresa e o lucro líquido. A partir de agora estudaremos cada tipo de alavancagem separadamente. • Alavancagem operacional Pode ser definida como o uso potencial de custos fixos operacionais para aumentar os efeitos de mudança das vendas sobre o lucro da empresa antes dos juros e do Imposto de Renda - LAJIR (corresponde ao lucro operacional), ou seja, a alavancagem operacional revela como uma alteração no volume de atividade influi sobre o lucro operacional da empresa. 125 Decisões Estratégicasde Capítulo 2 No exemplo a seguir, pode-se ver que a alavancagem operacional funciona em ambas as direções. Quando uma empresa tem custos operacionais fixos, a alavancagem operacional está presente. Um aumento nas vendas resulta em um aumento mais-do-que- proporcional nos Lucros Antes de Juros e Imposto de Renda (LAJIR); uma diminuição nas vendas resulta em uma diminuição mais-do-que-proporcional nos Lucros Antes de Juros e Imposto de Renda (LAJIR). Exemplo 1: A empresa PH Industrial tem receita operacional de R$ 1.000.000,00, custos variáveis de R$ 400.000,00 e custos fixos de R$ 320.000,00. A empresa está projetando um crescimento das receitas para o próximo ano de 20%. O aumento do Lucro Antes de Juros e Imposto de Renda (LAJIR) será obtido da seguinte forma: Quando uma empresa tem custos operacionais fixos, a alavancagem operacional está presente. Quadro 14 – Alavancagem operacional ALAVANCAGEM OPERACIONAL VARIAÇÃO PERCENTUAL DA RECEITA OPERACIONAL - 20% SITUAÇÃO INICIAL + 20% RECEITA OPERACIONAL 800.000 1.000.000 1.200.000 (-) CUSTOS E DESPESAS OPERACIONAIS VARIÁVEIS 320.000 400.000 480.000 (-) CUSTOS E DESPESAS OPERACIONAIS FIXAS 320.000 320.000 320.000 (=) LUCRO ANTES DE JUROS E IMPOSTO DE RENDA-LAJIR 160.000 280.000 400.000 VARIAÇÃO PERCENTUAL DO LAJIR - 42,9% - + 42,9% Fonte: O autor. Vamos aos cálculos dos resultados: % de variação no LAJIR = $160.000 - 280.000 = - 42,9% 280.000 400.000 - $ 280.000 = 42,9% $ 280.000 O Grau de alavancagem operacional (GAO) é a medida do impacto da alavancagem operacional da empresa nos seus lucros operacionais – LAJIR. Grau de Alavancagem Operacional (GAO) = Variação percentual no LAJIR = Variação percentual nas receitas 42,9% = 2,15 vezes 20,0% 126 FONTES DE CAPITAL Sempre que uma variação percentual no LAJIR (lucro operacional) resultar de uma dada variação percentual nas vendas e for maior do que a variação percentual nas vendas, a alavancagem operacional existe. No exemplo anterior, tem-se então que um aumento de 20% nas receitas da empresa resulta em um aumento de 42,0% no LAJIR, ou seja, de 2,15 vezes. Para calcular o Grau de Alavancagem Operacional – GAO para diversos níveis de receitas: GAO = RV - CDV RV – (CDV – CDF) Margem de Contribuição LAJAIR Onde: RV: Receitas de vendas CDV: Custos e despesas variáveis CDF: Custos e despesas fixas A fórmula acima tem o mesmo significado que: A Margem de Contribuição é a diferença entre as receitas de vendas e os custos e despesas variáveis, e o LAJIR é o Lucro Antes dos Juros e Imposto de Renda. – Custos fixos e alavancagem operacional Variações nos custos operacionais fixos afetam diretamente a alavancagem operacional. Para ilustrar este fato, vamos considerar que a empresa do exemplo 1 (anterior) reduza os seus custos operacionais variáveis de R$ 400.000,00 para R$ 300.000,00, enquanto que os custos operacionais fixos são aumentados de R$ 320.000,00 para R$ 420.000,00: 127 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Quadro 15 – Grau de alavancagem operacional (acréscimo nos custos fixos) ALAVANCAGEM OPERACIONAL VARIAÇÃO PERCENTUAL DA RECEITA OPERACIONAL - 20% SITUAÇÃO INICIAL + 20% RECEITA OPERACIONAL 800.000 1.000.000 1.200.000 (-) CUSTOS E DESPESAS OPERACIONAIS VARIÁVEIS 240.000↓ 300.000↓ 360.000↓ (-) CUSTOS E DESPESAS OPERACIONAIS FIXAS 420.000↑ 420.000↑ 420.000↑ (=) LUCRO ANTES DE JUROS E IMPOSTO DE RENDA-LAJIR 140.000↓ 280.000 420.000↑ VARIAÇÃO PERCENTUAL DO LAJIR - 