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( SALMOS 1 : 2 ) 
 
 
 
 
 
 
Filosofia da Religião 
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I. INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
A filosofia, de uns tempos para cá, viu-se na necessidade de estudar o fato 
religioso. Com o advento da filosofia imanentista, a transcendência ao absoluto 
que sempre foi admitida como uma realidade natural no homem, começa a ser 
questionada. Surgem diferentes posicionamentos a seu respeito: desde a sua ne- 
gação por completo, como à sua absolutização, chegando-se a afirmar que é um 
fato evidente, inquestionável. 
Infelizmente, até o presente momento, fez-se pouca filosofia sobre a religio- 
sidade. Os livros que se encontram a este respeito, são de caráter muito mais so- 
ciológico do que filosófico. Este estudo pretende ir um pouco mais além, tentando 
responder perguntas como estas: possui a religiosidade um fundamento antropo- 
lógico, mais ainda, metafísico Se há um fundamento na natureza humana, por- 
que muitos homens não são religiosos? A religiosidade é um sentimento ou é 
mais do que isto? 
É de capital importância encontrar respostas a estas perguntas, para que a 
nossa fé seja mais sólida e não dependa apenas da cultura em que vivemos ou de 
um bom senso sem explicação, facilmente atacado por aqueles que se empenham 
em excluir Deus da sua vida. 
 
 
1. A Filosofia da religião na história da filosofia 
 
 
Verifica-se que a religião constitui uma das dimensões centrais da existên- 
cia humana: a mais básica e distintiva do ser humano. Assim, foi objeto de refle- 
xão desde os primórdios da filosofia, sendo que, a partir do século XVII começa a 
surgir uma postura crítica, que subsiste ainda, mas que pouco a pouco vai sendo 
desmistificada com os estudos mais recentes sobre as origens e bases do fenôme- 
no religioso: 
 
a) Filosofia Grega (séculos V-IV a.C.) 
 
Numa sociedade politeísta, com sua mitologia decantada em poemas épi- 
cos, concebe um Ser Superior e imutável como origem e ordenador do Universo, 
substituindo as explicações mitológicas por explicações racionais dos fenômenos, 
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cujo substrato último estaria num Deus Supremo e Transcendente (Anaximan- 
dro, Parmênides, Heráclito e Aristóteles); 
 
b) Filosofia Romana (século I) 
 
Manifesta sua rejeição pela concepção mitológica da religião civil do Esta- 
do, como meras fábulas, propugnando pela adoção de uma religião natural de 
união da alma com o Transcendente (Sêneca e Varrão); 
 
c) Filosofia Medieval (séculos XIII-XIV) 
 
Caracteriza-se pela defesa filosófica da religião cristã e pela demonstração 
racional da existência de Deus e de suas características (S. Agostinho, S. Anselmo 
e S. Tomás de Aquino); 
 
d) Renascimento (século XV) 
 
Com a redescoberta do mundo greco-romano, busca-se formular uma sín- 
tese dos elementos religiosos de diversas procedências, com a intenção de desco- 
brir um fundo religioso universal e deduzir-se uma doutrina metafísica universal 
(Ficino e Mirandola); 
 
e) Racionalismo (século XVII) 
 
Começa a colocar em xeque a religião, pretendendo racionalizar o fenôme- 
no religioso, a partir da negação de qualquer revelação divina (Hume, Tindal e To- 
land); 
Hegel interpreta la r. dentro la prospettiva kantiana della sola ragione e 
vede in essa il secondo momento del sapere assoluto, quando lo spirito 
prende coscienza di se stesso e diventa "autocoscienza". Subito dopo Hegel, 
con Feuerbach, Marx, Engels, Comte, Nietzsche inizia la demistificazione 
della r. Alla r. fu fatale, tra l'altro, il nesso che essa sembrava avere con 
l'idealismo, per cui la demolizione di quest'ultimo sembrò trascinare con sé 
anche il crollo della r. Si cercò di dimostrare che essa non ha nessun 
fondamento oggettivo. Se ne ricercò l'origine nei vari sentimenti di 
impotenza di fronte alla natura (Feuerbach), di compensazione nella vita 
futura per ciò che manca nella vita presente (Marx), di risentimento 
(Nietzsche), di sublimazione degli istinti (Freud), di autotrascendimento 
(Bloch), ecc. Senonché, per quanto ingegnose, tutte queste spiegazioni della 
r. risultano inadeguate: esse fanno luce su qualche motivazione reale, ma 
per lo più secondaria, di essa. Davanti ad un fenomeno così grandioso e 
così complesso come quello religioso, decisamente il più imponente tra tutti 
quelli che segnano la storia dell'umanità, le spiegazioni di Feuerbach, 
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Marx, Nietzsche, Freud, Bloch risultano chiaramente riduttivistiche e 
semplicistiche e pertanto assolutamente inadeguate. Esse tentano di 
trasformare in un fenomeno secondario, accidentale e tutto sommato 
trascurabile ciò che invece risulta profondamente radicato nella natura 
umana e che costituisce sempre una componente fondamentale e primaria 
della cultura. "Attraverso la parte più illustre della storia umana, in tutti i 
secoli e in qualsiasi stadio della società, la r. è stata la forza centrale 
unificatrice della cultura. È stata custode della tradizione, preservatrice 
della legge morale, educatrice e maestra di sapienza. [...] La r. è la chiave 
della storia. Non possiamo comprendere le strutture intime di una società, 
se non conosciamo bene la sua r. Non possiamo capire le sue conquiste 
culturali, se non comprendiamo le credenze religiose che stanno dietro di 
esse. In tutte le età le prime elaborazioni creative di una cultura sono dovute 
ad un'ispirazione religiosa e dedicate ad un fine religioso. La r. sta alla 
soglia di tutte le grandi letterature del mondo. La filosofia è un suo prodotto 
ed è un rampollo che fa continuamente ritorno al proprio genitore" (Ch. 
Dawson, Religion and Culture, 1948, pp. 49-50)(Battista Mondin, 
Dizionario Teologico e Filosofico). 
 
f) Iluminismo (século XVIII) 
 
Na linha do racionalismo, caracteriza-se pela negação das religiões positi- 
vas (especialmente do cristianismo), sustentando um deísmo como crença geral 
na existência de um Ser Supremo, sem que deva existir qualquer Igreja ou siste- 
ma organizado de culto (Voltaire, Diderot e D’Alembert); 
 
g) Escola Sociológica (século XIX) 
 
Pretende que o fenômeno religioso seja necessariamente social, constituin- 
do um sistema solidário de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, adota- 
das por uma comunidade (Durkheim, Weber, Croce e Gentile), esquecendo, no 
entanto, que o sentimento religioso tem sua dimensão pessoal; 
 
h) Escola Psicológica (século XIX) 
 
Reduz o fenômeno religioso à consciência individual, surgindo do subcons- 
ciente o sentimento religioso e todas as crenças (Schleiermacher, Freud, Hart- 
mann e James), o que descartaria a possibilidade de revelação divina ao homem; 
 
i) Evolucionismo (século XIX) 
 
Concepção de que as religiões evoluíram das crenças míticas, politeístas e 
rudimentares para as religiões monoteístas, organizadas e universais (Darwin e 
Spencer); 
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j) Marxismo (século XX) 
 
Concepção de que a religião é o ópio do povo, a maior das alienações, uma 
vez que aquilo que se atribui a Deus seria próprio da Humanidade como um todo 
(Feuerbach e Marx); 
 
k) Escola Etnológica (século XX) 
 
Procura mostrar, através do estudo dos povos primitivos e das culturas ru- 
dimentares, que a crença num Deus Supremo e Único foi, desde os começos, a 
forma religiosa originária, sendo as religiões politeístas posteriores corruptelas da 
crença original (Lang e Schmidt). 
 
 
Como se vê, a partir deste breve esboço histórico, já se afirmou tudo a res- 
peito da religião: que existe, que não existe, que é um sentimento, que é um ins- 
tinto, que é uma alienação, que é uma criação humana, etc, etc. A avaliação do 
que realmente é a religião,sua existência, seu fundamento, será visto no segundo 
capítulo. 
 
 
2. Método da filosofia da religião 
 
Para o estudo filosófico da religião, vários são os métodos utilizados: 
Método histórico-crítico comparativo – comparar as várias religiões no tem- 
po e no espaço, buscando seus traços comuns e suas diferenças específicas, para 
verificar o que constitui a essência do fenômeno religioso; 
Método Filológico – mediante o estudo comparado das línguas, busca en- 
contrar nas línguas parentes o que pensavam e acreditavam os povos antes de se 
dividirem em línguas distintas (quais as palavras utilizadas para descrever e ex- 
pressar o sagrado e suas raízes comuns); 
Método Antropológico – reconstruir o passado religioso com base na etnolo- 
gia, estudando os povos primitivos atuais (suas instituições, crenças, rituais e 
tradições). 
A filosofia da religião deve conjugá-los, para obter a melhor soma de ele- 
mentos para chegar às suas conclusões sobre a essência das manifestações religi- 
osas e suas características universais. 
Método metafísico – busca o fundamento do fenômeno religioso. 
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3. Elementos básicos da religião 
 
 
Constituem elementos básicos de toda religião, o que se denominam de: 
 
religioso primário (componente racional e interno) – reconhecimento 
interior da existência de Deus e da dependência do homem em rela- 
ção a Ele, plasmado num conhecimento superior (fé) das realidades 
terrenas e transcendentes (concepção do mundo, do homem e de 
Deus); 
religioso secundário (componente afetivo e externo) – manifestações 
externas e objetivas, pessoais e coletivas, derivadas desse reconheci- 
mento da existência e da dependência de Deus, que plasmam e ex- 
ternam o desejo de honrar, servir e amar a Divindade (ritos, cerimô- 
nias, moral). 
Se, por um lado, tudo o que o homem faz pode ser considerado como “reli- 
gioso secundário” (dada a total dependência do homem em relação a Deus: “quer 
comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei-o por amor a Deus”), 
por outro, o mais especificamente “religioso secundário”, como manifestação ca- 
racterística do culto a Deus, é constituído por: 
orações com suas variadas formas de gestos e palavras; 
 
sacrifícios oferecidos à Divindade, em suas variantes cruentas e in- 
cruentas; 
ritos sagrados, tanto públicos e sociais, quanto privados; e 
 
altares e templos em que se realizam essas orações, sacrifícios e ce- 
rimônias. 
 
 
4. Constantes religiosas 
 
 
Descobrir o núcleo ou denominador comum que existe subjacente às múl- 
tiplas variantes religiosas, tanto no tempo (constantes religiosas) quanto no espa- 
ço (círculos ou famílias de religiões) é uma das tarefas auxiliares da filosofia da 
Religião: saber distinguir, através da comparação entre as várias formas religio- 
sas, o que é o essencial e comum a todas elas (e que constitui o fenômeno religio- 
so) e o que é acidental e diferenciador. 
No entanto, algumas diferenças não são meramente acidentais, quando se 
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trata de comparar as religiões naturais em relação à religião revelada, pois dizem 
 
respeito à concepção do mundo, do homem e de Deus que corresponde à realida- 
de. Daí o antagonismo entre as posturas extremistas: 
Reducionista - “Quem conhece uma religião, especialmente o cristianismo, 
conhece todas” (Harnack); 
Relativista - “Quem conhece apenas uma religião, não conhece nenhuma” 
(Max Müller). 
 
a) Constante Telúrica 
 
A forma mais antiga de representação da divindade foi a da Deusa Mãe 
Terra (Tellus = Terra): figuras femininas encontradas desde 30.000 a.C. (ídolo fe- 
minino da fecundidade, com seios e útero exageradamente desenvolvidos ou com 
muitos seios). 
Essa representação destacava o sentido sagrado da terra e o ciclo da vida, 
da primavera ao inverno (renascer primaveril, maturidade estival e morte inver- 
nal), com a fertilidade agrária e a fecundidade humana, até sua volta às entra- 
nhas da terra, com a morte, que não é o fim, já que se acredita numa vida além 
da morte (Na terra – humus – se esconderia a origem e o destino do homem – 
homo). 
O cristianismo veio a dar um outro sentido às festas pagãs (pagã = do cam- 
po), que celebravam as estações do ano, comemorando, nesses dias, os mistérios 
cristãos (Ex: Em vez de festejar o Deus-Sol no dia primeiro do ano, celebrar a 
Santa Maria, Mãe de Deus). 
Em todos os povos de religiosidade telúrica (Egito Antigo, Mesopotâmia, Az- 
tecas, Povos Negros Africanos), a suprema divindade era representada pela Deusa 
Terra, simbolizada por uma figura feminina ou, mais comumente, por um animal 
(teriomorfismo), geralmente a serpente (futuro símbolo dos farmacêuticos, como 
sinônimo de saúde e vida), o touro ou o cabrito. A veneração originária dos deu- 
ses que desceram e se assentaram nessas representações vai se convertendo em 
idolatria. 
 
b) Constante Celeste 
 
Os povos indo-europeus têm a crença num Deus Supremo Celeste, criador 
de todas as coisas e transcendente ao mundo, originariamente concebido mono- 
teistamente (os nomes dos demais deuses assírio-babilônicos são atribuídos como 
nomes diversos de Marduk, deus principal). 
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A evolução posterior dessas religiões conduz ao politeísmo, mas no qual há 
sempre um deus principal entre os muitos que são reconhecidos (12 deuses su- 
premos romanos, correspondentes aos 12 gregos; mil deuses hititas; 3 mil deuses 
babilônicos; 330 milhões de deuses hindus). Esse deus supremo é concebido na 
forma masculina e como Pai dos demais deuses e homens (Iu-piter romano = 
Deus Pai). 
A suprema divindade das religiões celestes tem no seu nome algum ele- 
mento que dê a idéia de luz, céu, claridade (Deus, lembrando dies = dia). Ade- 
mais, há, para o mesmo deus, um nome “terreno” (usado pelos mortais) e um 
nome “celeste” (usado pelos deuses). 
Enquanto o designativo da suprema divindade telúrica é Grande (pela 
imensidão da Terra), o da suprema divindade celeste é Altíssima (pela elevação 
aos Céus). Diante da divindade telúrica, surge no homem a sensação do fasci- 
nans (atração, emoção, sedução), enquanto a divindade celeste desperta a sensa- 
ção do tremendum (temor, medo e reverência): Se, por um lado, os fenômenos 
metereológicos despertavam nos povos primitivos um temor, por outro, esse po- 
der divino despertava também segurança e confiança. 
Apesar do antropomorfismo que caracteriza as religiões celestes (represen- 
tação humana da divindade), com os deuses sendo retratados em forma corporal 
e com virtudes e defeitos humanos, participando das vicissitudes terrenas (poe- 
mas homéricos), há uma nítida separação entre o celeste e o terreno: o pecado 
dos homens é orgulho de querer chegar até o lugar dos deuses (Prometeu na mi- 
tologia grega) ou se tornar imortais (Gilgamesh na mitologia sumério-acadiana). 
Daí que o próprio do homem deve ser a humildade (humilis), que tem a mesma 
raiz de terra (humus). 
O símbolo da águia atacando a serpente representará a futura superação 
da religiosidade celeste sobre a religiosidade telúrica. Mas, na verdade, as teofani- 
as (manifestações) dos desuse celestes não será através de animais, mas de re- 
presentações humanas (levando a imaginação de gregos e romanos a verem os 
bosques e em toda a Natureza povoados de ninfas, sátiros e uma miríade de semi- 
deuses). 
 
c) Constante Étnico-Política 
 
A constante étnico-política liga-se à identificação entre religião e nação: 
cada povo tem sua própria religião. São características dessa constante: 
Nacionalismo religioso - confusão entre as origens da religião e da nação (a 
religião é a dos antepassados e se confunde com o amor à pátria). 
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Ausência de um fundadorconhecido – a origem da religião se perde na noi- 
te dos tempos (tradição oral, desde as próprias origens do homem e dos primeiros 
clãs, tribos e nações). 
Coletivismo Religioso – a pessoa se relaciona com a divindade mais como 
membro da comunidade do que como indivíduo (a religião é vista como um dever 
cívico). 
Pragmatismo religioso – as práticas e rituais religiosos buscam primordial- 
mente a conservação e prosperidade terrena da comunidade, mais do que a salva- 
ção ultraterrena da alma (o pecado se confunde com delito civil e deve ser evitado 
não tanto por ter um castigo eterno, mas por comprometer a segurança da comu- 
nidade, ao atrair a ira dos deuses). 
Ausência de um corpo doutrinário estruturado - culto basicamente sacrifi- 
cial, sendo os sacerdotes apenas ministros do culto e não mestres que ensinam 
uma doutrina salvífica). 
Caráter teocrático do Estado - ser cidadão é pertencer à mesma comunida- 
de político-religiosa e ter os mesmos deuses protetores (ser banido do Estado é fi- 
car sem pátria e sem deuses). 
Identificação do governante com a divindade – o monarca é reconhecido 
como filho dos deuses e seu representante na Terra (representado muitas vezes 
pelo Sol: faraós egípcios, imperadores romanos e japoneses, monarcas incas), ca- 
bendo-lhe a intermediação com os deuses (sacerdócio) e a condução político-mili- 
tar da nação. 
Ausência de proselitismo - membros da comunidade são apenas os mem- 
bros da nação (concepção de povo escolhido pelos deuses). 
Endogamia familiar ou tribal – casamento, dentro da família real, entre ir- 
mãos, para manter a pureza divina (nacionalismo de não permitir casamento com 
estrangeiros). 
Em geral, as religiões celestes são, também, étnico-políticas. 
 
d) Constante Mistérica 
 
Os mistérios têm suas raízes no telúrico, brotando durante a Idade de 
Bronze e o Neolítico e ressurgindo com a decadência das religiões celestes e étni- 
co-políticas (mistérios dionisíacos, órficos, eleusinos, pitagóricos, etc). 
Eram ritos de iniciação que afastavam a pessoa da relação com os demais 
mortais e a colocavam num círculo de eleitos, visando à sua união individual com 
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divindade. O sentido da palavra não era de algo oculto, mas, pelos rituais ado- 
tados, incompreensíveis e chocantes para os não iniciados, passaram a ser ocul- 
tados, para evitar perseguições. 
Esses rituais, que marcavam o renascimento da pessoa, tinham as seguin- 
tes constantes: 
Introdução da serpente (viva nos começos e depois de metal) no seio do ini- 
ciante (sinal de consagração) – contato corporal e íntimo com a divindade, como 
símbolo de sua união com ela; 
Omofagia – despedaçar e comer cru ao animal teofânico, para incorporar 
as virtudes da divindade; 
Incubação – dormir em contato direto com a terra, para receber dela as vir- 
tudes curativas e previsoras do futuro; 
Práticas catárticas – retiros, jejuns, flagelações, abluções, acusação pública 
das próprias faltas, etc. 
As características básicas da constante mistérica são: 
 
Henoteísmo (hen = principal + theos = deus) – união de uma divindade fe- 
minina principal com um jovem deus inferior, que morre todos os anos, para de 
novo renascer; 
Divindade Imanente – a união do indivíduo com a divindade se faz pela 
possessão desta com aquele (danças das bacantes em éxtasis, ou seja, fora de si); 
Panteísmo – concepção da divindade como o princípio ativo imanente ao 
mundo (alma universal); 
Despolitização da Religião – a religião não é a relação da comunidade (po- 
lis) com a divindade, mas a do indivíduo com o seu deus (personalismo); 
Aspiração a uma vida ultratumba – preparação para a vida após a morte, 
buscando a purificação nesta vida (conteúdo ético e soteriológico). 
 
e) Constantes das Religiões Universais 
 
As denominadas religiões universais são aquelas não ligadas exclusiva- 
mente a um povo (étnico-políticas) e que não possuem o substrato das religiões 
primitivas (telúrico-mistéricas), mas que conseguiram uma difusão ampla no tem- 
po e no espaço (são, principalmente, o Budismo, Islamismo e Cristianismo). 
As constantes ou notas comuns dessas religiões são: 
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Fundador conhecido – têm início conhecido no tempo, fundadas por um 
personagem histórico; 
Universalidade da mensagem – são supranacionais, visando estender sua 
doutrina salvadora ao mundo inteiro (proselitistas); 
Livro Religioso como base da doutrina – sua mensagem básica encontra-se 
recolhida em livros sagrados de caráter irreformável, conservados na língua origi- 
nal, ainda que não mais falada (só para a liturgia); 
Vigência Atual – encontradas atualmente nos povos desenvolvidos ou em 
desenvolvimento. 
 
 
5. Principais religiões 
 
 
 
a) Religiosidade do Homem Paleolítico 
 
Observa-se, desde os primórdios da Humanidade, o costume do homem 
enterrar seus mortos, sendo encontrados túmulos em que os ossos estão acompa- 
nhados por utensílios, o que demonstra a crença na vida ultraterrena. 
Ademais, as pinturas rupestres encontradas nas Cavernas, representando 
animais e cenas de caça, permitem captar o sentido religioso do homem primitivo, 
que representava a divindade sob forma de animais (constante telúrica), elegendo 
os mais fortes para a sua representação. As cenas de caça poderiam conter a es- 
perança de que a representação pictórica se tornasse realidade. 
 
b) Religião do Egito Antigo 
 
Teriomorfismo, politeísmo, idolatria; principais deuses: Ísis (Grande Deusa 
Mãe), Osíris (esposo de Isis e morto por esta, renascia anualmente para fertilizar 
as margens do Nilo), Set (irmão de Osíris), Hórus (falcão), Anúbis (cachorro), Ápis 
(boi) e Tote (ave íbis). 
O faraó Amenófis IV tentou restabelecer o monoteísmo original, promoven- 
do o culto do “Disco Solar”, mas essa reforma religiosa foi afastada depois de sua 
morte. 
A crença na vida ultratumba em parâmetros semelhantes às deste mundo, 
com um julgamento perante o Tribunal de Osíris e a existência de necessidades 
materiais, fez com que se desenvolvesse o sepultamento em pirâmides, junto com 
os tesouros dos faraós e a mumificação do cadáver, para que a base material da 
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alma não se desfizesse. Construíram grandes templos para o culto de seus deu- 
ses. 
 
c) Religião da Mesopotâmia 
 
Os babilônios e assírios eram politeístas, possuindo mais de 3.300 divinda- 
des. Porém, por cima de todas essas divindades se reconhece a Assur-Marduk 
como Deus Supremo (Assur para os assírios e Marduk para os babilônios), sendo 
que todas as demais teriam, na verdade, uma certa identidade com a mesma na- 
tureza divina (diferentes nomes de um mesmo Deus). Seu culto público se dava 
em pirâmides escalonadas em patamares, denominadas de zigurates. 
 
d) Religião Greco-Romana 
 
Politeísmo antropomórfico, de constante celeste, sendo os principais deu- 
ses os que figuram no quadro comparativo abaixo: 
 
 
PRINCIPAIS DEUSES GRECO-ROMANOS 
GRÉCIA ROMA ATRIBUTOS 
Zeus Júpiter Pai dos Deuses e Senhor do Trovão 
Hera Juno Rainha dos Deuses, Deusa do Casamento e da Maternidade 
Héstia Vesta Guardiã da Família e do Lar (Irmã mais velha de Zeus) 
Poseidon Netuno Deus do Mar e dos Rios (Irmão de Zeus) 
Deméter Ceres Deusa das Colheitas e da Fertilidade (Irmã de Zeus) 
Hades Plutão Deus do Mundo Subterrâneo e da Morte (Irmão de Zeus) 
Atena Minerva Deusa da Sabedoria e da Guerra (Filha de Zeus e Métis) 
Ares Marte Deus da Guerra e da Destruição (Filho de Zeus e Hera) 
Hefesto Vulcano Deus do Fogo e Ferreiro Aleijado dos Deuses (Irmão de Ares) 
Afrodite Vênus Deusa da Beleza (Prima de Zeus e Esposa de Hefesto) 
Apolo Apolo Deus do Sol, da Profecia e da Saúde (Filho de Zeus e Leto) 
Artémis Diana Deusa da Lua eda Caça (Irmã Gêmea de Apolo) 
Hermes Mercúrio Mensageiro dos Deuses (Filho de Zeus e Maia) 
Dionísio Baco Deus do Vinho e da Vegetação (Filho de Zeus c/uma mortal) 
Asclépio Esculápio Deus da Medicina (filho de Apolo) 
Urano Urano Deus do Céu e Pai dos Titãs 
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Cronus Saturno Deus do Céu e da Agricultura e Governante dos Titãs. 
Rhea Ops Deusa Mãe (Esposa de Cronus) 
Eros Cupido Deus do Amor 
Hypnos Sonus Deus do Sono 
Gea Terra Mãe da Terra 
Têmis Têmis Deusa da Justiça (segunda mulher de Zeus) 
Pan Pan Deus dos Bosques e das Pastagens 
 
