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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/306959729 Engenharia de Recursos Hídricos (Apostila/Sebenta/Draft) Research · August 2016 DOI: 10.13140/RG.2.2.27881.49764 CITATIONS 0 READS 5 1 author: Mauro Naghettini Federal University of Minas Gerais 60 PUBLICATIONS 118 CITATIONS SEE PROFILE Available from: Mauro Naghettini Retrieved on: 06 September 2016 https://www.researchgate.net/publication/306959729_Engenharia_de_Recursos_Hidricos_ApostilaSebentaDraft?enrichId=rgreq-5baf237eef077ea86e8120dbc786bd98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwNjk1OTcyOTtBUzozOTkzOTUzNTE3NDQ1MTJAMTQ3MjIzNDY4MTA3Mw%3D%3D&el=1_x_2 https://www.researchgate.net/publication/306959729_Engenharia_de_Recursos_Hidricos_ApostilaSebentaDraft?enrichId=rgreq-5baf237eef077ea86e8120dbc786bd98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwNjk1OTcyOTtBUzozOTkzOTUzNTE3NDQ1MTJAMTQ3MjIzNDY4MTA3Mw%3D%3D&el=1_x_3 https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-5baf237eef077ea86e8120dbc786bd98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwNjk1OTcyOTtBUzozOTkzOTUzNTE3NDQ1MTJAMTQ3MjIzNDY4MTA3Mw%3D%3D&el=1_x_1 https://www.researchgate.net/profile/Mauro_Naghettini?enrichId=rgreq-5baf237eef077ea86e8120dbc786bd98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwNjk1OTcyOTtBUzozOTkzOTUzNTE3NDQ1MTJAMTQ3MjIzNDY4MTA3Mw%3D%3D&el=1_x_4 https://www.researchgate.net/profile/Mauro_Naghettini?enrichId=rgreq-5baf237eef077ea86e8120dbc786bd98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwNjk1OTcyOTtBUzozOTkzOTUzNTE3NDQ1MTJAMTQ3MjIzNDY4MTA3Mw%3D%3D&el=1_x_5 https://www.researchgate.net/institution/Federal_University_of_Minas_Gerais?enrichId=rgreq-5baf237eef077ea86e8120dbc786bd98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwNjk1OTcyOTtBUzozOTkzOTUzNTE3NDQ1MTJAMTQ3MjIzNDY4MTA3Mw%3D%3D&el=1_x_6 https://www.researchgate.net/profile/Mauro_Naghettini?enrichId=rgreq-5baf237eef077ea86e8120dbc786bd98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMwNjk1OTcyOTtBUzozOTkzOTUzNTE3NDQ1MTJAMTQ3MjIzNDY4MTA3Mw%3D%3D&el=1_x_7 Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Engenharia Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos ENGENHARIA DE RECURSOS HÍDRICOS Mauro Naghettini Belo Horizonte 1999 ii Para meu pai, Nilo Naghettini, com muita saudade. iii Índice Introdução à Problemática dos Recursos Hídricos............................................................1 Parte 1 - Engenharia Hidrológica....................................................................................13 Fundamentos e Aplicações da Hidrologia........................................................14 Bacia Hidrográfica ...........................................................................................19 Hidrometeorologia............................................................................................24 Métodos Estatísticos Elementares.....................................................................36 Fluviometria......................................................................................................43 Infiltração..........................................................................................................57 Água Subterrânea..............................................................................................62 Vazões de Enchentes.........................................................................................73 Análise de Chuvas Intensas...............................................................................92 Propagação de Cheias em Rios e Reservatórios................................................98 Bibliografia Adicional Recomendada..............................................................110 Exercícios Propostos.......................................................................................111 Parte 2 - Engenharia de Recursos Hídricos...................................................................118 Reservatórios...................................................................................................119 Barragens.........................................................................................................139 Extravasores, Comportas e Dispositivos de Saída...........................................156 Cheias de Projeto de Vertedores......................................................................170 Controle de Cheias...........................................................................................186 Irrigação...........................................................................................................202 Navegação Fluvial...........................................................................................215 Parte 3 - Princípios de Gestão e Legislação de Recursos Hídricos...............................229 Princípios de Gestão de Recursos Hídricos.....................................................230 Legislação Específica de Recursos Hídricos...................................................240 iv Solicito aos leitores dessas notas de aula a gentileza de enviarem as suas correções, sugestões e comentários para os endereços abaixo indicados. Antecipo meus agradecimentos. Mauro Naghettini EEUFMG-EHR Avenida Contorno 842, 8o andar 30110-060 Belo Horizonte, MG Tel. : (031) 238.1002 Fax : (031) 238.1001 Internet : naghet@netunos.lcc.ufmg.br Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 1 INTRODUÇÃO À PROBLEMÁTICA DOS RECURSOS HÍDRICOS 1. Caracterização da Água como Recurso A água e o Sol são indissociáveis e imprescindíveis para a existência de vida na Terra. As plantas verdes captam a energia solar e a utilizam no processo de fotossíntese, o qual transforma a água, o dióxido de carbono e os sais minerais em compostos orgânicos indispensáveis aos seres vivos, tanto como fonte de energia, como para a constituição e renovação de suas células. Ainda como consequência do processo de fotossíntese, a liberação de oxigênio livre para a atmosfera permite a respiração aeróbia e, finalmente, a vida animal. Contrariamente às plantas verdes, os animais não têm capacidade de produzir compostos orgânicos a partir de um ambiente inorgânico e, consequentemente, nutrem-se de plantas e outros animais, formando-se as cadeias alimentares. A água é a substância que existe em maior quantidade nos seres vivos. Representa cerca de setenta por cento do peso do corpo humano, podendo chegar a mais de noventa por cento em alguns animais. Além de ser parte constituinte dos tecidos, a água é o solvente que transporta as substâncias intervenientes nos processos fisiológicos. A falta de água provoca a debilidade e até a morte dos seres vivos. Avalia-se o volume de água na Terra em 1380.1015 m3, distribuído aproximadamente da seguinte forma : oceanos com 96,6%, continentes com 3,4 % e a atmosfera com 0,013%. Esse volume, mantido constante desde a formação da Terra há 5 bilhões de anos, constitui a chamada hidrosfera, dentro da qual a água circula continuamente, sob a ação da energia solar e da força gravitacional; a essa circulação contínua de água pelos reservatórios da hidrosfera dá-se o nome de ciclo hidrológico. De forma sintética, o ciclo hidrológico é a sequência de fenômenos pelos quais a água, após evaporar-se dos oceanos, lagos, rios e superfície terrestre, precipita-se como chuva, neve ou gelo, escoa por sobre o terreno, infiltra-se no subsolo, escoa pelos aquíferos, é absorvida pelas raízes das plantas, retornando à atmosfera, seja por transpiração ou evaporação direta. Além de essencial à manutenção da vida na Terra, a água em circulação no ciclo hidrológico pode ser captada pelo homem e utilizada para diversasfinalidades, as quais englobam desde formas primitivas de transporte até atividades econômicas de vulto, como a geração de energia elétrica. Esses fatos caracterizam a água como um recurso natural e renovável pelos processos do ciclo hidrológico. Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 2 Devido às diferentes condições geomorfológicas e climatológicas, a água distribui- se de forma irregular, tanto no tempo como no espaço. Podem ser muito elevadas as variações sazonais e interanuais das vazões de um curso d'água, fazendo com que quanto mais variável for o regime hidrológico, menor é a disponibilidade dos recursos hídricos naturais. As distribuições espacial e temporal da precipitação, a velocidade e a direção dominantes de deslocamento das tormentas sobre a bacia, as variações temporais e espaciais das perdas por intercepção, evapotranspiração e infiltração, bem como as condições de armazenamento da umidade do solo, são exemplos do grande número de fatores interdependentes que podem influir na variabilidade das vazões de um curso d'água. Essa variabilidade, sendo bastante complexa, faz com que as vazões de um curso d'água, bem como outras variáveis hidrológicas, sejam consideradas variáveis aleatórias. Em consequência, pode-se dizer que os recursos hídricos, embora renováveis, são móveis, pois escoam pelos rios e aquíferos, e de natureza aleatória. O homem aprendeu a intervir no ciclo hidrológico, por meio de obras e instalações, de modo a captar água e transferí-la espacialmente, de um local para outro, ou temporalmente, de anos ou estações chuvosas para períodos secos (alterações do regime hidrológico através da regularização de vazões), com o objetivo de conferir-lhe condições quantitativa e economicamente adequadas de uso. Tais obras e instalações consistem em sistemas de captação e distribuição de águas superficiais e subterrâneas, barragens e canais de irrigação, entre outros. Por outro lado, existem os chamados eventos extremos, cheias e estiagens prolongadas, os quais produzem sérios prejuízos econômicos e sociais; a esse respeito, as ações do homem devem presumir a coexistência inexorável da sociedade humana com os riscos de cheias e estiagens extremas e concorrer para mitigar os efeitos danosos de sua ocorrência. A intervenção humana no ciclo hidrológico se dá não somente em termos da quantidade, como também em termos da qualidade da água. Os cursos e corpos d'água têm capacidade de assimilar esgotos/resíduos e autodepurarem-se; essa capacidade, entretanto, é limitada. Sabe-se que a concentração de poluentes em um curso d'água é inversamente proporcional à vazão de diluição, fato que caracteriza a indissociabilidade dos atributos de quantidade e qualidade dos recursos hídricos. Por outro lado, a erosão hídrica provoca a perda de solos férteis e a deposição de sedimentos em zonas de menor velocidade de escoamento, assoreando leitos fluviais, reservatórios e obstruindo sistemas de drenagem. A ocupação e o manejo adequado do Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 3 solo, bem como o tratamento prévio de efluentes domésticos e industriais são fatores fundamentais para a conservação dos recursos hídricos. 2. Evolução Histórica da Utilização dos Recursos Hídricos O homem primitivo reconheceu desde logo a sua dependência da água : primeiramente, para lhe matar a sede e, depois, para utilizá-la na manufatura de produtos, utensílios e construções que lhe eram essenciais. As sociedades primitivas estabeleceram-se preferencialmente às margens dos rios, pois essas lhes facultavam fácil acesso à água, alimentos e até defesa natural. Além disso, os rios proporcionavam vias de acesso a novos territórios a explorar. As civilizações mais adiantadas da antiguidade floresceram nas planícies dos grandes rios : Amarelo, Tigre, Eufrates e Nilo. Nessas sociedades, a água era amplamente usada para a irrigação, constituindo a produção agrícola o principal fator de desenvolvimento. Outras civilizações, sediadas em regiões de menor abundância hídrica, também basearam o seu desenvolvimento no uso da água, porém à custa de esforços monumentais. É o caso dos qanats no Irã, galerias de cerca de 0,70 m de largura e 1,00 m de altura, com desenvolvimento que atinge 70 km, utilizados desde o século V AC para captar água subterrânea. O comprimento total dos qanats do Irã excede a distância da Terra à Lua e a vazão por eles captada continua na atualidade a ser de 700 m3/s. O trabalho envolvido em sua construção é comparável ao das pirâmides do Egito, porém sem a evidência e o esplendor dessas, por tratarem-se de obras subterrâneas. Há muito que se constroem barragens para controlar cheias e criar, por deposição de sedimentos, solos mais aptos para a agricultura; a primeira barragem de que se tem notícia é a de El-Kafara, no Egito, construída há cerca de 4800 anos. Na antiguidade também se construiam diques, para controle das inundações, bem como canais, aquedutos, túneis e galerias para transporte de água. Também eram utilizadas as máquinas de elevação de água, como o parafuso de Arquimedes, as rodas d'água, as noras e os sarilhos. Nos séculos X e XI, expandiu-se a utilização da roda d´água para o esmagamento de frutas e sementes, apiloamento de fibras, tecidos, minérios e e metais, bem como para o acionamento dos foles de fornalhas. Nos séculos XIX e XX, com o desenvolvimento científico e tecnológico, o homem passou a dispor de materiais, Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 4 equipamentos e técnicas que lhe permitiram construir sistemas mais eficazes para a utilização e controle de grandes vazões. A construção metálica, primeiramente de ferro fundido e depois de aço, permitiu obter equipamentos hidráulicos eficientes e condutos de grandes diâmetros capazes de resistir a pressões elevadas. As turbinas hidráulicas e as bombas centrífugas vulgarizaram-se a partir da primeira metade do século XX, determinando a grande expansão da produção de energia elétrica e o consequente desenvolvimento industrial. O concreto armado, difundido no início do presente século, veio facilitar a construção de estruturas hidráulicas. No mundo moderno, a água está presente em múltiplas atividades humanas e, dessa forma, é utilizada para finalidades diversas, entre as quais destacam-se o abastecimento público e doméstico, os usos agrícola e industrial e a produção de energia elétrica. Até passado recente, as necessidades de água cresceram gradualmente, acompanhando o lento crescimento populacional. A expansão urbanística, a industrialização, a agricultura e a pecuária intensivas e ainda a produção de energia elétrica, as quais encontram-se estreitamente ligadas à elevação do nível de vida e ao crescimento populacional vertiginoso do século XX, passaram a exigir crescentes quantidades de água. A Figura 1 mostra o crescimento do consumo mundial de água entre 1900 e 1999; observe que o consumo de água aumentou em cerca de 10 vezes, ao passo que a população mundial apenas quadruplicou. Figura 1 - Evolução do Uso de Recursos Hídricos no Século XX (Fonte : Water Resources - Environmental Planning, Management and Development, Biswas A., 1996) Evolução do Uso de Recursos Hídricos 0 1000 2000 3000 4000 5000 1900 1920 1940 1960 1980 2000 Ano C o n s u m o (q u il ô m e tr o s c ú b ic o s p o r a n o ) Uso Domestico Uso Industrial Uso Agricola Uso Total Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 5 Além das grandes quantidades exigidas, algumas utilizações prejudicam fortemente a qualidade da água que,se restituída ao meio natural sem tratamento prévio, impede o seu uso, além de ser nociva ao próprio ambiente. Esse é o caso da poluição provocada pelos usos domésticos, público e industrial, bem como pelos adubos e pesticidas intensamente usados na agricultura atual. As dificuldades crescentes de satisfação das necessidades de água, em consequência das elevadas quantidades exigidas e também da alteração da qualidade de água resultante de seus usos, são motivos de inquietação das sociedades modernas por indicarem um quadro insustentável em termos prospectivos. Com a finalidade de diminuir os volumes de água captada, têm sido adotadas novas tecnologias industriais, exigindo menores quantidades de água e cargas menos poluidoras, e tem-se procedido à reutilização e reciclagem da água. Também na irrigação, têm-se desenvolvido técnicas que requerem menores quantidades de água. Além dos problemas associados à satisfação das necessidades de água, põem-se aqueles relacionados ao controle do excesso de água, que pode causar níveis freáticos prejudicialmente elevados, inundações, erosão dos solos e assoreamento dos leitos dos cursos d'água. Na resolução dos variados problemas decorrentes da utilização de recursos