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Proteção Jurídica dos Animais - Brasil Escola

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15/06/2021 23:10Proteção Jurídica dos Animais - Brasil Escola
Página 1 de 30https://monografias.brasilescola.uol.com.br/imprimir/16183
Proteção Jurídica dos Animais
A legislação que protege os animais no Brasil, especificamente sua eficácia no combate aos
maus-tratos e crueldades contra os animais; estudo de como os animais são rotulados e
enxergados no direito brasileiro, assim como as consequências jurídicas desta classificação.
RESUMO
O presente trabalho aborda a legislação que protege os animais no Brasil, especificamente se tais mandamentos se
mostram eficazes no combate aos maus-tratos e crueldades contra os animais. Almeja também estudar como os animais
são rotulados e enxergados no direito brasileiro, bem como as consequências jurídicas desta classificação. A ideia da
produção deste trabalho surgiu em razão da classificação dada aos animais como ‘’coisa’’ pelo ordenamento jurídico
brasileiro, fato que faz com que as penas para quem maltrata os animais sejam extremamente brandas, gerando
impunidade. O trabalho foi elaborado lançando-se mão do tipo de pesquisa exploratório e explicativa, com o objetivo de
identificar um possível problema na legislação. A finalidade da pesquisa foi majoritariamente qualitativa, porém também
apresentou cunho quantitativo. Foram utilizados, para subsidiar a pesquisa bibliográfica, dados quantitativos, opinativos,
teóricos e conceituais. Os dados foram obtidos através de fontes secundárias, por meio de consulta a livros, legislações,
jurisprudência, literaturas relacionadas ao tema, outros trabalhos de conclusão de curso e pesquisas virtuais. Desse modo,
o presente trabalho buscou gerar uma reflexão acerca da eficácia da legislação atual que protege os animais e de como
estes são seres vulneráveis e tratados com tanta indiferença, precisando, portanto, da tutela do Homem.
Palavras-chave: Proteção Jurídica dos Animais; Dignidade dos Animais; Direito dos Animais; Maus-tratos e Crueldade
contra Animais.
ABSTRACT
The present paper examines legislation that protects animals in Brazil, specifically if such commandments prove effective in
combating mistreatment and cruelty to animals. It also aims to study how animals are labeled and viewed in Brazilian law, as
well as the legal consequences of this classification. The idea of ​​producing this paper came about because of the
classification given to animals as a 'thing' by the Brazilian legal system, a fact that makes the penalties for those who
mistreat the animals extremely soft, generating impunity. The end-of-course written paper was elaborated using the type of
exploratory and explanatory research, in order to identify a possible problem in the legislation. The purpose of the research
was mostly qualitative, but also quantitative. Quantitative, opinionated, theoretical and conceptual data were used to support
bibliographical research. The data were obtained through secondary sources, through consultation of books, legislation,
jurisprudence, literature related to the topic, other works of conclusion of course and virtual researches. Thus, the present
work sought to generate a reflection about the effectiveness of current legislation that protects animals and how these are
vulnerable beings and treated with so much indifference, thus needing the protection of Man.
Keywords: Legal Protection of Animals; Dignity of Animals; Animal Rights; Ill-treatment and Cruelty to Animals.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, será abordado acerca da tutela dos animais no ordenamento jurídico brasileiro e de como a legislação que
regula a interação entre seres humanos e animais pode ser cada vez mais ética, justa e moral.
A proposta do presente trabalho, é apontar o que poderia ser feito para aperfeiçoar a legislação atual com o intuito de se pôr
fim a impunidade nos crimes de maus-tratos aos animais e de garantir o tratamento digno que lhes é merecido.
No primeiro capítulo será feita uma análise da evolução histórica da proteção animal, em que por meio dos conceitos de
antropocentrismo e ecocentrismo, será estudado o relacionamento do homem com o animal de acordo com o momento
histórico.
Após examinar a evolução histórica, o segundo capítulo tratará sobre a fauna e sua classificação técnica, para facilitar a
leitura, análise e identificação dos animais nas normas jurídicas que serão contempladas neste trabalho.
O terceiro capítulo tratará sobre a origem dos direitos dos animais, sejam eles domésticos ou domesticados, e como são
enxergados pelo Direito Brasileiro. Será objeto de capítulo também, a classificação dos animais como seres semoventes e o
contexto social dos animais domésticos, bem como suas implicações no direito.
Em função, dos crimes de maus-tratos e crueldades aos animais ainda serem muito frequentes no Brasil, no quarto
capítulo, serão examinados os crimes que submetem os animais as tais práticas degradantes, dentre os quais se destacam:
abandono de animais, tráfico de animais, farra do boi, rodeio, rinhas e vivissecção, e examinaremos também as punições
previstas na legislação e sua eficácia.
Enfim, no quinto e último capítulo, visando cumprir com o objetivo principal do trabalho, que é a análise da lei brasileira de
proteção aos animais de uma maneira a apontar onde tal legislação pode ser aperfeiçoada, será abordado sobre o modelo
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ideal de proteção aos animais.
Neste capítulo, com intuito de analisar países que possuem um melhor relacionamento com os animais, foi feita uma
pesquisa que apontou, conforme alguns critérios, quais são os países que mais protegem e os que menos protegem os
animais no mundo.
Dessa forma, o estudo realizado neste trabalho é de grande relevância, pois diante de tanta crueldade e egoísmo do ser
humano, torna-se necessária a reflexão de como os animais merecem viver de forma livre, digna e sem qualquer tipo de
sofrimento.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROTEÇÃO ANIMAL
O relacionamento do homem com os animais, está intimamente ligado à história. Dependendo do momento vivido, da
cultura e da religião adotadas na época, a maneira de enxergar o mundo se modifica.
Tal relacionamento possui origem remotas, assim, para entender melhor as teorias relacionadas à evolução história da
proteção animal, faz-se necessário a análise exposta adiante.
O Antropocentrismo
O antropocentrismo é uma visão de mundo, que surgiu na Antiga Grécia, que acredita que o ser humano é o fator mais
importante do Universo, e em razão de possuir poder de fala, nasceu para governar qualquer outra espécie1.
Assim, a maioria dos filósofos gregos acreditava na natureza como um bem a serviço exclusivamente da espécie humana,
sendo o homem a medida de todas as coisas2.
Para o Filósofo Platão, os animais e as plantas possuíam uma alma primitiva, uma vez que a alma racional seria uma
prerrogativa exclusiva da espécie humana, com exceção das mulheres, escravos e crianças, que acreditam também serem
seres inferiores3. Platão acreditava ainda que, ao tirar a vida de um ser humano, causaria uma fúria em Deus, em
contrapartida, ao tirar a vida de um animal, a fúria causada seria somente a de seu dono4.
De forma similar, Aristóteles, discípulo de Platão, acreditava que embora os animais possuíssem capacidade de sentir
prazer ou dor, esta não era uma característica tão relevante a ponto de propiciar um valor moral aos animais não-humanos,
pois o homem deveria reinar sobre os escravos e animais, inclusive sobre os animais domésticos, que, apesar serem
reconhecidos como superiores, estariam em outro nível se estivessem a serviço do homem5.
Diferentemente de Aristóteles, seu contemporâneo Pitágoras, foi o primeiro filósofo que se posicionou em favor dos
animais6. Pitágoras acreditava na transmigração da alma e abordava sobre o respeito aos animais7.
Na época em que a Igreja Católica detinha o poder, a crença judaico-cristã serviu como justificativa de sujeição dos animais,
uma vez que, segundoSanto Agostinho8 ‘’o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, possuindo poder de
dominância sobre os demais seres vivos’’9.
Posteriormente, no século XVIII, manifesta-se a atuação de novos filósofos, denominados iluministas, como René
Descartes, Thomas Hobbes, John Locke e Immanuel Kant, os quais adotaram pensamentos que corroboravam a ideia
cristã10.
Um grupo minoritário de filósofos, tinha como princípio o utilitarismo, criado por Jeremy Bentham11. A teoria utilitarista
preconiza que uma atitude será moralmente correta se tende a promover a felicidade e será imoral se tende a produzir
infelicidade12. Esta infelicidade se refere não somente ao ser humano que realizou a ação, mas também a todos os seres
que possam ser afetados por ela.
Assim, tal teoria leva em conta não somente o homem, mas também se os seres não-humanos poderão ser atingidos por
determinada ação do ser humano, levando em consideração a capacidade de sofrimento, fomentando caminhos para que a
perspectiva do homem em relação aos animais mudasse ao longo do tempo.
O Ecocentrismo
Atualmente, a teoria filosófica mais adotada é a do Ecocentrismo, que, ao contrário do antropocentrismo, preconiza que o
homem faz parte dos ecossistemas, e reconhece que outros seres também possuem direitos e merecem ser respeitados13.
Esse pensamento moderno, teve suas primeiras aparições em meados do século XVII, época em que alguns pensadores já
criticavam a concepção de que o homem estaria no centro do universo e que era superior aos demais seres vivos que
habitavam a Terra14.
Assim, entende-se atualmente que o homem é parte integrante do Universo junto aos demais seres.