 
Acreditavam na predestinação, procurando ver nos augúrios (vôos de aves 
ou entranhas de um animal sacrificado) o que estava predestinado pelos deuses. 
Concepção fatalista da vida. 
 
e) Religião dos Celtas e dos Vikings 
 
Os Celtas enterravam seus mortos com as armas, comida, roupas e jóias, 
na crença de que necessitariam delas na outra vida. Adoravam, além de deuses e 
deusas, o javali, por sua coragem e ferocidade (tereomorfismo) e as cabeças corta- 
das dos inimigos (fincadas em postes, como sagradas). Os druidas eram os sacer- 
dotes e magos que dirigiam o culto e ensinavam o povo, com poder curandeiro. 
Os Vikings acreditavam que os deuses viviam no Walhalla (paraíso viking), 
sendo os principais deuses Odin (Rei dos Deuses), Thor (Deus do Vento, da Chu- 
va e da Agricultura), Frey (Deus do Casamento e da Fertilidade) e outros. As 
valquírias eram as mulheres enviadas por Odin para conduzir ao paraíso os guer- 
reiros mortos em combate. Os deuses vikings eram adorados ao ar livre (não ti- 
nham templos). 
 
f) Religião dos Astecas e dos Incas 
 
Os Incas eram politeístas, acreditando num Deus Supremo Criador (Vira- 
cocha), Pai dos demais deuses, homens e criaturas. Inti (Deus-Sol) deu origem à 
família real inca. Anualmente, celebrava-se a grande festa do Sol, em que o ani- 
mal a ser sacrificado (lhama) era levado para as montanhas, com as mensagens 
ao Deus, que o rei lhe havia dito ao ouvido. Havia os sacerdotes que cuidavam do 
culto ao longo do ano e as “Virgens do Sol”, que os assistiam. Havia também Quil- 
la (Deusa-Lua). Os lugares sagrados (huacas) eram tanto os templos, quanto as 
pedras de formato invulgar, túmulos, fontes, colinas e cavernas. 
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Já os Astecas possuíram uma religião cruenta de sacrifícios humanos: 
acreditavam que a manutenção da luz solar dependia do oferecimento de vítimas 
humanas ao Deus Sol (alimentar os deuses com a “água sagrada”, que seria o 
sangue). Sacrificavam milhares de pessoas, quer fossem inimigos capturados nas 
guerras, quer fossem crianças preparadas para isso. Arrancavam da vítima o co- 
ração ainda batendo, para esfregá-lo na parede do templo. Seus principais deuses 
eram Tonatiuh (Deus do Sol), Tezcatlipoca (Deusa da Noite), Coatlicue (Deusa 
Mãe Terra), Quetzalcoatl (Deus da Sabedoria), Tlaloc (Deus da Chuva). 
 
g) Hinduísmo 
 
É a religião nacional do povo indiano (permeia toda a vida do indiano, des- 
de o levantar-se até o deitar-se). O sânscrito (idioma dos escritos sagrados hin- 
dus) não tem uma palavra para designar “religião”: a palavra dharma significa a 
realidade total. Assim, cabem, dentro do hinduísmo, as concepções religiosas de 
outros povos (Mahatma Gandhi pregava uma síntese de todas as religiões, num 
amálgama sincretista que não excluísse nenhuma). 
Evolução histórica: 
 
Panteísmo Védico (séc. XII-IX a. C.) – anterior à invasão dos povos indoeu- 
ropeus (Civilização de Harappa), de religiosidade telúrica; 
Brahmanismo (séc. IX-II a. C.) – posterior à invasão indoeuropéia, de religi- 
osidade mistérica; 
Hinduísmo (séc. II a. C. até os dias atuais) – de religiosidade étnico-política, 
caracterizada pela aceitação da divisão político-religiosa da sociedade em castas. 
Núcleo básico do Hinduísmo: 
 
Divisão da sociedade em castas (varuna, que designa “casta”, etimologica- 
mente significa “cor”: caráter racista da divisão). 
Crença em Brahman (panteísmo). 
 
“Vedas” como livros sagrados (mais antigos textos religiosos conhecidos). 
 
 
VEDA CONTEÚDO 
Rig-Veda Veda dos louvores 
Sama-Veda Veda dos cânticos litúrgicos 
Yajur-Veda Veda das fórmulas sacrificiais 
Atharva-Veda Veda das fórmulas mágicas 
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Sistema de Castas e a crença na Reencarnação: 
 
A sociedade indiana está dividida em castas, sendo a explicação política- 
re- ligiosa dessa diferenciação explicada pelo quadro abaixo (os povos arianos 
indo- europeus, quando invadem a Índia, submetem a civilização harappiana 
existente, fixando as crenças na sociedade estratificada de origem divina): 
 
 
CASTA ORIGEM DIVINA FUNÇÃO ORIGEM HUMANA 
Brahmane Cabeças de Brahman Sacerdotes Arianos Loiros 
Ksatriya Braços de Brahman Nobres e Guerreiros Arianos Brancos 
Vaisya Pernas de Brahman Trabalho Liberal Arianos Morenos 
Sudra Pés de Brahman Trabalho Manual Arianos Negros 
Paria Sem casta e sem deuses Escravos (intocáveis) Povos Vencidos 
Adhiwasi Sem deuses Fora do Sistema Hindu Aborígenes 
 
 
Cada casta tem seu estatuto próprio (direitos e obrigações). O cumprimen- 
to fiel das obrigações da própria casta (especialmente as profissionais) permite ao 
indivíduo, após a morte, reencarnar-se numa casta superior, e assim 
progressiva- mente, até a purificação total da alma, unindo-se definitivamente a 
Brahman (já o descumprimento desses deveres leva à reencarnação em casta 
inferior e, inclusi- ve, em animal; daí o caráter sagrado das vacas na Índia, que 
não devem ser mor- tas ou molestadas). Uma das proibições é da do casamento 
fora da casta (deve ser endogâmico). As reencarnações seriam exigência da 
justiça (daí a passividade in- diana diante das discriminações de castas). 
Panteísmo e Politeísmo Religioso: 
 
Brahman é a substância básica que deu origem a todos os seres (Princípio 
Universal, o Uno, o Todo, o Absoluto). Tudo o que existe provêm dela, por emana- 
ção, e, ciclicamente, a ela retorna (a alma inteiramente purificada volta a Brah- 
man: essa é a aspiração de todo hindu). 
Há um ciclo cósmico das emanações da realidade, a partir de 
Brahman, que dura mais de 4 milhões de anos, até tudo retornar a Brahman, 
havendo, en- tão um novo recomeço. 
O homem é constituído do kama (“amor” ou “desejo”) e do karma (“ação”, 
que pode ser boa ou má). Maya (= ilusão) é a realidade aparente (emanada de 
Brahman), que atrai o homem e faz com que permaneça na samsara (mundo 
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das 
contínuas mudanças e reencarnações), até que se liberte definitivamente desses 
desejos, através das boas ações. 
Os avatares (= descida) são seres nos quais a divindade se encarna periodi- 
camente (alguns desses seriam Buda, Ghandi e o próprio Jesus Cristo). 
Além de panteísta (confusão entre Deus e o Mundo, sendo o princípio das 
coisas imanente ao próprio mundo), o hinduísmo é também politeísta (milhões de 
deuses, masculinos e femininos) e enoteísta (3 divindades principais: Brahma, 
Criador do Universo, representado com 4 cabeças; Siva, Transformador do Uni- 
verso, representado com 4 braços; e Visnú, Conservador do Universo, também re- 
presentado com 4 braços. 
Ritual: 
 
Os mantras são fórmulas magicamente eficazes (orações tiradas dos textos 
védicos), que devem ser recitadas com escrupulosa exatidão (postura, ritmo, pro- 
núncia, melodia e movimentos), para que tenha perfeito valor ritual. 
Outras formas de união à divindade são o yoga (exercício de ascese) e a 
bhakti (adoração ou devoção), que, em algumas seitas hindus, degenerou em prá- 
ticas de total dissolução erótica (manifestações sexuais como doação total à divin- 
dade). O apaixonamento devocional, calcado no sentimento e não na razão, aca-bará levando a esses dois extremos: a ascese ou a promiscuidade. 
 
h) Confucionismo 
 
Confúcio ou Kung-Fu-Tse (551-479 a. C.) não foi o fundador de uma nova 
religião, mas apenas um filósofo (sábio que mais profundamente influiu na cultu- 
ra chinesa) que começou seus estudos aos 15 anos, se casou aos 19, teve muitos 
filhos e se dedicou, a partir dos 22 anos, a ensinar e a fazer carreira política como 
conselheiro de reis chineses. Sabia-se um homem sujeito a erros (como reconhece 
em seu livro “Analecta”). Passou, no entanto, a ser cultuado e divinizado vários 
séculos após a sua morte. 
O confucionismo não é uma religião, mas apenas um sistema ético, de ca- 
ráter pragmático e não teórico. Não visa ao aperfeiçoamento pessoal, mas consiste 
numa doutrina política de como devem ser e comportar-se os governantes e súdi- 
tos, de modo a harmonizar o convívio social (norma básica: “O que não quiseres 
para ti, não o faças aos demais”). 
Toda a ética confuciana parte das “cinco relações” ou deveres de cada ho- 
mem (tradição chinesa antiquíssima): 
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Relação de justiça entre o príncipe e súditos; 
 
Relação de mútuo amor entre pais e filhos; 
Relação de fidelidade entre marido e mulher; 
Relação de respeito entre velhos e jovens; 
Relação de lealdade entre amigos. 
Os pressupostos fundamentais do sistema confuciano são: 
Crença na bondade natural do homem; 
Inexistência de uma culpa ou pecado original; 
Capacidade de salvação pelo esforço natural do homem, através do 
exercício das virtudes, superando a maldade decorrente da má edu- 
cação ou do ambiente eticamente contaminado. 
 
i) Taoísmo 
 
Lao-Tse (séc. VI a. C.), fundador do taoísmo, foi arquivista do governo im- 
perial na dinastia Chu que, descontente com a corrupção da Corte, abandona a 
China, viaja para o Ocidente e escreve, ao voltar, o “Tao-Te-King” (Livro da Atua- 
ção do Princípio Primordial do Universo). 
Ao contrário de Confúcio, a preocupação fundamental de Lao-Tse não é 
com o convívio social, mas com a harmonia do indivíduo com a Natureza: o Tao é 
o “Caminho”, o princípio do Ser e do Mundo. 
O taoísmo não chega a ser uma religião, pois não visa ao relacionamento 
do homem com Deus, mas apenas à adaptação do homem ao ritmo da Natureza 
(a própria arte chinesa é uma demonstração disso, pois não retrata deuses, mas 
principalmente animais, plantas e a Natureza; ao contrário dos ocidentais, que 
buscam o domínio técnico-científico sobre a Natureza, os chineses pretendem 
apenas harmonizar sua vida com a Natureza, sem violentá-la). 
O Tao, como princípio absoluto, é mais passivo que ativo, e deve levar o ho- 
mem à tranqüilidade e serenidade, à ausência de tensão interior e não ao ativis- 
mo (a ciência está na diminuição da ação): “Os que de verdade sabem, não falam; 
os que falam, não sabem”; “As palavras verazes não são floridas e as floridas não 
são verazes; o homem bom não discute e os que discutem não são bons”. 
Os princípios básicos naturais (encontrados na tradição ancestral 
chinesa), complementares e não antagônicos, seriam: 
“Yin” (passivo, feminino, imanente, frio, escuro, brando, úmido, ter- ra); 
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“Yang” (ativo, masculino, transcendente, quente, luminoso, duro, 
seco, céu). 
Admite a tradição mítica chinesa, de que, da união do Céu (masculino) e 
da Terra (feminina) teriam nascido todas as coisas (vestígio das constantes celeste 
e telúrica). Os próprios imperadores chineses eram vistos como “filhos do Céu”. 
O homem possuiria um corpo e duas almas: 
 
Alma “p’oh” – permanecia, depois da morte, junto ao cadáver no reino do 
deus da terra (necessitava de alimentos, roupas, armas e utensílios; daí que junto 
aos túmulos dos imperadores e nobres falecidos deviam ser enterrados suas mu- 
lheres, servos, cavalos e demais instrumentos necessários para a vida após a 
morte); 
Alma “hun” – separava-se do corpo, para gozar do reino do céu (os ante- 
passados eram venerados como residentes do Reino dos Céus, protegendo seus 
descendentes). 
Na busca do Caminho (“Tao”), muitos discípulos de Lao-Tse descambaram 
para a alquimia, buscando encontrar a essência do Princípio Primeiro. O próprio 
taoísmo perdeu seu vigor, na medida em que sua filosofia básica de quietismo, 
desprezo pelas virtudes ativas, pelos negócios humanos e pelas ciências levou ao 
atraso do povo chinês. 
 
j) Budismo 
 
Fundador: 
 
O fundador do budismo foi Siddhartha Gautama (560-480 a. C.), filho de 
um príncipe indiano ksatriya (casta dos guerreiros). Casa-se jovem, tendo, além 
da esposa três concubinas. Uma noite, quando tinha 29 anos, após ter contato 
com a miséria e o sofrimento, abandona a família e os privilégios de casta e se 
torna um asceta ambulante (rapa a cabeça e troca as roupas delicadas por uma 
veste áspera), em busca de uma verdade superior, que explique e faça superar a 
dor neste mundo. Depois de jejuns e rigorosas práticas ascéticas, que quase o le- 
vam à morte pelo seu excesso, percebe que a verdade estaria no “Caminho 
Médio”, que se prontifica a difundir. Passa a ser chamado por seus seguidores de 
Buda (“Iluminado”). Reúne em torno de si um grupo de discípulos (os “bonzos”, 
monjes budistas), que procurarão viver sua doutrina, divulgando-a também entre 
os leigos. 
Doutrina Básica: 
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O budismo, em sua forma original, não é uma religião (pois não fala em 
Deus ou salvação como união com a divindade), nem uma ética (pois não propõe 
regras de vida para o convívio social e carece da referência a um legislador supe- 
rior), mas um “caminho” para a superação dos sofrimentos desta vida, em busca 
do Nirvana (a outra margem), onde a pessoa se perderia no Todo, aniquilando-se 
integralmente. 
O budismo admite a reencarnação como meio de contínua purificação dos 
seres, até seu total aperfeiçoamento (milhões de anos, até atingir o estado de 
bodhisattva, última reencarnação sob forma humana, antes de libertar-se total- 
mente da matéria). 
A doutrina básica do budismo segue a seguinte cosmovisão: 
 
Existência e Universalidade do Sofrimento – tudo o que existe, por 
ser mutável e perecível, é duhkha (contingência, limitação, inconsis- 
tência, decepção e angústia vital); 
Origem e Causa do Sofrimento – é o desejo, que faz com que se bus- 
que continuamente o contingente (samsara hindu); 
Remédio do Sofrimento – é a aniquilação completa do desejo (estado 
de impassibilidade, que só será perfeito no Nirvana, paraíso 
budista); 
Meios para a Eliminação do Desejo: 
 
Afastamento ou “saída do mundo” (tornar-se bonzo); 
 
Práticas de exercícios de concentração (meditação) que levem a ani- 
quilar as paixões ativas (refletir sobre as virtudes contrárias ou nas 
conseqüências do prazer desordenado); 
Vivência das 5 regras morais: 1) respeitar a vida de todos os seres 
viventes; 2) ser generoso com os próprios bens e não roubar os 
alheios; 3) abster-se da impureza (viver a castidade); 4) ser amável 
no trato e não mentir; e 5) abster-se das bebidas que embriagam (re- 
gras da lei natural). 
Ramos: 
 
Hinayana (“Pequeno Veículo”) – interpretação mais estrita da doutrina ori- 
ginal budista, vivida pelos bonzos (maior importância à ascese, à impassibilidade 
pela aniquilação do desejo) ; 
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Mahayana (“Grande Veículo”) – interpretação menos rigorista do budismo 
original, adaptada à vivência laical (busca da salvação, pela prática das boas 
obras, consistente num estado de beatitude no nirvana, com o reconhecimento da 
existência de uma divindade). 
 
k) Jinismo 
 
O jinismo, como o budismo, surgiu a partir do hinduísmo, como movimen- 
to heterodoxo, ao não aceitar a autoridade dos Vedas. 
O fundador do jinismofoi Vadhamana Mahavira (séc. VI a. C.), que seguiu 
uma trajetória semelhante a Buda: pertencente a uma família real, abandona a 
mulher e a filha aos 28 anos, quando morrem seus pais, rapa a cabeça, renuncia 
à vida principesca e se dedica durante 12 anos ao ascetismo, após os quais re- 
cebe uma “iluminação”, sendo chamado, a partir de então, por seus discípulos de 
Jina (ou Yina, “o vitorioso”), dedicando-se, pelo resto de sua vida, a pregar essa 
doutrina. 
A doutrina básica do jinismo é formada pelos seguintes elementos: 
Panteísmo - o que existe é o universo material, que é eterno; 
Animismo - todos os seres teriam alma (pedras, plantas, animais, 
homem); 
Politeísmo - não admissão de um Deus pessoal (os deuses seriam os 
“perfeitos”: as almas dos que já alcançaram o nirvana); 
Libertação do karma – a salvação se alcança através do esforço pes- 
soal, mediante os exercícios ascéticos (jejuns e mortificações tão ri- 
gorosos, que muitas vezes levavam à morte por inanição); 
Moral – as mesmas cinco obrigações dos budistas; 
 
Ahimsa (“Não Violência”) – respeito exagerado a todos os seres viven- 
tes (os monjes jinistas caminham com uma escova na mão, para 
varrer do chão qualquer animalzinho, para que não o pisem por des- 
cuido, pois matar qualquer animal tem como pena a reencarnação 
em seres inferiores, aumentando o tempo de estadia neste mundo). 
Os discípulos de Jina se dividiram em dois ramos: os “vestidos de branco” 
e os “vestidos de ar”, assim chamados por serem praticantes do nudismo (só os 
homens, uma vez que estava proibida à mulher, que só se salvava depois de se 
reencarnar num homem). 
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l) Zoroastrismo 
 
O fundador do zoroastrismo foi Zoroastro (ou Zarathustra), nobre e sacer- 
dote persa que viveu no século VI a. C., teve várias esposas e filhos e sucesso na 
pregação de sua doutrina. O livro sagrado do zoroastrismo é o Zend-Avesta, re- 
sultado do recolhimento por escrito das doutrinas do mestre em três períodos dis- 
tintos. 
Para tentar explicar a existência do mal na Terra, o Zoroastro concebe um 
dualismo de princípios: um Deus do Bem (Mazda ou Ormuz) e um Deus do Mal 
(Arimã), em luta contínua, até a prevalência final do Bem sobre o Mal. 
O dualismo religioso é uma das saídas equivocadas para a explicação da 
existência do mal (outras são a negação de Deus pelo ateísmo ou a exclusão de 
Sua intervenção no mundo pelo teísmo). Várias são as correntes filosófico-religio- 
sas que sustentaram esse dualismo: pitagóricos, platônicos e neoplatônicos, 
gnósticos e herméticos. 
Esse dualismo cosmológico se refletiria na própria constituição do homem: 
a alma, que existiria antes da encarnação, é boa, enquanto o corpo, por ser com- 
posto de matéria, é mau. O terreno é o campo do Deus do Mal e de seus demôni- 
os, enquanto o celeste é o campo do Deus do Bem e dos sete espíritos que o ser- 
vem e acompanham (esses espíritos, intermediários entre Deus e os homens, se- 
rão posteriormente considerados também divinos, formando o cortejo de Mazda: 
Mitra, deus do Sol; Anahita, deusa das águas e da fecundidade; Vayu, deus da vi- 
tória; etc). 
A iniciação na religião zoroástrica se fazia aos 7 anos de idade, depois que 
a criança houvesse aprendido as orações mais importantes, recebendo do sacer- 
dote uma faixa de algodão, com fitas e trançados, que levará nas cerimônias. 
As crenças básicas do zoroastrismo são na imortalidade da alma e na exis- 
tência de um prêmio ou castigo eterno, depois da submissão da alma a um juízo, 
havendo a restauração do Universo, quando o Deus do Bem derrotar o Deus do 
Mal. 
 
m) Maniqueísmo 
 
O fundador do maniqueísmo foi Manes (216-286), que se autodenominou 
Khayya (= “O que participa da Vida”, em sírio), de onde o nome Manikkaios em 
grego. De origem nobre (partos), afasta-se da religião de seus pais quando ouve, 
por três vezes, uma voz que lhe diz: “Não comas carne, não bebas vinho e afasta- 
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te das mulheres”. Depois dessa inspiração, inicia a pregação de uma nova doutri- 
 
 
 
na, de caráter dualista, considerando o espírito bom e a matéria má. Percorre a 
Índia e a Pérsia pregando sua nova religião, sendo finalmente preso pelos magos 
persas, morrendo na prisão. 
Os pontos principais do maniqueísmo são: 
Dualismo religioso – Na origem, havia uma separação total entre o 
Bem (“Pai da Luz”) e o Mal (“Príncipe das Trevas”), que se mistura- 
ram na criação do mundo; apenas pelo sofrimento e pela vinda de 
um libertador é que se chegará à restauração universal, com a sepa- 
ração definitiva entre bons (“Reino do Bem”) e maus (“Reino do 
Mal”). 
Vinda de espíritos esclarecidos ao mundo, para revelar o caminho de 
salvação aos homens (Adão, Noé, Abraão, Buda, Zoroastro, Jesus 
Cristo e, finalmente, Manes); 
Redenção pelo conhecimento (gnose), abstendo-se de tudo o que seja 
carnal (vegetariano, abstêmio de bebidas alcoólicas e de relações se- 
xuais). 
Os Livros Sagrados do maniqueísmo foram escritos diretamente por Ma- 
nes, sendo sete: Sabuagã, o Evangelho Vivente, o Tesouro da Vida, Pragmateia, o 
Livro dos Mistérios, o Livro dos Gigantes e as Cartas. 
O maniqueísmo virá a desaparecer, sendo sua última manifestação a dos 
cátaros (ou albigenses) na França do século XI. O termo “maniqueu” ficará para 
designar a concepção dualista do mundo, da divisão dos homens em bons e 
maus. 
n) Islamismo
Fundador: 
O fundador do islamismo foi Maomé (570-632), nascido num poderoso clã 
árabe, perde cedo seus pais, sendo educado pelos avós e tios para o comércio iti- 
nerante. Em suas viagens toma contato com o judaísmo e cristianismo. Casa-se 
com uma viúva rica, 15 anos mais velha, que lhe dá todo o apoio e meios econô- 
micos quando, aos 40 anos, depois de fortes experiências espirituais, nas quais 
diz ter recebido a revelação do arcanjo S. Gabriel, começar a pregar sua nova 
doutrina monoteísta de submissão total a Alah dado à religião (daí o nome de Islã
[“Islam” = submissão]) e de muçulmano [“muslim” = submisso] para os 
seus 
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adeptos. A perseguição levada a cabo por seus conterrâneos (afeitos ao politeísmo 
reinante entre as tribos árabes) fará com que tenha que fugir de Meca para Medi- 
 
 
na no ano de 622 (é a hégira, que marca o início do calendário muçulmano). Após 
a morte de sua primeira mulher, casa-se com várias outras, defendendo, a partir 
de então, a poligamia. Reunindo muitos adeptos ao seu redor, volta para Meca, 
apodera-se da cidade e inicia a guerra santa (“jihad”) para levar a religião “revela- 
da” a todas as tribos árabes, começando pela Síria (o Islã passa a ser não apenas 
uma religião, mas o próprio Estado muçulmano, onde o religioso e o temporal se 
confundem). 
Livro Sagrado: 
O livro sagrado do islamismo é o Alcoorão (“Corán” = declamação), recebido 
por Maomé do arcanjo S. Gabriel, que o traduziu para o árabe, do original celeste 
que estaria diante de Alah (como Maomé se dizia o último profeta de Alah, numa 
cadeia que começa em Noé, passando por Abraão, Ismael, Moisés, João Batista e 
Jesus Cristo, aproveita muitos elementos judaico-cristãos, além de algumas tra- 
dições árabes mais arraigadas no povo, como a veneração à Kaaba, “pedra negra”, 
que era foco de peregrinações em Meca). 
Além do Alcoorão, os muçulmanos têm a Suna (“Sunna” = tradição): reco- 
lhimento, por escrito, dos ensinamentos e da vida de Maomé, interpretando o li- 
vro sagrado (que pode também ser livremente interpretado pelos muçulmanos, 
salvo sobre os raros pontos em que há um acordo comum de toda a comunidade 
islâmica). 
Doutrina Básica: 
tes: 
Os pontos básicos da doutrina islâmica podem ser resumidos nos seguin- 
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Monoteísmo – “Alah é o único Deus e Maoméé o seu profeta” é a fra- 
se que resume a crença muçulmana. 
Criação – além do mundo material, do qual faz parte o homem, exis- 
tem as criaturas espirituais (anjos e demônios). 
Escatologia – as ações dos homens serão premiadas com o Paraíso 
ou punidas com o Inferno, conforme sejam boas ou más, de acordo 
com os preceitos do Alcoorão; 
Moral – os muçulmanos devem cumprir os 5 preceitos básicos (“pila- 
res do Islã”), que consistem em: 1) Profissão de fé, reconhecendo 
Alah como único Deus e Maomé como seu profeta; 2) Recitação da 
oração canônica 5 vezes ao dia (amanhecer, meio-dia, tarde, pôr-do- 
sol e noite), ajoelhado, prostrando-se em direção a Meca (na sexta- 
feira, dia sagrado da semana islâmica, devem participar da oração 
 
 
do meio-dia na mesquita); 3) Dar esmola; 4) Jejum durante todos 
os dias do mês de Ramadã (do nascer ao por do sol), abstendo-se 
de alimentos, bebidas, fumo, perfumes e relações sexuais; e 5) 
Peregri- nação a Meca uma vez na vida. 
Principais Seitas: 
 
