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Teoria Geral do ProcessoTeoria Geral do Processo Parte V – Do processoParte V – Do processo Juliano Carneiro Veiga juliano.carneiro@soebras.edu.br 2.4.1 Conceito de Processo: a) Teoria da norma jurídica: processo significa o modo pelo qual se produz uma norma jurídica (processo legislativo, administrativo e jurisdicional) Obs: o processo jurisdicional produz duas espécies normativas: i) norma que regula o caso concreto; ii) precedente – norma geral para casos futuros semelhantes. b) Teoria do fato jurídico: processo é um conjunto de atos e fatos concate- nados (organizados) entre si, tendentes à produção de um ato final. Obs: é um ato jurídico complexo – soma de vários atos (ex: distribuição + citação, etc) c) Eficácia jurídica: processo é um conjunto de relações jurídicas travadas entre os diversos sujeitos processuais, surgidas em razão dos atos proces- suais. 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.1 Conceito de Processo: Em resumo, processo é um ato jurídico complexo cujo objetivo é a produ- ção da norma jurídica e que gera o surgimento de diversas relações jurí- dias entre os sujeitos do processo. Obs: todo processo traz em seu conteúdo um problema de direito material a ser resolvido (direito afirmado em juízo). Assim, a função do processo é resolver problemas de direito material (sentido do direito processual). Por isso, fala-se em instrumentalidade do processo = serve para realizar, concretizar, efetivar o direito material. Da mesma forma, o direito material também serve ao processo – orienta e dá a ele o seu sentido (relação circular/mutualismo entre processo e direito material) 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.1 Conceito de Processo: Relembrando: o processo deve ser construído de acordo com as normas de direitos fundamentais (dimensão objetiva – observar o contraditório, ampla defesa, insonomia, imparcialidade, juiz natural, vedação à prova ilí- cita, motivação, publicidade, duplo grau de jurisdição, etc). Além disso, o processo deve ser adequado para bem tutelar os direitos fundamentais (sentido subjetivo – ex: alimentos = procedimento específico – Lei 5478/68; execução = satisfação, não muita discussão; conhecimento = regras para maior debate; JESP = simplicidade – não perícia complexa – ver art. 35 da Lei 9.099/95 e art. 10 da Lei 12.153/09 – apenas inspeção/exame técnico) Devido processo legal: limitação ao exercício do poder – ninguém será privado de sua liberdade, de seus bens ou de seus direitos, sem a observância do devido processo legal (art. 5º, LIV, CR) – de acordo com o procedimento estabelecido em lei e com a observância das garantias fundamentais (conquistas históricas – devido processo legal é a sentinela da nossa liberdade, o vigia contra qualquer forma de tirania) 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.2 Modelos de Processo: O devido processo legal estabelece um modelo de processo a ser seguido no Brasil (estruturação do processo). No mundo ocidental, há dois gran- des modelos de processo: a) Processo inquisitivo ou inquisitorial: caracteriza-se por uma predomi- nância/protagonismo do papel do juiz no processo, sobretudo na condu- ção do processo; b) Processo dispositivo ou adversarial: o protagonismo é das partes, ao juiz cabe apenas a tarefa de julgar (expectador) OBS: essa divisão é feita de acordo com a distribuição e organização das tarefas processuais entre juiz e partes. 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.2 Modelos de Processo: PROBLEMA: não há sistema puro – há manifestações de ambos os mode- los, sendo avaliada a predominância de características: i) a quem cabe a iniciativa do processo? (em regra, a parte) ii) Quem define o mérito – o que será julgado? (em regra, a parte) iii) O juiz pode determinar a produção de provas de ofício? iv) O juiz tem poderes de gestão do processo? 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.2 Modelos de Processo: A doutrina discorre sobre dois princípios: i) princípio inquisitivo: regra que atribui ao juiz um poder que vai além do poder de julgar (ex: produção de provas ex officio – art. 370 do CPC) ii) princípio dispositivo: regra que limita o poder do juiz à vontade das partes (ex: vinculação ao pedido – não pode julgar extra petita (fora do pedido), ultra petita (além do pedido) ou citra petita (aquém do pedido) - ver art. 141 do CPC) Qual modelo o Brasil adota? Para alguns autores, aproxima-se do modelo inquisitivo, uma vez que o juiz pode determinar a produção de provas de ofício, escolher como executar sua decisão, etc. (ver arts. 139, 370, 385, 461, 464, 2º, 480, 536) 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.2 Modelos de Processo: Atenção - Garantismo Processual: Concepção filosófica que defende um modelo de processo dispositivo, partindo da premissa de que qualquer poder do juiz, além do poder de julgar, é manifestação de autoritarismo e, portanto, é necessário proteger as partes desse protagonismo judicial. Assim, é preciso depurar o proces- so do excesso de poderes dados ao juiz (processo = duelo entre partes) 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.2 Modelos de Processo: OBSERVAÇÃO - Ativismo judicial: a) ativismo material = proliferação de normas abertas que reforçam os poderes do judiciário b) ativismo processual = incremento/reforço dos poderes do juiz na