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CAPÍTULO 4 FONTES DO CAPITAL DE GIRO A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Determinar a dinâmica da DRE e a necessidade de Capital de Giro. Vincular as projeções de cais com as necessidades de capital de giro. Estabelecer as necessidades de capital de trabalho com a gestão de tesouraria. Identifi car os tipos de operações de desconto para levantar capital de giro. Analisar o fl uxo de caixa de curto prazo e seu vínculo com o capital de giro. Avaliar a dinâmica do capital de giro com a gestão da tesoureira. Identifi car as operações de desconto e seu cálculo. 112 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO 113 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Após ter estudado todas as ferramentas e temas que possam dar uma visão do que é Capital de Giro, neste último capítulo focaremos nas necessidades de liquidez que possam vir a surgir na dinâmica das necessidades dos recursos operativos de qualquer tipo de negócio. Lembre-se de que o Capital de Giro possui um vínculo direto com a estrutura do Ciclo de Conversão de Caixa (Estoques, Processo de Fabricação, Vendas, Contas a Receber e Contas a Pagar), ou seja, esse giro de capital representa a liquidez necessária para executar as diversas atividades. Em termos operacionais, onde é que se gera a liquidez de um negócio? Na própria dinâmica da geração de caixa é que as empresas devem fazer a gestão das necessidades de liquidez a serem analisadas pelo fl uxo de caixa, é a partir dessa análise que a tesouraria faz gestão da liquidez das empresas. Assim, é com foco nessa ideia de gestão da liquidez que iniciaremos o Capítulo 4, vamos lá? o Capital de Giro possui um vínculo direto com a estrutura do Ciclo de Conversão de Caixa (Estoques, Processo de Fabricação, Vendas, Contas a Receber e Contas a Pagar) 2 VENDAS E SAÍDAS OPERATIVAS PROJETADAS DE CURTO PRAZO O ponto de partida para observar a geração de liquidez operacional é a entrada e a saída de recursos operacionais, que nascem das necessidades do próprio negócio e que são refl etidas na análise de custos. Essa análise de custos serve também como ponto de referência para observar a necessidade de caixa necessária para atingir a estrutura de custos e vendas dentro de um contexto de curto prazo, isto é, máximo 12 meses. Devemos levar em consideração que para conseguir desenvolver essa projeção de curto prazo fi ca subentendido que a empresa em questão fez seu orçamento das necessidades de recursos produtivos, levando em consideração os respectivos volumes e preços de venda, assim como a estrutura de custos para as diversas áreas operacionais. Com esses elementos em mãos, um dos primeiros passos para determinar as entradas e as saídas é levantar as projeções de vendas por mês e suas respectivas necessidades de gastos (custos e despesas). Uma vez feito isso, com esses dados referenciais de vendas e de custos, faz-se a projeção, seguindo os seguintes passos: • Análise de mercados com seus respectivos volumes e preços de venda, determinando preços de vendas por meio de sistemas de precifi cação, tais como o Mark-up e os preços praticados no mercado. 114 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO • Análise da capacidade de produção com seu respectivo Ciclo Operacional (CO) e Ciclo Financeiro (CF), conforme estudamos nos capítulos anteriores. • As despesas necessárias para dar conta desse Ciclo Operativo e projeções de vendas. Destes elementos expostos, é importantíssimo determinar preços de venda que estejam dentro de uma margem de lucro razoável e tenham preços competitivos com relação aos praticados pelas outras empresas do setor. Por que isso é importante? Vamos exemplifi car: Suponha que uma empresa que vende sorvetes de 1/2 litro determinou o preço de venda deste em R$ 12,00, logo, esse preço não deveria estar acima do preço médio de mercado praticado por empresas semelhantes. Observe que o preço poderia estar acima só se a empresa produz um sorvete diferenciado. Agora, suponha que o sorvete não é diferenciado, logo: • Se o preço de R$ 12,00 estiver acima do preço de mercado - vamos supor que o preço médio no mercado seja de R$ 11,00 - logo, o produto poderia ter pouca saída. Neste cenário, a empresa acumulará estoques de sorvete, aumentando o Ciclo de Estoques e sua respectiva Conversão de Caixa. Resultado? Maior necessidade de Capital de Giro para fi nanciar a falta de liquidez desse aumento de estoques. Soluções? Reduzir o preço de venda para queimar estoques e assim reduzir a necessidade de caixa; ou aumentar o investimento em Capital de Giro. • Se o preço de R$ 12,00 estiver abaixo do preço de mercado - suponha que o preço médio no mercado seja de R$ 13,00 - logo, o produto poderia ter muita saída. Neste cenário, a empresa terá um menor volume de estoque em produto terminado reduzindo a sua necessidade de caixa, porém, estará desperdiçando a oportunidade de vender com preços melhores. Soluções? Aumentar o preço de venda e assim conseguir uma maior margem de lucro, ou aproveitar essa menor necessidade de Capital de Giro para dinamizar a gestão de liquidez. Desta pequena simplifi cação, podemos observar o nível de complexidade da gestão de liquidez das empresas e seu potencial de rentabilidade, visando manter um capital de giro que seja adequado as suas operações. Lembre-se de que as empresas procuram um ponto referencial para identifi car a dinâmica de seu capital de giro, esse ponto referencial são as projeções das atividades operacionais. as empresas procuram um ponto referencial para identifi car a dinâmica de seu capital de giro, esse ponto referencial são as projeções das atividades operacionais. 115 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 3 VOLUME DAS VENDAS Na questão do volume de vendas, é necessário observar todos os dados das vendas e seus preços respectivos, mas em períodos mensais, ou até sema- nais. O objetivo é fazer uma corrida de valores conforme os preços dos produtos a serem vendidos. Exemplifi cando, vamos retomar a análise dos vidros de maçã observados no Capítulo 2, a perspectiva de venda destes produtos poderá nos fornecer dados importantes para construir o capital de giro necessário para as pro- jeções operativas de curto prazo. Os volumes a serem observados são: Quadro 1 – Volume de anual e mensal Fonte: O autor. Fonte: O autor. Com esses volumes de vendas, pode-se desenvolver toda a dinâmica do giro de capital para dar conta dessas vendas, levando em consideração o prazo médio de vendas (contas a receber), a estrutura de custos das operações, a gestão de estoques, de contas a receber e de contas a pagar, e os dados históricos do próprio balanço patrimonial dos últimos anos. Seguindo a lógica da necessidade de capital de giro para dar conta desses volumes de venda expostos, vamos supor que esse negócio possui os seguintes preços e custos referenciais dos seguintes produtos. Quadro 2 – Defi nição de preços 116 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Observe que para levantar esses preços de vendas foi aplicado o mark-up de 60,50%. No exemplo, o preço de venda da “Maçã e Canela Light” foi apurado da seguinte maneira: R$ 16,24 = Custo base 1-Mark-up( ) . = R$ 6,41 1-0,605( ) . Com esses valores de preços de venda, estamos na capacidade de projetar as vendas mensais, conforme a seguir: Quadro 3 – Vendas mensais por um ano Fonte: O autor Observe que no quadro anterior, com os valores de mark-up, aparecem os custos médios unitários. É com esses custos médios, com o referencial tanto de volumes de vendas e receitas, que se consegue obter as bases para apurar o capital de giro necessário em função da conversão de caixa e seu fl uxo de caixa respectivo. 4 CUSTOS E SAÍDAS OPERATIVAS MENSAIS Os custos mensais referenciais serão a base dos gastos para dar conta dessa projeção de vendas expostaanteriormente. Pensando em facilitar nossa análise, condicionaremos esse volume de produção para que seja igual ao volume de vendas. Isso, na vida real, nunca será assim, esses valores se aproximam sim, mas na movimentação real existe o fator estoques, sendo que eles servem para manter as vendas até o ponto que a produção consiga repor estoques de vendas. Assim, por questões de análise pedagógica, vamos supor que são iguais. Exemplifi caremos e analisaremos uma situação destas, por meio de uma corrida de cálculo na planilha eletrônica, a projeção dos custos mensais, considerando os custos médios previamente expostos. 117 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 Fonte: O autor Fica a dica! Se ainda não sabe a fundo como realizar cálculos fi nanceiros na planilha eletrônica, sugire-se fazer um curso de “como” aproveitar ao máximo as ferramentas modernas para esses fi ns, tal como cursos on-line do SEBRAE, disponível em: <http://www.sebrae. com.br/sites/PortalSebrae/Busca?q=%20planilha>. Quadro 4 – Projeção dos custos durante 12 meses Neste quadro, consegue-se observar que os custos mensais vão acontecendo conforme as demandas de produção para dar conta dos volumes de venda projetados, exemplifi cando: no mês de fevereiro, está previsto vender 15.000 vidros do produto “Maçã e Canela”, sendo que o custo dessa projeção de venda será de R$ 76.800 = R$ 5,12 x 15.000, como podemos verifi car no quadro. E assim é feito para cada um dos produtos e para cada um dos 12 meses do ano. Estamos quase lá para conseguir obter o referencial de capital de giro, porém, falta ainda considerar as despesas e a análise de conversão de caixa. Neste sentido, o seguinte passo será determinar as despesas para os 12 meses em questão. Lembre- se de que no Capítulo 2 foi detalhado o mark-up destas quatro geleias? Nesse mark-up foi defi nido em 60,50%, sendo que 20% foi considerado como margem de rentabilidade. Logo, para projetar tanto os custos como as despesas devemos excluir esse 20% de potencial de lucro, objetivando obter as saídas de caixa operativas dos custos, das despesas e dos impostos, conforme o quadro a seguir: 118 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Quadro 5 – Saídas operativas Fonte: O autor. Fonte: O autor. Uma vez considerado os custos, as despesas e os impostos, o seguinte passo é determinar a saída destes valores por mês, conforme o seguinte quadro: Quadro 6 – Projeção dos custos durante 12 meses Com esses elementos em mãos, o seguinte passo será construir a conversão do fl uxo de caixa. Antes disso, vamos rever alguns pontos importantes, sendo que foi feito: • A projeção do volume de vendas, das receitas e seus custos de produção. • A projeção tanto dos custos como das demais saídas operativas. Antes de continuar com nossa análise, vamos praticar um pouco? Atividade de Estudos: 1) Determine como podemos começar a montagem dos custos e despesas projetadas? 