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www.facuminas.com.br INOVAÇÕES TECNOLOGICAS MATERIAL DIDÁTICO CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA N° 3.445 DO DIA 19/11/2003 1 Sumário PARTE 1 O INOVAR .......................................................................................... 3 ENTENDENDO A INOVAÇÃO ........................................................................... 3 OS DIFERENTES MODOS DE VER A INOVAÇÃO .......................................... 5 O QUE É INOVAR? ............................................................................................ 8 INOVAÇÃO TECNOLOGICA ........................................................................... 11 PARTE 2 AVANÇO NO CONHECIMENTO...................................................... 14 EDUCAÇÃO PARA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO .......................... 14 FORMAÇÃO PARA INOVAÇÃO TECNOLOGICA ........................................... 16 PROFISSIONAIS E PESQUISADORES .......................................................... 24 AVANÇO DO CONHECIMENTO ..................................................................... 28 INOVAR EM UMA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO ................................. 31 PARTE 3 O DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E QUALIDADE DE VIDA .. 33 QUALIDADE DE VIDA NO MEIO URBANO..................................................... 43 QUALIDADE DE VIDA NO MEIO RURAL ........................................................ 56 REFERENCIAS ................................................................................................ 61 2 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 PARTE 1 O INOVAR ENTENDENDO A INOVAÇÃO Inovação é, para a espécie humana, o principal vetor que possibilitou sua sobrevivência. Inovar, portanto, faz parte da nossa natureza. Desde a criação das primeiras ferramentas, utensílios e armas, a história da humanidade pode ser contada e confundida com a história das inovações criadas pelo homem. Não estamos falando apenas de novas tecnologias e novos produtos. Sempre que nos referimos à descoberta do fogo, à fala, à invenção da roda, à invenção dos números, aos rituais de sepultamento, à escrita, à matemática, à música, à agricultura, à criação das cidades, à invenção da moeda, ao papel, à religião e à psicanálise, entre outros, estaremos falando de exemplos do gênio criativo e inovador do ser humano. O homem inova constantemente, buscando satisfazer suas necessidades físicas, lógicas e emocionais. No mundo dos negócios, esse fenômeno também se repete. As necessidades das pessoas mudam, mudam os produtos, mudam os processos e as tecnologias. Mudam as organizações e seus métodos de trabalho. Como as empresas estão expostas à concorrência cada vez maior, inovar é a forma mais eficaz de manter-se competitivo. Segundo Ernest Gundling, em The 3M Way to Innovation, a inovação pode ser vista como “Novas ideias + ações que produzem resultados”. Neste sentido, a inovação pode ser entendida como o somatório de uma ideia nova, mais a implementação de ações, mais os resultados obtidos. Assim, ela pode ser definida como uma fórmula matemática: Inovação = ideia + implementação de ações + resultado Nessa mesma linha, segundo Kim Barnes, “a inovação é o resultado da implantação de uma ideia, nova para você, capaz de gerar valor para o seu negócio”. O valor gerado pode ser expresso de diversas formas, como: valor econômico, valor estratégico, ou outra forma de valor que seja importante para 4 a sua empresa. Ele também é fruto do produto de sua relevância, de sua abrangência e de sua originalidade (singularidade). Só pode gerar valor uma ideia que tenha alguma relevância, pois quanto mais relevante for a ideia, maior será a probabilidade de se gerar valor com a sua implementação. E por relevância entenda-se o grau de impacto que a ideia é capaz de gerar. Quanto mais impacto gerado, mais relevante é a ideia. A abrangência, por sua vez, representa a amplitude ou extensão que a implementação da ideia pode atingir. Quanto maior for sua abrangência, maior será o valor que a ideia pode ter. Pela própria definição de inovação descrita anteriormente a ideia não precisa ser inédita. O fundamental é que seja nova para você. De forma geral, pode-se dizer que quanto maior for o grau de originalidade da ideia, maior a probabilidade dela gerar valor. Para exemplificar basta lembrar que as empresas mais inovadoras definem estratégias e processos voltados para garantir os direitos de propriedade intelectual sobre as inovações geradas por ideias inéditas. A ORIGINALIDADE/SINGULARIDADE expressa o grau de ineditismo de uma ideia. Uma ideia comum, que muitos já tiveram, tem um baixo potencial de geração de valor. Já uma ideia inédita, que nunca foi pensada antes, tem mais capacidade de gerar valor. Quanto mais original for a ideia, maior é a probabilidade de se gerar valor com sua implantação. A ABRANGÊNCIA está diretamente ligada ao grau de penetração no mercado, que pode ser obtido quando da implantação da ideia. Quanto maior o mercado, maior o potencial do valor gerado. A RELEVÂNCIA está associada ao grau de impacto que a ideia pode ter depois de implantada. Uma ideia capaz de resolver um problema simples, geralmente, tem pouca relevância. Porém, uma ideia capaz de resover um problema complexo terá maior relevância e, portanto, mais potencial de gerar valor. 5 Para facilitar o entendimento do assunto, pode-se classificar a inovação de diversas formas, em função do atributo que se está analisando ou do critério que se usa para analisá-lo, como podemos ver a seguir: Quanto à natureza: Produto, Processo e Negócio. Quanto à forma: Tecnológica ou Organizacional. Quanto à abrangência: Na Empresa, no Mercado ou no Mundo. Quanto à intensidade: Incremental, Semirradical e Radical. Quanto ao propósito: Ocasional (serendipity) ou Intencional (sistemática). Quanto ao nível de difusão dentro da empresa: Localizada (departamental) ou Sistêmica. Quanto ao uso de sistemas, métodos e ferramentas: Empírica ou Sistemática/Metodológica OS DIFERENTES MODOS DE VER A INOVAÇÃO Dependendo do autor, da obra ou do objetivo pretendido, existem inúmeras formas de se definir o que é inovação: “Inovação é adotar novas tecnologias, que aumentam a competitividade da companhia.” Hamel & Prahalad: Competindo pelo futuro. “Inovação é um processo de aprendizagem organizacional.” Bell & Pavitt: The development of technological capabilities “Inovar é um processo de alavancar a criatividade, para gerar valor de novas maneiras, através de novos produtos, serviços e negócios.” Jonasch& Sommerlatte: The Innovation Premium. “Inovação é atribuir novas capacidades aos recursos existentes na empresa, gerando riqueza.” Drucker: Inovação e Espírito Empreendedor 6 “Inovação é o uso, comercialmente bem-sucedido, de uma invenção” Bacon & Butler: Planned Innovation. “Inovação é um processo estratégico, de reinvenção contínua, do próprio negócio e da criação de novos conceitos de negócios.” Hamel: Liderando a Revolução. “Inovação é a mudança que cria uma nova dimensão de desempenho.” Hesselbein et al: Leading for Innovation. “Inovação é = novas ideias + ações que produzem resultados.” Ernest Gundling: The 3M Way to Innovation. Manual Frascati Como podemos ver, inovação é um processo complexo resultante de diversos fatores e pode ser entendidos de várias maneiras, dependendo do ângulo pelo qual é vista e analisada. Para efeitos desta Cartilha, vamos padronizar o entendimento sobre inovação adotando como fontes o Manual Frascati e o Manual de Oslo, da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento – OCDE. A OCDE é um fórum único, no qual os governos de 30 democracias trabalham juntos para auxiliar a resolver os desafios econômicos, sociais e ambientais da globalização da economia e de questões como a sustentabilidade e a inovação. Os membros da OECD são: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, República Eslovaca, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. A Comissão das Comunidades Européias participa do trabalho da OCDE. A OCDE Publishing dissemina amplamente os resultados dos levantamentos estatísticos e pesquisas da Organização sobre questões 7 econômicas, sociais e ambientais, bem como sobre convenções, diretrizes e padrões acordados por seus membros. O que é o Manual Frascati? Em Junho de 1963, a OCDE reuniu especialistas nacionais em estatísticas sobre Pesquisa e Desenvolvimento, na Villa Falcioneri in Frascati, Italy. O resultado foi a primeira versão oficial que se propôs a padronizar a terminologia utilizada pelos diversos países membros da OCDE, quando da execução de pesquisas nas áreas de P&D. O assim chamado Manual Frascati, foi lançado em 1994 e auxiliou o entendimento geral da importância da P&D e da inovação como elementos-chaves das economias baseadas em conhecimento, transformando-se num poderoso instrumento, capaz de possibilitar a comparação e o monitoramento estatístico das ações de inovação em diversos países. Manual Frascati Inovação é a introdução, com êxito, no mercado, de produtos, serviços, processos, métodos e sistemas que não existiam anteriormente ou contendo alguma característica nova e diferente da até então em vigor. Compreende diversas atividades científicas, tecnológicas, organizacionais, fnanceiras, comerciais e mercadológicas. A exigência mínima é que o produto/processo/método/sistema deva ser novo ou substancialmente melhorado para a empresa em relação a seus competidores. Manual de Oslo Posterior ao Manual Frascati, o Manual de Oslo representa a fonte mais atualizada no que diz respeito à padronização das terminologias utilizadas pelos pesquisadores da OCDE. O que é o Manual de Oslo? O Manual de Oslo tem o objetivo de orientar e padronizar conceitos e metodologias, bem como estabelecer as bases estatísticas e indicadores de pesquisa de P&D de países industrializados. Seu antecessor, o Manual 8 Frascati, editado em 1962, originou a série de publicações da OCDE, que ficou conhecida como Família Frascati. A primeira edição do Manual de Oslo data de 1990. A primeira tradução para o português foi produzida e divulgada pela FINEP, em meio eletrônico, em 2004. Manual de Oslo : Inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Segundo o Manual de Oslo as inovações podem ser de 4 tipos: . produto; . processo; . marketing; e . organizacional. Para melhorar a compreensão, podemos separar a inovação em apenas 3 categorias básicas: . produto; . processo; e . negócio. O QUE É INOVAR? Ciência é o conjunto organizado dos conhecimentos relativos ao universo objetivo, envolvendo seus fenômenos naturais, ambientais e comportamentais. Tecnologia é o conjunto ordenado de todos os conhecimentos científicos, empíricos e intuitivos, necessários à produção e comercialização de bens e serviços. 