Este posicionamento justifica-se pelo fato do conhecimento científico do Ser Humano ter se expandido ao catalogar novas
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espécies de organismos, animais e plantas, bem como em razão da realização de frequentes estudos a respeito da ação do
homem e suas consequências nocivas para o Planeta.
Além disso, o direito evoluiu substancialmente desde o período antropocêntrico, assim, a realidade atual é norteada pela
norma jurídica. Isso acontece pois a lei tem como finalidade harmonizar o interesse do próprio indivíduo, interesse
autocentrado, com o interesse coletivo, viabilizando a convivência equilibrada do homem com a natureza15.
Dessa forma, embora atualmente no nosso ordenamento jurídico existam normas de proteção ao meio ambiente, tendo em
vista que os seres integrantes da natureza não possuem voz para defenderem seus direitos e são parte essencial para o
equilíbrio do Planeta, é necessário que haja um aprimoramento das normas já existentes.
Para isso, se faz necessário uma classificação técnica para facilitar a análise e identificação dos animais nas normas
jurídicas que serão analisadas no transcorrer do presente trabalho.
FAUNA
A origem da palavra ‘’fauna’’ varia conforme a doutrina. Alguns doutrinadores afirmam que a palavra se origina do latim
faunus que quer dizer ‘’ente mitológico habitante de bosques e florestas’’. Outros, afirmam que sua origem é proveniente do
latim fauna que significa ‘’divindade, mulher de Faunus, deus da fecundidade dos rebanhos e dos campos’’16.
Atualmente, o conceito de fauna é tirado da Zoologia, e tido como ‘’o conjunto dos animais próprios ou de uma localidade,
região, ambiente ou período geológico’’17.
Fauna é um dos recursos ambientais preconizados pela lei 6.938/81 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente18 e é ‘’toda a vida animal em uma área, um habitat ou um estrato geológico num determinado tempo, com limites
espacial e temporal arbitrários’’19.
A Constituição Federal ao tratar da fauna, não a conceitua. Assim, é necessário apoiar-se no conceito de fauna previsto no
artigo 1º da lei 5.197/67 que dispõe sobre a proteção à fauna.
O artigo 1º da lei 5.197/67 define fauna silvestre como sendo:
“Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que
vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus
ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua
utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha’’.
Porém, a proteção constitucional não se limita exclusivamente à proteção da fauna silvestre, abrangendo também a fauna
doméstica20.
Entretanto, há posição divergente, no sentido de que esta definição não se refere à fauna doméstica21.
Analisando atentamente os entendimentos supracitados a respeito da proteção constitucional da fauna, pode-se notar que
os ilustres autores que entendem que o artigo 1º da lei 5.197/67 abrange somente a fauna silvestre, não contemplam
totalmente o verdadeiro conceito de tão complexo assunto. Dessa forma, à luz da lei 6.938/81, o conceito de fauna abrange
todas as espécies de animais, portanto, nesse prisma é imprescindível a inclusão dos animais domésticos no rol dos
animais protegidos pela Constituição.
Depreende-se, portanto, que todas as espécies de animais fazem parte da fauna. Entretanto, a proteção jurídica desse
recurso ambiental abrange, sobretudo, a fauna silvestre – terrestre e aquática, versando também, sobres animais
domésticos e exóticos22.
Classificação
Segundo Treennepohl, a proteção jurídica da fauna engloba a fauna silvestre e a fauna doméstica, que contém as espécies
de animais que, ‘’através dos tempos, por força do manejo ou da convivência tornaram-se próximas do homem, possuindo
características comportamentais de estrita dependência do mesmo’’ 23.
Assim, com relação ao seu ambiente e suas interações com o ser humano, a fauna poderá ser classificada em: silvestres,
exóticos, migratórios, domésticos e domesticados e sinantrópicos24.
Para a análise da proteção jurídica dos animais, se faz tão somente necessárias as classificações de fauna silvestre,
domésticas e domesticados, sendo as demais classificações irrelevantes para o estudo em questão.
Fauna Silvestre
De acordo com a Lei 5.197 de 3-10-1967, fauna silvestre é:
(...) formada pelo conjunto dos animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu
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desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, bem como seus ninhos,
abrigos e criadouros naturais.
São aqueles pertencentes de uma dada região que habitam a natureza, de forma independente, não necessitando do
homem para viver, isto é, não vivem em cativeiro25. São exemplos as araras, macacos e onças.
A fauna silvestre goza de uma proteção maior em virtude de ser a categoria de animais que mais sofre perigo de entrar em
extinção.
Fauna Doméstica e Domesticada
Fauna doméstica ou animais domésticos são aqueles animas que vivem em cativeiro e são inteiramente dependentes do
homem, sendo possível que contenham características diversas de suas espécies antecessoras. Vivem nas cidades ou até
mesmo dentro das casas, junto ao homem, acostumados a viver no âmbito doméstico26. São exemplos: cachorro, gato,
galinha e cavalo.
Já os animais domesticados, são aqueles que são animais selvagens, entretanto ao serem adestrados pelo homem,
passam a se harmonizar à convivência doméstica, não conseguindo retornar à natureza e viverem de forma independente
sem um processo de readaptação27.
Conforme salientado no capítulo anterior, em razão dos animais domésticos não estarem ameaçados de extinção, alguns
autores acreditam que a proteção dada pela Constituição aos animais silvestres não se estende aos animais domésticos.
Porém, reitera-se a posição de que a tutela da Constituição abrange os referidos animais, pois ao se reconhecer que a
proteção não abrange os animais domésticos, seria como afirmar que estes não estariam vulneráveis a sofrer maus-
tratos28.
LEGISLAÇÕES QUE PROTEGEM OS ANIMAIS
São diversas as legislações nacionais e internacionais que protegem os animais. Paraentender o funcionamento destas leis
e sua eficácia, necessário se faz um aprofundamento na origem dos direitos dos animais, sejam eles domésticos ou
domesticados, e como são enxergados pelo Direito Brasileiro.
Diferença Entre Bem-estar Animal e Direito Dos Animais
O bem-estar animal é um estudo que engloba tanto o bem-estar físico, quanto mental do animal, ou seja, é um
conhecimento que examina o bem-estar dos animais, levando em consideração o sentimento do animal e a sua
perspectiva, e não a perspectiva humana.
Para isso, tal estudo possui três concepções: sentimentos, comportamentos, fisiologia e particularidades de sua vida
natural29.
Para compreender as concepções acima, são analisados todos os hábitos do animal, suas necessidades, medo, estresse,
sofrimento, bem como limites de adaptação.
É analisado ainda, o contexto em que o animal se encontra, como por exemplo se é animal domesticado, animal de
produção, animal em zoológico ou animal usado em laboratórios.
Feita tal análise, levando em conta diferentes circunstâncias, é possível concluir a condição de bem-estar em que o animal
se encontra, assim como qual a ação necessária para conter ou findar com determinado sofrimento.
Embora a ciência não seja avançada o suficiente ao ponto de detectar os sentimentos mentais dos animais com precisão, a
etologia30, fisiologia31, anatomia32 e cognição33, são sinais que facilitam o entendimento do pensamento animal34.
Outro enfoque que deve ser ponderado quando falamos em bem-estar animal é a ‘’natureza’’ animal, isto é, a liberdade dos
animais se comportarem de forma natural. Porém, esse é um ponto que não pode ser levado em consideração totalmente,
uma vez que quando criados em ambientes que não sejam os naturais, podem não ter grande pertinência na análise do
animal. Assim, o ideal é analisar a saúde e se está sendo respeitado seu livre arbítrio35.
Além disso, para analisar todas as circunstâncias, há princípios que norteiam o tema bem-estar animal, especialmente o
bem-estar daqueles animais que são utilizados com propósitos exploratórios.
São dois os princípios: Princípio das Cinco Liberdades Essenciais aos Animais e Princípio dos 3Rs (Três Erres) 36.
O Princípio das Cinco Liberdades significa, que:
Todos os animais devem:
1) Ser livres de medo e estresse;
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2) Ser livres de fome e sede;
3) Ser libres de desconforto;
4) Ser livre de dor e doenças; e
5) Ter liberdade para expressar seu comportamento natural37.
O Princípio dos 3Rs é denominado dessa forma, em razão das iniciais em inglês de seus principais propósitos: Redução
(Reduction), Refinamento (Refinement) e Substituição (Replacement)38.
Tal princípio se refere aos animais para experimentação em laboratórios, bem como resguarda-lhes os seguintes direitos:
1) Redução do número de animais utilizados;
2) Substituição por alternativas sem animais. Como por exemplo, robôs que simulam as
cobaias; e
3) Refinamento – alterando protocolos de experiências para diminuição de dor e
sofrimento39.
Tais princípios são de suma importância, uma vez que são utilizados para fundamentar legislações específicas em países
da União Europeia, acerca da proteção aos animais de produção e animais utilizados em laboratórios40.
Assim, conclui-se que o bem-estar animal é uma ciência que leva em consideração as necessidades e sentimentos dos
animais não somente na visão dos humanos, mas sobretudo na visão dos próprios animais, a fim de que seja preservada
sua qualidade de vida em primeiro plano, inclusive no ramo de experimento em animais.
