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Química Geral e Inorgânica Dra. Denise Maria Malachini Miotto Bigatão C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BIGATÃO, Denise Maria Malachini Miotto. Química Geral e Inorgânica. Denise Maria Malachini Miotto Bigatão. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. 216 p. “Graduação - EAD”. 1. Química. 2. Inorgânica . 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 540 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Crislaine Rodrigues Galan e Fabio Augusto Gentilin. Designer Educacional Janaína de Souza Pontes e Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira. Editoração Bruna Stefane Martins Marconato. Ilustração Mateus Calmon. Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração, Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon , Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey, Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi, Fotos Shutterstock. PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Este livro foi elaborado com o objetivo de fornecer os conceitos básicos da Química Geral, em suas diversas áreas, necessários não somente no estudo de outras disciplinas dos cursos de Engenharia, mas também na atividade profissional dos futuros engenheiros. A disciplina de Química Geral e Inorgânica vislumbra proporcionar um aprendizado global da química, por meio de linguagem acessível, e com exemplos práticos do nosso cotidiano, a fim de mostrar a presença cons- tante dessa ciência nos fenômenos da natureza, sejam eles espontâneos ou provocados pela ação do homem, bem como nas atividades de pesquisa de laboratórios e na produção industrial. Abordamos deforma gradativa as principais áreas da química. Iniciamos pela química inorgânica, seguindo com química orgânica, físico-química, termoquímica e, finalmente, eletroquímica. Alguns temas, de maior interes- se, são apresentados mais detalhadamente e com vários exemplos; enquanto outros, menos aplicados, são descritos de forma resumida, sempre buscando enfatizar a importância de cada conteúdo à disciplina. Os conteúdos abordados nas unidades foram selecionados de modo que os conhecimentos adquiridos na unidade anterior são direta ou indiretamente necessários aos conceitos apresentados na unidade seguinte. Ao final de cada unidade, as atividades de estudo visam memorizar os principais temas abordados. As Pílulas de Aprendizagem, Realidade Aumentada e Saiba Mais foram selecionados com o objetivo de levar você a reflexões sobre aplicações práticas da química nas diversas áreas de atividade profissional e, assim, despertar o interesse por seu conhecimento. O Material Complementar fornece fontes alternativas que abordam de formas diferentes as discussões envolvidas em cada unidade, com o objetivo de estimular a interpretação e a curiosidade ao conhecimento científico. Convido você, aluno(a) da disciplina Química Geral e Inorgânica, a mer- gulhar no universo dessa ciência que se baseia na observação e simulação da natureza e consequente quantificação e interpretação dos resultados observados. Assim, será possível entender a química como uma grande aliada dos profissionais de Engenharia na resolução de problemas do nosso cotidiano! CURRÍCULO DOS PROFESSORES Dra. Denise Maria Malachini Miotto Bigatão Possui pós-doutorado (2010), doutorado (2005) e mestrado (2002) em Engenharia Química na área de Desenvolvimento de Processos pela Universidade Estadual de Maringá, e gra- duação em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Maringá (1999), atuando, principalmente em temas relacionados ao reaproveitamento de resíduos e desenvolvimentos de novas tecnologias. Atualmente, é professora de Fundamentos da Química Ambiental, no Curso Superior de Gestão Ambiental, e Química Geral e Inorgânica, no Curso de Engenharia de Produção na UniCesumar. Endereço para acessar o currículo: <http://lattes.cnpq.br/2813939541949410> Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas 13 Ligações Químicas e Soluções 37 Funções Inorgânicas 65 Funções Orgânicas Reações Químicas e seu Cálculo Estequiométrico 87 111 Estado Gasoso 135 Reações de Equilíbrio Termodinâmica das Reações 177 Reações de Oxirredução 195 151 17 Elétrons ao redor do núcleo 113 Divisão de moléculas 197 Corrente elétrica em um circuito fechado. Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Dra. Denise Maria Malachini Miotto Bigatão • Conhecer as teorias que originaram o modelo atômico atual e entender a estrutura dos átomos. • Compreender o agrupamento e a classificação dos ele- mentos químicos na Tabela Periódica. O Átomo e suas características Propriedades Periódicas Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas O Átomo e suas Características A química faz parte das chamadas “Ciências Na- turais”, que têm por finalidade estudar objetos e fenômenos da natureza, quer esses fenômenos sejam observados na natureza, quer sejam pro- duzidos pelo homem. Para iniciar o estudo da química, partimos da menor partícula existente na natureza, o átomo. Desde a primeira suposição da existência dos átomos, na Grécia Antiga, os filósofos gregos não poderiam imaginar algo tão sutil como a estrutura dos átomos. Por que precisamos estudar a estrutu- ra atômica? Segundo Russell (1982), só é possível compreender o comportamento físico e químico da matéria compreendendo a maneira pela qual os átomos se ligam e reagem entre si. Até o final do século XIX, a Teoria de Dalton, baseada em átomos indivisíveis, explicou satisfa- toriamente muitos aspectos do comportamento químico. O químico John Dalton (1766-1844) propôs que o átomo era parecido com uma bola de bilhar, isto é, esférico, maciço e indivisível, e não poderia ser criado nem destruído; concluiu que uma alteração química consistia em uma combinação, separação ou rearranjo de átomos. Entretanto, resultados de alguns experimentos 15UNIDADE 1 com eletrólise e tubos de descarga de gás levaram a vários questionamentos sobre a teoria de Dalton. O físico Joseph John Thomson (1856-1940) utilizou a ampola de Crookes, que consistia em um tubo de descarga de gás à baixa pressão, no qual gases eram submetidos a voltagens elevadís- simas, produzindo raios catódicos. Submetendo esse sistema à ação de um campo elétrico externo, o cientista observou que os raios se desviavam em direção à placa positiva, o ânodo do tubo, o que significava que as partículas do raio catódico possuíam carga elétrica negativa, e foram deno- minadas elétrons. A Teoria de Thomson finalmente propôs a es- trutura atômica, na qual o átomo era considerado uma esfera de carga elétrica positiva, não maciça, incrustada de elétrons, de modo que sua carga total fosse nula. Esse modelo foi comparado a um “pudim de passas”. No início do século XX, o físico Ernest Ruther- ford (1871-1937) sugeriu que o átomo era com- posto de um núcleo muito pequeno carregado positivamente no centro e circundado por uma região comparativamente grande, contendo os elétrons, denominada eletrosfera. O átomo seria semelhante ao “sistema solar”, em que o núcleo representaria o Sol e os elétrons girando ao redor do núcleo seriam os planetas. Elétron Nêutron Próton Figura 1 - Modelo atômico de Rutherford De acordo com De Boni e Goldani (2007), o modelo atual do átomo deriva da proposição de Rutherford, composto por duas regiões: (1) o pequeno núcleo, que compreende toda a carga positiva e praticamente toda a massa do átomo, e (2) a eletrosfera, região extranuclear composta de elétrons. Número Atômico e Número de Massa A carga positiva do núcleo é chamada número atômico, o Z. Esse número está relacionado com a natureza do elemento. Por exemplo, cada átomo de enxofre (S) tem um número atômico igual a 16; enquanto cada átomo de ferro (Fe) tem número atômico 26. Assim, para identificar o átomo de um elemento, ou o próprio elemento, basta identificar seu número atômico. O núcleo é composto por dois tipos de partícu- las, o próton, que tem carga positiva, e o nêutron, assim chamado porque é neutro, ou seja, não tem carga. Como o átomo não tem carga elétrica, o número de prótons no núcleo é igual ao número de elétrons na eletrosfera. Além disso, o número de prótons no núcleo é igual ao número atômico. Os prótons e nêutrons no núcleo de um átomo são quase totalmente responsáveis pela massa do átomo, porque os elétrons são muito leves. Por esse motivo, o número de massa, A, consiste na soma de prótons e nêutrons presentes no núcleo. Se um determinado átomo possui 47 prótons e 60 nêutrons, por exemplo, seu número de massa A será 47+60, igual a 107. Por outro lado, o núcleo é muito compacto e o volume do átomo consiste, praticamente, do volume da eletrosfera. Simbo- licamente, o átomo X, com número atômico Z e número de massa A, pode ser representado da seguinte forma: 16 Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas xAZ xAZou Número de Massa Número Atômico Figura 2 - Representação simbólica do átomo X Fonte: De Boni e Goldani (2007). Isótopos, Isóbaros e Isótonos Todos os átomos neutros de um determinado ele- mento têm o mesmo número atômico, portanto, a mesma carga nuclear, e o mesmo número de elétrons na eletrosfera. Entretanto, alguns átomos podem Figura 3 - Isótopos