Sunitas – tradicionalistas, partidários do respeito total à Sunna e aos 
ante- passados (maior parte dos muçulmanos). 
Xiitas – radicais, consideram o único pecado grave o da apostasia 
(perda da fé muçulmana), que deve ser punido com a morte (no entanto, 
condenam a di- nastia omíada por ter assumido o poder com o crime de sangue 
de seu primeiro califa). 
 
o) Judaísmo 
 
Fundador: 
 
O judaísmo tem sua origem na chamada que Abraão (séc. XIX-XVIII a.C.) 
recebe para deixar sua parentela e sua terra natal de Ur, na Caldéia, pois Deus 
pretende fazer dele um povo eleito, que lhe preste o culto devido, numa terra 
pro- metida em Canaã. Completa-se com a revelação de Deus a Moisés (séc. 
XIII a. C.) no Monte Sinai, quando lhe entrega as Tábuas da Lei (10 
Mandamentos) e lhe mostra como deve ser o culto sacrificial. 
Livro Sagrado: 
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Tem como livros sagrados a Torá (é o Antigo Testamento da Bíblia Cristã, 
composto de 46 livros, que contém a Lei Mosaica e a História do Povo Eleito) e o 
Talmud (tradição oral e adaptação da lei à casuística da vida diária pelos 
rabinos e doutores da lei). 
 
 
ANTIGO TESTAMENTO 
LIVROS HISTÓRICOS (21 livros) 
LIVRO CONTEÚDO BÁSICO PERSONAGENS PRINCIPAIS 
Gênesis Criação, Pecado Original, Dilúvio, 
Formação inicial do Povo Eleito 
Adão, Eva, Caim, Abel, Noé, Abraão, 
Isaac, Ismael, Jacó, Esaú e José 
Êxodo Saída do Egito, Peregrinação pelo 
Deserto, Aliança no Sinai 
Moisés 
Levítico Culto Sacrificial e Leis Religiosas Aarão 
Números Censo e Revoltas no Deserto Caleb 
 
 
 
Deuteronômio Mandamentos e Leis Morte de Moisés 
Josué Conquista da Terra Prometida Josué e Raab 
Juízes Luta contra os povos da Palestina 
(filisteus, cananeus, madianitas) 
Débora, Gedeão, Sansão e Dalila 
Ruth Ascendência moabita do Rei Davi Ruth, Booz e Noemi 
Samuel I Início da Monarquia Israelita Samuel e Saul 
Samuel II Reinado de Davi Davi e Absalão 
Reis I Divisão em dois Reinos, de Judá e 
de Israel 
Salomão, Roboão, Jeroboão, Acab, 
Elias e Jezabel 
Reis II História da Monarquia e Quedas 
de Israel (Assírios) e Judá (Babilô- 
nios) 
Eliseu, Ezequias e demais reis 
Crônicas I e II Resenha da História de Israel Todos do A.T., até fim da monarquia 
Esdras Volta do Cativeiro da Babilônia Esdras, Ciro 
Neemias Reconstrução do Templo e da Lei Neemias 
Tobias História de Tobias e de S. Gabriel Tobias 
Judith Ameaça dos Medos a Israel Judith, Holofernes 
Ester Ameaça dos Persas aos judeus Xerxes, Assuero, Amã e Mardoqueu 
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Macabeus I e 
II 
Luta dos Judeus contra o domínio 
seleucida na Palestina 
Antíoco, Matatias, Judas Macabeu 
LIVROS SAPIENCIAIS (7 livros) 
Jó Sentido do sofrimento e comportamento do justo diante da dor 
Salmos Cânticos de Davi (Livro de orações dos judeus) 
Provérbios Ensinamentos de Salomão 
Eclesiastes (Coelet) Meditações sobre a instabilidade da vida humana e suas vaidades 
Cânticos dos Cânticos Poemas sobre o amor humano, aplicados ao amor divino 
Sabedoria Louvor à Sabedoria Divina 
Eclesiástico (Sirac) Aplicação dos mandamentos às mais variadas situações da vida 
LIVROS PROFÉTICOS (18 livros) 
LIVRO PERÍODO CONTEÚDO BÁSICO 
Isaías Reino de Judá Messias sofredor (Servo de Javé), Virgem Mãe 
Jeremias Reino de Judá Judá como o barro nas mãos do oleiro pelo pecado 
 
 
 
Lamentações Cativeiro na Babilônia Elegias de tristeza pela queda de Jerusalém 
Baruc Cativeiro na Babilônia Palavras de consolo e esperança ao povo cativo 
Ezequiel Reino de Judá Prevê os castigos pela idolatria de Judá e sua recu- 
peração (ossos secos que se reencarnam) 
Daniel Cativeiro na Babilônia Fornalha Ardente, Cova dos Leões, Banquete de 
Baltazar, Apocalipse, 70 semanas de anos, Suzana 
Oséias Reino de Israel Israel como esposa infiel de Deus a ser castigada 
(Oséias casa-se c/1 prostituta, por mandato divino) 
Joel Restauração de Israel Apelo ao jejum e à penitência pelos pecados 
Amós Reino de Israel Prevê a queda de Samaria e posterior restauração 
Abdias Cativeiro na Babilônia Castigo para os povos que espezinharam Israel 
Jonas Domínio Assírio Prega a penitência para Nínive, para não sucumbir 
Miquéias Reino de Judá Julgamento de Samaria e Judá; Belém como cida- 
de onde nascerá o Messias esperado 
Naum Reino de Judá Oráculo contra Nínive, prevendo sua ruína 
Habacuc Reino de Judá Queda de Jerusalém, mas punição final do invasor 
Sofonias Reino de Judá Castigo aos pecadores e preservação dos justos 
Ageu Restauração de Israel Reconstrução do Templo de Jerusalém 
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Zacarias Restauração de Israel Reforma moral e apocalipse de um reino de paz 
Malaquias Restauração de Israel Amor de Deus p/seu povo, castigando os inimigos 
 
 
Características: 
 
O que mais impressiona no judaísmo é ser uma religião monoteísta, 
quan- do todos os povos da Antigüidade eram politeístas. A elevada concepção 
de Deus que o judaísmo tem só se explica quando se reconhece o seu caráter 
de religião revelada, ainda que nela possam ser encontradas as constantes 
celeste (divindade masculina e altíssima), étnico-política (povo eleito, esperando 
até hoje um messi- as libertador político, formando um Estado teocrático) e 
telúrica (idolatria nos momentos de infidelidade do povo eleito à aliança divina, 
adorando o bezerro de ouro ou os Baais fenícios, sendo castigados com as 
invasões a Israel e Judá e de- portações). 
Javé é o Deus único, de caráter espiritual (não representado por 
qualquer imagem, ainda que descrito com traços psicológicos humanos), 
transcendente (criador do mundo, sem se confundir com ele), moralizador 
(exige um comporta- mento ético, porque Ele próprio é Santo, diferentemente 
dos deuses dos outros 
 
 
povos, envolvidos em adultérios, astúcias e trapaças) e providente (preocupa-se 
de suas criaturas, ao contrários dos deuses pagãos, preocupados apenas com 
seus descansos e aventuras). 
Mandamentos: 
 
A Lei Mosaica, revelada por Deus a Moisés no Monte Sinai, se resume nos 
Dez Mandamentos: 
1. Não ter outros deuses além de Javé (Amar a Deus sobre todas as coisas, 
não fabricando ídolos e a eles devotando culto) 
2. Não pronunciar o Santo Nome de Deus em vão (As 4 consoantes Hebrai- 
cas YHWH, de difícil pronúncia por faltarem as vogais, faziam com que se usasse 
para Deus o designativo de “Adonay” = “Senhor”, ou o étnico de “Deus de Abraão, 
Isaac e Jacó”) 
3. Guardar o dia de Sábado para santificá-lo (é o “Sabath”, dia sagrado ju- 
daico, de descanso e oração) 
4. Honrar pai e mãe 
 
5. Não matar 
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6. Não cometer adultério 
 
7. Não roubar 
 
8. Não levantar falso testemunho9. Não desejar a mulher do próximo 
 
10. Não cobiçar as coisas alheias 
Culto Sacrificial: 
Para a purificação pelos pecados cometidos, o povo deve oferecer sacrifícios 
a Deus, com derramamento de sangue. Cabe aos membros da tribo de Levi o 
exercício do sacerdócio na Antiga Lei (Na divisão de Canaã, a tribo de Levi não re- 
cebe nenhum quinhão, dedicando-se inteiramente ao culto; o território é dividido 
pelas tribos de Rúben, Simeão, Judá, Issacar, Zabulão, Benjamin, Gad, Asser, 
Dã, Neftali, Manassés e Efraim, sendo estes dois últimos filhos de José, que já 
havia morrido). 
Os sacrifícios eram, basicamente, de 5 tipos: 
 
cordeiro pascal – imolado na libertação do cativeiro do Egito. 
vítimas pacíficas - ovelhas e bois imolados. 
 
 
 
holocausto - a vítima era queimada após o sacrifício, não ficando ne- 
nhuma parte para o sacerdotes; 
bode expiatório - ao qual o sacerdote contava ao ouvido os pecados 
do povo, antes de matá-lo; 
ofertas vegetais – impetratórias para que Deus lhes fosse propício. 
 
Após a destruição do Templo de Jerusalém, com a diáspora do povo hebreu 
pelo mundo, cessam os sacrifícios cruentos e o culto passa a ser de orações e je- 
juns, realizados nas sinagogas. 
 
p) Cristianismo 
 
Fundador: 
 
A religião cristã se distingue de todas as demais por ter como fundador o 
Deus-homem, Jesus Cristo (0-33). Personagem histórico referido por historiado- 
res como Tácito, Flávio Josefo, Suetônio e Luciano, nasceu em Belém da Judéia, 
na pobreza total de um presépio, de Maria Virgem, no tempo do Imperador Roma- 
no Otávio César. Viveu em Nazaré, trabalhando como carpinteiro até os 30 anos, 
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quando começou sua pregação, surpreendendo pela sabedoria profunda, quando 
carente de estudos. Formou um grupo de discípulos mais próximos (apóstolos), 
corroborou a autoridade de seus ensinamentos com milagres (curas e domínio so- 
bre as forças da Natureza), e manteve-se celibatário durante toda a sua vida, vin- 
do a morrer flagelado e crucificado no tempo do Imperador Tibério César, quando 
era procurador da Judéia Pôncio Pilatos, abandonado de seus discípulos. Ressus- 
citado ao terceiro dia, passou 40 dias confirmando em sua doutrina os apóstolos, 
até sua ascensão ao Céu. 
Ao contrário dos demais fundadores de religiões, que se dizem enviados de 
Deus, Jesus se diz “igual ao Pai”, da mesma natureza divina, ensinando com au- 
toridade própria (“Foi dito aos antigos...”; “Pois Eu vos digo...”). 
Livro Sagrado: 
 
A Bíblia, composta pelo Antigo Testamento (comum aos judeus) e pelo 
Novo Testamento, integrado por: 
 
 
EVANGELHOS – Vida de Cristo (4 livros) 
AUTOR CARACTERÍSTICAS 
S. Mateus Escrito pelo apóstolo Levi (publicano) para os judeus, buscando mostrar que 
Jesus é o Messias prometido (n’Ele se cumprem as profecias do AT) e que a 
 
 
 
 Igreja por Ele fundada é o novo Reino de Deus (escrito originariamente em 
hebraico, entre 40-50 d.C.) 
S. Marcos Escrito pelo discípulo João (primo de S. Barnabé) para os cristãos vindos da 
gentilidade (recolhendo a pregação oral de S. Pedro), buscando mostrar que 
Jesus é o Filho de Deus encarnado (daí que dê mais destaque aos milagres do 
que aos discursos de Cristo, sendo escrito em grego vulgar, entre 55-62 d.C.) 
S. Lucas Escrito pelo discípulo de S. Paulo, Lucas, que era médico e buscou compor 
uma história ordenada e documentada da vida de Cristo (dirigida nominal- 
mente a Teófilo), que servisse de fundamento para os ensinamentos recebi- 
dos (escrito em grego literário, entre 60-63 d.C.) 
S. João Escrito pelo apóstolo João, para completar o que os outros evangelhos não 
trouxeram (omite passagens que já se encontram neles) e para mostrar o sen- 
tido mais profundo dos discursos e fatos da vida de Cristo (escrito em grego, 
no final do século I) 
EPÍSTOLAS – Ensinamentos de Cristo (livros) 
AUTOR LIVRO CARACTERÍSTICAS 
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S. Paulo I Tessalonicenses Escrita desde Corinto, em 51 d.C., durante a 2ª viagem, 
para animar os tessalonicenses diante das perseguições 
e para resolver a questão da época da parusia (2ª vinda 
de Cristo) e se os mortos a veriam. 
II Tessalonicenses Escrita também desde Corinto, em 52 d.C., em face dos 
efeitos da 1ª Carta, para exortar a trabalhar e não ficar 
ociosos esperando a parusia (estavam ainda inquietos). 
I Coríntios Escrita desde Éfeso, em 57 d.C., durante a 3ª viagem, 
para corrigir alguns abusos (incesto, divisões, litígios e 
fornicação) e responder a consultas dos coríntios (ma- 
trimônio e celibato, uso das carnes imoladas, culto, ca- 
rismas e ressurreição dos mortos). 
II Coríntios Escrita desde Filipos, em 57 d.C., depois de deixar Éfe- 
so a caminho de Corinto, preparando sua chegada, pois 
os problemas tratados na epístola anterior não se havi- 
am resolvido (faz uma apologia de seu apostolado e es- 
timula a uma coleta em favor de Jerusalém) 
Romanos Escrita desde Corinto, em 58 d.C., ao final da 3ª via- 
gem, anunciando sua ida a Roma e desenvolvendo o 
tema da justificação pela fé em Cristo e pela graça (fala 
da lei natural para os gentios). 
Gálatas Escrita no mesmo local e data da epístola aos romanos, 
aborda a mesma temática da justificação, num estilo 
mais enérgico, diante da aparente defecção dos gálatas 
(introdução de heresias judaizantes na comunidade). 
 
 
 
 Colossenses Escrita durante o 1º cativeiro de S. Paulo em Roma 
(61-63 d.C.), combatendo os desvios gnósticos dos co- 
lossenses, dando-lhe o verdadeiro sentido (buscar as 
coisas do alto e não a sabedoria humana), destacando a 
dignidade supereminente de Cristo. 
Efésios Epístola do cativeiro, combatendo o gnosticismo e ex- 
pondo o “mistério” ou plano divino da salvação (esco- 
lha de cada um para a santidade), que se cumpre na 
Igreja (Corpo Místico de Cristo). 
Filipenses Escrita no cativeiro (contando detalhes de como se en- 
contrava), para incentivá-los a perseverar na fé, imitan- 
do o modelo de Cristo. 
Filemôn Escrita desde o cativeiro para interceder por um escra- 
vo perante o seu dono (fala da igualdade natural entre 
os homens, ainda que não ataque a escravidão). 
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 I Timóteo Escrita ao Bispo de Éfeso após a 1ª catividade, em 65 
d.C., desde a Macedônia, fala da organização hierárqui- 
ca da Igreja e do culto público, e do modo de dirigir a 
sua diocese. 
Tito Escrita ao Bispo de Creta também após a 1ª catividade, 
em 65 d.C., desde a Macedônia, dando critérios sobre o 
governo da Igreja e sobre os falsos doutores. 
Hebreus Destinada ao cristãos procedentes do judaismo que vi- 
viam em Jerusalém e escrita entre 64-66 d.C., desde a 
Itália, fala da superioridade da Nova sobre a Antiga 
Aliança (sacerdócio e sacrifício redentor de Cristo). 
II Timóteo Última epístola paulina, escrita em seu 2º cativeiro em 
Roma, no ano 67 d.C., exorta o bispo a permanecer fir- 
me na doutrina (fala da inspiração dos livros sagrados e 
do juízo particular). 
S. Tiago Epístola Escrita por Tiago Menor, primo de Cristo e Bispo de 
Jerusalém, entre 35-50 d.C., falando da necessidade das 
obras para a salvação (junto com a fé) e da bem-aven- 
turança da pobreza (menciona o sacramento da unção 
dos enfermos e fala dos abusos da língua). 
S. Pedro I Epístola Escrita entre 63-64 d.C. desde Roma, destinada aos 
cristãos da Ásia Menor, exortando-os a viver com ple- 
nitude as exigências da vida cristã (infância espiritual), 
permanecendo firmes nas tribulações. 
II Epístola Escrita entre 64-67 d.C. desde Roma, para os mesmos 
destinatários, alertando sobre os falsos doutores e tra- 
 
 
 
 
 tando da parusia (exortação à santidade). 
S. João I Epístola Escrita entre 95-100 d.C., desde Éfeso, para os cristãos 
da Ásia, opondo-se aos erros do gnosticismo(Deus é a 
Luz, a Justiça e o Amor), devendo fugir do pecado. 
II Epístola Escrita na mesma época a uma das Igrejas da Ásia, para 
fugir dos erros dos falsos pregadores (ebionitas). 
III Epístola Escrita na mesma época, dirigida a Gayo, com exorta- 
ções a ele e recriminações aos que se desviaram. 
S. Judas Epístola Escrita pelo irmão de Tiago Menor e primo de Cristo, 
entre 70-80 d.C., falando da Santíssima Trindade, dos 
anjos bons e maus e do juízo final. 
APOCALIPSE – Visão do Futuro (1 livro) 
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AUTOR CARACTERÍSTICAS 
S. João Revelação feita ao apóstolo sobre o futuro da Igreja, com o fim de consolá-la 
perante as tribulações que passará (escrita em 95 d.C. na ilha de Patmos): a) 
Mensagens às 7 Igrejas da Ásia; b) Visão do Trono de Deus, com os 24 an- 
ciãos, os 4 animais e o Cordeiro degolado; c) Livro dos 7 Selos; d) Visão das 
7 Trombetas; e) Luta do Dragão contra a Mulher e S. Miguel; f) O Surgi- 
mento da Besta; g) O Cordeiro e seus servidores; h) As 7 taças da Ira de 
Deus; i) Os 4 Cavaleiros do Apocalipse; j) Castigo de Babilônia; k) Extermí- 
nio da Besta; l) A Nova Jerusalém Celeste. 
 