Salienta-se que muito embora haja princípios que norteiam o experimento em animais e os transformem em experiências
mais éticas, responsáveis e moralmente aceitas pelo público, o posicionamento que prevalece neste trabalho é o de que
vida animal nenhuma deve ser minimizada e explorada ao bel-prazer humano, uma vez que possuem o mesmo valor,
merecendo respeito como qualquer outro ser.
No que concerne ao direito dos animais, entende-se:
O direito dos animais baseia-se em tratar seres sencientes (capazes de sentirem) com
respeito e dignidade. E está amplamente ligado ao direito Moral41.
O Direito Moral esmera-se com o correto e incorreto, com o que é justo e o que é injusto42. Assim, em virtude de todo
animal sentir as mesmas necessidades que os seres humanos, como frio, fome, sede, calor, alegria, tristeza, dor, etc., estes
devem ser bem tratados, respeitados pelos humanos e protegidos, a fim de que tenham autonomia para seguirem sua
natureza de forma totalmente livre.
Para que tais direitos sejam levados em consideração é necessária a criação de leis. Assim, o direito dos animais, é um
conceito que reconhece que os animais devem ser livres de qualquer ação exploradora do homem, podendo viver com
independência, e em outras palavras, escolherem para onde e quando querem ir, sem interferência humana.
Dessa forma, conforme apontado neste tópico, na medida que o bem-estar animal é uma ciência, o direito dos animais é um
conjunto de leis que viabiliza a proteção animal. À vista disso, o bem-estar animal complementa o direito dos animais e o
direito dos animais complementa o bem-estar animal, de forma mútua.
Assim, ambos são estudos que objetivam alcançar o cenário ideal, onde o homem e o animal coexistam em harmonia.
Fundamento Para Existência De Seus Direitos
Fundamentar a existência dos direitos dos animais sempre foi tarefa árdua. Isso porque o animal não possui características
semelhantes ao homem. Então, muitos acreditam que estes não possuem os mesmos direitos por não serem a espécie
homo sapiens.
Contudo, o fato de dois seres vivos não possuírem semelhanças, não significa não merecem respeito, muito menos significa
que uns são superiores aos outros.
Destarte, a ideia do Ecocentrismo citada no primeiro capítulo deste trabalho, deve prevalecer ao pensarmos nos direitos dos
animais em comparação aos direitos dos seres humanos, isso porque a ideia de igualdade não é uma ideia de fato e sim
uma ideia de direito, consoante os ensinamentos de Robert Alexy:
[...] o enunciado da igualdade não pode exigir a igualdade de todas as características
naturais e de todas as condições fáticas nas quais o indivíduo se encontre. Diferenças
em relação à saúde, à inteligência e à beleza podem ser talvez um pouco relativizadas,
mas sua eliminação se depara com limites naturais. A isso se soma o fato de que a
igualização de todos, em todos os aspectos, seria, mesmo que possível, indesejável43.
Assim, para o autor citado acima a igualdade é considerada a regra, enquanto a desigualdade a ressalva. Então, o fato de
os animais não se enquadrarem na espécie homo sapiens, não é causa de retirar-lhes direitos, visto uma vida não ser mais
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valiosa do que outra, sendo legítima a aplicação do princípio da igualdade na relação dos homens aos animais44.
Além disso, o que deve ser levado em consideração não são as semelhanças e nem as diferenças e sim as necessidades e
interesses básicos dos animais, sendo a melhor maneira para se alcançar a igualdade de tratamento entre todos os seres
vivos que habitam a Terra.
Um outro conceito, além do princípio da igualdade que fundamenta a existência dos direitos dos animais é a dignidade.
De acordo com o filósofo Immanuel Kant, o homem não vive para satisfazer vontades alheias, senão a sua própria vontade,
tendo em si um valor soberano. Esse valor inerente ao ser humano, entende-se como dignidade45.
Tal dignidade também é preconizada no artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos46:
Artigo 1º
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão
e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
Diante do cenário de maus-tratos e exploração dos animais,a dignidade dos não seres humanos deveria estar abrangida
ao conceito de dignidade da pessoa humana prevista pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Neste mesmo sentido, Scarlet frisa:
Assim, poder-se-á afirmar [...] que tanto o pensamento de Kant quanto todas as
concepções que sustentam ser a dignidade atributo exclusivo da pessoa humana –
encontram-se, ao menos em tese, sujeitas à crítica de um excessivo antropocentrismo,
notadamente naquilo em que sustentam que a pessoa humana, em função de sua
racionalidade [...] ocupa um lugar privilegiado em relação aos demais seres vivos. Para
além disso, sempre haverá como sustentar a dignidade da própria vida de um modo
geral, ainda mais numa época em que o reconhecimento da proteção do meio ambiente
como valor fundamental indica que não está em causa apenas a vida humana mas a
preservação de todos os recursos naturais, incluindo todas as formas de vida existentes
no planeta, ainda que se possa argumentar que tal proteção da vida em geral constitua,
em última análise, exigência da vida humana e de uma vida humana com dignidade47.
Fica evidenciado, portanto, que o pensamento do filósofo Kant conta com um antropocentrismo extremo ao entender que a
dignidade se limita tão somente aos seres humanos, criaturas estas dotadas de um ‘’valor absoluto’’48.
De encontro ao pensamento de Kant, Fensterseifer ainda afirma:
O defensor dos direitos dos animais ou da vida em termos gerais é antes de qualquer
coisa também um defensor dos direitos humanos, já que as consagrações, respectivas,
dos direitos humanos e dos direitos dos animais tratam-se de etapas evolutivas
cumulativas de um mesmo caminhar humano rumo a um horizonte moral e cultural em
permanente construção49.
Nesse sentido, abre-se a perspectiva para uma nova visão. Acreditar na extensão do conceito de direitos humanos aos
animais, não significa rebaixar e nem minimizar a espécie humana. Significa reconhecer que os animais não só possuem
direitos, como também que os seres humanos são responsáveis em os garantir, bem como assegurar que todas as
espécies existentes na Terra vivam de forma harmônica.
Reconhecido que os animais possuem direito a viver sem sofrimento e sem serem explorados pelo homem, se faz
necessário o aprofundamento acerca da classificação dos animais como seres semoventes, com o intuito de melhor
compreensão das leis que os protegem em nosso país.
Classificação Dos Animais Como Seres Semoventes e Suas Consequências
Os animais são classificados pelo Código Civil Brasileiro como bens semoventes:
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força
alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
O Código Civil não deixa expressamente entendido que os animais se encaixam na qualidade de bens suscetíveis de
movimento próprio. Contudo, conforme o entendimento doutrinário, é possível desprender que os animais entram na
classificação de seres semoventes, como ensina o ilustre autor Silvio Rodrigues:
Os bens suscetíveis de movimento próprio, isto é, os animais, chamam-se semoventes.
Os que se movem por força alheias, móveis propriamente ditas50.
Nesta mesma linha de raciocínio o autor Pablo Stolze também entende:
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Os semoventes são os bens que se movem de um lugar para outro, por movimento
próprio, como é o caso dos animais. Sua disciplina jurídica é a mesma dos bens móveis
por sua própria natureza, sendo-lhes aplicáveis todas as suas regras correspondentes
(art. 47 do CC-16 e art. 82 do CC-02)51.
Assim, é de fácil dedução que se os animais são classificados como seres semoventes, receberão o mesmo tratamento dos
bens móveis, isto é, de bens considerados materiais.
Os bens também podem ser classificados quanto a fungibilidade, conforme artigo 85 do Código Civil:
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade.
Bens infungíveis são aqueles que não podem ser repostos por outro de mesma espécie, qualidade e quantidade52.
Entende-se neste trabalho que os animais possuem valor único, assim como os seres humanos, não sendo passíveis de
substituição. Inclui-se também neste contexto, animais utilizados em abates.
Dessa forma, como a fungibilidade é qualidade da própria coisa, levando em consideração uma visão influenciada pelo
ecocentrismo, considera-se todos os animais como seres infungíveis.
Como visto, à luz da legislação, os animais são considerados seres semoventes. Tal constatação gera algumas
consequências no plano da venda e compra de animais.
De acordo com os artigos 2º, 3º, caput e parágrafo 1º, do Código de Defesa do Consumidor, o indivíduo que compra
animais é considerado consumidor, enquanto o criador ou vendedor vistos como fornecedores, e os animais, tidos como
produto:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
Portanto, a venda e compra de animais é amparada pelo Código Civil e pelo Código de Defesa do Consumidor, sendo
responsável o fabricante (criador ou vendedor), caso haja algum vício do produto envolvendo os animas, como doenças,
sendo devido o ressarcimento53.
Logo, existindo impasses como os mencionados acima, os artigos 26, inciso II, 27 e 49 do Código de Defesa do
Consumidor, estabelecem que os fabricantes são obrigados a realizar a restituição do valor pago pelo animal e dos
dispêndios ocorridos em razão do vício54.
O Código de Defesa do Consumidor estabelece ainda em seu artigo 26, que o prazo para reivindicar pelos vícios do produto
que forem aparentes, finda-se no prazo decadencial de noventa dias, quando versar sobre serviços e produtos duráveis.