9 Descoberta é uma ação que conduz ao surgimento de uma nova teoria, uma nova lei, um novo conceito ou um novo processo, que poderá reestruturar o pensamento das pessoas em um determinado campo do conhecimento. Invenção é a ação que conduz ao desenvolvimento de um novo dispositivo, um novo método ou uma nova máquina, que poderá mudar a maneira pela qual as coisas são feitas. Pesquisa é o conjunto de atividades realizadas de forma intencional e sistemática para produzir novos conhecimentos. Um modelo para desenvolvimento da criatividade, que contempla distintos aspectos, como habilidades de pensamento criativo: – fluência, flexibilidade, originalidade; atributos de personalidade que favorecem a expressão da capacidade de criar: – iniciativa, independência, autoconfiança, persistência, flexibilidade, entre outros; e promoção de um clima psicológico que reflita valores fortes de apoio à criatividade que se traduz nos seguintes princípios que se seguem: - Confiança na capacidade e competência de cada pessoa. - Apoio à expressão de novas idéias. - Provisão de incentivos à produção criativa. - Implementação de atividades que ofereçam desafios e oportunidades de atuação criativa. Esse modelo vem orientando o programa de criatividade junto a públicos diversos, com vistas à promoção das habilidades criativas dos participantes, ao fortalecimento de traços de personalidade que se associam à criatividade e à, identificação de barreiras à expressão da capacidade de criar. 10 0 Criatividade é processo de se tornar sensível a problemas, deficiências e lacunas no conhecimento; identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses; testar e reatestar estas hipóteses; e, finalmente, comunicar os resultados. O ciclo da inovação Inovar é a capacidade que o indivíduo empreendedor tem de implantar ideias capazes de gerar valor para o negócio. Via de regra, no mundo dos negócios, as inovações se constituem em fenômenos complexos e passam por um ciclo que envolve seu surgimento, crescimento, maturidade e declínio. Cada um desses estágios pressupõe um conjunto de etapas que pode envolver atividades como a pesquisa, o desenvolvimento, a prototipagem, a produção, a distribuição, a comercialização, a entrega, a assistência técnica, o pós-venda, o marketing e a gestão da marca. Características da INOVAÇÃO: 1. O risco de insucesso está sempre presente quando se busca inovar. 2. Pessoas criativas são a matéria- prima básica do processo de geração de inovações. Valorize os talentos. 3. Ambientes adequados geram transbordamentos favoráveis capazes de gerar insights criativos e inovações. 4. A inovação é um processo aberto. 5. A inovação pode ser obtida de formas distintas, inclusive através do uso de métodos estruturados. 6. Inovação é um fenômeno que acontece em todas as áreas do conhecimento, inclusive nos negócios. Nos Negócios 7. A inovação deve estar alinhada à estratégia. 11 1 8. A maioria das inovações vêm de três fontes básicas:clientes, concorrentes e funcionários. 9.A inovação é um fenômeno que acontece no mercado. 10. Inovar é criar valor para a empresa. Os alvos da inovação Segundo Kim Barnes e David Francis, autores do Managing Innovation, há quatro potenciais alvos para a inovação. Podemos chamá-los de 4Ps da inovação. São eles: 1. Produtos e Serviços Diz respeito ao QUE NÓS FAZEMOS 2. Processos refere-se a COMO NÓS FAZEMOS 3. Posição de Mercado Vincula-se a COMO NÓS SELECIONAMOS E NOS COMUNICAMOS COM OS CLIENTES 4. Paradigma ou Modelo de Negócio Está relacionado com QUAIS ELABORAÇÕES USAMOS PARA ENTENDER O MUNDO. Dessa forma, a empresa, dependendo de sua estratégia, pode escolher onde concentrar os (seus) esforços para inovar. INOVAÇÃO TECNOLOGICA O manual de inovação do Movimento Brasil Competitivo (MBC), define inovação tecnológica como “o resultado da aplicação de conhecimentos obtidos através da pesquisa científica aplicada a produtos ou processos de produção, com novas funcionalidades e efetivos ganhos de qualidade ou produtividade, resultando em maior competitividade”. Já no livro Inovar ou Inovar, de Glauco Arbix, o autor, apoiando-se no texto do Manual de Oslo, refere-se à Inovação tecnológica como “a entrada no Mercado de um produto (bem ou serviço), tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado pela introdução na empresa de um processo produtivo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado. Inovação 12 2 diz respeito a um produto e/ou processo novo para a empresa, não sendo necessariamente novo para o mercado/setor de atuação, podendo ter sido desenvolvido pela própria empresa ou por outra instituição. E pode resultar de novos desenvolvimentos tecnológicos, de novas combinações de tecnologias existentes ou da utilização de outros conhecimentos adquiridos pela empresa. Pelo Manual de Oslo, “Inovações Tecnológicas de Produto e de Processo (TPP) compreendem a implementação de produtos e de processos tecnologicamente novos e a realização de melhoramentos tecnológicos significativos em produtos e processos. Uma inovação TPP foi implementada se ela foi introduzida no mercado (inovação de produto) ou usada em um processo de produção (inovação de processo)” (OCDE/Eurostat, 1997, §130). Visando evitar equívocos de interpretação foi feita uma mudança no Manual de Oslo e removida a palavra “tecnológica” das definições, visto que a palavra evoca a possibilidade de que muitas empresas do setor de serviços venham a interpretar “tecnológica” como “usuária de plantas e equipamentos de alta tecnologia”, e assim não a considerem aplicável a muitas de suas inovações de produtos e processos. O momento crucial da mudança tecnológica refere-se à entrada da invenção no processo produtivo, que possui grande impacto para o desenvolvimento econômico. Podemos distinguir invenção de inovação para demarcar esse momento: a invenção, em si mesma, não teria dimensão econômica, referindo-se à descoberta de princípios que podem permanecer restritos ao campo do conhecimento. A inovação, por outro lado, teria aplicação prática, possibilitando o emprego de recursos econômicos de uma forma ainda não efetivada. Essa distinção tem o mérito de destacar o fato de que nem todo avanço no conhecimento tem, necessariamente, implicações na produção, circulação e consumo de mercadorias. No entanto, não podemos ver estes dois processos como sendo independentes: a descoberta de novos princípios cria a possibilidade de sua aplicação a curto ou longo prazo, assim como um novo 13 3 emprego de recursos econômicos pode conduzir à descoberta de novos conhecimentos. Em sua acepção mais geral, inovação refere-se à “introdução de conhecimento novo ou de novas combinações de conhecimentos existentes”. Por sua própria definição, o conceito supõe e impõe uma relação estreita entre inovação e conhecimento. Já a inovação tecnológica, refere-se a “novos produtos e/ou processos de produção e aperfeiçoamentos ou melhoramentos de produtos e/ou processos já existentes”. No entanto, um conceito mais abrangente de inovação foi introduzido por Chistopher Freemam no âmbito das discussões realizadas pela OCDE, em meados de 1970, para responder à necessidade sentida nos países desenvolvidos de ações governamentais que integrassem políticas econômicas e de ciência e tecnologia, P&D e indústria, sistema de pesquisa e sistema produtivo, visando a aumentar a competitividade internacional. Hoje em dia, diante da constatação de que a inovação tecnológica stricto sensu não garante competitividade e não resolve sérios problemas sociais ligados a processos de produção, amplia-se o alcance do conceito para incluir também: a organização e gestão do trabalho dentro da empresa; formas de atualização e qualificação profissional dos trabalhadores; desenvolvimento de novas formas de relação capital/trabalho e/ou de organização do trabalho na empresa; descentralização com integração (social, produtiva, administrativa e política); formação de recursos humanos qualificados em colaboração com as universidades, etc. Em seu sentido ampliado, a inovação objetiva não só a produtividade e a competitividade como também o bem-estar social e qualidade de vida da população. Podemos dizer que, de modo geral, a capacidade de inovar depende da capacidade das sociedades e das relações entre seus agentes, movimentos, organizações e instituições para: (i) empenhar-se nas escolhas que lhe são mais adequadas entre as disponíveis e as acessíveis e; (ii) aplicar os resultados de suas opções, como e onde serão mais produtivos social e economicamente. 