do Hidrogênio e do Hélio Segundo Russell (1982), muitos átomos possuem isótopos estáveis, de modo que a maioria dos elementos consiste em uma mistura de isótopos. O boro, por exemplo, ocorre na natureza como uma mistura de 10B (19,78%) e 11B (80,22%). Essasporcentagens são em número, isto é, de cada 10.000 átomos de boro, 1.978 são 10B e 8.022 são 11B. É importante notar que os isótopos têm propriedades químicas iguais (que dependem da estrutura da eletrosfera) e propriedades físicas diferentes (que dependem da massa do átomo). Assim, embora o hidrogênio (1H) e o deutério (2H ou D) sejam ambos gasosos, a densidade (propriedade física) do deutério é o dobro da densidade do hidrogênio. Ambos reagem com o oxigênio, formando água (pro- priedade química igual); no entanto, o hidrogênio forma a água comum (H2O), de densidade igual a 1,0g/mL, enquanto o deutério forma a chamada água pesada (D2O), pois tem densidade igual a 1,1g/mL. Isóbaros são átomos com diferentes números de prótons, ou seja, elementos químicos diferentes, mas que possuem o mesmo número de massa (A). Nesse caso, o maior número de prótons é compensado por um menor número de nêutrons e vice-versa. Exemplo: Cálcio (Ca, A=40 e Z=20) e Potássio (K, A=40 e Z=19). Os isóbaros têm propriedades físicas e químicas diferentes. conter o mesmo número atômico, mas diferentes números de massa; são chamados isótopos e diferem entre si no número de nêutrons (A-Z) no núcleo. Por exemplo, existem três isótopos do hidrogênio que ocorrem naturalmente (Figura 3): o hidrogênio ou prótio (1H), que não possui nenhum nêutron; o deutério (2H ou D), com 1 nêutron; e o trítio (3H ou T), com 2 nêutrons. Nos três casos, o núcleo possui apenas 1 próton, e na eletrosfera há somente 1 elétron. A Figura 3 mostra ainda os quatro isótopos do hélio, nos quais o número de nêutrons vai de 1 (3He) para 4 (6He). 17UNIDADE 1 Isótonos são átomos de diferentes elementos químicos, com diferentes números de prótons, diferentes números de massa, porém com mesmo número de nêutrons (N). Os isótonos possuem propriedades químicas e físicas diferentes, como Cloro e Cálcio. Ex.: (Cl, Z=17, A=37 e N=A–Z=20); (Ca, Z=20, A=40 e N=A–Z=20). Peso Atômico A massa de um átomo é denominada peso atômi- co e é expressa em uma unidade extremamente pequena, chamada unidade de massa atômica (uma). Uma unidade de massa atômica (1 uma) é definida como sendo exatamente um doze-avos (1/12) da massa de um átomo de carbono (12C). Isso equivale dizer que a massa de um átomo de 12C é 12 uma. Dessa forma, a escala de pesos atô- micos é uma escala relativa. O Modelo da Mecânica Quântica Segundo o físico Niels Bohr (1885-1962), a mecâ- nica clássica era inadequada para prever o com- portamento de pequenas partículas, tais como moléculas, átomos, elétrons e núcleos. A mecânica quântica, por outro lado, teve grande sucesso. Os efeitos quânticos observados na eletrosfera dos átomos consistem, principalmente, na quantiza- ção da energia dos elétrons. O estudo dos espectros eletromagnéticos dos elementos realizados por Bohr permitiu adicionar algumas observações ao modelo de Rutherford, por isso, o seu modelo passou a ser conhecido como modelo atômico de Rutherford-Bohr. O pesquisador iniciou seus experimentos conside- rando a existência de princípios físicos que des- crevessem os elétrons existentes no átomo estável, e concluiu que os átomos possuem um conjunto de energia disponível para seus elétrons, ou seja, a energia de um elétron em um átomo é quanti- zada. Esse conjunto de energias quantizadas foi, posteriormente, denominado “níveis de energia”. Com essas conclusões, Bohr aperfeiçoou o mo- delo atômico de Rutherford e chegou ao modelo do átomo como sistema planetário, no qual os elétrons se organizam na eletrosfera na forma de camadas ou níveis de energia. - - - - - Núcleo: Formado por Prótons e Nêutrons Eletrosfera: Formado por Elétrons distribuídos em várias camadas Figura 4 - Modelo atômico de Rutherford-Bohr Fonte: De Boni e Goldani (2007). Elétrons ao redor do núcleo 18 Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas Níveis e Subníveis de Energia Uma camada consiste em um conjunto de um ou mais níveis energéticos quantizados. As camadas são designadas de duas maneiras: (1) usando as letras K, L, M, N, O, P e Q, e (2) especificando o número quântico principal n, como sendo 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7. Quanto mais próxima do núcleo está uma ca- mada, seus elétrons permanecem mais atraídos pelo núcleo e adquirem menor energia. Por outro lado, os elétrons das camadas mais afastadas são menos atraídos pelo núcleo, adquirindo maior energia potencial. Isso se explica porque os elé- trons das camadas mais internas estão mais presos ao núcleo; enquanto os elétrons das camadas mais externas encontram-se mais livres. Dessa forma, os elétrons da camada K (n = 1) possuem a menor energia permitida, enquanto a camada Q (n = 7) possui os elétrons de maior energia. A população eletrônica máxima de uma ca- mada pode ser demonstrada na Figura 5. Assim, s p d f 6d 6p7s 6s 5s 4s 3s 2s 1s 5p 4p 3p 2p 5d 5f 4f 4d 3d �=0 �=1 �=2 �=3 Núcleo Energia Números quânticos principais (n) Au m en to d e En er gi a (Q) n =7 (P) n =6 (O) n =5 (N) n =4 (M) n =3 (L) n =2 (K) n =1 a camada K (n = 1) pode conter até 2 elétrons, a camada L (n = 2) até 8 elétrons e assim por diante. 2 K L M N O P Q 8 18 32 32 18 2 Figura 5 - Camadas de energia ao redor do núcleo Fonte: Feltre (2004). Quando um elétron salta de um nível de menor energia para um nível mais elevado, ele absorve energia, e quando ele retorna para um nível de menor energia, o elétron emite uma radiação em forma de luz. Figura 6 - Níveis e subníveis de energia Fonte: Feltre (2004). 19UNIDADE 1 Cada camada, ou nível de energia, contém um ou mais subníveis. Os subníveis são representados pelo número quântico secundário ou azimutal l, que admite os valores 0, 1, 2 e 3, e são identifi- cados pelas letras s, p, d e f, respectivamente. A população eletrônica máxima de cada subnível não é constante. No subnível s, pode haver até 2 elétrons; enquanto no subnível p, até 6 elétrons; no subnível d, até 10 elétrons; e no subnível f, até 14 elétrons. Orbitais Eletrônicos Segundo o físico Werner Heisenberg (1901-1976), é praticamente impossível prever a posição corre- ta de um elétron na sua eletrosfera. Desta forma, o físico Erwin Schrödinger (1887-1961) deter- minou a região do espaço que está ao redor do núcleo, em que há máxima probabilidade de se encontrar um elétron. Para essa região, deu-se o nome de orbital. Os orbitais correspondem a regiões do átomo com maior probabilidade de se encontrar determinado elétron, ou seja, com maior manifestação eletrônica. Cada orbital acomoda, no máximo, dois elétrons e, quando os elétrons ocupam um mesmo orbital, são ditos emparelhados e devem possuir sentidos de rota- ção (spins) contrários. O número quântico magnético (ml) indica a orientação de um orbital no espaço. O termo mag- nético é atribuído pelo fato dos diferentes orbi- tais de um subnível possuírem diferentes energias quantizadas na presença de um campo magnético. O número quântico magnético (ml) pode ter valores inteiros desde um mínimo de -l até um má- ximo de +l. O Quadro 1 mostra as possibilidades de orbitais para os diferentes subníveis s, p, d e f. Quadro 1 - Números quânticos magnéticos e orbitais correspondentes Subnível de Energia Número quântico magnético (ml) Orbitais possíveis s (l = 0) 0 1 p (l = 1) -1, 0, +1 3 d (l = 2) -2, -1, 0, +1, +2 5 f (l = 3) -3, -2, -1, 0, +1, +2, +3 7 Fonte: o autor. Spin Eletrônico Um orbital comporta, no máximo, dois elétrons. Eles não se repelem porque giram em sentidos opostos, criando campos magnéticos que se atraem. Dessa forma, a força magnética de atração entre os elétrons é contrabalançada pela força elétrica de repulsão entre eles. Portanto, os elétrons permanecem empare- lhados e possuem spins que se opõem, chamados spins opostos ou antiparalelos. Os spins eletrônicos são descritos pelo número quântico de spin, ms, e admitem os valores +½ ou -½. 20 Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas ConfiguraçãoEletrônica dos Elementos A maneira específica pela qual os orbitais de um átomo são ocupados pelos elétrons é denominada “configuração eletrônica” do átomo. A distribui- ção eletrônica dos orbitais é feita preenchendo-se totalmente um subnível antes de passar para o próximo. No entanto, a ocupação dos subníveis não obedece aos limites dos níveis. Os elétrons não vão se acomodando nos subníveis de uma mesma camada até preenchê-la, eles seguem uma ordem diferente, a ordem crescente de energia. O químico Linus Pauling (1901 – 1994) elabo- rou um diagrama que permite fazer a distribui- ção eletrônica segundo essa ordem crescente. O dispositivo ficou conhecido como Diagrama de Linus Pauling (RUSSEL, 1982). A Figura 7 ilustra o diagrama citado. Figura 7 - Diagrama de Linus Pauling O diagrama apresenta os níveis de energia em ordem crescente, representados pelos números de 1 a 7. Os subníveis que cada nível possui são representados pelas letras s, p, d e f. As setas mos- tram o sentido no qual o diagrama deve ser lido. Cada seta deve ser