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PARECER JURÍDICO
A Fixação de alimentos gravídicos em uma relação homo afetiva feminina a luz da lei 11.804/2008.
O tema é bastante discutido na atualidade e de muita relevância a sociedade, uma dúvida foi levantada pela participante/representada: Thaline Alves Guimarães, sobre a possibilidade da fixação de alimentos gravídicos em uma relação onde há uma união homo afetiva feminina.
1- Análise dos alimentos gravídicos
Os alimentos gravídicos são aqueles percebidos pela mãe gestante ao longo da gravidez e devem ser o valor suficiente para cobrir as despesas adicionais referentes ao período desde a concepção até o parto. Compreende também alimentação especial, assistência médica/hospitalar e psicológica, exames, medicamentos, tratamentos prescritos pelo profissional de saúde, e ao final o próprio parto.
A lei 11.804/08 foi criada de modo a garantir uma verba auxiliar no período gestacional, garantindo a vida e a saúde da mãe bem como do nascituro. Com o advento desta lei, tem-se uma consagração da dignidade humana em um aspecto mais amplo, abarcando o direito do nascituro, que apesar de tutelado pela Ordem jurídica Pátria vigente, ainda era carente de regulação jurídica no âmbito familiar.
2- Reconhecimento da união homo afetiva
O conceito de família evoluiu como progresso da sociedade, mas não há ainda na legislação um claro reconhecimento da união homo afetiva, assim como não há um consenso por parte da doutrina em relação ao reconhecimento desta, como entidade familiar.
A inercia do legislador vem sendo suprimida pela jurisprudência, diante da evolução da sociedade e do pensamento crítico social, alguns doutrinadores, magistrados influentes, tais como Maria Berenice Dias, passaram a defender o reconhecimento desta união homo afetiva. Bem como STF passou a reconhecer como união estável, e mais recentemente o STJ considerou possível a conversão ao casamento civil entre pessoas de mesmo sexo.
3- Analise da ADI nº4277 e do Recurso Especial nº1183378
Assim como todo relacionamento, as uniões homo afetiva ensejaram diversas relações no âmbito jurídico, tal como direito à sucessão, adoção, alimentos, benefício previdenciário...diante da inércia do legislativo que fora outrora mencionada, existem divergências a respeito dessa matéria.
Pioneiro a se manifestar a respeito da união homo, o STF proferiu julgamento da ADI 4277, que decidiu pelo reconhecimento das uniões homo afetivas, com a intenção de coibir a discriminação das pessoas em razão do sexo, tanto na questão de gênero quanto no plano da orientação sexual. Defendidos pelos Direitos Fundamentais da intimidade e da vida privada.
A Constituição de 1988, ao utilizar-se da expressão “família”, não limita sua formação a casais heteroafetivos nem a formalidade de cartório, ou celebração civil ou religiosa.
O Superior Tribunal de Justiça proferiu julgamento nos autos do Recurso Especial nº1.183.378/RS, e tendo como relator o Ministro Luís Felipe Salomão, onde passou a reconhecer o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
4- Reprodução Assistida
Reprodução assistida é o conjunto de técnicas que favorecem a fecundação humana, a partir da manipulação de gametas e embriões, esta técnica também é conhecida como fertilização in vitro, o médico prepara o material genético para ser implantado no corpo da mulher, onde ocorre a fecundação. Nota-se que a manipulação in vitro substitui a concepção natural, havida por cópula (a famigerada relação sexual).
Na realização deste procedimento há a necessidade de autorização prévia do cônjuge, destacando também que o fornecedor do sêmen é afastado da paternidade, por este motivo, é constituída uma filiação legal, e que é obrigatório o sigilo sobre a identidade dos doadores e receptores de sêmen para a realização de tais procedimentos.
O Código Civil traz em seus incisos III, IV e V, do artigo 1.597, presunções de filiação na constância do casamento relacionadas à manipulação genética.