No que concerne aos vícios ocultos, ou seja, vícios que não são de constatação imediata, revelando-se depois de um
tempo, como é o caso de algumas doenças congênitas, à luz do artigo 26, parágrafo 3º do Código de Defesa do
Consumidor, o prazo decadencial começa a correr no instante em que ficar notabilizado o defeito55.
Os compradores de animais também possuem outros direitos articulados pelo Código de Defesa do Consumidor, como o
direito de arrependimento, previsto pelo artigo 49, que pode ser arguido em compras realizadas via internet ou telefone, no
prazo de 7 dias, sendo absolutamente ilegal cláusula que estabelece a recusa em da devolução do animal56.
Por fim, desprende-se que o fato do atual Código Civil Brasileiro classificar os animais como coisas, salienta uma
concepção meramente material, ou seja, aparenta uma ideia de que são meros objetos pertencentes a um patrimônio
qualquer, não lhes garantindo uma posição mais igualitária com os seres humanos.
Nesta perspectiva, atualmente tramita o Projeto de Lei do Senado nº 351, de 2015, o qual acrescenta o parágrafo único ao
artigo 82 e o inciso IV ao artigo 83 do Código Civil, criando uma terceira categoria, além de bens e pessoas, ao determinar
que os animais não mais considerados coisas, denominada de a tutela dos animais.
A mudança, que teve como países precursores Suíça, Alemanha, Áustria e França, reconhece a dignidade aos animas ao
deixar de lado uma visão ultrapassada e antropocentrista57.
Embora trata-se de um pequeno passo, se aprovada, a mudança será um grande avanço no reconhecimento dos direitos e
da proteção animal, impactando em diversas outras questões que serão abordadas no decorrer do presente trabalho.
Contexto Social dos Animais Domésticos
Na contemporaneidade, os animais domesticados estão cada vez mais inseridos no dia-a-dia das famílias brasileiras.
A ideia de que o cachorro, por exemplo, deve ficar no quintal, comer restos de comida e tomar banho na mangueira já é
ultrapassada. Hoje, gatos, cachorros, passarinhos, coelhos, hamsters e animais domésticos em geral comem as melhores
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para tomarem banho, fazer hidratação e até mesmo relaxarem em um spa canino. São tidos, tratados e em alguns casos
substituídos por filhos humanos. São ainda, verdadeiros companheiros para idosos ou pessoas em geral que vivem
sozinhas.
Conforme Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
população de animais domésticos em domicílios chega a 52,2 milhões, uma média de 1,8 cachorros por domicílio. Já
quantos aos gatos, foi apurado o valor de 22,1 milhões de gatos em domicílios, o que equivale a uma média de 1,9 gatos
por domicílio58.
A pesquisa evidencia que atualmente há no Brasil mais cachorros do que crianças, visto que de acordo com a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada em 2013, o número de crianças era de 44,9 milhões de crianças de 0
a 14 anos59.
Figura 1: Gráfico da População Pet no Brasil, elaborado pela Associação Brasileira de Indústria de Produtos para
Animais de Estimação. Pesquisa realizada pelo IBGE. Disponível em < http://abinpet.org.br/site/mercado/>.
A população total de pets no Brasil é a 4ª maior do mundo estimada em 132,4 milhões60. Acompanhando a quantidade de
animais no País, o mercado não fica atrás: a produção de mercadorias e serviços destinados aos pets movimentaram 15
bilhões no ano de 2013, deixando o Brasil na posição entre os 5 maiores mercados para pets do mundo61.
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Figura 2: Gráfico dos Faturamento do Mercado Mundial para Pets em 2016, elaborado pela Associação Brasileira
de Indústria de Produtos para Animais de Estimação. Pesquisa realizada pelo Euromonitor.
Desse modo, demonstra-se a conjuntura atual acerca da convivência dos animais domésticos no seio das famílias
brasileiras. Este cenário tende a crescer cada vez mais, junto com algumas questões, como o destino do pet após a
dissolução conjugal.
Na medida que os animais são apontados como seres semoventes pelo Código Civil Brasileiro, havendo dissolução
conjugal, a partilha dos bens é realizada de forma consensual ou judicial, caso não haja acordo entre as partes. Nesta
última possibilidade, possuindo o animal pedigree, o animal será destinado ao proprietário que constar no documento que
reconhece o pedigree62.
Na hipótese de o animal não ter pedigree, nem nenhum outro documento que comprove a propriedade, tal como carteira de
vacinação ou recibo de despesas em veterinário, podem ser utilizadas de testemunhas, como veterinário, adestrador, dono
do pet shop em que o animal frequenta, que contribuirão para formar provas de quem é de fato o tutor do animal63.
Diante deste tratamento não humanizado, o Projeto de Lei 7196/2010 da Câmara dos Deputados trata a respeito da guarda
dos animais de estimação em situações que ocorra a dissolução litigiosa da sociedade e do vínculo conjugal entre seus
tutores64.
O Projeto dispõe entre outras coisas a possibilidade de guarda unilateral, compartilhada e regulamentação de visitas,
podendo o juiz decidir como nas relações de filhos menores, o que é um avanço, uma vez que como demonstrado
anteriormente o animal é tratado como um membro da família. Sendo assim, a criação de uma lei que prevê a possibilidade
de adoção da guarda compartilhada convencional na dissolução conjugal é benéfica para todas as partes, evitando danos
psicológicos para as partes que estão em conflito e para o animal que foi criado como filho.
Infelizmente, o Projeto que tanto acrescentaria no avanço da legislação sobre animais no Brasil foi arquivado, deixando
margem para recorrentes conflitos no judiciário, conforme decisão judicial demonstrada a seguir:
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0019757-79.2013.8.19.0208
22ª CÂMARA CÍVEL
Relator: Des. MARCELO LIMA BUHATEM
APELANTE: XXXXXXXXXXX
APELADO: XXXXXXXXXXX
DIREITO CIVIL - RECONHECIMENTO/DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL - PARTILHA
DE BENS DE SEMOVENTE - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL QUE
DETERMINA A POSSE DO CÃO DE ESTIMAÇÃO PARA A EX- CONVIVENTE
MULHER–
RECURSO QUE VERSA EXCLUSIVAMENTE SOBRE A POSSE DO ANIMAL – RÉU
APELANTE QUE SUSTENTA SER O REAL PROPRIETÁRIO – CONJUNTO
PROBATÓRIO QUE EVIDENCIA QUE OS CUIDADOS COM O CÃO FICAVAM A
CARGO DA RECORRIDA
DIREITO DO APELANTE/VARÃO EM TER O ANIMAL EM SUA COMPANHIA – ANIMAIS
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DE ESTIMAÇÃO CUJO DESTINO, CASO DISSOLVIDA SOCIEDADE CONJUGAL É
TEMA QUE DESAFIA O OPERADOR DO DIREITO –
SEMOVENTE QUE, POR SUA NATUREZA E FINALIDADE, NÃO PODE SER TRATADO
COMO SIMPLES BEM, A SER HERMÉTICA E IRREFLETIDAMENTE PARTILHADO,
ROMPENDO-SE ABRUPTAMENTE O CONVÍVIO ATÉ ENTÃO MANTIDO COM UM DOS
INTEGRANTES DA FAMÍLIA –
CACHORRINHO “DULLY” QUE FORA PRESENTEADO PELO RECORRENTE À
RECORRIDA, EM MOMENTO DE ESPECIAL DISSABOR ENFRENTADO PELOS
CONVIVENTES, A SABER, ABORTO NATURAL SOFRIDO POR ESTA – VÍNCULOS
EMOCIONAIS E AFETIVOS CONSTRUÍDOS EM TORNO DO ANIMAL, QUE DEVEM
SER, NA MEDIDA DO POSSÍVEL, MANTIDOS –
SOLUÇÃO QUE NÃO TEM O CONDÃO DE CONFERIR DIREITOS SUBJETIVOS AO
ANIMAL, EXPRESSANDO-SE, POR OUTRO LADO, COMO MAIS UMA DAS VARIADAS
E MULTIFÁRIAS MANIFESTAÇÕES DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA, EM FAVOR DO RECORRENTE –
PARCIAL ACOLHIMENTO DA IRRESIGNAÇÃO PARA, A DESPEITO DA AUSÊNCIA DE
PREVISÃO NORMATIVA REGENTE SOBRE O THEMA, MAS SOPESANDO TODOS OS
VETORES ACIMA EVIDENCIADOS, AOS QUAIS SE SOMA O PRINCÍPIO QUE VEDA O
NON LIQUET, PERMITIR AO RECORRENTE, CASO QUEIRA, TER CONSIGO A
COMPANHIA DO CÃO DULLY, EXERCENDO A SUA POSSE PROVISÓRIA,
FACULTANDO-LHE BUSCAR O CÃO EM FINS DE SEMANA ALTERNADOS, DAS 10:00
HS DE SÁBADO ÀS 17:00HS DO DOMINGO.