percorrida até o fim, para só então iniciar a próxima seta. A leitura do diagrama fornece a seguinte or- dem crescente de energia: 1s2 – 2s2 – 2p6 – 3s2 – 3p6 – 4s2 – 3d10 – 4p6 – 5s2 – 4d10 – 5p6 – 6s2 – 4f14 – 5d10 – 6p6 – 7s2 – 5f14 – 6d10 – 7p6. Para determinar a configuração eletrônica de um átomo, é necessário obedecer a essa ordem e observar o número máximo de elétrons que cada subnível comporta. Por exemplo, o átomo de fer- ro, Fe (Z = 26), que contém 26 elétrons, possui a seguinte configuração eletrônica: 1s2 – 2s2 – 2p6 – 3s2 – 3p6 – 4s2 – 3d6. Notamos que o subnível 3d, o último a ser preenchido, tem capacidade para até 10 elétrons, mas possui apenas 6. Essa distribuição eletrônica segue a chamada “ordem energética”, pois é desenvolvida em ordem crescente de energia. Existe outra forma de representar a distribuição eletrônica por subníveis de energia, é a chamada “ordem geométrica”. Nela, após fazer a distribui- ção conforme a ordem energética, os subníveis são agrupados em cada nível. No caso do átomo de ferro, temos a seguinte ordem geométrica: 1s2 – 2s2 2p6 – 3s2 3p6 3d6 – 4s2. A ordem energética permite identificar o sub- nível mais energético, que é o último da sequência. No caso do ferro, é o subnível 3d6. Já a ordem geo- métrica mostra o subnível mais externo, que, no caso do ferro, é o 4s2. Em alguns casos, o subnível mais energético coincide com o subnível mais externo, mas trata-se apenas de uma coincidência. A camada de valência constitui o nível de maior número quântico principal, n. Normalmen- te, os elétrons pertencentes à camada de valência são os que participam das ligações químicas, pois são os mais externos. No caso do ferro, a camada de valência é o nível 4, referente à camada N. As Tabelas 1 e 2 apresentam as configurações eletrônicas dos elementos da Tabela Periódica. A distribuição eletrônica segue a ordem crescente de energia, mostrada no Diagrama de Linus Pauling. 21UNIDADE 1 Tabela 1 - Configurações Eletrônicas dos Elementos K (1) Q (7) Elemento Z s s p s p d s p d f s p d f s p d f s H 1 1 He 2 2 Li 3 2 1 Be 4 2 2 B 5 2 2 1 C 6 [He} 2 2 2 N 7 2 2 3 O 8 2 2 4 F 9 2 2 5 Ne 10 2 2 6 Na 11 2 2 6 1 Mg 12 2 2 6 2 Al 13 2 2 6 2 1 Si 14 [Ne] 2 2 6 2 2 P 15 2 2 6 2 3 S 16 2 2 6 2 4 Cl 17 2 2 6 2 5 Ar 18 2 2 6 2 6 K 19 2 2 6 2 6 1 Ca 20 2 2 6 2 6 2 Sc 21 2 2 6 2 6 1 2 Ti 22 2 2 6 2 6 2 2 V 23 2 2 6 2 6 3 2 Cr 24 2 2 6 2 6 5 1 Mn 25 2 2 6 2 6 5 2 Fe 26 2 2 6 2 6 6 2 Co 27 [Ar] 2 2 6 2 6 7 2 Ni 28 2 2 6 2 6 8 2 Cu 29 2 2 6 2 6 10 1 Zn 30 2 2 6 2 6 10 2 Ga 31 2 2 6 2 6 10 2 1 Ge 32 2 2 6 2 6 10 2 2 As 33 2 2 6 2 6 10 2 3 Se 34 2 2 6 2 6 10 2 4 Br 35 2 2 6 2 6 10 2 5 Kr 36 2 2 6 2 6 10 2 6 Rb 37 2 2 6 2 6 10 2 6 1 Sr 38 2 2 6 2 6 10 2 6 2 Y 39 2 2 6 2 6 10 2 6 1 2 Zr 40 2 2 6 2 6 10 2 6 2 2 Nb 41 2 2 6 2 6 10 2 6 4 1 Mo 42 2 2 6 2 6 10 2 6 5 1 Tc 43 2 2 6 2 6 10 2 6 6 2 Ru 44 2 2 6 2 6 10 2 6 7 1 Rh 45 2 2 6 2 6 10 2 6 8 1 Pd 46 2 2 6 2 6 10 2 6 10 Ag 47 2 2 6 2 6 10 2 6 10 1 Cd 48 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 In 49 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 1 Sn 50 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 2 Sb 51 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 3 Te 52 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 4 I 53 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 5 Xe 54 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 6 N (4) O (5) P (6) Camada (n entre parênteses) L (2) M (3) [Kr] Fonte: Russell (1982, p. 152). 22 Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas Tabela 2 - Configurações Eletrônicas dos Elementos (continuação) K (1) Q (7) Elemento Z s s p s p d s p d f s p d f s p d f s Cs 55 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 6 1 Ba 56 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 6 2 La 57 2 2 6 2 6 10 2 6 10 2 6 1 2 Ce 58 2 2 6 2 6 10 2 6 10 1 2 6 1 2 Pr 59 2 2 6 2 6 10 2 6 10 3 2 6 2 Nd 60 2 2 6 2 6 10 2 6 10 4 2 6 2 Pm 61 2 2 6 2 6 10 2 6 10 5 2 6 2 Sm 62 2 2 6 2 6 10 2 6 10 6 2 6 2 Eu 63 2 2 6 2 6 10 2 6 10 7 2 6 2 Gd 64 2 2 6 2 6 10 2 6 10 7 2 6 1 2 Tb 65 2 2 6 2 6 10 2 6 10 9 2 6 2 Dy 66 2 2 6 2 6 10 2 6 10 10 2 6 2 Ho 67 2 2 6 2 6 10 2 6 10 11 2 6 2 Er 68 2 2 6 2 6 10 2 6 10 12 2 6 2 Tm 69 2 2 6 2 6 10 2 6 10 13 2 6 2 Yb 70 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 2 Lu 71 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 1 2 Hf 72 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 2 2 Ta 73 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 3 2 W 74 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 4 2 Re 75 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 5 2 Os 76 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 6 2 Ir 77 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 7 2 Pt 78 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 9 1 Au 79 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 1 Hg 80 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 Tl 81 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 1 Pb 82 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 2 Bi 83 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 3 Po 84 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 4 At 85 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 5 Rn 86 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 6 Fr 87 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 6 1 Ra 88 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 6 2 Ac 89 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 6 1 2 � 90 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 6 2 2 Pa 91 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 2 2 6 1 2 U 92 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 3 2 6 1 2 Np 93 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 4 2 6 1 2 Pu 94 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 6 2 6 2 Am 95 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 7 2 6 2 Cm 96 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 7 2 6 1 2 Bk 97 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 9 2 6 2 Cf 98 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 10 2 6 2 Es 99 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 11 2 6 2 Fm 100 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 12 2 6 1 Md 101 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 13 2 6 2 No 102 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 14 2 6 2 Lr 103 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 14 2 6 1 2 Rf 104 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 14 2 6 2 2 Ha 105 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 14 2 6 3 2 106 2 2 6 2 6 10 2 6 10 14 2 6 10 14 2 6 4 2 Camada (n entre parênteses) L (2) M (3) [Xe] [Rn] N (4) O (5) P (6) Fonte: Russell (1982, p. 153). 23UNIDADE 1 Os Orbitais Atômicos Segundo Feltre (2004), orbital representa uma região ao redor do núcleo atômico, na qual a probabi- lidade de se encontrar um elétron é máxima. O comportamento dos elementos químicos deve-se, em grande parte, aos seus elétrons de valência e aos tipos e respectivas formas de seus orbitais. Orbitais tipo s Em um átomo de hidrogênio, temos apenas um elétron situado no subnível 1s. Logo, esse elétron ocupa um orbital tipo s. Isso significa que se fosse possível fotografar esse elétron em intervalos de centésimos de segundo, obteria uma sequência de imagens mostrando várias posições desse elétron. A sobreposição dessas imagens revelaria quais posições desse elétron ao redor do núcleo, ou seja, qual a forma do orbital s. A Figura 8 mostra a representação geométrica do orbital s. Vemos um orbital esférico e não direcional, que independe do nível (n = 1, 2, 3, 4, 5, 6, e 7) ao qual pertence. Orbitais tipo p O subnível p possui três orbitais. No átomo isolado, esses três orbitais têm a mesma energia e a mesma forma de haltere, com dois lobos separados por um nó. Eles diferem entre si pela sua orientação no espaço. Usando um sistema de coordenadas tridimensionais cartesianas, podemos representar os três como: px , py e pz. A Figura 9 mostra os três orbitaismencionados. Orbital px Orbital py Orbital pz Figura 9 - Orbitais p Cada orbital possui uma região chamada plano nodal, que consiste em um plano que divide o orbital ao meio, no qual a probabilidade do elétron ser encontrado é nula. O núcleo do átomo está nesse plano. Figura 8 - Orbital s 24 Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas Orbitais tipo d O subnível d possui cinco orbitais, representados por dxy , dxz , dyz , dx 2- y2 e dz2 (Figura 10). No átomo isolado, todos eles têm energias equivalentes. A representação gráfica desses orbitais sugere uma região espacial mais complexa do que as regiões dos orbitais s e p. Figura 10 - Orbitais d Orbitais tipo f Os orbitais do tipo f possuem formas variadas e seu estudo torna-se importante apenas para os elementos de transição interna da tabela periódica, chamados lantanídeos e actinídeos. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 25UNIDADE 1 Com o desenvolvimento da química e da física, os elementos químicos foram sendo descober- tos, identificados e catalogados. À medida que o número de elementos conhecidos aumentou, viu-se a necessidade de organizar as informações disponíveis para melhor compreendê-los. Tabela Periódica O conceito de periodicidade química deve seu desenvolvimento a dois químicos, Lothar Me- yer (1830 – 1895) e Dmitri Mendeleev (1834 – 1907). Trabalhando independentemente, eles descobriram a lei periódica e publicaram tabelas periódicas dos elementos em ordem crescente do peso atômico. Atualmente, sabemos que a perio- dicidade nas propriedades é melhor indicada se os elementos são colocados em ordem crescente do número atômico. Essa diferença, entretanto, afeta poucos elementos, uma vez que aumento do número atômico geralmente significa aumento do peso atômico. Propriedades Periódicas 26 Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas A repetição expressa na lei periódica é a base da Tabela Periódica moderna (Figura 11). As li- nhas horizontais são chamadas “períodos” e são numerados de 1 a 7, usando algarismos arábicos. As colunas verticais são chamadas “grupos”, e cada um representa uma “família de elementos”. Os gru- pos “principais” contêm cinco ou seis elementos e são numerados de 1 a 7, usando números romanos e a letra A. Os grupos pequenos são chamados “subgrupos” ou “grupo B”. Os grupos ou famílias principais consistem em: Grupo IA (Metais alcalinos), Grupo IIA (Metais alcalinos terrosos), Grupo IIIA (Família do Boro), Grupo IVA (Família do Carbono), Grupo VA (Fa- mília do Nitrogênio), Grupo VIA (Calcogênios), Grupo VIIA (Halogênios) e Gases Nobres. Os elementos pertencentes aos subgrupos são denominados elementos de transição e são todos metais. Os elementos pertencentes ao grupo IIIB, nos períodos 6 e 7, representam os elementos de transição interna e são chamados lantanídeos e actinídeos, respectivamente. Todos os outros metais de transição são chamados elementos de transição externa ou simples. Figura 11 - Tabela Periódica 27UNIDADE 1 Segundo De Boni e Goldani (2007), atualmente, os elementos químicos dividem-se em metais, não metais, gases nobres e hidrogênio. Os metais apre- sentam condutividade elétrica e térmica, em geral, são densos, refletem a luz, manifestando brilho típico, possuem elevados pontos de fusão e ebu- lição, são dúcteis (facilmente produzidos como fios) e maleáveis (facilmente produzidos como lâminas). Exceto no caso do mercúrio, todos os metais são sólidos à temperatura ambiente. Os não metais apresentam propriedades opos- tas as dos metais. São os elementos mais abundan- tes na natureza e, ao contrário dos metais, não são bons condutores de calor e eletricidade, não são dúcteis nem maleáveis e, em geral, são opacos, ou seja, sem brilho. Os gases nobres são todos gases à tempera- tura ambiente e quimicamente pouco reativos. O hidrogênio é considerado um grupo à parte, pois suas propriedades são diferentes de todos os outros elementos, é inodoro, incolor e pode se combinar com metais e não metais. Em tempera- tura ambiente, consiste em um gás extremamente inflamável. Na Tabela Periódica moderna, existem elemen- tos químicos naturais e também elementos químicos artificiais. Os Elementos naturais são aqueles extraídos da natureza, enquanto os elementos artificiais são produzidos em labora- tórios especializados. Dos elementos artificiais, podemos destacar dois situados antes do urâ- nio (92U), denominados elementos cisurânicos, representados pelo tecnécio (43Tc) e o promécio (61Pm). Os demais elementos artificiais, por esta- rem localizados depois do urânio, são chamados elementos transurânicos. (Ricardo Feltre) Periodicidade nas Configurações Eletrônicas Quando se compara as configurações eletrônicas dos elementos (Tabelas 1 e 2) com a Tabela Perió- dica (Figura 11), verificamos que cada período começa pela adição de um elétron a um novo nível de energia, previamente não ocupado (Figura 12). Assim, o hidrogênio e os elementos do grupo IA têm configuração ns1, onde n é o número quântico principal da camada mais externa, também conhecida como camada de valência. Os elementos do grupo principal (grupo A) têm a camada de valência preenchida com um a oito elétrons. Os grupos IA e IIA possuem configuração ns1 e ns2, respectivamente; e os grupos IIIA até os gases nobres, possuem distribuição eletrônica ns2np1 até ns2np6, respectivamente. Esses elementos são denominados “elementos representativos”. A configuração dos gases nobres é bastante estável, o que resulta em baixa reatividade desses elementos. Os elementos do grupo B são também conhecidos como “elementos de transição”. Cada série ho- rizontal de elementos de transição corresponde ao preenchimento do subnível d da camada (n - 1) desses átomos. Uma vez que qualquer subnível d pode acomodar um total de 10 elétrons, o preenchi- mento dá origem a 10 elementos de transição nos períodos 4 e 5. Na série dos lantanídeos e actinídeos, a subcamada a ser preenchida é a f do nível (n – 2). O subnível f tem uma população máxima de 14 elétrons e assim existem 14 lantanídeos e 14 actinídeos. 28 Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas Relações nas Propriedades dos Elementos Químicos Algumas propriedades dos elementos químicos mostram variações periódicas em função do seu núme- ro atômico, ou seja, de acordo com sua posição na Tabela Periódica. Dentre as principais propriedades, podemos destacar o raio atômico, a eletronegatividade, a eletropositividade, a afinidade eletrônica e o potencial de ionização. Raio atômico 1s1 1s2 2s1 2s1 2p1 3p1 4p1 5p1 6p1 2p2 3p2 4p2 5p2 6p2 2p3 3p3 4p3 5p3 6p3 2p4 3p4 4p4 5p4 6p4 2p5 3p5 4p5 5p5 6p5 2p6 3p6 4p6 5p6 6p6 3s1 4s1 5s1 6s1 7s1 3s2 3d1 4d1 4f 4f 1 4f 2 4f 3 4f 4 4f 5 4f 6 4f 7 4f 8 4f 9 4f 10 4f 11 4f 12 4f 13 4f 14 4f 15 5f 155f 1 5f 2 5f 3 5f 4 5f 5 5f 6 5f 7 5f 8 5f 9 5f 10 5f 11 5f 12 5f 13 5f 14 5f 3d2 4d2 6d2 5d2 3d3 4d3 6d3 5d3 3d4 4d4 6d4 5d4 3d5 4d5 6d5 5d5 3d6 4d6 6d6 5d6 3d7 4d7 6d7 5d7 3d8 4d8 6d8 5d8 3d9 4d9 6d9 5d9 3d10 4d10 6d10 5d10 4s2 5s2 6s2 7s2 fffffff 75f f 7 dddd5d5d6SSSSSs 1 44 55 ppppppp3 44 Figura 12 - Último subnível ocupado em cada elemento da Tabela Periódica Fonte: Feltre (2004). De acordo com Feltre (2004), raio atômico con- siste, basicamente, na distância do núcleo de um átomo à sua eletrosfera na camada mais externa, a camada de valência. Porém, como o átomo não é rígido, calculamos o raio atômico médio defi- nido pela média da distância entre os centros dos núcleos de dois átomos vizinhos de um mesmo elemento numa ligação química em estado sólido. O raio atômico diferencia-se de um elemento para outro em função de sua família e período na Ta- bela Periódica. Dentro de uma mesma família, o raio atômico aumenta quando o número atômico dos elementos aumenta, ou seja, de cima para baixo. Isso significa queo raio atômico cresce quanto maior for o número de camadas eletrônicas dos átomos. Por outro lado, em um mesmo período, o raio atômico aumenta da direita para esquerda, no sentido de decréscimo do número atômico. Isso ocorre em razão de todos possuírem o mesmo número de camadas eletrônicas, o que os diferen- cia é a quantidade de elétrons nessas camadas, e quanto maior o número de elétrons na camada de valência, maior sua atração pelo núcleo, dimi- nuindo, assim, o raio do átomo. 29UNIDADE 1 O elemento de maior raio atômico conhecido é o Césio (55Cs), entretanto, é provável que o Frâncio (87Fr) tenha um raio maior, porém isso ainda não foi confir- mado, em razão da raridade desse elemento na natureza. A Figura 13 apresenta o sentido de crescimento do raio atômico nas famílias e períodos da Tabela Periódica. Eletronegatividade Eletronegatividade consiste na tendência que um áto- mo tem de atrair elétrons para perto de si em uma ligação química, de modo que não pode ser calculada a eletronegatividade de um átomo isolado. A escala de Pauling, largamente utilizada, define que a eletronegatividade cresce nas famílias da Tabela Pe- riódica de baixo para cima, no sentido da diminuição do raio atômico, resultante do aumento das interações do núcleo com a eletrosfera. Nos períodos da Tabela Periódica, o aumento ocorre da esquerda para direita, acompanhando o aumento do número atômico e con- sequente redução do raio atômico. O elemento mais eletronegativo da Tabela Perió- dica é o Flúor (⁹F). A Figura 14 apresenta o sentido de crescimento da eletronegatividade dos elementos. Eletropositividade Ao contrário da eletronegatividade, a eletropositividade consiste na tendência que um átomo tem em perder elétrons em uma ligação química. Dessa forma, a eletro- positividade aumenta no sentido oposto da eletronega- tividade, crescente de cima para baixo nas famílias, e da direita para a esquerda nos períodos da Tabela Periódica. Assim, a eletropositividade segue o mesmo sentido de crescimento do raio atômico, pois quanto maior o raio de um átomo, mais facilmente pode perder seus elétrons da camada de valência. O Frâncio (87Fr) é o elemento mais eletropositivo da Tabela Periódica, como mostrado na Figura 15. Raio Atômico Figura 13 - Sentido de crescimento do Raio atômico na Tabela Periódica Fonte: Feltre (2004). Eletronegatividade Figura 14 - Sentido de crescimento da Eletronegati- vidade na Tabela Periódica Fonte: Feltre (2004). Eletropositividade Figura 15 - Sentido de crescimento da Eletropositi- vidade na Tabela Periódica Fonte: Feltre (2004). 