 
Os hagiógrafos (autores sagrados) escreveram sob inspiração divina, reco- 
lhendo por escrito parte dos ensinamentos e da vida de Cristo. O que não foi reco- 
lhido por escrito faz parte da Sagrada Tradição (que, posteriormente, foi sendo re- 
gistrada pelos primeiros Padres da Igreja e está viva no sentir do povo cristão 
[sensus fidei fidelium], interpretada autenticamente pelo Magistério da Igreja). 
Desenvolvimento Histórico: 
 
Primeiros Cristãos – tanto judeus como gentios convertidos ao cristianismo 
eram cidadãos correntes do Império Romano, que trabalhavam nas suas respecti- 
vas profissões, procurando santificar-se no meio das suas atividades profissionais 
e difundir a mensagem de Cristo. 
Primeiras Heresias – os principais desvios em relação aos ensinamentos 
originais de Cristo foram os seguintes: a) judeu-cristianismo (exigir a observância 
da lei mosaica e da circuncisão); b) gnosticismo (sincretismo religioso com corren- 
tes orientais, apresentando o cristianismo como uma sabedoria superior ao al- 
cance apenas de alguns eleitos); c) arianismo (Jesus Cristo não seria Deus, mas 
inferior ao Pai); d) macedonianismo (negava a divindade do Espírito Santo); e) 
 
 
nestorianismo (negava a maternidade divina de Nossa Senhora); f) monofisismo 
(negava as duas naturezas de Cristo, humana e divina, unidas na única 
Pessoa do Verbo Divino) e g) pelagianismo (salvação sem necessidade da graça 
divina, pe- las puras forças humanas). 
Perseguições – Nero, Trajano, Décio, Valeriano, Diocleciano e Juliano (o 
Apóstata), onde os cristãos souberam dar a vida pela fé que professavam (muitos 
foram mártires). 
Liberdade Religiosa – conseguida através do estatuto de tolerância para os 
cristãos (Edito de Galério, de 311), da concessão de liberdade religiosa (Edito de 
Milão, de Constantino, de 313) e da transformação do Cristianismo em religião 
oficial do Império Romano (com Teodosio, em 380). 
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Conversão dos Povos Bárbaros – Clodoveu (francos), Recaredo 
(visigodos), S. Estêvão (magiares), S. Wenceslau (bohemios), Duque Miesko 
(polacos), S. Wla- dimir (russos) e seus respectivos povos. 
Ordens Religiosas – diante da cristianização da sociedade, mas da 
munda- nização do cristianismo vivido então pelos povos bárbaros, surgem as 
vocações de afastamento do mundo, para se consagrar inteiramente a Deus: 
beneditinos, franciscanos, dominicanos, jesuítas, etc. 
Sociedade Cristã Medieval – penetrada inteiramente pelo ideal cristão 
(ideal de cavalaria, com valorização da palavra dada; fundação das 
Universidades; cons- trução das grandes Catedrais; etc). 
Cruzadas e Inquisição – aspectos da unidade político-religiosa: as guerras 
de defesa contra a expansão árabe acabavam tendo feição religiosa (libertar a 
Ter- ra Santa do domínio mouro, que impedia as peregrinações e profanava os 
lugares santos) e os pecados mais graves contra a religião eram considerados 
crimes con- tra o Estado (utilizando-se, para o julgamento dos hereges, o 
processo inquisitório do Direito Civil vigente, que admitia o uso da tortura, para 
se obter a confissão do acusado, em face da ausência de outros meios de prova 
para se chegar à verdade dos fatos). 
Cismas – dos ortodoxos (1054) e dos protestantes (1521), esfacelando-se, 
estes últimos, em infinidade de confissões distintas, cada vez mais afastadas da 
tradição católica original: 
 
 
PRINCIPAIS CONFISSÕES CRISTÃS SEPARADAS DA IGREJA CATÓLICA 
CONFISSÃO FUNDADOR INÍCIO CARACTERÍSTICAS 
Ortodoxos Miguel Ceru- 1054 Cisma das Igrejas Orientais, a partir da sede de 
 
 
 lário Constantinopla, calcado numa distinção teoló- 
gica do Credo, mas de caráter disciplinar, recu- 
sando a autoridade do Papa e da Igreja Católi- 
ca Latina, mas mantendo todos os sacramen- 
tos. 
Luteranos Martinho Lu- 
tero 
1520 Dá início à reforma protestante na Alemanha, 
sustentando a livre interpretação da Bíblia 
(fonte exclusiva da Revelação), a corrupção to- 
tal da natureza humana (com a negação da li- 
berdade humana), a salvação apenas pela fé e a 
rejeição dos sacramentos da Ordem, Eucaristia 
e Confissão. 
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Calvinistas João Calvino 1525 Deflagra a reforma protestante na Suiça, sus- 
tentando a predestinação de justos e condena- 
dos, sendo o sinal da predestinação para a sal- 
vação o sucesso nos negócios e a adesão à 
Igreja Reformada. 
Anglicanos Henrique VIII 1534 Para divorciar-se de sua 1ª esposa, declara-se 
Chefe da Igreja da Inglaterra e separa-se de 
Roma, rejeitando alguns sacramentos, mas não 
os sacerdotes e os bispos (chamados, por isso, 
de ”episcopalistas”). 
Presbiterianos João Knox 1540 Reforma da Igreja Anglicana na Escócia, ado- 
tando o calvinismo como doutrina e rejeitando 
o episcopado, mas mantendo os “presbíteros” 
para governarem as comunidades (negando, no 
entanto, o sacramento da Ordem). 
Puritanos Roberto 
Browne 
1580 Reforma da Igreja Anglicana, buscando “puri- 
ficá-la” de todas as suas tradições católicas. 
Pregou a total independência disciplinar e dou- 
trinária, mas seus seguidores (Greenwood e 
Barrow) instituem, em 1592, a forma “congre- 
gacionalista”: chamado pessoal, mas com asso- 
ciação para edificação mútua, elegendo-se os 
pastores pela comunidade, cada uma com total 
independência (Vieram para os EUA no navio 
Mayflower). 
Batistas João Smith 1604 Dissidência do Anglicanismo, buscava uma re- 
forma mais espiritual, rejeitando uma hierar- 
quia visível (cada pastor governa o seu reba- 
nho), a liturgia e pregando a necessidade de 
um novo batismo dos adultos, por imersão. 
Quakers Jorge Fox 1649 Dissidência do Anglicanismo, dá ênfase à “ilu- 
 
 
 minação interior” direta de Deus, que faz “tre- 
mer” (quake), tendo a Bíblia em segundo plano 
e negando a necessidade do Batismo. 
Metodistas João Wesley 1738 Reforma da Igreja Anglicana, buscando um 
ideal de santidade, segundo uma regularidade 
de vida (“método”) e cumprimento dos própri- 
os deveres (salvação pelas obras), ressaltando a 
experiência mística (relação com o Espírito 
Santo). 
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Adventistas do 
Sétimo Dia 
Guilherme 
Miller 
1816 Dissidente dos Batistas, previu, com base nas 
Escrituras, a 2ª Vinda de Cristo para o ano de 
1844 (Ellen White, sua discípula, explicou, de- 
pois, que, nesse ano, Cristo teria começado o 
julgamento dos já falecidos). Rigorismo ético 
(proibição do fumo e do álcool). 
Mormons José Smith 1820 Dissidente dos Metodistas, teria recebido a re- 
velação do anjo Moroni, para restaurar a antiga 
Igreja de Cristo (nos EUA), pregando um Deus 
uno edefendendo a poligamia. O seu “Livro de 
Mórmon” seria a 3ª Revelação (depois do An- 
tigo e Novo Testamentos). 
Testemunhas 
de Jeová 
Carlos Russel 1874 Dissidente dos Adventistas, sustentou que o 
fim do mundo se daria em 1918: prega um 
Deus Uno (nega a Ssma. Trindade), a recriação 
das almas depois da batalha final de Harmage- 
don e rejeita todas as religiões e instituições 
políticas, como satânicas. 
Pentecostais Carlos 
Parham 
1900 Dissidência da Igreja Metodista, dando maior 
ênfase às manifestações do Espírito Santo: 
lado emocional, fenômenos milagrosos e fun- 
damentalismo bíblico (Assembléias de Deus e 
Igreja Universal do Reino de Deus). 
 
 
Expansionismo Apostólico – colonização da África, América e Ásia, em 
que os navegadores e colonizadores eram acompanhados por sacerdotes e 
frades que 
tinham por ideal pregar a mensagem cristã a todos os povos de todas as raças. 
 
º 
Busca da Reunificação – esforços do Papa João Paulo II para iniciar o 3 
Milênio com a volta da unidade entre os cristãos. 
 
Separação da Igreja e do Estado – da confusão advinda de se tornar reli- 
gião oficial do Império Romano, até o término dos Estados Pontifícios, com a 
reu- nificação italiana, verifica-se a prevalência do caráter fundamentalmente 
espiritu- 
 
 
al da mensagem da Igreja (os efeitos colaterais serão a instauração da Justiça 
So- cial). 
Doutrina Básica: 
 
O conjunto básico da doutrina cristã encontra-se resumido no Credo (ou 
“Símbolo dos Apóstolos”), cuja estrutura ficou estabelecida após os Concílios de 
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Nicéia (325) e de Constantinopla (381). Daí chamar-se, também, “Símbolo 
Niceno- Constantinopolitano”. Contribuíram para essa formulação também os 
Concílios de Éfeso (431) e Calcedônia (451). As verdades básicas nele definidas 
são: 
Unidade e Trindade de Deus – Monoteísmo Trinitário, em que Deus Pai, 
ao se conhecer, gera intelectualmente Deus Filho e, do Amor perfeito entre o Pai 
e o Filho procede o Espírito Santo (Vida Íntima da Santíssima Trindade, 
intelectual e afetiva); 
Encarnação, Paixão e Morte de Cristo – Deus Filho assume a natureza 
hu- mana, para libertar o homem do jugo do pecado, morrendo na Cruz e 
ressusci- tando depois; 
Unidade da Igreja de Cristo – Instituição fundada por Cristo para dar 
conti- nuidade à pregação de sua mensagem, até o final dos tempos (em que se 
dará a ressurreição da carne e o juízo universal, com prêmio e castigo eternos), 
com to- dos os fiéis batizados formando uma comunhão. 
Culto: 
 
Os meios que Cristo instituiu para dar ao homem a sua salvação denomi- 
nam-se sacramentos (sinais sensíveis de uma realidade que permanece 
oculta, que é a graça divina, isto é, uma participação na natureza divina, pela 
qual o ho- mem se torna filho adotivo de Deus). 
 
 
SACRAMENTO NO QUE CONSISTE 
Batismo Nascimento para a vida cristã, pelo recebimento da graça e remição 
do pecado original, com o derramamento de água na cabeça do ba- 
tizando e pronunciando-se as palavras sagradas. 
Crisma Confirmação e Maturidade cristã, pela infusão maior do Espírito 
Santo, através da imposição das mãos do bispo ou sacerdote. 
Eucaristia Alimento espiritual, em que se recebem o Corpo e o Sangue de 
Cristo, sob as espécies de pão e vinho consagrados na Missa. 
Confissão Remição dos pecados pela sua acusação perante o sacerdote. 
Unção dos Enfermos Alívio na doença e preparação para uma morte cristã. 
 
 
 
Ordem Consagração do sacerdote, para poder administrar os sacramentos, 
ensinar com a autoridade da Igreja e dirigir os fiéis. 
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Matrimônio Consagração da união conjugal, para que seja una, indissolúvel e 
fecunda e conte com a ajuda divina para superar as dificuldades. 
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Na administração dos sacramentos, segue-se a liturgia (modo de se cele- 
brar as cerimônias), revivendo-se, ao longo do ano, a vida de Cristo, 
especialmen- te na celebração do Santo Sacrifício do Altar, que é a Santa Missa. 
Doutrina Moral: 
 
Jesus Cristo, no sermão da montanha (Mat 5-7), deixa claro que não vem 
para revogar a Antiga Lei (10 Mandamentos), mas para aperfeiçoá-los. Assim, a 
moral cristã contém exigências maiores do que a moral judaica: amor aos inimi- 
gos (frente à lei do talião: “olho por olho e dente por dente”); indissolubilidade do 
matrimônio (frente à admissão do divórcio pela lei mosaica); etc. 
 
 
6. Formas religiosas derivadas ou degeneradas 
 
 
A par das constantes religiosas e das religiões estabelecidas, desenvolve- 
ram-se, ao longo dos séculos, algumas formas secundárias, que apenas 
impropri- amente podem ser chamadas de religiosas, uma vez que constituem 
degeneração da religião. São elas: 
Animismo – crença em que todos os seres possuem alma (animais, 
plantas e até os minerais) e, por isso, são, como o homem, dotados de uma 
inteligência e de uma vontade, ainda que não perfeitamente discerníveis. 
Chamanismo – crença no poder de projetar o próprio espírito no 
mundo dos espíritos (através de jejuns, flagelações e transes), obtendo, assim, 
ajuda para cura de doenças e predição do futuro (druidas celtas, yogas hindus, 
derviches is- lâmicos, etc). 
Fetichismo – crença mágico-religiosa nos poderes sobre-humanos de obje- 
tos naturais ou artificiais (amuletos, talismãs, etc). Também chamada de 
supers- tição (tribos africanas). Contemporaneamente, manifesta-se na crença 
no horós- copo: influência dos astros na vida humana, determinando o 
comportamento. 
Magia – crença na força impessoal existente em certos objetos ou 
ritos, que, dirigidos e aplicados em determinadas cerimônias, podem conseguir 
objeti- vos humanos, predominantemente materiais, quer sejam benéficos 
(magia bran- ca), quer sejam maléficos (magia negra). É também denominada de 
feitiçaria. 
 
 
Totemismo – crença no parentesco de indivíduos ou grupos étnico-políticos 
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com um objeto inanimado, planta ou animal: descendência comum de um totem 
(tribos americanas e australianas). 
Panteísmo – crença num Deus que se confunde com a Natureza: Deus ima- 
nente ao Cosmos (religiosidade hindu, onde Brahma é a substância primogênita 
de todos os seres). 
Politeísmo – crença na existência de vários deuses, derivada da deificação 
das diversas forças da Natureza, da divinização dos diferentes atributos da Divin- 
dade e da individualização divinizada das diferentes designações de uma mesma 
divindade, conforme o local em que se lhe prestava o culto. 
Ateísmo – pretensa negação da existência de Deus, que, na realidade, se 
manifesta na substituição de Deus por algum ídolo (a Razão, a Força, o Estado, a 
Raça, a Matéria, o Dinheiro, o Sexo, etc), já que a “morte de Deus”, apregoada por 
Nietzsche, só levaria à “morte do homem”, como ressaltou Foucault. Não existem 
ateus, teóricos ou práticos, mas diferentes espécies de idolatrias. O ateísmo vai li- 
gado ao materialismo, negando qualquer tipo de supervivência no além (prêmio e 
castigo são nesta terra). O ateísmo de base científica (não generalizado, uma vez 
que muitos cientistas fazem questão de reconhecer a Deus) deve ser atribuído à 
falta de conhecimento metafísico dos cientistas, especialmente da metafísica do 
ser. 
 
 
7. A secularização da sociedade 
 
 
O processo de secularização e de descristianização da sociedade tem sua 
origem nos séculos XVII e XVIII, a partir de Descartes e Kant, quando começou a 
derrubada da filosofia realista, substituída pelo idealismo, onde o homem passa a 
ser o centro de tudo e a realidade passa a ser o pensado pelo homem. Hegel e 
Marx, nos séculos XIX e XX, levarão esse idealismo a suas últimas conseqüênci- 
as, desembocando no materialismo onde não há lugar para Deus. Assim, toda a 
altacultura torna-se anti-religiosa. 
A classe dirigente européia (políticos, jornalistas, professores), formada nas 
universidades segundo a matriz de três filosofias básicas – marxismo, neopositi- 
vismo e existencialismo –, irá conceber a vida social à margem da religião e na 
crença de sua desnecessidade e de sua irrelevância teórica. Assim, o século XX 
será marcado pela descristianização da cultura ocidental e pelo ataque a qual- 
quer forma de religião por parte dos intelectuais, ainda que a fé popular permane- 
 
 
ça firme, mas agora fundada mais no sentimento do que na razão (falta o pão da 
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cultura católica, que é a doutrina sólida difundida desde as cátedras). 
 
A secularização da sociedade é, pois, a dissociação entre a religião e sua vi- 
vência no cotidiano dos cidadãos: já não há lugar nem lembrança para Deus nas 
atividades normais da vida. É a prevalência do mundanismo, marcado pela de- 
gradação moral que segue ao afastamento de Deus. 
Buscam-se, assim, sucedâneos para Deus: dedicar a vida à ecologia (defesa 
das espécies em extinção, mas esquecimento da defesa da vida humana em ges- 
tação), culto do corpo através do esporte (paraliturgia dos jogos olímpicos), a New 
Age moderna, pregando uma imersão estática no processo cósmico (uma religiosi- 
dade sem religião e sem Deus: o que existe seria uma energia espiritual que im- 
pregnaria todas as coisas), etc. 
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II. DEFINIÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DA RELIGIÃO 
 
 
 
 
 
 
1. Definição 
 
 
A origem etimológica da palavra religião é explicada de 3 modos distintos: 
 
a) “Relegere” (Cícero) – voltar a ler as orações previstas nos ritos religiosos, 
quando não recitadas corretamente, dado o seu caráter sagrado; 
b) “Reeligere” (S. Agostinho) – voltar a eleger a Deus, depois da queda do 
pecado original; 
c) “Religare” (Lactâncio) – reconhecer a dependência pessoal em relação a 
Deus, ligando-se novamente a Ele. 
Santo Tomás adotará esta terceira definição, dando perfis mais exatos ao 
sentido desta religação, recordando o seu estatuto metafísico ou ontológico. Com 
imensa simplicidade e clareza, descreverá a nossa dependência a Deus, desta for- 
ma: 
 
o mundo inteiro, antes de existir em si, existia na mente de Deus 
(eis a nossa primeira dependência com relação ao Criador) 
pelo ato criador, o universo vem à existência (eis a separação; só que 
esta separação não é total como a de uma pedra que se desprende 
do seu bloco original; o universo continua “ligado”, mais ainda, “ten- 
dente” para Deus, como um objeto que está preso por um elástico e 
se distancia do seu ponto original) 
 
a criatura racional, tendente para Deus, reconhece a existência des- 
ta ligação, desta “força”, retornando a Ele, de modo consciente e li- 
vre (eis aí a re-ligação, a religião) 
 
 
 
2. Fundamentação ôntica da religião 
 
 
 
 
Trata-se agora de provar no âmbito metafísico o que foi dito acima: que to- 
das as criaturas não só estão ligadas a Deus, mas tendem a Ele de modo neces- 
sário. 
 
 
 
Os passos que seguiremos serão os seguintes: 
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1. Passo um: Partindo da idéia que a existência é um movimento (pas- 
sagem da “potência de existir” ao “ato de existir), provar a Primeira 
Via de S. Tomás e chegar à conclusão que Deus sustenta todo movi- 
mento e, por conseqüência, o “movimento da existência”. 
 
2. Passo dois: Provar, além disso, que o “movimento da existência” 
deve vir diretamente de Deus, não podendo vir de um anjo ou outro 
ser criado (dependência direta). 
3. Passo três: Provar a inclinação de toda criatura ao Criador. 
 
1) Passo um: o existir depende em última instância de Deus 
 
De fato, podemos dizer que a existência é um movimento pois é a passa- 
gem da “potência de existir” ao “ato de existir”. 
 
Sendo a existência um movimento, temos que provar agora que Deus sus- 
tenta todo movimento e, por conseqüência, o existir. Provar que Deus sustenta 
todo movimento é percorrer a Primeira Via de S. Tomás. 
 
Antes, provaremos algo prévio que está incluído na Primeira Via: “que tudo 
o que se move é movido por outro”: 
1. Sabemos que é verdadeiro o princípio da não-contradição metafí- 
sico (algo não pode estar em ato e potência ao mesmo tempo, sob 
o mesmo aspecto). 
 
2. Sabemos, por outro lado, que o movimento é a passagem da po- 
tência ao ato (referente ao mesmo aspecto: falar, andar, cantar, 
etc.). 
 
3. Ora: se algo se moveu, este, num dado momento, enquanto esta- 
va em potência (de pensar, por exemplo) começou a ter a presen- 
ça de um ato (de pensar) simultaneamente. 
 
4. Seguindo o princípio da não contradição, vê-se que este ato só 
pode vir de outro. 
5. Conclui-se, portanto, que tudo o que se move, tudo que passa da 
potência ao ato, é movido por outro, recebe o ato de outro. 
Algumas conclusões que se pode tirar desta prova: 
1. Não existe o automovimento. Se existisse, forçosamente algo teria que 
estar em algum momento em ato e potência ao mesmo tempo sob o 
mesmo aspecto. Ex: se algo se automoveu a falar, por exemplo, em al- 
gum momento esteve, ele mesmo, ao mesmo tempo, simultaneamen- 
te, em “potência de falar” e “ato de falar”; ora, isto é absurdo! 
 
2. Toda “potência de algo” será sempre relegada a ser “potência deste 
algo”. Caso contrário, feriria o princípio da não-contradição. 
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Agora a prova da Primeira Via. São Tomás a formula assim: 
“A primeira e mais manifesta via (para provar a existência de Deus) é a do 
movimento. É inegável e se comprova pelo testemunho dos sentidos, que neste 
mundo existem coisas que se movem. Assim sendo, tudo o que se move é movido 
por outro, já que nada se move quando está em potência , pois mover requer es- 
tar em ato, mover é fazer passar algo da potência ao ato. Isto só pode ser feito por 
algo que está em ato, por exemplo; o calor em ato, como o fogo, faz a madeira, 
que é calor em potência, ser calor em ato, e por isto o move e o altera”. Mas não é 
possível que uma coisa esteja ao mesmo tempo em ato e em potência sob o mes- 
mo aspecto; o que é calor em ato não pode ser ao mesmo tempo calor em potên- 
cia. Conseqüentemente, é impossível que algo seja, sob o mesmo aspecto, motor e 
movido, isto é, que se mova a si mesmo. Portanto, tudo o que se move é movido 
por outro. Mas, se aquilo pelo qual se move é também movido, é necessário que 
se mova por outro, e este por outro. Como não se pode proceder até o infinito, 
porque então não haveria primeiro motor e, conseqüentemente, nenhum outro 
motor, visto que os motores segundos não movem mas são movidos pelo primeiro, 
como o báculo, que só se move quando movido pela mão. Por tanto, é necessário 
chegar a um primeiro motor que não seja movido por ninguém e, por este, todos 
entendem a Deus (I, q. 2, a. 3). 
 
Podemos colocar a “Primeira Via” na seguinte forma esquemática: 
1. Sabemos por experiência que as criaturas se movem. 
2. Sabemos, por outro lado, que tudo o que se move é movido por ou- 
tro; assim, se algo se moveu, deve-se a um outro e assim sucessiva- 
mente. 
 
3. Não é possível estender ao infinito a série dos motores que por sua 
vez são movidos. 
Pensemos, por exemplo, numa luz que chega aos nossos olhos. 
Podemos dizer que provém de um espelho e por sua vez de outro 
espelho, e assim sucessivamente. Porém isso não explica porque 
chega até nós. Para explicar, precisamos dizer que há uma fonte 
de luz inicial que provoca todas as outras. 
Também podemos dizer que o conceito de infinito é um conceito 
matemático, formal, que não explica o movimento real. Dado um 
movimento real, é preciso encontrar uma causa real. 
4. Assim, deve existir um motor imóvel que move a todos os outros, 
sem sermovido. A este chamamos Deus. 
Subsídio: prova de que o Motor Imóvel é Deus. 
1. Se é um Motor imóvel, e todos os movimentos provém dele, e não 
depende de nenhum outro para mover todo e qualquer movimen- 
to, então não possui nenhum potência. 
 
2. Não tendo nenhuma potência, é puro ato, ou ato puro. Todos os 
movimentos que vemos, inclusive a existência, provém dele sem 
depender de ninguém. 
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3. Logo, tem o ser por si mesmo; e aquele a quem tem o ser por si 
mesmo, chamamos Deus. 
Uma vez provado que todo movimento se sustenta por Deus e que a exis- 
tência é um movimento, chegamos à conclusão que a existência de qualquer cria- 
tura é sustentada por Deus. Se Deus deixasse de sustentar este movimento, a 
criatura cairia ao nada imediatamente. 
 
 
2) Passo dois: a existência deve vir diretamente de Deus e não de um ser intermediá- 
rio 
 
Para se provar isto, basta seguir este raciocínio: 
1. Consideremos todos os seres que não se identificam com o Ato Puro: 
ou seja, todas aqueles que para existirem receberam o ser, porque o 
ser não lhes é próprio. 
2. Ora, se o ser não lhes é próprio, se recebem e estão recebendo o ser, 
em nenhuma hipótese poderão, em algum momento, dar o ser a algo 
ou alguém, pois isto feriria o princípio da não-contradição (a potên- 
cia de existir não pode ser ato de existir em nenhum momento). 
Logo, só quem tem o ser como próprio pode dar o ser. 
 
 
A figura abaixo ilustra a nossa dependência a Deus. 
 
 
 
 
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3) Passo três: a tendência de toda criatura a Deus 
 
Uma vez explicada a dependência radical do ser da criatura do Ser de 
Deus, falta-nos ainda um passo para que se justifique a existência –no âmbito 
metafísico– de uma inclinação, de uma “religiosidade”, de um “tender para Deus” 
na criatura. Se esta inclinação não existisse, a re-ligação do homem seria “fria”, 
uma ato puramente racional, levado pela descoberta da dependência com o Cria- 
dor. 
É possível afirmar que há uma “inclinação” no âmbito metafísico, uma 
“pendência” de toda criatura para o Criador? É possível. E isto se prova relem- 
brando a teoria da causalidade e do Ato Puro. 
Como bem sabemos, todo efeito guarda em si um vestígio da causa do 
agente que o produziu. Segundo a teria aristotélica, são quatro as causas que 
concorrem na produção de um efeito: causa final, causa formal, causa eficiente e 
causa material. Destas quatro causas, três pertencem ao agente e uma ao sujeito 
do efeito. As três do agente são a causa final, a causa formal e a causa eficiente. 
Estas três causas deixarão um vestígio no sujeito do efeito. De modo concreto nos 
interessa aqui a causa final. Deus ao criar as criaturas, o faz por uma causa, por 
uma finalidade. Sabemos que o fim se identifica com o bem. Ora, Deus ao criar, 
sendo a Suma Bondade e buscando um bem, só pode dar a Suma Bondade como 
bem, como fim de toda criatura. Aparece assim uma “direção”, uma “inclinação” 
de toda criatura a Deus. 
 
