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2018 GeoGrafia do Brasil Regina Luiza Gouvea Talita Cristina Zechner Lenz Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Regina Luiza Gouvea Talita Cristina Zechner Lenz Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 918.81 G719g Gouvea, Regina Luiza Geografia do Brasil / Regina Luiza Gouvea; Talita Cristina Zechner Lenz Indaial: UNIASSELVI, 2018. 222 p. : il. ISBN 978-85-515-0148-1 1.Geografia - Brasil. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III apresentação Olá, acadêmico! Inicia-se a disciplina Geografia do Brasil. Ao cursar esta disciplina, você compreenderá o processo de construção do território brasileiro, território fisiograficamente distinto, cuja história também ocorreu de modo igualmente diferenciado. Ao conhecer a posição do Brasil no mundo e na América do Sul, você compreenderá porque o território apresenta diferentes paisagens naturais, resultado, dentre outros fatores, da variação da incidência da luz solar e a importância atribuída ao aproveitamento desta luz solar para a economia do país. As diferentes fontes de energia geradas e consumidas no país também são um tema explorado neste livro de estudos. Na Unidade 2 deste livro didático, você irá estudar a geografia da população brasileira. Inicialmente será explicado porque os estudos populacionais compõem uma área de estudo da geografia e quais elementos são levados em conta neste tipo de análise. Posteriormente será analisado o processo de formação da população brasileira. Neste sentido, serão discutidos temas como miscigenação e diversidade cultural. Avançando nos estudos sobre o processo de formação do povo brasileiro, vamos estudar alguns aspectos relevantes relacionados à dinâmica demográfica da população brasileira ao longo das últimas décadas. Na sequência serão analisados aspectos recentes da dinâmica populacional no contexto brasileiro. A ênfase será destacar quais são os movimentos mais relevantes no tocante à dinâmica populacional recente no Brasil e quais fatores são responsáveis por estimular a “saída” ou a “retenção” de parcelas significativas da população brasileira. Na Unidade 3, o tema central serão as redes geográficas. Para começar a unidade, será discutido o conceito de redes no campo da Geografia, e na sequência, será analisada a rede urbana brasileira. Ainda, nesta unidade ,você vai conhecer o conceito de regiões de influência e sua relevância para os estudos geográficos atuais. Ao fim da Unidade 3, a temática a ser estudada é a rede de transportes no Brasil, incluindo os distintos modais de transportes e seus impactos e entrelaçamentos em diversos setores econômicos e, por conseguinte, sua imbricação com outras disciplinas. Desejamos que sua caminhada de estudos seja profícua e proveitosa! Prof.ª Regina Luiza Gouvea Prof.ª Talita Cristina Zechner Lenz IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS ................... 1 TÓPICO 1 – O BRASIL E O MUNDO ................................................................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL ................................................................................ 3 2.1 A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO ...................................................................... 3 2.2 EVOLUÇÃO ADMINISTRATIVA DO BRASIL .......................................................................... 13 3 O BRASIL E O MUNDO ................................................................................................................... 17 3.1 POSIÇÃO DO BRASIL NO GLOBO TERRESTRE ..................................................................... 20 3.2 O BRASIL NA AMÉRICA DO SUL .............................................................................................. 22 3.3 FUSOS HORÁRIOS ........................................................................................................................ 26 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 30 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 31 TÓPICO 2 – AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL ................................................................. 33 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33 2 OS GRANDES DOMÍNIOS PAISAGÍSTICOS BRASILEIROS ................................................. 33 2.1 DOMÍNIO DAS TERRAS BAIXAS FLORESTADAS DA AMAZÔNIA .................................. 35 2.2 DOMÍNIO DAS DEPRESSÕES INTERPLANÁLTICAS SEMIÁRIDAS DO NORDESTE .... 36 2.3 DOMÍNIO DOS “MARES DE MORROS” FLORESTADOS ..................................................... 37 2.4 DOMÍNIO DOS CHAPADÕES CENTRAIS RECOBERTOS POR CERRADOS, CERRADÕES E CAMPESTRES E PENETRADOS POR FLORESTA GALERIA .................... 38 2.5 DOMÍNIO DOS PLANALTOS DE ARAUCÁRIAS .................................................................... 39 2.6 DOMÍNIO DAS PRADARIAS MISTAS DO RIO GRANDE DO SUL ...................................... 40 3 A BASE GEOLÓGICA DO RELEVO BRASILEIRO ..................................................................... 41 4 BIOMAS DO BRASIL .......................................................................................................................... 43 5 CLIMA .................................................................................................................................................... 45 6 HIDROGRAFIA ................................................................................................................................... 52 6.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS DO BRASIL ...................................................................................53 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 59 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 60 TÓPICO 3 – FONTES DE ENERGIA ................................................................................................... 63 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63 2 ENERGIA HIDRÁULICA .................................................................................................................. 64 3 PETRÓLEO E DERIVADOS .............................................................................................................. 66 3.1 GÁS NATURAL .............................................................................................................................. 69 3.2 CARVÃO NATURAL ...................................................................................................................... 70 4 BIOCOMBUSTÍVEL ........................................................................................................................... 71 5 ENERGIA NUCLEAR .......................................................................................................................... 73 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 75 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 76 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 77 sumário VIII UNIDADE 2 – GEOGRAFIA E POPULAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES..................................................................................................................... 79 TÓPICO 1 – A POPULAÇÃO BRASILEIRA ...................................................................................... 81 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 81 1.1 A RELAÇÃO ENTRE GEOGRAFIA E POPULAÇÃO ............................................................... 81 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 87 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 88 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 89 TÓPICO 2 – FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E DIVERSIDADE CULTURAL ....... 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 91 1.1 A FORMAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E O PROCESSO DE MISCIGENAÇÃO ..... 91 1.2 A CONFIGURAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA E AS DINÂMICAS POPULACIONAIS ........................................................................................................................... 99 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 108 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 109 TÓPICO 3 – DINÂMICAS POPULACIONAIS RECENTES NO CONTEXTO BRASILEIRO ........ 111 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 111 2 APORTES CONCEITUAIS ................................................................................................................. 112 2.1 MIGRAÇÃO ..................................................................................................................................... 112 2.2 TIPOS DE MIGRAÇÃO .................................................................................................................. 113 2.3 MIGRANTE ...................................................................................................................................... 