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HISTÓRIA DE VIDA DE JOVENS QUE VIVERAM EM SITUAÇÃO DE ABRIGO
EDNEIDE L. DA SILVA SANTOS, JÉSSICA S. SANTANA DE ALMEIDA, JULIANA SCHELLEMBERG, KEILA CRISTINA S.J ZEMKE, PATRICIA F. DA SILVA.
Psicologia
email_address@unescnet.br
Stefanny K F Lucena
Departamento de Psicologia (UNESC/Cacoal)
prof.stefanny@unescnet.br
Resumo: O presente artigo apresenta a história de vida de jovens que viveram em situações de abrigo, os personagens escolhidos viveram no abrigo, Pingo de Gente na cidade de Cacoal/RO até completar maior idade. Relatos de Jovens que viveram sem o convívio familiar, crianças e adolescentes e jovens, moradores de abrigos, que carregam as marcas das dificuldades em crescer longe da família e da resistência que significa viver cada dia. Anônimos invisíveis esses jovens relatam angustia e vitórias da vida durante e após o convívio em abrigo.
Palavras-chave: abrigo, inclusão social, crianças, jovens e adolescentes.
1. 
1. 
Rua dos Esportes, 1.038 – Cxp: 161 – Fone: (69) 441-4503 – 78.975-000 - Cacoal – RO.
Av. 7601, nº 8.735, Quadra 37 - Residencial Orleans – Fone: (69) 3322-1290 – 76.980-000 – Vilhena – RO.
Rua Rio de Janeiro, 4734 – Lagoa – Fone: (69) 3225-2171 – 76.812-080 – Porto Velho – RO.
1. 1. INTRODUÇÃO
No Brasil cerca de 44 mil crianças vivem em abrigos em todo país, 5.500 estão em condições de serem adotados e tem o nome e dados pessoais inseridos no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).A maioria passam a infância, adolescência e juventude sem terem tido a oportunidade de serem adotados devido a burocracias do sistema quando não estão disponíveis, ou não se enquadram no perfil desejado, dos candidatos à adoção (BRASIL,2013). 
Muitos são os motivos que levam a institucionalização. Cada caso tem a sua singularidade, por isso é variado o tempo que cada um deve permanecer no abrigo. Muitos entram nos abrigos quando crianças, e passam toda a adolescência e parte da juventude lá. Há sempre algo em comum nas histórias como: a perca do vínculo familiar, sendo temporário até mesmo permanente.
 Todos os adolescentes passam por conflitos internos, e sentem necessidades de respostas a questionamentos que são gerados em suas mentes, que geralmente englobam de onde ele veio, para “onde” ele irá, qual grupo ele se identifica na sociedade, o que gosta realmente e o que irá satisfaze-lo para o resto de suas vidas. Quanto mais saudável for o ambiente em que esse adolescente está inserido, maior será o êxito nessa fase. É necessário que esse ambiente seja constituído por pessoas que o compreendam e o auxiliem nessa grande busca por saber seu lugar no mundo, e o ajudem a chegar na juventude de forma mais confiante para enfrentar as dificuldades ao longo de sua vida.Muitos jovens são encarados a vislumbrarem um novo horizonte: a saída de seus lares que os acolheram na ausência dos seus pais/familiares. Agora, maiores de idade, esses jovens adultos vivenciam a saída do abrigo. Segundo Ana Laura Moraes Martinez e Ana Paula Soares Silva, psicólogas membros Cindedi, 2008, é um momento difícil e desafiador, marcado pelas emoções, uma vez que esses jovens, ao completarem a maioridade, serão desligados do abrigo ainda sem condições de pleno enfrentamento da nova situação de vida que exigirá autonomia e, principalmente, independência financeira, sem o devido vínculo familiar e assistidos pelo governo. Tiveram boa parte de suas vidas confinados em abrigos tutelados por pessoas que poderiam não estar preparadas para auxilia-los na saída do abrigo, o que faz com que muitos deles atuem de forma inapropriadas e individualizadas. 