hídricos, surgem frequentemente interesses antagônicos. Tome-se, como exemplo, o caso de um reservatório destinado ao fornecimento de água para a produção de energia hidrelétrica e irrigação de culturas agrícolas, bem como ao amortecimento de cheias a jusante. Para um mesmo volume de reservação, quanto maior for a parcela destinada ao amortecimento de cheias, menor será o volume disponível para regularizar as vazões e, consequentemente, menor será o volume utilizável para a produção de energia e para a irrigação. Além disso, as vazões fornecidas pelo reservatório para uso agrícola não se distribuem no tempo de forma compatível com a distribuição temporal do valor monetário da produção hidrelétrica. As crescentes necessidades de água, a limitação dos recursos hídricos, os conflitos entre múltiplos usos e usuários e os prejuízos causados pelo excesso de água exigem que a gestão de recursos hídricos, compreendendo as ações de planejamento e administração, se faça em termos racionais e otimizados, devendo integrar-se nas políticas nacionais e regionais de desenvolvimento econômico e social. Assim, governos e instituições têm-se preocupado com os aspectos científicos e educacionais, associados à gestão de recursos hídricos, bem como com as estruturas institucionais para sua efetiva implementação a níveis nacional, estadual e regional. A concretização dos Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 6 objetivos da gestão de recursos hídricos passa pela adesão das comunidades a esses objetivos e aos princípios a eles subjacentes, o que torna imprescindível a conscientização de lideranças, técnicos e população em geral para os problemas de utilização da água. 3. Classificação dos Usos da Água A água pode ter os seguintes usos : ♦ Geração de energia elétrica ♦ Abastecimento doméstico ♦ Abastecimento industrial ♦ Irrigação de culturas agrícolas ♦ Navegação ♦ Piscicultura ♦ Pesca ♦ Assimilação e afastamento de esgotos Entre as utilizações acima distinguem-se os chamados usos consuntivos e não- consuntivos da água. 3.1 Usos Consuntivos da Água Os usos consuntivos são aqueles em que ocorrem "perdas" entre o volume de água captado e o volume que retorna ao curso d'água ou sistema natural. Apresenta-se abaixo uma breve caracterização dos principais usos consuntivos da água. Abastecimento Urbano Todos os usos gerados em cidades, vilas e pequenos núcleos urbanos para fins de abastecimento doméstico, comercial, público e industrial são considerados usos urbanos. A demanda urbana é constituída pela demanda doméstica, acrescida de outras, praticamente indissociáveis dessa por referirem-se às atividades que dão origem ao núcleo urbano, quais sejam a indústria, o comércio e a prestação de serviços públicos e privados. A demanda urbana de água é definida mediante a determinação da população Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 7 abastecível e a adoção de quotas per capita. A população deve ser estimada por estudos demográficos, enquanto a quota per capita é função dos níveis de desenvolvimento social e das condições sanitárias desejáveis; em geral, os consumos específicos de água crescem com o nível de vida e com o tamanho do núcleo urbano. Abastecimento Rural O abastecimento doméstico nas áreas rurais é pouco significativo, sendo as demandas dispersas e de pequena monta. Após o cálculo da população abastecível, é usual adotarem-se quotas per capita, em geral bem menores do que as usadas para núcleos urbanos. Outros usos, como a dessendatação de animais, poderão ser de importância em regiões áridas ou semi-áridas. Abastecimento Industrial Existem vários tipos de uso da água nos processos industriais : refrigeração e geração de vapor, incorporação ao produto, higiene e limpeza. As demandas industriais dependem de coeficientes de uso e de perdas de cada tipo, de cada ramo industrial e da tecnologia empregada. A Tabela 1 sumariza os consumos industriais específicos médios de água, considerando alguns ramos da indústria e seu produto. Tabela 1 - Consumos industriais específicos médios de água (Fonte : Sistemas Urbanos de Ägua, Dacach N. G., 1975) Tipo de Indústria Consumo Específico Médio Laminação de Aço 85 m3 / ton de aço Refino de Petróleo 290 m3 / barril refinado Indústria Textil 1000 m3 / ton de tecido Couros-Curtume 55 m3 / ton de couro Papel 250 m3 / ton de papel Saboarias 2 m3 / ton de sabão Usinas de Açúcar 75 m3 / ton de açúcar Fábricas de Conservas 20 m3 / ton de conserva Laticínios 2 m3 / ton de produto Cervejarias 20 m3 / m3 de cerveja Lavanderias 100 m3 / ton de roupa Matadouros 3 m3 / animal abatido Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 8 Irrigação A irrigação artificial de culturas agrícolas é empregada para suprir as deficiências pluviais, proporcionando teor de umidade no solo suficiente para promover o crescimento das plantas e levá-las à maturidade. Representa o uso consuntivo de maior importância face às perdas por evapotranspiração, as quais podem chegar a 90% do volume de água aduzido ao perímetro irrigável. Aquicultura - piscicultura, ranicultura, outras. A demanda de água para a aquicultura é, em geral, de pequena expressão, sendo mais importantes os requisitos de qualidade da água para o desenvolvimento da atividade. 3.2 Usos Não-Consuntivos da Água Os usos não-consuntivos são aqueles em que não há "perdas" entre o volume de água captado e o volume que retorna ao curso d'água ou sistema natural. Apresenta-se abaixo uma breve caracterização dos principais usos não-consuntivos da água. Geração de Energia Elétrica É o principal uso não-consuntivo da água. Em geral, as grandes usinas hidrelétricas dispõem de reservatórios para a regularização de vazões, os quais implicam em alteração do regime dos cursos d'água, em perdas significativas por evaporação através de seu espelho d'água, em alterações da qualidade das águas e do equilíbrio dos ecosistemas aquáticos. Navegação Fluvial Para que sejam atingidas as condições de navegação comercial em cursos d'água, é preciso que sejam mantidas vazões que garantam o calado mínimo exigido pelas embarcações. Em condições naturais, os cursos d'água são navegáveis somente durante certa época do ano. Através de obras de melhoramento fluvial e regularização de vazões, pode-se alargar os períodos em as condições de navegabilidade estejam asseguradas.Embora se possa melhorar as condições de navegabilidade mediante a criação de reservatórios, as barragens podem representar obstáculos à navegação caso não sejam construídas as eclusas para a transposição de níveis. Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 9 Recreação e Harmonia Paisagística A água é um dos elementos mais importantes na promoção da qualidade de vida, particularmente através de atividades recreativas, esportes náuticos, navegação e pesca recreativas. O requisito fundamental para essas atividades é a qualidade da água, assegurada pela proteção dos cursos e corpos d'água e combate às fontes poluidoras. Pesca O desenvolvimento da pesca em reservatórios artificiais pode propiciar excelente fonte de proteínas para as populações interiores. As demandas de água estão relacionadas a requisitos de qualidade. Diluição, Assimilação e Afastamento de Esgotos e Resíduos Líquidos As demandas para diluição, assimilação e afastamento de esgotos urbanos, industriais, resíduos de atividades agrícolas, como agrotóxicos e fertilizantes, estão relacionadas às cargas poluidoras, às classes de qualidade estabelecidas para os cursos e corpos d'água, assim como à capacidade dos mesmos se autodepurarem. Embora não sejam uma demanda consuntiva, esse uso pode resultar em padrões de qualidade que limitam o uso dos recursos hídricos. Usos Ecológicos Os usos ecológicos estão associados à manutenção de padrões adequados de qualidade das águas para a conservação da fauna e da flora, com a manutenção de ambientes propícios às atividades humanas e à preservação da harmonia paisagística. Requer a proteção dos recursos hídricos contra a ação de agentes poluidores. 4. Condicionantes para Uso dos Recursos Hídricos Existem algumas especifidades que determinam condicionantes para a utilização racional dos recursos hídricos e, em decorrência, devem ser consideradas ao se efetivar o balanço entre as disponibilidades e as demandas; algumas delas encontram-se caracterizadas a seguir. Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 10 4.1 Controle do Regime Hidrológico Águas Superficiais O regime das águas superficiais é variável, apresentando importantes variações interanuais e sazonais. A regularização de vazões, através da criação de reservatórios de acumulação, é uma das formas usadas para desenvolver o potencial hídrico de uma bacia hidrográfica. Águas Subterrâneas Os aquíferos devem ser utilizados racionalmente, mediante o controle permanente dos níveis de suas águas e das vazões extraídas, evitando assim a sua exaustão. Controle de Cheias As cheias são fenômenos naturais que estão na origem da formação das planícies aluvionares, marginais aos cursos d'água, as quais são inundadas periodicamente. Essas inundações restringem o uso desses terrenos para fins urbanos e/ou agrícolas, razão pela qual o homem procura exercer algum controle sobre as cheias e minimizar os prejuízos por elas causados. Controle de Estiagens Particularmente em climas semi-áridos, ocorrem períodos extensos sem nenhuma chuva, o que tem obrigado o homem a construir açudes e reservatórios de acumulação. Mesmo em regiões mais úmidas, a variabilidade sazonal das disponibilidades e o aumento das demandas exigem a regularização das vazões, sem o que os riscos de insuficiência tornar-se-iam muito altos. 4.2 Controle da Poluição A poluição das águas e dos aquíferos é provocada pelo lançamento de efluentes urbanos, industriais e resíduos de atividades agrícolas. O tratamento prévio desses efluentes é indispensável para o controle da poluição e conservação dos recursos hídricos. Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 11 4.3 Controle da Erosão A água é agente de mudanças na configuração topográfica da superfície terrestre através dos processos erosivos. As ações humanas de desmatamento do solo rural, para fins agrícolas, ou de desnudamento do solo, para fins urbanos, aceleram os processos erosivos, alterando danosamente o equilíbrio dos recursos água-solo. As medidas de controle visam evitar a aceleração dos processos erosivos. 5. Gestão de Recursos Hídricos A gestão de recursos hídricos refere-se ao conjunto de procedimentos através dos quais se pretende equacionar e resolver as questões de escassez relativa dos recursos hídricos; compreende ações integradas de planejamento e administração. O planejamento de recursos hídricos visa avaliar prospectivamente as demandas e disponibilidades desses recursos e alocá-los entre múltiplos usos e usuários, de forma a obter os máximos benefícios econômicos e sociais, com os menores impactos ambientais e dentro de um cenário de sustentabilidade. A administração de recursos hídricos é o conjunto de ações necessárias para tornar efetivo o que foi planejado, com os devidos suportes técnicos, jurídicos e administrativos. 6. Engenharia de Recursos Hídricos O aproveitamento e a conservação dos recursos hidricos são tarefas que requerem concepção, planejamento, administração, projeto, construção e operação de meios para o controle e a utilização racionais das águas. Envolve não só a atuação de engenheiros civis, como também a de outros profissionais como advogados, economistas, químicos, biólogos, sociólogos e geógrafos. À Engenharia de Recursos Hídricos corresponde o conjunto de conhecimentos e técnicas de engenharia utilizado para planejar, projetar e operar sistemas de recursos hídricos destinados a controlar e regular a água para satisfazer a uma diversificada gama de propósitos. De forma ampla, pode-se agrupar os problemas relacionados à engenharia de recursos hídricos nos seguintes blocos : (a) Controle do Excesso de Água, (b) Engenharia de Recursos Hídricos - Notas de Aula Mauro Naghettini 12 Conservacão da Quantidade de Água e (c) Conservacão da Qualidade de Água. Os dois primeiros blocos envolvem principalmente as especialidades de engenharia hidrológica e engenharia hidráulica, enquanto o terceiro bloco refere-se primordialmente à engenharia ambiental. O objetivo dessas notas de aula é o de sumarizar os fundamentos de engenharia necessários à solução dos problemas relacionados ao controle do excesso e à conservação da quantidade de água. Aos leitores interessados em outros tópicos da engenharia de recursos hídricos sugere-se consultar a bibliografia adicional recomendada. Essas notas de aula dividem-se em três partes : (a) Parte I - Engenharia Hidrológica, (b) Parte II : Engenharia de Recursos Hídricos e (c) Parte III : Princípios de Gestão e Legislação de Recursos Hídricos. 7. Bibliografia Adicional Recomendada ♦ Engenharia de Recursos Hídricos. Linsley R. K. & J. B. Franzini, trad. Port. de L. A. Pastorino. Editora McGraw-Hill do Brasil, 798 p., 1978. ♦ Curso : Introdução à Gestão de Recursos Hídricos (apostila). Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazonia Legal. Belo Horizonte 18-22/08/1997. ♦ Hydrosystems - Engineering & Management. Mays L. W. & Y. Tung. McGraw- Hill, Inc., 530 p., 1992. ♦ Water Resources - Environmental Planning, Management and Development. Biswas A., McGraw-Hill, Inc., 737 p., 1996. Notas de Aula de Engenharia de Recursos Hídricos Parte 1 Engenharia Hidrológica Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 14 1. - FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA HIDROLOGIA 1.1 - HIDROLOGIA X ENGENHARIAHIDROLOGICA Hidrologia é a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação e distribuição, suas propriedades físico-químicas e suas reações com o meio ambiente e a vida sobre a Terra. Engenharia Hidrológica refere-se à parte da Hidrologia que trata das questões relativas ao planejamento, projeto e operação de obras de engenharia para controle e uso da água. Interfaces: Matemática , Probabilidade e Estatística , Hidraúlica , Meteorologia, Geologia , Geomorfologia , Geografia , Economia , etc. 1.2 - O CICLO HIDROLÓGICO Es ETP Ev Ev Ev P Inf Inf Ess Int Zona saturada Zona Aerada Substrato Impermeável Eb Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 15 1.3 - BREVE HISTÓRICO As primeiras obras hidráulicas datam da pré-história construídas à base de elementos puramente intuitivos. A concepção atual do CICLO HIDROLÓGICO teve evolução lenta ; Gregos e Romanos: • Sabiam que os oceanos são a fonte básica da água no globo terrestre • Não aceitavam a idéia de que a precipitação pode igualar ou exceder o escoamento • Teorias absurdas para justificar a existência de rios e fontes • Obras: Aquedutos Egípcios: • 4000 A.C. : barragem no rio Nilo para irrigação • 3000 A.C. : canal entre Cairo e Suez Mesopotâmia: • cidades tinham barreiras para proteção contra cheias. Chineses: • obras de irrigação e de proteção contra cheias. Marcus Vitruvius Pollio (100 A.C.) em “De Architectura Libri Decem” foi o primeiro a reconhecer o papel da precipitação no ciclo hidrológico, aproximadamente conforme a concepção atual. "Pont du Gard" Ponte sobre o rio Gardon, construida pelos romanos em 20 AC, nas proximidades da cidade de Nîmes, França. O andar superior de arcos era também um prolongamento de um aqueduto de cerca de 50 km de extensão e apenas 17 m de desnível, destinado ao abastecimento da antiga fortaleza romana de "Nemausus". Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 16 "Nora" - esquema de funcionamento da "nora", mecanismo descrito por Marcus Vitruvius Polio (“ De Architectura Libri Decem”) para retirar água de poços e rios. Leonardo da Vinci ( fim do sec. XV ) : entendimento correto do ciclo hidrológico, embora sem nenhuma quantificação de qualquer das variáveis do ciclo. Século XVIII : Pierre Perrault : instrumentos rudimentares e 3 anos de observações ⇒ vazão média do rio Sena = 1/6 precipitação; Mariotte : medições de vazões no rio Sena pelo processo área-velocidade; Halley : estimou a evaporação do Mar Mediterrâneo. Século XVIII : tubo de Pitot, teorema de Bernoulli, fórmula de Chézy. Século XIX : lei de Darcy, fórmula de Dupuit. Século XX : desenvolvimento da Hidrologia Científica. Brasil : recente ( impulso a partir da construção de grandes barragens ). 