115 2.4 EMIGRANTE .................................................................................................................................... 115 2.5 IMIGRANTE ..................................................................................................................................... 115 2.6 MOVIMENTOS PENDULARES .................................................................................................... 117 2.7 ARRANJOS POPULACIONAIS .................................................................................................... 120 3 O CONTEXTO DAS MIGRAÇÕES NO BRASIL .......................................................................... 127 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 133 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 134 TÓPICO 4 – APONTAMENTOS SOBRE AS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS RECENTES NO BRASIL ................................................................................................. 135 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 135 2 QUAIS SÃO OS FATOS MARCANTES NA ATUALIDADE NO ÂMBITO DAS IMIGRAÇÕES INTERNACIONAIS? ............................................................................................... 135 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 141 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 147 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 148 UNIDADE 3 – ESTUDOS DA REDE URBANA BRASILEIRA, DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA E DAS REDES DE TRANSPORTE NO BRASIL ......................... 149 TÓPICO 1 – NOTAS SOBRE O USO DO TERMO “REDE” ........................................................... 151 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 151 2 DISCUTINDO O CONCEITO DE REDES ...................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 155 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 156 IX TÓPICO 2 – A REDE URBANA BRASILEIRA .................................................................................. 157 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 157 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 168 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 169 TÓPICO 3 – O ESTUDO DAS REGIÕES DE INFLUÊNCIA ..........................................................171 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 171 1.1 O QUE SÃO REGIÕES DE INFLUÊNCIA DAS CIDADES - REGIC? ..................................... 171 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 181 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 182 TÓPICO 4 – AS REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL ............................................................ 183 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 183 1.1 DEFINIÇÕES CONCEITUAIS ....................................................................................................... 183 1.2 TRANSPORTE FERROVIÁRIO ..................................................................................................... 185 1.3 TRANSPORTE RODOVIÁRIO ...................................................................................................... 189 1.4 TRANSPORTE HIDROVIÁRIO .................................................................................................... 195 1.5 TRANSPORTE AEROVIÁRIO ....................................................................................................... 201 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 207 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 210 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 212 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 213 X 1 UNIDADE 1 BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • compreender o processo de construção do território brasileiro; • conhecer a posição do Brasil no mundo e na América do Sul; • compreender a história do surgimento dos fusos horários no Brasil e no mundo; • explicar os fatores que servem de referência para afirmar que o Brasil é um país continental; • conhecer os domínios paisagísticos do país, assim como diferentes classi- ficações climáticas; • conhecer as diferentes fontes de energia gerada e consumida no país. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O BRASIL E O MUNDO TÓPICO 2 – AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL TÓPICO 3 – FONTES DE ENERGIA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 O BRASIL E O MUNDO 1 INTRODUÇÃO O Brasil é um país de grandes dimensões territoriais. Possui uma superfície de 8.515.759,090 km2 e 5.570 municípios (IBGE, s.d.). Essa grande extensão territorial, segundo Santos e Silveira (2003), é uma das características mais marcantes do país, mas não é a única. Outra característica marcante do território brasileiro é seu clima. O Brasil é considerado um país tropical e, segundo Sachs (2010), países tropicais possuem uma grande biodiversidade e climas propícios à produção de biomassa, com exceção dos locais onde as restrições hídricas não criam obstáculo. Porém, apesar da riqueza de recursos dos países tropicais, Sachs (2010) ressalta que é importante que estes possam remediar a crise social e o déficit de oportunidades de trabalho decente. Mas este é um assunto para outro momento. Vamos estudar agora a formação territorial do Brasil. 2 A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL Acadêmico! Neste tópico, você entenderá, de forma sucinta, o processo de formação de território brasileiro, desde a colonização até a configuração atual, assim como a evolução administrativa do país. É importante que você aprofunde seus conhecimentos, recorrendo à literatura empregada na elaboração deste tópico, referenciada no final desta unidade, dentre eles, Milton Santos e Antonio Carlos Robert Moraes. 2.1 A FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO Após a colonização do Brasil, durante os primeiros quatro séculos, as áreas de domínio português e brasileiro se ampliaram com a conquista dos sertões. A ultrapassagem da linha de Tordesilhas, o avanço na Bacia Amazônica, a modificação das fronteiras na Bacia do Prata e a conquista do Acre determinaram os lineamentos do mapa do país. Assim, desse ponto de vista, segundo Santos e Silveira (2003), o século XX foi marcado por um período de estabilidade. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 4 Para os referidos autores, é desse modo que hoje o Brasil dispõe de um território fisiograficamente distinto, com uma grande diversidade de sistemas naturais sobre os quais a história foi acontecendo de um modo igualmente diferenciado. Santos e Silveira (2003) ainda ressaltam que a conquista de áreas feitas por atividades econômicas modernas (ciclos da economia) mostra a escolha, em cada período, de áreas diversas de implantação. Inicialmente o litoral é ocupado, seguindo-se as diversas frentes pioneiras. Contudo, somente na segunda metade do século XX é que o nosso território pôde ser considerado inteiramente apropriado, apesar de descontinuidades do território, principalmente na região amazônica. Só para recordar, a primeira divisão interna do Brasil foi realizada a partir da doação de 14 capitanias hereditárias, entre os anos de 1534 a 1536. Os donatários eram, em sua maior parte, originários da baixa nobreza e eram responsáveis economicamente pela empresa colonizatória (IBGE, 2011). A materialização deste modo de produção no espaço geográfico pode ser observada na figura a seguir: FIGURA 1 – A ECONOMIA E O TERRITÓRIO NO SÉCULO XVI FONTE: Adaptado de Thèrry e Melo (2005) Meridiano de Tordesillas Pau-brasil Cana-de-açúcar Pecuária Limites das capitanias hereditárias Capitanias reais Cidades e vilas Cananéia Fonte: baseado em Manoel Maurício de Albuquerque, Atlhas histórico. © HT-2003 MGM-Libergéo S N O L São Paulo Sra. da Conceição de Itanhaém Santos São Sebastião do Rio de Janeiro N. Sra. da Vitória Porto Seguro Santa Cruz São Joige dos Ilhéus Salvador São Cristóvão Olinda Filipéia Natal Espírito Santo 0 573 km TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 5 Segundo Moraes (2001), para entender a formação do território brasileiro é necessário entender o que se passava na Europa naquele momento e, por outro lado, comparar com a forma como se deu a colonização na América Latina. Para o autor, ao realizar um estudo dos países de formação colonial, a dimensão espacial ganha um peso muito maior pela seguinte razão: a colonização é uma relação sociedade-espaço. Então, eis a indagação do autor: na verdade, o que é colonização? Para Moraes (2001), colonização é a relação entre uma sociedade que se desenvolve e os lugares onde ocorre esse desenvolvimento. Ela é, em si mesma, uma conquista territorial. A colonização diz respeito a uma anexação de território ao seu patrimônio territorial. A situação colonial apresenta uma relação entre sociedade e espaço, com interesse à própria conquista do espaço. Portanto, para o referido autor, a colônia pode ser percebida como a efetivação da conquista territorial. É a internalização do agente externo, que implica na consolidação desse domínio territorial, na apropriação de terras, na