Nesse novo mundo fora dos muros dos abrigos, esses jovens levam consigo um passado marcado por ausências, rejeições, mas também por acolhimentos, agradecimentos;Destinos incertos, porém melhores do que quando foram desvinculados da família, e é nesse momento a grande importância da resiliência na vida desses jovens, para enfrentar o mundo e as adversidades que nele se encontra.
Muitos desses jovens que estão sendo ou que foram criados em situação de abrigo, participavam de uma família que se encontram em muitos casos situações de alcoolismo, drogas ilícitas, prostituição, tráfico e também por pais que não tem condições financeiras para criar um filho, em alguns casos órfãos, e grande parte desses jovens que se encontram em famílias em situação vulneráveis, acabam seguindo os exemplos da família. (GUARÀ, 2010).
O momento em que essas crianças e adolescentes devem sair da família onde foram criados para darem entradano abrigo, geralmente vem acompanhado de medos, questionamentos que podem não ser saudáveis para o seus psicológico, e que se não forem acompanhados por um profissional que o ajude, podem gerar futuros traumas (ALTOÉ, 2008) e é nesse momento em que faz-se necessário que haja um psicólogo nessa instituição para lidar com esses questionamentos internos desses indivíduos, além de outros profissionais essências para que cuidem de outras questões de saúde e necessidades básicas, bem como na sua chegada, até a sua saída, onde consiga se sentir bem e preparado para fazer parte de uma família cujo interesse é amá-lo e respeitá-lo. 
O objetivo desse trabalho é relatar a importância do abrigo na vida desses indivíduos, a dificuldade encontrada no momento da entrada nessa instituição, que são acompanhadas uma série de fatores que podem ser prejudiciais para a saúde mental do ser humano.
Os motivos para entrar em um abrigo, são todos envolvidos por situações tristes, como: morte, abandono, violência, abuso de drogas por parte dos criadores e até abuso sexual. Porém, será mostrado que no abrigo é encontrado um grande amparo, onde há grandes chances de esses jovens conseguirem construir um futuro digno de felicidade.
2. METODO 
A presente pesquisa foi construída através das entrevistas, com a participação de três distintos jovens, dois de gênero masculino e um feminino, que passaram sua infância e juventude na casa de abrigo PINGO DE GENTE Cacoal/RO, e vivenciaram a saída do abrigo. Entre os instrumentos utilizados destacam-se as observações discutidas sobre o tema, os questionários, e as entrevistas. Além desses vale destacarmos alguns instrumentos de pesquisa que foram debatidos com o grupo. 
Devido à pandemia do COVID-19 que estamos vivenciando atualmente, essa dificuldade e a necessidades do distanciamento social, asentrevistas foram realizadas através do aplicativo Whatsapp, com participação dos integrantes do grupo projeto integrador, com objetivo de mostrar para sociedade atual que cobra muito de todas as pessoas, que ter uma boa educação e trabalho são atributos básicos para sermos aceitos. Porém a desigualdade social muitas vezes não permite que todos tenham oportunidades e possam seguir o mesmo caminho.
2.1 Participantes
Devido ao tema escolhido “HISTÓRIA DE VIDA DE JOVENS QUE VIVERAM EM SITUAÇÕES DE ABRIGO, houve uma grande dificuldade, ao acesso a essa população e alcançar nossos colaboradores, com distanciamento social que estamos enfrentando e também em virtude de muitos não gostarem do que vivenciaram antes de chegar ao abrigo, e por não gostarem de expor suas vidas, após várias tentativas e conversas com jovens, a presente pesquisa foi construída através das entrevistas com a participação desses três distintos jovens, que como foi dito anteriormente são dois de gênero masculino e um feminino. Os entrevistados tinham entre 23 a 30 anos de idade. Passaram sua infância e juventude na casa de abrigo PINGO DE GENTE Cacoal/RO. Adotamos como procedimento ético, para manter suas identidades não reveladas, abreviações dos nomes. 
Participante A.L saiu do abrigo aos 14, hoje com 30 anos, casado, um filho, mora na cidade de Cacoal/RO. 