119 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ 5 GESTÃO DO FLUXO DE CAIXA OPERATIVO DE CURTO PRAZO Nos últimos capítulos, você estudou sobre a determinação do capital de giro. No momento de terminar o fl uxo de caixa, esses conhecimentos são chaves para se ter uma projeção da liquidez mais próxima à realidade, e assim conseguir ter um referencial do investimento necessário em capital de giro, visualizando a sua dinâmica e seu vínculo com o fl uxo de caixa. Neste sentido, levaremos em consideração que o empreendimento das geleias vai iniciar suas atividades sem prévio histórico operativo, ou seja, empreendimento novo. Deste modo, deve-se defi nir o capital que será investido na liquidez, ou seja, capital de giro. Diante deste contexto, o capital de giro inicial será fundamentado por meio dos seguintes elementos: • Projeção de volumes e preços de vendas. • Projeção de volumes, custos de produção e despesas. • Defi nição do Ciclo Operativo (CO) e Ciclo Financeiro (CF), ou seja, determinar a conversão de caixa, por meio dos seguintes fatores: o PME = Prazo Médio de Estoques. Ele depende dos processos produtivos e dos tempos de entrega dos insumos à produção. No caso de nossa análise da geleia de maçã, suponha que a área de produção e logística determinou que esse PME seja de 40 dias. Esses 40 dias incluindo o tempo que a mercadoria terminada fi ca em estoques antes de ser comercializada aos clientes. o PMR = Prazo Médio de Duplicatas a Receber. Ele depende da política de vendas, no nosso exemplo esse PMR será de 60 dias. o PMP = Prazo Médio de Pagamento. Ele depende dos prazos de pagamento médios da própria empresa e seu relacionamento com seus fornecedores, no nosso caso esse PMP será de 45 dias. 120 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Uma vez defi nidos os parâmetros da conversão de caixa, consegue-se apurar o ciclo da conversação de caixa: • CO = PME + PMR. • CO = 40 dias + 60 dias. • CO = 100 dias. Esse CO de 100 dias será o prazo médio que todo o processo produtivo demora em gerar caixa, ou seja, todo o recurso operacional demorará 100 dias para se recuperar. Além desse CO de 100 dias para determinar a real conversão de caixa, devemos apurar o Ciclo Financeiro (CF), ou seja, considerar as contas a pagar. • CF = 40 dias + 60 dias – 45 dias. • CF = 55 dias. Então, esses 55 dias serão os dias que demorará para o dinheiro investido no capital de giro se recuperar, isto é, a conversão de caixa. E agora? O seguinte passo será vincular essa conversão de caixa de 55 dias em valores monetários, observando-se as saídas de caixa operativas (custos e despesas a serem pagas por mês), convertendo para valores diários (médios) de saída de recursos. Logo depois, multiplica-se esse valor médio diário de saída de recursos pelos 55 dias de conversão de caixa, então teremos o valor necessário a ser investido em capital de giro, conforme a seguir: Quadro 7 – Conversão de caixa e capital de giro necessário Fonte: O autor. Deste quadro consegue-se obter o referencial para se apurar a saída de caixa operativa ao dia, conforme a seguir: 121 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 Fonte: O autor. Quadro 8 – Previsão de liquidez processo de produção Observe que o valor a ser gasto nesse capital de giro é de R$ 1.204.883 a cada 55 dias, isto é, R$ 21.907 x 55 dias. Para conseguirmos visualizar o que signifi ca esse valor, vamos imaginar que a empresa está iniciando suas operações, portanto, ainda não há vendas a serem consideradas, só saídas de caixa operativas para realizar compras de insumos, pagamento de funcionários, aluguel etc. Segundo a conversão de caixa, todas essas saídas de caixa deverão ser bancadas até começarem a existir entradas de caixa das vendas a prazo. Logo depois se apresenta a recuperação desse capital de giro, mas deve-se continuar com novas compras e vendas, ou seja, o ciclo de conversão de caixa é contínuo, nunca para. Observe que o capital de giro, ao longo da vida de uma empresa, só pode aumentar ou diminuir em função da gestão do próprio giro do negócio, ele só cessa se o próprio negócio parar de operar. Todas essas saídas de caixa deverão ser bancadas até começarem a existir entradas de caixa das vendas a prazo. Logo depois se apresenta a recuperação desse capital de giro, mas deve-se continuar com novas compras e vendas, ou seja, o ciclo de conversão de caixa é contínuo, nunca para. 6 FLUXO DE CAIXA OPERATIVO A melhor maneira de visualizar a dinâmica do capital de giro é por meio do fl uxo de caixa operativo, nele podemos observar como a entrada líquida de caixavai acontecendo mês a mês, inclusive, há negócios que operam com fl uxo de caixa semanais e outros até diários. Por exemplo: um banco comercial precisa ter uma dinâmica de fl uxo operativo de sua liquidez de maneira diária. Observe que nem todo negócio opera no positivo todos os meses, há negócios que operaram no vermelho por vários meses até as vendas acontecerem, imagine uma empresa que vende brinquedos, a maior parte de suas vendas acontecem quando? Em outubro, no dia das crianças (12 de outubro); e dezembro, no natal. No resto do ano, esse tipo de empresa só opera para produzir e estocar mercadoria para suas vendas de temporada, claro, sempre haverá vendas, mas não nesses volumes da temporada alta. O mesmo acontece na maioria dos negócios, eles são cíclicos, por isso a importância de fazer uma boa gestão da liquidez. Em termos padrão, qualquer fl uxo de caixa operativo deve considerar: 122 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO • O valor de investimento em capital de giro inicial, se as operações deste são novas; ou seja, o saldo inicial em caixa do negócio no início das atividades. Na nossa análise, foi considerado o simulado de um negócio novo, com o foco em observar o investimento em liquidez operativa. • O comportamento das entradas em caixa recorrentes das vendas, levando em consideração o prazo das contas a receber. • O comportamento das saídas operativas, levando em consideração o prazo médio de pagamentos aos fornecedores e obrigações diversas, por exemplo: gasto de energia, aluguel, folha de pagamento etc. Observe que tanto o comportamento das entradas como das saídas operativas, expostas anteriormente, estão considerados na análise de conversão de caixa. Agora é só considerar os valores de conversão de caixa de 55 dias e seu valor monetário nas projeções de fl uxo de caixa, conforme observaremos mais adiante. Observação! No fl uxo de caixa, ao considerar as saídas de caixa recorrentes dos custos e despesas geradas, sempre devemos excluir o gasto da depreciação do fl uxo de caixa operativo, pois ele não representa saída efetiva de caixa. A seguir, podemos observar a dinâmica do fl uxo de caixa como um todo, observe que ele se divide em fl uxo de caixa operacional, fl uxo de investimentos e fl uxo fi nanceiro. Aqui só analisaremos o fl uxo de caixa operativo, para se vincular ao nosso estudo do capital de giro, os outros dois fl uxos de caixa (de investimentos e fi nanceiro) levam em consideração mais elementos de investimento em ativos fi xos, entrada e saída de empréstimos, pagamentos de juros, comissões fi nanceiras, entre outros, que não competem para nosso estudo da gestão do capital de giro. Contudo, é importante lembrar do fl uxo de caixa no seu contexto geral, abrangendo as saídas dos investimentos e movimentações de caixa fi nanceira, conforme podemos ver a seguir: 123 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 Figura 1 – Dinâmica do fl uxo de caixa projetado Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/MZEx7C>. Acesso em: 20 mar. 2018. Observe que na fi gura anterior, no fl uxo de caixa operativo, estão expostos todos os elementos do capital de giro que vem se falando ao longo dos capítulos, isto é, contas a receber, estoques, contas a pagar e títulos diversos, ou seja, a conversão de caixa analisada de maneira continuada em um período determinado, isto é, o fl uxo de caixa operativo! Exemplifi cando, com os elementos de análise e dados que vêm se apurando nas páginas anteriores. Agora construiremos o fl uxo de caixa operacional do empreendimento das galeias de maçã, vamos lá? Quadro 9 – Fluxo de caixa projetado em R$, empreendimento: Geleia de maçã Fonte: O autor. Manutenção Predial Manutenção Operacional Aplicações Financeiras Empréstimos Bancários Seguros Contas a Pagar Administração Tributos SálariosEncargos Fluxo Financeiro FINANCEIRO OPERACIONAL Títulos Diversos Fluxo Operacional Vendas de Imobilizado Contas a Receber Estoques Caixa Fluxo de InvestimentosFluxo de Receitas Fluxo de Caixa Fornecedores e Prestadores de Serviços 124 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Parece difícil olhar para toda essa série de valores? É uma simples corrida de todas as entradas e saídas de caixa operativo, levando