50% - + 50% Fonte: O autor. Observamos que o LAJIR da “situação inicial” não se alterou, o acréscimo de R$ 100.000,00 nos custos fixos foi compensado pela redução nos custos variáveis de também R$ 100.000,00. Já nas outras situações o aumento dos custos operacionais fixos aumentou o grau de alavancagem operacional da empresa, conforme pode ser visto abaixo: Grau de Alavancagem Operacional (GAO) = Variação percentual no LAJIR = 50,0% = 2,5 Variação percentual nas receitas 20,0% Comparando este valor de 2,5 com o GAO de 2,15 antes da alteração para maiores custos fixos, verifica-se que quanto maior forem os custos operacionais fixos em relação aos variáveis, tanto maior será o GAO. Portanto, elevados custos/despesas fixos operacionais em relação aos custos/despesas totais aumentam a alavancagem operacional da empresa e seu risco de negócio ou risco empresarial. O GAO está relacionado com o risco do negócio ou risco empresarial, isto é, o risco de não se cobrir os custos operacionais (lucro operacional/receitas líquidas). • Alavancagem financeira Pode ser definida como a capacidade da empresa em usar encargos financeiros fixos para aumentar os efeitos de variações no LAJIR sobre o lucro líquido final. A alavancagem financeira resulta, portanto, da participação de recursos de terceiros na estrutura de capital da empresa. Estes recursos têm a capacidade de elevar os resultados líquidos dos proprietários porque são mais baratos em relação ao retorno que produzem os ativos. 128 FONTES DE CAPITAL O volume de empréstimos e financiamentos e as taxas de juros e encargos contratados determinam o valor das despesas financeiras apropriadas em cada período. Assim, as despesas financeiras constituem custos fixos porque dependem da composição das fontes de financiamento e não do nível de produção e vendas. A alavancagem financeira fundamenta-se nos juros que são custos fixos e que permitem a alavancagem. Como contrapartida negativa existe o risco financeiro. O fato de os juros serem um custo fixo permite duas possibilidades de alavancagem financeira, que podem ser utilizadas conjuntamente, e as identifica da seguinte forma: – a primeira é decorrente da obtenção de custos de financiamentos de fontes externas, em percentual inferior à rentabilidade oferecida pelos ativos da empresa; – a segunda alavancagem decorre da natural possibilidade de as empresas aumentarem seu nível de atividade, com vendas e lucros operacionais maiores, e alavancando rentabilidade para os acionistas por manterem fixos os valores pagos ao capital de terceiros. A alavancagem financeira ocorre quando a empresa utiliza, em sua estrutura de capital, fontes de financiamento de capitais de terceiros, por exemplo, emissão de debêntures, empréstimos do BNDES, dentre outros. Quando isso ocorre, a empresa poderá se beneficiar de um crescimento mais que proporcional no lucro líquido, dado um crescimento no LAJIR. A alavancagem financeira ocorre nos dois sentidos, crescimento ou queda do LAJIR, e seu efeito é o mesmo para mais ou para menos. Exemplo 2: A empresa Alimentos S/A espera obter lucro antes de juros e imposto de renda (LAJIR) de R$ 1.000.000,00 este ano. Tem um custo de dívida de longo prazo de R$ 400.000,00 por ano. Seu imposto de renda é de 25% e tem 2.400 ações ordinárias. Vamos avaliar o impacto sobre os lucros da empresa, considerando as seguintes hipóteses: 1) uma queda de 20% no LAJIR 2) um aumento de 20% no LAJIR, como mostramos no quadro a seguir: A alavancagem financeira fundamenta-se nos juros que são custos fixos e que permitem a alavancagem. 129 Decisões Estratégicas de Capítulo 2 Quadro 16 – Grau de alavancagem financeira ALAVANCAGEM FINANCEIRA VARIAÇÃO PERCENTUAL NO LAJIR - 20% SITUAÇÃO INICIAL + 20% LAJIR 800.000 1.000.000 1.200.000 (-) JUROS 400.000 400.000 400.000 LAIR 400.000 600.000 800.000 (-) IMPOSTO DE RENDA 100.000 150.000 200.000
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