14 4 PARTE 2 AVANÇO NO CONHECIMENTO EDUCAÇÃO PARA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO A sociedade do conhecimento exige que se estabeleçam programas de estímulo individual ao aprendizado contínuo e ao desenvolvimento de uma cultura científica e tecnológica. Nesse sentido, a educação para CT&I deve dirigir-se aos estudantes da educação básica, nos níveis infantil, fundamental e médio, das escolas técnicas, aos professores e aos administradores escolares, bem como a todos os cidadãos que necessitam de conhecimentos básicos e aplicados de CT&I, de modo a assegurar sua prosperidade, segurança, qualidade de vida e participação social. O grande desafio está não apenas em tornar a educação relevante, mas em fazer atraente o processo educacional para mestres e alunos. No caso dos primeiros, a questão da formação profissional, ambiente de trabalho, remuneração e perspectivas de carreira são cruciais. Para os segundos, será preciso desenvolver métodos educacionais (textos, programas de computador, redes entre e outros.) capazes de competir em atratividade, sem perder conteúdo, com os meios de comunicação de informação e entretenimento que fazem parte do universo das crianças e adolescentes de hoje. Para os adultos, terão de ser desenvolvidas metodologias apropriadas para sua realidade pessoal e disponibilidade profissional, tais como o ensino a distância, o treinamento no próprio local de trabalho ou a qualificação profissional visando renda e emprego. Terá papel determinante no processo o estabelecimento de atrativos e estímulos ao ingresso de jovens talentos no mercado de trabalho em CT&I, ou seja, a formação de pesquisadores tanto para as instituições públicas e privadas de pesquisa como para as empresas. A educação para a CT&I deve propiciar condições para o indivíduo conhecer o mundo físico, biológico, humano e social, bem como desenvolver atitudes, hábitos e valores necessários para formar seres humanos solidários e criativos, capazes de pensar por si próprios e de interagir com o mundo físico e social de maneira responsável. Isto significa compreender a maneira científica 15 5 de produzir conhecimento e as principaisatividades humanas que têm moldado o meio ambiente e a vida humana, tais como agricultura, manufatura, materiais, fontes e uso de energia, comunicação, processamento da informação e tecnologia da saúde etc., bem como a responsabilidade ético-político-social dos que fazem Ciência, Tecnologia e Inovação. No Brasil, têm sido feitos esforços nesse sentido que, no entanto, precisam ampliar sua magnitude e escopo. Cabe notar a experiência do Programa de Educação para a Ciência (SPEC), subprograma do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), e o Programa Pró-Ciências, da Capes. O SPEC apoiou cerca de 300 projetos, envolvendo mais de 45 mil professores de todos os níveis, em 55 cidades de 22 estados. Mesmo assim, a qualidade do ensino em geral continua sendo um grande desafio, particularmente no que diz respeito à importância que deve ser dada pelos currículos de ciências às relações entre Ciência, Tecnologia e sociedade, ao estímulo para a produção de pesquisa na área de ciência e matemática e, também à articulação das secretarias estaduais e municipais de Educação. No CNPq, encontra-se em estruturação um programa de educação para a Ciência e Tecnologia. Tal programa deverá dirigir-se à educação para a ciência e tecnologia, entendida como o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e habilidades mentais que preparem o indivíduo para a carreira técnico-científica e para a sua inserção crítica no mundo. Alguns de seus objetivos: participar ativamente do processo de alfabetização científica e tecnológica de toda população; fortalecer a alfabetização científica e tecnológica no sistema escolar, contribuindo assim para a melhoria no sistema educacional brasileiro; adequar e qualificar mão-de-obra e perfil dos profissionais das carreiras técnico-científicas, com vistas a elevar a produtividade interna; aprimorar formação e a capacitação dos profissionais de educação; proporcionar o avanço do conhecimento em educação. Museus de Ciência A educação científica e tecnológica deve ir além dos bancos escolares. Centros e museus de ciência permitem estender as oportunidades de 16 6 educação, difusão e informação sobre Ciência e Tecnologia não apenas à população em idade escolar, mas a toda a população, como uma opção de lazer. O Brasil ainda tem muito poucos museus de ciência. Alguns exemplos: em Belém do Pará, o centenário Museu Paraense Emílio Goeldi e, no Rio de Janeiro, o Museu de Astronomia e Ciências Afins, ambos do MCT; em São Paulo, a Estação Ciência, criada pelo CNPq e hoje sob a responsabilidade da Universidade de São Paulo; em Porto Alegre, o Museu de Ciência e da Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica. Como parte da estratégia de avanço do conhecimento, é preciso, nos próximos anos, expandir substancialmente a rede desses centros de divulgação científica e integrá-la, de forma efetiva, ao processo de aprendizagem e alfabetização tecnológica das crianças e jovens brasileiros, e ao de educação tecnológica dos adultos. FORMAÇÃO PARA INOVAÇÃO TECNOLOGICA A formação e capacitação de recursos humanos é fator crítico para o desenvolvimento. As nações que investiram de forma sistemática no fortalecimento e ampliação de capital humano atingiram patamares científicos e tecnológicos diferenciados que lhes permitiram tanto ampliar a base econômica quanto aprimorar indicadores de qualidade de vida. Expansão do Ensino no Brasil Os esforços brasileiros neste campo, nos últimos cinquenta anos, têm sido notáveis. No período mais recente, ao lado da expansão quantitativa e da ampliação da cobertura geográfica, a política educacional vem dando particular atenção para a superação de deficiências estruturais do sistema que comprometem a qualidade da educação. Temas como orientação acadêmica e pedagógica do ensino, capacitação de novos professores e atualização contínua do quadro funcional, capacidade de atender à crescente demanda por educação de qualidade em todos os níveis, avaliação de resultados, gestão operacional e pedagógica já estão sendo enfrentados, mas, ainda assim, por quaisquer critérios que se adotem, devem integrar a agenda para os próximos dez anos na área de educação. 17 7 Melhoria da Qualidade do Ensino O aprimoramento e expansão quantitativa da rede de ensino fundamental no País já está ampliando fortemente a demanda no ensino médio e até mesmo no nível superior, que terá grandes desafios ao longo da próxima década, como consequência da expansão dos demais níveis. De um lado, é necessário assegurar a contínua melhoria do padrão qualitativo do ensino, que, apesar do evidente progresso observado nos últimos anos, ainda está certamente aquém dos níveis desejados; de outro lado, é preciso capacitar o sistema de ensino médio e superior para absorver o aumento da demanda e responder às exigências educacionais da sociedade do conhecimento. O Ensino Superior de Graduação Existe enorme demanda não atendida de ensino superior no Brasil. Durante quase quinze anos, o número de inscritos no vestibular cresceu mais rapidamente que o número de vagas, e apenas no último quinqüênio o hiato entre o número de candidatos e matriculados foi estabilizado. Em 1981, o número de candidatos inscritos para os vestibulares foi de cerca de 1,7 milhão, correspondendo a 125% do total de matriculados; em 1994, o número de candidatos foi de 2.2 milhões, 41% a mais do que o número de matriculados (1,7 milhão). Em 1999, o total de inscritos no vestibular alcançou 3.3 milhões, e a relação número de candidatos/número de matriculados não se alterou. O fato é que, depois de quase uma década de estagnação, o número de matrículas no ensino superior voltou a crescer de forma acentuada no último quinqüênio. Verifica-se que, em 1981, o total de matriculados em instituições públicas e privadas de ensino superior era de 1,4 milhão de estudantes. Em 1994, este número era de 1,7 milhão (dos quais 41,6% em instituições públicas), tendo saltado para 2,4 milhões em 1999 (35% do total). Observa-se, portanto, um crescimento vigoroso do sistema privado (58,1% entre 1994 e 1999), embora o sistema público também tenha crescido 20,5% no mesmo período. Neste período, destacou-se a elevação da oferta de vagas pelo ensino privado (70,3%), bem superior ao crescimento da oferta nas universidades 18 8 públicas (23,2%), o que levou a participação do primeiro a 75,6% do total das vagas oferecidas em 1999. Expansão do Ensino Privado A expansão do sistema privado vem permitindo não apenas a absorção de parte do crescimento da demanda, mas também a maior capilaridade da rede de escolas superiores, alcançando inclusive cidades de pequeno e médio porte do interior do País. Ao mesmo tempo, impõe aos gestores do sistema o enorme desafio de assegurar a prestação de serviços de qualidade compatível com as exigências da sociedade contemporânea e com a própria