1.4 - O BALANÇO HÍDRICO A - Ciclo Simplificado Sem Sub-ciclos P − Q = dt dS S : armazenamento Superfície impermeável fechada, com exceção do ponto A P Q A Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 17 B - Ciclo Completo em uma Região P − Q − G − E − T = ∆S 1.5 - DADOS HIDROLÓGICOS Os dados hidrológicos são necessários para quantificar a precipitação, o escoamento superficial, a evaporação, a umidade do solo, a transpiração, a infiltração, a qualidade da água e outras variáveis componentes dos sistemas hidrológicos. Fonte de dados no Brasil: ANA (programa Hidroweb em www.ana.gov.br), CEMIG, CPRM, COPASA, SUDENE, INMET e outros. Q1 Es P Q2 Ts I G1 G2 rocha Eg Tg Rg Sg Ss Q1 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 18 1.6 - UNIDADES DE MEDIDA Vazões (águas superficiais) : l /s , m3 / s Vazões (água subterrânea) : l / min, l / h , m 3/ dia Volumes : m 3, 10 6 m 3, mm, (m 3 / s) . mês Altura de Chuva : mm, cm Intensidade de Chuva : mm / h Evaporação e Transpiração : mm, cm 1.7 - HIDROLOGIA NA ENGENHARIA Relacionada com o projeto e a operação de estruturas hidráulicas - Qual deve ser a vazão de enchente para o projeto de um vertedor de uma barragem? Para um bueiro de uma estrada? Para a drenagem pluvial de uma cidade? - Qual é a capacidade (volume) necessária para assegurar água para um projeto de irrigação? Ou para o abastecimento de uma cidade durante as estiagens? - Que efeito terão os reservatórios, diques e outras obras no controle das cheias de um rio? Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 19 2. - BACIA HIDROGRÁFICA 2.1 - FATORES QUE INFLUEM NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL Climáticos: Fisiográficos: Tipo da Precipitação Área de Drenagem Intensidade da Chuva Uso da Terra Duração da Chuva Cobertura Vegetal Distribuição da Chuva s/ Região Tipo de Solo Direção do Deslocamento do Temporal Forma e Drenagem Chuva Antecedente Distribuição do Relevo Umidade do Solo Antecedente Altitude Média Evaporação Comprimento do Rio Principal Transpiração Declividade da Bacia Outros Reservatórios Naturais/Artificiais 2.2 - ÁREA DE DRENAGEM Limites de uma bacia hidrográfica Princípio : O escoamento superficial se dá perpendicularmente às curvas de nível e o Divisor de Águas é uma linha ortogonal a essas curvas, partindo-se da seção transversal em questão ( posto fluviométrico) até o ponto mais alto da bacia. 414 + 405 + + 461 + 410 310 + 390 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 20 Se o solo da bacia é muito impermeável, os limites são os divisores de água topográficos. Se o solo é permeável, a bacia real pode diferir um pouco da bacia topográfica. Bacia Bacia Topográfica Real Na prática, são usados os limites topográficos. camada impermeável 2.2.A - EFEITO DA ÁREA NAS VAZÕES MÁXIMAS � Duas bacias sujeitas à mesma chuva BG BG BP BP A Q A Q > bacia grande � maior tempo de resposta maior armazenamento � Duas bacias sujeitas a chuvas diferentes BG BG BP BP A Q A Q >>> distribuição espacial de uma chuva curta e intensa cobrem uma pequena área, diminuindo a região de influência. � Q máx = c . A m c , m � regressão ( m < 1 )2.2.B - EFEITO DA ÁREA NAS VAZÕES MÍNIMAS Grandes bacias mantém mais a vazão durante os períodos de estiagem. 2.2.C - EFEITO DA ÁREA NAS VAZÕES MÉDIAS 1 1 m AcQ ⋅= Camada impermeável Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 21 2.3 - USO DA TERRA (agricultura, estradas, urbanização) Intercepção, Erosão, ETP 2.4 - COBERTURA VEGETAL K1 = coeficiente de vegetação = área com cobertura área total Intercepção, Erosão, ETP, Inundações 2.5 - TIPO DE SOLO Solo permeável � maior capacidade de infiltração menor escoamento superficial 2.6 - COMPRIMENTO DO RIO PRINCIPAL - L ( km ) L = L 1 . s L1 = comprimento medido no mapa s = coef. de sinuosidade 1,04≤ s≤1,25 2.7 - DECLIVIDADE DO RIO PRINCIPAL - d ( m / km , m / m ) d = L D 2.8 - DECLIVIDADE DA BACIA - I A L I c ⋅∆ = ∆ = diferença de cota entre as curvas de nível ( constante ) L c = comprimento total das curvas de nível na bacia A = área de drenagem Altitude (m) Distância da Nascente (km) D A A L Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 22 2.9 - DENSIDADE DE DRENAGEM - Dd A L Dd t= L t = extensão total dos cursos d’água existentes na bacia A = área de drenagem Quanto maior Dd , mais rápido é o escoamento ( sujeito a inundações ) 2.10 - FORMA DA BACIA Influi sobre a proporção em que a água chega ao rio principal. Coeficiente de Forma ( C f ) → 2L A C f = [ ≥ 1 : arredondada ; < 1 : alongada ] Coeficiente de Compacidade ( Cc ) → A P Cc ⋅ = 28,0 [ 1 : circular; >> 1 : alongada ] 2.11 - RELEVO - CURVA HIPSOMÉTRICA - ALTITUDE MÉDIA Altitude ( m ) Área ( km 2 ) Peso - wi Acumulado - ∑ wi > 150 A1 w1 = A1 / A w1 140 - 150 A2 w2 = A2 / A w1 + w2 130 - 140 A3 w3 w1 + w2 + w3 120 - 130 A4 w4 w1 + w2 + w3 + w4 110 - 120 A5 w5 w1 + ... + w5 100 - 110 A6 w6 w1 + ... + w6 < 100 A7 w7 w1 + ... + w7 = 1 ou 100 A 1 110 100 120 130 140 150 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 23 Altitude Média - Hm A HA H ii m ⋅ = ∑ Interpretação 1 - Declividade forte nas baixas altitudes ∑ wi � Vale de planície sujeito a inundações Altitude 2 - Declividade pequena e uniforme ∑ wi � Vale encaixado Altitude Σ wi Altitude 100 110 120 130 140 150 100% 50% Altitude Mediana Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 24 3. - HIDROMETEOROLOGIA 3.1- INTRODUÇÃO Variáveis do ciclo hidrológico normalmente medidas : precipitação, evaporação e descarga. Variáveis do ciclo e fatores intervenientes eventualmente medidos : ETP, temperatura do ar e da água, temperatura máxima e mínima, direção e velocidade do vento, intensidade e duração da radiação solar. 3.2 - SERVIÇO HIDROMETEOROLÓGICO NO BRASIL Responsabilidade: ANA/CPRM e INMET Serviços: Hidrometeorológico, hidrométrico, e qualidade da água Outros: CEMIG e outros. 385 Precipitação Marítima 1 Escoamento Subterrâneo 38 Escoamento Superficial 39 Umidade sobre o Continente 100 Precipitação Continental 61 Evaporação e Evapotranspiração Continentais 424 Evaporação Marítima Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 25 3.3 PRECIPITAÇÃO Definição : Precipitação é a descarga d’água (líquida ou sólida) proveniente da condensação do vapor d’água contido na atmosfera. Principais formas : Chuva ( gotas de 0,5 a 3 mm de diâmetro) Chuvisco ( gotas de 0,1 a 0,5 mm) Granizo ( gelo compactado) Neve ( cristais de gelo) Orvalho Formação da chuva : Frontal Convectiva Orográfica Medida da Precipitação : Se faz mediante observações puntuais, através de aparelhos chamados pluviômetros e pluviógrafos. 3.3.1 INSTRUMENTOS A - PLUVIÔMETRO Princípio : medida volumétrica da água recolhida sobre uma superfície horizontal de área determinada. Unidade : milímetros (mm) de tal forma que 1mm = 1 litro/m2 ( para isso, a superfície coletora e o volume obtido pela proveta graduada devem ser compatíveis). Tipos : vários. No Brasil usa-se o tipo "Ville de Paris". Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 26 Características : - Área de captação : 400 cm2 - Instalado a 1,5 m de altura do solo ( padronização brasileira) - Provetas de 7 e 25 mm com graduação em 0,2 mm - Precisão : 0,1 mm - Observações às 7h da manhã contabilizadas para o dia anterior Erros Possíveis : - Defeito de fabricação ( tamanho da superfície do coletor ) : ± 0,5 % - Evaporação da água recolhida : − 1 % - Vento pode chegar até 20 % - Árvores, construções, etc. B - PLUVIÓGRAFO Princípio : - É o mesmo do Pluviômetro com registro contínuo, permitindo portanto medir a intensidade da precipitação - Mecanismo de relojoaria mais registro gráfico, com a devida calibragem. Tipos : - Sifão - Báscula - Massa Pluviógrafo I.H. é do tipo de massa com sifão para descarregar a cada 10mm. 2 h 1,5 m h massa de mínima haste da pena suporte da haste da pena mesa massa de máxima limitador de balança estribo do suporte da haste da pena Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 27 Hora Precipitação (mm) Hora Precipitação (mm) Hora Precipitação (mm) 7-8 0000 15-16 3,03,03,03,0 23-24 0,60,60,60,6 8-9 0000 16-17 0000 24-1 0,40,40,40,4 9-10 0,40,40,40,4 17-18 1,41,41,41,4 1-2 2,32,32,32,3 10-11 0,20,20,20,2 18-19 5,25,25,25,2 2-3 0,50,50,50,5 11-12 1,51,51,51,5 19-20 2,82,82,82,8 3-4 0,40,40,40,4 12-13 3,13,13,13,1 20-21 0,40,40,40,4 4-5 1,41,41,41,4 13-14 6,06,06,06,0 21-22 3,43,43,43,4 5-6 5,45,45,45,4 14-15 5,05,05,05,0 22-23 