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Pós-Graduação em Gestão Gestão em processos gerenciais Gestão Financeira e Governança Corporativa José Guilherme FAEL Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo Coordenador Pedagógico Osnir Jugler EDitorA FAEL Autoria José Guilherme Gerente Editorial William Marlos da Costa Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues revisão Dayene Castilho Programação Visual e Diagramação Sandro Niemicz AtEnção: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael. É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material, sem autorização prévia da Fael. EDitorA FAEL Avenida Silva Jardim, 167 Curitiba | PR | CEP 80.230-000 FAEL Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427 Lapa | PR | CEP 83.750-000 FotoS DA CAPA Afonso Lima Ilker Jakub Krechowicz T. Al Nakib Todos os direitos reservados. 2012 Gestão Financeira e Governança Corporativa Gestão financeira é a atividade desempenhada pelo diretor financeiro de uma empresa. Os temas mais recorrentes no dia de trabalho do gestor financeiro são geração e administração do fluxo de caixa, planeja- mento financeiro, política de riscos e de investimentos, prestação de contas e controladoria. Diante de tantas responsabilidades, na prática, o diretor financeiro acaba sendo o segundo mais impor- tante cargo executivo, seguido apenas pelo CEO ou diretor presidente. Assim como todos os outros diretores, o diretor financeiro precisa seguir as políticas empresariais defi- nidas pelo conselho administrativo e estar em sintonia com o conselho fiscal da empresa. É na diretoria financeira que serão dados os pri- meiros passos para análise, sugestão, formulação e execução de políticas destinadas ao financiamento e à expansão das atividades da empresa. Serão decididas nesse departamento as formas de financiamento, capta- ção e administração da estrutura de capital da empresa – formado pelo capital próprio e o de terceiros. Portanto, processos de capitalização da empresa e seus impac- tos sobre a estrutura de capital e de controle passam necessariamente pelas mãos do diretor financeiro. Financiamentos de longo prazo para capital de giro e políticas de preços e prazos para fornecedores tam- bém estão na pauta do dia a dia desse gestor à medida que causam impactos diretos e significativos nos resul- tados da empresa. O uso de políticas de Hedge para preços e nego- ciação de contratos perfazem também o rol de necessi- dade de atenção específica à medida que podem com- prometer os resultados operacionais. Veja, a seguir, um exemplo de organograma que caracteriza como o diretor financeiro se encaixa na organização: Figura 1 Conselho fical Ouvidoria fiscal Administrativo financeiro Financeira Contábil Tecnologia RH Análise de crédito Serviços gerais Operacional Agente controle interno e gerenciamento de risco Diretoria Gerência ASSEMBLEIA GERAL 1 . Gestão financeira GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 2 | 1. 1 Gerenciamento dos aspectos que causam impacto na sustentabilidade econômica do negócio A sustentabilidade é entendida pela maioria das pes- soas como um conjunto de práticas que busca minimizar o impacto da atividade empresarial sobre os recursos naturais. No entanto, sustentabilidade, num sentido amplo, abarca também o conceito de sobrevivência do negócio. Partindo do conceito de sobrevivência – no seu nível mais elementar, o de lucratividade – e, ainda, aliando esse termo à solvência (outro ainda mais importante), convém analisar o relatório elaborado pelo Sebrae sobre as principais causas das falências das empresas: Tabela 1 CAtEGoriAS rAnkinG DiFiCuLDADES/rAzõES PErCEntuAL DE EmPrESárioS quE rESPonDErAm FALHAS GEREnCIAIS 1º Falta de capital de giro 42% 3º Problemas financeiros 21% 8º Ponto / local inadequado 8% 9º Falta de conhecimentos gerenciais 7% CAuSAS ECOnôMICAS COnjunTuRAIS 2º Falta de clientes 25% 4º Maus pagadores 16% 6º Recessão econômica no país 14% LOGíSTICA OpERACIOnAL 12º Instalações inadequadas 3% 11º Falta de mão de obra qualificada 5% pOLíTICAS púBLICAS E ARCABOuçO LEGAL 5º Falta de crédito bancário 14% 10º Problemas com a fiscalização 6% 13º Carga tributária elevada 1% 7º Outra razão 14% Ao analisar rapidamente o quadro 1, é possível per- ceber