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Cap1-Snowdon & Vane (2005)

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Capítulo 1 – “Understanding modern macroeconomics” 
 
 
O capítulo 1 trata das questões e ideias macroeconômicas que diz respeito a 
estrutura, comportamento e desempenho de uma economia como um todo. A 
macroeconomia analisa principalmente agregados como PIB, desemprego, inflação e 
transações internacionais, verificando linhas de tendências e impactos de curto prazo e 
suas flutuações. Estas questões são de extrema importância, pois são instrumentos que 
os políticos utilizam para conduzir a economia e afetam todo o bem-estar da sociedade, 
portanto a escolha de quais instrumentos utilizar afetam muito o campo político 
 Principalmente em países liberais e democráticos. Esses instrumentos são 
baseados em teorias e modelos que surgem da necessidade de explicar a realidade 
através de estruturas lógicas e demonstrações de como a economia opera, abstraindo-se 
algumas informações. Quando a evidência empírica contradiz e, portanto, invalida uma 
teoria e ela deixa de explicar satisfatoriamente a realidade, novas teorias e modelos 
surgem criando novos instrumentos. Pode-se observar períodos na história em que 
teorias bem aceitas falharam, criaram-se novas teorias que também foram bem 
difundidas e que ainda falharam. O debate e a oposição das ideias a respeito da 
economia levaram ao aperfeiçoamento de modelos cada vez mais complexos. No 
pensamento clássico acreditava-se que a economia se auto ajustava no longo prazo para 
uma condição de equilíbrio de pleno emprego, bastando que os preços e salários fossem 
flexíveis preconizados pela “Lei de Say” no qual a oferta criava sua própria demanda já 
não explicava mais os altos índices de desemprego, em um contexto de baixa produção 
e consumo, que o mundo capitalista enfrentou coma Crise de 1929 e a Grande 
Depressão, ameaçando a própria sobrevivência do capitalismo em um período de grande 
aceitação mundial de governos fascistas e comunistas. Também, as ideias Keynesianas 
que dava o enfoque à Demanda Agregada no curto prazo para definir o nível de 
produção, já não explicava mais a estagflação (alto desemprego e alta inflação) no início 
da década de1970, onde a demanda agregada já não podia estimular o nível de produção 
 Keynes apoiava o sistema capitalista como forma eficiente de organização 
econômica diante das alternativas existentes, mas apontava para as falhas de mercado 
potencialmente fatais que não só distribuía a renda de forma injusta e arbitrária como 
falhava em prover o emprego. O governo era então necessário para sanar essas falhas 
utilizando-se de políticas econômicas, como as monetárias e fiscais, pois o capitalismo 
encontrava-se em uma situação crônica de atividade insuficiente e sem tendência de 
recuperação. Em 1936, com a publicação de Keynes da “Teoria da Geral do Emprego, 
do Juro e da Moeda”, começava uma nova abordagem de forma coerente e sistemática 
de fornecer uma explicação aceitável e convincente de uma situação da economia como 
um todo. Paul Samuelson e outros tentaram reconciliar a vertente Keynesiana e a teoria 
geral do equilíbrio de Walras, produzindo a “Síntese Neoclássica” e diferenciaram 
questões macroeconômicas, de cunho keynesiana, das questões microeconômicas, de 
cunho neoclássico. Contudo, na escola de pensamento austríaca Mises-Hayek-Robbins-
Schumpeter discordava das vertentes Keynesianas e acreditava que a Grande Depressão 
deveria ser autorizada a correr o seu curso natural, uma vez que tal ocorrência era o 
resultado inevitável do superinvestimento durante o boom anterior criado 
artificialmente. Neste caso afirmam que mais intervenções estatais levariam a piora dos 
resultados no futuro. 
Muitos políticos de países desenvolvidos como o presidente Kennedy e o 
presidente Hoovernos Estados Unidos, políticos dos partidos dos trabalhadores e 
conservadores no Reino Unido e em vários outros países capitalistas alinharam suas 
políticas econômicas aos pensamentos Keynesianos, no período compreendido entre 
1945 a 1973 (que ficou conhecido como “Anos Dourados” ). Esse período foi de grande 
prosperidade e estabilidade, onde ocorreu expansão do comércio mundial, crescimento 
econômico e estabilidade difundidos por todo o mundo. E os formuladores de políticas 
utilizavam-se de modelos keynesianos (como o IS-LM e a Curva de Phillips) para 
explicar a determinação do nível de emprego, produto e inflação de uma economia. 