30 Elementos Químicos e suas Propriedades Periódicas Afinidade eletrônica Muitos átomos podem receber elétrons, tornando-se íons negativos, denominados ânions. Quando um átomo isolado no estado gasoso recebe um elétron, há uma liberação de energia, que é medida pela afinidade eletrônica ou eletroafinidade do átomo, e sua intensidade mede quão fortemente o elétron se liga ao átomo. A Equação X(g) + e - → X-(g) + energia, mostra que o átomo X(g), ao receber um elétron (e -), transfor- ma-se no ânion X-(g) e libera energia. Quanto maior a energia liberada nessa reação, maior a afinidade eletrônica do átomo pelo elétron adicionado. No entanto, a afinidade eletrônica é difícil de ser medida e, em razão disso, foi determinada somente para alguns elementos. Entretanto, com os valores obtidos, foi possível generalizar o comportamento dessa propriedade ao longo das famílias e períodos da Tabela Periódica. Em uma mesma família, quanto maior o período, menor será a eletroafinidade, ou seja, ela cresce de baixo para cima. Por outro lado, em um mesmo período, quanto maior a família, maior será a afinidade eletrônica, isto é, ela cresce da esquerda para direita, tal qual observado com a eletronegatividade, na Figura 14. Assim, os elementos que apresentam maior afinidade eletrônica são os halogênios (grupo VIIA) e o oxigênio. O Cloro (17Cl) possui a maior afinidade eletrônica medida. Potencial ou energia de ionização Se, por um lado, a afinidade eletrônica mede a energia liberada pelo átomo ao receber um elé- tron, por outro lado, o potencial de ionização ou energia de ionização determina a energia absor- vida quando um elétron é removido de um átomo isolado, no estado gasoso, dando origem a um íon positivo, um cátion. A Equação M(g) + energia1 → M + (g) + e - mostra que, ao absorver energia, o elétron pode ser trans- ferido de um elemento para outro, e como mais de um elétron pode ser removido do átomo, essa primeira energia é denominada primeira energia de ionização (energia1). A segunda energia de io- nização (energia2), por sua vez, é aquela necessária para remover o segundo elétron, da seguinte for- ma: M+(g) + energia2 → M 2+ (g) + e-. Para a primeira retirada de elétron, a quantidade de energia reque- rida (energia1) é menor que a segunda retirada (energia2) que, por sua vez, é menor que a terceira retirada, e assim sucessivamente. O potencial de ionização, em geral, apresenta o mesmo comportamento de crescimento da afinida- de eletrônica e eletronegatividade (Figura 14). Ao longo do período, o aumento da carga nuclear e a redução do raio atômico fazem com que os elétrons mais externos se tornem cada vez mais fortemente atraídos pelo núcleo, o que resulta em energias de ionização cada vez maiores. Nas famílias, por sua vez, o potencial de ionização decresce à medida que o raio atômico aumenta, pois os elétrons da camada de valência, mais distantes do núcleo, apresentam menor atração e são mais facilmente removidos. Os elementos Flúor (9F) e Cloro (17Cl) apresentam as maiores energias de ionização da Tabela Periódica. Nesta unidade, verificamos, inicialmente, que os elementos químicos apresentam características específicas em função de sua estrutura nuclear, ou seja, de acordo com o número de prótons e nêutrons em seu núcleo e, consequentemente, o número de elétrons em sua eletrosfera. 31UNIDADE 1 Observamos, finalmente, que as principais proprie- dades dos elementos químicos se inter-relacionam de forma direta, obedecendo à periodicidade da Tabela que, por sua vez, depende principalmente da estrutura atômica dos elementos químicos. As informações sobre a estrutura e as propriedades dos elementos químicos se fazem importantes para a compreensão de seu comportamento nas ligações químicas, assunto a ser explorado na unidade a seguir. Vamos lá! 32 1. A eletrosfera é a região do átomo que: a) Contém as partículas de carga elétrica negativa. b) Contém as partículas de carga elétrica positiva. c) Contém os nêutrons. d) Concentra grande parte da massa do átomo. e) Contém os prótons. 2. Um átomo que possui 19 prótons, 19 elétrons e 20 nêutrons apresenta, respec- tivamente, número atômico (Z) e número de massa (A) igual a: a) 19 e 19. b) 19 e 20. c) 20 a 19. d) 19 e 39. e) 39 e 19. 3. A configuração eletrônica do átomo neutro X é 1s2 2s2 2p6 3s2 3p3. Sabe-se tam- bém que o átomo neutro X tem 16 nêutrons, portanto, o número atômico (Z) e a massa atômica (A) do átomo neutro X será: a) 15 e 16. b) 16 e 31. c) 15 e 31. d) 15 e 16. e) 31 e 15. Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 33 Portal da Química A Química está presente em inúmeras situações de nossas vidas. No entanto, muitas pessoas têm dificuldade em relacionar a teoria estudada com as aplica- ções práticas do conteúdo em nosso cotidiano. O CD Química no Dia a Dia busca exemplificar os principais conceitos de Química por meio de situações com as quais, mesmo sem se dar conta, a maioria das pessoas está acostumada a lidar. Ao utilizá-lo, leitores de todas as idades irão encontrar mais de 100 histórias envolvendo alimentos, plásticos, combustão, elementos químicos, petróleo, entre outras, todas apresentadas em forma de diálogos, relacionando a teoria à prática. Os conteúdos abordados são os mais variados, como termoquímica, átomos, elementos químicos, química orgânica,radioatividade, entre outros. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB 34 DE BONI, L. A. B.; GOLDANI, E. Introdução Clássica a Química Geral. Porto Alegre: Ed. Tche Química Cons. Educ. LTDA, 2007. FELTRE, R. Química. Química Geral. 6. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2004. Volume 1. RUSSELL, J. B. Química Geral. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982. 35 1. A. A eletrosfera é a região do átomo que possui as partículas de carga negativa, que são os elétrons, enquanto as partículas de carga positiva (prótons) e os nêutrons situam-se na região central do átomo, o núcleo. 2. D. Um átomo que possui 19 prótons, 19 elétrons e 20 nêutrons apresenta: Número atômico (Z) = número de prótons = 19 Número de massa (A) = número de prótons + número de nêutrons = 19 + 20 = 39. 3. C. A configuração eletrônica do átomo X é 1s2 2s2 2p6 3s2 3p3. O átomo tem 16 nêutrons. Número atômico (Z) = número de prótons = número de elétrons = 15 Número de massa (A) = número de prótons + número de nêutrons = 15 + 16 = 31. 36 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Aprender o que induz a uma ligação iônica e quais as principais características dos compostos iônicos formados. • Compreender o mecanismo envolvido na ligação covalente e as propriedades dos compostos moleculares formados. • Descrever de que forma alguns metais se ligam. • Descrever e classificar as soluções quanto à relação so- luto/solvente. • Interpretar as curvas de solubilidade, utilizando dados experimentais plotados em gráfico na preparação de so- luções. Ligação Iônica Ligação Covalente Soluções Curvas de SolubilidadeLigação Metálica Dra. Denise Maria Malachini Miotto Bigatão Ligações Químicas e Soluções Ligação Iônica Segundo De Boni e Goldani (2007), na natureza, todos os sistemas buscam alcançar a maior esta- bilidade possível. Por esse motivo, os átomos da maioria dos elementos químicos não apresentam existência isolada e ligam-se a outros átomos para aumentar sua estabilidade. No caso do oxigênio, por exemplo, seus átomos isolados se combinam com outros átomos iguais a ele, formando O2 e O3, ou ligam-se a átomos diferentes, formando diversas substâncias (CO, CO2, H2O, SO2, SO3 etc.). No entanto, átomos de oxigênio (O) não são en- contrados na natureza, por serem instáveis. Os únicos elementos considerados estáveis são os gases nobres (He, Ne, Ar, Xe, Kr e Rn), po- dendo ser encontrados na natureza como átomos isolados. Isso porque sua camada de valência é completa, não necessitando perder nem ganhar elétrons para alcançar uma configuração estável, ou seja, um estado de menor energia. Os demais elementos da Tabela Periódica, en- tretanto, necessitam ser estabilizados por meio de ligações químicas, cuja natureza depende das con- figurações eletrônicas dos átomos participantes. 