que, na maioria das vezes, a sustentabilidade do negócio é mais uma questão restrita às questões admi- nistrativas mais elementares de um negócio. Ou seja, não são propriamente resultado da não percepção de necessidades de adequação das empresas aos novos tempos, em que o conceito de sustentabilidade assume outra conotação. É exatamente por isso que utilizaremos um grande espaço para discutir questões próprias do descontrole e da falta de planejamento de curto, médio e longos prazos restritas a essa ótica do termo “sustentabilidade” logo mais adiante. Contudo, não se pode, por isso, deixar de admitir que, hoje em dia, a questão da sustentabilidade engloba as seguintes frentes: sobrevivência dos negócios através das gera- x ções – depende de todo o processo, desde a constituição da firma até o plano estratégico de crescimento e desenvolvimento, do modelo de negócios e de sua constante atualização, como também de todos os processos desti- nados a enfrentar os problemas característicos do processo de concorrência, manutenção e de expansão de mercados; sustentabilidade social e ambiental – seja pelas x novas exigências do mercado consumidor, GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 3 | funcionando como elementos de pressão, seja por imposições legais ou mesmo por princípios éticos, a necessidade de repensar constante- mente o modelo de práticas corporativas e a maneira como se insere na sociedade implica investimento permanente no atendimento de um conjunto de necessidades ditadas por players que não se encontram apenas dentro dos limites da planta do negócio. Esses dois últimos conceitos exigem das empresas investimentos adicionais em outras frentes, não àquelas apenas destinadas a reduzir custos de produção, aumentar a pro- dutividade do trabalho e ganhar mais merca- dos. Exige um comprometimento social e um engajamento ambiental com vistas a reduzir os impactos negativos que suas atividades pos- sam exercer sobre a sociedade. 1. 2 Parâmetros financeiros utilizados, incluindo os relativos aos grupos de estrutura, liquidez, atividade e rentabilidade As demonstrações financeiras revelam a posição de uma empresa em um ponto do tempo quanto às opera- ções no decorrer de algum período passado. Uma aná- lise de índice econômico-financeira de uma empresa é, geralmente, o primeiro passo de uma análise financeira: a análise de balanços visa relatar, com base nas informações contábeis fornecidas pelas empresas, a posição econômico-financeira atual, as causas que determinam a evolução apresentada e as tendências futuras. Em outras palavras, pela análise de balanços extraem-se informações sobre a posição passada, pre- sente e futura (projetada) de uma empresa (ASSAF NETO, 2002, p. 48). O gestor financeiro tem obrigação de entender o que cada um desses indicadores é capaz de oferecer em termos de informações relevantes para a tomada de decisão. Esses indicadores funcionam, por exemplo, como os instrumentos e indicadores luminosos expos- tos no painel de um automóvel: servem para avisar que algo não está indo bem e também, no caso contrário, para acusarem que tudo corre conforme o esperado. Muitas das informações relevantes poderão ser obtidas a partir da análise do balanço contábil. O balanço contábil: é o retratode um momento do valor contábil x da empresa em uma certa data. Para exemplifi- car, é como se alguém fizesse uma análise num momento em que a empresa estivesse “con- gelada”. Isto é, uma fotografia das reais condi- ções em que se encontravam as contas de uma empresa num determinado instante de tempo; o balanço é dividido em duas seções, sendo x que na seção da esquerda encontram-se os ativos da empresa, enquanto, do lado direito, o passivo e o patrimônio líquido. O balanço indica tudo o que a empresa possui e tudo que ela terá que honrar no futuro. No balanço, deve sempre existir uma identidade entre o ativo e o passivo, classificados os ativos por ordem de liquidez e, as obrigações, na ordem em que devem ser pagas. De maneira resumida, o ativo representa os recursos aplicados em bens e direitos e, o passivo, as fontes de recursos cedidos por ter- ceiros (WESTON; BRIGHAM, p. 32). O balanço será a fonte das principais informações a serem discorridas neste texto. Quadro 1 moDELo