Assim, conforme demonstrado na decisão acima, se houvesse legislação regulamentando a guarda de animais após a
dissolução do casal, os tutores que passam por tal situação, não ficariam à mercê de jurisprudência, gerando uma
sensação de insegurança jurídica.
Proteção Constitucional
Como visto anteriormente, os animais são tratados como seres semoventes, podendo o ser humano, na teoria, usá-los,
gozá-los, vendê-los ou dispô-los.
Entretanto, embora o direito de propriedade seja assegurado, há um outro direito ainda mais precioso: a vida65.
No que se refere aos direitos resguardados aos animais na Constituição que limitam o direito de propriedade, paira certa
dúvida se a referida proteção é uma mera tutela constitucional, ou se é também um direito fundamental.
Para isso, é necessária a distinção entre os conceitos de tutela constitucional e direitos fundamentais
Tutela constitucional é a proteção garantida pela Constituição, quando determinado bem não pode ser resguardado por si
só, ou seja, torna-se indispensável a tutela do Poder Público66.
Já direitos fundamentais são garantias previstas no ordenamento jurídico que objetivam possibilitar circunstâncias básicas
como liberdade, dignidade, integridade física e igualdade a todos67.
Assim, a Constituição Federal não trata com clareza se os direitos fundamentais previstos aos seres humanos também são
resguardados aos animais.
Entretanto, prevê explicitamente que é dever da União, Estados, Distrito Federal e Municípios a preservação da fauna68.
Este dever de cuidado por parte do Poder Público, que é a tutela constitucional do meio ambiente, fica ainda mais evidente
no artigo abaixo69:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetamos animais
a crueldade.
Fica evidente ainda, ao conceder o cargo de ‘’guardião do meio ambiente’’ aos representantes do Ministério Público70:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público
e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivo.
(...)
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Porém, no que concerne aos direitos fundamentais, embora a Constituição não preconize diretamente que os animais
também gozam destes direitos já garantidos ao homem, entende-se neste trabalho que se aqueles também sentem dor, frio,
medo, alegria, tristeza e outras necessidades, é possível uma interpretação extensiva.
Isto é, os animais também dispõem de direitos básicos como liberdade e dignidade, e até mesmo ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Este também é o entendimento do Supremo Tribunal Federal no julgamento do Recurso
Extraordinário nº 153.531, sobre a crueldade da Festa “Farra do Boi’’, a qual será examinada no próximo capítulo.
Enquanto não definido se a palavra ‘’todos’’ tanto citada pela Constituição ao resguardar direitos também abrange os
animais, criaturas que tanto precisam dos seres humanos, aqueles ficam à mercê da dúvida. É como as sábias palavras
ditas pelo Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Antônio Herman Benjamin (Constitucionalização do Ambiente e
Ecologização da Constituição brasileira, 2011, p. 126):
(...) quem sabe um dia se verá no "todos" do art. 225, caput, uma categoria mais ampla e
menos solitária do que apenas os próprios seres humanos.
Enquanto isso, cumpre aos operadores do direito, guardarem os animais garantindo-lhes segurança.
DOS CRIMES E DAS PENAS
Desde a antiguidade, são comuns práticas de maus-tratos de animais. Isso porque o pensamento era de que por serem
seres irracionais, deveriam servir os seres humanos.
O tempo passou e apesar de algumas práticas terem findado, outras ainda existem. Além disso, tais práticas estão ligadas
diretamente a cultura de uma sociedade, pois em alguns povos é comum o sacrifício de animais, enquanto em outros,
determinados animais são considerados sagrados71.
Por estas condutas ainda existirem em nossa sociedade, que se torna absolutamente necessária uma punição, a fim de que
o criminoso seja inibido a não cometer tais crimes.
No entanto, quando as condutas praticadas estão ligadas a cultura de um povo, como no caso da farra do boi, o assunto
deverá ser examinado com cautela, uma vez que há outros direitos que devem ser levados em consideração.
Assim, este capítulo abordará os crimes e punições previstos aos que praticam abusos contra animais, bem como sua
eficácia.
Maus-Tratos e Crueldades aos Animais
Com o advento da internet, casos de maus tratos aos animais, como animais em gaiolas pequenas, cavalos sendo
utilizados a serviço do homem até chegarem a máxima exatidão, animais presos a correntes expostos ao calor, frio, com
fome e sede, mutilação, envenenamento, bem como cachorros e gatos utilizados para procriação de maneira desumana em
criadouros, aparentemente, ganharam mais visibilidade, sendo mais comumente expostos.
No nosso país, umas das primeiras legislações que passou a prever que nenhuma espécie de animal deve sofrer maus
tratos foi o Decreto Lei n° 24.645/1934.
O Decreto, entre outras coisas, prevê que todos os animais existentes no Brasil são tutelados pelo Estado, quais são as
condutas consideradas maus-tratos e que os animais são assistidos em juízo pelo Ministério Público e pelos membros das
Sociedades Protetoras de Animais.
Posterior ao Decreto Lei de 1934, surge a Lei de Crimes Ambientais n°9.605/1998 que o corrobora.
A Lei de Crimes Ambientais estabelece quais são as práticas consideradas maus-tratos aos animais72:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos
ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal
vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º. “A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
Assim, entende-se como maus-tratos ou crueldade toda e qualquer conduta de violência, que fira a integridade física do
animal. Neste mesmo pensamento, a Dra. Helita Barreira Custódio ensina:
Crueldade contra animais é toda ação ou omissão, dolosa ou culposa (ato ilícito), em
locas públicos ou privados, mediante matança cruel pela caça abusiva, por
desmatamentos ou incêndios criminosos, por poluição ambiental, mediante dolorosas
experiências diversas (didáticas, científicas, laboratoriais, genéticas, mecânicas,
tecnológicas, dentre outras), amargurantes práticas diversas (econômicas, sociais,
populares, esportivas como tiro ao voo, tiro ao alvo, de trabalhos excessivos ou forçados
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além dos limites normais, de prisões, cativeiros ou transportes em condições desumanas,
de abandono em condições enfermas, mutiladas, sedentas, famintas, cegas ou
extenuantes, de espetáculos violentos como lutas entre animais até a exaustão ou morte,
touradas, farra de boi, ou similares), abates, atrozes, castigos violentos e tiranos,
adestramentos por meio e instrumentos torturantes para fins domésticos, agrícolas ou
para exposições, ou quaisquer outras condutas impiedosas resultantes em maus-tratos
contra animais vivos, submetidos a injustificáveis e inadmissíveis danosas lesões
corporais, de invalidez, de excessiva fadiga ou de exaustão até a morte desumana da
indefesa vítima animal73.
Com o advento da Lei de Crimes Ambientais em 16 de março de 1998, as condutas de maus-tratos e crueldade passaram
de contravenção para crime, isto é, passaram a ter uma punição mais severa74.
Entretanto, cumpre ressaltar que nos crimes que possuem pena máxima inferior a dois anos, está prevista alternativas à
pena restritiva de liberdade, aplicando-se neste caso, o artigo 76 da Lei 9.099/95.
O artigo 76 da referida lei prevê que havendo concordância do réu, o Juiz poderá aplicar a pena restritiva de direitos ou
multa, não importando em sua reincidência75:
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na
proposta.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a
metade.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação
de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à
apreciação do Juiz.
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz
aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo
registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82
desta Lei.
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de
antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá
efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.
Assim sendo, conclui-se que tão logo as penasque foram impostas objetivam coibir condutas de maus-tratos de
agressores, estas mostram-se ineficazes pois na prática, não há a devida punição.
Mesmo com a impunidade que assola a sociedade, é imprescindível a fiscalização de toda a coletividade, seja denunciando
por meio do Disque-Denúncia ou indo até a delegacia para lavrar um boletim de ocorrência a fim de que haja a instauração
de um inquérito policial, ou ainda, caso a autoridade policial não o faça, levando o caso ao Ministério Público76.
No caso de negligência da autoridade policial, incorrendo no crime do artigo 329 do Código Penal, tendo em vista que cabe
ao Ministério Público a tutela dos animais, este poderá figurar no polo ativo de uma Ação Civil Pública em face de pessoa
física ou jurídica, de direito público ou privado, que praticar crime de maus-tratos77.
Além do Ministério Público, a União, Estados, Municípios, autarquias, fundações, empresas públicas, associações e
sociedades de economia mista, também possuem legitimidade para propor Ação Civil Pública contra pessoa que cometa
algum ato de crueldade contra os animais78.
As condutas de maus-tratos de animais podem ser praticadas das mais diversas maneiras. Isto posto, no próximo item
deste trabalho serão discutidas de forma minuciosa algumas destas práticas.
​​​​​​​Abandono de Animais
Os animais domésticos, na contemporaneidade, são tratados como membros da família. Entretanto, a medida que comprar
ou adotar um cachorro se torna um comportamento cada vez mais comum, surgem alguns problemas.