 
3. Fundamentação axiológica e dinâmica da religião 
 
 
Cabe agora, de modo bem sucinto, comentar a fundamentação axiológica 
(valorativa, qualitativa) da religião e a fundamentação dinâmica que não são mais 
do que diferentes pontos de vista da fundamentação ôntica que vimos acima. É 
importante fazer estas distinções, pois foram poucos os filósofos que procuraram 
chegar até Deus através das perfeições da natureza (aspecto axiológico) e através 
da busca de um princípio motor de todas as coisas (aspecto dinâmico). 
 
a) fundamentação axiológica ou das perfeições 
 
É fácil notar que todas as nossas perfeições estão religadas a Deus recor- 
dando que o ser é a perfeição das perfeições; ou seja: todas as perfeições têm sua 
origem no ser. Como já vimos que o ser da criatura está sendo causado de um 
modo permanente por Deus, conseqüentemente a perfeição, seja qual for, tam- 
bém. Em outras palavras: todas as perfeições, como convertíveis que são com o 
ser, levam ou incluem necessariamente a mesma ligação. São aspectos do ser que 
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exigem uma causa, que é Deus. 
 
 
b) fundamentação dinâmica 
 
S. Tomás tem uma questão completa dedicada a este tema na I, q. 105. 
Dela nos interessa o a. 5, onde pergunta se Deus intervém na ação de todos os 
seres operativos em quanto tais. A resposta é afirmativa. 
Não se deve entender –diz S. Tomás– esta ação divina sobre as criaturas no 
sentido de que estas nada ponham na realização do efeito, como defende o ocasi- 
onalismo, afirmando que nenhuma ação corresponde às criaturas, mas a Deus 
que opera tudo em todas as coisas, pondo estas de sua parte só a ocasião. O ex- 
tremo oposto é o de Molina, que admite na criatura uma atividade sem necessida- 
de da causa primeira. 
S. Tomás resolve a questão dizendo que nada pode sair da potência ao ato 
a não ser pela ação de um ser em ato. E assim sucessivamente até chegar em 
Deus. 
Vista assim, esta questão fica reduzida ao estudo das cinco vias, principal- 
mente das vias dinâmicas. A conclusão da primeira via, por exemplo, é que deve 
existir um “primeiro motor imóvel” com relação ao qual todos os demais motores 
são movidos; ou seja, motores subordinados que recebem todo seu impulso da- 
quele primeiro motor. Dentro de nosso tema, estamos ligados a Deus em todos 
nossos atos até tal ponto que não podemos mover-nos, realizar a mais simples 
atividade, se não nos é dado do alto. 
 
 
4. Conclusões 
 
 
 
guir: 
 
Todas estas questões nos levam a algumas conclusões que veremos a se- 
 
Primeira: a religião, a ligação com Deus, não é algo que se pode ter ou não 
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ter, a capricho da liberdade humana. Vem-nos dada. No mesmo momento que co- 
meçamos a existir, já nos encontramos ligados, dependentes radicalmente de 
Deus. “O homem –como diz Zubiri– não “tem” religião mas “consiste” na religação, 
na religião (Zubiri, Natureza, Historia, Deus, Madri, 1944, pp. 437-438). 
 
Segunda: do ponto de vista metafísico, o homem está em idênticas condi- 
ções dos seres que o rodeiam. A ligação não é algo que afeta exclusivamente o ho- 
mem, separando-o e diferenciado-o do resto da criação. Não, afeta todos os seres. 
A diferença é que no homem esta ligação se atualiza formalmente. 
 
Por essa semelhança com as demais criaturas, o homem pode descobrir 
nelas a mesma perspectiva de ligação ontológica que descobre em seu próprio ser, 
e chegar por este caminho até Deus. Que outro caminho é este senão as cinco 
vias de S. Tomás? 
A ligação não nos dá, no entanto, um conhecimento perfeito de Deus. Nós 
sabemos que a perfeição do nosso conhecimento depende da perfeição com que a 
coisa, ou o objeto, nos é manifestada. Deus não se manifesta a nós perfeitamente, 
 
 
 
nem sequer diretamente. Conhecemos a Deus através das criaturas, pelas perfei- 
ções que encontramos nelas, e por analogia chegamos até Deus (I, q. 13, a. 4). 
 
Terceira: falando ainda no âmbito metafísico, chegamos a uma conclusão 
muito simples, mas de grande força: metafisicamente falando não podem existir 
ateus, pois seria o mesmo que afirmar que existem seres a-ligados. Um ateu, nes- 
te sentido, é um ser impossível, contraditório. No momento em que um ateu nega 
o “ser”, seu ser delata sua ligação. 
 
O ateísmo (tanto teórico quanto prático, viver sem precisar de Deus) é, 
como agora se torna patente, a coisa mais absurda que existe. Um homem des-li- 
gado seria o nada subsistente. 
 
Todo o vazio que cai a filosofia moderna nasce do esquecimento dessa liga- 
ção. Se o ser, a permanência no ser, e todas as perfeições humanas e todas as 
nossas ações supõem nossa fundamentação em Deus, o próprio nosso é a finitu- 
de, o nada, a limitação. Esquecendo-se o homemda sua fundamentação em Deus 
e pondo sua fundamentação em si mesmo, em breve se deparará com o nada 
subsistente, com o vazio, seu apoio se desmoronará como um torrão de açúcar se 
desmorona. 
 
Quarta: outra dedução importante que podemos chegar, ao aprofundar na 
fundamentação ontológica da religião, é a enorme transcendência de Deus sobre 
as criaturas e, ao mesmo tempo, a sua profunda intimidade no ser. 
Por um lado, Deus apresenta-se como o ser maximamente transcendente, 
fora de toda categoria, fora de toda a ordem do criado, causa incausada, ser ne- 
cessário, motor imóvel, perfeição absoluta, inteligência dominadora, etc. Porém, 
todas estas afirmações expressam pouco do que é Deus em si mesmo, de sua vida 
íntima, do seu verdadeiro ser e personalidade. É um mundo desconhecido, onde a 
inteligência não chega; só a revelação e a fé podem nos aproximar desta realida- 
de. 
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Por outro lado, Deus é o que de mais íntimo, imanente, se dá nas criatu- 
ras. Dando sustentação a todo seu ser, sendo o Ato de todos os atos. Como dizia 
S. Agostinho, Deus está mas íntimo a nós, a todos os seres, do que os seres a si 
mesmos. 
 
Este enorme contraponto é o que explica grande parte dos erros das diver- 
sas religiões que foram criadas por pessoas humanas. 
Quinta: analisando a teoria da causalidade, vemos que o universo inteiro 
“ilumina” Deus, da notícia de Deus. O universo inteiro, impregnado da Bondade 
que foi comunicada como causa final a toda criatura, nos “atrai” para a Bondade 
Suprema. 
Deus se “impregna” em todas as criaturas, impregnado todas as suas po- 
tências. Daí que todas nos levam a Deus e todo o nosso ser nos leva a Deus. 
 
 
 
 
 
III. NOÉTICA DA RELIGIÃO 
 
 
 
 
Depender de Deus não basta para sermos religiosos. É necessário tomar 
de alguma forma consciência desta dependência para que haja uma união efetiva 
com Deus. 
Veremos a seguir os diversos caminhos pelos quais o homem pode tomar 
consciência da religião. 
 
 
1. Consciência da religião por via do intelecto 
 
 
Para nós, o meio fundamental de fazer-nos conscientes de nossa ligação é 
o conhecimento intelectivo. Mas, diz S. Tomás, existem três modos distintos de 
conhecer a realidade: 
a) pela presença da própria essência do objeto conhecido no cognoscente; 
b) pela presença da própria imagem do objeto conhecido na potência cog- 
noscitiva (como o conhecimento de uma pedra se realiza no olho pela presença da 
sua imagem na retina); 
c) pela semelhança ou imagem tirada não do objeto próprio, mas de outro 
objeto onde, de algum modo, ela é representada (como quando vemos uma ima- 
gem através de um espelho (I, q. 56, a. 3)). 
 
 
a) O conhecimento pela presença da própria essência divina (conhecimento intuitivo) 
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O problema de um conhecimento intuitivo de Deus, “per essentiam”, como 
diz São Tomás, é o problema do ontologismo. Sobre este tema existem duas posi- 
ções igualmente extremas e igualmente errôneas. 
 
Por um lado, estão os que afirmam que nenhum entendimento criado pode 
chegar ao conhecimento imediato da Essência Divina. Nem mesmo os anjos e os 
bem-aventurados, que, mais do que ver a Essência Divina, vêem um resplendor 
que procede dEle. 
Outra é a posição que afirma a possibilidade para o homem, ainda nesta 
vida, contando com as suas próprias forças, da visão da Essência Divina. Neste 
grupo podemos contar os ontologistas, racionalistas, imanentistas, etc. 
A verdade não está em nenhum desses dois extremos: se examinamos o 
problema desde um ponto de vista natural, podemos facilmente comprovar como 
a visão intuitiva de Deus é totalmente impossível para nós no estado atual em 
que nos encontramos. Para que possa existir conhecimento, é necessário que 
haja proporção entre o objeto conhecido e a potência cognoscitiva, pois o modo da 
operação segue o modo de ser. O entendimento humano tem por objeto e não co- 
 
 
nhece mais do que aquelas coisas que estão realizadas na matéria, e as conhece 
precisamente mediante as imagens –fantasmas– extraídas das coisas sensíveis. 
Conhece as essências das coisas sensíveis, em seu aspecto universal, abstraído 
da forma concreta e singular em que se dão na ordem da realidade. 
Isto não quer dizer que em outras condições da natureza humana, ou de 
algum modo fortalecida por uma potência superior, a visão facial de Deus não 
possa realizar-se. 
 
b) O conhecimento pela presença da própria essência divina 
 
Também aqui a conclusão é totalmente negativa. Uma imagem própria de 
Deus teria que ser tão espiritual como Ele, em que sua Divina Essência se mani- 
festasse como é em si, em sua Infinita Imaterialidade. Como, segundo o que aca- 
bamos de dizer, não conhecemos nem podemos conhecer por nossas puras forças 
naturais mais que as essências das coisas sensíveis, temos que tal imagem está 
por cima também de nossas possibilidades. 
 
Conhecer “per speciem propriam”, como diz S. Tomás, a Deus seria conhe- 
cer como os olhos, por exemplo, conhecem as cores próprias na imagem que ne- 
las se reproduz. Esta visão ou conhecimento, diz o Angélico, só se dá no conheci- 
mento natural dos anjos, em que a imagem de Deus está neles “impressa” (I, q. 
56, a. 3). 
 
 
c) O conhecimento indireto ou “per analogiam” 
 
Só nos resta um modo, do ponto de vista natural, de conhecer a Deus: pelo 
reflexo de Deus nas criaturas. Realidade possível para o nosso conhecimento. 
Estes vestígios de Deus nas criaturas estão fundamentados na causalida- 
de. Como, necessariamente, o efeito tem que guardar uma proporção e semelhan- 
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ça com a causa que o produz, as coisas são semelhantes a Deus e podem nos le- 
var –por analogia– ao seu conhecimento. 
 
 
d) Os que negam esta via de acesso 
 
Os agnósticos. Para os agnósticos este problema ou não existe, ou não 
deve existir. Se não podemos demonstrar a existência de Deus, menos ainda po- 
deremos fazer-nos conscientes de nossa ligação. 
 
Os panteístas. Da mesma maneira, esta questão não existe para os pan- 
teístas. De fato, o panteísmo, em qualquer forma que se apresente, desde Parmê- 
nides até Spinoza, de Heráclito até Bergson, nega sempre um dos termos da rela- 
ção criatura-Criador: ora nega o homem, dizendo que tudo não passa de Deus; 
ora nega Deus, colocando-o no mesmo nível das coisas contingentes. O máximo 
que os panteístas podem chegar, como chegaram os estóicos e Schleiermacher, e 
muitos filósofos afins, é ter consciência da nossa participação em Deus; mas nun- 
 
 
 
ca chegarão ao conceito verdadeiro de ligação entre a criatura e um ser bem dis- 
tinto dela, que é o Criador. 
 
Depois: todos os filósofos idealistas, que ora são agnósticos ou panteístas. 
 
 
2. Consciência da religião por via da vontade 
 
 
Desde já, devemos partir daquele velho princípio filosófico que diz que 
“nada se quer se não se conhece”. 
Uma vez estabelecido este princípio, podemos dizer que tudo que se aplica 
ao conhecimento, aplica-se à vontade. Ou seja: não podemos querer a Deus dire- 
tamente mas unicamente por analogia. Os bens criados e finitos serão sempre 
uma alavanca para o Bem-Infinito, por darem notícia deste Bem. 
 
 
 
3. Consciência da religião por via da sensibilidade 
 
 
A última via que pode dar acesso a Deus, no plano natural, é a via da sen- 
sibilidade. O problema aqui é muito semelhante ao dos itens anteriores. Trata-se 
de conhecer a influência que tem esta parte sensitiva na consciência de nossa li- 
gação com Deus. 
 
 
a) Esclarecimentos importantes 
 
Como a sensibilidade humana é muito rica, é necessário fazer uma breve 
distinção entre os diversos grupos que a compõem, isto é: as tendências, apetites, 
www.universidadedabiblia.com.brinstintos, paixões e sentimentos. 
 
a.1) Tendências 
A tendência é uma inclinação natural a. Santo Tomás a chama o “pondus 
naturae”, uma espécie de peso que leva sobre si a própria natureza e que a incli- 
na sempre a determinados fins. Estende-se não só ao seres animados mas tam- 
bém aos inanimados. A pedra tende a cair, tem tendência a cair. A árvore busca a 
luz, tem tendência à luz. O animal ama sua existência, tem tendência a conservar 
sua existência, etc. 
 
a.2) Apetite 
O apetite tem uma significação mais restrita, refere-se propriamente ao 
animal (racional ou irracional) e sua atuação segue sempre a um conhecimento. 
Pode ser um “apetite superior” (apetite racional ou vontade) e pode ser 
também um “apetite inferior” (segue a um conhecimento puramente sensitivo ou 
tende a aperfeiçoar a parte sensitiva ou animal do indivíduo). 
 
 
 
a.3) Instintos 
Estes dois apetites fundamentais vistos acima envolvem infinitas modali- 
dades, que respondem às diversas maneiras em que podem se apresentar os infi- 
nitos objetos. Estas modalidade, estas concretizações, chamamos instintos. São 
sempre inatos. 
 
a.4) Paixões 
É fácil distinguir, uma vez entendida assim a natureza dos instintos, dois 
aspectos bem diferentes em quem os possui. O instinto enquanto força, tendência 
do sujeito; e o instinto enquanto elemento passivo, sofrendo as conseqüências da 
apetecibilidade. A isto chamamos paixões. É algo transitório. Costuma ocorrer 
com alguma mutação orgânica. 
 
a.5) Sentimentos 
É um conjunto de afetos, de excitações que surgem no sujeito causadas 
pela presença do objeto apetecível sob uma infinidade de circunstâncias. 
 
b) Se a religião pode ser objeto destas realidades 
 
Como ponto de partida, podemos descartar as tendências, já que estas são 
movimentos comuns aos seres animados e inanimados. Não tem sentido dizer 
que a religião é objeto de um ser inanimado. 
Com relação aos outros elementos da sensibilidade, levando em considera- 
ção que todos eles são decorrentes de um prévio conhecimento, Deus em si não 
pode ser objeto destes elementos, mas sim por analogia: realidades que por ana- 
logia conduzem a Deus. 
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Vejamos como isto ocorre, a título de exemplo, nas paixões e sentimentos e 
no instinto. 
 
c) A religião nas paixões e sentimentos 
 
De fato, a religião, por analogia, pode ser objeto das paixões e dos senti- 
mentos. Basta pensar, por exemplo, o que ocorre quando ouvimos uma peça de 
música extraordinária, quando contemplamos um quadro famoso, ou quando le- 
mos uma obra prima: nosso espírito costuma elevar-se a regiões inauditas. Facil- 
mente passamos do belo ao sublime, do grande ao grandioso, da harmonia à ma- 
ravilha. 
 
Pensando neste exemplo, é fácil imaginar que em determinadas circuns- 
tâncias, admirando a beleza da natureza, fazendo um retiro espiritual, obtendo 
uma graça extraordinária (a solução de um problema econômico, a cura de uma 
doença), sintamos Deus no nosso coração. Não será propriamente Deus que esta- 
remos sentindo, mas uma Grandeza Superior, uma Luz inigualável dentro de nós, 
etc. 
 
 
Podemos dizer que da mesma maneira que a nossa inteligência é levada a 
ver nas coisas contingentes uma dimensão transcendente, os sentimentos e as 
paixões podem vislumbrar a divindade nas criaturas. 
Muitas conversões surgem destes sentimentos. Não há dúvida que é preci- 
so procurar posteriormente um fundamento para esta experiência sensível. 
 
 
d) A religião nos instintos 
 
Como já vimos anteriormente, vários filósofos imanentistas, tentando expli- 
car o fenômeno religioso, afirmaram ser este o produto de um instinto comum a 
todos os homens. 
 
Freud, por exemplo, em seu clássico pansexualismo, diz ser a religião a 
“sublimação da libido”, semelhante ao “élan vital” de Bergson e à ânsia de viver 
de Schopenhauer, mas introduzindo nestes conceitos a idéia de sexualidade. Esta 
sublimação da libido é o fundo de toda vida religiosa. Os místicos são uns eróti- 
cos refinados. Aduz como testemunho os modos de expressar-se dos místicos em 
metáforas do amor humano. 
 
Feuerbach, por outro lado, afirma ser a religião uma aspiração ilusória do 
homem que diante da dominação da Natureza e da limitação de suas faculdades, 
sonha com a liberdade, com a independência. Neste delírio, cria um mundo novo 
e põe nele a esperança da sua liberação. 
Boutroux põe a essência da religião no instinto de superação que caracteri- 
za a sociedade e o indivíduo. O progresso é a prova deste instinto. A sociedade 
não se detém e as gerações tratam de superar-se umas às outras. 
 
Spencer apresenta uma teoria da religião que, em última análise, reduz-se 
a um movimento instintivo, o instinto de conservação. Daí o culto aos mortos, o 
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temor dos espíritos, etc. 
Conhecida é também a teoria de Nietzsche afirmando ser a religião o ins- 
tinto de conservação dos escravos frente à potência e afirmação de poder dos se- 
nhores. 
 
Também Otto fundamenta a religião em um instinto: o temor ante o “numi- 
noso” (o que causa estupor). 
 
Todos estes filósofos, tem em comum o fato de reduzirem a religiosidade a 
um subproduto do eu. Erram, portanto, ao negarem a existência de um ser trans- 
cendente à subjetividade. Veremos como a perspectiva realista olha com outros 
olhos os instintos que nos levam a Deus. 
 
Vejamos, em primeiro lugar se é possível existir um instinto religioso. Te- 
mos que recordar, mais uma vez, que o exercício do instinto exige sempre o co- 
nhecimento prévio de um objeto, apesar da sua mecanicidade. Qualquer que seja 
o nosso instinto, ele só é posto em ação, na presença de um objeto, ainda que não 
seja claramente definido. 
 
 
 
Se é necessário um conhecimento prévio, mais uma vez descartamos a 
possibilidade de um instinto que tenha como objeto Deus. O que pode haver, sim, 
é um instinto, por exemplo, de curiosidade, que nos leva a observar os fenômenos 
e –graças à ação do conhecimento– atribuí-los a determinadas causas. 
Descrevemos a seguir alguns instintos que podem intervir na religião: 
instinto de conservação: é o que nos leva a perpetuar a nossa exis- 
tência e procurar para ela um apoio para continuar existindo. Nesta 
busca, sentimo-nos empurrados a apoiar-nos num apoio que esteja 
além das realidade materiais. 
 
instinto de curiosidade: os fenômenos naturais de terror, de beleza 
extraordinária, de aparição e desaparição das coisas, excitam em 
nós a busca de uma causa que esteja por trás. 
instinto de temor: é o medo que surge diante dos fenômenos da na- 
tureza, das reações humanas, da morte, etc. Ele nos leva a buscar 
um apoio que seja superior às coisas que nos cercam. 
 
instinto de felicidade: sem percebermos, estamos sempre procuran- 
do a felicidade. Concomitantemente vamos tendo a experiência da 
insaciabilidade dos bens alcançados. Isso nos leva a procurar en- 
contrá-la em bens maiores. 
 
Poderíamos destacar muitos outros instintos naturais ao homem. Porém, 
com estes, já percebemos aquilo que havíamos mencionado anteriormente que 
Deus, através da causa final, põe um direcionamento a Ele não só em todas as 
criaturas, mas em todas as suas potências; daí que todas nos levem a Deus, in- 
clusive os nossos instintos. 
 
Desta forma entendemos que os filósofos modernos tenham descoberto ins- 
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tintos que nos levam a Deus. Erraram, por outro lado, ao afirmarem que estes 
instintos têm uma realidade meramente imanente. 
 
 
e) Possibilidade do ateísmo no âmbito da noética da religião 
 
Concluímos o segundo capítulo fazendo a pergunta se era possível o ateís- 
mo no âmbito da fundamentação metafísica da religião? E respondemos que não 
era possível.O homem, queira ou não, está ligado ao Ser, em sua existência e em 
sua permanência no ser. 
 
Ao concluir este terceiro capítulo nos perguntamos também se é possível o 
ateísmo no que diz respeito à noética da religião? Isto é: é possível que exista um 
homem que, por via racional, volitiva ou sensitiva, não chegue à reconhecer Deus 
em sua vida? 
Podemos dizer que, sendo tantas as “forças” que nos levam a Deus (racio- 
nais, volitivas, sensitivas) não é possível que um homem normal não tenha, pelo 
menos em algum momento, uma consciência da sua ligação. 
 
 
 
IV. ATITUDE DO HOMEM DIANTE DA CONSCIÊNCIA DA RELIGIÃO 
 
 
 
 
 
 
1. O ateísmo 
 
 
Dizíamos antes que não é possível a existência do ateísmo. Nenhum ser, o 
mais ínfimo de todos, enquanto possa receber com verdade o qualificativo de ser, 
pode deixar de estar religado. O ser – dizíamos– é um efeito próprio ou privativo 
da primeira causa. Onde quer que esteja o ser, ali está presente a primeira causa. 
Também –como já vimos– é muito difícil que se dê o ateísmo no que toca à 
noética da religião. É tão palpável o direcionamento das nossas potências em di- 
reção ao absoluto, tão forte a nossa busca da verdade, do bem, da felicidade que 
é praticamente impossível que alguém não se dê conta da sua ligação com Deus. 
No entanto, como sabemos, o ateísmo existe. É um fato que presenciamos 
com relativa freqüência. Como explicá-lo, então? Onde estão as suas raízes? 
Penso que podemos entendê-lo à luz destas palavras de Aristóteles de um 
profundo valor: “A verdade está sempre diante de nós, e nós estamos por ela cir- 
cundados e iluminados: a nossa inteligência é que deve habituar-se a vê-la, assim 
como os nossos olhos devem habituar-se a ver a luz que nos circunda e nos ilu- 
mina” (Aristóteles). 
Aristóteles afirma uma verdade inequívoca: “a verdade está diante de nós”. 
Sua luz é de tamanha força que nos ilumina, mais ainda, nos circunda. De fato, 
como vimos, a luz da nossa ligação está por todos os lados, em todos os nossos 
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sentidos e potências e em todas as criaturas. O que precisamos fazer é habituar- 
nos a ver esta ligação, como os olhos estão habituados a ver a luz que os ilumina. 
E isto é uma atitude da vontade, da liberdade. Se a liberdade não quiser ver, não 
verá. Da mesma forma que se os olhos não quiserem ver a luz que brilha no mun- 
do, não a verá. 
Isso mostra como diante de qualquer verdade, por mais evidente que seja, 
podemos negá-la. 
Superar o ateísmo é render-se ao excesso de luz. É justamente isso que se- 
para aqueles que “vêem” a Deus, daqueles que não o “vêem”. 
 
 
2. A única atitude racional ante a consciência da religião 
 
 
De tudo o que vimos, a única atitude sensata diante da consciência da reli- 
gião é dar a Deus o seu culto devido. O estudo desta matéria já não é propria- 
mente filosofia da religião. 
 