DE BALAnço PAtrimoniAL ATIVO CIRCuLAnTE pASSIVO CIRCuLAnTE Disponível Caixa x Bancos com movimento x Bancos com aplicação x Fornecedores x Obrigações fiscais x Obrigações sociais e trabalhistas x Outras contas a pagar x GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 4 | moDELo DE BALAnço PAtrimoniAL ATIVO CIRCuLAnTE pASSIVO CIRCuLAnTE Créditos Duplicatas a receber x (–) Duplicatas descontadas x Adiantamentos a fornecedores x Adiantamentos a empregados x Adiantamentos a sócios x Impostos a recuperar x Outras contas a receber x Exigível a longo prazo Fornecedores a pagar x Empréstimos bancários x Outras contas a pagar x resultados de exercícios futuros Aluguéis Ativos a vencer x Outras receitas a vencer x Estoques Mercadorias x Matérias-primas x Produtos acabados x Patrimônio líquido Capital social x Lucro do exercício x Lucros acumulados x (–) Prejuízos acumulados x Reservas de lucros x Reserva legal x Despesas do exercício seguinte Prêmios de seguros a apropriar x Juros Passivos a apropriar x realizável a longo prazo Empréstimos a sócios x Investimentos temporários em longo prazo x Despesas antecipadas x Outras contas a receber x ATIVO pERMAnEnTE investimentos Participações permanentes em outras empresas x Participações em fundos de investimentos x Outros investimentos x imobilizado Imóveis x Móveis e utensílios x Maquinários x Veículos x Equipamentos de informática x Instalações x Construção em andamento x Terrenos x (–) Depreciação acumulada x Diferido Despesas pré-operacionais x total do ativo total do passivo 1.2. 1 Exemplos de indicadores relevantes: A partir da análise do balanço, é possível montar um conjunto de indicadores analíticos que permitirão analisar as condições econômico-financeiras da empresa. São eles: índice de liquidez: são índices que mostram x a relação entre o caixa e outros ativos circu- lantes em comparação com seus passivos circulantes índice de liquidez corrente: ativo circulante/pas- x sivo circulante; índice de liquidez seco = (ativo circulante – estoques)/passivo circulante; índice de administração de ativo: são uma série x de índices que avaliam a eficiência com que a empresa administra seus ativos; GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 5 | índice de giro de estoque: vendas/estoques; x prazo médio de recebimento: contas a rece- x ber/vendas médias diárias; giro do ativo imobilizado: vendas/ativo imobi- x lizado líquido; giro dos ativos totais: vendas/ativos totais. x 1. 2.2 Índices de lucratividade Constituem-se em uma série de índices que mos- tram os efeitos combinados da liquidez, da administra- ção de ativos e de administração da dívida sobre os resultados operacionais. 1.2. 3 Rentabilidade das empresas Dominar a diferença entre a lucratividade e a x rentabilidade da empresa é essencial para a administração do negócio. De nada adianta um empreendimento ser lucrativo, se não é rentá- vel. Sem que haja rentabilidade, não é possível recuperar o investimento inicial. Lucratividade é a relação do valor do lucro x com o montante de vendas, ou seja, divide-se o valor do lucro pelo volume de vendas (lucro líquido/vendas). Trata-se então do percentual de ganho obtido sobre as vendas realizadas. Rentabilidade refere-se ao resultado que possi- x bilita a análise do retorno sobre o investimento realizado na empresa. A lucratividade esperada para micro e peque- x nas empresas é de 5% a 10% sobre as ven- das, enquanto a rentabilidade esperada é de 2% a 4% ao mês sobre investimento. As empresas devem buscar a melhoria desses indicadores, sem deixar de lado os indicadores quali- tativos, como a qualidade dos produtos e dos serviços ofertados. A rentabilidade é uma condição necessá- ria para existência de uma empresa e um meio para alcançar fins mais importantes, mas não é o fim em si para muitas das empresas visionárias. O lucro está para elas como o oxigênio, a alimentação, a água e o sangue para o corpo. Não é a razão de ser da vida, embora sem elas não haja vida. (De excelente a líder, Jim Collins e Jerry Porras (2007)). É uma medida do retorno de um investimento. Calcula-se dividindo o lucro obtido pelo valor do investimento inicial. Pode-se dizer que a rentabilidade é a quanti- dade de dinheiro que o investidor ganha para cada quantia