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As pessoas não têm consciência da responsabilidade que é ter um animal de estimação. Os animais de estimação, sejam
eles gato, coelho, cachorro, hamster ou passarinho, mexem com o orçamento e rotina familiar, pois para mantê-los, é
necessário ter condições de arcar com seus custeios, e além disso, é preciso paciência pois, os animais também sentem
necessidades fisiológicas, mas nem sempre conseguem entender de primeira todas as regras da casa. Há ainda duas
situações que ocorrem corriqueiramente: a primeira é de que animais são adquiridos para presentear, sendo descartados
após um tempo, em razão da falta programação da família; a outra é o crescimento dos casos de abandono no período de
férias79.
Juntando todos os fatores citados acima, pessoas que compram ou adotam animais de maneira não planejada, ou seja, não
estando ciente de que são seres que precisam de supervisão, cuidado e carinho, acabam por abandoná-los.
Para embasar esse pensamento da inconsequência ao adotar ou comprar um animal, o Jornal Época publicou uma
pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência e Instituto Waltham, que indagava aos donos de gatos e cachorros se os levaria
junto, caso tivesse que mudar de residência, e somente 41% responderam que levariam o animal consigo80.
Tal percentual é extremamente preocupante, tendo em vista que conforme abordado no capítulo 3.4. deste trabalho, o Brasil
possui a 4ª maior população pet do mundo.
Figura 3: Pesquisa aos donos de cães ‘’Se eu tiver de me mudar, levaria o meu cão comigo’’, elaborado pelo Ibope
Inteligência e Instituto Waltham. Disponível em < http://epoca.globo.com/vida/noticia/2016/06/3-comportamentos-
pessimos-que-levam-ao-abandono-de-animais-segundo-o-ibope.html/>.
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Figura 4: Pesquisa aos donos de gatos ‘’Se eu tiver de me mudar, levaria o meu gato comigo’’, elaborado pelo
Ibope Inteligência e Instituto Waltham. Disponível em < http://epoca.globo.com/vida/noticia/2016/06/3-
comportamentos-pessimos-que-levam-ao-abandono-de-animais-segundo-o-ibope.html>.
Assim, mesmo trazendo somente mudanças benéficas na qualidade de vida dos seres humanos, muitas pessoas não veem
o animal com respeito e compaixão.
A problemática do abandono se estende ainda a animas de circo, como leões e tigres, e à animais silvestres exóticos,
contribuindo com o desequilíbrio ecológico81.
Vale lembrar que abandono de animas é configurado crime de maus-tratos, previsto pelo artigo 32 da Lei de Crimes
Ambientais, além de indiscutivelmente, ser considerada uma atitude cruel e desumana (ou humana).
​​​​​​​​​​​​​​Tráfico de Animais
O tráfico de animais é todo tipo de comercialização ilícita de animais que formam a fauna silvestre. Lembrando que animal
silvestre são aqueles que não estão habituados a viverem próximos aos seres humanos, possuindo dificuldades para se
reproduzirem em cativeiro82.
O tráfico de animais faz parte da lista de condutas ilícitas mais praticadas no mundo, ocupando o terceiro lugar no ranking
de contrabando, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas83.
De acordo com o Relatório Nacional publicado pelo Renctas sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, 60% dos animais
capturados e vendidos ilegalmente são para consumo interno, também conhecido como tráfico doméstico. Os outros 40%
dos animais capturados ilegalmente no Brasil, vão para o exterior84.
Por ano, são vítimas do tráfico no Brasil cerca de 38 milhões de animais, rendendo um lucro de 20 bilhões de dólares,
sendo que 90% destes animais acabam morrendo no percurso sufocados, de fome, de sede ou calor85.
O crime de tráfico de animais está previsto no artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais n°9.605/1998:
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou
em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a
obtida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou
depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em
rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros
não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente.
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§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de
extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas,
migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu
ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais
brasileiras.
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no
local da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em
massa.
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça
profissional.
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.
Os números altíssimos de espécies capturadas no Brasil, se dá pela ineficácia da pena e por culpa dos compradores.
Isso porque, conforme o artigo acima mencionado, a pena é extremamente branda, tornando-se ineficaz em acobardar o
criminoso, falhando na erradicação deste tipo de crime. Além disso, um dos motivos que colaboram com a ocorrência do
tráfico, é o interesse dos compradores em adquirir os animais a qualquer custo.
Um outro ponto a ser considerado, é o de que no ano de 1973, um número superior a 160 países assinou o tratado ‘’Cites’’
(Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção)86, quetem como objetivo
controlar e fiscalizar o comércio internacional de espécies que estão em extinção, baseado em um sistema de certificados e
de licenças87. Entretanto, a maioria dos países não seguem o tratado como deveria, assim, se não há fiscalização nos
países de destino, o tráfico é realizado sem interferências, aumentando o número de compradores interessados, em razão
da facilidade.
No ano de 2003, foi realizada uma investigação, por meio da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), acerca do tráfico
ilegal de plantas e animais silvestres da fauna e da flora brasileira88. Nesta investigação, sobreveio um relatório, o qual
concluiu que parte do crime é consequência de problemas sociais.
Em outras palavras, os indivíduos que capturam os animais são pobres e acabam se rendendo em razão do dinheiro.
Em consequência do relatório realizado pelo governo, atualmente, tramita no Congresso o Projeto de Lei 347/2003, que tem
como finalidade alterar a Lei de Crimes Ambientais. O projeto, torna o crime de tráfico de animais, crime qualificado
alterando a pena que hoje é de detenção de seis meses a um ano, e multa, para pena de reclusão de dois a cinco anos, e
multa89.
O projeto de lei que foi aprovado em dezembro de 2016 na Câmara dos Deputados está aguardando para ser apreciado no
Senado Federal. Se aprovado, a alteração é um avanço na proteção dos animais, que hoje, são tirados de seus habitats
para sofrerem ao serem levados para outras cidades ou países, de maneira cruel, em caixinhas de papelão ou malas onde
vão imóveis, sem água, sem luz, sem ar e infelizmente, sem o devido respeito que merecem.
​​​​​​​​​​​​​​Farra do Boi
A Farra do Boi é um ‘’evento’’ que é realizado no estado de Santa Catarina, na Semana Santa, onde o boi é solto pela rua
para ser perseguido e linchado pela multidão90.
Esse acontecimento tornou-se tradicional entre descendentes de açorianos que relacionam a imagem do boi com
elementos pagãos, o torturando até a morte, o que representa a conquista do cristianismo em relação aos mouros. E ao
final, fazem um churrasco com o boi morto91.
No ano de 1989, entidades de proteção aos animais se manifestaram e ajuizaram uma Ação Civil Pública. Felizmente, em
1997, por maioria dos votos, a ação foi julgada procedente, em sede de Recurso Extraordinário, pelo STF (Supremo
Tribunal Federal)92, conforme jurisprudência a seguir:
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
"FARRA DO BOI". IMPOSIÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER AO ESTADO DE SANTA
CATARINA POR DECISÃO DO PRETÓRIO EXCELSO, CONSISTENTE NA PROIBIÇÃO
DA PRÁTICA. ASTREINTE. EXECUÇÃO, DEVIDAMENTE EMBARGADA. REJEIÇÃO
NA INSTÂNCIA A QUO, COM A REDUÇÃO EX OFFICIO DA MULTA. RECURSO
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ESTATAL.
PROVIMENTO PARCIAL. Hipótese em que o Pretório Excelso, no histórico julgamento
do RE n. 153.531-8, relator o Ministro Francisco Rezek, consagrou o entendimento de
que "a obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais,
incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância
da norma do inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal, no que veda prática que
acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento discrepante da norma
constitucional denominada ‘farra do boi'". Conclusão do julgamento no sentido de que ao
Estado cumpria, como cumpre, "proibir", por atos e medidas formais e práticas, o festejo,
tal qual requerido na exordial da ação civil pública.
Acervo probatório trazido aos autos que enseja a conclusão de que, ainda que não haja
falar em uma total inércia do Poder Público, pelo menos nos anos de 2003 a 2006, a sua
atuação não se revestiu do necessário rigor, porquanto inúmeras as ocorrências
registradas acerca de abusos, violência e danos até mesmo a indivíduos, causados pelos
animais que, acossados, partem em desesperada fuga. Cumprimento deficiente não
autoriza a exclusão da multa, mas permite a sua redução (NEGRÃO. Theotônio. Código
de processo civil e legislação processual em vigor. São Paulo:
Revista dos Tribunais. 2009. p. 574), do que não se cogita na espécie. Caso em que,
mercê das noticiadas providências para coibir as "festividades", dois Chefes do Poder
Executivo Estadual admitiram a sua conivência com tal prática, ao que se soma a
obtenção de resultados estatísticos, até o momento, muito tímidos pelo Poder Público no
seu dever de pôr-lhe um fim definitivo, certamente pela falta de uma ação mais enérgica
dos órgãos responsáveis. A hipótese não contempla a surrada teoria segundo a qual,
fosse dado ao Estado antecipar os acontecimentos, inexistiria criminalidade.