em consideração tanto o Ciclo Operacional de 100 dias e os 45 dias de contas a pagar. A média dessas contas resume-se na conversão de caixa cíclica de 55 dias. Esse ciclo, colocado no papel, quer dizer que: • A entrada de caixa recorrente das vendas só começará a partir dos 100 dias desde iniciadas as operações, ou seja, as entradas de caixa serão a partir do mês de abril, conforme o quadro anterior. • As saídas de caixa recorrentes das compras dos fornecedores começam a partir dos 45 dias que a empresa inicia operações, isto é, a partir de meados do mês de fevereiro, conforme o quadro anterior. • As saídas de caixa recorrentes dos demais gastos operacionais, aluguel, energia elétrica, folha de pagamento, entre outros, começam bem no início do processo operacional, isto é, no mês de janeiro, conforme está no quadro. Agora, esse marco inicial de necessidade de liquidez representa um investimento inicial em Capital de Giro de R$ 1.204.883,00 conforme foi determinado anteriormente por meio da análise da conversão de caixa do negócio, e que podemos conferir no ápice de necessidade de liquidez no mês de abril logo após ter iniciado as operações, isto é, R$ 1.204.883,00. Logo, o próprio negócio vai gerando liquidez para dar continuidade ao investimento em capital de giro em função da conversão de caixa determinada de 55 dias. Devemos observar que qualquer aprimoramento dos elementos que fazem parte dessa conversão de caixa defi nirá novos valores de investimento em capital de giro. Em geral, ao iniciar um novo negócio, é recomendável ter certa margem para corrigir qualquer eventualidade de prazos e valores projetados, uma vez que esses prazos e pagamentos médios começam a se refl etir no mesmo fl uxo de caixa. Nesse contexto, faz parte da administração do gestor fi nanceiro aprimorar essa conversão de caixa e fazer uma boa gestão desta, conseguindo aprimorar o capital de giro do negócio. É fundamental enxergar que a empresa precisa fi nanciar esse capital de giro inicial, do contrário, não haverá liquidez para operar, por isso o nome de investimento em capital de giro, ou seja, “liquidez” para operar. Referente à dinâmica do próprio fl uxo de caixa do quadro, nele devemos observar que não há nem custo nem despesa de depreciação. Por que isso acontece? A resposta é simples, no contexto de entradas e saídas, o capital Em geral, ao iniciar um novo negócio, é recomendável ter certa margem para corrigir qualquer eventualidade de prazos e valores projetados, uma vez que esses prazos e pagamentos médios começam a se refl etir no mesmo fl uxo de caixa. 125 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 gasto com depreciação não representa uma saída efetiva de caixa, é mais um jeito formal de provisionar valores monetários para reconhecer o próprio desgaste dos equipamentos, veículos, e outros ativos fi xos, gasto que vai se registrando até eles cumprirem sua vida útil. No entanto, no momento de se fazer o fl uxo de caixa integral (operativo, investimentos e fi nanceiro) em uma só corrida de análise de caixa, aí sim será considerado a depreciação no fl uxo, pois ele impactará no cálculo do Imposto da Renda. Todavia, logo após ter feito esse cálculo, esse gasto em depreciação será reintegrado à dinâmica de saldos líquidos. Em termos gerais, o fl uxo de caixa possui os seguintes termos importantes: • Margem Operacional de Caixa: representa todas as entradas e saídas recorrentes das operações do próprio negócio, produzindo um saldo líquido sequencial em função do período a ser observado. No caso de nossa análise de liquidez operacional, foi de 12 meses. • Saldo de Caixa: representa o saldo líquidoem caixa ao fi nal de cada sequência do período a ser analisado. Na corrida de fl uxo de caixa, para observar as saídas e entradas operativas expostas anteriormente, esse saldo de caixa vem a ser o saldo líquido em caixa bem ao fi nal de cada mês. • Saldo de Caixa Acumulado: será o saldo líquido de caixa ao fi nal do período da análise, no caso da análise do fl uxo operativo exposto anteriormente será o saldo em caixa ao fi nal dos doze meses, isto é, 31 de dezembro. Observe que na sua dinâmica, o fl uxo de caixa é simples, mas possui diversos detalhes a serem considerados e determinados. Eis a sua complexidade e sua simplicidade. Resumindo, neste tópico, estudamos “como” o fl uxo de caixa operativo é uma ferramenta importantíssima para observar a própria dinâmica do capital de giro no recorrer do tempo. O importante aqui é sempre se lembrar de que o fl uxo de caixa é mais um refl exo das políticas de gestão do capital de giro colocadas na execução das operações de qualquer tipo de negócio. Assim, qualquer mudança no ciclo de conversão de caixa, aumento/diminuição do preço de venda, aumento/diminuição dos prazos médios, aumento/diminuição dos volumes de venda, e aumento/diminuição dos custos, entre outros fatores, impactarão no investimento do Capital de Giro e sua dinâmica a ser executada e representada no fl uxo de caixa. No seguinte tópico, estudaremos como as empresas fazem gestão dos saldos líquidos do capital de giro por meio da gestão da tesoureira. 126 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO 7 TESOURARIA DO CAPITAL DE GIRO Todo negócio possui nas suas operações alguns meses com saldos operacionais positivos e meses com saldos negativos, isso faz parte do próprio ciclo operacional, porém, nenhuma empresa opera sempre no positivo, seria a empresa dos sonhos; ou sempre no vermelho, seria o seu fi m. Assim, as empresas precisam projetar quando irão ter meses com saldos positivos de liquidez e quando elas irão ter meses no vermelho. Observe que fi car no vermelho em caixa durante um tempo curto não é sinônimo de lucro negativo (prejuízo), muitas vezes, isso faz parte da própria dinâmica operativa dos negócios. Por enquanto, neste tópico, vamos nos concentrar em quando elas estão no positivo, ou seja, quando há saldo em caixa. Essa gestão dos saldos em caixa é conhecida como a Tesouraria. Nenhuma empresa opera sempre no positivo, seria a empresa dos sonhos; ou sempre no vermelho, seria o seu fi m. 8 A TESOURARIA ESTRATÉGICA Ao longo de nossos estudos, focamos nas atividades operacionais e no seu refl exo no capital de giro, ou seja, sempre no foco da gestão de capital de giro que fi ca bem no “tempo presente”, isto é, hoje. No entanto, em um horizonte de tempo, essa gestão da liquidez é um refl exo do que uma empresa fez, seu passado; e o que ela pretende fazer e atingir no futuro. • O que a empresa fez no seu passado, se ela conseguiu aprimorar processos, investir em equipamento efi ciente, fez investimento em processos integrados, entre outros, isso será refl etido em processos operativos enxutos, de qualidade e competitivos, resultando em um capital de giro otimizado que só traz créditos e saldos médios positivos em caixa, certo? E se a empresa não fez tudo isso, fi cou parada no tempo sem executar investimentos em novos equipamentos, sem aprimorar processos etc., ela poderá ter uma estrutura pesada, precisando de maior capital de giro e pouca geração de caixa, ou seja, aos poucos ela terá menores vendas, maiores ciclos de conversão de caixa, refl etindo-se em uma diminuição gradativa do patrimônio. Eis o refl exo de um passado estratégico que pode trazer bons resultados no presente. • O que a empresa pretende atingir no futuro, além de fazer uma boa gestão de seu capital de giro, a empresa precisa tomar decisões que envolvem planejamento de investimentos em novos equipamentos, em novos processos operacionais, investimento em análise de mercados (marketing), em aprimoramento de sistemas integrados, em investimento em recurso humano etc. Se as empresas não fi zerem isso, aos poucos, 127 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 perdem competitividade e, no futuro, terão um “presente” cheio de problemas, um deles será capital de giro sempre no vermelho. No entanto, essa análise estratégica demanda de capital, logo, a gestão de liquidez das empresas precisa incorporar, na sua gestão de caixa, esses elementos e fontes de capital para executar essas estratégias sem atrapalhar o próprio capital de giro, ou seja, a liquidez para realizar suas operações no “presente”. Levando em consideração o exposto, as empresas precisam separar muito bem quais entradas de caixa fazem parte do próprio processo operacional (como foi demonstrado no fl uxo de caixa operacional nas páginas anteriores), e quais entradas de caixas fazem parte de seu fl uxo de caixa de investimentos e de necessidades fi nanceiras. Todas essas necessidades de caixa convergem onde? Na gestão da tesouraria. Sem uma clara gestão de Tesouraria, as empresas podem vir a apresentar um quadro em que a liquidez fi ca no vermelho, misturando fontes de liquidez operativas para bancar grandes investimentos, sem necessariamente ter problemas operacionais na geração de caixa, ou seja, no contexto de estar utilizando recurso monetário de “curto prazo” para dar conta de seus planos de investimentos que irão dar frutos no longo prazo, esse uso de recursos de suas operações para bancar investimentos deixa as empresas expostas para diversos riscos de cunho fi nanceiro. 9 A TESOURARIA OPERATIVA Agora que temos mais claro que a gestão da liquidez não envolve somente a gestão das necessidades de recursos dos processos operacionais, mas todas as necessidades de liquidez de uma empresa. Vamos ver a seguir quais são elas: • Necessidades de liquidez operativa: é o consumo de recursos para bancar as operações, em outras palavras, a gestão de fl uxo de caixa operativa e seu respectivo investimento em capital de giro. • Necessidades de liquidez de investimentos: é a gestão estratégica na aquisição de ativos, objetivando dar conta dos diversos investimentos necessários para manter a empresa competitiva no futuro. • Necessidade de liquidez fi nanceira: é a gestão de todas as entradas e saídas fi nanceiras, ou seja, créditos fi nanceiros dos próprios investimentos da tesouraria, amortização de empréstimos, pagamentos de juros/comissões fi nanceiras, pagamentos de dividendos, entre outros. 