3,03,03,03,0 6-7 1,01,01,01,0 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 1920 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 mm hora Pluviógrafo Us.Biogás colocado em 05/01/97 às 07 horas retirado em 06/01/97 às 07 horas Operador CEMIG Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 28 3.3.2 - VARIAÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO Geralmente, a precipitação cresce com a altitude. Em muitos casos, pode-se dizer que a chuva decresce de montante para jusante em uma bacia hidrográfica. Para diversos tipos de estudos hidrológicos, é necessária a determinação da chuva média na bacia. Chuva Média - Métodos ( intervalo de tempo : totais de chuva mensais e anuais ) Média Aritmética P P P P m = + +1 2 3 3 Método de Thiessen Área total = A p A A 1 1= p A A 2 2= p A A 3 3= Pm = p1 . P1 + p2 . P2 + p3 . P3 Método das Isoietas P Área Peso ( pi ) > 1500 A1 A1 / A 1400 - 1500 A2 A2 /A 1300 - 1400 A3 A3 /A 1200 - 1300 A4 A4 /A < 1200 A5 A5 / A A Pm = Σ pi . Pi P1 P2 P3 1300 1200 1400 1500 P1 P2 P3 A1 A2 A3 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 29 3.3.3 - PREENCHIMENTO DE DADOS FALTOSOS EM UM POSTO Métodos 1- Correlação com posto vizinho ( Regressão Linear Simples) 2- Método das 3 estações mais próximas ⋅+⋅+⋅= 3 3 2 2 1 13 1 P M M P M M P M M P xxxx onde Mi são as Médias de Longo Termo ( MLT) dos diversos postos. 3.3.4 - VERIFICAÇÃO DA HOMOGENEIDADE DE DADOS DE CHUVA Razões da não homogeneidade de dados de chuva : - crescimento da vegetação próxima - desmatamento nas proximidades - mudança na sistemática das observações - incoerência da proveta com o coletor, etc. Método : curva de dupla acumulação ("dupla massa") de TOTAIS ANUAIS Padrão Regional : 4 4321 PPPPP +++ = Pa : valor acumulado corrigido P0 : valor acumulado a corrigir Correção : 0P tg tg Pa ⋅= β α Σ P4 (ano a ano) Σ P (ano a ano) 69 68 67 66 65 64 63 62 α β Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 30 3.4 - EVAPORAÇÃO E TRANSPIRAÇÃO 3.4.1 - INTRODUÇÃO A evaporação das superfícies líquidas e a evapotranspiração (evaporação da água das camadas superficiais do solo, da água armazenada pela intercepção e da água que retorna à atmosfera sob o processo da transpiração ) representam conjuntamente um processo muito importante do ciclo hidrológico. Numa escala continental, cerca de 75 % da precipitação anual total retorna à atmosfera por evaporação e transpiração (Linsley et al., 1975). Geralmente, faz-se a distinção entre a ETP potencial e a ETP real . A ETP potencial é definida como uma perda d’água da bacia, entendendo-se que, a todo instante, o solo pode fornecer a água necessária as plantas. Sob condições máximas do teor de umidade do solo a ETP potencial pode ser igual à evaporação de superfícies líquidas. Por outro lado, diferenças muito significativas podem existir entre a ETP real e a ETP potencial particularmente durante os períodos secos ou em regiões áridas. 3.4.2 - EVAPORAÇÃO Resultado da Radiação Solar + Turbulência + Umidade Contida No Ar Fatores intervenientes : - temperatura do ar e da água - umidade relativa do ar - vento - radiação solar - pressão atmosférica Umidade Relativa do Ar - U Definição : O grau de umidade relativa do ar atmosférico é a relação entre a quantidade de vapor d’água presente no ar e a quantidade de vapor se este ar estivesse completamente saturado de umidade. Unidade : %. As quantidades acima são expressas em pressão de vapor (mm de Hg ou mb). A umidade do ar pode ser medida através dos psicrômetros. Fórmula Psicrométrica : e = est’ − Ap ( t − t’ ) e → p.v. parcial a t oC (mm de Hg) est’ → p.v. saturante a t oC (mm de Hg) Ap → constante psicrométrica ≅ 65 x 10 -5 c/ vent. forçada Psicrômetro : entramos com t e t’ nas tabelas psicrométricas e obtemos U em % . ~ ~ ~ ~ ~ V vento > 2,5 m/s t ' t Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 31 3.4.3 - EVAPORIMETRIA A evaporação aumenta com : - a temperatura do ar e da água - a velocidade do vento - a radiação solar - a diminuição da umidade relativa do ar - a diminuição da pressão A evaporação pode ser medida através de 2 tipos de aparelhos : os atmômetros e os tanques evaporimétricos. Unidade : mm. Tanques Evaporimétricos : são recipientes achatados, em forma de bandeja, de seção quadrada ou circular, enterrados ou não, com água no seu interior e instalados próximos à massa d’água cuja intensidade de evaporação se quer medir ( ou flutuando sobre a própria massa d’água ). No local, deve-se medir também a temperatura, a velocidade e direção do vento, a umidade relativa e a precipitação. O tanque mais usado é o classe A do U.S. Weather Bureau. Descrição : Instalação : Obs : para cálculo da evaporação em reservatórios, em função de sua maior inércia, deve-se corrigir a evaporação medida no tanque por um fator inferior a 1. No tanque classe A : k = 0,7 a 0,8. tanque pluviômetro Planta → 122 cm 25,4cm 15 cm 5cm Poço tranquilizador micrômetro Estrado de madeira Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 32 3.4.4 - EVAPOTRANSPIRAÇÃO ( E T P ) A evapotranspiração é a grosso modo, a quantidade de água exigida pelas culturas para levá-las à maturidade. Esta quantidade de água fica armazenada nos tecidos da planta ou é convertida em vapor, retornando à atmosfera onde ela se reintegra ao ciclo hidrológico. Fatores que afetam a ETP : a radiação solar, o vento, a umidade relativa, a pressão atmosférica, as características do solo e diversos fatores vegetativos. Fatores Vegetativos ( Transpiração ) : O tipo, a coloração, a densidade e o período de crescimento da planta afetam, a exposição, a distribuição e a refletividade da radiação solar, bem como a turbulência do ar. Inversamente, estes elementos afetam a abertura dos estômatos das diversas plantas de formas diferentes, alterando a transmissão da água de seus sistemas radiculares até as folhas. Além disso, as plantas têm períodos de crescimento diferentes, variando portanto suas exigências sazonais de água. Características do Solo ( Evaporação do Solo ) : Quando a camada superficial do solo está úmida, a evaporação é regida pelas condições atmosféricas. Quando ela se torna seca, a evaporação diminui rapidamente e começa a ser governada pelas propriedades do solo como : a umidade relativa do ar no solo, a composição, textura, granulometria e umidade presente neste solo e sua condutividade hidráulica. Métodos para a avaliação da ETP : • Evapotranspirômetros (ETP potencial) ou Lisímetros (ETP real) • Balanço Hídrico a nível da bacia (ETP real) • Correção dos dados de tanques evaporimétricos (ETP potencial) • Métodos teóricos (ETP potencial) � Evapotranspirômetros e Lisímetros A evapotranspiração potencial pode ser medida através de aparelhos denominados evapotranspirômetros, cujo princípio de funcionamentoencontra-se esquematizado na figura a seguir. Com relação a essa figura, se P representa a precipitação (ou o volume de irrigação expresso em altura equivalente) tal que o teor de umidade do solo seja mantido à sua capacidade máxima (capacidade de campo), então é válida a expressão ETP P Spot = − Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 33 onde S representa o volume medido de água drenada por gravidade. Sem a aplicação de chuva artificial, isto é se o teor de umidade do solo puder se deplecionar livremente até mesmo abaixo do ponto de murchamento permanente, o evapotranspirômetro (ou lisímetro, no caso presente) irá medir a evapotranspiração real ou efetiva. � Correção dos dados de tanques evaporimétricos Muitas pesquisas ( exterior ) foram realizadas na tentativa de se estimar a ETP potencial a partir da correção dos dados do tanque evaporimétrico classe A . Exemplo : Exemplo : No Canadá � cultura : trigo, coeficiente = 0,66 cultura : beterraba, coeficiente = 0,54 � Métodos Teóricos A deficiência de dados básicos e as dificuldades para medições de campo, levaram muitos pesquisadores a estabelecer equações teóricas visando estimar a ETPpotencial a partir de dados climatológicos e meteorológicos disponíveis. Equações mais conhecidas : Hedke, Lowry-Johnson, Blaney-Criddle, Thornthwaite, Penman, Penman-Monteith, Hargreaves e Turc. (ver “Handbook of Hydrology “ - Maidment, ed.). Capacidade de Campo P S Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 