A Europa Ocidental experimentou inéditas taxas médias de crescimento do PIB 
per capita de 4,08% ao ano entre os anos de 1950 e 1973. Neste período, países como 
Japão (9,29%), França (5,05%),Alemanha (5,68%) e Itália (5,64%) destacaram-se com 
altas taxas médias anuais de crescimento do PIB. Este crescimento milagroso também 
se estendeu, mas em menor grau, às economias de planejamento central na América 
Latina, Ásia e África. Maddison (1979, 1980) identificou algumas características 
especiais que contribuíram para o período inquestionavelmente excepcional de 
performance econômica deste período. 
1. Aumento da liberalização do comércio internacional e das transações. 
2. Circunstâncias e políticas favoráveis que contribuíram para uma inflação 
baixa em condições de forte demanda global. 
3. Papel ativo do governo na promoção de aumento doméstico da Demanda 
Agregada. 
4. Uma acumulação de possibilidades de crescimento após o fim da Segunda 
Guerra Mundial. 
O fim dos “Anos Dourados” começa com o Choque do Petróleo no início da 
década de 1970. A partir de então começa um novo patamar das taxas anuais de inflação 
e desemprego que só diminuiriam por volta do ano de 1983, demonstrando falhas 
empíricas dos modelos Keynesianos. Esse cenário abriu espaço para críticas bem 
fundamentadas criadas pelos Monetaristas e pelo Novo Clássico sem apoio ao “laissez-
faire”, para os quais não havia necessidade de uma política de estabilização ativista do 
governo. Isto gerou novamente um confronto intelectual que aumenta o entendimento 
sobre a economia e descartou aquilo que era falho do modelo keynesiano. Para os 
críticos, a estagflação é um legado inevitável dos “Anos Dourados” no gerenciamento 
da demanda(Friedman, 1975; Bruno e Sachs, 1985; De Long, 1997). A nova escola 
clássica, em particular, apoia a visão de que as autoridades não podem e, portanto, não 
devem tentar estabilizar as flutuações no produto e no emprego através do uso de 
políticas ativistas de gestão da demanda (Lucas, 1981a). Na visão monetarista ortodoxa 
não há necessidade de uma política de estabilização ativista (exceto em circunstâncias 
extremas), considerando a crença de que as economias capitalistas são inerentemente 
estáveis, a menos que perturbadas por um crescimento monetário errático. Os 
monetaristas sustentam que, quando submetidos a alguma perturbação, a economia 
retornará, com bastante rapidez, ao nível "natural" de produção e emprego. Mesmo em 
circunstancias extremas, as políticas de estabilizações possuem problemas: em relação a 
duração do reajuste interno associado à política fiscal; os longos e variáveis reajustes 
externos associados à política monetária; e a incerteza quanto ao valor preciso a atribuir 
à taxa natural de desemprego. Assim as autoridades podem frequentemente fazer mais 
mal do que bem. 
Com retrospectiva, duas publicações foram particularmente influentes para 
cimentar as bases da „contrarrevolução‟ monetarista. Primeiro, há o estudo 
monumental de Friedman e Schwartz (1963), A História Monetária dos 
Estados Unidos, 1867-1960. Este influente volume apresenta evidencias 
persuasivas em apoio à visão monetarista de que as mudanças não oferta 
monetária desempenham um papel amplamente independente nas flutuações 
cíclicas. Em segundo lugar, o artigo sobre "O papel da política monetária" de 
Friedman (1968a), no qual ele apresentou a hipótese da taxa natural e a opinião 
de que não existe um trade-off a longo prazo entre inflação e desemprego. A 
influência do artigo deFriedman foi muito reforçada porque antecipou os 
acontecimentos da década de 1970 e, em particular, previu a aceleração da 
inflação como consequência do uso repetido de uma política monetária 
expansionista voltada para metas de emprego muito otimistas.[Brian Snowdon 
e Howard R.Vane, 2005, p. 25] 
Na nova abordagem clássica, baseado em um conjunto de argumentos diferentes 
aos apresentados pelos monetaristas, são os choques monetários não antecipados que 
são a causa dominante dos ciclos de negócios. 