investida. margem líquida: lucro líquido/vendas roi x – retorno sobre investimento. Segundo Silva, o ROI é uma simples e eficiente medida de rentabilidade, relacionando os lucros obti- dos com o valor dos investimentos realiza- dos, dando ênfase que essa medida segue o mesmo padrão dos quocientes da análise de balanços, é tanto que é sua taxa é considerada como quociente ou índice de rentabilidade. A fórmula do ROI é: ROI = resultado líquido/ investimento; roA x – retorno sobre ativos totais. Conforme observa Silva A medida de retorno sobre o ativo representa o potencial de geração de lucros da empresa, isto é, o quanto a empresa obteve de lucro líquido em relação aos inves- timentos totais. A fórmula do ROA é: ROA = lucro líquido/ativos totais Para o ROA, uma tabela apresentada por Cafeo (2004) aponta os seguintes valores de referência: até 8% – rentabilidade baixa; x de 8 a 14% – rentabilidade normal; x de 14 a 20% – rentabilidade boa; x acima de 20% – rentabilidade excelente. x Uma análise detalhada acerca de como ler e analisar esses indica- dores se encontra em um dos tex- tos sugeridos, cujo link é: <http://www.institutoassaf.com. br/downloads/ indicadores%20 de%20an%C3%A1lise%20de%20 balan%C3%A7os%20de%20em- presas%20do%20setor%20de%20 const ru%C3%A7%C3%A3o%20 civil.pdf>. GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 6 | 1. 3 Identificação e gerenciamento dos custos Um sistema de custos é um conjunto dos meios e métodos que a empresa utilizará para obter informações gerenciais ao nível dos custos reais de produção. Conforme observam Pompermayer e Lima (2002), a gestão de custos está além das técnicas tradicionais da contabilidade. Do ponto de vista contábil, os custos podem ser custo contábil ou custo gerencial. O custo contábil está relacionado à contabilidade financeira; já o custo gerencial está comprometido com a eficiência pela redução dos gastos empresariais, por meio de análises e pesquisas direcionadas à mudança de processos, ges- tão financeira adequada e ao atendimento de questões especiais relacionadas com a logística do atendimento adequado aos clientes. Ainda, segundo os autores citados, os métodos utilizados para a contagem de custos, sejam estes con- tábeis ou gerenciais, deverão ser adaptáveis a todos os tipos de negócios e terão que servir para planejar, administrar e controlar as atividades econômicas resul- tantesde cada empreendimento. As atividades explora- das por cada empresa são a origem criadora de recur- sos, ou seja, são receitas que resultaram da venda de bens e ou serviços. Essas atividades são denominadas atividade fim, e as demais atividades de uma empresa, atividades meio. Para Pompermayer e Lima (2002), os gastos obti- dos com as atividades fim são denominados custos, enquanto os gastos com as atividades meio dão chama- dos de despesas. Os controles realizados pelos registros contábeis dos gastos, custos e despesas, são a essência da contabilidade de custos. Conceitualmente, portanto, custos são todos os tipos de gastos, em bens e servi- ços, utilizados na produção de outros bens ou serviços. Portanto, é possível então afirmar que os custos serão considerados todos os ativos que se transformam em outros ativos. No sentido de aperfeiçoar o processo de tomada de decisão dos gestores de uma organização forne- cendo-lhes informações, conforme Pompermayer e Lima (2002), a controladoria devera respeitar duas premissas: a ideia de controle futuro, ou seja, pressupor 1 | para corrigir antes; reunir informações de todos os subsistemas – 2 | o organizacional deverá contemplar todos os setores da empresa com o objetivo de tornar o controle e fluxo de informações, tornando-se imperativo o estabelecimento de um processo de planejamento e controle orçamentário, o qual possibilitará por meio da agregação e pro- jeção de informações de todos os subsistemas o monitoramento dos possíveis desempenhos de todos os setores da organização. A figura a seguir apresenta o processo e con- trole orçamentário, levando em consideração o conjunto de decisões existentes em uma organização industrial. Para conhecer os métodos de avaliação de custos, leia o texto complementar “Análise de custos na formação do preço de ven- da”. Para saber mais sobre as técnicas de formação dos pre- ços dos produtos, visite: <http:// www.congressousp.fipecafi.org/ artigos52005/142.pdf>. 