Nossa segunda participante pouco comunicativa, K.L gênero feminino, saiu do abrigo aos 18 anos, hoje com 26 anos, dona de casa, divorciada, moradora da cidade de Cacoal/RO. 
Por fim, terceiro participante L.C, gênero masculino, saiu do abrigo aos 18 anos, hoje 23 anos, casado, morador da cidade de Cacoal/RO.
2.2 Lócus de pesquisa
As entrevistasforam realizadas através do aplicativo Whatsapp com a participação dos integrantes do grupo projeto integrador.
2.3 Tipo de Pesquisa
A pesquisa é qualitativa e exploratória, com o objetivo de explorar aspectos da juventude, desses jovens que viveram em abrigos e tiveram que deixar ao completar maioridade.
2.4 Instrumentos de coleta de dados
	
Entre os instrumentos utilizados destacam-se as observações discutidas sobre o tema, os questionários, as entrevistas. Além desses valem destacarmos alguns instrumentos de pesquisa que foram debatidos com o grupo: com a coleta de dados foi construída uma entrevista semiestruturadas, através de questionários que contém 10 perguntas relacionadas sobre a experiência de vivenciar a juventude em um abrigo, relação afetiva entre funcionário e colegas, de que maneira a instituição colaborou para o crescimento pessoal, os conflitos da maioridade e a saída do abrigo, a vida pós-abrigoeoutras questões relacionadas ao tema História de vida de Jovens em situação de abrigo.
2.5 Análises de dados
	
Os resultados encontrados foram analisados por similaridade de expressão dos conteúdos apresentados nas entrevistas dos participantes. Desta forma, os dados encontrados foram analisados à luz da teoria por meio do uso de teorias, artigos científicos, teses e dissertações. 
Discussão:
Os desafios de alguns jovens são muitos, pois é um momento de grandes mudanças. Com a maioridade chegando, muitos se preparam para a universidade, outros para o trabalho ou ambos.É uma fase que demanda mais responsabilidades, no entanto para aqueles que passaram a infância e a adolescênciaem um abrigo, certamente a juventude é mais complexa, e que além de lidar com todas as questões constituídas por essa fase,enfrenta a insegurança de viver sem a tutela de uma instituição que por anos acompanhou este jovem. 
A seguir veremos em breve palavras a história de vida de três jovens que viveram em situação de abrigo, e os desafios enfrentados pelos mesmos.
A chegada ao abrigo
Nesta primeira parte da entrevista os Jovens relatam a necessidade das medidas protetiva da ida para o abrigo e como foi a experiência desse primeiro momento.
A.L. 30 anos, masculino, casado, 1 filho. Permaneceu no abrigo até os 14 anos.
 O jovem relata que: a mãe em certa idade apresentou distúrbios psicológicos, encaixando se no Cid F20, quadro de esquizofrenia, quando ele tinha 7 anos de idade, a mesma diante das crises, não tinha condições e deixava de ter os cuidados básicos com as crianças, ele e seus irmãos, onde houve denuncia ao conselho tutelar, e ele foi levado ao abrigo.
 K.L. 26 anos, feminino, solteira, um filho, permaneceu no abrigo até os 18 anos.
Morava com a vó, com a morte da avó ela e seus irmãos foram morar com uma tia, e uma a outra tia sabendo que haviam usuários de drogas na casa em que eles viviam informou ao conselho tutelar, que por sua vez os levaram para o abrigo. Na época ela tinha 12 anos.
 L.C. 23 anos, masculino, casado, um afilhado.
 “fui para o abrigo em dezembro de 2008, minha avó cuidava de mim, e ela morreu, não tinha outra pessoa que podia cuidar de mim, a única opção foi ir para o abrigo e lá eu fiquei até meus 18 anos de idade”.