realidade econômica das famílias brasileiras. Impõe, ainda, o desafio de integrar o sistema privado com as atividades de pesquisa e de formação de recursos humanos de alto nível, para atender à crescente demanda do próprio mercado de trabalho por esse tipo de profissionais. Apesar desse aumento, o total de matrículas, quando comparado à população brasileira na faixa etária e 18 a 24 anos, ainda representava uma proporção baixa, no final da década passada (10% no ano de 1998). O estudo “Resultados e Tendências da Educação Superior no Brasil” (INEP, 2000) confirma a aceleração do ritmo de matrículas na graduação, tal como mencionado acima, a melhoria global dos indicadores de eficiência e produtividade do sistema – evidenciada pelo aumento do número de concluintes, melhoria da relação entre o número de concluintes e o número de ingressantes, aumento do número de alunos por professor e de aluno porfuncionário –, a melhoria da qualificação docente e a expansão e consolidação dos programas de pós-graduação nas instituições de ensino superior públicas. Avaliação do Ensino Superior Está sendo implantado no Brasil um sistema de avaliação geral das instituições de ensino superior, nos moldes da que já pratica a Capes há mais tempo para os programas de pós-graduação. Os resultados ainda não permitem o diagnóstico qualitativo completo de todos os cursos, mas são suficientes para sustentar a visão de que o sistema ainda é desequilibrado e de 19 9 que, ao lado de instituições de nível acadêmico elevado – principalmente as públicas –, convive um conjunto que ainda precisa melhorar, de forma substancial, para atingir os padrões de qualidade que o MEC vem fixando como parte do esforço de melhoria generalizada do ensino no Brasil. Neste contexto, somente uma parcela dos cidadãos tem acesso à educação sistemática e de qualidade. A dificuldade com o modelo atual não está somente na existência de instituições de perfis diferenciados para atender à enorme e diversificada demanda. Reflete ainda, tanto problemas estruturais, que vêm se acumulando há décadas, como impasses típicos dos períodos de transformação acelerada e ruptura de paradigma, entre os quais a incerteza em relação à estratégia a ser seguida, à redefinição de funções e prioridades, resistência às mudanças, multiplicidade de interesses não necessariamente convergentes e assim por diante. Não se pode imaginar que os problemas possam ser superados por reformas educacionais, nos moldes da implementada pelo governo militar na década de 60. As instituições de ensino estão em processo de transformação, e o desafio da próxima década consiste, por meio do contínuo dia- logo e debate envolvendo governo, instituições de ensino e sociedade em geral, levar adiante um amplo programa de ampliação quantitativa e qualitativa do sistema de ensino superior. Para isto será necessário, entre outras ações, superar a carência de projetos acadêmicos e pedagógicos para desenvolver metodologias e técnicas adequadas para resolver as grandes questões relacionadas com o atendimento quantitativo da demanda e com a qualidade da educação. Plano Nacional de Educação O Plano Nacional de Educação representa um passo neste sentido. Considerando-se que a população brasileira na faixa etária entre 18 e 24 anos é superior a 20 milhões, o alcance da meta estabelecida no Plano Nacional de Educação prover, até o final da década, oferta de educação superior para, pelo menos, 30% da população na faixa etária de 18 a 24 anos demandará um esforço gigantesco de expansão da educação superior. Ou seja, estabelecer as 20 0 condições para passar de 2 milhões de vagas para entre 4 e 6 milhões de vagas nos próximos cinco anos. Um aspecto que chama a atenção é o crescimento acentuado da participação do segmento privado dos estabelecimentos de ensino superior no Brasil e a expansão, neste segmento, dos estabelecimentos isolados (escolas formadas muitas vezes por um ou dois cursos com única direção, sucedâneas de escolas secundárias). No total dos estabelecimentos de ensino superior isolados, as faculdades privadas representavam 60%, em 1996. Neste quadro, uma exigência crucial para o setor público é a definição de formas de regulação que garantam à população uma perspectiva de melhora contínua e substancial da qualidade da educação ofertada. Um passo inicial importante e inédito nessa direção foi dado com a institucionalização da sistemática atual de avaliação do MEC. Esta compreende os “Provões”, ou Exame Nacional de Cursos (ENC), cujo objetivo é a avaliação do desempenho dos alunos e a avaliação das condições de oferta de cursos de graduação. Esta ocorre mediante visitas de verificação realizadas por especialistas, que efetuam a avaliação dos cursos com respeito à qualificação do corpo docente, organização didático-pedagógica e instalações. A provisão de educação privada de qualidade requer, necessariamente, aperfeiçoamento dos mecanismos de avaliação, a fim de romper com o círculo vicioso da mediocridade que governa o funcionamento de muitas instituições de ensino superior: o estudante paga pelo diploma, e não pelo conhecimento e formação, e por isso mesmo não exige a prestação de um serviço de boa qualidade. Ao contrário, quanto menor a exigência, melhor, pois mais fácil será a obtenção do título. Com relação ao ensino superior público, o mesmo Plano Nacional de Educação coloca um desafio: ampliar a oferta de ensino público e assegurar um número de vagas nunca inferior a 40% do total. Isto implica a necessidade de quase dobrar a oferta de ensino superior por estabelecimentos públicos. Ainda que parte desse crescimento possa vir a ser atendido com a criação de novos estabelecimentos – inclusive em parceria da União com os estados, como indicado no Plano – , é inevitável que as universidades públicas 21 1 promovam ampliação substancial de suas vagas, o que já está ocorrendo. O desafio, na universidade pública, é o de expandir o ensino e ao mesmo tempo melhorar sua qualidade sem comprometer o esforço, a qualidade e os resultados da pesquisa, que também devem ser potencializados. A diversidade e a heterogeneidade de nosso complexo de educação superior devem ser consideradas como premissa fundamental quando se avança na construção de políticas dirigidas ao setor. A Pós-graduação A pós-graduação no Brasil constitui o cerne da pesquisa científica. É também a base de formação de pesquisadores para instituições de pesquisa e para empresas. Neste sentido, tem função estratégica na construção do futuro. Sob todos os aspectos – número de cursos, alunos, bolsas, produção científica –, o quadro da pós-graduação no Brasil, nos anos 90, foi de expansão. O número de estudantes matriculados na pós-graduação stricto sensu cresceu acima de 80%, ao longo da última década. O número de alunos de doutorado cresceu ainda mais rapidamente do que o de mestrado. Esta é uma das principais realizações da década de noventa, com poucas paralelas no resto do mundo. A pós-graduação brasileira vem apresentando um nível de qualidade crescente e para isto contribuiu, de forma decisiva, o processo de avaliação instituído pela Capes, com a colaboração do CNPq e outras agências de fomento, e a participação da comunidade científica. Este processo e a resultante elevação do patamar de qualidade do ensino de pós-graduação no Brasil é exemplar do que se pode alcançar de forma participativa com perseverança e visão de futuro. Bolsas de Formação Um dos instrumentos mais importantes para a obtenção desses resultados tem sido a concessão de bolsas de formação. O número total de bolsas de mestrado e doutorado no País, concedidas pelo conjunto das agências federais (CNPq e Capes), passou de menos de 10 mil bolsas/ano, em 22 2 1980 para mais de 30 mil/ano em 2000. Tomando-se apenas as bolsas de mestrado, vemos que, seu número, que era de aproximadamente 8 mil em 1980, cresceu continuamente até 1994, quando atingiu seu ponto máximo com quase 22 mil bolsas, e vem se reduzindo desde então, tendo atingido o patamar de 17 mil bolsas em 2000. Já o número de bolsas de doutorado partiu de cerca de 1.300, em 1980, elevou-se continuamente durante todo o período, deu um salto expressivo em 1993, chegando a pouco mais de 8.500 bolsas, e manteve-se em uma trajetória de crescimento contínuo até 2000, quando atingiu seu ponto de máximo com 14 mil bolsas. Incluindo-se todas as agências estaduais, o número de bolsas de estudos de formação no país, atualmente vigentes, aproxima-se de 60 mil, segundo as informações do Prossiga captadas em maio de 2001. A prioridade dada às bolsas de doutorado reflete uma decisão da política educacional,para atender à demanda futura, com o objetivo de reforçar a oferta de recursos humanos de qualificação elevada, cuja formação requer anos. Como reflexo da opção de abreviar o tempo de formação dos pesquisadores, acompanhando assim a tendência internacional, acentuou-se o direcionamento da concessão de bolsas ao doutorado, em especial pelo CNPq, que, em 2000, pela primeira vez em sua história, concedeu um número de bolsas de doutorado (5.858) superior ao de bolsas de mestrado (5.572). Foi também uma opção deliberada de País constituir em suas universidades cursos de mestrado e doutorado, distinguindo-se da prática adotada por outros países em desenvolvimento de utilizar-se maciçamente do recurso de enviar seus estudantes para centros estrangeiros. Evidentemente, para áreas do conhecimento consideradas prioritárias ou que não sejam contempladas