1.4 Avaliação do mercado Análise de mercado consiste em um estudo envol- vendo um conjunto de variáveis fora do controle direto da organização, mas que de forma direta ou indireta podem influenciar com maior ou menor intensidade. O conhecimento desses elementos é particularmente importante no momento em que estão sendo estabele- cidos os objetivos estratégicos, os planos estratégicos e operacionais da mesma. Uma análise de mercado deve ser efetuada não apenas numa perspectiva estática, mas também dinâmica, procurando identificar oportunidades que a empresa possa aproveitar e ameaças que deva evitar ou reverter a seu favor. Segundo Mathur (1984), os elementos a serem analisados no ambiente externo são: estrutura política e legal, valores sociais e culturais, nível de atividade eco- nômica e desenvolvimento tecnológico. GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 7 | Os valores sociais e culturais podem mudar com passar do tempo, ou seja, as empresas têm que estar inteiradas e acompanhando mudanças, tendências e modismos. A política e os aspectos legais vão ao encon- tro dos interesses públicos e promovem o livre mercado e a livre concorrência. Por fim, os empreendimentos têm que estar de olho nas mudanças tecnológicas e é necessário um acompanhamento de perto para que não sejam ultrapassados pelas concorrentes. Outro fator de extrema importância é estar em sincronia com a ati- vidade econômica do país, pois a empresa não pode perder as oportunidades oferecidas pelo governo ou pelo mercado. 1. 5 Recursos financeiros para garantir as necessidades operacionais e equilíbrio do fluxo financeiro Segundo Chiavenato (2005), financiamento é a transação comercial pela qual a empresa busca, por intermédio de terceiros, meios de honrar os seus com- promissos de ordem financeira, capital de giro, ativos circulantes temporários ou permanentes e também para investimentos. A meta é angariar capital temporário, ou seja, antecipar futuras entradas de caixa para honrar as dívidas/contas atuais da empresa. As empresas sazonais, com maior venda em uma época do ano e menores vendas em outras – como, por exemplo, as indústrias de sorvete, que têm elevado número de vendas no verão e o contrário no inverno –, tem a necessidade de aumen- tar seus estoques antes da chegada do momento de grandes vendas. Para viabilizar esse aumento de esto- que, portanto, toma emprestado valores com a estraté- gia de pagar com as entradas esperadas pelo aumento de vendas. 1. 6 Critérios para concessão de créditos e recebimentos garantias x – são necessárias garantias reais para a obtenção de empréstimos bancários da ordem de 130% até 150% do valor do empréstimo; capacidade de pagamento x – variam bas- tante, já que valores superiores a quatro vezes o faturamento mensal não costumam ser libe- rados para capital de giro, a não ser com boas garantias. Não se enquadra nesse tipo de cri- tério as operações com recebíveis (que podem superar esse limite); patrimônio líquido x – linhas de crédito cos- tumam ser negadas no montante que ultra- passar o valor do patrimônio líquido. Empresas com patrimônio líquido negativo não conse- guem crédito, geralmente. 1. 7 Critérios e metodologias empregados para avaliar e definir os investimentos e forma de capitalização apropriada Abertura de capital: modalidade destinada às grandes e médias x empresas devido aos custos envolvidos. Os custos, geralmente, incluem a adoção de siste- mas de gerenciamento do tipo SAP ou Oracle, a contratação de consultorias, auditorias, estru- turação de um departamento de relações com investidores, aumento da transparência, ade- são a um código de governança, pagamento de taxas e provisão de custos com publicações e auditorias externas que podem ser bastante significativos; a abertura de capital consiste em diluir o con- x trole da empresa com a colocação de ações na bolsa de valores. Para grandes e médias empresas, essa estratégia tem-se revelado relativamente mais barata que a captação de recursos no sistema financeiro; colocação de títulos de dívida e debêntures – x essa estratégia de capitalização também cos- tuma ser pouco atrativa para pequenas empre- sas devido ao valor do desconto exigido pelos credores para tomarem os papéis. GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 8 | 1.7. 