con- dução do processo OBS: constuma-se associar a expressão ativismo judicial à ampliação da participação do Poder Judiciário na concretização de valores constitucionais, por meio de uma interpretação que expande seu sentido e alcance, ocasionando, por consequência, maior interferência no âmbito de atuação dos demais poderes – executivo e legislativo. Cf: STF, ADC 12 – súmula vinculante 13. OBS: não confundir ativismo judicial com judicialização da política (esco- lhas em relação à formulação de políticas públicas) 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.2 Modelos de Processo: c) modelo cooperativo de processo: atualmente, fala-se no surgimento de um terceiro modelo de processo, mais adequado a países democráticos. O modelo cooperativo caracteriza-se por não haver protagonismos na condução do processo (condução compartilhada), regida pela boa-fé e pelo contraditório, envolvendo todos os sujeitos processuais. Neste, o protagonismo do juiz se revela apenas no momento de julgar. Princípio da cooperação: estrutura o modelo cooperativo de processo. resulta da soma do princípio democrático, do devido processo legal, da boa-fé e do contraditório. Para muitos autores, que não trabalham apenas com o binômio anterior, esse seria o modelo do direito brasileiro (art. 6º do CPC) – ver aula sobre as Normas Fundamentais, em especial sobre o dever de esclarecimento, dever de prevenção e dever de consulta, que estruturam o modelo de cooperação 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.3 História das teorias do Processo: As leis processuais não são produzidas aleatoriamente, sendo orientadas por diferentes teorias concebidas ao longo da história do direito 1ª) Teoria do processo como contrato: criada por Pothier, apresenta ca- racterísticas privatistas – “processo é um instrumento de aceitação pelas partes da atuação do juiz”. Assim, radicaliza-se o requisito da inércia, exigindo que o juiz só atue se todas as partes estiverem de acordo com sua atuação (contrato = ajuste prévio e expresso das partes) 2ª) Teoria do processo como quase-contrato: criada por Savigny, enten- dia que o processo é um contrato atípico, uma vez que o juiz, em nome do Estado, poderia determinar o comparecimentodo réu em juízo, sob as penas da lei. O contrato (tácico) ocorreria apenas após o ingresso em juízo e se o réu comparecesse. 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.3 História das teorias do Processo: 3ª) Teoria do processo como relação jurídica: criada por Bülow, conce- dia o processo como uma relação jurídica formada entre 03 pessoas – o juiz, o autor e o réu. Adotada pela escola instrumentalista do processo, que entende que o processo é um instrumento da jurisdição – atividade pessoal do juiz que possui diversos poderes para realizá-la, colocando as partes em uma posição de subordinação em relação ao órgão judicante. 4ª) Teoria do processo como situação jurídica: criada por Goldschmidt, concebe o processo como um jogo/duelo entre as partes para sensibilizar o juiz - quem argumentar melhor sairá vencedor, enquanto o vencido deve arcar com os ônus da sucumbência. O processo, assim, traduziria a situação de um direito (material) em lide – res in judicium deducta. 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.3 História das teorias do Processo: 5ª) Teoria institucionalista do proceso: idealizada por Guasp, concebe o processo como uma instituição – conjunto de condutas que se articulam pela jurisdição do juiz (comandante da relação processual). O julgador personifica os valores morais e éticos da sociedade. O processo, portanto, é o meio institucional de transportar esses valores para fundamentar uma decisão que resolve um conflito. 6ª) Teoria do processo como procedimento em contraditório: criada por Fazzalari, concebe o processo como uma espécie de procedimento que se desenvolve em contraditório entre as partes, em simétrica paridade, na preparação do provimento final (diferencia do procedimento, entendido como o gênero do qual o processo é espécie – só há processo quando houver litígio e contraditório entre as partes. * Leitura recomendada: GONÇALVES, Aroldo Plínio. Técnica Processual e Teoria do Processo. 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 2.4.3 História das teorias do Processo: 7ª) Teoria constitucionalista do processo: desenvolvida por vários autores simultaneamente – Fix-Zamudio (México), Couture (Uruguai), Andolina (Itália) e Baracho (Brasil). Sustentam a inclusão do instituto jurídico do processo no texto constitucional como direito fundamental, migrando da infraconstitucionalidade para o nível constitucional. 8ª) Teoria neoinstitucionalista do processo: idealizada por Rosemiro Leal, concebe instituição como um conjunto de princípios auto-discursivos: contraditório, ampla defesa e isonomia, que devem ser observados na criação, atuação, aplicação, modificação e extinção das leis. Possibilita, assim, uma fiscalidade ampla, irrestrita e incessante dos destinatários normativos, bem como a atuação dos direitos fundamentais assegurados no texto constitucional. Essa teoria considera povo o conjunto de legitima- dos ao processo – constrói e adquire a sua própria cidadania – direitos de 1ª geração – à fala/argumentação e à criação das instituições jurídicas. 2. Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14
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