 
ANEXO 1 
 
 
 
 
 
 
“Para quê ter uma religião” (D. Estevão Bittencourt, PR 297/1987) 
 
 
Em síntese: A religião é a única resposta cabal às aspirações fundamentais 
do ser humano, pois o eleva ao Transcendental e Absoluto. A tentativa de procu- 
rar na ciência e na técnica a solução para os anseios congênitos do homem tem 
decepcionado o cidadão de nossos dias: atesta-o o ressurgimento da religião nos 
países submetidos a regimes ateus como também o surto de novas e novas seitas; 
estas infelizmente são mais emotivas e fantasiosas do que racionais. 
O indiferentismo religioso de muitas pessoas de nossos dias explica-se, em 
parte, pelo consumismo, que embota o senso religioso e dá ao homem a impres- 
são de poder saciar-se com os bens materiais; cedo ou tarde, porém, os bens ma- 
teriais falham, abrindo um vazio no coração do homem, que só Deus pode ade- 
quadamente ocupar. Verifica-se também que a agitação e as preocupações do ga- 
nha-pão, o barulho da civilização contemporânea dificultam ao homem o encon- 
tro consigo mesmo no silêncio; muitos não estão acostumados ao recolhimento e 
à reflexão - o que torna difícil aprofundar o senso religioso inato em tais cidadãos. 
A perda da religião é grave dano para o homem, pois se observa que a 
“morte de Deus” vem a ser a “morte do homem”. 
Não é raro encontrarmos pessoas que perguntam: “Por que ou para que ter 
religião?” Dizem não precisar de religião, pois vivem satisfeitas sem fé. Daí o indi- 
ferentismo, que não combate a religião, mas a menospreza como um derivativo 
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oportuno para quem dele precise. 
Tal fenômeno é novo na história da humanidade. Outrora ter religião era 
um fato normal. A partir do século XVIII, o ateísmo passou a impugnar a religião 
como algo de irracional, alienante e nocivo; a religião mereceria ser combatida, na 
concepção desses ateus. Atualmente, porém, há pessoas que nem concebem o 
problema religioso; por isto nem combatem a religião; esta, segundo elas, não me- 
rece atenção. Por isto há quem diga que vivemos numa época “pós-religiosa”; esta 
expressão é exagerada ou mesmo falsa, pois há sinais eloqüentes de retorno à re- 
ligião em nossos dias, como se verá no decorrer deste artigo. 
 
A seguir, examinaremos a questão: “por que ou para que uma religião” 
Procuraremos a resposta a dar-lhe e os porquês do indiferentismo. 
 
 
1. O sentido da vida 
 
 
1.1. A questão básica 
 
 
Uma das necessidades fundamentais do ser humano é, conforme bons psi- 
cólogos, a de saber o sentido da vida: “por que vivo?... para que vivo?... por que 
sofro? Por que a morte?... por que o mal na história dos homens?... Afinal de con- 
tas, quem sou eu?”. A necessidade de resposta para tais perguntas se evidenciou 
especialmente nos campos de concentração: nestes os prisioneiros, sentindo-se 
condenados a trabalhos e condições de existência absurdas, deixaram-se, não 
raro, morrer ou perderam todo estímulo para viver; muitos não tinham sequer a 
coragem de se colocar de pé, apesar da pressão dos golpes e maus tratos, da fome 
e da sujeira em que jaziam. O psicólogo austríaco e judeu Viktor Frankl o narra 
muito vivamente em seu livro: “Psicoterapia e sentido da vida” (cf. PR 281/1985, 
pp. 329-340). 
 
 
1.2. Tentativa de resposta sem Deus 
O homem moderno se afastou de Deus e da Religião, tidos como elementos 
pré-científicos ou obscurantistas, para se entregar ao cientificismo: a ciência e a 
técnica, progredindo continuamente, lhe trariam todas as respostas e preencheri- 
am todas as suas aspirações. O homem moderno teria deixado de ser criança, 
atingindo finalmente a sua maioridade (assim pensava Dietrich Bonhoeffer em 
suas cartas de prisão). Negar Deus seria a condição para que surgisse o Super- 
Homem, capaz de vencer as “fatalidades” da história. A fé no homem, traduzida 
na filosofia do progresso, do crescimento e do secularismo, substituiria a fé em 
Deus; foi ressuscitada a figura mitológica de Prometeu, que subiu aos céus, ar- 
rancou o fogo, monopólio dos deuses, e o trouxe para a terra, anunciando que ele 
doravante seria o doador do fogo para a humanidade. 
 
 
1.3. A insuficiência do cientificismo 
A ciência não responde às questões fundamentais do homem; ela estuda o 
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que cai sob os sentidos ou o que se pode ver, tocar, medir, calcular, isto é, o 
mundo dos fenômenos. Os objetos que estejam para além do sensível e dos fenô- 
menos fogem ao setor próprio da ciência. Ora os problemas concernentes ao sen- 
tido do homem e da vida já não são da área dos fenômenos sensíveis; não são 
problemas para os quais a ciência, como ciência (como investigação empírica), 
possa dar resposta. - Tenhamos em vista, por exemplo, a biologia: investiga tudo 
o que se possa observar empiricamente a respeito da vida (transmissão, leis da 
genética, do crescimento, da restauração...). Mas, depoisque alguém estudou 
tudo o que a biologia lhe possa ensinar, ainda conserva as perguntas fundamen- 
tais: vale a pena viver? Por que viver? Qual o sentido da vida? 
 
Ademais a ciência é assaz frágil em suas construções; está sujeita a se re- 
formar e retratar constantemente; cada problema que parece resolver-se, abre vá- 
rios outros problemas que desafiam o cientista. Eis o testemunho significativo de 
um grande pesquisador, o Professor Dr. Newton Freire-Maia, do Departamento de 
Genética da Universidade Federal do Paraná: 
 
Quando me lembro de que, ao longo de minha vida de professor, já ensinei 
meras hipóteses de trabalho como se fossem a mais pura verdade, ou relatei fatos 
 
que simplesmente não existiam - fantasia dos nossos sentidos - ponho-me a ima- 
ginar que, na maioria dos casos, nós passamos a vida a substituir uma fantasia 
por outra, na esperança de atingirmos, um dia, o pleno conhecimento da essência 
do universo... 
 
Um amigo meu, professor de português e literatura numa Faculdade de Fi- 
losofia, com o fim de acentuar as dificuldades que encontrava no seu campo de 
trabalho, disse-me certa vez mais ou menos o seguinte: 
 
“Vocês, cientistas, é que são felizes! Em ciência, o que é, é mesmo; o que 
não é, não é. No setor das línguas e das literaturas, as divergências de opiniões 
são tantas que a tarefa de um especialista se torna extraordinariamente pesada e 
difícil, uma vez que ali ele nunca encontra a segurança e a certeza que as ciênci- 
as oferecem”. 
 
...Para esse amigo, a ciência era uma fonte de verdades e, como os cientis- 
tas não são suficientemente loucos a ponto de negar verdades, todo o edifício das 
ciências seria um conjunto de proposições certas sobre as quais ninguém ousaria 
depositar a mais tênue das dúvidas: a água ferve a 100º C; a gravidade tudo atrai 
para o centro da terra; a lua não cai de sua órbita por causa da interação de for- 
ças gravitacionais com a inércia; a velocidade da luz é de 300.000 km por segun- 
do; a molécula de água tem dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio; para for- 
mar um novo ser, é preciso que um espermatozóide fecunde um óvulo; o coração 
é o órgão central da circulação sangüínea; pensa-se com o cérebro e não com o fí- 
gado; as plantas absorvem gás carbônico e liberam oxigênio (e isto se chama fo- 
tossíntese ou função clorofiliana); a tuberculose é produzida pelo bacilo de Koch 
(a lepra, pelo de Hansen); os antibióticos e a sulfamida matam micróbios; a asma 
é uma doença alérgica. etc. Todas essas ‘verdades’ (nem sempre verdadeiras ou 
apenas ‘meias verdades’) seriam ‘científicas’, por isto, não poderiam ser postas em 
dúvida. Por este motivo é que os anúncios de pasta dental usam, muitas vezes, 
como prova da eficácia de uma marca, a fórmula mágica: ‘A ciência comprovou’. 
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Se a ciência comprovou, é verdade... 
 
 
A ciência está repleta de hipóteses (provisórias) e, comumente, o próprio ci- 
entista não tem consciência da precariedade das suas proposições. Quando estu- 
damos história da ciência e ali encontramos as hipóteses que foram alijadas para 
o porão e substituídas por outras, ficamos aturdidos com a possibilidade de que 
muitas das nossas hipóteses de hoje possam tomar o mesmo destino (pp. 102- 
104). 
 
Em nossos dias, assistimos ao desabamento da ideologia do progresso, que 
seria uma “religião leiga” (sem Deus), baseada sobre o pressuposto da infinita 
perfectibilidade do homem. A definição do homem em função da eficiência e da 
produtividade já não satisfaz; procuram-se outros modelos para o ser humano. 
Aqueles que acreditavam no poder, sem limites, da ciência e da técnica, recuam; 
verificam que o gigante Prometeu está abalado; o mito do Progresso cede à consci- 
ência de que a humanidade está em crise, sob o signo de um futuro cada vez 
mais ameaçador ou marcado pela perspectiva de um holocausto nuclear. Pode-se, 
portanto, falar do fim do otimismo histórico que caracterizou a primeira metade 
 
 
do século XX. Há quem diga que lá entramos - ao menos no Ocidente - na fase da 
pós-modernidade e do pós-racionalismo. 
 
 
1.4. A resposta da Filosofia 
A própria filosofia, que por definição indaga a respeito das causas últimas, 
e procura formular o sentido do homem e do mundo, apresenta um leque de res- 
postas que, se não são contraditórias entre si, são incertas e insuficientes (não 
indo ao fundo das questões). Para os pensadores, mesmo para os mais sagazes, o 
homem fica sendo um mistério, que a razão só consegue decifrar em parte e com 
grandes dificuldades. Precisamente - e com muita lógica - os maiores pensadores 
reconhecem a radical incapacidade da razão para penetrar, na sua profundidade, 
o mistério do homem e, por isto, não raro acenam para outra fonte de conheci- 
mentos ou seja, para “uma divina revelação”. É o caso, por exemplo, de Platão, 
que no diálogo Fedon aborda a questão da imortalidade da alma: afirma então 
que sobre tal assunto é impossível ou muito difícil chegar a uma conclusão clara; 
é preciso, por conseguinte, que nos contentemos com a teoria menos obscura que 
a razão possa construir, para atravessarmos numa jangada o perigoso mar da vi- 
da. E acrescenta: “...a menos que alguém esteja em condições de fazer o trajeto 
mais seguro e menos perigosamente sobre um barco mais sólido, confiando-se a 
uma divina revelação”. 
 
Na realidade, o mistério do homem é tão profundo que só Deus, que criou 
o homem e lhe deu a sua vocação, pode dar-lhe a conhecer o sentido da vida me- 
diante “uma divina revelação”. Ora na revelação cristã Deus não revela apenas o 
mistério de sua vida, mas manifesta o homem ao homem, oferecendo-lhe a res- 
posta para as suas indagações: “Donde venho? Para onde vou? Qual o sentido da 
minha vida sobre a terra? Por que sofro? Por que há tantas desgraças no mundo? 
Por que hei de morrer?” Mais: Deus não somente ilumina a noite escura do ho- 
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mem; Ele também realiza o que revela, tornando o homem participante da vida do 
próprio Deus; não somente projeta luz sobre o mistério do sofrimento e da morte, 
mas livra o homem do mal e da morte. Sim; a religião não é mera filosofia ou uma 
mensagem de ordem puramente intelectual, mas é uma realidade de ordem vital, 
portadora de nova vida ou de novo modo de ser. Assim é que a religião dá um 
sentido à vida humana. 
 
 
 
1.5. O ressurgimento da religião 
É precisamente neste contexto que se registra um retorno das questões re- 
lativas a Deus e aos valores transcendentais. Este retorno se dá na Rússia Sovié- 
tica, na China comunista e em outros países, onde o ateísmo tentou extirpar a fé 
dos cidadãos e camponeses. Dá-se também no pulular de seitas e correntes religi- 
osas, que encontram eco fácil na sociedade de hoje, sequiosa de descobrir o senti- 
do da vida e da morte do homem. Nada de mais significativo do que esse desper- 
tar do senso religioso da humanidade (embora se deva lastimar que se faça não 
raro à custa de charlatanismo e exploração da credulidade de pessoas infelizes). 
Na verdade, dentro da inteligência e da vontade do homem há uma capacidade de 
 
 
Infinito e somente a Verdade Plena e o Bem Absoluto podem saciar adequada- 
mente esse potencial; sabiamente dizia o filósofo francês Blaise Pascal que existe 
no homem “um abismo infinito que não pode ser preenchido senão por um objeto 
infinito e imutável, isto é, por Deus mesmo” (Pensées nº 300). É essa aspiração 
inata ao Infinito que suscita constantemente o problema religioso, mesmo quando 
o homem o quer sufocar; é a própria natureza do homem, e não algum fator ex- 
terno, de cultura contingente, que provoca esse anseio. O homem é um ser es- 
pontaneamente inquieto e insatisfeito procura aquilo que não tem e quando o 
consegue, experimenta o fastio e o dissabor porque nada o satisfaz.O motivo pro- 
fundo desta constante sofreguidão é que ele não foi feito para as coisas transitóri- 
as e limitadas mas para o Infinito ou para Deus: “Senhor, Tu nos fizeste para Ti e 
inquieto é o nosso coração enquanto não repousa em Ti” (S. Agostinho, Confis- 
sões I, 1, 1). 
 
 
Nisto o homem se diferencia nitidamente do animal irracional. Com efeito; 
este, tendo atendido às suas necessidades biológicas, se dá por saciado e nada 
mais pede. Não atinge o transcendental, ao passo que o homem, mesmo satisfeito 
no plano biológico, não pára: quer conhecer sempre mais, quer experimentar si- 
tuações novas, que dilatem seus horizontes. É por isto, aliás, que muito sabia- 
mente se aponta a atitude religiosa como característica do humano, isto é, da in- 
teligência e da dignidade do homem. Em conseqüência, um dos sinais típicos da 
passagem do homem na pré-história são os símbolos ou as manifestações religio- 
sas: especialmente o sepultamento dos mortos (expressão da crença na vida do 
além e na existência de Deus) é tido como um dos mais rudimentares sinais que 
caracterizam o ser humano. 
 
Em conseqüência também, verifica-se que a religião é um fenômeno uni- 
versal, isto é, de todas as tribos e de todas as épocas; nunca houve povos arreligi- 
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osos ou não religiosos; mesmo as populações mais primitivas descobertas recen- 
temente na África ou na Oceania manifestam senso e culto religioso; verdade é 
que a religião por vezes sofre aí o contágio da magia, da bruxaria e das supersti- 
ções, mas é sempre perceptível. Tal fato é reconhecido por todos os historiadores 
e etnólogos, por mais diferentes que sejam as concepções filosóficas de cada um. 
 
Em síntese, pode-se dizer que é a própria estrutura do homem que põe o 
problema de Deus. Desde que reflita um pouco sobre si mesmo e suas aspirações, 
ele descobre em si a sede de algo que está além de tudo o que ele experimenta 
com os seus sentidos. Muitas vezes ele não sabe dar o nome a esse algo mais, 
nem pode explicar essa sede, que se volta para o Transcendental. Se ele a quer 
acalmar com o gozo dos prazeres materiais, intelectuais, culturais - que esta vida 
lhe oferece, sente em breve o vazio, pois tudo lhe escapa de entre as mãos: “E coi- 
sa horrível sentir que nos escapa tudo o que possuímos” (Pascal, Pensées nº 152). 
Auscultando um pouco mais a si mesmo, o homem verifica que a sua sede é de 
Absoluto ou de Infinito ou de Deus; com todo o dinamismo do seu ser, o homem 
tende para Deus. Por conseguinte, Deus nunca é estranho à criatura humana, 
mas lhe está muito próximo; antes diríamos que Deus lhe é mais íntimo do que o 
que o homem tem de mais íntimo. Bem dizia S. Agostinho: “Deus superior sum- 
 
 
mo meo, intimior intimo meo”. - “Deus é mais elevado do que o que tenho de mais 
elevado e mais íntimo do que o que tenho de mais íntimo”. 
 
 
 
2. A consciência das limitações 
 
 
Além de experimentar a necessidade de conhecer o sentido da vida para 
poder motivar sua existência, o homem faz a experiência inevitável de certas limi- 
tações que o afetam no mais profundo do seu ser. 
 
 
2.1. Nascimento e morte 
Nem o começo nem o fim da existência do homem sobre a terra estão em 
seu poder. Não é o homem quem dá a si a existência; esta lhe é outorgada; nem o 
homem é senhor da mesma, pois ela lhe é retirada. Isto torna evidente a cada in- 
divíduo a respectiva contingência: ao nascer, o homem, que não existia, vem a 
ser; ao morrer, o homem, que existia, deixa de existir sobre a terra; realmente o 
ser humano é alguém que não tem em si mesmo a razão da sua existência; esta 
não é, por si mesma ou por sua definição, necessária. 
 
Entre o nascer e o morrer, também o agir do homem é limitado: condicio- 
nado pelos traços da sua personalidade e influenciado por fatores internos e ex- 
ternos, o homem experimenta a fragilidade do seu labor. 
 
A mais dolorosa experiência de limitação é a que a morte impõe: dir-se-ia 
que ela não rouba algum pertence ao homem, mas rouba o próprio homem a si 
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mesmo. Esta convicção é tão brutal que muitos fazem tudo para não pensar na 
morte; entregam-se a atividades frenéticas, que não lhes deixam o tempo de se 
encontrarem consigo mesmos. 
A experiência da finitude leva o homem a querer superar os seus próprios 
limites. Este desejo está impregnado no mais profundo do ser humano; ele aspira 
a ser plenamente livre e feliz numa vida sem fim ou sem ameaças de morte. De 
todos os anseios do homem, este é certamente o mais intenso e profundo; ele 
quer beber da fonte da vida imortal. Mas onde a encontrará? - A resposta só pode 
ser uma: junto Àquele que é, por definição, a Vida e, por isto, pode dar ao homem 
a vida sem fim. Voltando-se para Deus, e só assim, o homem encontra a resposta 
para a sua demanda. Deste modo a experiência da finitude - especialmente a da 
morte - põe para o homem o problema religioso como problema fundamental. 
Com efeito, a religião, como re-ligação do homem com Deus, é o caminho para a 
Vida..., e para a Vida no sentido pleno da palavra. Dir-se-ia mesmo que, sem di- 
mensão religiosa, o homem é uma demanda clamorosa que não encontra eco ou 
ressonância no universo. 
 
 
2.2. As limitações do erro 
 
 
 
erro. 
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Além da experiência da finitude e da morte, o homem faz a experiência do 
 
Criado para a verdade o ser humano se vê envolvido na ignorância e no erro; no 
tocante ao mundo material, tem alcançado sem dúvida níveis elevados de 
conhecimento, embora caminhe sempre às apalpadelas; no setor moral e no espi- 
ritual porém é-lhe difícil conhecer o que e verdade, o que é reto, o que é justo, o que 
e o bem, facilmente propõe o erro como verdade, o mal como bem, a ponto que 
muitas pessoas são céticas com relação aos valores espirituais e morais; não 
haveria aí verdade propriamente dita nem padrão de bem. O ceticismo tem sido 
uma permanente tentação para o homem. 
 
Mais trágica ainda é a experiência do pecado. Este não somente atrai o ho- 
mem, mas escraviza-o, tornando a mente obcecada, a ponto de não reconhecer os 
males que comete ou, se os reconhece, não conseguir evitá-los; o ser humano é 
arrastado a fazer o que não quisera; já notava o Apóstolo São Paulo, fazendo eco 
aos filósofos romanos: “O querer o bem está ao meu alcance, não, porém, o prati- 
cá-lo. Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas cometo o mal que não quero” 
(Rm 7,18s). 
 
Essa sujeição ao erro e ao mal suscita no homem a aspiração a livrar-se do 
erro e da escravidão do pecado, aspiração que não e superficial, mas brota do 
mais profundo do ser humano Este porém verifica que por si só não consegue li- 
bertar-se pois apesar dos melhores propósitos, é constantemente solicitado a re- 
cair e cede a tentação Quem pode então salvar o homem de tal humilhação? Não 
outra criatura sujeita também ela à falência, mas sim o Ser absoluto, que é a pró- 
pria Verdade e o próprio Bem: Deus. Assim o homem chega a noção e a necessi- 
dade de Deus. Este não é um Rei Todo-poderoso que se oporia à grandeza do ho- 
mem, mas, ao contrário, é aquele Ser Perfeito que, por ser perfeito, ajuda o ho- 
mem a superar suas limitações, fazendo-o participar da plenitude da vida divina; 
é Aquele que liberta o homem do erro e do pecado. 
 
 
Eis, pois, o sentido da religião: é o caminho mediante o qual o homem, mo- 
vido pelas mais profundas exigências do seu ser, se põe em contato com Aquele 
que é o Absoluto e vem a ser a Resposta aos grandes anseios da pessoa humana; 
tira o homem de suas servidões humilhantes e da própria morte, fazendo-o viver 
na verdade, na liberdade e na alegria. 
 
Temos assim os elementos para responder à pergunta: por que “ser religio- 
so”? - Porque, mediante a religião - e só desta maneira- o homem se realiza ple- 
namente ou encontra o cumprimento das suas aspirações mais profundas. Por 
conseguinte, ao homem a-religioso falta algo de essencial para o total desdobra- 
mento das suas virtualidades e a consecução dos objetivos. A religião não é uma 
dimensão secundária ou acidental da vida humana, mas está arraigada no íntimo 
da pessoa; quem deseje prescindir dela, não pode deixar de se prejudicar. Por isto 
o ateísmo e a irreligiosidade não são opções equivalentes a outras no horizonte da 
filosofia, mas são atitudes extremamente graves, porque põem em perigo a reali- 
zação e a consumação do ser humano. 
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Tenham-se em vista, aliás, as considerações de psicólogos recentes, dos 
quais Carl Gustav Jung é um representante significativo; ao contrário de Freud, 
que desprezava a religião, Jung valorizou a dimensão de fé como integrante do 
psiquismo humano, sem o qual a saúde mental é afetada. A propósito, queira 
conferir PR 289/1986, pp. 277s. 
 
 
3. Mas por que tanta indiferença? 
 
 
Apesar do papel capital do encontro com Deus na vida do homem, registra- 
se grande faixa de indiferença religiosa na sociedade contemporânea. - Por quê? 
As causas são múltiplas. Poremos em relevo algumas que parecem mais 
importantes. 
1) Muitas e muitas pessoas são tão absorvidas pelos problemas imediatos e 
urgentes da vida que não têm as disposições de ânimo necessárias para refletir 
sobre o sentido da própria vida: encontram-se sempre fora de si mesmas, emara- 
nhadas em dificuldades que não lhes deixam tempo e gosto para a reflexão. 
 
Ademais a civilização contemporânea é rumorosa; provoca trepidação con- 
tínua e dos mais diversos tipos, que dificulta ao cidadão o recolhimento silencio- 
so; o bombardeio de fatos e o suceder-se de imagens ocupam-lhe a imaginação e 
o pensamento. Isto tudo faz que o homem de hoje esteja pouco habituado a en- 
trar em si mesmo, embora muito precise desse exercício. Ora, para aprofundar a 
questão religiosa, é indispensável a capacidade de refletir e fazer silêncio interior; 
sem esta, a pessoa é tragada pelo turbilhão dos bens transitórios, podendo mes- 
mo esquecer que tudo passa, mas as aspirações congênitas do ser humano não 
passam. 
 
2) Outras pessoas há que são absorvidas não por problemas de subsistên- 
cia, mas pelo afã de gozar a vida, ganhar dinheiro, conseguir êxito na sua carrei- 
ra, a ponto de não conceberem nem o gosto nem o interesse pelos problemas do 
espírito. O materialismo e o consumismo têm o triste poder de extinguir no ho- 
mem a aspiração para Deus e a têmpera religiosa, que são constitutivas do psi- 
quismo humano. Quem é tomado pelo anseio de possuir sempre mais bens mate- 
riais, fica embotado para os valores transcendentais; já não experimenta necessi- 
dade religiosa nem vê utilidade na fé. Isto explica que a crise religiosa seja hoje 
mais forte não nos países em que a fé é perseguida e sufocada, mas nos países ri- 
cos do Ocidente materialista e consumista. 
 