128 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Assim, a gestão da tesouraria deve manter bem claro de onde vem os recursos monetários sob sua responsabilidade, sendo que a sua primeira responsabilidade será a gestão dos saldos em “caixa”. 10 GESTÃO DOS SALDOS EM CAIXA As empresas em geral possuem várias contas correntes para administrar seus negócios, porém, para manter o controle de todas elas, deve existir uma gestão efi ciente que possa concentrar todos os saldos em uma única conta, conhecida como banco de concentração. Segundo Gitman (2010, p. 549), essa conta de concentração apresenta três vantagens: Primeiro, cria um grande volume de fundos que pode ser usado na realização de investimentos de curto prazo. Como há um componente fi xo no custo de transação associado a esses investimentos, investir em um só grupo de fundos reduz esse custo. Um maior volume de fundos também permite à empresa optar entre uma maior gama de investimentos de curto prazo. Em segundo lugar, concentrar o caixa em uma só conta melhora, o acompanhamento e o controle interno de caixa. Finalmente, contar com um banco de concentração permite que a empresa adote estratégias de pagamento que reduzem os saldos de caixa ociosos. Como expõe Gitman (2010), o encontro da liquidez em uma conta de concentração permite alavancar custos operacionais da própria gestão dos recursos monetários de curto prazo, que, em geral, são investidos em títulos fi nanceirosnegociáveis que possuem geração de juros a favor da empresa. Os papéis fi nanceiros de curto prazo levam em consideração que o saldo em caixa é um recurso monetário “em transição”, que fi ca disponível por um curtíssimo prazo, assim, a área de tesouraria procura investir esse recurso onde? Em títulos fi nanceiros negociáveis, ou papéis fi nanceiros de curto prazo, eles são investimentos fi nanceiros disponíveis no mercado monetário e geram rendimentos fi nanceiros, a principal característica deles é que são convertidos em caixa no momento que for necessário. No contexto do ativo circulante, os títulos negociáveis são classifi cados logo depois da subconta “caixa” e fazem parte do ativo líquido das empresas, sendo que seu principal objetivo é gerar retorno dos fundos que fi cam temporariamente “ociosos”. As duas principais características deste papel são: “(1) um mercado que minimize o prazo Saldo em caixa é um recurso monetário “em transição”, que fi ca disponível por um curtíssimo prazo, títulos fi nanceiros negociáveis, ou papéis fi nanceiros de curto prazo, eles são investimentos fi nanceiros disponíveis no mercado monetário e geram rendimentos fi nanceiros, a principal característica deles é que são convertidos em caixa no momento que for necessário. 129 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 necessário para sua conversão em caixa e (2) segurança do principal (capital), o que signifi ca apresentar perda nula ou baixa de valor ao longo do tempo” (GITMAN, 2010, p. 549). Todavia, quais são os tipos de títulos negociáveis disponíveis no mercado monetário? Neste tipo de carteira de investimentos fi nanceiros, as empresas fazem investimentos em: • Dívida do Governo (papéis do Tesouro) que possuem rendimentos baixos em função do baixo risco que eles representam. • Obrigações privadas, tais como Certifi cado de Depósitos (CDs) negociáveis, notas promissórias etc. Estes papéis possuem um rendimento melhor que as obrigações do Governo, mas possuem maior risco. Existem diversos tipos de títulos negociáveis e seus rendimentos vão melhorando conforme o risco aumenta, assim, cabe às empresas defi nirem o perfi l de risco desejado na gestão de tesouraria. A seguir, os principais papéis de curto prazo disponíveis no mercado monetário. Quadro 10 – Características e rendimentos de títulos negociáveis com maior disponibilidade no mercado Papel Emitente Descrição Prazo de recebimento Risco e Retorno Rendimento em 23/07/2017 Títulos Públicos Treasury Bills Tesouro norte- americano Emitidas semanalmente em leilão, forte mercado secundário (bem líquidos) 4, 13 e 26 semanas Mínimo, quase livre de risco 4,97% Treasury notes Tesouro norte- americano Taxa de juros declaradas, juros pagos semestralmente, forte mercado secundário (bem líquidos) 1 a 10 anos Risco baixo, um pouco acima dos Treasury Bills 5,03% Emissões de órgãos federais Órgãos do governo federal Não fazem parte das obrigações do Tesouro 9 meses a 30 anos Risco um pouco mais elevado, mas ainda com pouco risco 5,17% 130 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Títulos Privados Certifi cados de Depósitos (CDs) Bancos Comerciais Valores e vencimentos ajustados. Elevado Mercado Secundário 1 mês a 3 anos Mais elevado dos que o risco de papeis governamentais 4,95% Notas Promissórias Comerciais Sociedade por ações com elevado nível de crédito Obrigações não garantidas 3 a 270 dias Mais elevado de que os CDs 5,23% Aceites bancários Bancos Garantia bancária para uma transição comercial. Se quitar desconto em relação ao preço do vencimento. 30 a 180 dias Comparável aos CDs 5,31% Depósitos em eurodólares Bancos Estrangeiros Depósitos em moeda estrangeira. Mercado secundário ativo 1 dia a 3 anos Elevado por causa da pouca regulamentação, e pelo risco de câmbio 5,36% Fundos Mútuos do mercado monetário Gestão professional de carteira Administração profi ssional de carteiras. Liquide imediata Inexistente, dependo da decisão do investidor Variável, mas podendo ser mais elevado que os papeis governamentais e de que os CDs 4,98% Acordos de recompra (compromissadas) Bancos e/ou distribuidoras de valores Acordos de recompra Adequado às necessidades do comprador Variável 5,13% 1) A taxa básica de juros nesse momento era de 8,25%. 2) Rendimentos obtidos para vencimentos de três meses de cada título. 3) Aqui foi usada uma emissão com três meses até o vencimento da National Mortage Association (Fannie Mae). 4) Foi usado o Fidelity Cash Resenves Fund com vencimento médio de 51 dias na assuencia de dados de rendimento méadio. Fonte: Gitman (2010, p. 571). Apesar de esses títulos fi nanceiros fazerem referência ao mercado de valores dos Estados Unidos, aqui no Brasil, o nome destes são bem semelhantes, e na essência e sua dinâmica, eles são parecidos. Neste quadro, devemos observar que todos esses títulos possuem taxa de juros sem referência de frequência de tempo. Por exemplo, as Notas Promissórias Comerciais possuem uma taxa de 5,23% sem especifi car se ela é anual, semestral ou mensal. Qual a frequência de tempo delas? Em termos fi nanceiros, quando não está especifi cada a frequência da taxa de juros, entende-se que ela é “nominal”, ou seja, em todos os exemplos do quadro, todas essas taxas são nominais, isto é, taxas anuais. 131 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 Também é interessante observar que o rendimento fi nanceiro desses papéis vai aumentando em função do risco e de sua facilidade de se converter em “caixa”. Os de menor rendimento são os títulos do tesouro norte-americano, e os que possuem maior rendimento são os títulos privados. Isso é refl exo do risco desses papéis, os de menor risco são os do tesouro e os de maior risco são os privados, o mesmo acontece aqui no Brasil e em qualquer país do mundo que possua um mercado fi nanceiro bem estruturado. Um segundo fator de rendimento da taxa é a facilidade destes papéis para se tornar caixa, quanto maior sua rapidez de se tornar caixa, menor será também o rendimento da taxa, ou seja, uma maior taxa poderia representar um maior desconto de juros para conseguir liquidar esse papel. Até agora temos falado sobre a gestão da tesouraria considerando empresas médias e grandes, mas no contexto de microempresas e inclusive no contexto pessoal, como seria uma gestão da tesouraria a menor escala? Vamos ler um pouco sobre fi nanças pessoais? Megan Laure, uma enfermeira de 25 anos de idade, trabalha em um hospital que efetua seu pagamento a cada duas semanas por meio de depósito em uma conta corrente, que não paga juros nem exige saldo mínimo. Ela recebe cerca de $ 1800 líquidos quinzenalmente, ou cerca de $ 3600 por mês, e mantém em contracorrente um saldo aproximado de $ 1500. Sempre que esse valor é ultrapassado, ela transfere o excedente para a conta de poupança, que, atualmente, paga juros anuais de 1,5%. Seu saldo de poupança atual é de $ 17.000, e ela estima transferir cerca de $ 600 por mês da contracorrente para a de poupança. Megan paga suas contas assim que recebe. O total mensal das contas é, em média, de $ 1.900 e as saídas mensais de caixa com alimentação e gasolina totalizam aproximadamente $ 900. Uma análise dos pagamentos de contas de Megan indica que ela paga com oito dias de antecedência, em média. A maioria dos títulos negociáveis rende, atualmente, juros anuais de aproximadamente 4,2%. Megan está interessada em saber como poderia gerenciar melhor seus saldos de caixa e conversa com a irmã, formada em fi nanças. Juntas, as duas imaginam três maneiras de Megan gerenciar melhor seu saldo de caixa: 132 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO 1 Investir os saldos correntes. Megan pode transferir o saldo de sua conta de poupança para um título negociável líquido, elevando a taxa de juros recebidade 1,5% para cerca de 4,2%. Com isso, elevará, imediatamente, seus ganhos anuais com juros em cerca de $ 460 [(0,042 – 0,015) x $ 17000. 