39UNIDADE 2 Os elétrons da camada de valência são responsá- veis pelas ligações químicas que, por sua vez, são decorrentes de dois fatores: a) A força de atração eletrostática existente entre cargas opostas. b) A tendência dos elétrons em formar pares. Dessa forma, para que ocorra uma ligação quími- ca, os átomos podem ganhar ou perder elétrons, ou compartilhá-los. A ocorrência de uma dessas possibilidades depende da natureza dos átomos envolvidos. Na ligação iônica, as forças eletrostáticas atraem partículas com cargas elétricas opostas, geralmente obtidas entre metais e não metais. O metal tem grande tendência a perder elétrons, formando um íon positivo denominado cátion. Isso ocorre devido à baixa energia de ionização dos metais, ou seja, é necessária pequena quanti- dade de energia para remover um elétron da sua camada de valência. Simultaneamente, um não metal possui grande tendência a ganhar elétrons, formando um íon negativo chamado ânion. Isso se deve à sua elevada afinidade eletrônica. Final- mente, os dois íons formados, cátion e ânion, são atraídos devido às forças eletrostáticas, resultando em uma ligação iônica. Para exemplificar, consideremos o metal Sódio (11Na) e o não metal Cloro (17Cl), com as seguintes configurações eletrônicas: 11Na – 1s2- 2s2 2p6- 3s1; 17Cl – 1s2- 2s2 2p6- 3s2 3p5. O sódio possui apenas um elétron no nível 3 (camada M). Basta perder esse elétron (Na+) para adquirir uma configuração estável com oito elétrons no nível 2 (camada L). Já o cloro necessita receber apenas um elétron (Cl-) para preencher o subnível p da camada M e tornar-se estável. Sendo assim, é conveniente ao sódio doar um elétron, e ao cloro receber um elétron. Essa transferência de elétrons obedece a Regra do Octeto, condição fundamental para uma ligação iônica. Para Feltre (2004a), os compostos iônicos apresentam algumas características em comum: são sólidos na temperatura ambiente e formam retículos cristalinos; possuem elevados pontos de fusão e ebulição; quando fundidos ou em solução aquosa, são bons condutores de eletricidade; são solúveis em água; são duros e quebradiços. No sólido iônico formado, NaCl, denominado cloreto de sódio, os íons Na+ e Cl- estão ordena- dos em três dimensões, como visto na Figura 1, onde cada Na+ tem seis Cl- vizinhos próximos e, da mesma forma, cada Cl- é envolto por seis Na+. A estrutura tridimensional organizada formada mostra um retículo cristalino. Figura 1 - Estrutura Tridimensional do Cloreto de Sódio Fórmulas dos Compostos Iônicos A Regra do Octeto ajuda a prever a estequiometria dos compostos iônicos, ou seja, a relação de com- binação atômica. No exemplo do NaCl, um elé- tron foi transferido de um átomo de Na para um átomo de Cl, conforme discutido anteriormente. Para determinar as fórmulas dos compostos iônicos, devemos, primeiramente, observar a con- figuração eletrônica de cada átomo envolvido, e verificar quantos elétrons precisam ser transferi- dos do cátion para o ânion. 40 Ligações Químicas e Soluções No óxido de sódio, a situação é diferente do NaCl. O oxigênio (8O) tem configuração 1s2- 2s2 2p4, em que verificamos que são necessários dois elétrons para completar a Regra do Octeto. Como o sódio (11Na) possui apenas um elétron na ca- mada de valência, são necessários dois átomos de Na para fornecer os dois elétrons ao átomo de O. Assim, temos a ligação iônica entre 2Na+ e O2-, obtendo-se o sólido iônico Na2O. Para encontrar a fórmula do óxido de alumí- nio, composto por 13Al e 8O, temos que 13Al - 1s 2- 2s2 2p6- 3s2 3p1 possui três elétrons para doar em sua camada de valência, enquanto 8O - 1s2- 2s2 2p4 necessita receber dois elétrons para completar a Regra do Octeto. Assim, para neutralizar a carga 3+ do Al e a carga 2- do O, multiplicamos o alumínio pela carga iônica do oxigênio (2) e multiplicamos o oxigênio pela carga iônica do alumínio (3), re- sultando em Al2O3. 41UNIDADE 2 A ligação covalente ocorre quando dois átomos possuem as mesmas tendências de ganhar e perder elétrons. Sob essas condições, a transferência total de um elétron não acontece, em vez disso, os elétrons ficam compartilhados entre os átomos, de modo que um átomo possa “utilizar” os elétrons do outro. Os pares eletrônicos que se formam são cons- tituídos por um elétron de cada átomo e per- tencem simultaneamente a ambos os átomos ligados. Nesse caso, não ocorre nem ganho nem perda de elétrons e as estruturas formadas são eletricamente neutras. Os conjuntos formados por meio de ligações covalentes apresentam-se como unidades isoladas e de grandeza limitada, chamadas moléculas, por isso, a ligação covalente é também chamada ligação molecular. Assim, as substâncias formadas por ligação covalente são chamadas substâncias moleculares e podem ser sólidas, líquidas e gasosas. A ligação covalente geralmente ocorre entre não metal e não metal, hidrogênio e não metal, e hidro- gênio e hidrogênio. O hidrogênio (1H) possui um elétron na sua camada de valência e, para adquirir a configuração do gás hélio (2He), precisa de mais um elétron. Dessa forma, dois átomos de hidrogênio compartilham seus elétronspara ficarem estáveis. Ligação Covalente 42 Ligações Químicas e Soluções Na representação H – H, temos a fórmula es- trutural plana da molécula de hidrogênio, na qual o traço representa o par de elétrons compartilha- dos. Nesse caso, os dois átomos compartilham os dois elétrons, resultando H2, a fórmula molecu- lar do hidrogênio. Um composto é considerado molecular ou molécula quando possui apenas ligações covalentes. Considerando o não metal cloro (17Cl), a ca- mada de valência necessita de um elétron para completar a Regra do Octeto. Assim, dois átomos de cloro podem compartilhar um elétron, preen- chendo sua camada M (n = 3), por meio de uma ligação covalente, produzindo Cl – Cl (fórmula estrutural plana) e Cl2 (fórmula molecular). A Figura 2 mostra a sua fórmula de Lewis, na qual verificamos o par de elétrons compartilhados. Cl Cl x x x x x x x Figura 2 - Fórmula de Lewis para Cl2 Fonte: De Boni e Goldani (2007). A ligação covalente pode ocorrer, também, entre átomos de diferentes elementos, por exemplo, na molécula de água. O oxigênio (8O) necessita com- partilhar dois elétrons para completar a Regra do Octeto, enquanto o hidrogênio (1H) compartilha um elétron para estabilizar sua eletrosfera. Por- tanto, são necessários dois átomos de hidrogênio para estabilizar cada átomo de oxigênio. A fór- mula molecular resultante é H2O. As Figuras 3 e 4 apresentam, respectivamente, a fórmula estrutural plana e fórmula de Lewis para a água. O H H Figura 3 - Fórmula estrutural para H2O Fonte: De Boni e Goldani (2007). O H Hxx xx x x Figura 4 - Fórmula de Lewis para H2O Fonte: De Boni e Goldani (2007). A água, demonstrada nas Figuras 3 e 4, faz duas ligações covalentes, representadas de diversas ma- neiras. A fórmula molecular é a forma mais sim- plificada, na qual se mostra apenas quais e quantos átomos compõem a molécula. Quando os pares de elétrons são representados por traços, trata-se da fórmula estrutural plana (Figura 3), na qual se mostra o número de ligações e quais os átomos estão ligados. Finalmente, a fórmula de Lewis ou fórmula eletrônica (Figura 4) é representada por símbolos (“x” e “o”) e mostra os elétrons compar- tilhados na ligação molecular. Ligação Covalente Coordenada ou Dativa Existem casos especiais de ligações covalentes, em que o par de elétrons compartilhados é provenien- te apenas de um dos átomos que já está estável, por haver completado seu octeto. Esse tipo de ligação covalente é conhecido como coordenada ou dati- va. Existem exemplos clássicos de moléculas que apresentam essa ligação, tais como monóxido de carbono (CO) e dióxido de enxofre (SO2). No caso do monóxido de carbono (CO), o 6C possui configuração 1s2- 2s2 2p2, ou seja, possui 4 elétrons na sua camada de valência. Segundo a Regra do Octeto, para ficar estável, precisa receber mais 4 elétrons, totalizando 8. Já o 8O apresenta configuração 1s2- 2s2 2p4, ou seja, possui 6 elé- trons na camada de valência e precisa receber 2 elétrons para ser estabilizado de acordo com a Regra do Octeto. 43UNIDADE 2 Desta forma, primeiramente, o carbono e o oxigênio compar- tilham dois pares de elétrons para que o oxigênio fique estável. No entanto, o carbono permanece instável, com apenas 6 elétrons na camada de valência. Por isso, o oxigênio, que já está estável, com- partilha um de seus pares de elétrons com o carbono, isto é, realiza uma ligação coordenada ou dativa, tornando-o estável. A Figura 5 representa a fórmula de Lewis para a molécula de CO. Na fórmula estrutural plana, a ligação covalente coordenada pode ser representada por um traço, assim como a ligação covalente comum (Figura 6). Para o dióxido de enxofre (SO2), cada átomo de 16S (1s 2- 2s2 2p6- 3s2 3p4) e 8O (1s2- 2s2 2p4) possuem 6 elétrons em suas camadas de valência, de modo que eles precisam receber 2 elétrons cada um. Inicialmente, o enxofre realiza duas ligações covalentes comuns, compartilhando dois pares de elétrons com um dos átomos de oxigênio, ficando ambos estáveis com 8 elétrons. Entretanto, o outro átomo de oxigênio não está estável, por isso, o enxofre compartilha um par de seus elétrons com o segundo oxi- gênio por meio de uma ligação covalente coordenada ou dativa. A fórmula de Lewis e a fórmula estrutural plana para o SO2 podem ser verificadas nas Figuras 7 e 8, respectivamente. De modo geral, as ligações iônica e covalente apresentam dife- renças significativas, que são resumidas no Quadro 1. C O Figura 5 - Fórmula de Lewis para CO Fonte: De Boni e Goldani (2007). C O 112.8 pm Figura 6 - Fórmula estrutural plana para CO Fonte: De Boni e Goldani (2007). O S O Figura 7 - Fórmula de Lewis para SO₂ Fonte: De Boni e Goldani (2007). S OO Figura 8 - Fórmula estrutural plana para SO₂ Fonte: De Boni e Goldani (2007). Quadro 1 - Ligação Iônica versus Ligação Covalente Ligação Iônica Ligação Covalente Ocorre entre metal e não metal Ocorre entre não metal e não metal Transferência de elétrons Compartilhamento de elétrons Elevados pontos de fusão e ebulição Baixos pontos de fusão e ebulição Conduz corrente elétrica Não conduz corrente elétrica Formam retículos cristalinos Formam moléculas Sólidos a temperatura ambiente Sólidos, líquidos ou gases a temperatura ambiente Fonte: De Boni e Goldani (2007, p. 133). 