Nos três casos a institucionalização se fez necessária por acontecimentos trágicos familiares que deixou as crianças em situação vulneráveis, tendo a necessidade de intervenção do conselho tutelar e o estado prestou seu papel como prevê na constituição Art. 227 que diz:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
O momento em que as crianças passam a morar no abrigo, geralmente vem acompanhado de medos, questionamentos e cada um encara esse desafio de uma forma.
A.L. Ele afirma que foi muito bem acolhido, no contexto anterior pois estava passando por dificuldades de necessidades básicas cuidados como alimentação, roupas, tarefas, ao chegar no abrigo sua rotina mudou com acolhimento, havia horários para alimentação, atividades e outros cuidados.
K.L. “no começo foi muito difícil, porque estava acostumada a brincar na rua”, e no abrigo não tinha essa liberdade, a gente fazia muita arte no começo, mais o tempo foi passando e a formos nos acostumando, mais por outro lado também foi bom a gente ter ido pra lá, porque quem sabe o que teria acontecido se não tivesse ido para o abrigo, pois o padrasto da minha tia usava droga, talvez estaríamos usando drogas também”. 
L.C. “no abrigo me senti bem mais seguro, porque lá eles acolhem agente, lá é tudo certo, as refeições tudo nas horas certas...a gente se sente seguro, se sente confortável lá. “minha relação no começo não era muito boa, eu era um pouco rebelde, né, não era muito boa.Mas dois anos depois ficou maravilhosa com todo mundo, tinha as tias,e era como se fosse tia de sangue”.
Segundo Dorian (2003, p.73) a apontar que “não se pode eliminar uma história familiar sem que se viva muita dor, angústia e medo do presente e do futuro”. Azôr (2005) acrescenta que há barreiras, muitas vezes impostas pela própria instituição, no sentido de impossibilitar aberturas de espaços para que dores,tristezas e violências sejam mais bem elaboradas, acabando por desconsiderar a subjetividade dos abrigados. Apesar da insegurança e dos medos enfrentados no momento da institucionalização, segundo relato deles o abrigo fez o seu papel de proteger, pois os mesmos estavam passando por momentos difíceis por vezes privados de direitos básicos, ainda que tiveram muitos problemas no início, mas que no passar do tempo entenderam que o abrigo era a melhor opção para um futuro melhor.
A juventude no Abrigo
Nesta próxima parte da entrevista focaremos em como a juventude é vivenciada no abrigo.
A.L. Relata que o convívio no abrigo por 7 anos com os funcionários da instituição foi muito bom, teve acesso a cursos, capacitações, programas de políticas públicas, além do apoio psicológico e de conselheiros tutelares. Segundo A.L toda essa assistência, educação, amparo psicológico e segurança foram de fundamental importância para seu crescimento e desenvolvimento pessoal e formação de sua identidade e caráter hoje. E acrescenta ainda: “Se não fosse a permanência no abrigo e o apoio que teve, hoje poderia não estar vivo, ou na criminalidade” 
K.L. Afirma que: “O abrigo colaborou para que a gente fossemos pessoas de bem, apesar de não podermos curtir muito a juventude, não podíamos ir à casa de amigos, nem mesmo para fazer um trabalho escolar, deveria ser feito no abrigo ou na escola, até que mudou o diretor e tivemos uma certa liberdade” Apesar das dificuldades e limitações, K.L descreve o abrigo como bom: “Se eu não tivesse ido para o abrigo, estaria no mundo das drogas”.
L.C. Descreve da seguinte forma a juventude no abrigo: “Não foi boa, porque a gente queria estar lá fora ... não foi boa porque não aproveitei com os amigos, como os outros jovens, mais quando chegou a hora de deixar também foi difícil porque tinha um vínculo que ia além da institucionalização”
As falas do entrevistados revelou que a passagem da juventude em geral foi marcada pelo bom convívio com os funcionários da instituição, amparo social e psicológico adequado, boa educação, no entanto a limitação da liberdade ficou evidente nos três casos. Privar as crianças de experimentar a autonomia de andar pelas ruas, por exemplo, não deixa de se constituir como um ato de violência. No sentido que há uma superproteção por parte da instituição que não permite que esse jovem tenha novas experiências, nos relatos do entrevistados, todas as tarefas que eles realizavam eram monitoradas e acompanhadas, e no mundo real seja crianças, adolescentes e jovens, que vivem com os pais, isso não acontece pois é necessário que cada indivíduoaprenda a viver sem que o adulto esteja todo tempo para delinear seu caminho. Como escreve Vicentim (2005) mesmo em sociedades em que não está em jogo a sobrevivência e as condições de dignidade da vida das crianças, encontramos outra ordem de práticas em que persistem o adultocentrismo, o exercício da dominação e a codificação da criança na infantilização que não é sua. (p. 26-27).