34 Equação de Penman : Penman (1948) combinou as equações de transferência de energia e de massa no desenvolvimento de sua fórmula para o cálculo da evaporação de um corpo d’água. A fórmula de Penman pode ser expressa da seguinte forma : 1+ + = α α an EEE (1) onde E é a intensidade de evaporação em cm/dia, Ea representa a intensidade de evaporação em cm/dia devida às trocas de massa, En a intensidade de evaporação em cm/dia devida à transferência de energia e α é um fator de ponderação. O termo En pode ser avaliado por v n n H Q E ρ = (2) onde Qn simboliza a radiação solar líquida, medida por aparelhos chamados radiômetros e expressa em cal/cm2/dia, ρ é a massa específica da água em g/cm3 e Hv é o calor latente de vaporização em cal/g. O termo Ea pode ser calculado pela expressão ( ) −+= 100 100 00016,0013,0 2 U evE sa (3) na qual, v2 é a velocidade do vento medida a 2 metros acima da superfície e expressa em km/dia, es é a pressão de vapor de saturação em milibares, à temperatura do ar T °C, e U é a umidade relativa do ar. O fator de ponderação α é uma função da temperatura do ar T (°C) e dado por ( ) 66,0 8912,000815,0 7+ = T α (4) Exemplo : Calcular a intensidade de evaporação pela fórmula de Penman para as seguintes condições atmosféricas : temperatura do ar T=28°C, radiação solar líquida Qn=670 cal/cm2/dia, velocidade do vento v2=180 km/dia e umidade relativa do ar U=82%. Solução : -cálculo da pressão de vapor de saturação es Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 35 10 30 50 0 20 40 TEMPERATURA (graus Celsius) 20 60 100 0 40 80 120 P R E SS A O D E V A P O R D E S A T U R A C A O ( m ili ba re s) TTo e E Com T=28°C no gráfico ⇒ es=37,38 mb -cálculo de Ea Equação (3) ⇒ Ea=0,284 cm/dia -cálculo de Hv supondo que a temperatura da água é a mesma do ar, Hv=597,3-0,564T = 581,51 cal/g -cálculo de En Equação (2) com ρ=1g/cm3 ⇒ En=1,152 cm/dia -cálculo de α Equação (4) ⇒ α=3,337 -cálculo de E Equação (1) ⇒ E=0,952 cm/dia ou 9,52 mm/dia Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 36 4. - MÉTODOS ESTATÍSTICOS ELEMENTARES 4.1 - INTRODUÇÃO Variáveis aleatórias são aquelas governadas pela chance, não podendo ser previstas com certeza, mas somente em termos probabilísticos. A maioria das variáveis hidrológicas são aleatórias. As variáveis aleatórias podem ser discretas ou contínuas. Discretas : só podem assumir valores inteiros. Ex.: número de dias chuvosos em um ano Contínuas : podem assumir qualquer valor numérico real em um intervalo. Ex. : vazões médias diárias de um rio em uma determinado seção fluvial m no de ocorrências de determinado evento Frequência relativa : f = = N no total de ocorrências f p se N → ∞ FUNÇÃO DENSIDADE ou ∆x → 0 DE PROBABILIDADE população com p f N = →∞ lim HISTOGRAMA ∆x x x intervalo de classe Frequência acumulada : Σ f ( soma acumulada para cada intervalo de classe ) F = Σ f 0 ≤ P ≤ 1 se N → ∞ P ou ∆x → 0 população com ∫ ∞ ∞− ⋅= dxpP FUNÇÃO ACUMULADA 0 ≤≤≤≤ F ≤≤≤≤ 1 DE PROBABILIDADE ∆x X X 1 1 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 37 Exemplo de Distribuição de Probabilidade : Distribuição NORMAL ou de GAUSS p P 1 → ∫ ∞− x x x média = moda = mediana ( ) ( ) dxexXxF x X x ∫ ∞− − − =≤Ρ= 2 2 1 2 1 )( σ µ πσ condição de simetria Função Densidade de Probabilidade Normal Função Acumulada da Distribuição Normal 4.2 - ALGUMAS DEFINIÇÕES Uma variável hidrológica ou meteorológica pode ser representado por uma variável aleatória. Na maioria dos problemas de inferencia estatística, supõe-se que uma AMOSTRA de observações da variável em estudo possui uma distribuição de freqüência análoga à função densidade de probabilidade da POPULAÇÃO [p(x)].A integração da função densidade de probabilidade p(x) [ou f(x)] define a função acumulada de probabilidade ou função de repartição P(x) [ou F(x)] da variável ( ) ( ) ( )∫ ∞− ⋅=≤= x dxxfXxPxF 1 Freq f(x) →∫ P(x ≤ X) 0 x 0 0 X x Densidade de Probabilidade Função Repartição 0,5 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 38 A função de repartição F(x) de uma variável aleatória contínua fornece para qualquer x , a probabilidade de que X seja menor ou igual a x e [1 - F(x)] indica a probabilidade de que X seja maior do que x. Inversamente, a partir de F(x) pode-se obter o valor de X correspondente. 4.2.1 - PARÂMETROS ESTATÍSTICOS As distribuições de probabilidade podem ser descritas pelos seus parâmetros (e.g.: µ e σ para a distribuição normal), os quais são funções das características de tendência central, variabilidadee assimetria, entre outras. 4.2.1.1 - CARACTERÍSTICAS DE TENDÊNCIA CENTRAL Média : População � µ = ( ) ( ) xxfxX X dE ∫ ∞ ∞− = Amostra � N x x Σ = Moda : valor de x que possui a máxima probabilidade ou dp/dx = 0 e d2p/dx2 < 0 Mediana : valor de x para o qual as probabilidades de ocorrência de valores superiores e inferiores são as mesmas e iguais a 50 %. 4.2.1.2 - CARACTERÍSTICAS DE VARIABILIDADE Desvio-Padrão da População : ( ) ( ) ( ) 2 2 ddVar −== ∫∫ ∞ ∞− ∞ ∞− xxfxxxfxX XXσ Desvio-Padrão da Amostra : ( ) − Σ − = − −Σ = 2 22 11 x N x N N N xx S Coeficiente de Variação : x S Cv ≈= µ σ f (x) σ = 1 σ = 3 0 X = x - µ Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 39 4.2.1.2 - CARACTERÍSTICAS DE ASSIMETRIA f f f Média = Moda = Mediana x Moda ≠ Mediana ≠ Média x Média ≠ Mediana ≠ Moda x Distribuição Simétrica Distribuições Assimétricas Coeficiente de Assimetria da População : ( )2 3 E µ µ γ − = X com ( )33 E µµ −= X Coeficiente de Assimetria da Amostra : ( )( ) +⋅ Σ − Σ ⋅ −− = xx N x N x NN N g 23 21 232 Se a população pudesse ser completamente amostrada, a distribuição da variável aleatória seria totalmente conhecida pelos seus parâmetros. Os parâmetros das distribuições são funções das medidas populacionais de posição, escala e forma da variável aleatória. µ - média da população ( associada ao parâmetro de posição de uma distribuição) σ - desvio padrão da população ( associado ao parâmetro de escala de uma distribuição) γ - coeficiente de assimetria da população ( associado ao parâmetro de forma de uma distribuição) Na prática, a população não é totalmente conhecida e as conclusões quanto às características distributivas devem ser extraídas a partir da amostra. Exemplo : Série xi : x1 , x2 , x3 , . . . , xn ⇒ Estimadores: Média: n x x n i∑ = 1 Desvio Padrão : ( )∑ −− = n ix xx n S 1 2 1 1 Coeficiente de Assimetria : ( )( ) ( )∑ −⋅−− = n i xx nn n g 1 3 21 γ = 0 γ > 0 γ < 0 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 40 4.3 - REGRESSÃO E CORRELAÇÃO Algumas variáveis podem ser DEPENDENTES entre si e, entretanto, não serem ligadas por uma relação funcional ou determinística (exemplo de uma relação funcional : variação da quantidade de calor fornecida com a elevação da temperatura de um corpo de massa m e calor específico c ou Q = m.c.∆t) . No primeiro caso, as variáveis podem estar associadas por uma relação correlativa e diz-se que elas são ESTOCASTICAMENTE dependentes. Exemplo: o escoamento de uma bacia depende estocasticamente de inúmeras variáveis, tais como precipitação, temperatura, umidade do solo, cobertura vegetal, relevo, geologia, etc.. Uma relação funcional ou determinística, tal como Q = f ( P, T, H, γ, R,G ), é impossível. A teoria da regressão e correlação visa determinar a melhor RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA entre as variáveis e estabelecer qual é o GRAU dessa dependência estocástica. Utilização das técnicas de regressão e correlação em hidrologia : - curva-chave Q = a . ( H - Ho ) n a = ? n = ? - extensão de séries - previsão hidrológica - regionalização hidrológica Sejam duas variáveis aleatórias X e Y , das quais conhecemos suas amostras de tamanhos n e m respectivamente : X x1 x2 x3 . . . xn Obs: As ocorrências x i , y i são simultâneas ou tomadas Y y1 y2 y3 . . . yn . . . ym no mesmo intervalo de tempo Existem 2 problemas diferentes a analisar: 1o ) Problema Estatístico ou da CORRELAÇÃO Qual é o grau da dependência estocástica entre x e y ? ou Qual é o coeficiente de correlação R entre x e y ? 2o ) Problema Geométrico ou da REGRESSÃO Qual é a melhor relação entre x e y ? ou Qual é o lugar geométrico dos pontos ( xi , yi ) que tornam mínimos os desvios entre os pontos observados e estimados ( yi - yestimado ) ? Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 41 Y Y → variável dependente ou explicada Y = a.X + b X → variável independente ou explicativa ( yi - yestim ) ou ( yi - ) yi ) Y = a X + b → Modelo da regressão (R.L. Simples) X 1o Problema : R = ? 2o Problema : a = ? b = ? Observações relativas ao coeficiente de correlação R − 1 ≤ R ≤ 1 Y Y R = 0 → não existe correlação R > 0 R < 0 R = 1 a relação é funcional R = − 1 X X Requisitos estatísticos necessários para a corrrelação e regressão : 1 - os desvios da variável dependente Y em relação à reta de regressão ( para cada x ) são normalmente distribuídos e sua variância é constante ao longo de X. (var. hidrológicas) 2 - os valores de X são conhecidos sem erros significativos. ( ± ) 3 - os valores de Y são autocorrelacionados. Dependem do ∆t. 4 - as duas variáveis são homogêneas. OK Modelos de Regressão : Linear : Y = a . X + b Simples Não Linear : Y = a . X b Linear : Y = a . X + b . Z + c . T + ... Múltipla Não Linear : Y = a . X m . Z n . T p Seqüência para a Regressão Simples : 1- agrupar as 2 amostras convenientemente, 2- existe sentido físico ? 3- plotar os pontos ( x , y ) 4- escolher o modelo de regressão, ou seja a forma da equação 5- resolver matematicamente o problema 6- verificar se os resultados estão de acordo com os princípios físicos Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 42 Modelo a ser estudado: REGRESSÃO LINEAR SIMPLES Y = a . X + b a = ? b = ? R = ? Resolução : zi = yi − (axi + b) Para evitar que zi > 0 e zi < 0 distorça a medida dos desvios , eleva-se ao quadrado : zi 2 = [ yi − ( a xi + b )] 2 Para n pontos zi : ( )[ ]∑∑ == +⋅−== n i ii n i i bxayzZ 1 2 1 2 Z é uma função de a e b . Quando Z passar por um ponto de mínimo (soma dos quadrados dos desvios é mínima ), os coeficientes a e b, nesse ponto, serão os que definem a reta que melhor se ajusta. Portanto, condição de mínimo : 0= a Z ∂ ∂ e 0= b Z ∂ ∂ Resolvendo o sistema de duas equações e duas incógnitas, ( )22 ii iiii xxn yxyxn a Σ−Σ⋅ Σ⋅Σ−⋅⋅ = ∑ e ( )22 2 ii iiiii xxn yxxxy b Σ−Σ⋅ ⋅⋅Σ−Σ⋅Σ = ∑ Cálculo do coeficiente de correlação R Y R 2 = variância explicada Coef. de Determinação variância total ( ) ( )2 2 2 ˆ yy yy R i i −Σ −Σ =X 2RR ±= Coef.de Correlação ( )( ) ( ) ( )[ ]∑ ∑ ∑ ∑∑ − ∑ ∑− − = 2222 ii iiii yyn i x i xn yxyxn R y y iˆ yi Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 43 Obs: O coef. de correlação R é igual tanto para Y = a .X + b como para X = c.Y + d Obs: Se a regressão fosse X = c.Y + d , teríamos : ( )22 yyn yxyxn c Σ−Σ⋅ Σ⋅Σ−⋅⋅ = ∑ e ( )22 2 yyn yxyyx d Σ−Σ⋅ ⋅⋅Σ−Σ⋅Σ = ∑ Transformação de Variáveis Q = a . H n → log nos 2 membros da equação H log Q = log a + n . log H z m t ou z = m + n . t → Regressão Linear Simples Q 5. - F L U V I O M E T R I A 5.1 - INTRODUÇÃO Princípio : As séries de vazões são obtidas indiretamente. 0 1000 2000 3000 4000Descarga 0 2 4 6 8 10 C ot a Q h RN1 RN2 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 44 5.2 - POSTO FLUVIOMÉTRICO Requisitos : • permitir as observações dos níveis d’água em qualquer época do ano; • permitir condições favoráveis para a realização de medições de descargas; • permitir a boa definição da curva chave. Medições de Cotas Medições de Descargas Cotas Linimétricas (7 e 17 h) ou Cotas Linigráficas (contínuas) Medições Simultâneas de Cotas e Descargas [ hi , Qi ] Cotas Médias Diárias - Estação _______ Ano ___ Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- Med Max Min Cota Descarga Descargas curva chave PI PF observador seção das réguas linígrafo seção de medição seção de controle Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 45 Para isso, é preciso que : • a estação localize-se em trecho reto e sem obstáculos; • a seção de medição seja mais ou menos simétrica, com taludes de declividade acentuada; • a seção de medição apresente distribuição regular de velocidades; • a velocidade média na seção seja superior a 0,3 m/s; • as características físicas do trecho a jusante da seção das réguas assegurem a estabilidade da relação cota-descarga (curva chave); • haja acesso fácil, rápido e permanente ao local; e • exista no local um morador que possa efetuar as leituras de cotas de forma permanente e consciente. O conjunto das estações fluviométricas/fluviográficas de uma região constitui a rede fluviométrica. 5.3 - MEDIÇÕES DE COTAS OU NÍVEIS D’ÁGUA Cotas Linimétricas : • duas leituras às 7 e 17 horas; • a cota média diária é a média aritmética das cotas de 7 e 17 horas; • as réguas linimétricas são niveladas periodicamente, partindo-se das cotas dos RN’s; • é usual estabelecer-se a cota altimétrica do zero das réguas, a partir de amarração a um RN altimétrico próximo. 0 1 1 2 2 3 3 4 RN1 : 0,328 m RN2 : 3,659 m h = 2,22 Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 46 Cotas Linigráficas : Linígrafo de Flutuador : permite o registro gráfico contínuo da variação de cotas. Esse registro é chamado linigrama, a partir do qual se obtem as cotas médias diárias, além das cotas máximas e mínimas para durações inferiores ao dia. Tomada d’água Tanque de descarga Linigrama Polia Contrapeso Flutuador Válvula Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 47 5.4 - MEDIÇÕES DE DESCARGAS Métodos : • vertedores ou calhas medidoras ; • diluição de traçadores químicos ou radiativos = c C qQ ; e • área-velocidade. Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 48 Princípio do Método Área-Velocidade : Largura : 0 ≤ x ≤ L Profundidade : 0 ≤ y ≤ p(x) Área da seção de medição : ( )∫= L dxxpA 0 Velocidade média na seção de medição : ( ) ( ) ( ) dydxyxv xpL V L xp , 11 0 0 ∫ ∫= Descarga na seção de medição : VAQ= Na prática : • selecionam-se verticais espaçadas de distâncias conhecidas; • medições puntuais de velocidade são efetuadas através de molinetes posicionados em pontos escolhidos ao longo da profundidade de cada vertical; • determina-se a velocidade média em cada vertical, a qual é suposta ser representativa de um setor de área da seção transversal; Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 49 • determina-se a descarga do setor de seção, multiplicando-se sua velocidade média pela área do setor; e • determina-se a descarga da seção transversal somando-se todas as descargas setoriais. A medição pode ser feita a vau, a barco, a balsa, com carro aéreo ou sobre pontes. O molinete permite a medição da velocidade em qualquer ponto da vertical. É usual medir- se as velocidades a 20 e a 80% da profundidade, Nesse caso, a velocidade média na vertical é tomada como a média aritmética de V0,2 e V0,8. Quando a profundidade é pequena, a velocidade média é tomada igual à velocidade puntual V0,6. lastro molinete cabo fluviométrico conta-giros guincho fluviométrico V0,2 V0,8 0,2p 0,8p p Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 50 Cálculo da Descarga na Seção Transversal : Área no setor i : + = − 2 1 ii ii ll pA m 2 Velocidade média no setor i : 2 8,0,2,0, ii i VV V + = m/s Descarga no setor i : iii VAq = m 3/s Descarga total na seção : ∑ = = n i iqQ 1 m3/s 5.5 - C U R V A C H A V E Depois de algum tempo de operação do posto, quando já se tem um número razoável de medições de descarga (e as leituras de cotas no momento em que elas foram feitas ), devidamente espaçadas no tempo e ao longo da amplitude de variação das cotas, é necessário definir a relação COTA - DESCARGA ou CURVA CHAVE ou ainda CURVA DE CALIBRAGEM, necessária para a transformação das leituras de nível d’água (cotas) feitas pelo observador (ou do linígrafo) em descargas. A curva chave depende do controle do posto fluviométrico. 1 2 3 i - 1 i i+1 n . . . . . . . . . PI PF D2 D1 l1 l2 l i-1 l i V p2 2, V p3 3, V pi i, Di Engenharia de Recursos Hídricos – Notas de Aula Mauro Naghettini 51 Controle : Conjunto de características físicas ( leito, configuração, forma, etc.) do trecho a jusante do posto, que governa a relação cota - descarga ou curva-chave. natural : cachoeira ou trecho de corredeiras ( controle da prof. crítica ) Controle artificial : vertedouro, ponte ou outra estrutura Na ausência dos dois, o controle pode ser o canal a jusante ou simplesmente a resistência à vazão exercida pelo trecho de jusante. Exemplos : 2323)(
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