submissão das populações defrontadas, assim como na exploração dos recursos presentes no território colonial. Segundo Moraes (2001),a noção de conquista pode explicar tudo isso, o que traz o traço de violência comum em todo período colonial. As três dimensões na formação dos territórios destacadas por Moraes (2001) são: • o território é uma construção bélica/militar; • é uma construção jurídica; • é uma construção ideológica. Esse processo não acontece necessariamente nessa sequência, conforme Moraes (2001) destaca. Então, vamos esclarecer melhor os diferentes tipos de formação dos territórios. Há casos em que: • primeiramente vem o pleito ideológico, seguido da conquista militar, depois a legalização jurídica; • primeiramente se faz a legalização política e depois a efetivação da conquista militar, como o caso de Israel; • primeiramente se faz a conquista e depois se impõe um processo ideológico de afirmação da nova identidade; • o ideológico antecede e anima esse processo. Agora vamos conhecer as bases da formação do território brasileiro, descrita por Antônio Robert de Moraes. Moraes é graduado em Geografia e Ciências Sociais e possui livre docência em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Trabalhou nas áreas de Metodologia e História da Geografia, publicando mais de uma dezena de livros sobre o tema e também atuou no campo das políticas territoriais dentro e fora do Brasil. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 6 Para compreender melhor o tema, leia o texto do referido autor intitulado “Bases da formação territorial do Brasil”. ATENCAO De acordo com Moraes (2001), a princípio, o Brasil não possuía atrativos. Ele foi descoberto para ser esquecido. Portanto, não seria correta a ideia de que o colonizador chegou aqui para se apropriar de alguma coisa que estava disponível. Isso se justifica pela ausência de um investimento de capitais, inclusive, as capitanias que obtiveram êxito foram aquelas que tiveram disponibilidade de capital para empreender na colônia. E a ocupação do território, como se deu? Foi por volta de 1570 que começou o período definido pelos historiadores como o século do açúcar no Brasil, que ocasionou a primeira ocupação. FIGURA 2 – BRASIL COLÔNIA – CICLO DA CANA-DE-AÇÚCAR FONTE: Disponível em: <http://hstparatodolado.blogspot.com.br/2011/07/ conjuntura-do-ciclo-da-cana-de-acucar.html>. Acesso em: 31 jul. 2017. Em 1580, a Coroa portuguesa foi reivindicada pelo rei espanhol e o Brasil passou a ser uma colônia da Espanha. Segundo Moraes (2001), isso não é muito divulgado na história brasileira. Bem como menciona o referido autor, isso deve ter provocado alguma consequência. Mas qual? Diante deste cenário, o Tratado de Tordesilhas deixou de fazer sentido, pois, de um lado havia súditos do rei da Espanha e, do outro, também. Assim, TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 7 uma linha que não serve para demarcar nada, não tem sentido. Contudo, se a unificação das coroas ibéricas não tivesse ocorrido, dificilmente o mapa brasileiro seria o atual. Nos 1960 anos de unificação, houve pessoas que nasceram, viveram e morreram num Brasil hispânico. Este foi um período de grande expansão territorial e de segmentação da soberania portuguesa sobre o território brasileiro. E por falar na expansão do território, o autor salienta que, ao norte, a expansão ocorreu em função da expulsão dos franceses do Maranhão, quando tropas saíram de Pernambuco e foram esquadrinhando o litoral cearense até São Luís para expulsá-los. A fundação de Belém ocorreu neste contexto, em 1616, originando uma situação típica da geopolítica: quem domina a foz de um rio tem condições de dominar a bacia inteira, e foi o que consumou na história da Amazônia. E quanto ao índio que habitava o território brasileiro? Segundo Moraes (2001), essa foi uma situação interessante, em que a Igreja discutia se o índio era gente ou não, até que o Concílio de Trento chegou à conclusão de que o índio era gente. Então outra questão foi levantada: eles podiam ser escravizados ou não, pois a escravidão era vista como uma espécie de castigo àqueles que eram desleais. Mas este não é um assunto que será discutido neste item. Vamos prosseguir com os estudos de Moraes voltados para a expansão do território brasileiro. A expansão territorial continua e com isso houve também fracionamento da soberania, com a invasão holandesa. O auge do domínio holandês no Brasil foi o momento da restauração portuguesa. Os holandeses dominavam desde o Maranhão até a barranca do São Francisco, praticamente toda a Zona da Mata. Na metade do século XVII, Portugal voltou a existir como reino autônomo. O Brasil estava fracionado e assim permaneceu naquele momento. Este período foi marcado pelo processo de recuperação da soberania portuguesa sobre essas terras divididas. Somente ao final do século XVII, a soberania sobre o território brasileiro estava definida, quando a soberania portuguesa se recompôs, se consolidou e se expandiu. Um fenômeno fundamental para o processo da formação territorial ocorreu na última década do século XVII: a descoberta do ouro, pois levou a uma maior interiorização da colonização. Além de contribuir com a formação do território brasileiro, a mineração foi uma atividade urbanizadora, porque em qualquer lugar de ocorrência de mineração surgiam cidades, gerando assim a primeira rede de cidades do Brasil. Em função da demanda da mineração, a pecuária avançou, chegando às barrancas do Araguaia e do Tocantins no início do século XVIII. A pecuária nos campos de São Pedro, sul do Brasil, também se voltou para o abastecimento da zona mineira. A segunda metade deste século, entre 1700 a 1750, é marcada pelo UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 8 ouro pelos tratados internacionais que legitimaram as fronteiras: como o Tratado de Madri e o Tratado de Santo Idelfonso, que praticamente definiram as atuais fronteiras do Brasil. O auge da crise do sistema colonial inicia-se a partir de 1750. As Figuras 3, 4, 5 e 6 são ilustrações do Brasil colônia. FIGURA 3 – DETALHE DE SANTOS - 1765/1775 - “VILLA E PRAÇA DE SANTOS” FONTE: Reis Filho (2007) FIGURA 4 – ALBERT DUFOURCQ (DETALHE DA BAÍA DE TODOS OS SANTOS, ANTIGA CAPITAL DO BRASIL-1782) FONTE: Reis Filho (2007) TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 9 FIGURA 5 - DUCHÉ DE FARNEY (DETALHE DE FLORIANÓPOLIS – NOSSA SENHORA DO DESTERRO – 1785 – “VISTA DA ILHA DE SANTA CATARINA”) FONTE: Reis Filho (2007) FIGURA 6 - FRANCISCO ANTÔNIO MARQUES GIRALDES - DETALHE DE FORTALEZA - 1811 - “PERSPECTO DA VILLA DA FORTALEZA DE N. SNR. D’ASSUMPÇÃO OU PORTO DO SEARÁ” FONTE: Reis Filho (2007) UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 10 Moraes (2001) destaca que é muito importante analisar a própria questão da independência. Para o autor, dificilmente se entenderia a independência brasileira sem considerar um aspecto central do ponto de vista da formação territorial: a existência de grandes fundos territoriais no momento da independência. No momento da independência, apenas 1/5 do território ocupado, no Brasil, era ocupado pela economia colonial. O restante eram fundos territoriais. FIGURA 7 – VICE-REINO DO BRASIL FONTE: IBGE (2011) O final do século XVIII foi marcado por revoltas no Brasil visando à separação da Metrópole. As conjurações abaixo são exemplos típicos dessas revoltas: • conjuração de Minas Gerais (1789); • conjuração do Rio de Janeiro (1794); • conjuração da Bahia (1798); • conjuração de Pernambuco (1801). TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 11 Esses movimentos culminaram na independência do Brasil, em 1822, sem afetar o território brasileiro. Cabe ressaltar que o grande desafio enfrentado pelo Império (1822-1889) foi o de manter e consolidar a unidade territorial, superando as forças das inúmeras revoltas locais (IBGE, s.d.). A configuraçãodo território brasileiro para a época da independência pode ser observada na Figura 8. FIGURA 8 – IMPÉRIO DO BRASIL FONTE: IBGE (2011) Em 1889, com a proclamação da República, as províncias do Império foram transformadas em estados da República Federativa do Brasil, mantendo as mesmas fronteiras. O Império do Brasil passou então a denominar-se Estados Unidos do Brasil, adotando o modelo americano de governo. O Decreto nº 1, de 15 de novembro de 1889, previa que as províncias do Brasil estariam reunidas pelo laço da federação, constituídas a partir dali em Estados Unidos do Brasil (IBGE, 2011). Contudo, a região do Acre somente foi incorporada ao Brasil em 1903, com a assinatura do Tratado de Petrópolis, negociado pelo Barão do Rio Branco (IBGE, s.d.). Observe a configuração do Brasil na época da proclamação da República. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 12 FIGURA 9 – BRASIL NA ÉPOCA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA FONTE: IBGE (2011) A Figura 10 mostra a atual configuração territorial do Brasil após a incorporação do Acre. TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 13 FIGURA 10 – TERRITÓRIO BRASILEIRO FONTE: IBGE (2011) 2.2 EVOLUÇÃO ADMINISTRATIVA DO BRASIL Agora vamos conhecer um pouco sobre a evolução administrativa do Brasil, a partir de um trabalho produzido pelo IBGE, no ano de 2011, intitulado “Evolução da divisão territorial do Brasil 1872-2010”. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 14 Antes de iniciarmos o estudo baseado na obra mencionada e referenciada neste livro, leia o fragmento de texto extraído do site do IBGE, é importante destacar que a partir de 1872, ano de ocorrência do primeiro recenseamento com cobertura de todo o território nacional, o país apresentava uma situação consideravelmente estável no que se referia às províncias e às Unidades da Federação. Este período foi marcado pela ocorrência de algumas mudanças de nomes e de grafias. Algumas unidades foram criadas a partir da divisão de outras, principalmente na Região Norte do país. “A única exceção é o atual Estado do Acre, cujas terras pertenciam à Bolívia e, em 1903, foi anexado ao Brasil pelo Tratado de Petrópolis como Território Federal, tendo, em 1962, sido elevado à condição de Estado do Acre” (IBGE, 2011, s.p.). IMPORTANT E Em 1872, como podemos observar, o Estado do Acre ainda não pertencia ao território brasileiro (Figura 11). FIGURA 11 – BRASIL – 1872 FONTE: IBGE (2011) De acordo com o IBGE (2011), em 13 de setembro de 1943 foram criados, pelo Decreto-Lei nº 5.812, cinco Territórios Federais: • Guaporé com área dividida dos Estados de Mato Grosso e Amazonas; • Rio Branco com área do Amazonas; • Amapá, originário do Estado do Pará; • Ponta Porã desmembrado do Mato Grosso; • Iguassu formado com terras do Paraná. TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 15 O objetivo da criação desses territórios era atender à política do governo federal na defesa das fronteiras nacionais em regiões que, à época, se mostravam vulneráveis a invasões estrangeiras. Vamos conhecer suscintamente cada processo: • o Território Federal de Guaporé teve sua designação alterada para Território Federal de Rondônia em 1956 e em 1982 foi elevado à categoria de Estado; • o Território Federal de Rio Branco passou a chamar-se Território Federal de Roraima em 1962 até 1988, quando a Constituição Federal o elevou a Estado de Roraima; • o Território Federal do Amapá conserva-se assim até 1988, quando foi transformado em estado federado pela Constituição Federal; • os territórios de Ponta Porã e Iguassu apresentaram uma duração curta, sendo extintos pela Constituição Federal de 1946. O arquipélago de Fernando de Noronha, de grande beleza, em 1872, pertencia ao Império e era utilizado como presídio. Em 1891, o arquipélago passou ao domínio do Estado de Pernambuco, que manteve o mesmo uso. Em 1938 tornou ao âmbito federal conservando a função. No dia 9 de fevereiro de 1942 foi elevado a Território Federal pelo Decreto-Lei nº 4.102. A condição administrativa de Território Federal foi mantida até 1988, quando a Constituição Federal o dirigiu à situação de distrito estadual de Pernambuco. Durante o Império, a capital do Brasil situava-se na atual cidade do Rio de Janeiro, que, naquele período, localizava-se no Município Neutro. Com o surgimento da República, em 1889, este município foi transformado em Distrito Federal formado para abrigar a capital do País. Em 1960, com a criação da cidade de Brasília, o Distrito Federal foi transferido para o Planalto Central e o Distrito Federal foi transformado em Estado da Guanabara, também conhecida como Lei San Tiago Dantas, permanecendo até 1975, quando sofreu a fusão com o Estado do Rio de Janeiro. A mesma região, que abrigou a capital do País desde a chegada da Família Real ao Brasil em 1808, foi transformada no Município do Rio de Janeiro, retirando do Município de Niterói as funções políticas e administrativas que exercera durante muitos anos como capital estadual (IBGE, 2011). IMPORTANT E Outras mudanças ocorreram na configuração do território nacional, como veremos a seguir. Podemos observar nos mapas dos anos de 1911 e 1950 (Figura 12) que o Estado do Mato Grosso abrangia os atuais Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O antigo Estado de Mato Grosso foi dividido pela Lei Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, gerando os Estados de Mato Grosso, que permaneceu com a capital Cuiabá, e Mato Grosso do Sul, que passou a ter como capital a cidade de Campo Grande. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 16 FIGURA 12 – BRASIL 1911 (A) E 1950 (B) FONTE: IBGE (2011) A mais recente mudança no quadro das Unidades da Federação aconteceu com o antigo Estado de Goiás, que, por decisão da Constituição Federal de 1988, foi desmembrado, dando lugar aos Estados de Goiás, que permaneceu com a capital Goiânia, e do Tocantins, com capital na cidade de Palmas (Figura 13). FIGURA 13 – BRASIL 1960(A) 1991(B) FONTE: IBGE (2011) Duas áreas do território brasileiro constituíram-se em áreas litigiosas: uma delas, entre os Estados do Piauí e Ceará, que surgiu na década de 1880, quando, por acordo entre as partes, o então Município de Amarração, atual Luís Correia, passou a pertencer ao Piauí em troca dos Municípios de Independência e Crateús; outra localiza-se entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, na serra dos TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 17 Aimorés. Esta área apareceu pela primeira vez no mapa de 1940, tendo surgido provavelmente a partir da delimitação dos municípios exigida pelo Decreto-Lei nº 311, de 2 de março de 1938 (IBGE, 2011). 3 O BRASIL E O MUNDO Como mencionado anteriormente, o Brasil é um país de grande extensão territorial. Sua superfície territorial é de 8.515.759,090 km2, ocupando a quinta posição entre os maiores países do mundo (Figura 14). Com uma área desta grandeza, apresenta uma diversidade de formas de relevo, clima e grande diversidade biológica. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta. Com uma abundante variedade de vida – mais de 20% do número total de espécies da Terra –, o Brasil se eleva ao posto de principal nação entre os 17 países megadiversos (BRASIL, 2018). FIGURA 14 – PAÍSES MAIS EXTENSOS DO MUNDO FONTE: Disponível em: <http://mapas.ibge.gov.br/escolares/publico-infantil/mundo.html>. Acesso em: 3 ago. 2017. Vamos conhecer as distâncias entre os pontos extremos do Brasil. Já que é um país de grandes dimensões, de ponta a ponta, espera-se que as distâncias também sejam consideráveis. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 18 Ao traçar-se uma linha reta no sentido norte-sul obtém-se 4.394,7 km, e no sentido leste-oeste, 4.319,4km. Mas, como sabemos, a superfície terrestre possui inúmeros acidentes geográficos, o que torna estas distâncias maiores. Em função destas distâncias, algumas viagens se tornariam exaustivas por terra e mais viáveis de avião. Para visualizar melhor, observe a Figura 15. FIGURA 15 – PONTOS EXTREMOS DO BRASIL FONTE: Disponível em: http://www.editoradobrasil.com.br/jimboe/galeria/imagens/index. aspx?d=geografia&a=5&u=2&t=imagem. Acesso em: 6 ago. 2017. Sobre os pontos extremos do país, uma reportagem da Revista Superinteressante, de Guilherme Campos, responde às seguintes questões: TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 19 1. Quais são eles, ao norte e ao sul? Diversamente do que muitos pensam, o Brasil não vai do Oiapoque ao Chuí – mas do Caburaí, no Estado de Roraima, ao Chuí, no Rio Grande do Sul. O extremo norte verdadeiro fica na divisa entre o Brasil e a Guiana, no alto do monte Caburaí, que possui 1.456 metros de altitude. 2. Por que o engano? Até o século XVIII, a fronteira em Roraima não havia sido delimitada. Como a cartografia tinha o mar como referência, o Oiapoque (Amapá), ponto mais setentrional da costa brasileira, era citado como o ponto extremo do norte do país. Assim, a expressão “do Oiapoque ao Chuí” ganhou fama e perdura até os dias atuais, ainda que nos mapas oficiais conste o monte Caburaí. 3. Como se determina onde termina um país e começa outro? Quando há um rio separando os territórios, fica simples. Caso contrário, satélites e GPS (Sistema de Posicionamento Global) auxiliam na tarefa. Todavia é necessário que uma comitiva com representantes dos dois lados visite o local e eles cheguem a um consenso, para que não haja conflitos posteriores. Além de serem registradas as coordenadas desses pontos, são erguidos monumentos que indicam a localização exata das linhas demarcatórias. A reportagem da revista Superinteressante está disponível em: <https://super. abril.com.br/comportamento/extremos-do-brasil/>. Acesso em: 20 ago. 2017. ATENCAO Como é possível observar no mapa dos pontos extremos do Brasil, o país possui também uma grande extensão de fronteiras terrestres com alguns países da América do Sul, além de um litoral bastante extenso: entre 7.000 e 9.000 quilômetros. Os pontos extremos do território do Brasil são: ao Norte – o Rio Ailã, em Roraima, na divisa com a Guiana; ao Sul – o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul; a Leste – a Ponta do Seixas, na Paraíba; a Oeste – Rio Moa, no Acre, na divisa com o Peru. Algumas informações sobre os estados e municípios brasileiros foram pontuadas pelo IBGE (2017). Vamos ver quais são. De acordo com o referido instituto: UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 20 1. O maior estado brasileiro continua sendo o Amazonas, com 1.559.146,876 km², superando a soma dos territórios das regiões Sul e Sudeste. O menor estado é Sergipe, com 21.918,443 km², e o Distrito Federal apresenta área de 5.779,997 km². 2. O maior município brasileiro é Altamira, no Pará, com 159.533,328 km², e dimensão territorial que supera vários estados brasileiros. 