2 Investir os excedentes mensais. Megan pode transferir $ 600 mensais de sua contracorrente para o título negociável líquido, elevando o ganho anual sobre cada transferência em cerca de $ 16 [(0,042 – 0,015) x $ 600], o que, para as 12 transferências, geraria ganho anual adicional de aproximadamente $ 192 (12 meses x $ 16). 3 Retardamentos dos pagamentos. Em vez de pagar as contas assim que as recebe, Megan poderia pagá-las na data de vencimento. Com isto, ela ganharia oito dias de fl oat por mês, ou 96 dias ao ano (8 dias por mês x 12 meses) sobre uma média de $ 1900 em contas. Supondo-se que possa receber juros anuais de 4,2% sobre os $ 1.900, o retardamento dos pagamentos pouparia a ela cerca de $ 21 ao ano [(96/365) x 0,042 x $ 1900]. Com base nessas recomendações, Megan aumentaria seus ganhos anuais em um total de cerca de $ 673 ($ 460 + $ 192 + $ 21). Evidentemente, ela pode ampliar seus ganhos, se gerenciar melhor seus saldos de caixa. Fonte: Gitman (2010, p. 569). Neste exemplo, Gitman (2010) expõe que pequenos saldos que vão se acumulando ao longo do ano na gestão do capital de giro podem representar uma perda de custo de oportunidade de investir esses valores no mercado fi nanceiro. Eis aqui um claro exemplo da importância de se ter estratégias de gestão de saldos em caixa, seja para microempresa, pequena ou grande empresa. Para um microempresário, por exemplo, gerar réditos fi nanceiros de mais de R$ 600 ao ano recorrentes da gestão de saldos “imperceptíveis” vem a ser um valor representativo! 133 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 11 GESTÃO DE INVESTIR SALDOS EM CAIXA VERSUS AUMENTAR O CAPITAL DE GIRO Muitas vezes, as empresas fi cam se perguntando se será melhor apertar o capital de giro e assim ter maior saldo em caixa? Ou se será melhor: • Aproveitar o crédito dos fornecedores, ou seja, aumentar o prazo médio de pagamentos aos fornecedores e/ou fazer essas compras à vista? • Reduzir o crédito aos clientes, ou seja, diminuir o prazo médio das contas a receber e/ou vender a vista? • Reduzir os estoques mínimos? Todas essas decisões possuem impacto direto na conversão de caixa (Ciclo Financeiro-CF) e no aumento ou diminuição do capital de giro. Se aumentar o capital de giro, haverá menor saldo em caixa, entretanto, se diminuir, haverá maior saldo em caixa, simples assim. Em termos fi nanceiros, excluindo fatores de decisões operativos e de vendas, a resposta para essas perguntas está na Taxa Mínima de Atratividade (TMA). O que é essa TMA? É uma taxa referencial para comparar diversos tipos de investimentos, vamos dar uma olhada? TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE (TMA) E A EXPECTATIVA DE RETORNO DO CAPITAL Todo investidor procura uma taxa mínima de retorno de seu investimento, acima dessa taxa, o investimento fi ca atrativo e ele poderia ser escolhido. Assim, essa taxa mínima para tornar o investimento interessante é a TMA. Isso quer dizer que se há uma taxa menor dessa TMA, logo, esse investidor fará outra escolha. • Vamos supor que um grupo de investidores está analisando a compra de uma empresa de alimentos processados. Em função de uma série de fatores, esses investidores desejam que esse projeto (a compra de empresa) possa gerar uma TMA de pelo menos 26%. 134 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO ο Se o Valor Presente Líquido do fl uxo projetado desse projeto representar uma taxa de retorno maior que dessa TMA de 26%, logo, o projeto se torna “interessante”, e se as projeções apresentadas possuem fundamento, esses investidores poderiam estar comprando a empresa em questão. ο Se o Valor Presente Líquido do fl uxo projetado desse projeto representar uma taxa de retorno menor que dessa TMA de 26%, logo, esses investidores, simplesmente, procurarão outra alternativa de investimento. Observe que para existir uma TMA deve existir também, pelo menos, mais uma (ou mais) alternativas de investimento. Isto quer dizer que toda vez que há uma escolha de investimento, o investidor abandona outra. Deste modo, a TMA representa a análise do Custo de Oportunidade entre diversas opções de rendimentos fi nanceiros. No contexto da tomada de decisão dentro de uma empresa: • Uma empresa tem a oportunidade de investir R$ 150.000,00 de seu patrimônio em diversos papéis fi nanceiros, gerando um rendimento de 14% ao ano. Entretanto, a empresa está analisando também ampliar seu negócio para novos mercados. O valor desta ampliação de mercado representa R$ 150.000,000 possuindo um retorno desse capital investido de 23%. Será que a empresa faz as melhorias ou simplesmente coloca esse capital em papéis fi nanceiros? Tudo dependerá da TMA desejada. Levando em consideração que o investimento em novos mercados possui um risco bem maior que simplesmente fazer investimentos em papéis fi nanceiros, a TMA desejada deverá ser, pelo menos, alguns pontos acima desse 14%. Assim: ο Se a TMA, ponderando o risco desses mercados, fosse igual ou menor que 23%, logo o projeto de novos mercados será aceito, isto é: se rendimento fi nanceiro >= 23%, o investimento será aceito sim. Para deixar ainda mais claro o conceito de TMA, os autores Pilão e Hummel (2003, p. 89) afi rmam que: Ainda acerca da composição da TMA, podemos afi rmar que o denominado Custo de Oportunidade é o seu ponto de partida, já que ele representa a remuneração que teríamos pelo nosso capital caso não o aplicássemos em nenhuma das alternativas de ação 135 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 analisadas. Ele pode ser, por exemplo, a renumeração paga pela caderneta de poupança, ou por um fundo de investimento, ou pelo ganho que poderemos obter com determinado processo produtivo já existente em nossa empresa etc. Portanto, em função de onde aplicaríamos nosso dinheiro, se não o colocássemos no novo negócio analisado, começaríamos a montar nossa expectativa de ganho mínimo, ou de pagamento máximo na hipótese de fi nanciamentos a serem analisados. Em síntese, por meio do custo de oportunidade, da análise do benefício- custo e da Taxa Mínima de Atratividade (TMA), é que a gestão fi nanceira possui suas ferramentas de trabalho, objetivando defi nir as rentabilidades e viabilidades de retorno de diversos tipos de situações. Fonte: O autor. No contexto do Capital de Giro, como é que podemos aplicar a TMA? Exemplifi cando, se o rendimento fi nanceiro da alternativa de fazer aquisições com desconto por compras à vista, fi ca acima da TMA, logo, será melhor escolher executar compras à vista versus investir esse saldo em caixa em Títulos Negociáveis. Assim, se a empresa decidir fazer suas compras à vista, ela entrará em contato com os fornecedores e fechará acordos para ter um desconto fi nanceiro que seja mais atrativo que a TMA em questão. O mesmo podemos dizer sobre as Contas a Receber (vendas a prazo). O que é melhor em termos fi nanceiros, vender a prazo ou vender à vista aplicando descontos? Qual será o valor desse desconto? A resposta para isso depende, primeiramente, da TMA referencial. Agora que conhecemos o que representa a TMA, podemos utilizá-la para analisar escolhas de investimento na dinâmica das operações das empresas e seu capital de giro, seja por meio das contas a receber, os estoques e/ou as contas a pagar. Observe que existem empresas que pela sua alta geração de caixa conseguem, em situações especiais, gerar maiores rentabilidades fi nanceiras através da gestão de seu capital de giro do que com seu negócio. Em termos gerais, as empresas, por meio da própria margem de operações do negócio, por meio da gestão de estoques, da gestão de contas a receber e das contas a pagar, elas podem fazer rendimentos fi nanceiros de seus saldos em caixa, alavancando assim maior rentabilidade ao patrimônio destas. É por esse motivo que muitas empresaspossuem um departamento de tesouraria com metas e objetivos de gestão, exemplo disso é o departamento de tesouraria de um banco comercial, ou de uma grande empresa de atacado. 136 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO 12 EXEMPLO DA ANÁLISE DE GESTÃO DE CAPITAL DE GIRO E GESTÃO DE CAIXA No dia a dia, as empresas devem tomar decisões sobre uma série de situações, tais como: • Será que vale a pena aumentar os estoques mínimos? Todavia, qual o custo fi nanceiro desse aumento do capital de giro? • Será que aumentando o prazo das contas a receber consigo aumentar o volume das vendas? No entanto, qual será o custo fi nanceiro de se fazer isso? • Será que reduzindo o prazo de pagamento aos fornecedores consegue- se descontos interessantes nos valores de compra das aquisições? E o custo fi nanceiro desse aumento no capital de giro? Enfi m, existem mais outros questionamentos que as empresas possuem na sua gestão operativa e administração da liquidez, na verdade, as empresas precisam de uma série de tomadas de decisões, algumas complexas e outras mais fáceis. Para nosso foco de estudo, a seguir simplifi caremos essa tomada de decisão, analisando uma situação típica: comprar à vista ou a prazo? Qual seria o custo de oportunidade de se fazer isso? Suponha que uma empresa está analisando a opção de usar parte de seu saldo em caixa de R$ 45.000,00, para aumentar seu investimento em Capital de Giro, objetivando melhorar seus rendimentos fi nanceiros. A empresa, entre suas diversas contas a pagar aos fornecedores, possui um fornecedor com o qual poderia conseguir um desconto fi nanceiro, se pagar à vista. O prazo médio de pagamento deste fornecedor é de 45 dias com um saldo a pagar médio de R$ 45.000,00. A taxa equivalente que a empresa poderia obter no mercado fi nanceiro em títulos negociáveis é de 12,08% ao ano. Por outro lado, se a empresa realizar as compras à vista, o fornecedor poderia lhe dar um desconto de 1,50% (negociável). Diante disso, será interessante para a empresa aumentar seu capital de giro em R$ 45.000,000 e assim obter o desconto do fornecedor? Para responder isto, devemos, primeiramente, defi nir qual é a TMA