Disso se cogita naquelas hipóteses que versam sobre assaltos, homicídios, etc., fatos
esses realmente imprevisíveis. No caso concreto, está em baila a "farra do boi",
acontecimento de todo previsível, porquanto ocorrente sempre na mesma época e nos
mesmos locais, os quais são de conhecimento prévio das respectivas comunidades, os
principais fomentadores da prática, inclusive. Daí que inaceitável o argumento de que o
Poder Público, com todo o seu aparato e serviço de inteligência, ignorasse-o. Decisão do
Supremo Tribunal Federal assaz categórica: a ação civil pública foi julgada procedente
para "proibir" a infeliz, lamentável e vergonhosa "tradição" que tantos insistem em cultuar,
muito embora nada mais seja do que um ato de verdadeira selvageria. Total inércia do
Estado, contudo, não caracterizada, o que autoriza a redução da multa, mas não o seu
afastamento. (TJ-SC, Relator: Vanderlei Romer, Data de Julgamento: 18/05/2010,
Primeira Câmara de Direito Público)
Assim, o acórdão do STF proibiu a crueldade que é a prática da ‘’Farra do Boi’’. Entretanto, mesmo hoje, há algumas
esferas do corpo social de Santa Catarina que defendem a festa como um simples ato de manifestação cultural93.
Ocorre que o direito à manifestação cultural fundado no artigo 215, parágrafo 1º da Constituição Federal é livre, mas não
deverá se sobressair frente ao direito de proteção aos animais contra tratamento cruéis, previsto no artigo 225, inciso VIII da
Constituição Federal.
Outrossim, no que concerne ao ordenamento jurídico externo, o Brasil é signatário da Convenção Universal de Direito dos
Animais, que foi elaborada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), se
compromissando a garantir os direitos dos animais no país94. E a convenção prevê os seguintes direitos aos animais:
Artigo 1º
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.
Artigo 2º
1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado.
2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los
violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais.
3. Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem.
Artigo 3º
1. Nenhum animal será submetido nem a maus-tratos nem a atos cruéis.
2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor
e de modo a não provocar-lhe angústia95.
Dessa forma, além da proteção constitucional, o Brasil tem o compromisso externo de proteger e respeitar os animais
dentro do seu território96.
Então, para analisar se determinada conduta, é de fato ‘’manifestação cultural’’ mantém-se neste trabalho o posicionamento
que deve ter-se como parâmetro a crueldade, ou seja, se a manifestação cultural tiver como tradição a prática de atos
cruéis, esta é vedada, conforme artigo 225, inciso VIII da Constituição.
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Isto porque, justificar a prática de tanta maldade e violência como um ato de ‘’manifestação cultural’’, além de ser um ato
arcaico, é muito conveniente aos adoradores da prática.
​​​​​​​​​​​​​​Rodeio
Há diversas espécies de rodeios, uma vez que podem ser realizadoscom vários tipos de animais, como com cavalos,
touros e bezerros97.
O rodeio realizado com touro é chamado de ‘’montaria em touro’’ ou ainda bullriding, onde o peão deverá permanecer por
um período de oito segundos em cima do touro que salta intensamente, por conta do sedém98 que aperta seus órgãos
genitais, causando-lhe dor, ou até mesmo fraturas ou distensões99.
No rodeio realizado com bezerros, também chamado de calf roping, o peão corre atrás do bezerro, em cima de um cavalo,
e laça a cabeça do bezerro, puxando-o para trás para evitar que este fuja. Por fim, o peão desmonta do cavalo, amarrando
as patas do bezerro.
As práticas que geram qualquer tipo de dor ou crueldade aos animas são vedadas pela Constituição Federal e pela Lei
9.605/98. Dessa forma, uma vez que as práticas realizadas nos rodeios, submetem os animais à dor, conclui-se que estas
são práticas inconstitucionais e ilegais100.
Assim também entende o Tribunal de Justiça de São Paulo, que se posicionou afirmando no RT. 2247/105 – Ms n. 774/276
que: ‘’os rodeios e as vaquejadas, sem dúvida nenhuma, configuram-se como simulacros de touradas’’101, sendo aplicado o
artigo 64 da Lei de Contravenções Penais, o qual prevê o tratamento de animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho
excessivo.
A USP (Universidade de São Paulo) elaborou um laudo técnico a respeito dos procedimentos realizados no rodeio, que
apontou que técnicas como o sedém, de fato, causam dor e alterações de comportamento ao animal102.
Assim, utilizando-se do embasamento do laudo da USP, no município de São Bernardo do Campo, onde atualmente os
rodeios são proibidos por lei municipal, o Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu uma liminar em 1996, para proibir o
uso do sedém nos rodeios103.
Sem prejuízo da liminar acima citada, em 1992, a União Internacional Protetora dos Animais moveu uma ação pleiteando
também a proibição das técnicas cruéis utilizadas nos rodeios, onde o 3º Ofício Criminal, no processo n. 843/92, proferiu a
seguinte manifestação:
Conquanto irracional, o animal, seja quadrúpede, bípede, doméstico ou selvagem, tem
proteção legal contra crueldade e maus-tratos, pois dotado de instinto e sensibilidade,
sofre castigos imerecidos que lhe é infligido104.
Ante a essa dicotomia entre a proteção dos animais e a preservação e manifestação cultural, criou-se a Lei 10.519 de 17 de
julho de 2002, que dispõe sobre a promoção e a fiscalização da defesa sanitária animal quando da realização de rodeio105.
A lei, infelizmente, não proibiu a realização de rodeios. Mas prevê deveres às entidades promotores do ‘’evento’’, quanto à
integridade física dos animais, como pode ser observado no artigo 3º:
Art. 3o Caberá à entidade promotora do rodeio, a suas expensas, prover:
I – Infraestrutura completa para atendimento médico, com ambulância de plantão e
equipe de primeiros socorros, com presença obrigatória de clínico-geral;
II – Médico veterinário habilitado, responsável pela garantia da boa condição física e
sanitária dos animais e pelo cumprimento das normas disciplinadoras, impedindo maus
tratos e injúrias de qualquer ordem;
III – transporte dos animais em veículos apropriados e instalação de infraestrutura que
garanta a integridade física deles durante sua chegada, acomodação e alimentação;
IV – Arena das competições e bretes cercados com material resistente e com piso de
areia ou outro material acolchoador, próprio para o amortecimento do impacto de
eventual queda do peão de boiadeiro ou do animal montado106.
Prevê ainda que em caso de infração ao disposto na Lei, o infrator arcará com uma multa de até R$5.320,00, sem prejuízo
de outras penas previstas em leis específicas, além de o órgão estadual competente poder aplicar as seguintes sanções:
advertência por escrito; suspensão temporária do rodeio e suspensão definitiva do rodeio107.
Apesar da lei proibir muitos acessórios que causam danos à integridade física nos animais, exigindo ainda que todos devam
ser feitos de lã, nada foi proibido acerca de sedém, a cinta que tanto os machucam e os estressam, em razão desta ser um
item crucial para a prática do rodeio108.
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Conclui-se, portanto, que muito embora a Lei minimize o grau de estresse e sofrimento em que os animais são submetidos,
não é o suficiente, pois a lei foi produzida tão somente para regulamentar a prática cruel que é o rodeio.
​​​​​​​​​​​​​​Rinhas
As rinhas são espécies de briga na qual os animais são obrigados a lutarem entre si, até que um dos tutores desista da
briga ou um dos animais morra109.
Estas lutas são comuns entre galos e canários, mas também acontecem entre outros animais, como entre os cães.
As rinhas de galo são as mais populares e mais antigas em nosso país. Sua prática se iniciou na Grécia antiga, tendo sido
trazida ao Brasil no século XIX com a vinda da corte de Dom João VI110.
De forma frequente, surgem figuras políticas visando descriminalizar as rinhas, tal como o deputado Fernando de Fabinho
(PFL-BA), que apresentou o projeto de Lei n° 4.340/04. Atualmente, o projeto encontra-se arquivado. Os defensores deste
projeto, alegam que a luta é uma prática esportiva e cultural brasileira, o qual os animais participantes são bem tratados e
agem de acordo com seus impulsos naturais. Alegam ainda, que esta atividade traz riquezas e empregos111.
Entretanto, mantém-se o posicionamento de que existem pelo mundo culturas cruéis, e nem por essa razão deve-se tratar
tal situação como sendo normal, e muito menos agir de forma absolutamente primitiva, sobre o pretexto de que se trata de
uma mera manifestação cultural de determinado povo. Ademais, as rinhas constituem crime de maus-tratos, de acordo com
o artigo 32 da Lei n° 9.605/98, bem como contravenção penal, em virtude de acarretar grandes fortunas a facções
criminosas112.
Como anteriormente mencionado, as rinhas podem ser ainda de canário. Os canários possuem uma agressividade típica no
período de reprodução, por isso esta espécie de pássaros é capturada para este tipo de atividade113. Nesta modalidade, os
organizadores incentivam dois canários machos a competirem até a morte pela fêmea, e o vencedor acaba não ficando com
ela. O pássaro é levado para diversas lutas seguidas, a fim de proporcionar maiores lucros aos jogadores de apostas114.
A rinha de canários é considerada ‘’exploração de jogo de azar, sob a forma de ‘briga de pássaros’, constitui – também –
crueldade contra animais (RT 500/339)’’115.