Três ideias em particular subjazem à nova abordagem clássica. Em primeiro 
lugar, a proposição de ineficácia política (Sargent e Wallace, 1975,1976) 
implica que apenas as ações aleatórias ou arbitrárias de política monetária 
empreendidas pelas autoridades podem ter efeitos reais de curto prazo porque 
não podem ser antecipadas por agentes econômicos racionais. Dado que tais 
ações só aumentarão a variação do produto e do emprego em torno de seus 
níveis naturais, aumentando a incerteza na economia, a proposição oferece um 
argumento contra o ativismo de política discricionárias a favor das. Em 
segundo lugar, a crítica de Lucas (1976) à avaliação da política econômica 
enfraquece a confiança de que os modelos macro econométricos tradicionais de 
estilo keynesiano podem ser usados para prever com precisão as consequências 
de várias mudanças nas principais variáveis macroeconômicas. Terceiro, a 
análise de Kydland e Prescott (1977)da inconsistência dinâmica temporal, que 
implica que o desempenho econômico pode ser melhorado se os poderes 
discricionários forem retirados das autoridades, fornece outro argumento no 
caso de a política monetária ser conduzida por regras e não critérios.[Brian 
Snowdon e Howard R.Vane, 2005, p. 26] 
Uma segunda fase de teorização do equilíbrio foi iniciada pela contribuição de 
Kydland e Prescott (1982), a teoria real do ciclo econômico, que entra em conflito tanto 
com a análise keynesiana convencional quanto com a teorização monetarista onde o 
equilíbrio é identificado com uma tendência estável para o caminho de crescimento 
natural (pleno emprego). A teoria real do ciclo econômico considera as flutuações 
econômicas como sendo predominantemente causadas por choques reais persistentes 
(do lado da oferta), ao invés de choques monetários não-previstos(demanda), para a 
economia. Deste modo: 
O foco desses choques reais envolve grandes flutuações aleatórias na taxa de 
progresso tecnológico que resultam em flutuações nos preços relativos aos 
quais os agentes econômicos racionais respondem de forma ótima, alterando 
sua oferta de trabalho e consumo. Talvez a característica mais controversa 
desta abordagem seja a afirmação de que as flutuações na produção e no 
emprego são respostas eficientes de Pareto a choques de tecnologia real para a 
função de produção agregada. Isso implica que as flutuações observadas na 
produção são vistas como flutuações na taxa natural de produção, e não desvios 
da produção de uma tendência determinista suave. Como tal, o governo não 
deve tentar reduzir essas flutuações por meio de uma política de estabilização, 
não apenas porque tais tentativas são improváveis de alcançar o objetivo 
desejado, mas também porque reduzir a instabilidade reduziria o bem-estar 
(Prescott, 1986).[Brian Snowdon e Howard R.Vane, 2005, p. 27] 
Assim, as teorias de nova abordagem clássica adaptam a teoria keynesiana às de micro 
fundamentações neoclássicas ortodoxas. Mas, um grupo revitalizado de novos teóricos 
keynesianos fazem o inverso: Adaptam a teoria microeconômica à macroeconomia. Os 
novos keynesianos incorporaram a hipótese das expectativas racionais, em que os 
investidores decidem quanto produzir baseado em expectativas futuras, a rigidez de 
preços e salários em diminuírem, a hipótese da taxa natural de desemprego definida por 
Friedman. De acordo com os proponentes da nova economia keynesiana, há uma 
necessidade de uma política de estabilização à medida que as economias capitalistas 
estão sujeitas a choques tanto da demanda quanto da oferta que causam flutuações 
ineficientes na produção e no emprego. Não só as economias capitalistas não se auto 
equilibram rapidamente, mas também a taxa real de desemprego permanece acima da 
taxa natural por um período prolongado, a taxa natural (ou o que os novos keynesianos 
preferem chamar de NAIRU – taxa de inflação não acelerada de Desemprego) pode 
aumentar devido aos efeitos de "histerese". Como os governos podem melhorar o 
desempenho macroeconómico, se lhes for dado o poder de fazê-lo. Finalmente, 
podemos identificar dois outros grupos ou escolas de pensamento. A escola pós-
keynesiana é descendente de alguns dos contemporâneos e discípulos mais radicais de 
Keynes, derivando sua inspiração e abordagem distintiva dos escritos de Joan Robinson, 
Nicholas Kaldor,Michal Kalecki, George Shackle e Piero Sraffa. Os defensores 
modernos dessa abordagem incluem JanKregel, Victoria Chick, Hyman Minsky e Paul 
Davidson que discute a escola pós-keynesiana. Há também uma escola de pensamento 
que tem suas raízes intelectuais na obra de Ludwig von Mises e NobelMemorial 
Lauréate Friedrich von Hayek que inspirou uma abordagem distintamente austríaca para 
análise econômica e em particular para a explicação de fenômenos de ciclo de negócios. 