desta análise, logo, essa TMA deverá ser comparada à taxa de desconto. ο Neste caso, a TMA é de 12,08% ao ano, devendo ser convertida para uma taxa proporcional ao prazo das contas a pagar, isto é, 45 dias. Assim, a taxa proporcional desta TMA é de 1.51% por cada 45 dias, isto é: 1,51% = 12,08% 360 dias x 45 dias. 137 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 A princípio, esse 1,50% parece menor que a TMA de 1,51%, logo, para a empresa, será melhor manter as compras a prazo e não aumentar o investimento em capital de giro, e deixar esse saldo em títulos negociáveis. Será mesmo assim que esse desconto de 1,50% gera um menor rendimento? Vamos conferir! ο Se o fornecedor conceder um desconto de 1,5% nas compras à vista, isso vai nos dar os seguintes valores da análise fi nanceira: • Valor Nominal ou Valor de Face (N): Neste caso R$ 45.000,00 em duplicatas. • Prazo da operação (N): 45 dias. • Taxa da operação (i): 1,5% a cada 45 dias 0,03333% = 1,5% 60 dias . • Desconto (?) Desconto = N x i x n d = R$ 45.000,00 x 0,03333% 100 x 45 Desconto R$ 675,00 • Valor Líquido (?) R$ 44.325 = R$ 45.000,00 - R$ 675,00. ο Agora, se o valor líquido é de R$ 44.325,00, logo, o rendimento do investimento real em capital de giro não é R$ 45.000,00. Esse é o valor a se pagar ao fornecedor daqui a 45 dias, ou seja, esse é o valor nominal, ou “Face Value”. O valor do investimento comparativo em capital de giro será de R$ 44.325,00, portanto, a taxa desse investimento não é 1,50% em 45 dias, pela simples observação será um pouco maior, mas de quanto? ο Juros = Capital x taxa (i) x prazo (n). Neste caso: ο Juros = R$ 675,00; Capital = R$ 44.325,00, Taxa (i) “?”; prazo (n) = 45 dias. Então: ο R$ 675,00 = R$ 44.325 x (i) x 45 dias, se fazer despeje nesta equação temos que: • = R$ 675,00 R$ 44,325 x 45 dias ( i ) = 0,000338409 • 1,52% = 0,000338409 x 45 dias x 100 • Assim, a partir de nossa análise, a empresa poderia entrar em negociações com o fornecedor e solicitar um desconto no comprar à vista. O importante desta análise é que: 138 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO ο A empresa deverá procurar um desconto que seja igual ou maior que 1,50% pelas suas compras atuais que possuem 45 dias de prazo de pagamento. Isto é: desconto >= 1.5%, prazo 45 dias. ο A empresa poderia fazer uma proposta de desconto de 2,5%. Sendo que seu piso máximo de negociação será 1,5% abaixo disso. Para a empresa será melhor continuar com suas compras atuais que possuem prazo de 45 dias. Resumindo nosso exemplo, a TMA de 12,08% será o ponto de partida para analisar o Custo de Oportunidade desta situação. Se a empresa optar pelas compras à vista: o Seu custo será deixar de fazer o investimento em títulos negociáveis e perder esse rendimento fi nanceiro. o Sua oportunidade será conseguir um desconto igual ou maior que 1,5% de seu fornecedor. Essa comparação é a essência da análise de Custo de Oportunidade, ou seja: ganhar uma oportunidade, “a escolha”, em detrimento da outra opção “não escolhida”. É um conceito simples e básico de economia, mas pode envolver análises bem complexas. Aliás, o Custo de Oportunidade é aplicado em diversas situações fi nanceiras, econômicas, comerciais, inclusive de nossa vida pessoal. A simples escolha de ir ao cinema ou sair com os amigos para jogar futebol envolve este conceito. Se escolher ir ao cinema, você perderá a oportunidade de sair com seus amigos, mas poderá ter a oportunidade de ir ao cinema com sua namorada, esposa e/ou fi lhos. Em resumo, neste tópico você teve a oportunidade de estudar sobre: • Como levantar um fl uxo de caixa operativo projetado? Para isso, deve-se levar em consideração as diferentes evoluções das entradas e saídas de caixa, ano a ano, e inclusive mês a mês durante o período de vida estimado do projeto. • Como diferenciar as diferentes contas detalhadas no fl uxo de caixa operativo projetado de um projeto, onde temos: Investimento Inicial, considerado a grande saída de caixa inicial; as Entradas Operativas, as vendas a prazo cobradas; as Saídas Operacionais, os custos e gastos efetivamente pagos? • Como levantar o processo de avaliação de capital de giro e seu vínculo com o fl uxo de caixa, em função das necessidades operativas? • A dinâmica da taxa mínima de atratividade (TMA) no contexto de custo de oportunidade do dinheiro nas atividades operacionais. Ganhar uma oportunidade, “a escolha”, em detrimento da outra opção “não escolhida”. É um conceito simples e básico de economia, mas pode envolver análises bem complexas. 139 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 13 FONTES DE FINANCIAMENTO DE CURTO PRAZO No tópico anterior, estudamos sobre como administrar saldos em caixa, ou seja, a empresa tem seu capital de giro sob controle. Todavia, em situações que o capital de giro fi ca escasso, como a empresa deverá operar? Observe que um negócio pode adiar o investimento em um novo equipamento, pode adiar diversas necessidades da gestão, mas o capital de giro é o que faz o negócio girar, literalmente. Se uma empresa não conseguir capital de giro para operar, pelo menos o mínimo necessário, simplesmente ela para de produzir e em um prazo curto de tempo deverá liquidar suas operações, simples assim. Analogicamente, é como nosso coração, se ele parar de bombear sangue ao nosso corpo, todo nosso sistema sucumbe, e em questão de minutos estaremos tecnicamente mortos. O mesmo acontece com as empresas, quando elas estão com pouca geração de caixa, entram em uma fase delicada, se a coisa se agravar, pode ter um infarto, e se piorar mais ainda ela terá uma parada cardíaca de liquidez e, por último, se essa parada cardíaca durar além do tecnicamente viável, elaentra em falência. Desta analogia podemos deduzir que manter sob controle o capital de giro é essencial para uma empresa continuar operando. Existem experiências de empresas com altos índices de rendimentos, e lucros, que por questões de má administração do capital de giro tiveram que fechar suas portas. Observe que: Os fl uxos de entrada e saída de caixa são imprevisíveis, com o grau de previsibilidade variando entre as empresas e os setores. Desse modo, as empresas precisam manter algum caixa de reserva para fl utuações imprevistas e aleatórias nos fl uxos de entrada e de saída. Esses “estoques de segurança” são denominados saldos de precaução, e quanto menos previsíveis os fl uxos de caixa de uma empresa, maiores devem ser esses saldos. No entanto, se a empresa tiver fácil acesso para tomar fundos emprestados – ou seja, se consegue um empréstimo com curto prazo de aviso antecipado -, sua necessidade de saldos de precaução será reduzida. (BRIGHAM; EHRHARDT, 2010, p.845) Conforme Brigham e Ehrhardt (2010), as empresas, em função do nível oscilação de seu fl uxo de caixa, devem ter um leque de possibilidades para fi nanciar necessidades de liquidez que possam comprometer seu capital de giro, mas isso vamos estudar mais para frente, isto é, estratégias para levantar liquidez nos momentos de necessidade. No entanto, será que muitas empresas poderiam passar por uma situação destas? Algumas passaram por essa situação crítica, mas em um contexto operativo do dia a dia, a maioria das empresas deve fi car de olho, conforme as particularidades de cada negócio. Manter sob controle o capital de giro é essencial para uma empresa continuar operando. 140 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Devemos observar que faz parte, dentro do contexto dos ciclos operacionais, e de vendas, as empresas terem meses de geração de caixa negativo, são poucos os negócios que mantêm “sempre” geração de caixa positivo recorrente de suas operações. A chave disto é saber identifi car quais são esses ciclos de geração de caixa negativa, prevendo estratégias para que a empresa possa desenhar alternativas de fi nanciamento da gestão do capital de giro. Por isso a necessidade de administrar bem o fl uxo de caixa operacional dentro de uma conversão de caixa (Ciclo Financeiro) ideal, assim, projetar quando a empresa terá saldos em caixa e quando não. Neste tópico, estudaremos quais as fontes de fi nanciamento para manter esse capital de giro “vivo” e não deixar ele entrar em cuidados intensivos. 14 FONTES DE LIQUIDEZ DO MESMO CAPITAL DE GIRO OU DE TERCEIROS As fontes de capital de giro podem vir da própria conversão de caixa. Vamos relembrar o ciclo fi nanceiro (CO), estudado no Capítulo 2: • Compras-Estoques: a empresa precisa adquirir todas as matérias-primas, insumos e outros materiais para poder iniciar seu processo de transformação desses materiais em mercadorias e serviços para seus clientes. Esse processo gera o prazo médio de estoques, o PME. • Processo de transformação: as operações da empresa focam na geração de mercadorias e serviços para serem vendidos. Isso gera o Prazo Médio de Transformação, o PMT. Uma vez que os próprios processos industriais determinam o PMT, fi ca estabelecido um certo valor de dias da conversação de caixa destinado para esse objetivo, daí a importância de manter as máquinas/equipamento industrial em bom estado (horas- máquina), e o recurso humano com uma boa produtividade (horas-homem). E se uma empresa melhorar sua produtividade? Seu PMT fi cará mais curto, signifi cando uma melhor conversão de caixa e menor necessidade de capital de giro. Segundo Brigham e Ehrhardt (2006, p. 838), “ [...] se uma nova tecnologia tornar possível a um fabricante acelerar a produção de determinado produto de dez para cinco dias, o seu estoque de produtos em processo de fabricação pode ser reduzido pela metade”. • Processo de venda: grande parte das vendas acontecem a prazo, o que gera o prazo médio das duplicatas, o PMR. 141 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 • Prazo médio de pagamento: grande parte das compras aos fornecedores acontecem