Saída do abrigo
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é a legislação que explicita a implementação da proteção integral constitucionalmente estabelecida no artigo 227.Assim, estabelece medidas concretas para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes. Responsabiliza nominalmente a família, a comunidade, a sociedade e o Estado pelo bem-estar e desenvolvimento da infância e da juventude. Esse documento legal alterou fundamentalmente a legislação de proteção à infância e juventude no país, revogando o antigo Código de Menores e adequando a legislação infraconstitucional às disposições constitucionais e aos parâmetros internacionais de proteção. Fundamentalmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece como a proteção integral deve ser garantida no país, indicando as medidas sociais, protetivas e socioeducativas que devem ser utilizadas para assegurar o bem estar de crianças e adolescentes.
A saída do abrigo por causa da maioridade, em um contexto de ausência de programas de reintegração familiar, de longo vínculo com a instituição e de pouca escolaridade dos adolescentes, constitui como um momento que faz aflorar as contradições históricas, à falência das políticas de proteção e o não cumprimento da função do abrigo, tal como assegura o ECA.
O desconhecimento sobre a saída do abrigo chama a atenção para o ritual burocrático e tutelar do Estado, Bernal(2004) informa que o período da desintegração nem sempre correspondeu à data da saída do jovem, ou seja, muitos fugiam da instituição antes dos 16 anos ou permaneciam clandestinamente após os 18.
No decorrer da pesquisa realizada com os três integrantes do abrigo, podemos observar de fato o processo de saída, onde permaneceram no abrigo durante muitos anos e enfrentaram o momento de sair da instituição devido a chegada da maior idade.
A.L de gênero masculino relata ter abandonado o abrigo com 14 anos, apesar de o abrigo fornecer para eles, todo suporte de educação básica, cursos profissionalizantes e outros. Relata que sentia-se preso, pois a instituição não permitia a saída para visitar amigos, ou ir a outros locais de lazer, apenas para ir à escola. 
Na sua saída, retornou para casa da mãe. Segundo ele não encontrou dificuldades ao sair do abrigo devido ter conhecido muitas pessoas e feito várias amizades pelo fato deser extrovertido, bem comunicativo, e não ter dificuldades em expressar seus sentimentos, e que seu relacionamento com as pessoas facilitou de forma significativa para seu egresso no mercado de trabalho. A.L relata que seu primeiro emprego foi em uma borracharia.
L.C de gênero masculino, apesar de ter permanecido no abrigo até os 18, relata que também sentia-se preso: “Eu me senti preparado... o que eu não soube lidar no começo, foi com as festas, com as coisas do mundo,os prazeres... mais eu me senti preparado para as questões de trabalho.”
Ele sentia que estava preparado porque a instituição ofereceu cursos, e quando chegou a idade para participar do jovem aprendiz, o abrigo o encaminhou para emprego de menor aprendiz, e o salário ficava em uma conta poupança. Ao sair do abrigo aos 18 anos, esse dinheiro serviu para sua nova vida.
K.L, gênero feminino, mostrou desde o início da entrevista ser uma pessoa retraída.Relata que ao sair do abrigo foi para a casa da tia.
“Eu trabalhei e tinha um dinheiro guardado, não gastava deixava na poupança, morei com minha tia durante alguns meses”. Uma das tias deu os primeiros apoios na saída do abrigo. “Preparada, preparada não, né, mas láeu fiz alguns cursos, frequentei o SENAC o SENAI, que me ajudou um pouco”.