nos cursos de pós-graduação no País, o envio de estudantes brasileiros para o exterior é a solução mais adequada. De modo geral, a concessão de bolsas de estudo para doutorado-sanduíche e pós-doutorado foi priorizada, sobretudo a partir da primeira metade da década de noventa. Além de manter os vínculos científicos das instituições, pesquisadores e estudantes nacionais com o exterior, essa opção tende a incentivar a disseminação da capacidade científica no País, na medida em que os bolsistas tendem a ser 23 3 mais experientes e a possuir vínculos institucionais mais estabelecidos. Além de incentivar o desenvolvimento e a disseminação de capacidade científica e de pesquisa no País, essa opção, complementada com a busca de soluções mais adequadas para a inserção produtiva desses pesquisadores, contribui para evitar a perda de profissionais mais capacitados para o exterior. Tendo em vista a rapidíssima evolução da CT&I nos países avançados, não se deveria excluir, metodologicamente, a possibilidade de expandir o número de bolsas de estudo no exterior em áreas selecionadas do conhecimento. Por outro lado, parece necessário que a sociedade abra um debate no contexto das perspectivas da crescente demanda por recursos humanos qualificados por países avançados, definindo tanto políticas de fixação no País da mão-de-obra qualificada, como a intensificação de intercâmbio com o exterior como mecanismo de prevenção da fuga de cérebros. Finalmente, vale mencionar ressalvas que são feitas quanto à queda da relação entre bolsas de mestrado e de doutorado, no Brasil. Esta filosofia contrasta com a tendência de países desenvolvidos, como os EUA e o Japão, onde a relação entre mestres e doutores formados é bem superior à do Brasil, mesmo tomando-se em consideração apenas o MA e o MSc (ou seja, desconsiderando-se o MBA). Leve-se em consideração também que a situação nesses dois países é radicalmente distinta da existente no Brasil. O argumento considera que a crescente sofisticação e complexidade da ciência moderna requer a formação de equipes organizadas em estrutura piramidal, incluindo pessoal treinado em diversos níveis, um ou dois líderes, poucos doutores e diversos mestres e técnicos qualificados com nível equivalente ao secundário. A indústria segue a mesma estrutura piramidal, contratando mais bacharéis, menos mestres e somente alguns doutores para posições de liderança. Portanto, a redução da percentagem de estudantes de mestrado com bolsa poderia diminuir a capacidade da universidade de selecionar talentos e desfavorecer a formação de recursos humanos qualificados para a indústria, que prefere contratar mais mestres do que doutores. O nível de escolaridade da população brasileira com um mínimo de dez anos de idade registra um crescimento muito lento desde 1981. Em dezessete anos, a 24 4 escolaridade média do brasileiro aumentou menos de dois anos. Em 1999, ela era ainda inferior a seis anos. Não há testemunho mais eloquente e doloroso do despreparo do país para os desafios da sociedade do conhecimento. Igualmente, não há desafio mais urgente a ser enfrentado para o avanço do conhecimento, caso se queira fazer da Ciência, Tecnologia e Inovação os motores do desenvolvimento do Brasil no século XXI. Será preciso que a sociedade e os poderes públicos deem, à questão educacional, atenção constante e prioritária a toda uma geração. Só assim será possível acelerar o ritmo de crescimento da escolaridade média do brasileiro e começar a aproximá-la daquela dos países bem sucedidos, em seu esforço de desenvolvimento social e econômico. Como já se indicou anteriormente, a escolaridade média da Coréia do Sul, por exemplo, é mais de duas vezes superior à brasileira. Cumpre ainda ressaltar que do indicador quantitativo não transparece a questão da qualidade dessa educação, outro fator crucial do desafio brasileiro. PROFISSIONAIS E PESQUISADORES A distribuição da educação no Brasil é tão desigual quanto a distribuição de riqueza, produzindo um círculo vicioso que alimenta a pobreza: o baixo nível de educação implica baixa produtividade, baixo nível de renda e exclusão social, que por sua vez limita o acesso à educação de qualidade e as possibilidades de ascensão social. Em 1999, no topo da pirâmide educacional, cerca de três milhões de brasileiros (menos de 2% da população) possuem emprego formal, muitos desses em ocupações científicas, técnicas e artísticas e de direção superior. As estatísticas mostram não apenas que as taxas de desemprego para os brasileiros com educação superior são bem inferiores à média geral, mas também que, entre 1985 e 1999, os ocupados em empregos formais, com educação superior, passaram de cerca de 9% para mais de 12% do total de empregados. Não obstante, a participação de cientistas e engenheiros nesse total é bastante limitada: em 1999, o número de cientistas e engenheiros (excluindo- 25 5 se os profissionais de informática) somava cerca de 126 mil pessoas, o que representa apenas 0,5% do emprego formal no Brasil (ou 0,7%, se forem incluídos os profissionais de informática). Embora na primeira metade da década de noventa tenha se reduzido o número de cientistas e engenheiros, a partir de 1996 este número passou a apresentar tendência de crescimento, superando, no caso dos cientistas, o patamar observado em 1990. Ademais, merece destaque a grande expansão do número de profissionais de informática que, entre 1991 e 1999 variou quase 50%. Em comparação com indicadores equivalentes de países mais industrializados, no Brasil a participação desses profissionais no emprego é exígua. Nos países mais industrializados da OCDE, em 1998, a participação de cientistas e engenheiros no emprego variava entre 5% e 12% do emprego total. A distância entre o Brasil e os países mais industrializados é determinada primordialmente pelo menor número de empregos desses profissionais nas empresas. A principal razão para isto é a relativamente reduzida atividade de P&D e engenharia realizada nas empresas brasileiras. Os professores, os funcionários superiores da administração pública (incluindo pesquisadores), os profissionais da saúde e os profissionais de informática constituem as categorias que mais cresceram entre 1985 e 1997, entre os grupos que estão sendo aqui considerados (Gráfico 2). Os professores representam cerca de 40% do total dos profissionais de nível superior em ocupações científicas, técnicas e artísticas. Os professores do ensino superior somavam cerca de 135.000 indivíduos, em 1998, ou 15% do total de professores. Se o significativo aumento no número e participação dos professores é um fato animador, o agravamento do já precário quadro de utilização de engenheiros e cientistas nas empresas merece atenção redobrada e a busca de instrumentos para superá-lo. A promoção do desenvolvimento de atividades tecnológicas nas empresas depende de um conjuntode políticas diretas e indiretas de incentivos. Vale lembrar que a reformulação das políticas de apoio à P&D em vários países (como a França, a Holanda, a Bélgica e a Austrália) tem incorporado mecanismos específicos de apoio à contratação de cientistas e engenheiros pelo setor privado. 26 6 No que concerne aos recursos humanos com alto nível de qualificação, as informações produzidas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) , do IBGE, mostram que o número de pessoas com mestrado ou doutorado no Brasil passou de 157 mil em 1992, para 258 mil em 1999, das quais 224 mil eram economicamente ativas. Por seu turno, 221 mil estavam ocupadas em 1999. Logo, havia cerca de 3 mil pessoas com título de mestre ou doutor em situação de desemprego naquele ano. Isso corres ponde a uma taxa específica de desemprego da ordem de 1,3%, contra 4,2% entre as pessoas com nível superior completo e 9,6% para o conjunto da população. Esse mesmo levantamento permite outras verificações interessantes: em 1992, das pessoas ocupadas, 51% que freqüentaram regularmente cursos de mestrado ou doutorado, independentemente do fato de os terem ou não concluído, estavam empregadas no setor público. Destas, 55% estavam inseridas em atividades de ensino. Em 1999, observa-se que a proporção daquelas empregadas no setor público havia se reduzido para 45% e a parcela das que desenvolviam atividades educacionais havia passado para 53%. Deve- se considerar que este movimento foi motivado tanto pela criação de novas oportunidades de ocupação no setor privado como pela aposentadoria e planos de demissão voluntária associados às reformas institucionais implementadas no setor público ao longo da década de noventa. Assim, o setor privado está se tornando o principal empregador dos indivíduos de alta qualificação (segundo a PNAD, essa situação passou a se verificar a partir de 1998). Note-se que a expansão das oportunidades de emprego nesse setor não se explica apenas pelo crescimento das ocupações nos serviços de educação, uma vez que a proporção das pessoas de elevada qualificação que atuam nesse segmento específico manteve-se, em 1999, no mesmo patamar observado em 1992 (23%). Entre as informações coletadas estão as referentes ao número de pessoas com nível superior que atuam em atividades de P&D no interior das empresas. Seus primeiros resultados indicam que há no País cerca de 12.200 27 7 pessoas nessa situação, distribuídas em 1.800 empresas, das quais 65% estão localizadas no estado de São Paulo. A Base de Pesquisadores Empregada no Brasil De acordo com o último levantamento