 
Dirá alguém: mas há pessoas que afirmam ser felizes sem religião. Pergun- 
tamos: será realmente assim? Há momentos em que a vida mostra seu rosto dra- 
mático mediante uma doença grave, uma desgraça, um revés financeiro, um luto, 
a dissolução do casamento, um sério insucesso na carreira... Em tais momentos 
parece que os sonhos se dissipam como um castelo de cartas, caem as certezas 
que pareciam inabaláveis, tudo dá a impressão de ser vazio e sem sentido. É en- 
tão que surge a questão: que significado tem a vida? Na verdade, o homem toma 
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consciência de que é mesquinho e volúvel tudo o que lhe acarretava segurança e 
bem-estar; é amarga a condição do homem. Faz-se então sentir a necessidade de 
algo que, em meio à volubilidade geral, seja estável, ou entre as incertezas seja 
verdade firme. Em última análise, esta é a necessidade de Deus, que por defini- 
ção é o Bem Absoluto e Imutável. 
 
Por conseguinte não é plenamente verdade que alguém possa viver feliz 
sem religião. Por algum tempo talvez isto possa acontecer mas o passar dos anos 
encarrega se de fazer sentir a todo homem a necessidade de Deus. Verdade é que 
tal necessidade pode ser interpretada erroneamente; o homem pode procurar em 
cisternas furadas aquilo de que carece (cf. Jr 2,13); pode bater em portas falsas à 
procura da verdadeira resposta para seus anseios. Isto não impede que cedo ou 
tarde o indivíduo seja, de algum modo posto diante do problema religioso 
3) O desinteresse de muitos também se pode explicar como efeito da luta 
que o racionalismo vem movendo contra os valores da fé desde o século XVIII. 
Com efeito, a religião tem sido acusada de ser desarrazoada, infantil ou um con- 
junto da fábulas e mitos..., de ser alienante e, por isto, prejudicial à sociedade, ... 
de alimentar o fanatismo e a intolerância..., de ser contrária à ciência ou obscu- 
rantista, responsável pelo subdesenvolvimento de seus adeptos. A polêmica anti- 
religiosa suscitou em torno da religião um clima de ceticismo, suspeitas e aver- 
são; em conseqüência, para muitos, quem abraça a religião dá provas de pouca 
cultura, fraqueza de personalidade, infantilismo, medo, falta de senso crítico... 
Em tal contexto compreende-se que o número de pessoas “sem religião” tenda a 
aumentar. 
 
Na verdade, algumas destas acusações têm seu fundamento na conduta 
deficiente de pessoas ou grupos religiosos; deram à sua fé expressões inadequa- 
das ou caricaturais, que provocaram o desdém dos racionalistas. Além disto, é 
preciso que não se apliquem critérios do presente a épocas passadas; o que para 
os homens de hoje é evidente no plano da ciência, da moral, não o era aos ante- 
passados, de modo que estes, de boa fé, disseram ou praticaram coisas que hoje 
não seriam repetidas (assim a insistência no geocentrismo contra Galileu, os fei- 
tos da Inquisição, das Cruzadas, etc.). Uma serena consideração do que é a reli- 
gião como tal e do conteúdo da mensagem cristã, evidencia que tais acusações 
não afetam o valor da religião. Só servem para empalidecer ou apagar na consci- 
ência humana a imagem de Deus, o que redunda em eclipse do próprio homem. 
Pois, na verdade, à “morte de Deus” se segue inevitavelmente a “morte do ho- 
mem”. 
 
 
Este artigo muito deve ao editorial de La Civiltà Cattolica nº 3260, de 
l5 04 86, pp. 105-114. 
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ANEXO 2 
 
 
 
 
 
 
“Compreendendo a Nova Era” (D. Estevão Bittencourt, PR 379/1993) 
 
 
Em síntese: Nova Era é um conjunto de proposições "místicas" pouco lógi- 
cas e concatenadas, mas perpassadas por quatro principais teses: o panteísmo, a 
reencarnação, a comunicação com o além... em vista da implantação de uma 
Nova Era, dita "de Aquário (ou Aguadeiro)'; em que a humanidade estará unifica- 
da sob um só Governo mundial e uma só religião. Tal mensagem é mais fantasio- 
sa e emocional do que lógica e científica. O panteísmo, por exemplo, é uma aber- 
ração filosófica, pois identifica a Divindade (o Absoluto, o Eterno) com o mundo e 
o homem, que são relativos e passageiros. Não há prova de reencarnação, nem al- 
guém tem reminiscência do que fez ou foi em sua "vida pregressa". Também se 
pode dizer, à luz da psicologia e da parapsicologia, que os fenômenos mediúnicos 
nada têm que ver com comunicação do além, mas são expressões do inconsciente 
do médium e dos seus clientes. 
 
 
Apesar de tudo, a Nova Era faz sucesso, porque promete paz, fraternidade 
e felicidade - valores que faltam ao mundo de hoje e que ninguém vê como instau- 
rar mediante os meios convencionais. Na falta de solução racional e lógica, a 
mente humana se abre facilmente para as propostas fantasiosas e mágicas, como 
são as da Nova Era. - Aos cristãos, conscientes disto, compete responder à inter-pelação que Nova Era lhes dirige, apresentando um testemunho mais lúcido e 
eloqüente da grande novidade, que é o Evangelho vivido e transmitido na Igreja 
de Cristo confiada a Pedro. 
 
 
São sempre muito freqüentes as indagações a respeito de Nova Era, cor- 
rente de pensamento e ação que tem chamado a atenção por suas proclamações, 
seus símbolos, suas previsões... O assunto já foi abordado em PR 354/1991, pp. 
518-526 e 360/1992, pp. 235-240. Voltamos a considerá-lo acrescentando novos 
dados a quanto já publicamos; proporemos as linhas gerais que caracterizam o 
Movimento, e uma reflexão a respeito das mesmas. 
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1. TRAÇOS GERAIS 
 
 
A diferença de outras correntes modernas, Nova Era não tem data precisa 
de fundação nem fundador definido; não apresenta um governo centralizado que 
assuma a liderança do Movimento. Podemos dizer, sim, que este começou na dé- 
cada de 1960, quando apareceram os beatles e os hippies, que exaltavam o amor 
à natureza, a liberdade sexual, a paz e uma nova era, dita "de Aquário"; esta foi 
sendo enaltecida em prosa e verso no musical Hair. 
 
 
Sem dúvida, contribuíram para o surto de Nova Era a Sra. Helena Bla- 
vatsky, fundadora da Teosofia (corrente panteísta ligada ao pensamento indiano) 
no século XIX, e sua discípula, a Sra. Alice Bailey (+ 1948). A Sra. Blavatsky era 
profundamente infensa ao Cristianismo, e transmitiu essa sua maneira de ver 
aos discípulos; assim se manifestava Blavatsky: 
 
 
"A doutrina da expiação é um perigoso dogma, em que os cristãos acredi- 
tam. Ensina que, independentemente da enormidade de nossos crimes contra as 
leis de Deus e dos homens, temos apenas de acreditar no auto-sacrifício de Jesus 
para a salvação da humanidade e que seu sangue lavará todas as máculas. Faz 
vinte anos que prego contra isso" (A Sabedoria Tradicional. Hemus Ed., São Paulo 
1987, 4a. ed., p. 194). 
 
 
A Nova Era não professa um sistema de pensamento concatenado; ao con- 
trário, compreende várias linhas de pensamento, que correm paralelas entre si, e 
formam um conjunto heterogêneo, como se verá a seguir: assim o panteísmo, a 
ufologia, a comunicação com os extraterrestres vivos e com os mortos, a psicolo- 
gia transpessoal, o movimento ecológico, a cura por medicina alternativa... É o 
que permite aos adeptos da Nova Era estar presentes na política, na medicina, na 
educação, na religião, na cultura... 
 
 
Apontemos os principais temas inseridos nas propostas de Nova Era. 
 
 
 
2. PRINCIPAIS TEMAS 
 
 
Deter-nos-emos sobre sete pontos. 
 
 
 
2.1. Deus e a Reencarnação 
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A Nova Era professa o panteísmo: Deus seria uma energia universal, donde 
procedem todas as coisas. Assim tudo que existe no mundo, é tido como emana- 
 
 
ção e expressão da Divindade; cada partícula de matéria é divina, pois possui em 
si todas as informações do universo. O pensador Roberto Crema, da Universidade 
Holística Internacional de Brasília, assim se exprime: 
 
 
"Deus dorme nos minerais, sente nos vegetais, sonha nos animais, e des- 
perta nos humanos" (II Congresso Holístico Internacional. Belo Horizonte, julho 
de 1991). 
 
 
Através de encarnações sucessivas, cada ser vivo pode alcançar níveis mais 
elevados de consciência, a tal ponto que não precise mais de se reencarnar, mas 
se tome o que se chama "um espírito cósmico". É o que lembra Pierre Weil, citan- 
do Mayse Choisy: 
 
 
"Na teoria da ida e volta, o espírito decide encarnar-se, e passa dos níveis 
mais sutis aos planos grosseiros. Em conseqüência, a matéria não se aquieta en- 
quanto não volta à sua fonte divina primitiva. É a involução evolução, simboliza- 
da pelos dois triângulos que compõem a estrela de Davi. Não era isso que ensina- 
va Platão, ao afirmar que conhecer é lembrar-se? Ou então quando Lamartine es- 
crevia: 'O homem é um deus decaído que se lembra dos céus? Coitado, o homem 
tem memória tão curta... Volta e meia é preciso lembrar-lhe o que já sabe' " (Pier- 
re Weil, Sementes para uma Vida Nova. Ed. Vozes, Petrópolis, p. 47). 
 
 
 
Como se vê, o panteísmo da Nova Era está associado, como em outros sis- 
temas panteístas, à tese da reencarnação. Já que em tais sistemas não existe 
Deus distinto do homem, é o homem mesmo que se salva..., e se salva mediante 
sucessivos retornos ao corpo a fim de se aperfeiçoar cada vez mais. 
 
 
 
 
2.2. O Homem 
 
 
O homem está no centro das considerações da Nora Era. Já que o panteís- 
mo professa que a Divindade, o mundo e o homem se identificam, o homem, nes- 
se contexto, vem a ser a expressão mais elevada da evolução divina. A Sra. Hele- 
na Blavatsky, uma das precursoras do Movimento, assim manifesta seu pensa- 
mento: 
 
 
 
"Vocês acreditam que o homem é um deus? 
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- Por favor, diga Deus, e não um deus. A nosso ver, o homem é o único 
Deus que podemos conhecer. E como poderia ser de outra forma? Nosso postula- 
do aceita como verdadeiro que Deus é um principio universalmente difuso, infini- 
to e, sendo assim, como poderia o homem sozinho escapar de ser embebido por e 
na Deidade? Chamamos pai do 'céu' a essa essência deífica que reconhecemos 
dentro de nós, em nosso coração e em nossa consciência espiritual" (A Sabedoria 
Tradicional, p. 62). 
 
 
Em conseqüência, os mentores da Nova Era julgam que todas as energias 
existentes no universo estão dentro do homem; este, pelo poder de sua mente, 
quando se concentra sobre determinado objeto ou projeto, pode torná-lo realida- 
de, chegando mesmo a efetuar façanhas milagrosas, tanto para o bem como para 
o mal da sociedade. 
 
 
Mas não somente as forças do bem e do mal estão dentro do homem. Aí se 
acham também outros elementos contrastantes, como o masculino e o feminino, 
o amor e o ódio, Cristo e o demônio... O cérebro consta de dois hemisférios: o es- 
querdo é a sede das nossas características masculinas (analisar, contar, plane- 
jar...); o direito corresponde aos elementos femininos (a intuição, os sonhos, as 
metáforas...). O homem perfeito tem que saber equilibrar e harmonizar esses seus 
dois lados: o masculino e o feminino. Por isto, os mestres da Nova Era reconhe- 
cem as práticas heterossexuais e homossexuais como igualmente legítimas; desde 
que haja "relacionamento saudável", os seres mais evoluídos devem gozar de ple- 
na liberdade sexual. 
 
 
 
Assim Nova Era prevê novo estilo de vida para a humanidade; extinguir-se- 
á a família e instaurar-se-á absoluta igualdade entre os seres humanos. A família 
é tida como fonte de egoísmo, inveja e possessividade, pois incita o homem a tra- 
balhar para os seus descendentes e não para a comunidade como tal; desse 
egoísmo brotam competições e conflitos. A solução estaria, portanto, em pôr ter- 
mo à instituição familiar e instituir comunidades abertas, cooperativistas e soli- 
dárias. 
 
 
 
Tal procedimento já deixou de ser proposta ou projeto teórico, pois é prati- 
cado, segundo relata Pierre Weil em seu livro "Sementes para uma Nova Era": 
 
 
"Em certas comunidades existe uma liberdade total de relações amorosas 
entre os sexos. Existe, por exemplo, na Alemanha um movimento comunitário 
chamado Action Analysis Comune, que exigiu, em filosofia de vida, a eliminação 
total do núcleo familiar. Consideram a relação de duas pessoas no núcleo famili- 
ar, à luz da experiência coletiva, como uma verdadeira doença. Muito influencia- 
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de uma necessidade materialista de assegurar a posse da propriedade privada. A 
comunidade existe para satisfazer às necessidades materiais e existenciais dos 
seus membros. Há nela um respeito muito grande pela vida. Por exemplo, o abor- 
to é inconcebível nela. A comunidade dá amparo à mãedurante a gestação e as- 
sume a responsabilidade da criação dos filhos. Rajneesh preconiza também um 
sistema desta natureza e afirma que é muito mais saudável, para uma criança, 
ter vários modelos de adultos com que identificar e escolher o seu próprio com- 
portamento, do que apenas dois, sobretudo quando estes modelos são indesejá- 
veis do ponto de vista humano. Carl Rogers também questiona bastante o atual 
modelo familiar. As experiências atuais de 'casamento aberto' constituem também 
uma reação aos aspectos penosos de certo modo de vida familiar" (pp. 139 e 141). 
 
 
 
Aliás, o projeto de unificação da humanidade numa comunidade global 
está sendo elaborado com certa rapidez. Em 1977, uma assembléia mundial de 
Aquarianos adotou o anteprojeto da Constituição da Federação do Planeta Terra. 
Em maio de 1991, foram aprovadas emendas dessa Constituição, que atualmente 
vai sendo examinada pelos líderes mundiais do Movimento para ser aperfeiçoada. 
 
 
Essa Constituição da Federação do Planeta Terra, que deverá vigorar no 
mundo unificado, prevê um organograma bem definido: na cúpola haveria uma 
Procuradoria Geral Mundial e uma Comissão de Procuradores Mundiais Regio- 
nais. A Procuradoria Geral constará de cinco membros. Terá a seu serviço uma 
Polícia Mundial, responsável pelo fiel cumprimento da legislação internacional. 
 
 
 
 
2.3. A Ufologia 
 
 
A Nova Era não duvida da existência de seres extraterrestres; são ex- 
pressões da Energia Divina Cósmica postas em diversos graus de evolução. Por- 
tanto deve haver os mais adiantados dos que nós em civilização, como também os 
menos evoluídos. Dentre os mais adiantados, alguns atingiram a condição de ul- 
traterrestres; aperfeiçoaram-se tanto que não precisam mais de se encarnar para 
evoluir; são considerados mestres cósmicos que podem encarnar-se, caso haja es- 
pecial missão a cumprir entre seres menos evoluídos. 
 
 
 
A bibliografia relativa a seres extraterrestres e ultraterrestres é cada vez 
mais vasta e rica em episódios que tomam traços do fantasioso e fictício. Eis al- 
guns espécimens: 
 
 
A Sra. Eve Carney e suas duas filhas narram uma visita que fizeram a uma 
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nave espacial: 
 
 
"Há muitos anos, em minha casa situada nos profundos bosques da Pen- 
silvânia, minhas filhas e eu estávamos juntas em meditação, quando três Irmãos 
Espaciais apareceram no jardim em frente à casa. Preferiram permanecer lá fora 
quando os convidei para entrar, devido à sua diferença de altura em relação às 
portas e ao teto normais. Convidaram-nos a conhecer sua nave, o que aceitamos 
com satisfação. Fixaram a hora da visita para 8.00 horas do dia seguinte, dando- 
nos instruções para relaxarmos em posição horizontal no piso, para que pudesse 
vir a escolta. 
 
 
Agradecidas, regressamos à casa. Minhas filhas puderam ver a nave sobre 
nós, já que ambas têm o dom perceptivo visual. 
 
 
Ao entardecer do dia seguinte, relaxamos, como combinado, e fizemos três 
experiências com meditações diferentes. Abandonei meu corpo e apoiei minhas 
mãos sobre os braços de minhas escoltas, experimentando uma emoção tremen- 
da enquanto ascendíamos, a uma velocidade incrível, à nave que nos esperava 
acima. Imediatamente encontrei-me parada no aposento de controle principal, 
frente a Athena, enquanto as lágrimas rolavam-me pela face. Chorando, abraça- 
mo-nos. Athena (comandante mulher) começou a mostrar-me vários mapas. Senti 
que uma de minhas filhas seguia por um longo passadiço. Embora eu não tenha 
visto, sabia que se encontrava em alguma outra parte da nave. Caminhamos e 
passamos por uma parede transparecente, através da qual pude ver minha outra 
filha reclinada sobre uma mesa de exame médico, com alguém junto dela. Essas 
recordações são fragmentadas. 
 
 
Depois de alguns minutos, não mais de quinze, estávamos de volta à nossa 
consciência e começamos a comparar nossas experiências" (ERGOM, Projeto Eva- 
cuação Mundial. Roca, São Paulo 1991, pp. 99s). 
 
 
Não raro o contato com naves espaciais é realizado, segundo dizem, por 
pessoas postas em estado hipnótico, pois os extraterrestres praticam a hipnose 
sobre as pessoas que eles contactam. Daí o seguinte caso: 
 
 
"Um dos casos mais famosos é o de Bety e Barney Hill, casal norte- 
americano. Somente sob hipnose narrava um encontro imediato de terceiro grau, 
quando teriam sido levados a bordo de uma espaço-nave e submetidos a detalha- 
do exame médico por humanóides extraterrestres... 
 
 
Sabemos que a hipnose é uma técnica altamente vantajosa no sentido de 
desencadear e melhorar a percepção extra-sensorial„ dando alto resultado em tes- 
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tes controlados - por exemplo, em telepatia, visão á' distância (clarividência) e 
precognição. 
 
 
Ao mesmo tempo, são inacreditavelmente freqüentes na casuística ufológi- 
ca as experiências em que os referidos fenômenos parapsicológicos estão presen- 
tes, sendo mesmo a telepatia o meio usual de comunicação com os UFO-operado- 
res, segundo os contatados. 
 
 
 
Certos indivíduos que viveram uma experiência ufológica marcante, passa- 
ram e ter o que nós chamamos efeito residual'. após o incidente, entram em esta- 
do de transe sonambúlico, de maneira espontânea ou induzida, dando informa- 
ções de teor variado, dados técnicos, planetas' de origem, nomes dos comandan- 
tes de naves e mensagens místicas" (Artigo “Hipnose na pesquisa Ufológica”; na 
revista Planeta Ufologia. Editora Três, São Paulo, abril de 1982, p. 19). 
 
 
 
Passemos a outra unidade da mensagem da Nova Era. 
 
 
 
2.4. Era de Aquário 
 
 
Conforme as correntes esotéricas e os mestres da Nova Era, a história da 
humanidade compreende ciclos de evolução, também chamados "Eras". A dura- 
ção dessas Eras é diversamente indicada pelos diversos autores, mas equivale a 
2.1 anos ou pouco mais cada qual. Segundo as várias contagens, tal seria a 
seqüência das Eras: 
 
 
Era de Touro: de 4304 a 2154 a.C. 
Era de Carneiro: de 2154 a 4 a.C. 
Era de Peixes: de 4a.C. a 2146 d.C. 
Era de Aquário: de 2146 a 4296 d.C. 
Nesta tabela cada Era compreende 2.150 anos. 
 
 
A Era de Touro seria a da antiga civilização egípcia; tinha a vaca como ani- 
mal sagrado, deusa da fecundidade, e a pecuária como principal cultura. 
 
 
A Era de Carneiro seria a do povo de Israel... Carneiro, porque o ritual de 
Israel praticava o sacrifício de cordeiros; além do quê, o povo cultivava ovelhas 
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(seja recordada a típica figura do pastor). O momento de transição da Era do 
Tou- ro para o do Cordeiro terá sido a saída, de Israel, do Egito; os hebreus 
tentaram ainda preservar o poder do Touro confeccionando o bezerro de ouro no 
deserto; mas Moisés os censurou e inaugurou a Era do Cordeiro. Seguiu-se a Era 
de Pei- xes, inaugurada por Jesus Cristo, que chamou seus apóstolos para serem 
pesca- dores de homens; donde se conclui que os homens são dominados pelo 
signo de Peixes. O próprio nome Jesus Cristo foi associado ao símbolo do Peixe, 
visto que ICHTHYS (em grego, peixe) compõe-se das iniciais de uma fórmula de fé 
cristã: Ie- sous Christós Theou Yiós Soter, Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. 
Assim o povo dominante da Era de Peixes veio a ser o povo dos discípulos de 
Cristo ou o povo cristão. 
 
 
 
Jaap Huibers julga que, sendo o peixe um animal que vive no fundo do 
mar escuro, a Era de Peixes está sendo uma era marcada pelas trevas; claro es- 
pécimen disto seriam as catedrais católicas, sempre sombrias (Aqui não se pode 
deixar de observar que a associação de idéias é extremamente frágil, se não ridí- 
cula. A civilização e a tecnologia estão num ápice nunca dantes atingido. Quanto 
à penumbra das catedrais, ela se deve ao sadiodesejo de facilitar o recolhimento 
e a oração dos seus freqüentadores). 
 
 
Após a Era de Peixes, espera-se a de Aquarius ou Aguadeiro (um jovem 
portador de um cântaro, cuja água ele vai derramando). Aquário é um signo as- 
trológico regido pelo planeta Urano, descoberto em 1781, ou seja, durante a Revo- 
lução Francesa. Por isto o lema da Revolução Francesa "Liberdade, Igualdade, 
Fraternidade", que é também o de Urano, passará a ser o da Nova Era; somente 
assim o mundo se transformará numa aldeia global sob um regime único para to- 
dos os povos. 
 
 
 
Os aquarianos dizem que São João, ao falar de céus novos e terra nova em 
Ap 21,1, se referiu à Nova Era, que Urano, o Ancião dos Dias, proporcionaria à 
humanidade; a Nova Jerusalém, que desce dos céus, seria precisamente a nova 
Era de Urano (note-se que a palavra Urano corresponde ao grego ouranós, céu). 
 
 
 
2.5. Jesus Cristo 
 
 
Para a Nova Era, Jesus Cristo foi apenas um dos muitos mestres que con- 
tribuíram para a evolução da humanidade. O seu nome consta de Jesus - apelati- 
vo judaico masculino - e Cristo, adjetivo que designa um nível de evolução eleva- 
do; Jesus, portanto, foi um homem altamente crístico; daí ser chamado "Jesus 
Cristo". 
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Jesus Cristo não é chamado Senhor pelos mentores da Nova Era, porque o 
seu senhorio termina com a Era de Peixes. O autor de um artigo na revista "Des- 
tino", ano II, sg 21, abril de 1991, p. 51, descreve o papel de Jesus frente aos no- 
vos tempos aquarianos: 
 
 
“A passagem de Peixes para Aquário, do ponto de vista da astrologia, é ex- 
tremamente difícil, pois as características dos dois signos são bem diferentes. Pei- 
xes é representado pelo espírito de sacrifício, de caridade. Aquário aponta em ou- 
tra direção. É o signo da amizade, do companheirismo, da esperança e da criação 
de um mundo novo. 
 
 
 
Com a mudança de Peixes para Aquário, dizem os astrólogos, sai de cena 
também Jesus Cristo, o grande avatar da Era que termina, dando lugar ao patro- 
no máximo de Aquário, o mestre Saint Germain”. 
 
 
O mestre Saint Germain é uma das figuras caras ao esoterismo. 
 