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
(...)III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
 	Aqui o legislador trata apenas de forma superficial o tema da reprodução assistida, apenas referenciando em função da filiação presumida.
O Conselho Federal de Medicina, faz uma abordagem a respeito dos vários aspectos da reprodução assistida , com objetivo de harmonizar o uso destas técnicas com os princípios da ética médica. Dispõe que:
“Todas as pessoas capazes, que tenham solicitado o procedimento e cuja indicação não se afaste dos limites desta resolução, podem ser receptoras das técnicas de Reprodução Assistida desde que os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente esclarecidos sobre o mesmo, de acordo com a legislação vigente.”
	Com base nessa alteração do conselho federal de medicina passou a admitido o uso dessas técnicas por qualquer pessoa, incluindo pares homo afetivos, razão pela qual explanaremos sobre a possibilidade do reconhecimento da dupla maternidade que será fundamental para explicar a possibilidade de serem fixados alimentos gravídicos a uma união homo afetiva.
5- Dupla Maternidade
A dupla maternidade já faz parte de nosso meio social, cada vez é mais comum ver casais homo afetivos que tem recorrido a estas técnicas de reprodução humanas para constituírem suas famílias, e isto faz com que surja a possibilidade de que a criança concebida tenha duas mães.
Na decisão do julgamento que reconheceu a primeira dupla maternidade, o juiz Cairo Roberto Rodrigues Madruga entendeu que:
“se é admissível a adoção por pessoas com essa orientação sexual, não vejo motivos para que não se admita no presente, o reconhecimento da maternidade/filiação socioafetiva ou sociológica, com a consequente alteração registral pretendida, independentemente do cumprimento das formalidades da adoção, cujo demorado procedimento certamente levaria ao mesmo resultado.”
Julgamento dos autos nº10802177836, da 8ª Câmara Civil da Comarca de Porto Alegre/RS.
À Partir desse julgado, a incidência de decisões confirmando a dupla maternidade tem sido cada vez mais frequente pela jurisprudência.
6- A Possibilidade para a fixação de alimentos gravídicos entre mulheres
Diante de todo o exposto, sob a análise da Lei Federal 11.804/08 diante da ADI nº4277 e posteriormente o reconhecimento pelo Superior Tribunal de Justiça, existe a possibilidade de pleitear alimentos gravídicos na união homo afetiva feminina, ou só é possível se acontecer uma inseminação artificial heteróloga com a vontade do casal homoafetivo?
Vale lembrarmo-nos de um importante princípio, assegurado pela carta magna, e que é um princípio norteador de toda e qualquer discussão jurídica que é o princípio da dignidade da pessoa humana, que se nós adaptarmos ao tema aqui proposto, este princípio defende que a gestante e o nascituro são amparado e auxiliados durante o período gestacional, em referência a Lei 11.804/08 veio por garantir o direito a alimentos gravídicos à gestante e o nascituro. Apesar de o legislador ter utilizado o termo “futuro pai” no parágrafo único do Art. 2º da lei; temos que o objetivo deste foi o de resguardar a gestante e o nascituro de todos os riscos que possam vir a surgir durante o período gestacional até a concepção. 
7- Conclusão
Apesar de que a lei não tenha disposto a respeito dos alimentos gravídicos na união homo afetiva de forma expressa, devemos, aplicar o princípio da analogia, quando a lei for omissa deve o juiz utilizar-se de outros dispositivos legais cabíveis ao caso para chegar a uma decisão positiva, neste sentido, conclui-se que não importa qual o sujeito passivo da obrigação alimentar gravídica, e sim que essa obrigação seja prestada àquele que tem direito a sua concessão.
Para que sejam assegurados direitos e garantias iguais para todos, o conceito de família deveráser interpretado por parte dos legisladores sob um novo ponto de vista, mais atual, humano e que tenha abrangência sobre toda a sociedade.
É o parecer.
Quirinópolis 22 de Maio de 2020
Leonardo Luís Fernandes Oliveira / OAB XXXX

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