do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil (2000), do CNPq, 224 instituições forneceram informações sobre 11.760 grupos de pesquisa nos quais trabalham 48.781 pesquisadores, sendo 27.662 com título de doutor. A distribuição geográfica dos 11.760 grupos de pesquisa é fortemente concentrada na região sudeste, conforme demonstra a Tabela 5. São 6.733 grupos localizados nesta região, seguindo-se a região Sul com 2.317 grupos, a Nordeste com 1.720, a Centro Oeste com 636 e a região Norte, com apenas 354. O estado de São Paulo abriga 3.645 grupos, seguido do estado do Rio de Janeiro, com 1.922. Essas duas unidades da Federação, mais o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, abrigam dois terços da atividade de pesquisa quando medida pelo número de grupos. Universidades, escolas isoladas e institutos de pesquisa com atividade de pós-graduação detêm 89,6% do total dos grupos. Estes números refletem a consolidação da pós-graduação na institucionalização da pesquisa no Brasil, fato que foi reforçado nas duas últimas décadas pela continuidade dos programas de bolsas de estudo, mesmo nas fases mais difíceis e de maiores cortes do gasto público no setor. Também é muito concentrada a atividade de pesquisa no Brasil do ponto de vista institucional. Dezesseis instituições, que perfazem 7% do total de instituições inventariadas, abrigam metade dos grupos de pesquisa. Tomando-se as grandes áreas, a percentagem de doutores varia de 68,4%, nas ciências exatas e da Terra, a 45,8%, nas ciências humanas. Entre as áreas do conhecimento, há 11 com mais de 70% de pesquisadores doutores. Dessas, seis pertencem às ciências biológicas (biofísica, bioquímica, fisiologia, farmacologia, morfologia e imunologia), quatro às ciências exatas (astronomia, matemática, física e química) e a restante cabe à engenharia civil. A astronomia e a matemática lideram o ranking de titulação, respectivamente 28 8 com 85% e 83% de doutores. No que se refere às grandes áreas, a distribuição dos grupos é mostrada na Tabela 6. AVANÇO DO CONHECIMENTO A pesquisa acadêmica tem a insubstituível função de acompanhar e expandir a fronteira do conhecimento, além de treinar jovens para a atividade de prospecção, absorção e difusão do conhecimento. Em 2000, a produção científica brasileira, medida pelo número de artigos científicos e técnicos publicados e indexados no National Science Indicators, chegou a 9.511. Enquanto na década de oitenta o crescimento da produção científica foi da ordem de 88%, na década de noventa essa taxa subiu para cerca 150% (Gráfico 3). Não apenas cresceu a participação da produção brasileira na produção mundial de conhecimento, como vem crescendo mais rapidamente do que o conjunto da América Latina e do mundo. Também a citações de artigos brasileiros cresceram aceleradamente nas últimas duas décadas: passaram de pouco mais de 14 mil entre 1981 e 1985, para quase 85 mil entre 1996 e 2000. O desempenho da produção científica brasileira suscita uma reflexão sobre o papel da ciência básica no processo de desenvolvimento da CT&I. Nos anos recentes, tem crescido sobre o sistema de CT&I a pressão por resultados, os quais tendem a ser confundidos com aplicações práticas e rentáveis dos produtos das pesquisas. Argumenta-se com frequência que os países em desenvolvimento não têm condições de competir com os desenvolvidos na geração de novos conhecimentos, já que estes consomem recursos consideráveis, sem garantia de resultados concretos e no curto prazo. Refletindo esta situação, os sistemas de financiamento e apoio à CT&I tendem a priorizar as chamadas pesquisas de resultados, deixando de tratar a questão das relações e interseções cada vez mais crescentes entre a geração e apropriação do conhecimento. A questão que se coloca é como incentivar a pesquisa em geral e ampliar e otimizar as oportunidades de geração de conhecimentos úteis à sociedade. Não se pode esquecer, também, o papel 29 9 estratégico reservado a um corpo de engenheiros e pesquisadores brasileiros de classe mundial, capazes de realizar uma interlocução de igual para igual com seus pares dos países avançados, no acompanhamento de progressos importantes para o país, na prospecção científica e tecnológica, na negociação de tecnologias e na defesa do interesse nacional nos foros internacionais. A formulação das Diretrizes Estratégicas para o avanço do conhecimento, em especial a determinação de prioridades para a indução de pesquisas em áreas básicas, deverá ser objeto de discussões com os vários segmentos da comunidade científica e outros agentes que detêm o conhecimento especializado necessário para formulá-las. Iniciativas neste sentido já estão sendo tomadas pelo MCT e CNPq, por exemplo, no campo da biotecnologia, da oceanografia, da nanotecnologia, entre outros. Estudos prospectivos periódicos das áreas de pesquisa; avaliações frequentes pelos pares, inclusive pela comunidade internacional, dos resultados obtidos em programas de indução; abertura para o surgimento de novos domínios do conhecimento, em particular, as chamadas áreas “interdisciplinares”; todos esses são elementos bem conhecidos do processode definição de Diretrizes em países avançados cientificamente e que estão sendo crescentemente seguidos no Brasil. A riqueza e complexidade do sistema de pesquisa básica no País não recomenda que tais prioridades sejam explicitadas no âmbito de um documento geral como este, o que não significa que a importância de sua discussão não seja reconhecida. Neste contexto, a demanda espontânea dos cientistas e pesquisadores não pode ser olvidada, como salvaguarda às limitações do planejamento, definição e escolha de prioridades. O atendimento a essa demanda atinge dois objetivos: acolhimento de temas e oportunidades relevantes que não tenham sido identificados no planejamento induzido; abertura de espaço para o desenvolvimento de temas e problemas tecnocientíficos determinados pela lógica interna das disciplinas científicas, inclusive com vistas a viabilizar o acompanhamento do progresso da ciência e da tecnologia. 30 0 Algumas das grandes conquistas da ciência e tecnologia no País se deram sob a égide do avanço do conhecimento. O sucesso de Oswaldo Cruz na erradicação da febre amarela deve-se aos resultados dos avanços da pesquisa básica aliados a uma visão social clara e focada. Da mesma forma, o êxito da indústria aeronáutica brasileira está intimamente ligado ao desenvolvimento de uma sólida base de conhecimento de ponta aplicado ao desenvolvimento de novas tecnologias, incorporados na formação e na pesquisa das instituições que alicerçaram seu desenvolvimento. A falsa dicotomia entre criatividade científica e utilidade torna-se ainda mais vazia nos dias de hoje, em que se esvanecem as fronteiras não só entre as disciplinas científicas, mas também entre estas e áreas tecnológicas. Novas metas de caráter complexo e transdisciplinar, como nanotecnologia e biocomplexidade, impõem-se como fomentadoras do avanço do conhecimento para novos patamares. O avanço do conhecimento e o reforço da capacidade nacional para transformar conhecimento em inovação demandarão novo modo de relacionamento entre as ciências e as engenharias, bem como nova postura das universidades e instituições públicas de pesquisa. Constitui um desafio imediato organizar e estimular equipes adequadas a esse tipo de pesquisa, objetivos e práticas. Para as universidades, o desafio residirá em mudar sem abandonar seus valores de base, mas adotando, ao mesmo tempo, uma cultura cooperativa e empreendedora diferenciada. Já as instituições de pesquisa devem enfrentar, sem hesitação, o desafio de se abrirem tanto para outras instituições congêneres e universidades, como e principalmente para a sociedade. Finalmente, é preciso reconhecer que a fronteira do conhecimento expande-se, frequentemente, graças ao trabalho de jovens pesquisadores e às atividades de inovação levadas a cabo pelas empresas. Uma questão prioritária e urgente diz respeito à criação de mecanismos de absorção de jovens pós-doutores e de financiamento à sua pesquisa. O programa Profix, do CNPq, é uma iniciativa importante neste sentido, mas, a médio prazo, o 31 1 problema não pode ser resolvido exclusivamente por meio de bolsas e de auxílios a pesquisas para jovens doutores. Novas instituições de pesquisa terão de ser criadas na próxima década, para explorar novas áreas do conhecimento e promover a absorção de recursos humanos altamente qualificados formados no País e exterior. O congelamento nas últimas décadas da criação de Institutos de Pesquisa e Laboratórios Nacionais – o último grande laboratório nacional, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, foi criado em 1985 – não reflete, obviamente, a tremenda expansão da pesquisa científica no País e no mundo desde então. Este atraso terá de ser recuperado ao longo da próxima década, inclusive com as iniciativas em curso, e explorando, entre outros, os mecanismos de financiamento disponibilizados pelos fundos setoriais e as novas formas de organizações da pesquisa atuais e por desenvolver. Não é desprezível o potencial que esta oportunidade representa, por exemplo, para o equacionamento da questão do desequilíbrio regional da base de pesquisa científica do País. Ao contrário, é uma das mais interessantes opções ao alcance do MCT e das regiões para começar a resolver, de forma permanente, este desafio e, ao mesmo tempo, impulsionar decisivamente a pesquisa científica e tecnológica no País. Esse tema é retomado, em maior profundidade, no capítulo Desafios Institucionais, inclusive à luz de iniciativas recentes como a do Instituto do Milênio e do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, ora em formação. INOVAR EM UMA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO As ciências sociais têm papel crucial no entendimento das relações entre CT&I e a sociedade. A análise da natureza, a evolução e impactos da ciência e tecnologia na sociedade contemporânea torna-se mais crítica nesse século XXI, na medida em que as novas tecnologias da informação e da biotecnologia passam a moldar não somente as estruturas econômicas e sociais vigentes, mas também a própria identidade das pessoas. 