3. O município mineiro de Santa Cruz de Minas, com extensão de 3,565 km², é o menor do país, acompanhado de Águas de São Pedro, em São Paulo, com área de 3,612 km². Suas áreas são menores que a da Ilha de Fernando de Noronha, distrito estadual de Pernambuco, que tem 17,017 km². 4. No Estado do Rio Grande do Sul, a área alusiva à Lagoa Mirim, incorporada desde 2002 à área do Estado, de acordo com a Constituição Estadual de 1988, passou por alteração nos valores territoriais em 2015, em função dos ajustes na fronteira com o Uruguai, possuindo 2.832,194 km². Quanto aos traçados das fronteiras internacionais do Brasil com os países vizinhos Uruguai e Argentina, foram atualizados conforme deliberado pela Segunda Comissão Brasileira Demarcadora de Limites (SCDL). As informações podem ser acessadas em: <http://scdl.itamaraty.gov.br/pt-br/scdl.xml>. Ressalta- se que a fronteira com o Paraguai foi parcialmente atualizada em 2015, na seção limítrofe com o Estado do Paraná. Para conhecer um pouco mais sobre o ponto mais ao norte do Brasil, assista ao vídeo intitulado “IBGE explica – Extremo norte do Brasil”, disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=EyPzFjoIJGg>. Acesso em: 20 ago. 2017. IMPORTANT E 3.1 POSIÇÃO DO BRASIL NO GLOBO TERRESTRE Observando a posição do Brasil no globo, podemos deduzir porque ele é conhecido como um país tropical. Como nosso país, em sua maior parte, localiza- se entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, encontra-se na zona intertropical, sendo então considerado um país tropical. Esta posição no globo terrestre é relevante para entendermos porque o nosso país apresenta um clima e vegetação diversificados de norte a sul. Como podemos observar na Figura 16, o território brasileiro está situado em duas zonas térmicas: a Zona Tropical, pois é cortado pelo Equador e pelo Trópico de Capricórnio; e a Zona Térmica Temperada do Sul. Localizam-se na zona temperada parte dos estados do Mato Grosso e de São Paulo e todos os estados da Região Sul. TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 21 FIGURA 16 – ZONAS TÉRMICAS DA TERRA FONTE: Ísola e Caldini (2007) À medida que nos afastamos do Equador, as estações do ano tornam-se mais acentuadas e a diferenciação entre elas torna-se máxima nos polos (Figura 17). Essa variação na incidência de raios solares influencia não somente no clima, como também na distribuição da vegetação, consequência da diversidade climática; na formação do solo, em função dos processos de intemperismo; na morfologia, devido ao processo de erosão ao longo dos anos; dentre outros, como veremos no Tópico 2, “As paisagens naturais do Brasil”. FIGURA 17 – INCLINAÇÃO DO EIXO TERRESTRE FONTE: Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/tempo/mas.htm>. Acesso em: 6 de ago. 2017. Os gráficos climatológicos de diferentes capitais brasileiras (Figura 18) exemplificam esta diferenciação. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 22 FIGURA 18 – GRÁFICOS CLIMATOLÓGICOS DE BELÉM, SALVADOR, SÃO PAULO, PORTO ALEGRE. FONTE: <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/graficosClimaticos>. Acesso em: 6 ago. 2017. 3.2 O BRASIL NA AMÉRICA DO SUL Vamos entender um pouco mais sobre a posição do Brasil na América do Sul, importância, relevância política e estratégica. Como é possível observar na Figura 19, o Brasil ocupa uma área considerável da América do Sul. Os países que fazem fronteira com o Brasil são: Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela e Colômbia, ao norte; Uruguai e Argentina, ao sul; e Paraguai, Bolívia e Peru, a oeste. Os dois únicos países sul- americanos que não têm divisas com o Brasil são o Equador e o Chile. Por se tratar de um país com grandes dimensões territoriais, as fronteiras e zonas especiais são objeto de vigilância do Exército brasileiro, da Polícia Federal, da Receita Federal e da Vigilância Sanitária. Nas zonas especiais encontram-se os portos secos e as áreas de livre comércio. Veja a localização do Brasil na América do Sul. TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 23 FIGURA 19 – O BRASIL NA AMÉRICA DO SUL FONTE: Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/produtos_educacionais/ mapas_tematicos/mapas_do_mundo/politico/america_sul_pol.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2017. Antes de entendermos sobre os limites do território brasileiro, leia o fragmento de texto de Machado (2001): [...] se é certo que a determinação e defesa dos limites de uma possessão ou de um Estado se encontram no domínio da alta política ou da alta diplomacia, as fronteiras pertencem ao domínio dos povos. Enquanto o limite jurídico do território é uma abstração, gerada e sustentada pela ação institucional no sentido de controle efetivo do Estado territorial, portanto, uminstrumento de separação entre unidades políticas soberanas, a fronteira é lugar de comunicação e troca. Os povos podem se expandir para além do limite jurídico do Estado, desafiar a lei territorial de cada Estado limítrofe e às vezes criar uma situação de facto, potencialmente conflituosa, obrigando a revisão dos acordos diplomáticos [...] (MACHADO, 2000, s.p.). De acordo com o referido autor, na segunda metade do século XVIII, o perímetro das fortalezas e casas-fortes estava concentrado ao longo da linha de costa, mas foi se expandindo e incorporando as margens das terras do Estado do Brasil e do Estado do Grão-Pará. A linha de fortificações pombalinas foi formalizada pela primeira vez no Tratado de Madri (1750), mas só foi concretizada após a revogação do tratado. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 24 O Período Pombalino corresponde aos anos em que o Marquês de Pombal exerceu o cargo de primeiro-ministro em Portugal, durante o reinado de Dom José I, entre 1750 e 1777. IMPORTANT E De acordo com Machado (2000), apesar de o Tratado de Madri ter sido anulado em 1761, constitui uma referência válida para o estudo do processo histórico de legitimação dos limites das terras brasileiras, tendo em vista: as inovações introduzidas devido às negociações diplomáticas; os lugares de povoamento, especialmente as terras sob domínio das missões religiosas jesuíticas, fundamentais para traçados de limites; os acidentes físicos, ou seja, a fronteira natural, principalmente as fronteiras fluviais, pois não havia reconhecimento do direito indígena ao território. Nesta época, estava sendo desenvolvida na Europa uma relação entre limite e fronteira territorial. Cabendo lembrar que, até o século XVIII, os limites das possessões eram, com frequência, imprecisos. Este também foi o século em que se propagou na Europa a noção de “murofronteira” (MACHADO, 2000). Em meados do século XVIII, segundo o autor, o interesse das Coroas Ibéricas pela definição de limites e, especialmente, a Coroa Portuguesa em investir na ocupação das fronteiras, tinha motivos concretos e imediatos: a economia do ouro. Ouro foi responsável pela propagação dos caminhos de contrabando no interior da colônia e aumento geral do comércio para a colônia e para a metrópole. Observe as rotas do contrabando e fortificações setecentistas na colônia (Figura 20) e os circuitos ilegais e lugares de comunicação em 1998 (Figura 21). TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 25 FIGURA 20 – ROTAS DO CONTRABANDO E FORTIFICAÇÕES SETECENTISTAS FONTE: Machado (2000) FONTE: Machado (2000) FIGURA 21 – CIRCUITOS ILEGAIS E LUGARES DE COMUNICAÇÃO EM 1998 UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 26 Alguns acordos feitos por ocasião do Tratado de Madri foram quebrados, como a negação de Portugal em ceder a Nova Colônia de Sacramento à Espanha em troca da proposição lusitana das fronteiras fluviais como princípio da demarcação; a aliança entre Portugal e Inglaterra durante a Guerra dos Sete Anos (1758-63); e a manutenção da rede de contrabando do Rio da Prata foram importantes para a revogação do Tratado de Madri. Como lembra Machado (2000), tanto naquela época, como agora, as ramificações do contrabando são questões delicadas. Neste sentido, o autor destaca que o papel das fortificações na configuração dos limites do Brasil foi primordial pelas funções simbólica e estratégica, garantindo o controle dos passos de comunicação na fronteira oeste. Consolidadas as fronteiras, hoje, o que se pretende alcançar é a integração entre países através de blocos. Com a América do Sul não é diferente. Vamos conhecer a visão de Costa (2009) sobre as articulações que abrangem este subcontinente. De acordo com Costa (2009, s.p.), do ponto de vista político (ou geopolítico), é relevante o conjunto de iniciativas e articulações que envolvem o continente sul- americano e que estão promovendo-o rapidamente para a posição de uma região geopolítica, ou seja, ressalta o autor, “uma entidade política transnacional dotada de unidade mínima e arcabouço institucional baseados em princípios e macro- objetivos comuns nas relações internacionais”. Para Costa (2009), considerando sua formatação inicial e do seu desenvolvimento atual, o modelo de arranjo regional constitui-se um projeto que procura reproduzir em seus aspectos gerais a experiência europeia “de conjugar o máximo de integração econômica a uma macroconformidade político-institucional de natureza transnacional”. Dessa forma, a análise feita pelo autor revela o distanciamento pronunciado do modelo convencional adotado pela maioria dos blocos regionais, em que os limites da conformidade entre os seus estados-membros estão previamente definidos e os objetivos estão circunscritos aos assuntos econômico-comerciais. Neste caso, a integração sul-americana tende a reproduzir o percurso seguido pela União Europeia com a constituição e a consolidação de um sistema regional- transnacional de governança. 