 
 
2.6. O Avatar 
 
 
Os mestres da Nova Era esperam um Messias, que eles também chamam 
Avatar (Avatar vem do sânscrito avatara, descida (do Céu sobre a Terra)). Deverá 
instaurar a unidade, a ordem e a paz no mundo. Cada Era tem seu Avatar ou 
Messias. Esse personagem aguardado tem nomes diversos, entre os quais Saint 
Germain e Lord Maitreya; Jesus terá sido discípulo de Maitreya. Eis o que Worls 
Goodwill, conceituado adepto de Nova Era, diz a respeito do Avatar: 
 
 
"Este é um tipo de preparação não apenas para uma nova civilização e cul- 
tura numa Nova Ordem Mundial, mas também para a vinda de uma nova dispen- 
sação espiritual. A humanidade não está seguindo um curso não planejado. Há 
um plano divino no cosmos, do qual somos parte. No fim de uma Era os recursos 
humanos e instituições estabelecidas parecem inadequados para suprir as neces- 
sidades e resolver os problemas do mundo. Em tal tempo, a vinda de um Mestre, 
um líder ou avatar espiritual, é antecipada e invocada pelas massas da humani- 
dade em todas as partes do mundo. Hoje o reaparecimento do Instrutor do mun- 
do - o Ungido - é esperado por milhões, não só por aqueles da fé cristã, mas por 
aqueles de todas as crenças que esperam o Avatar, debaixo dos nomes: Senhor 
Maitreya, Krishna, Messias, Iman Mahdí e o Bodhísattva... A preparação por ho- 
mens e mulheres de boa vontade é necessária para introduzir novos valores, no- 
vos padrões de comportamento, novas atitudes de não separação e cooperação, 
guiando as retas relações humanas a uma paz mundial. O Instrutor mundial vin- 
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douro estará principalmente preocupado não com o resultado ou erros passados 
e insuficiências, mas com as necessidades de uma Nova Ordem Mundial e com a 
organização da estrutura social" (A Rede Cresce, Londrina, p.3). 
 
 
O esperado Messias satisfará aos anseios de todas as crenças religiosas, 
que aguardam a vinda de um Salvador: o Maitreya de Nova Era será o prometido 
aos judeus, o quinto Buda dos budistas, o Iman Mahdi dos muçulmanos, o 
Krishna dos hinduístas, e também o Cristo dos cristãos. Alguns aquarianos jul- 
gam que Maitreya já nasceu em 1982 - o que não combina coma previsão de que 
a Era de Aquário só começará em 2146 d.C. (Maitreya terá 164 anos quando se 
manifestar ao mundo, ou seja, 2146 - 1982 = 164?). 
 
 
Como quer que seja, a vinda do novo Avatar unificará não somente os inte- 
resses políticos e administrativos da humanidade, mas também o senso religioso: 
o Cristianismo será extinto em favor de uma nova e única religião, dizem os aqua- 
rianos. 
 
 
 
 
2.7. Magia e Curandeirismo 
 
 
A Nova Era conhece agentes seus chamados "bruxos, magos, iluminados..." 
Seriam seres mais evoluídos do que o comum dos homens; dotados de poderes 
especiais, paranormais, realizarão façanhas portentosas em dois planos: 
 
 
- no plano de adivinhação: os magos poderão revelar coisas ocultas ou fu- 
turas, recorrendo ao tarô, aos búzios, à astrologia; farão mapa astral mediante 
computador; cultivarão a grafologia (a caligrafia) para predizer o futuro das pes- 
soas, praticarão a quiromancia ou a leitura "profética" das linhas das mãos... 
 
 
- no plano ritual: os bruxos da Nova Era têm seus ritos semelhantes aos 
dos xamãs (exorcistas de povos primitivos), aos dos sabbat e da Missa Negra dos 
bruxos medievais, aos do tranta, que adota a prática sexual ritualista. Há tam- 
bém o uso da pirâmide, tida como fonte de grande energia. Seja também mencio- 
nada a projeção astral ou o exercício segundo o qual o bruxo julga abandonar seu 
corpo durante o sono a fim de viajar pelos espaços. A revista Planeta descreve tal 
exercício nos seguintes termos: 
 
 
"Até uns poucos anos atrás chamava-se a peculiar experiência de estar 
fora do corpo 'projeção astral' mas ultimamente ela tem sido denominada ‘experi- 
ência extracorpórea’. A viagem astral consiste, essencialmente, na projeção do 
corpo interior ou personalidade do corpo físico, geralmente durante o sono, mas 
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não exclusivamente. As projeções astrais acontecem na vigília e costumam ser 
chamadas 'deslocamentos momentâneos'... 
 
 
Nesse fenômeno a pessoa viaja cobrindo distâncias diversas, desde o teto 
de seu quarto até o outro lado do continente, e permanece ligada ao corpo físico 
por um fio prateado, que nem sempre lhe é visível... 
 
 
 
tes: 
 
Os habituais efeitos físicos e emocionais da projeção astral são os seguin- 
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- Sensação de extremo cansaço ao despertar, mesmo que a pessoa tenha 
dormido por muitas horas. 
 
 
- No final de cada projeção astral, sensação de queda de grande altura, de 
estar girando em direção ao solo, geralmente acompanhada pelo medo de cair. 
Isto representa apenas a reação física à desaceleração de vibrações, que se dá à 
medida que o eu interior retorna ao invólucro físico, restabelecendo a ligação com 
ele. 
 
 
- A nítida lembrança de ter atravessado muros aparentemente sólidos ou 
de ter visto de cima o próprio corpo, geralmente no início da viagem. Sensações 
de estar flutuando para fora do corpo, primeiro devagar, elevando-se até o teto do 
quarto, depois ganhando velocidade, às vezes fulminante, deslocando-se rapida- 
mente pela paisagem, observação, ao mesmo tempo, dos marcos físicos em volta 
e, às vezes, sensações de conforto e desconforto devidas à temperatura, tais como 
calafrios, umidade ou calor. Ocasionalmente, observação de um fio prateado 
atrás de si, que tornava a se enrolar por ocasião do regresso. 
 
 
- Ao fim da viagem ou no localde destino, observação de pessoas ou cenas, 
geralmente com incapacidade de estabelecer contato através da fala. Há registro 
de contatos visuais. 
 
 
- Posse plena das faculdades de raciocínio durante o sonho" (Artigo "Expe- 
riências Extracorpóreas" em Revista "Planeta Especial - Sonhos". Editora Três, 
São Paulo, pp. 54s). 
 
 
 
 
 
3. OS SÍMBOLOS DA NOVA ERA 
 
 
 
A Nova Era recorre a muitos símbolos, que pretendem insinuar as proposi- 
ções de sua mensagem. Cada corrente da Nova Era tem seus emblemas corres- 
pondentes ao que ela professa. Eis alguns dos principais sinais utilizados: 
 
 
 
 
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1) O arco-iris significa a luz divina, que se vai irradiando e faz a ponte en- 
tre o céu e a Terra ou entre os seres terrestres e os extraterrestres. 
 
 
 
 
2) Fitas entrelaçadas designam a interdependência dos seres existentes e a 
tendência a fazer da multiplicidade uma unidade global. 
 
 
Símbolo proposto por Marilyn Ferguson em seu livro "A Conspiração Aqua- 
riana" (1980). 
 
 
 
3) Yin-Yang é antiga figura oriental que lembra o equilíbrio das forças cós- 
micas positivas e negativas; os opostos se compensarão mutuamente na Nova 
Era. 
 
 
 
 
 
4) Urano é o planeta que rege o mundo na Era de Aquário, como dito atrás. 
Simboliza a harmonia dos homens com o cosmos. 
 
 
 
 
 
 
5) Pirâmide é tida como elemento que capta a energia cósmica e beneficia 
as pessoas (A propósito de pirâmides e "efeitos maravilhosos'; ver PR 326/1989, 
pp. 324-329). 
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6) Cruz de Nero ou Símbolo de Paz é uma cruz de cabeça para baixo ou em 
aparência de pé de galinha. Traz a paz a quem a usa em brincos, broches, cami- 
setas, cadernos... 
 
 
 
 
 
7) Pomba com ramo no bico. Simboliza a paz à qual tendem os aquarianos, 
na esperança de que as águas de Peixes sequem para dar lugar à Nova Era. 
 
 
 
 
 
 
 
8) Estrela de Davi, com seis pontas, simboliza os processos de involução e 
evolução. Com efeito; o triângulo que aponta para baixo, apresenta a involução da 
energia divina que desce às suas formas mais boçais, ao passo que o triângulo 
voltado para cima indica a ascensão dos seres que tendem a se divinizar cada vez 
mais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9) Estrela de cinco pontas significa o Ser Cósmico Divino em sua plenitude 
ou o Absoluto. O triângulo superior com um olho no centro simboliza o Ser Supe- 
rior a todos na escala hierárquica (Serquealguns identificam com Lúcifer, consi- 
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derado como anjo de luz). Esse pentagrama é irradiante de bons fluidos, se colo- 
cado de cabeça para cima; em posição inversa, emite maus fluidos. 
 
 
 
 
 
 
10) Borboleta significa o homem que deixa as trevas do casulo de Peixes 
para entrar na dimensão celestial do Aquário. 
 
 
11) Unicórnio (animal de quatro patas, com um chifre só): símbolo de liber- 
dade sexual e moda unisex, com todas as suas manifestações mais ousadas. 
 
 
12) Cruz suástica é o símbolo da boa sorte que toca aos iniciados. 
 
 
Além destes e de outros símbolos típicos, Nova Era usa um vocabulário 
próprio, do qual vão abaixo apresentados alguns espécimens. 
 
 
 
4. A NOMENCLATURA DA NOVA ERA 
 
 
1) O Movimento tem os seguintes apelativos: Nova Era (New Age), Era de 
Aquário ou Aquarius, Conspiração Aquariana, Nova Ordem Mundial, Nova Cons- 
ciência. 
 
 
2) Deus é dito: Eu Maior, Grande Mente Universal, a Força, o Absoluto. 
 
 
3) O planeta Terra é: Mãe Terra, Mãe Gaia (do grego gé, terra), Mãe de 
Água, Nave Terra. 
 
 
4) A unificação do gênero humano é: Fraternidade Universal, Família Glo- 
bal, Holismo (de holon, tudo, em grego), Colônia Global, Paradigma (= padroniza- 
ção). 
 
 
5) Os espíritos que, do além, se comunicam com o homem, são: Mestres 
Cósmicos, Espíritos Cósmicos, Mestres Universais, Extraterrestres ou ETs. 
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6) O canal de comunicação é dito channeling. 
 
 
7) O chefe que governará a nova Ordem Mundial, é: Senhor Maitreya, Saint 
Germain, Instrutor do Mundo, o Ungido, o Avatar. 
 
 
8) Os que se dedicam à implantação da Nova Era, mediante contato com 
Espíritos Cósmicos, são: Médiuns da Nova Era, Bruxos, Magos, Sensitivos, Para- 
normais. Tais seres são tidos como emissários de um Governo secreto, dirigido 
por seres extraterrestres, que vai comandando todas as transformações ocorren- 
tes hoje sobre a Terra. 
 
 
 
 
5. ATUAÇÃO DA NOVA ERA 
 
 
Dizem muitos observadores que os adeptos de Nova Era são, em grande 
parte, responsáveis pelas mudanças de ordem cultural e comportamental pelas 
quais vai passando o mundo contemporâneo. - A própria Sra. Marilyn Ferguson, 
em seu livro "A Conspiração Aquariana", o verifica: 
 
 
"Uma rede poderosa, embora sem liderança, está trabalhando no sentido 
de provocar uma mudança radical no mundo. Seus membros romperam com al- 
guns elementos-chave do pensamento ocidental, e até mesmo podem ter rompido 
com a continuidade da História... 
 
 
Há Conspiradores Aquarianos de todos os níveis de renda e educação, dos 
mais humildes aos mais poderosos. São professores, auxiliares de escritório, cien- 
tistas famosos, funcionários do governo e legisladores, artistas e milionários, mo- 
toristas de taxi e celebridades, expoentes da medicina, da educação, do direito e 
da psicologia. Muitos são conhecidos em suas áreas de trabalho, e seus nomes 
podem ser familiares. Outros se mantêm em silêncio quanto a seu envolvimento, 
acreditando que possam ser mais eficazes se não forem identificados com idéias 
que, com demasiada freqüência, têm sido mal interpretadas" (pp. 23s). 
 
 
 
Pode-se averiguar, dizem, a atuação de Nova Era em alguns setores de 
maior projeção na vida pública. 
 
 
 
5.1. Educação 
 
 
Verifica-se que a mentalidade e os símbolos da Nova Era vão penetrando 
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nos estabelecimentos de ensino de todos os graus. Existem mesmo Universidades 
Holísticas pelo mundo, sendo que em Brasília há uma, dita Universidade da Paz, 
construída com recursos do Distrito Federal; neste está sendo preparada a Cida- 
de da Paz ou a Alvorada. Brasília é tida como região de grande força espiritual e 
ponto de convergência dos diversos ramos ocultistas. 
 
 
Em julho de 1991, realizou-se o II Congresso Holístico Internacional na ci- 
dade de Belo Horizonte: reuniu membros das Universidades Holisticas e profissio- 
nais da educação para estudar como fazer da educação um veículo transmissor 
das idéias da Nova Era e um canal transformador da sociedade. Para tanto, são 
programados exercícios de relaxamento e meditação transcendental, que incutem 
ao aluno uma espiritualidade alheia aos princípios tradicionais da educação cris- 
tã. Nesse Congresso um médico brasileiro defendeu a tese segundo a qual as 
mães falharam na educação dos filhos, por isto o mundo de hoje é caótico. Para 
resolver o problema, dever-se-iam criar "escolas de mães" ou de profissionais fe- 
mininas que se encarregariam da formação holística das crianças desde os seis 
anos de idade. "Ser mãe" tornar-se-á, no caso, uma profissão, independente da 
maternidade física. 
 
 
 
Um dos princípios da educação "Nova Era" afirma que o aluno não precisa 
de aprender coisa alguma de fora para dentro, mas deve aprender de dentro para 
fora, suposto que todo o saber já está contido dentro dele; essa nova forma de 
educação põe o discípulo em estado de "superconsciência", levando-o à vivência 
de uma consciência cósmica ou transpessoal, estado este que se opõe ao estado 
de consciência normal e de vigília. 
 
 
 
5.2. Música 
 
 
Nova Era se propaga também pela música. Hádois tipos de música aquari- 
ana: a música New Age propriamente dita e a música rock convencional. 
 
 
 
 
A Música New Age tem o estilo mantra. Mantra quer dizer, em sânscrito, li- 
bertação da mente (man = mente; tra = libertação). O estilo mantra utiliza sons 
que alteram e influenciam o estado de consciência; na verdade, os mantra são sí- 
labas, palavras ou frases que, repetidos com freqüência, marcam o consciente e o 
inconsciente da pessoa, servindo-lhe para o relax e a meditação. 
 
 
A Música Rock Convencional é outro veículo de Nova Era, tanto por sua le- 
tra como por seu ritmo. Com efeito; a letra rock pesada refere-se muitas vezes ao 
sexo livre, ao homossexualismo, ao adultério e à prostituição como formas válidas 
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de comportamento. Quanto ao ritmo, dito beat, é concebido matematicamente de 
modo a excitar o sistema nervoso: o som é elevado a sete decibéis, cota que está 
acima da tolerância do sistema nervoso e debilita o funcionamento normal do cé- 
rebro; tem efeito provocador, que cede à depressão, à revolta e à agressividade; 
daí a procura de drogas e libertinismo sexual por parte de quem é assim atingido 
e procura saída para o seu estado de ânimo convulsionado. 
 
 
 
 
5.3. A Medicina Alternativa 
 
 
A Nova Era valoriza a Medicina não convencional, ou seja, a Medicina al- 
ternativa, mais relacionada com "misticismo" do que com ciência. A justificativa 
antropológica dessa prática é a seguinte: o homem possui um corpo energético, 
do qual o corpo físico é apenas uma manifestação. Esse corpo energético consta 
da mesma energia que constitui a Divindade. As doenças do corpo físico, portan- 
to, são dependentes do corpo energético, pois o corpo físico é o espelho do corpo 
energético. 
 
 
Na base desta concepção, os aquarianos adotam as terapias alternativas já 
existentes no Oriente e acrescentam-lhes ainda outras. Entre estas maneiras al- 
ternativas, merece destaque o cultivo de pensamentos positivos. 
 
 
Além disto, a Medicina da Nova Era julga que, como a energia divina é luz 
e a luz compreende as sete cores do espectro, assim também nosso corpo energé- 
tico, que é divino, é formado pelas cores contidas na luz branca, cores que são 
chamadas chakas. Cada cor ou cada chakra corresponde a uma região do corpo 
humano. Conseqüentemente, o tratamento de moléstias se faz mediante a "ener- 
gização" do chakra (ou da parte do corpo) afetado; o chakra causa a doença, por- 
que está afetado. Tal energização ocorre mediante o recurso a cores, pirâmides, 
cristais, Florais de Bach (terapia pelas flores), frases de conteúdo positivo, musi- 
coterapia, massagens orientais e muitos outros procedimentos. 
 
 
 
 
Pode-se mencionar aqui também a psicoterapia utilizada pela Nova Era: re- 
corre à chamada "psicologia transpessoal". Esta leva o indivíduo a vários estados 
de consciência, para que finalmente transcenda os limites do tempo, do espaço e 
da individualidade, atingindo o grau de consciência cósmica. Essa terapia servia- 
se, a princípio, do ácido lisérgico (LSD), provocador de sucessivos estados de 
consciência; tal método já foi abandonado em favor do recurso à meditação trans- 
cendental, que propicia os mesmos efeitos. A hipnose e a regressão em idade são 
também instrumentos caros á psicoterapia aquariana. 
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6. QUE DIZER? 
 
 
O contato com o programa da Nova Era sugere várias considerações, das 
quais três serão, a seguir, propostas. Os demais pontos da mensagem de Nova 
Era são elucidados no Curso sobre Ocultismo da Escola "Mater Ecclesiae", Caixa 
postal 1362, 20001-970- Rio (RJ). 
 
 
 
6.1. Fusão-confusão 
 
 
O Holismo, pretendendo unificar a humanidade, com suas crenças e seus 
comportamentos, propõe uma fusão, que é confusão. Falta à mensagem da Nova 
Era a luz de um discurso lógico, racional, pois a emoção e o sentimento prepon- 
deram. Por conseguinte, as proposições do Holismo não podem ser comprovadas 
nem podem apresentar credenciais; a emoção e a fantasia são as suas principais 
fontes inspiradoras. Por isto, o edifício de idéias da Nova Era é extremamente frá- 
gil; é adaptável ao gosto de cada interessado, pois o subjetivismo aí prepondera. 
Este fato dispensa o estudioso de uma crítica muito cerrada, pois a Nova Era ver- 
sa mais sobre o plano subjetivo dos sentimentos e da imaginação do que na esfe- 
ra da lógica e da intelectualidade. 
 
 
 
 
 
6.2. Panteísmo, reencarnação, comunicação com o além. 
 
 
Como quer que seja, distinguem-se na Nova Era três teses, que parecem 
ser as pilastras da respectiva mensagem. 
 
 
a) Panteísmo. A identificação da Divindade com tudo (pari) ocorre em qual- 
quer apresentação do Holismo. Ora este ponto é altamente vulnerável, pois con- 
tradiz às regras mais elementares da lógica: faz coincidir o Absoluto (Deus) com o 
 
 
relativo (o mundo volúvel e o homem), o Eterno (Deus) com o temporal (mundo e 
homem), o Necessário (Deus) com o contingente (mundo e homem), o Imutável 
(Deus) com o mutável e volúvel (o mundo e o homem). Assim o Sim é identificado 
com o Não - o que fere as normas fundamentais do pensar. 
 
 
b) Reencarnação. Esta tese é geralmente associada ao panteísmo, como 
dito atrás. Com efeito; se não há um Deus distinto do homem, é o homem mesmo 
que se salva, e se salva através de sucessivas tentativas e experiências de vida 
neste mundo. - Ora esta afirmação é arbitrária, pois carece de provas ou de fun- 
damento; nenhuma pessoa sadia se recorda do que tenha sido e vivido numa en- 
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carnação anterior; os próprios "relatos de vida pregressa" são explicados pela pa- 
rapsicologia como manifestações do inconsciente da pessoa hipnotizada, que traz 
à tona episódios vividos na existência presente e livremente associados entre si 
para formar um enredo aparentemente novo. 
 
 
 
c) Comunicação com o além. A suposição de que nos podemos comunicar 
com o além (almas de defuntos, anjos ou seres de outros planetas) é desmentida 
pela Filosofia e a própria Psicologia. Não há receita que nos permita chamar ao 
nosso convívio seres extraterrestres; os encantamentos e as artes rituais mediú- 
nicas não o conseguem; as pretensas comunicações do além captadas por bruxos 
ou médiuns não são senão expressões do próprio médium, que tira do seu in- 
consciente e do inconsciente dos seus clientes as mensagens que ele profere como 
se fossem oriundas do além. 
 
 
Tal fenômeno é muito conhecido pela Parapsicologia, que no caso dispensa 
explicações misteriosas ou "transcendentais". A propósito ver as pp. 532-536 des- 
te fascículo. 
 
 
 
 
6.3. O sucesso da Nova Era 
 
 
Apesar de muito inconsistente, a Mensagem da Nova Era encontra grande 
aceitação em nossas sociedades da América e da Europa. Por quê? 
 
 
- O simples fato de propor uma novidade de índole mundial, radical e total 
é um atrativo de grande influência. Os homens de nossos tempos sofrem de uma 
crise generalizada na política, na economia, na cultura em geral; não vêem solu- 
ção próxima no recurso aos meios convencionais da ciência e da lógica. Por con- 
seguinte, estão especialmente abertos a qualquer tipo de solução "transcendental, 
mágica, irracional". Quanto mais maravilhosa é a mensagem proposta em tais cir- 
cunstâncias, tanto mais poder sedutor terá. Afinal de contas, é sempre verdade 
que em todo homem, mesmo culto, há o gosto inconsciente do mito, do irreal, do 
 
 
romance, da lenda..., pois o irreal é mais belo do que o real; o irreal é construído 
por cada um como ele o quer, e cada um tende a fazer do irreal sonhado a sua re- 
alidade ou a própria realidade. Esta tendência é mais acentuada em nossos dias, 
quando prevalece um certo antiintelectualismo em matéria de religião eMoral; a 
metafísica é desprezada por certas escolas; parece a muitos que os sentimentos e 
as emoções é que devem inspirar as crenças religiosas, pois estas careceriam de 
parâmetros objetivos firmes e válidos para todos os homens. 
 
 
Não obstante, pode-se dizer que o Movimento da Nova Era tem o valor de 
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despertar a consciência dos cristãos. Lembra-lhes que o mundo está ávido de algo 
maior e melhor do que a situação aflitiva de muitos povos contemporâneos. Ora o 
cristão sabe que a grande novidade que responde cabalmente a tal anseio, é a do 
Cristo Jesus ou é a do Evangelho pregado por Cristo e entregue a Pedro e seus 
sucessores na Igreja. É o Senhor quem afirma: "Vós sois o sal da terra... Vós sois 
a luz do mundo... Não se acende uma lâmpada para coloca-la debaixo do alquei- 
re, mas no candelabro, e assim ela brilhe para todos os que estão na casa. Assim 
brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glo- 
rifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,13-16). 
 
 
Possam os cristãos, interpelados pelos seus irmãos aquarianos, tomar 
sempre mais viva consciência da seriedade e do valor de tais palavras! 
 
 
A guisa de bibliografia, sejam citados: 
 
 
MARCO ANDRÉ, Nova Era - O que é? De onde vem? O que pretende? Ed. 
Betânia, Caixa postal 5010, Venda Nova (MG). 
 
 
NEW AGE. A Nova Era à luz do Evangelho. Editor Gehard Sautter, Caixa 
postal 21486, 04698-970 - São Paulo (SP). 
 
 
SCHLINK, BASILÉA M., Nova Era à luz da Bíblia, Caixa postal 
3440,80001-970 Curitiba (PR). 
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