32 2 A mais extensa e rápida difusão da tecnologia na sociedade moderna gera maior número de controvérsias científicas e tecnológicas, à medida que se ampliam os grupos de atores e o conjunto de interesses por trás de cada campo que se enfrenta. Igualmente, o maior e mais intenso contato da sociedade com a ciência e a tecnologia aguça a percepção de seus membros em relação a estas, aumentando suas demandas por maior transparência na priorização no investimento em CT&I. Uma sociedade do conhecimento requer um público aberto para a ciência e para a tecnologia de forma positiva e dinâmica. Ora, as ciências sociais têm muito a contribuir para o mapeamento da percepção da sociedade brasileira sobre esses temas. Ao mesmo tempo, estamos diante de mudanças tão radicais nas ciências sociais, quanto as que estão acontecendo nas engenharias e nas ciências exatas e biológicas. Naquelas, vêm se processando a integração de áreas antes especializadas e a incorporação de disciplinas instrumentais, como matemática, estatística e computação. As ciências humanas e sociais também enfrentam desafios em vários aspectos. Em primeiro lugar, deverão provar seu valor em meio a uma onda de demanda por eficiência, lucratividade e resultados, em que o avanço tecnológico é a chave para o aperfeiçoamento do mercado e a criação de empregos. Em segundo lugar, serão desafiadas a enfrentar questões novas e prementes que estão surgindo no contexto de grandes mudanças sociais e econômicas, crescente interdependência entre países e pressões cada vez maiores sobre indivíduos e famílias. Finalmente, serão instigadas a utilizar integralmente as novas tecnologias, que vêm permitindo o desenvolvimento de novas ferramentas e infra-estruturas de pesquisa. 33 3 PARTE 3 O DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E QUALIDADE DE VIDA A inovação tecnológica é a grande ferramenta para o crescimento econômico, para os ganhos de eficiência e de competitividade no mundo. O Brasil vem conquistando posições competitivas no mercado internacional em vários segmentos, sendo alguns de base fortemente tecnológica, como, por exemplo, a produção de commodities do setor agrícola, a produção de alimentos e a fabricação de aeronaves. É evidente que a competitividade do agronegócio brasileiro tem sua fonte na Embrapa, e temos hoje uma competitiva indústria de aeronaves graças a investimentos governamentais anteriores em instituições de ensino e pesquisa, como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA. Não obstante, há ainda grandes desafios a enfrentar. No Brasil, assim como em Minas Gerais, cientistas, técnicos e engenheiros envolvidos com inovação e desenvolvimento tecnológico ainda trabalham, principalmente, emambiente universitário ou em institutos de pesquisa criados pelo governo, sendo que 23% trabalham em empresas. Na Coréia do Sul, esse número chega a 59%; e, nos Estados Unidos, a 80%. Persiste, portanto, uma distorção no sistema de pesquisa e desenvolvimento, caracterizada pelo número ainda insuficiente de cientistas e engenheiros (C&E) envolvidos na atividade de inovação nas próprias empresas. Por outro lado, a universidade e os institutos de pesquisa não podem substituir sistematicamente as empresas na tarefa de gerar novos produtos e processos, ainda que possam contribuir decisivamente para isso, principalmente com recursos humanos de nível internacional e com resultados de pesquisa acadêmica executada com faro de mercado. É fundamental estabelecer um território para diálogo construtivo entre os setores produtivo e acadêmico, de tal sorte que demanda e ofertas de soluções se articulem de maneira harmônica, sustentando o progresso social. Esse é um papel próprio para o Governo. 34 4 Há várias razões para o descompasso entre o notável crescimento da produção acadêmica brasileira e o seu ainda inexpressivo impacto na economia. Nos países industrializados e, exemplarmente na Coréia do Sul, país de industrialização recente, a maioria dos C&E trabalha em empresas. Brito Cruz, em seus trabalhos sobre o tema, avalia que a baixa quantidade de C&E nas empresas acarreta uma série de dificuldades ao desenvolvimento econômico brasileiro, como, por exemplo, sua baixa competitividade tecnológica e a reduzida capacidade do país em transformar inovação em riqueza. O argumento de que só os países com industrialização consolidada e longa tradição nessa trilha têm empresas com capacidade de produzir inovação é contestado, visto que, no Brasil, 77% dos C&E estão em universidades e institutos de pesquisa governamentais, resultando que apenas 23% trabalham em empresas. A Coréia do Sul tem quase 95.000 C&E gerando inovação nas empresas, enquanto que o Brasil tem cerca de 29.000. Na década de 60, o PIB da Coréia do Sul era comparável ao de países emergentes. Quarenta anos depois, observa-se que sua economia teve notável evolução, situando-se no patamar da União Europeia, tendo seu PIB superado, em 2004, a marca de 1 trilhão de dólares. Naquele ano, a Coréia do Sul exportou US$ 250 bilhões e importou US$ 214 bilhões. Considerando-se que a sua população em 2004 era de 48,42 milhões de habitantes, deriva-se um PIB per capita ao redor de US$ 20.653. Segundo o BIRD, em 2004 o PIB brasileiro era em torno de US$ 605 bilhões. Para uma população de aproximadamente 180 milhões de habitantes, nosso PIB per capita naquele ano fica em torno de US$ 3.361, ou seja, cerca de um sexto do valor alcançado pela Coréia do Sul. A Coréia do Sul destaca-se também pelo crescimento expressivo do número de publicações científicas e tecnológicas em revistas indexadas, tendo superado o Brasil já na década de 90. 35 5 Segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), em 2005 o número de pedidos de patentes oriundos de países emergentes teve um crescimento de 20% em relação a 2004, representando 6,7% de todos os pedidos de patentes internacionais. No topo da lista está a Coréia do Sul, com 4.747 pedidos; seguida pela China (2.452); África do Sul (336); Singapura (438); Brasil (283) e México (136). O número de patentes registradas pelas principais empresas sul coreanas, como a Samsung, Hyundai Electronics, LG e Daewoo, superou em 2004 em mais de cem vezes o número de patentes internacionais das empresas brasileiras. O parque industrial brasileiro, por outro lado, expandido no regime de substituição de importações, especialmente a partir da década de 70, é ainda constituído de empresas que, em sua maioria, agregam pouco valor, fabricando localmente produtos de concepção estrangeira, sob licença ou em parceria comercial. Assim, essas empresas, em sua maioria, não têm centros de pesquisa no Brasil, e manufaturam localmente produtos ciclicamente concebidos nos departamentos de P&D das matrizes, aqui comercializados com forte proteção tarifária e fiscal. Também a partir da década de 70, observou-se notável expansão da pós-graduação no Brasil, com cursos de mestrado e de doutorado sendo criados em quase todo o território nacional, tendo hoje atingido níveis de excelência internacional em várias áreas do conhecimento. O Brasil produz agora mais de 9.000 doutores por ano nas várias áreas do conhecimento e tem uma participação em torno de 1% no número total de artigos publicados mundialmente em revistas indexadas. As carreiras acadêmicas estruturaram-se de maneira isomorfa às dos países industrializados e priorizam, mesmo nas áreas tecnológicas, as publicações de artigos em periódicos de qualidade aferida. O pesquisador universitário, mesmo executando pesquisa aplicada, de natureza tecnológica, é avaliado por seus pares e pelas agências de fomento em função de suas publicações. A produção de protótipos, a realização de consultorias, e mesmo a criação de empresas de base tecnológica são consideradas de pouca ou nenhuma importância nessa escala de valores. 