3.3 FUSOS HORÁRIOS Segundo Montalvão (2005), desde os primórdios da humanidade, a posição e o movimento aparentes do Sol foram referências para a contagem do tempo. O que era feito antigamente através do uso do relógio solar, ajustado em função da observação do movimento diário e anual do Sol. Com os avanços na tecnologia e a construção de relógios mecânicos, houve uma maior precisão na contagem das horas, mas não houve a redução da multiplicidade de horários locais. Chegou a haver, no século XIX, 27 horários locais diferentes na Europa e 74 horários locais diferentes na América do Norte, de acordo com o referido autor. Para citar um exemplo, no Brasil, até 1913, quando, no Rio de Janeiro, eram 12 horas, em Recife eram 12h33min, e em Porto Alegre eram 11h28min. Nos EUA, os relógios locais TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 27 se referiam à hora solar do meridiano do Observatório Naval em Washington; na França, a do meridiano do Observatório de Paris; e, no Brasil, a do meridiano do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro (MONTALVÃO, 2005). De acordo com o referido autor, essa pluralidade de horários não apresentava problemas, pois os deslocamentos eram lentos e distâncias das viagens dificilmente eram superiores a algumas centenas de quilômetros, até que, com os avanços tecnológicos no final do século XIX, especialmente com o advento da ferrovia e do telégrafo, aumentaram as velocidades de deslocamento e de comunicação entre cidades e países, e, consequentemente, as diferenças de horários passaram a complicar a adaptação dos usuários à hora local e apresentar transtornos na logística e segurança requeridas pelas indústrias nascentes. Um exemplo citado pelo autor é dos Estados Unidos, onde cada ferrovia tinha o seu horário, prevalecendo o horário da cidade terminal. Dessa forma, a solução recomendada foi padronizar os horários, primeiramente, em alguns países e, posteriormente, em todo o mundo. Foi com esse objetivo que decidiu-se adotar o sistema de fusos horários, em conferência realizada em 1883, na cidade de Roma. Em 1884, 27 países reunidos em uma conferência realizada em Washington, incluindo o Brasil, adotaram o meridiano que passa pelo Observatório de Greenwich 6 (Inglaterra) como sendo o meridiano zero grau, e sua hora solar como sendo a referência da hora oficial mundial, também denominada “hora universal”. Além do meridiano zero, era necessário criar também o fuso zero, que foi formado pela área entre 7,5° a leste (ou meia hora adiantada) e 7,5° a oeste (meia hora atrasada) do meridiano de 0° (meridiano de Greenwich). No Brasil, o sistema de fusos horários só foi adotado em 1913 (MONTALVÃO, 2005). Observe a Figura 22, que mostra o sistema de fusos adotado no Brasil. O nosso país fica a oeste do meridiano de Greenwich e, em função de suagrande extensão territorial, compreende quatro fusos horários, variando entre duas e cinco horas a menos que a hora do meridiano de Greenwich: o primeiro fuso que compreende o território brasileiro – as ilhas oceânicas (Trindade, Atol das Rocas, Abrolhos, São Pedro, São Paulo, Fernando de Noronha) – tem duas horas a menos que o fuso zero (fuso -2); o segundo fuso (fuso -3) é o horário oficial de Brasília e está três horas atrasado em relação ao fuso zero; o terceiro fuso (fuso -4) tem quatro horas a menos que o fuso zero. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 28 FIGURA 22 – FUSOS HORÁRIOS DO BRASIL FONTE: Disponível em: http://www.horadebrasilia.com/fuso-horario.php Acesso em: 22 out. 2017. Com o intuito de aproveitar ao máximo essa maior insolação proporcionada por dias mais longos, adota-se o Horário de Verão, que consiste em adiantar os relógios em uma hora, em relação ao horário oficial dos fusos horários do país adotante. A ideia do Horário de Verão surgiu com Benjamin Franklin, em 1784, até que foi adotado pela primeira vez na Alemanha, em 1916. Logo outros países seguiram o exemplo alemão. Ele é adotado durante a primavera e o verão, período em que os dias são mais longos do que as noites (MONTALVÃO, 2005). Como esse consumo de energia é reduzido com o Horário de Verão? Segundo Montalvão (2005), com essa medida, o nascer do Sol passa a ocorrer antes das sete horas da manhã e o pôr-do-sol ocorre após as 19 horas. Geralmente, a população brasileira começa a chegar em casa perto das 18 horas. Quando não há Horário de Verão, as pessoas chegam em casa, ligam a luz, tomam banho, normalmente com chuveiro elétrico. Isso acontece ao mesmo tempo em que a iluminação pública é acionada. Esse consumo, somado ao consumo industrial, provoca um pico de consumo no Sistema Elétrico Interligado, mantendo-se, de modo geral, até às 19 horas, quando o consumo industrial começa a se reduzir e a maioria dos chuveiros elétricos já estão deligados. Com a adoção do Horário de Verão, a iluminação pública e parte do consumo de energia residencial se alteram para após as 19 horas, reduzindo a intensidade do pico de consumo de energia. Essa alteração no horário oficial, em inglês, denomina-se daylight saving time, expressão que retrata adequadamente aquela redução (to save = economizar). O texto abaixo apresenta fragmentos do artigo de Montalvão (2005), sobre a adoção do Horário de Verão no Brasil. TÓPICO 1 | O BRASIL E O MUNDO 29 Horário de Verão no Brasil O Horário de Verão foi adotado no Brasil, pela primeira vez, no verão de 1931/1932. Ele é implantado por decreto do Presidente da República, sempre respaldado legalmente pelo Decreto-Lei nº 4.295, de 13 de maio de 1942, e fundamentado em informações encaminhadas pelo Ministério de Minas e Energia, que toma por base os estudos técnicos realizados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, que indicam quais unidades da Federação deverão ser abrangidas e o período de duração da medida. [...] entre 1931 e 1985, ele foi implantado apenas 11 vezes, e com abrangência em todo o território nacional. Nesse período, o verão de 1967/1968 foi o último em que foi adotado. A partir de 1986, esse instituto passou a ser utilizado anualmente, mas com variações em sua abrangência. No verão de 1985/1986, e nos dois verões seguintes, todo o território nacional ainda foi abrangido. A retomada dessa prática, na década de 1980, foi parte de um elenco de medidas tomadas pelo governo devido ao racionamento ocorrido na época por falta d’água nos reservatórios das hidrelétricas. Em 1988/1989 e 1989/1990, os decretos já não incluíram os estados do Norte do Brasil. Na década de 1990, com fugazes exceções, também ficaram de fora os estados do Nordeste. Entretanto, no verão de 1999/2000, os estados do Nordeste foram novamente incluídos no Decreto do Horário de Verão. [...] o Governo Federal já sabia do risco de uma crise de energia no Sistema Elétrico Interligado, e incluiu o Nordeste no esforço pela economia de energia. [...] O Norte ficou de fora, porque não faz parte do Sistema Interligado Nacional. A inclusão do Nordeste foi efetivada com fortes reações contrárias. No verão de 2000/2001, que antecedeu a crise de energia de 2001, o Governo tentou, mais uma vez, incluir o Nordeste no Decreto do Horário de Verão. Mas, diante de reiteradas reações, lastreadas em decisões judiciais liminares, decidiu retirar a Região. Por outro lado, o Decreto para o verão de 2001/2002, em plena crise de energia, incluiu o Nordeste, dessa vez sem grande resistência dos formadores de opinião, que se submeteram à decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade das resoluções da Câmara de Gestão da Crise de Energia. Nos verões seguintes, já superada a crise de energia, o Nordeste voltou a ficar de fora do Horário de Verão. 