44 Ligações Químicas e Soluções Geometria Molecular De acordo com Feltre (2004a), o modo como os átomos de uma molécula estão arranjados no espaço influencia muitas de suas propriedades físicas e químicas, por exemplo o ponto de fusão e ebulição. Nos sistemas biológicos, como o or- ganismo humano, as reações químicas que nos mantêm vivos dependem de um entrelaçamento muito preciso entre as moléculas. Desta forma, a compreensão da geometria molecular e dos fato- res que a afetam é de grande importância para a nossa compreensão química. Em uma molécula composta de um átomo cen- tral ligado covalentemente a vários átomos perifé- ricos, as ligações e os pares de elétrons isolados se orientam de maneira que as repulsões elétron-elé- tron sejam as menores possíveis, enquanto que as atrações elétron-núcleo são as maiores possíveis. O método que determina essa orientação é chamado Repulsão entre os Pares Eletrônicos da Camada de Valência ou Método VSEPR. A ligação covalente ocorre pelo compartilha- mento de pares eletrônicos nas cama- das de valência dos átomos. Esses pares são chamados de “pares eletrônicos ligantes”. Por exem- plo, no caso do CH4, temos qua- tro pares ligantes, pois os quatro elétrons da camada de valência do carbono (átomo central) estão ligados aos quatro átomos de hidrogênio (átomos periféri- cos), mostrado na Figura 9.Figura 9 - Molécula de CH4 No entanto, em muitos casos, alguns pares de elétrons sobram na camada de valência sem par- ticiparem de ligação alguma, sendo chamados de “pares eletrônicos livres” ou “pares não ligantes”. Isso ocorre no caso da H2O, por exemplo, pois o átomo de oxigênio possui seis elétrons na cama- da de valência, mas apenas dois participam das ligações com os dois hidrogênios, restando quatro elétrons, ou dois pares de elétrons, sem se ligarem, como mostrado na Figura 10. H H O H H O Figura 10 - Molécula de H2O Segundo o Método VSEPR, ao redor do átomo central, os pares eletrônicos ligantes e os não li- gantes se repelem, tendendo a ficar tão afastados quanto possível. Com o afastamento máximo, a repulsão entre os pares eletrônicos será mínima e, portanto, a estabilidade da molécula será máxima. Essa teoria explica as estruturas espaciais de muitas moléculas, pois considera que todas as moléculas possuem formas que podem ser consideradas como derivadas de um conjunto básico de seis geometrias diferentes, indicadas na Figura 11. 45UNIDADE 2 As geometrias observadas dependem do número de átomos constituintes das moléculas. a. Moléculas com 2 átomos ao redor do átomo central: apresentam estrutura linear plana. Exem- plos: BeH2, CO2, BeF2, CS2. b. Moléculascom 3 átomos ao redor do átomo central: apresentam estrutura trigonal plana. Exemplos: BF3, SO3, BCl3. c. Moléculas com 4 átomos ao redor do átomo central: apresentam estrutura espacial tetraédrica. Exemplos: CH4, CCl4, SiF4. d. Moléculas com 5 átomos ao redor do átomo central: apresentam estrutura espacial de bipirâmide trigonal (de base triangular). Exemplos: PCl5, MoCl5. e. Moléculas com 6 átomos ao redor do átomo central: apresentam estrutura espacial octaédrica (bipirâmide de base quadrada). Exemplos: SF6, CrCl6 3-. f. Moléculas com 7 átomos ao redor do átomo central: apresentam estrutura espacial de bipirâ- mide pentagonal. Trigonal plana 3 ligantes Tetraédrica 4 ligantes Linear 2 ligantes Octaédrica 6 ligantes Bipirâmide pentagonal 7 ligantes Bipirâmide trigonal 5 ligantes Figura 11 - Modelo VSEPR 46 Ligações Químicas e Soluções Os metais não exercem forte atração pelos elé- trons de sua camada de valência, apresentando tendência a doar seus elétrons e tornarem-se cá- tions. Esses elétrons perdidos permanecem livres, sendo atraídos por outros átomos metálicos que perdem seus elétrons, e assim por diante. Dessa forma, os metais apresentam uma estrutura eletri- camente neutra, e um metal sólido é constituído por átomos metálicos (cátions) em posições or- denadas com seus elétrons de valência livres para se movimentar por todo o metal. De acordo com Feltre (2004a), os metais obe- decem ao chamado Modelo do mar de elétrons, no qual existe um amontoado organizado de íons metálicos positivos (cátions) mergulhados em um “mar de elétrons livres”. A Regra do Octeto não explica a ligação metálica. Ligação Metálica 47UNIDADE 2 Os metais apresentam propriedades características, tais como: brilho característico, elevada conduti- vidade elétrica e térmica, altos pontos de fusão e ebulição, elevada densidade, maleabilidade (facilidade para se transformar em lâminas), ductibilidade (facilidade para se transformar em fios) e resistência à tração, no caso do ferro sob a forma de aço em cabos de elevadores. As ligas metálicas são uniões de dois ou mais metais, podendo, ainda, incluir não metais, mas sem- pre com predominância dos elementos metálicos. Na produção de ligas metálicas, os componentes metálicos e não metálicos são fundidos, em seguida, resfriados e solidificados. O produto formado apresenta propriedades físicas e químicas muito diferentes de seus metais puros, tornando-se mais resistentes para aplicações práticas em geral. As ligas de maior aplicação no nosso cotidiano são o aço comum (liga de ferro e carbono), o aço inoxidável (liga de ferro, carbono, cromo e níquel), o bronze (liga de cobre e estanho), entre outras. Fonte: Feltre (2004a). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 48 Ligações Químicas e Soluções As soluções estão presentes todos os dias em nosso cotidiano, como quando preparamos um café, um leite com achocolatado ou quando adicionamos açúcar ou sal a qualquer alimento ou bebida. Na visão da química, essas soluções que preparamos em nossa cozinha podem ser diferenciadas quan- to à quantidade de líquido e de sólido misturados e quanto ao aspecto final da solução preparada. Definição de Dispersões Para definirmos as dispersões, realizaremos duas misturas: na primeira, vamos misturar água e sal de cozinha; na segunda, água e areia, ilustradas na Figura 12. Podemos verificar que obtemos uma mistura homogênea no primeiro caso e uma mis- tura heterogênea no segundo experimento. Soluções 49UNIDADE 2 Água e Sal comum (Mistura Homogênea) Água e Areia (Mistura Heterogênea) Figura 12 - Misturas homogênea e heterogênea Fonte: Feltre (2004b). Dizemos que o sal se dissolveu completamente na água, mas a areia não se dissolveu. No primeiro, caso, temos uma dissolução total, enquanto no segundo caso, obtemos a separação total. Entre- tanto, pode haver casos intermediários entre as duas situações apresentadas. Se misturarmos água com partículas de diver- sos tamanhos e densidades e deixarmos o sistema em repouso por um tempo determinado, podemos encontrar partículas depositadas no fundo e a pre- sença de partículas que permanecem em solução, deixando-a turva, conforme mostra a Figura 13. Água Turva Partículas Pequenas Partículas Grandes Figura 13 - Separação das partículas Fonte: Feltre (2004b). Na ilustração, observamos a presença de camadas de partículas sedimentadas. As partículas maiores são as primeiras a se depositarem, seguidas pelas partículas intermediárias, e assim gradativamen- te, enquanto algumas partículas menores e de bai- xa densidade não se depositam e permanecem em solução, deixando a água turva. Segundo Feltre (2004b, p. 2), esse experimen- to nos apresenta a definição de dispersão, pois dizemos que “ [...] dispersão representa um sistema no qual uma substância chamada fase disper- sa está disseminada na forma de pequenas partículas, em uma segunda substância, o dispersante. De acordo com o tamanho das partículas da fase dispersa em nanômetros (1 nm = 10-9m), as dis- persões são divididas em soluções verdadeiras (entre 0 e 1 nm), soluções coloidais (entre 1 e 1.000 nm) e suspensões (acima de 1.000 nm). É importante lembrar que as soluções verda- deiras são chamadas simplesmente de “soluções”. Em 1861, o cientista Thomas Graham realizou experimentos com amido, cola e açúcar em água. Ele colocou essas misturas em sacos de pergami- nho e mergulhou-os em água, observando que, no caso do açúcar, a membrana do pergaminho era atravessada facilmente, enquanto as subs- tâncias pegajosas, como o amido e a cola, pra- ticamente não passavam pela membrana. Essa característica da cola e do amido deram origem ao nome coloide, pois em grego significa cola. Na realidade, essas partículas não atravessaram a membrana porque formaram agregados maiores do que as moléculas e íons comuns. Fonte: adaptado de Novais (1993). 