K.L saiu do abrigo já com seu emprego, pois participava do programa menor aprendiz, onde permaneceu por dois meses após a saída do abrigo, e começou a fazer diárias, onde era garçonete, auxiliar de cozinha, e outros serviços gerais. Desde então nunca conseguiu um trabalho fixo. 
K.L relata que ao sair, sentiu alivio pensando que logo iria se estabilizarfinanceiramente, porém encontrou dificuldades para conseguir emprego e que quando estava no abrigo as coisas eram mais fáceis.
 Devido a esse processo de saída do abrigo, todos os participantes da entrevista encontraram algumas limitações e dificuldades impostas por uma condição historicamente determinada e localmente reproduzida nos abrigos, na construção de sentidos para o enfrentamento dessa nova fase de suas vidas. Mesmo diante desses empecilhos como não terem tido preparados sociais para saída do abrigo, não encontraram dificuldades extremas no enfrentamento social fora do abrigo.
Entre os apontamentos finais, verificou-se a ausência de práticas sistemáticas de auxílio aos adolescentes no enfrentamento da saída e a existência de atuações individualizadas, permeadas pelos estereótipos construídos pela instituição. 
Enquanto alguns adolescentes constroem arranjos próprios para sua saída, outros com maior dificuldade de adaptação ficam intensamente tutelados pela instituição nesse processo de desligamento, dificultando sua inclusão na sociedade.
QUESTIONÁRIO:
Construção em grupo do instrumento de coleta de dados para do Resumo expandido, algumas alternativas.
São construídas perguntas abertas, ou seja, sem respostas sim ou não, em que o participante possa responder livremente o que pensa sobre o assunto, o trabalho a ser elaborado terá participação de jovens que viveram no abrigo até completar 18 anos, nossa instrumentalização será através de entrevista onde elaboramos perguntas direcionadas a esses jovens.
1. Qual a sua idade? Qual o seu gênero?
2. Me conte sobre sua experiência no abrigo. Como na sua história foi necessário essa ida para o abrigo? 
3. Se você se lembra, como foi a sua entrada no abrigo? Você se sentiu mais seguro quando chegou lá do que quando estava no contexto anterior? Como era relação com a instituição, com colegas e funcionários? De que forma a instituição colaborou para seu crescimento e experiência pessoal?
4. Como foi/é pra você jovem vivencias sua juventude no abrigo? Quando você teve que lidar com questões da maioridade chegando, e a realidade de ter que sair da instituição que os amparam até os 18 anos?
5. Você se sentiu preparado para sair do abrigo e ser inserido no mercado de trabalho e na vida adulta?
6. Como foi estar no abrigo durante o período da juventude? E o que significou ter que deixa-lo?
7. Hoje, no mundo externo ao abrigo, quais foram suas maiores dificuldades enquanto jovem?
8. Como você acha que seria sua juventude hoje se não tivesse sido no abrigo?
9. Hoje qual a visão que você tem sobre o abrigo que lhe acolheu e como acha que ela colaborou ou não com sua juventude?
CONSIDERAÇÕES FINAIS: 
A pesquisa foi feita com jovens que viveram em abrigo durante a sua infância e adolescência, onde os mesmos encontraram grandes desafios durante o tempo em que viveram no abrigo por se encontrarem distantes de seus familiares. As entrevistas relataram muitas dificuldades em relação a adaptação logo nos primeiros dias em que chegaram, mas com o tempo houve uma grande adaptação dos mesmos com funcionários e colegas que estavam passando pela mesma situação de viver em abrigo. Houve relato de sentirem uma certa segurança assim que chegaram, pois não precisariam preocuparem-se com alimentação ou o medo de ficar com pessoas que demonstravam perigo. Foram observados nos três entrevistados uma dificuldade em se adaptarem logo no início de suas chegadas ao abrigo. Todos sentiram que foram bem acolhidos, demonstraram gratidão pelo tempo em que estiveram no abrigo. Os três participaram de cursos preparatórios que os ajudaram de forma significativa para conseguir o primeiro emprego. Dois dos entrevistados relataramque sentiram-se preparados para saírem do abrigo, e todos relataram que o abrigo é um lugar bom para viver, pois lá tiveram uma boa educação, e foi o que contribuiu nas suas vidas para fazerem suas escolhas fora do abrigo. 