a prazo, o que gera o PMP. Desses prazos médios é que a empresa consegue obter seu Ciclo Financeiro, e seus valores monetários serão determinados em função da própria dinâmica das operações, gerando um saldo positivo dessa Conversão de Caixa. Nesse sentido, podemos supor que a empresa compre seus insumos dos fornecedores para gerar valor agregado sobre esses insumos e vender por um preço maior que consiga cobrir custos e despesas e ainda deixar um “saldo” (lucro). Esse saldo será produto da própria dinâmica da conversão de caixa. Por isso a primeira fonte do capital de giro, objetivando cobrir o investimento feito neste e que possa permitir acumular saldos em caixa que logo irão ser classifi cados como lucros na DRE. Mas o que acontece quando a conversão de caixa é negativa? Observe que ela pode ser negativa por diversos motivos, tais como: • Aumento das vendas: esse aumento do volume de vendas gera um aumento no investimento do capital de giro, o que gera uma necessidade pontual de caixa, que logo será fi nanciada pela própria conversão de caixa. • Aumento dos prazos médios tanto dos estoques como das contas a receber: esse aumento gera maior investimento em capital de giro, que também será fi nanciado pela própria conversão de caixa. • Necessidades cíclicas do próprio negócio: o próprio volume de vendas cíclico faz com que muitos negócios precisem fazer gestão de caixa de meses negativos e logo de meses positivos. Imagine uma fábrica de brinquedos, suas maiores vendas acontecem em outubro (no dia das crianças) e no Natal. No entanto, essa fábrica precisa ter os brinquedos prontos para essas duas altas épocas de venda, ou seja, precisam de capital de giro para produzir, estocar e aguardar que suas vendas possam vir a acontecer dentro do esperado nessas duas datas. Diante desses ciclos de caixa adversos, as empresas possuem uma segunda fonte de capital de giro, a gestão dos passivos circulantes (capital de terceiros de curto prazo), tais como empréstimos bancários de curto prazo, fi nanciamento de fornecedores, entre outros, neste tópico, focaremos na gestão dos passivos circulantes. E a terceira fonte de capital de giro será de quem? Dos próprios donos, ou acionistas, assim, se não houver outra alternativa, os donos irão precisar fi nanciar qualquer aumento do capital de giro. 142 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO 15 PASSIVO CIRCULANTE COMO FONTE DE CAPITAL DE GIRO Dentro do passivo circulante existem contas necessárias da própria conversão de caixa, que podem ser administradas para aumentar ou diminuir o investimento em capital de giro, ou passivos espontâneos. Essas contas são: contas a pagar aos fornecedores e despesas a pagar (salários e impostos principalmente). Segundo o autor Gitman (2010, p. 582): Os passivos espontâneos originam-se das atividades rotineiras da empresa. As duas principais fontes espontâneas de fi nanciamento de curto prazo são contas a pagar a fornecedores e as despesas a pagar. O aumento das vendas de uma empresa provoca o crescimento de suas contas a pagar, em reação ao maior volume de compras necessário para atender aos maiores níveis de produção. As despesas a pagar também aumentam em decorrência da elevação da folha de pagamento e dos impostos devidos. Esses dois tipos de conta normalmente não representam geração de custo fi nanceiro (juros), pelos menos explícito. A compra de insumos gera duplicatas a serem pagas aos fornecedores, aí aparentemente não há custo fi nanceiro “explícito”, mas, e se a empresa conseguir pagar à vista pelas suas aquisições? Provavelmente, o fornecedor concederá algum desconto, gerando uma redução do preço de compra, essa diferença entre o valor das faturas a prazo e as compras à vista, gera um custo fi nanceiro implícito, porém, muitas vezes, pornão ser muito evidente, as empresas deixam passar. Lembra do nosso exemplo do tópico anterior do desconto de 1,50% sobre as compras à vista? Eis um claro exemplo disto! 16 CONTAS A PAGAR E CONTAS A RECEBER COMO FONTES DE CAPITAL DE GIRO Conforme vem se estudando, tanto as contas a pagar quanto as contas a receber fazem parte da conversão de caixa. Exemplifi cando, se uma empresa tiver necessidade de liquidez, uma alternativa poderia ser simplesmente dilatar o prazo médio de pagamento aos fornecedores de 30 para 36 dias. Esses seis dias a mais poderiam representar um saldo adicional em caixa. Suponha que essa empresa possua R$ 150.000,00 dessas contas a serem pagas em 30 dias, logo, esses 6 dias a mais representaria um adicional em caixa pelo valor de R$ 30.000,00, ou seja: R$ 30.000,00 = R$ 150.000 30 dias x 6 dias . Vamos ver um case sobre isto? 143 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 A Max company tinha um prazo médio de pagamento de 35 dias (sendo 30 dias até o envio do pagamento, mais cinco dias de fl oat), resultando em contas a pagar médias de $ 467.466,00. Assim, as contas a pagar geradas diariamente pela MAX atingiram $13.356,00 ($ 467.466,00/35). Se ela enviasse seus pagamentos em 35 dias em vez de 30 dias, suas contas a pagar aumentariam em $ 66.780,00 (5 x $ 13.356,00). Com isso, seu ciclo de conversão de caixa diminuiria em cinco dias e seu investimento em operações seria reduzido em $ 66.780,00. É evidente que isso benefi ciaria a MAX, desde que não prejudicasse seu rating de crédito. Fonte: Gitman (2010, p. 583). Neste exemplo do autor Gitman (2010), podemos conferir, de maneira clara, o que se pode fazer com as contas a pagar para aumentar o saldo em caixa. Esse jogo de ampliar os prazos das contas a pagar também pode ser feito com as contas do ciclo operativo do ativo circulante, ou seja, as contas a receber (vendas a prazo) e os estoques, mas será que aumentando o prazo médio destas contas conseguimos o mesmo efeito que com as contas a pagar com os fornecedores? A lógica dentro da dinâmica da conversão de caixa é exatamente a mesma, mas no sentido contrário, ou seja, para aumentar o saldo em caixa, a empresa deverá diminuir esses prazos médios para assim girar mais rápido a cobrança das vendas a prazo. Imagine uma empresa que possua um saldo médio de contas a receber de 40 dias e um prazo médio de estoques de 15 dias, sendo que essa empresa poderia diminuir esses prazos médios de 40 para 33 dias, e de 15 para 10 dias respectivamente. Levando em consideração que os valores dessas contas são de R$ 200.000,00 para as contas a receber e de R$ 60.000,00 para os estoques. Nessas novas condições, qual seria o valor adicional em caixa? • Contas a receber o aumento no saldo em caixa seria por esses 7 dias a menos seria de R$ 22.500,00, ou seja: R$ 35.000,00 = R$ 200.000 40 dias x 7 dias . • Estoques o aumento no saldo em caixa seria por esses 5 dias a menos seria de R$ 20.000,00, ou seja: R$ 20.000 = R$ 60.000 15 dias x 5 dias . Ao todo, neste exemplo, a empresa poderia conseguir levantar R$ 55.000,00 para suas necessidades de liquidez. Em resumo, se a empresa desejar aumentar 144 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO seu saldo em caixa, ela pode mexer nas suas contas que fazem parte de sua conversão de caixa, conforme estudamos no Capítulo 2, isto é: • Conversão de Caixa: Prazo Médio de Estoques + Prazo Médio do Processos de Transformação + Contas a Receber – Prazo Médio das Contas a Pagar. Assim, no momento de precisar maiores saldos em caixa dentro de um contexto operativo, a empresa pode mexer em uma ou em todas essas contas, desde que não mexa nos custos operacionais. 17 CAPITAL DE TERCEIROS COMO FONTE DE FINANCIAMENTO Em função do custo de capital e das necessidades de recursos fi nanceiros de curto prazo, as empresas costumam optar por um mix de possibilidades para levantar fundos de curto prazo, seja por meio da própria mudança dos prazos médios das contas da conversão de caixa, e/ou seja pelo uso de empréstimos de curto prazo. No caso dos empréstimos de curto prazo, as empresas possuem várias opções, entre as principais: empréstimos de curto prazo sem garantias e empréstimos com garantias conforme iremos estudar. 18 EMPRÉSTIMOS DE CURTO PRAZO SEM GARANTIAS As empresas podem obter empréstimos de curto prazo sem garantias por meio das instituições fi nanceiras e por meio de notas promissórias (commercial papers). A grande diferença entre estas duas maneiras de fi nanciamento é que os empréstimos das instituições fi nanceiras estão disponíveis para qualquer tipo de empresa, seja empresa pessoal, microempresa, empresa pequena, média e/ ou de grande porte. Entretanto, os commercial papers são usados pelas grandes empresas que atuam diretamente no mercado de valores, ou seja, as Sociedades Anônimas (S.A.) de capital aberto que atuam em bolsa. A modalidade de fonte de recursos de curto prazo mais comum ofertada pelas instituições fi nanceiras é o empréstimo autoliquidável de curto prazo, cujo objetivo é ajudar nas necessidades de caixa de curto prazo. Segundo o autor Gitman (2010, p. 587), esta modalidade de empréstimo: 145 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 [...] tem por objetivo simplesmente ajudar as empresas a superar picos sazonais de necessidade de fi nanciamento, sobretudo decorrentes do acúmulo de estoques e de contas a receber. À medida que os estoques e os recebíveis são convertidos em caixa, geram-se fundos necessários para liquidar esses empréstimos. Em outras palavras, o uso a que são dedicados os fundos emprestados fornece o mecanismo pelo qual o empréstimo é pago – daí o termo auto liquidável. Assim, para que a empresa possa administrar bem esses recursos emprestados, elas devem conhecer integralmente seu ciclo de capital de giro representado pela dinâmica de conversão de caixa que você vem estudando ao longo deste livro de estudos. Em resumo, existem três grandes grupos de empréstimos sem garantia de curto prazo, sendo eles: notas