30 Neste tópico, você aprendeu que: • O Brasil é um país de dimensões continentais e seu território foi construído ao longo de 500 anos, através de disputas e conquistas. • Por possuir uma ampla extensão territorial, o território brasileiro abrange quatro fusos horários e, por se encontrar no hemisfério ocidental, possui o seu horário atrasado em relação ao meridiano de Greenwich, cuja demarcação oficial (a hora legal) é estabelecida de acordo com mapa estudado. • A posição geográfica do Brasil no globo terrestre, localizado quase em sua totalidade no Hemisfério Sul, esclarece a expressão “país tropical”. • O Brasil é o país mais extenso da América do Sul, apresentando vastas áreas transfronteiriças com quase todos os países do continente. RESUMO DO TÓPICO 1 31 1 (NerdProfessor-Adaptado) Disponível em: <htt p://nerdprofessor.com.br/ exercicios-sobre-a-formacao-do-territorio-brasileiro/>. Acesso em: 21 ago. 2017. Leia as afi rmações a seguir: I- No ano de 1904, a confi guração do território brasileiro já apresentava os limites conhecidos na atualidade. II- Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, acertando as fronteiras entre as terras portuguesas e espanholas na América do Sul. III- No fi nal do século XIX e início do XX, os governos brasileiros resolveram pendências de fronteiras que ainda existiam, através de tratados e conversas diplomáticas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas a alternativa I está correta. b) ( ) Apenas a alternativa II está correta. c) ( ) Apenas as alternativas I e II estão corretas. d) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas. 2 (UFV) Suponha que sejam 9 horas em Viçosa (MG) e que você, estando nessa cidade, precisa planejar uma ligação interurbana para uma pessoa em Boa Vista (RR), que poderá ser encontrada, nessa cidade, às 11 horas, hora local desse estado. Com base no mapa abaixo, o procedimento CORRETO para efetuar essa ligação é: AUTOATIVIDADE 32 a) ( ) Aguardar duas horas para fazer sua ligação, porque no Brasil, embora sejam reconhecidos os limites teóricos dos fusos horários de 15° de longitude, consideram-se apenas os limites práticos definidos pelas fronteiras estaduais. b) ( ) Aguardar uma hora para fazer sua ligação, porque no Brasil, embora sejam reconhecidos os limites teóricos dos fusos horários de 15° de longitude, consideram-se apenas os limites práticos definidos pelas fronteiras estaduais. c) ( ) Fazer sua ligação imediatamente, porque o horário do fuso em que se encontra o Estado de Minas Gerais é o mesmo em que se encontra o Estado de Roraima. d) ( ) Aguardar três horas para fazer sua ligação, porque no Brasil, embora sejam reconhecidos os limites teóricos dos fusos horários de 15° de longitude, consideram-se apenas os limites práticos definidos pelas fronteiras estaduais. 3 O Brasil é um país tropical. Discorra sobre esta afirmativa a partir dos conhecimentos obtidossobre a posição do Brasil no globo terrestre. 33 TÓPICO 2 AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Neste tópico vocês conhecerão os domínios paisagísticos brasileiros abordados por Aziz Ab’Saber em seu livro “Os domínios de natureza do Brasil: potencialidades paisagísticas”. Neste tópico, vocês conhecerão ainda: a base geológica do relevo brasileiro, os biomas do brasil, sistemas de classificação climática e climas do Brasil, hidrografia; e bacias hidrográficas do brasil. Se quiser se aprofundar mais sobre os espaços herdados da natureza, assim denominados pelo autor, consulte a obra de Aziz Ab’Saber, referenciada no final desta unidade, e bom estudo! 2 OS GRANDES DOMÍNIOS PAISAGÍSTICOS BRASILEIROS Segundo Ab’Saber (2003), devido à magnitude espacial do Brasil, seu território comporta um mostruário completo das principais paisagens e ecologias da região tropical. Para o autor, apesar de a maior parte das paisagens do nosso país estar sob a situação de duas organizações opostas e interferentes (homens e natureza), ainda há possibilidade de caracterizar os espaços naturais, numa tentativa de reconstrução da estruturação espacial original dessas paisagens. No trabalho de Ab’Saber (2003), os domínios morfoclimáticos e fitogeográficos formam um conjunto espacial de certa ordem de grandeza territorial, com um traçado coerente de feições de relevo, tipos de solos, formas de vegetação e condições climático-hidrológicas. O autor esclarece que esses domínios espaciais ocorrem em uma espécie de área principal onde as condições fisiográficas e biogeográficas formam um complexo relativamente homogêneo e extensivo. Mas ainda há espaços de transição entre um domínio e outro. Leia o texto na caixa a seguir para uma melhor compreensão destas áreas. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 34 Entre o corpo espacial nuclear de um domínio paisagístico e ecológico e as áreas nucleares de outros domínios vizinhos – totalmente diversos – existe sempre um interespaço de transição e de contato, que afeta de modo mais sensível os componentes da vegetação, os tipos de solos e sua forma de distribuição e, até certo ponto, as próprias feições de detalhe do relevo regional. Cada setor das alongadas faixas de transição e contato apresenta uma combinação diferente de vegetação, solos e formas de relevo. Num mapa em que sejam delimitadas as áreas core, os interespaços transacionais – restantes entre os mesmos – aparecem como se fossem um sistema anastomosado de corredores, dotados de larguras variáveis. Na verdade, cada setor dessas alongadas faixas representa um combinação sub- regional distinta de fatos fisiográficos e ecológicos, que podem se repetir ou não em áreas vizinhas e que, na maioria das vezes, não se repetem em quadrantes mais distantes. Ab’Saber (2003) Foram reconhecidos seis grandes domínios paisagísticos e macroecológicos no Brasil: quatro intertropicais, que ocupam uma área superior a sete milhões de quilômetros quadrados; e dois subtropicais, ocupando cerca de quinhentos mil quilômetros quadrados em território brasileiro. As faixas de transição e contato equivalem a cerca de um milhão de quilômetros quadrados. Os domínios são: 1- domínio das terras baixas florestadas da Amazônia; 2- domínio das depressões interplanálticas semiáridas do Nordeste; 3- domínio dos “mares de morros” florestados; 4- domínio dos chapadões centrais recoberto por cerrados, cerradões e campestres; 5- domínio dos planaltos de araucárias; 6- domínio das pradarias mistas do Rio Grande do Sul. TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL 35 FIGURA 23 – DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO BRASIL FONTE: Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/provas-e-gabaritos3>. Acesso em: 15 ago. 2017 2.1 DOMÍNIO DAS TERRAS BAIXAS FLORESTADAS DA AMAZÔNIA Esta é uma região carregada de umidade e, geralmente, encoberta por nuvens baixas. Nela encontra-se a mata de “igapós”. Compõem esta paisagem, algumas exceções às terras baixas, as encostas florestadas de blocos montanhosos. AMAZÔNICO OCEANO ATLÂNTICO Trópico de capricórnio BRASIL Domínios Morfoclimáticos CERRADO CAATINGAS ARAUCÁRIAS PRADARIAS FAIXAS DE TRANSIÇÃO MARES DE MORROS D O M ÍN IO S Linha do Equador OCEANO PACÍFICO 0 547km N Terra baixas e florestas equatoriais Áreas mamelonares tropicais - atlânticas florestadas Depressões intermontanas e interplanálticas semi- áridas (Não diferenciadas) Planaltos subtropicais com araucárias Coxilhas subtropicais com pradarias mistas Chapadões tropicais Interiores com cerrados e florestais - galerias UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 36 FIGURA 24 – DOMÍNIO DAS TERRAS BAIXAS FLORESTADAS DA AMAZÔNIA FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso em: 8 ago. 2017. 2.2 DOMÍNIO DAS DEPRESSÕES INTERPLANÁLTICAS SEMIÁRIDAS DO NORDESTE Segundo Ab’Saber (2003), esta é a região semiárida subequatorial e tropical de posição azonal. É uma região de depressões interplanálticas reduzidas a planícies de erosões. Possui fraca decomposição de rochas, com mantos de alteração que variam, geralmente, de 0 a 3m. Mares de pedras costumam aflorar em meio às caatingas mais rústicas. Há presença de vertissolos e eventuais aridissolos ao longo das planícies sertanejas. As drenagens intermitentes sazonais são marcantes na região. Isto ocorre devido ao ritmo desigual e pouco frequente das precipitações, que variam de 300 a 600mm anuais. As irregularidades no volume anual das precipitações podem ocasionar anos secos, como também anos em que as precipitações são capazes de provocar inundações. São encontradas: estreitas matas ciliares ao longo dos diques marginais dos rios intermitentes; largas galerias ao longo das várzeas dos baixos cursos d’água do Rio Grande do Norte e do Ceará; casos raros de manchas de solos salinos nos aluviões dos baixos cursos d’água do Rio Grande do Norte; enclaves de brejos na forma de microrregiões úmidas e florestadas, com solos de boa fertilidade natural, contudo frágeis, dependendo da posição topográfica e tipo de uso do solo. De acordo com Ab’Saber (2003), o semiárido nordestino é a área que apresenta as mais bizarras e rústicas paisagens morfológicas e fitogeográficas do país. Destaque para os campos de inselbergs, que figuram como atrativo turístico: Milagres (Bahia), Quixadá (Ceará), Patos (Paraíba), Caicó-Pau dos Ferros (Rio Grande do Norte). O semiárido, destaca Ab’Saber (2003), é uma região de velha ocupação baseada no pastoreio extensivo. Foi sujeita a forte degradação da vegetação e dos solos nas regiões de brejos de encostas e de cimeiras onduladas, além de apresentar eventuais casos de desertificação antropogênica nas colinas sertanejas. TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL 37 FIGURA 25 – SEMIÁRIDO NORDESTINO FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso em: 8 ago. 2017. 