36 6 Nas universidades e centros de pesquisa acadêmicos brasileiros, há, historicamente, uma opção por priorizar a pesquisa básica, partindo do paradigma denominado laboratory push, no qual se supõe que os resultados científicos, obtidos em laboratórios, levam à inovação tecnológica e à geração de produtos com eventual inserção no mercado. Outros países, como a mesma Coréia do Sul, adotaram políticas agressivas de incentivo à inovação tecnológica, com um olho aguçado nos mercados globais, em um modelo que mais se aproxima do paradigma denominado market pull, no qual a demanda de mercado (existente ou projetada) exerce pressão sobre as empresas, que, por sua vez, pressionam seus engenheiros por novos resultados tecnológicos que, por sua vez, demandavam e demandam a realização de pesquisas científicas. Economistas neo-schumpeterianos como Rosenber e Tassey, estudiosos das relações entre inovação tecnológica e desenvolvimento econômico, advertem para o fato de que nem o paradigma de laboratory push nem o de market pull são suficientes para modelar as complexas relações existentes entre estas variáveis em economias desenvolvidas, onde pesquisa e desenvolvimento se transformam em resultados macro-econômicos. Há processos ricos de retroalimentação entre produtores e consumidores de tecnologia, aí envolvidos a indústria, o mercado e as instituições acadêmicas. O desafio é equilibrar os dois lados dessa equação, tendo em mente, para nossos propósitos, que o crescimento econômico gerado pela inovação tecnológica produz recursos adicionais tanto para a pesquisa básica- indispensável ao avanço do conhecimento humano - como para a pesquisa aplicada, assim realimentando todo o processo e possibilitando uma espiral de crescimento sustentado com reflexos na melhoria das condições sociais. Brito Cruzmdefende a tese de que o papel das universidades é a pesquisa básica e a formação de recursos humanos, e que cabe à indústria, em seus laboratórios de P&D, contratar recursos humanos de qualidade e realizar as pesquisas aplicadas "engajadas" que resultem em inovações tecnológicas, embutidas em seus produtos. 37 7 Os argumentos de Brito Cruz são poderosos. Destaca ele que, na indústria, prevalece a confidencialidade, enquanto que na academia, pela sua própria natureza, deve prevalecer o livre e aberto debate de ideias. Além disso, a pesquisa na indústria é feita com atenção ao time to market, e usam-se todos os meios para produzir os resultados pretendidos no menor tempo possível. Na academia, em contraposição, o produto do doutorado é o doutor, e não o produto eventualmente focalizadoem sua tese. Há um tempo inerente de maturação, necessário para a formação de um pesquisador (o doutorando) através da "inoculação direta", fruto de contato com seu orientador, que não pode nem deve executar a pesquisa no lugar de seu orientado para "acelerar o processo". Finalmente, ressalta ele, a contextualização no mercado, fundamental para se decidir quais caminhos seguir para a inovação tecnológica "engajada", é território que a indústria tem obrigação de dominar, sendo notório o despreparo de professores e pesquisadores para esta tarefa. Não há meias-palavras na análise e na atribuição de responsabilidades., lê-se: "No Brasil tem havido ultimamente uma tendência a se atribuir à universidade a responsabilidade pela inovação que fará a empresa competitiva. Trata-se de um grav equívoco, o qual, se levado a cabo, poderá causar dano profundo ao sistema universitário brasileiro, desviando-o de sua missão específica, que é educar profissionais e gerar conhecimentos fundamentais". A prevalecer essa tese, conclui-se que, para aumentar o volume de inovação tecnológica no Brasil, há que se focalizar iniciativas corretivas na indústria brasileira -que não produz inovação- e continuar a financiar pesquisas básicas na academia, que, de resto, já está formando recursos humanos de qualidade internacional e produzindo resultados científicos publicados nos melhores periódicos indexados. Em suma, estaríamos em um contexto em que, por um lado, o parque industrial não inova nem demanda capacidade de inovação, porque licencia ciclicamente tecnologia estrangeira e, por outro, as universidades e os centros 38 8 de pesquisa produzem resultados científicos e tecnológicos de boa qualidade, destinadas majoritariamente a publicações nos melhores periódicos internacionais. A pesquisa básica engajada Note-se, em contraposição a estes argumentos, que muito do que se financia no Brasil como ciência ou pesquisa básica é, na verdade, tecnologia de ponta de boa qualidade, produzida em pequena escala (quando se compara com a produção tecnológica de países industrializados), desacoplada do parque produtivo local, gerando publicações indexadas, mas sem clientes prospectivos, em prazo previsível, no mercado interno. Tome-se, por exemplo, a própria Física, paradigma das ciências fundamentais, e, em particular, as atividades de pesquisa em Física experimental no Brasil. O cardápio de projetos historicamente financiados pelo CNPq e pelas agências estaduais de fomento nessa área, por exemplo, mostra que temas semelhantes são trabalhados nas universidades líderes mundiais em seus departamentos de Engenharia de Materiais, Metalurgia, Ciência de Materiais, dentre outras denominações, em geral integrantes das escolas de Engenharia daquelas universidades. O argumento, novamente, é que muito do que se faz no Brasil com a denominação de pesquisa básica é feito nas escolas de Engenharia das universidades líderes mundiais em pesquisa e formação de recursos humanos. Tecnologia, portanto. Inescapavelmente. Em suma, a boa notícia é que as universidades e os institutos de pesquisa brasileiros estão fazendo inovação tecnológica que, pelos motivos expostos, não foi demandada (encomendada, ou contratada) pelo parque produtivo local. Adicionalmente, essas atividades de inovação envolvem temas de ponta em termos internacionais, condição necessária para publicação em periódicos de qualidade. Considere-se agora o inquestionável papel das universidades, qual seja o de formar recursos humanos de qualidade. 39 9 Se nossa indústria não faz pesquisa, não tem ainda necessidade de contratar (novamente, e para usar como exemplo), doutores em Física. Para quem, então, estaríamos formando recursos humanos de qualidade internacional? Qual seria então o papel de um centro de excelência formador de recursos humanos, financiado com recursos públicos, cujos egressos mais qualificados (mestres e doutores) não têm colocação no setor produtivo local? A situação se assemelha à de um sistema em que o supply side funciona a contento, mas o demand side é atrofiado. Desequilíbrios deste tipo tendem a, eventualmente, inviabilizar a estabilidade e a própria existência do sistema. Existe aí um choque de culturas e valores a ser superado, para que possamos estabelecer objetivos comuns e sair do impasse em que nos encontramos. No que se segue, argumentamos que é possível uma visão alternativa. Um Sistema de Inovação Tecnológica O gestor de recursos públicos se confronta inevitavelmente com a questão de definir o que é estratégico, atributo instrumental para o estabelecimento de prioridades. O prof. José Israel Vargas, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, propôs uma definição que tem a beleza do enunciado simples, mas poderoso: "Estratégico é tudo o que temos muito ou muito pouco". É evidente que a questão, em todos os seus matizes, é mais complexa, mas a frase embute conteúdo suficiente para se traçar as diretrizes maiores do processo. Preliminarmente, a análise dos componentes do PIB de Minas Gerai revela o que é estratégico porque temos muito: mineração e siderurgia, vários setores do agronegócio, serviços, indústria automobilística, construção civil. Como segundo passo, é necessário detalhar, com precisão e quantificação de grandezas, as cadeias de valor desses produtos e serviços. Só o conhecimento profundo das cadeias de valor pode instrumentar e 40 0 contextualizar a análise de risco, a comparação entre alternativas, a barreira de entrada para os concorrentes, os tradeoffs embutidos, etc. O terceiro passo, instrumental para definir um locus de diálogo entre as universidades, os institutos de pesquisa e as empresas, é a identificação de todas as tecnologias subjacentes a essas cadeias de valor. De posse dessas informações, procede-se à contínua e exaustiva análise dos gargalos e desafios tecnológicos pendentes, e das eventuais vantagens competitivas que tenhamos para o enfrentamento desses desafios. Uma vez identificados os gargalos e os desafios tecnológicos presentes nas cadeias de valor daqueles produtos e serviços que são estratégicos porque temos muito, é possível construir uma agenda indutora, contendo os desafios de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica, com garantia prévia de que os resultados terão impacto econômico. Afinal, estaríamos tratando, por construção, dos produtos mais importantes do PIB do Estado. O outro lado da moeda – identificar o que é estratégico porque temos muito pouco –, exige conhecimentos e instrumentalização muito mais complexos. A definição do que é estratégico “porque temos muito pouco” é muito mais complexa porque, dentre outros desafios, inclui o de "ler" para onde estão indo as tendências de mercado nos vários horizontes de planejamento. Mesmo assim, é possível começar pelo reconhecimento dos setores em que temos vantagens competitivas no Estado, como é o caso da biotecnologia, das tecnologias da informação e outras, onde temos iniciativas pioneiras que, em escalando, podem trazer extraordinários retornos econômicos e sociais. Um exemplo do que preconizamos: o governo francês, consciente da necessidade de potencializar o papel de sua indústria no mercado mundial, tem mantido admirável papel indutor nas iniciativas coletivamente denominadas de As Tecnologias Chave da Indústria Francesa. O trabalho, sintomaticamente coordenado pelo Ministério da Economia, das Finanças e da Indústria, define e detalha objetivos e metas a atingir no (agora) horizonte de 2015. A primeira versão desse monumental trabalho 41 1 estabelecia metas para o horizonte de 1995. As tecnologias chave foram organizadas em oito grandes grupos: tecnologias da informação e de comunicação, materiais - química, construção, energia
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