promissórias de pagamento único, linhas de crédito, créditos rotativos de capital de giro. • Notas promissórias de pagamento único: este tipo de empréstimo é utilizado para fi nalidades específi cas de curto prazo. Nestes casos, a empresa assina uma nota promissória com os detalhes e as condições do empréstimo, especifi cando o valor emprestado, o prazo e os juros a serem pagos. Os prazos deste tipo de empréstimos costumam ser entre 30 a 180 dias, sendo que os juros são atrelados à taxa básica Selic. • Linhas de crédito: as linhas de crédito são contratos de empréstimos pré-aprovados por um valor determinado que a empresa pode usar de maneira rotativa, bem semelhante ao uso de um cartão de crédito que possui um valor a ser utilizado pelo consumidor. Os prazos destas linhas de crédito costumam ser de um ano, conseguindo ser renovados em função das necessidades de cliente a da disponibilidade de fundos da instituição fi nanceira. Este tipo de crédito é utilizado pelas empresas para solucionar necessidades de capital de giro, tais como linha de crédito para compra de mercadoria importada e/ou de origem nacional. A taxa de juros sobre uma linha de crédito costuma ser estipulada como fl utuante – a taxa básica mais um prémio. Se a taxa básica mudar, a taxa de juros sobre novos usos da linha e sobre o saldo devedor existente mudará automaticamente. O valor cobrado do devedor acima da taxa básica depende de sua qualidade de crédito (GITMAN, 2010, p. 590). • Créditos rotativos de capital de giro: este tipo de crédito é feito por meio de um contrato de crédito rotativo, o qual garante à empresa os fundos até o valor aprovado, independente da escassez de dinheiro. É um tipo de crédito bem semelhante às linhas de crédito, mas a diferença é a garantia de fundos e os prazos que podem ser maiores de um ano. “Como o banco garante a disponibilidade de fundos, os contratosde crédito rotativo, normalmente, exigem o pagamento de uma taxa de compromisso” (GITMAN, 2010, p. 590). 146 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Um dos maiores usos deste tipo de empréstimo é nas necessidades de capital de giro utilizado nas importações e/ou nas compras nacionais de matéria-prima, insumos, embalagens etc. Outra necessidade de liquidez que as empresas costumam ter, é quando elas estão aumentando o volume de suas vendas. Observe que ao aumentar suas vendas elas precisam de maiores volumes nas suas ordens de compra, isso faz aumentar tanto o saldo das contas a pagar como o saldo das contas a receber, resultado? Aumento no investimento do capital de giro, eis a procura de empréstimos de curto prazo por parte das empresas quando a economia entra em um ciclo de crescimento. O mesmo acontece ao contrário, quando as empresas observam queda nas vendas, elas começam descapitalizando o Capital de Giro, pois haverá uma menor necessidade de recursos na produção. Ao aumentar suas vendas elas precisam de maiores volumes nas suas ordens de compra, isso faz aumentar tanto o saldo das contas a pagar como o saldo das contas a receber, resultado? Aumento no investimento do capital de giro, eis a procura de empréstimos de curto prazo por parte das empresas quando a economia entra em um ciclo de crescimento. 19 NOTAS PROMISSÓRIAS COMERCIAIS (COMMERCIAL PAPERS) O commercial papers é um tipo de fi nanciamento de terceiros sem a necessidade da intermediação de um banco. As empresas que levantam fundos por este meio vão direto ao mercado de valores, conseguindo taxas bem mais baixas. Todavia é um mercado para empresas de grande porte e solidez fi nanceira que seja comprovada por uma auditoria externa reconhecida, esse é o tipo de empresa que consegue emitir Commercial Papers. Os prazos destes fundos oscilam em curtíssimo prazo (a partir de 3 dias) até 270 dias, e os valores a serem negociados costumam ser múltiplos de R$ 100.000,00, ou seja, são títulos com valor muito alto que só empresas de grande porte atuam. Empresas multinacionais, as maiores empresas brasileiras e as instituições fi nanceiras são os demandantes deste tipo de meio de fi nanciamento. A dinâmica dos juros do commercial papers funciona da seguinte maneira: “os commercial papers são vendidos com deságio em relação ao seu valor de face. O tamanho do deságio e o prazo até o vencimento determinam os juros pagos pelo emissor dos títulos” (GITMAN, 2010, p. 592). Curiosidade! Quer saber mais sobre esse interessante meio de fi nanciamento, os commercial papers e toda sua dinâmica no mercado de valores? Acesse aqui: <https://goo.gl/t7Lcta>. 147 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 20 EMPRÉSTIMOS DE CURTO PRAZO COM GARANTIAS - DESCONTO DE CONTAS A RECEBER Como vem se falando, as duplicatas a receber recorrentes das vendas a prazo podem virar fontes de empréstimos para suprir necessidades de caixa operativo. O desconto das contas a receber é uma das maneiras mais utilizadas para conseguir fundos de curto prazo. O processo de empréstimo é simples, primeiramente, a instituição fi nanceira avalia a qualidade dessas duplicatas, logo, faz uma ponderação de valores e prazos dessas duplicatas, e é cobrado uma taxa de juros em função do risco da empresa, a qualidade das duplicatas e as taxas no momento do empréstimo. Vamos ver um exemplo? A empresa Queijo do Vale Alto possui um bloco de faturas com os seguintes valores e prazos de vencimento. A empresa deseja vender essas duplicatas para seu banco e assim, levantar fundos, o detalhe destas duplicatas são: Quadro 11 – Prazo Médio das Contas a Receber, Queijo do Vale Alto Fonte: O autor. Então, agora sabemos que a empresa demorará, na média, 28 dias em recuperar essas vendas a prazo, sendo que esses 28 dias fazem parte do Ciclo Financeiro (Conversão de Caixa), ou seja, do investimento em Capital de Giro, assim, se conseguir tirar esses valores da conversão de caixa, logo, a empresa consegue levantar fundos. Nesse sentido, se o banco da empresa pode descontar essas duplicatas a uma taxa de desconto de 2.5% ao mês, qual será o valor líquido da operação? Em função dos dados apresentados, tem-se: 148 ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO • Valor Duplicatas: R$ 126.670. • Prazo Médio: 28,2366. • Taxa de desconto: 2,5% ao mês. Solução: • Desconto = Valor Duplicatas x Taxa de Desconto x prazo. • Desconto = R$ 126.670 x 2,5/100 30 dias x 28,2366 dias = R$ 2.980,61. • Valor Líquido a Receber = Valor Duplicatas – Desconto. • Valor Líquido a Receber = R$ 126.670,00 - R$ 2.980,61. • Valor Líquido a Receber = R$ 126.670,00 - R$ 2.980,97 = R$ 123.689,39. • Então, a empresa receberá R$ 123.689,39. Se observar, esse valor líquido a se receber é referencial, recorrente da venda dessas duplicatas. No entanto, no contrato desta operação fi nanceira deverá fi car todo o detalhe de desconto de cada uma dessas duplicatas, conforme podemos observar a seguir: Quadro 12 – Cálculo detalhado do desconto de duplicatas Fonte: O autor. O foco comparativo de se fazer os dois métodos de cálculo é de conferir que, por meio da ponderação dos prazos, o gestor fi nanceiro tem uma maneira de calcular rapidamente o desconto fi nanceiro deste tipo de operação fi nanceira, sem ter que entrar no detalhe do desconto de cada uma das duplicatas. Imagine uma operação destas que possa envolver mais de 1000 faturas? Aí vai se complicar, assim, é mais fácil pegar o prazo médio ponderado e analisar as alternativas para levantar fundos. 149 FONTES DO CAPITAL DE GIRO Capítulo 4 Conforme estudaremos logo a seguir, no mercado fi nanceiro, existe um tipo de serviço fi nanceiro específi co para este tipo de compra de faturas, o factoring. O factoring parte do mesmo princípio, mas a grande diferença é que, no caso do factoring, a empresa, literalmente, vende as faturas, liberando-se de qualquer risco de falta de pagamento dos clientes, se eles não pagarem será o banco que deverá fazer a cobrança, eis a grande diferença conforme estudaremos a seguir. Em termos fi nanceiros, o factoring é um produto fi nanceiro comum que mexe com mercados futuros. Curiosidades! No mundo fi nanceiro existe toda uma dinâmica para assegurar preços futuros, entre estes, a taxa de câmbio futura, conhecido como swap cambial. Este tipo de produto oferece garantias de preços estáveis de mercadorias comercializadas internacionalmente às empresas, ajudando-lhes nas suas necessidades da liquidez. Ficou curioso? O economista Fernando Nogueira faz toda uma explicação de como funciona as operações fi nanceiras para cobertura do risco cambiário, no seguinte site: <https://goo.gl/e415kt>. 21 FACTORING O factoring é um sistema de fi nanciamento que utiliza o desconto de faturas futuras e/ou duplicatas, como fonte de fi nanciamento às empresas industriais, comerciais e até de serviços. A ideia do factoring é utilizar os valores das contas a receber assim que as vendas vão acontecendo e não ter que aguardar até o vencimento destas, isso faz uma grande diferença na conversão de caixa das empresas. Em muitos detalhes, o factoring é semelhante aos descontos em duplicatas, mas, no caso do factoring, a instituição fi nanceira literalmente compra as faturas da empresa que deseja levantar fundos. Neste sentido, é de responsabilidade da instituição fi nanceira fazer a gestão de cobrança caso a conta a receber não seja paga na data de seu vencimento. Pelo geral, muitas instituições fi nanceiras possuem departamentos especializados em factoring, inclusive, existem empresas que seu único foco de negócio é o factoring, tanto nacional como internacional, a instituição fi nanceira que oferece o serviço de factoring é conhecida como “factor”. No comércio internacional, tem-se diversas instituições fi nanceiras que trabalham com factoring, tais como: é de responsabilidade da instituição fi nanceira
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