2.3 DOMÍNIO DOS “MARES DE MORROS” FLORESTADOS Este domínio possui cerca de 650 mil quilômetros quadrados de área ao longo do Brasil Tropical Atlântico, com distribuição geográfica azonal. Possui relevo de colinas em todos os níveis topográficos no sudeste do Brasil. Esta é uma região com presença de forte decomposição de rochas cristalinas e de processos de convexização em níveis intermontanos. Também são encontradas planícies meândricas e predomínio de depósitos finos nas calhas aluviais. É comum a presença de solos superpostos e precipitações que variam de 1100 a 1500mm e de 3000 a 4000mm na Serra do Mar, em São Paulo. Observa-se, segundo o autor, florestas tropicais recobrindo os morros costeiros, escarpas tipo “Serra do Mar” e setores serranos mamelonizados dos planaltos compartimentadose acidentados do Sudeste do Brasil; florestas biodiversas, com diferentes biotas, que originalmente recobriam 85% do espaço total; enclaves de bosques de araucárias em áreas mais altas, como Campos do Jordão e campos de Bocaina; cerrados em diversos compartimentos dos planaltos interiores de São Paulo e norte do Paraná (AB’SABER, 2003). Com exceção de Campos do Jordão e campos de Bocaina, são encontrados mares de morros alternados com “pães de açúcar”, nas regiões costeiras do Rio de Janeiro ou nas áreas interiores do Espírito Santo e nordeste de Minas Gerais. No subdomínio dos chapadões interiores florestados, Ab’Saber (2003) destaca a presença de padrões de paisagens e ecossistemas na frente e reverso das altas cuestas basálticas ou arenítico-basálitcas; agrupamentos de morros- testemunho, pro parte florestados; eventuais topografias ruiniformes na frente de escarpas areníticas; setores de vales, com esporões sucessivos ou escalonados. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 38 FIGURA 26 – MATA ATLÂNTICA FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso em: 8 ago. 2017. 2.4 DOMÍNIO DOS CHAPADÕES CENTRAIS RECOBERTOS POR CERRADOS, CERRADÕES E CAMPESTRES E PENETRADOS POR FLORESTA GALERIA Essa região ocupa entre 1,7 e 1,9 milhão de quilômetros quadrados. Quanto à sua posição pode ser considerada zonal, assemelhando-se ao domínio das savanas na África. Contudo, o caráter latitudinal e o grau de interiorização das matas atlânticas quebram a possibilidade de uma distribuição leste-oeste marcada pelo domínio dos cerrados. É uma região de maciços planaltos de estrutura complexa e planaltos sedimentares ligeiramente compartimentados, como destaca Ab’Saber (2003), entre 300 e 1700m de altitude; cerradões, cerrados e campestres nos interflúvios e florestas galerias sucessivas, no fundo e nas encostas baixas de vales; predomínio de latossolos; drenagens perenes para os cursos d’água principais e secundários; interflúvios muito largos e vales simétricos, geralmente espaçados entre si; área de menor densidade de drenagem e densidade hidrográfica do país; enclaves de matas em regiões de solos ricos ou áreas de nascente, formando “capões” de diferentes tamanhos. Ab’saber (2003) descreve esta paisagem como monótona, especialmente no que se refere às suas feições geomórficas e fitogeográficas comuns. Contudo, apresenta algumas peculiaridades, como: canyons de diferentes amplitudes com sítios de águas termais; topografias ruiniformes, nas torres do Rio Bonito, no Planalto dos Acantilados e nos “altos” da Chapada dos Guimarães; paisagens cársticas, na Serra da Bodoquena; montanhas em blocos, ilhadas na planície do Alto Paraguai, na zona de fronteira com a Bolívia. O autor ainda destaca que, em geral, os solos são pobres, mas em algumas condições topográficas e climáticas são favoráveis. No caso dos capões de matas ou “matos grossos”, o uso irracional levou à eliminação desta cobertura vegetal e danificou os solos de modo quase irreversível em algumas regiões, como os situados ao norte de Anápolis e na região de Ceres, em Goiás. TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL 39 FIGURA 27 – CERRADO FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso em: 8 de ago. 2017. 2.5 DOMÍNIO DOS PLANALTOS DE ARAUCÁRIAS Possui aproximadamente 400 mil quilômetros quadrados, sob o domínio de climas subtropicais úmidos de planaltos com invernos relativamente amenos. Segundo Ab’Saber (2003), coincide, em sua acepção mais ampla, ao setor do Planalto Meridional brasileiro. São planaltos de altitude média, que variam de 800 a 1300m, revestidos de bosques de araucárias e mosaicos de pradarias mistas e bosquetes de pinhais que aparecem nas galerias ou nas encostas e, ainda eventualmente, nas cabeceiras de drenagens. As rochas sedimentares e basálticas possuem manto de alteração de profundidades variadas. As vertentes dos chapadões tendem para um modelo convexo suave, não muito regular. Observa- se uma mamelonização nos terrenos cristalinos gnáissicos que envolvem a bacia de Curitiba, onde o domínio vegetal inclui o “pinhão-bravo”. Ocorrências de stone lines são observadas em algumas regiões deste domínio. Estes locais de solos superpostos, segundo o autor, devem corresponder a um período mais seco que afetou a paisagem regional, como a área que se estende do sul de Lages, em Santa Catarina, ao norte do Planalto de Vacaria, no Rio Grande do Sul. As matas de araucárias são mais densas nos planaltos basálticos de médio grau de movimentação do relevo. Manchas de campos são encontradas nas áreas de afloramentos eventuais de arenitos. Quanto aos cerrados legítimos, ocorrem em enclaves, no norte do Planalto de Purunã, nos chamados “gerais” do Paraná, região fronteiriça a São Paulo. Para Ab’Saber (2003) este domínio é marcado por diferenças pedológicas e climáticas em relação aos demais planaltos similares no centro-sul do Brasil. As precipitações são relativamente bem distribuídas o ano inteiro, garantindo um caráter perene à sua rede de drenagem regional. A atuação de massas polares é responsável por temperaturas mais baixas no sul do Brasil e, nas regiões mais altas, como São Joaquim, Curitibanos e Lages, ocorrem fortes geadas e eventuais precipitações de neve. UNIDADE 1 | BRASIL: CONTEXTUALIZAÇÃO MUNDIAL E AS PAISAGENS 40 Este domínio possui as paisagens menos tropicais do país. Com a devastação das áreas onde as araucárias possuíam maior biomassa, houve uma ampliação dos campos subtropicais unidos aos enclaves de pradarias mistas existentes na área. No nordeste do Rio Grande do Sul, na região conhecida como “aparados” da Serra, as altas cornijas rochosas na beirada oriental da Serra Geral e os pequenos canyons que talham as escarpas criam um belo quadro paisagístico, como ressalta o autor. 2.6 DOMÍNIO DAS PRADARIAS MISTAS DO RIO GRANDE DO SUL Segundo Ab’Saber (2003), essa região possui algumas designações, como: zona das coxilhas, região das campinas meridionais, Campanha Gaúcha e, de uma forma equivocada, também é chamada de região dos Pampas. Essa área possui cerca de 80 mil quilômetros quadrados e é considerada uma área ecológica típica de zona temperada cálida subúmida, sujeita à estiagem no final do ano. Trata-se de uma região de colinas pluriconvexizadas, chamada de coxilhas. Possui prados mistos e região de drenagem perene, porém menos densa e volumosa do que aquela encontrada no planalto basáltico sul-brasileiro. Seus rios possuem pouco volume d’água e com uma rede hidrográfica pouco densa. A vegetação ciliar, as chamadas “sangas” (córregos), foi muito devastada, levando a um forte processo de aceleração da erosão fluvial. Segundo o autor, áreas atualmente intermitentes das cabeceiras de drenagem parecem ter sido perenes em um passado recente. No domínio morfoclimático das pradarias mistas observam-se terrenos sedimentares de diferentes idades, terrenos basálticos e pequenas áreas metamórficas inseridas no escudo uruguaio-sul-rio-grandense. Ainda segundo Ab’Saber (2003), também foram encontrados eventuais enclaves de araucárias nas encostas do maciço de Caçapava do Sul e também ocorrência de cactáceas, herança aparente de um paleoclima mais seco. FIGURA 28 – PAMPAS FONTE: Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas>. Acesso em: 8 ago. 2017. TÓPICO 2 | AS PAISAGENS NATURAIS DO BRASIL 41 3 A BASE GEOLÓGICA DO RELEVO BRASILEIRO Segundo Ross (2013), o território brasileiro é formado por estruturas geológicas antigas, excetuando algumas bacias de sedimentação recente, como a do Pantanal mato-grossense, parte ocidental da bacia amazônica e trechos do litoral nordeste e sul, do período Terciário e do Quaternário (Cenozoico). O restante do território tem idades geológicas que vão do Paleozoico ao
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