Os defensores modernos da abordagem austríaca incluem Israel Kirzner, Karen Vaughn 
e Roger Garriso que discute a escola austríaca. 
Em resumo, as escolas que contribuíram significativamente para a evolução da 
macroeconomia do século XX, foram: (1) a escola ortodoxa Keynesiana; (2) a escola 
Monetarista ortodoxa; (3) a escola Novo Clássicos; (4) a escola de Ciclo Econômico 
Real; (5) a escola novo Keynesianos; (6) a escola pós-Keynesiana; (7) a escola 
Austríaca. 
As duas escolas "ortodoxas", "IS-.LM Keynesianismo" e "monetarismo 
neoclássico", dominaram a teoria macroeconômica no período até meados dos 
anos 1970. Desde então, três novas escolas têm sido altamente influentes. O 
novo ciclo de negócios clássico e real e as novas escolas keynesianas colocam 
ênfase em questões relacionadas com a oferta agregada, em contraste com as 
escolas ortodoxas, que concentraram suas pesquisas principalmente nos fatores 
que determinam a demanda agregada e as consequências das políticas de 
gestão da demanda. Em particular, as novas escolas compartilham a visão de 
Lucas de que os modelos macroeconômicos devem basear-se em sólidas bases 
microeconômicas(Hoover, 1988, 1992). As escolas "radicais", tanto pós-
keynesianas quanto austríacas, criticam a análise tradicional, seja ela ortodoxa 
ou nova. [Brian Snowdon e Howard R.Vane, 2005, p. 29] 
Nas últimas duas décadas, aumentaram os estudos sobre como o governo e os 
partidos políticos influenciam a tomada de decisões do sistema político e econômico. O 
desejo do detentor de políticas de conservar o poder, incentivando um comportamento 
“oportunista” e expressando ações de cunho partidário ou individualistas, 
principalmente antes de eleições, frequentemente levam a taxas mais elevadas de 
inflação em uma democracia do que o ideal. Embora o escopo para o comportamento 
oportunista ou ideológico seja mais limitado em um cenário de expectativas racionais, o 
impacto das distorções políticas na formulação de políticas macroeconômicas ainda está 
presente devido à presença de informações imperfeitas e incertezas sobre o resultado 
das eleições (Alesina e Roubini, 1992). Como tal, este trabalho aponta para a 
necessidade de maior transparência na condução da política fiscal e na introdução da 
independência do banco central para a condução da política monetária (Alesina e 
Summers, 1993; Alesina e Perotti 1996a; Snowdon, 1997). 
Fato é que os novos elementos introduzidos pelos clássicos e pelos keynesianos 
são também introduzidos ao estudo macroeconômico, como por exemplo a introdução 
de análises de curto e longo prazo, das expectativasracionais, da concorrência 
imperfeita nos mercados de bens, crédito e mão-de-obra e a incorporação de ajustes de 
preços onerosos em modelos macroeconômicos. A discussão teórica, os 
questionamentos e os debates contribuem para melhorar os modelos e teorias que 
esclarecem o funcionamento do fluxo de monetário e real de uma economia. O conflito 
entre essas duas visões permanece, em sua essência, até hoje e é presente no debate 
político, nas mídias e nas redes sociais.

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