Além disso, manter pássaros em cativeiro, é crime previsto pelo artigo 3º da Lei de Proteção à Fauna:
Art. 3º. É proibido o comércio de espécimes da fauna silvestre e de produtos e objetos
que impliquem na sua caça, perseguição, destruição ou apanha116.
Dessa forma, no Brasil, as rinhas independentemente do animal participante, é considerada crime de maus-tratos, sendo tal
conduta vedada expressamente pela Constituição Federal e pela Lei dos Crimes Ambientais117.
​​​​​​​​​​​​​​Vivissecção
Na forma literal da palavra, vivissecção quer dizer ‘’cortar vivo’’118. Conforme os ensinamentos da Professora Edna Cardozo
Dias, vivissecção é definida ainda como:
A realização de experiências dolorosas em animal vivo (...) consistente no uso de seres
vivos, principalmente animais, para o estudo dos processos da vida e de doenças, e todo
tipo de testes e experimentos119.
Dessa forma, entende-se por vivissecção os testes e experimentos os quais os animais são submetidos em nome da
ciência.
As práticas que são realizadas são extremamente dolorosas e indignas. A seguir, estão elencados alguns dos
procedimentos realizados, de acordo com a Professora Edna Cardozo Dias:
1- Draize Eye Irritancy Test – Shampoos, pesticidas, herbicidas, produtos de limpeza e da
indústria química são testados em olhos de coelhos albinos conscientes, presos em
aparelhos de contenção. Neste teste, existente desde 1944, os coelhos não recebem
sedativos para aliviara dor, durando dias, durante os quais a córnea e a íris são
examinadas para se verificar ulceração, hemorragia, irritação, inchaço e cegueira. Ainda,
este teste é condenado cientificamente, eis que os olhos do coelho são estruturalmente
diferentes dos olhos humanos.
2- LD 50, dose letal em 50% - Este teste consiste em administrar nos animais uma dose
de certos produtos tais como pesticidas, cosméticos, drogas e produtos de limpeza, para
verificar a toxidade. Em 50% das aplicações, ocorre a morte do animal. Os meios
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empregados para a ingestão são: por meio de tubo ligado ao intestino, injeções, inalação
forçada e aplicação de substâncias na pele. Não se aplica medicamento para aliviar a dor
dos animais, tendo como sinais do envenenamento, lágrimas, diarreia, sangramento dos
olhos e boca, convulsões, etc.
3- Experimentos na área da psicologia – Utilizados para estudo comportamental.
Podemos citar a privação da proteção materna e privação social na inflicção de dor para
observação do medo; uso de estímulos aversivos como choques elétricos, dor, privação
de alimento e água, para aprendizagem; indução de animais a estados psicológicos
estressantes para estudar drogas como antidepressivos, soníferos, sedativos,
tranquilizantes; dentre outros. Ainda, há experiências em que os animais são submetidos
a operações para retirada de parte do cérebro, para observação das alterações
comportamentais120.
No Brasil, tais experimentos são previstos pela Lei 11.794, de 8 de outubro de 2008121.
A Lei autoriza o uso de animais em estabelecimentos de ensino superior, estabelecimentos de educação profissional técnica
de nível médio da área biomédica122.
Além disso, esta Lei ainda criou o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONSEA) que possui como
objetivo elaborar normas de uso de animais para pesquisa ou ensino de forma mais humanitária123. De acordo com a
referida Lei, o CONSEA também é responsável por credenciar instituições que criem ou utilizem animais em ensino e
pesquisa científica124.
Foram criadas ainda pela Lei, as Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs), que são comissões desenvolvidas
dentro das instituições para autenticar seus procedimentos, tornando-os mais legítimos na visão da sociedade125.
Em seu artigo 14, a Lei ainda prevê os cuidados especiais que os animais que passarão pelas intervenções deverão
receber antes, durante e após o procedimento:
Art. 14. O animal só poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos protocolos
dos experimentos que constituem a pesquisa ou programa de aprendizado quando,
antes, durante e após o experimento, receber cuidados especiais, conforme estabelecido
pelo CONCEA.
§ 1o O animal será submetido a eutanásia, sob estrita obediência às prescrições
pertinentes a cada espécie, conforme as diretrizes do Ministério da Ciência e Tecnologia,
sempre que, encerrado o experimento ou em qualquer de suas fases, for tecnicamente
recomendado aquele procedimento ou quando ocorrer intenso sofrimento.
§ 2o Excepcionalmente, quando os animais utilizados em experiências ou demonstrações
não forem submetidos a eutanásia, poderão sair do biotério após a intervenção, ouvida a
respectiva CEUA quanto aos critérios vigentes de segurança, desde que destinados a
pessoas idôneas ou entidades protetoras de animais devidamente legalizadas, que por
eles queiram responsabilizar-se.
§ 3o Sempre que possível, as práticas de ensino deverão ser fotografadas, filmadas ou
gravadas, de forma a permitir sua reprodução para ilustração de práticas futuras,
evitando-se a repetição desnecessária de procedimentos didáticos com animais.
§ 4o O número de animais a serem utilizados para a execução de um projeto e o tempo
de duração de cada experimento será o mínimo indispensável para produzir o resultado
conclusivo, poupando-se, ao máximo, o animal de sofrimento.
§ 5o Experimentos que possam causar dor ou angústia desenvolver-se-ão sob sedação,
analgesia ou anestesia adequadas.
§ 6o Experimentos cujo objetivo seja o estudo dos processos relacionados à dor e à
angústia exigem autorização específica da CEUA, em obediência a normas estabelecidas
pelo CONCEA.
§ 7o É vedado o uso de bloqueadores neuromusculares ou de relaxantes musculares em
substituição a substâncias sedativas, analgésicas ou anestésicas.
§ 8o É vedada a reutilização do mesmo animal depois de alcançado o objetivo principal
do projeto de pesquisa.
§ 9o Em programa de ensino, sempre que forem empregados procedimentos
traumáticos, vários procedimentos poderão ser realizados num mesmo animal, desde
que todos sejam executados durante a vigência de um único anestésico e que o animal
seja sacrificado antes de recobrar a consciência.
§ 10. Para a realização de trabalhos de criação e experimentação de animais em
sistemas fechados, serão consideradas as condições e normas de segurança
recomendadas pelos organismos internacionais aos quais o Brasil se vincula126.
A Lei em questão foi alvo de muitas críticas, uma vez que não se reconhece no texto legal praticamente nada da Teoria dos
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3R’s, já estudada no Capítulo 3.1. deste trabalho127.
Esses posicionamentos contrários a lei se dão, pois, o artigo 32, parágrafo 1º da Lei de Crimes Ambientais prevê que
haverá sanções para as experiências realizadas de forma dolorosa e cruel em animal vivo, mesmo que com a finalidade
didática e científica quando existem meios alternativos. Porém, a Lei 11.794/08 preconiza que a atividade de vivisseção não
é uma atividade ilegal128.
Assim sendo, a jurisprudência atual entende que não há nenhum conflito entre as leis, e que se tal atividade for praticada
conforme a Lei 11.794/08, não se caracteriza experiência cruel prevista pelo artigo 32, parágrafo 1º da Lei de Crimes
Ambientais129.
Atualmente no Brasil, nota-se uma tendência em abolir o uso de animais em experiências.
As empresas de medicamentos, cosméticos e até mesmo estabelecimentos de ensino, estão substituindo os animais e
procurando novas opções. Como por exemplo o curso de medicina veterinária da Faculdade das Américas (FAM), que é o
primeiro do país em usar um cachorro sintético para as aulas de anatomia130.
Conclui-se então, que embora exista uma lei regulamentando a vivissecção, esta ainda é uma prática extremamente cruel.
E se há diversas alternativas para testes com animais, tais como pesquisas com células humanas in-vitro, materiais feitos
com células humanas que reproduzem o tecido das córneas, peles sintéticas, entre outras131, tais opções devem ser
adotadas em detrimento da vivissecção.
Então, o posicionamento neste trabalho é o de que a Lei vai de encontro ao que preconiza o artigo 225, parágrafo 1º, inciso
VII da Constituição Federal.
Entende-se que a substituição de animais por outros métodos, traria benefícios à saúde do Homem, uma vez que os
estudos não seriam mais realizados com organismos que funcionam de forma oposta aos organismos humanos132. Ao
prezar por uma pesquisa ética, conteria, sobretudo, o sofrimento e a morte desnecessária, os quais diversos animais são
submetidos contra suas vontades.
​​​​​​​Eficácia da Aplicação da Lei
De acordo com o que foi exposto, há diversas legislações em vigor que tutelam a maioria das situações em que os animais
sofrem maus-tratos. Entretanto, são legislações que precisam ser aperfeiçoadas.
Como visto, o crime de crueldade contra animais é tutelado pelo artigo 32 da Lei 9.605/98, que prevê uma pena de
detenção, de somente três meses a um ano, e multa. E na maioria dos casos ocorre a transação penal, a qual a pena de
detenção é substituída pela pena restritiva de direito ou pagamento de multa, que no fim pode ser convertida em cesta
básica133. Se o criminoso for condenado ao pagamento de multa, mesmo que não pague, não poderá ser preso, pois

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