Como apontado nas falas dos entrevistados, os jovens ao iniciarem as vivências no abrigo tiveram que lidar com adaptações e a respeitar regras para uma vivencia melhor. Contudo esses jovens entrevistados após saírem do abrigo conseguiram lidar com a vida em sociedade, conseguindo assim seus empregos, construírem suas famílias, e hoje são gratos pela passagem no abrigo, o que muito contribuiu em suas vidas para que hoje possam ter um sentimento de vitória diante de todo contexto vivido durante a infância e adolescência e juventude.
Para modelos de intervenções mais satisfatórios, faz-se necessário visitas à instituição, para conhecer na integra a situação em que se encontra o estado psicológico desses jovens no abrigo relatado. Devido à pandemia da COVID-19 que se encontra em nosso meio nesse momento, não foi possível realizar as visitas para melhores resultados dessa pesquisa.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
Senado Federal (Brasil). Portal de Notícias [internet]. [Brasília, DF]: Agência Senado;
[data desconhecida] [acesso em 2016 set16]. Disponível em:
http://www12.senado.gov.br/noticias /.
Ana Laura Moraes Martinez. O momento da saída do abrigo por causa da maioridade: a voz dos adolescentes.  Portal Pepsic. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167711682008000200008>. Acesso em: 14 de abr. de 2020.
TV Brasil. Caminhos da Reportagem / Histórias de abrigo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IN7HYM-ejg4&app=desktop>. Acesso em: 14 de abr. de 2020.
Portal G1. Documentário mostra jovens que viveram em abrigos até os 18 anos.Disponívelem:<http://g1.globo.com/globonews/noticia/2017/10/documentario-mostra-jovens-que-viveram-em-abrigos-ate-os-18-anos.html>. Acesso em: 14 de abr. de 2020.
Portal R7. Jovens que viveram em abrigos relatam dramas e sonhos em livro.Disponívelem:<https://noticias.r7.com/minas-gerais/jovens-que-viveram-em-abrigos-relatam-dramas-e-sonhos-em-livro-20102015>. Acesso em: 14 de abr. de 2020.
Maria Lívia do Nascimento; Alessandra SperanzaLacazII; José Rodrigues de Alvarenga Filho: ECA, abrigos e subjetividades. Portal Pepsic. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-65782010000200004>. Acesso em: 15 de jun. de 2020.
Ana Laura Moraes Martinez;  Ana Paula Soares-Silva: O momento da saída do abrigo por causa da maioridade: a voz dos adolescentes;<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682008000200008>;Acesso em 18/06/2020
Antonio Sérgio Gonçalves Isa Maria F. Rosa Guará Maria AngelaMaricondi Maria Luisa Pereira Ventura Soares MarialicePiacentini Fausta Alzirina Ornelas Pontes Mello Maria Cristina Carvalho Juliano: Redes de proteção social;<https://www.neca.org.br/wp-content/uploads/Livro4.pdf>;Acesso em 18/06/2020
Sonia Altoé: Infâncias perdidas;<https://static.scielo.org/scielobooks/69ysj/pdf/altoe-9788599662946.pdf>;Acesso em 18/06/2020
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Nascimento, Maria Lívia; Speranza, Alessandra Lacaz; Filho, José R. de Alvarenga; Entre efeitos e produções: ECA, abrigos e subjetividades<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-657820100002000>; Acesso em 18/06/2020 
VICENTIM, M. A vida em rebelião. São Paulo: Hucitec/FAPESP, 2005.
Constituição Federal (Texto compilado até a Emenda Constitucional nº 96 de 06/06/2017)
https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_227_.asp acesso em:14/06/2020

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