50 Ligações Químicas e Soluções Definição de Solução Soluções são misturas homogêneas que podem ser obtidas a partir da mistura de duas ou mais substân- cias. O componente presente em menor quantidade recebe o nome de soluto, enquanto o componente presente em maior quantidade é chamado de solvente. Na mistura homogênea composta de água e sal, ilustrada na Figura 12, temos que o soluto é o sal, e o solvente, a água. Classificação das Soluções Para Novais (1993), normalmente associamos o termo “solução” a um sistema líquido, e isso se deve ao fato da natureza possuir grande quantidade de água e ela ser capaz de dissolver muitas substâncias. Frequentemente, nos deparamos com muitas soluções líquidas, como a mistura de água com açúcar comum (sacarose), a mistura de água com álcool (etanol), a água do mar etc. O ar que respiramos, livre de partículas em suspensão, consiste num exemplo de solução gasosa, enquanto ligas muito aplicadas na indústria, como o aço, consiste em uma solução sólida. Concentração de Soluções Para Usberco e Salvador (2001), o termo “concentração” de uma solução representa a razão entre a quantidade de soluto e a quantidade de solvente, ou da solução total. Essas quantidades podem ser expressas em unidades de massa (g, kg), de volume (mL, L) ou, ainda, em mols, de modo que existem várias formas de representar uma concentração. Convencionamos usar o índice 1 para soluto, índice 2 para solvente e sem índice para a solução total. Concentração comum (C) A forma mais comum de expressarmos concentração relaciona a massa de soluto (em gramas) por volume (em litros) de solução que, nesse caso, é igual ao volume do solvente, sendo sua unidade em g/L. C Massa do soluto gramas Volume do solvente litros C m V = → = ( ) ( ) 1 51UNIDADE 2 Para exemplificar, consideremos a adição de 20 g de sal comum (NaCl) em 1 L de água. O soluto é representado pelo NaCl e o solvente ou solução consiste na água, como indicado na Figura 14. C ou C g L= = 20 1 20 1 L de Solução 20 gde NaCl Figura 14 - Concentração comum Fonte: Feltre (2004b). No exemplo dado, obtemos a concentração de 20 g/L. Além da unidade g/L, a concentração também pode ser expressa de outras formas, pois a massa pode ser dada em mg, o volume em mL etc. Concentração Molar ou Molaridade ( ) A unidade mol é amplamente utilizada para expressar quantidade de matéria, de modo que foi desen- volvida uma concentração que relaciona a quantidade de soluto dada em mols por litro de solução ou solvente. Desta forma, temos: M Quantidade de Soluto mols Volume da Solução litros M n V = → = ( ) ( ) 1 Para exemplificar, consideremos a adição de 0,5 mol de açúcar em 1 litro de água, ou 1 litro de solução, mostrado na Figura 15. A molaridade dessa mistura é dada em mol/L. M ou M mol L= = 0 5 1 0 5, , 1L de Solução 0,5 Mol de Açúcar Figura 15 - Concentração molar Fonte: Feltre (2004b). O número de mols do soluto (n1) pode ser expresso como a razão entre a massa do soluto (m1) e a massa molar do soluto (M1). A concentração molar pode, então, ser determinada de outra forma: M m M V = 1 1 52 Ligações Químicas e Soluções Fração molar (x) A fração molar do soluto (x1), em uma solução, é o quociente entre a quantidade de mols do soluto (n1) e a quantidade total de mols na solução, ou seja, soluto + solvente (n1 + n2). Analogamente, a fração molar do solvente (x2), em uma solução, é o quociente entre a quantidade de mols do solvente (n2) e a quantidade total de mols na solução, soluto + solvente (n1 + n2). Por se tratarem de razões entre número de mols, as frações são medidas de concentração sem unidade e variam entre 0 e 1. x n n n e x n n n1 1 1 2 2 2 1 2 = + = + Concentração molal ou Molalidade (W) Molalidade é a concentração que relaciona a quantidade de soluto (n1 em mols) existente em 1 kg de solvente (m2). Diferentemente das concentrações abordadas anteriormente, a molalidade relaciona a quantidade de soluto apenas à quantidade de solvente. Para obter a expressão da molalidade, fazemos a seguinte relação: O número de mols do soluto (n1) pode ser calculado por m1/M1, resultando, então: W m m M = 1 000 1 2 1 . Diluição de Soluções A diluição consiste em adicionar a uma solução uma quantidade do seu próprio solvente puro. Con- sideremos a ilustração da Figura 16. Solvente Puro Solução Inicial Solução Final Solução mais concentrada Solução mais diluída m C V 1 m C’ V’ 1 Figura 16 - Diluição de solução Fonte: Feltre (2004b). 53UNIDADE 2 Na Figura 16, observamos dois recipientes em si- tuações distintas. O primeiro possui uma solução mais concentrada, com a concentração C, a massa de soluto m1 e o volume da solução V, na qual está sendo adicionada uma porção de solvente puro. A solução final apresenta a mesma massa de so- luto m1, mas o volume da solução foi aumentado, passando para V´, assim como a concentração da solução diminuiu e tornou-se C´. Podemos representar as duas condições ob- servadas da seguinte forma: Solução inicial C m V m VC Solução final C m V m V C : : ' ' ' ' = → = = → = 1 1 1 1 Podemos igualar a massa de soluto (m1) na solu- ção inicial e solução final, pois sua quantidade se manteve constante. Obtemos, então: VC V C= ' ' Essa expressão nos mostra que quando o volume da solução aumenta (de V para V´), consequen- temente a concentração da solução diminui (de C para C´), na mesma proporção, pois volume e concentração são inversamente proporcionais. Na prática, essa expressão nos mostra que concentrar (aumentar a concentração) e diluir (aumentar o volume) são operações inversamente proporcionais. Saturação de Soluções Consideremos a mistura homogênea composta por água e sal da Figura 12. Na ilustração apresentada, temos uma mistura homogênea, na qual todo o sal, denominado soluto, está dissolvido no solvente, a água. Entretanto, se continuarmos adicionando mais sal à solução, verificamos que, em um deter- minado momento, o sal em excesso deixará de ser dissolvido e vai se depositar no fundo do recipiente. Nesse instante, obteremos uma solução saturada ou que atingiu o ponto de saturação. O ponto de saturação é determinado pelo grau de solubilidade do soluto no solvente e depende do soluto, do solvente e das condições do experi- mento, tais como temperatura e pressão do siste- ma, no caso de misturas com gases. O grau de solubilidade, por sua vez, representa a quantidade de uma substância necessária (em gra- mas geralmente) para saturar uma quantidade pa- drão (geralmente 100 g, 1.000 g ou 1 L) de solvente, em condições específicas de temperatura e pressão. Quando o grau de solubilidade é muito ele- vado, tendendo ao infinito, dizemos que o soluto é totalmente solúvel no solvente. Por outro lado, se o grau de solubilidade do soluto for próximo de zero, temos um soluto praticamente insolúvel no solvente. Se considerarmos uma mistura de dois líqui- dos, dizemos que os líquidos são imiscíveis se o grau de solubilidade for próximo de zero, como observado com a mistura entre água e óleo. Em contrapartida, consideramos dois líquidos total- mente miscíveis quando o grau de solubilidade tende ao infinito, ou seja, as duas substâncias se misturam em qualquer proporção, como ocorre com a mistura entre água e álcool. Com base na definição do ponto de satura- ção das soluções, podemos classificá-las como soluções insaturadas ou não saturadas (menos soluto do que aquele estabelecido pelo grau de solubilidade), soluções saturadas (que atingiram o grau de solubilidade) e soluções supersaturadas (que ultrapassaram o grau de solubilidade). Muitas vezes, é possível distinguir os três tipos de soluções apenas com a observação visual, como indicado na Figura 17. 54 Ligações Químicas e Soluções Adição de Soluto Na solução não saturada, o soluto se dissolve Na solução saturada, o soluto não se dissolve Na solução supersaturada, há precipitação do soluto excedente Corpo de Fundo ou Corpo de Chão Figura 17 - Classificação das soluções Fonte: Feltre (2004b). Como a própria ilustração mostra, na solução insaturada do re- cipiente à esquerda, todo o soluto está completamente dissolvido, pois o ponto de saturação ainda não foi atingido. No recipiente do meio, podemos encontrar parte do soluto não dissolvido, chamado de “corpo de fundo”, pois a solução atingiu o ponto de saturação. Já no recipiente à direita, podemos ver maior concentração de soluto não dissolvido, denominado “corpo de chão”, porque a solução está supersaturada, ou seja, a concentração do soluto ultrapassou o ponto de saturação, e o solvente não pode dissolver o soluto excedente. 55UNIDADE 2 O comportamento das soluções depende de vários fatores, sendo um deles a relação entre as quanti- dades de soluto e solvente, o que resulta em tipos diferentes de solução. Essas informações podem ser melhor exploradas em gráficos, denominados “Curvas de solubilidade”. Regra de Solubilidade Antes de detalharmos as regras de solubilidade, é necessário definirmos o conceito de polaridade das moléculas. A polaridade das moléculas é uma propriedade que resulta da diferença de eletro- negatividade entre os elementos químicos que compõem a molécula, gerando polos com cargas contrárias em sua estrutura. Quando há diferença de eletronegatividade significativa na molécula, dizemos que se trata de uma molécula polar, e quando não há diferença de eletronegatividade na molécula, temos, então, uma molécula apolar. Curvas de Solubilidade 56 Ligações Químicas e Soluções Os compostos iônicos formados por ligação iônica são polares, mas as moléculas obtidas por ligação covalente podem ser polares ou apolares, de- pendem dos seus elementos químicos constituintes. De forma geral, verificamos que um soluto po- lar se dissolve em um solvente polar, enquanto um soluto apolar deve se dissolver em um solvente apolar. Em outras palavras, costuma-se dizer que “semelhante dissolve semelhante”. Podemos
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