1 EMPRÉSTIMOS NO BNDES: FUNDOS E PROGRAMAS DO BNDES A atuação financeira do BNDES efetiva-se por meio de vários programas e fundos, entre os quais: financiamento à empresa – FINEM; x BNDES automático; x FINAME automático; x financiamento à importação de máquinas e x equipamentos. 1.7. 2 EMPRESAS FILIADAS Agência Especial de Financiamento Industrial x (FINAME) – tem como finalidade básica finan- ciar a compra ou a venda de equipamentos industriais e agrícolas; BNDES Participações S.A. – BNDESPAR – x resultante da unificação da Fibase, Embramec e Ibrasa. A BNDESPAR destina-se a apoiar a capitalização da empresa nacional. 1. 8 Tratamento dos riscos empresariais O risco, em seu sentido elementar, é determinado como a existência de probabilidade de ocorrer um pre- juízo financeiro. No ambiente da gestão financeira, risco é usado analogamente como incerteza. De acordo com Gitman (1997): indiferença ao risco – está relacionado com x a atitude ligada ao risco quando nenhuma mudança no retorno seria exigida em contra- partida de um aumento do risco; aversão ao risco – é quando o agente só aceita x o aumento do risco se receber em contrapar- tida a um aumento do retorno; análise de sensibilidade – é uma forma de aná- x lise comportamental para investigar a respeito do risco. Essa abordagem utiliza de várias ferra- mentas para se aproximar de um entendimento em relação avariabilidade dos resultados. A análise de risco é muito importante para o gestor financeiro. Dependendo do setor no qual estão inseridas as atividades fins da empresa, as receitas podem estar sujei- tas às variações de preços do dólar (no caso de empresas exportadoras) ou ainda dos preços de commodities agrí- colas (no caso de empresas dependentes de matérias- primas). Tais flutuações podem interferir no processo de geração de caixa e gerar dificuldades para a empresa em termos de cumprimento de obrigações (salários, tributos, pagamentos aos fornecedores etc.). Com a finalidade de reduzir tais flutuações, o ges- tor financeiro pode se ver obrigado a ter que empreen- der estratégias de defesa de preços, com operações de Hedge de câmbio nos mercados futuros ou com a negociação de contratos com cláusulas de revisão de preços e quantidades. Trabalhando com bancos ou com corretoras, a iden- tificação dos riscos aos quais os negócios da empresa estão sujeitos e a elaboração de uma política de gestão de risco clara e bem definida se fará necessária para dar subsídio às ações necessárias para a defesa dos interesses da empresa. 1.8. 1 Fontes de risco O risco associado a um instrumento de investimento pode resultar em uma combinação de fontes possíveis. Um investidor prudente considera como as principais fon- tes de risco, discutidas a seguir, podem afetar os instru- mentos de investimentos potenciais. Evidentemente, como discutimos na seção 1.2, o risco cambial também deve ser considerado quando se investe internacionalmente. Em geral, o risco do negócio é o grau de incer- teza associado aos rendimentos de um investimento e à capacidade de o investimento pagar os retornos (juros, principal, dividendos) devidos aos investidores. Por exem- plo, empresários podem não receber nenhum retorno se os lucros de suas empresas não forem adequados para atender às obrigações. Os detentores de dívida, por outro lado, provavelmente recebem parte da quantia devida a eles (mas não necessariamente toda), devido ao trata- mento preferencial acordado legalmente à dívida. Boa parte do risco associado ao negócio relata o tipo do negócio em um dado instrumento de investimento. Por exemplo, o risco de um negócio com ações de ser- viços públicos difere do risco do negócio de ações de fabricantes de roupas ou ações de internet. Geralmente, investimentos em tipos similares de empresa têm riscos GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 9 | similares, embora diferenças em gerenciamento, custos e localidades causem vários níveis de risco. O grau de incerteza de pagamento atribuível à composição de passivo e patrimônio líquido usada para financiar um negócio é o risco financeiro. Quanto maior a proporção de dívida usada para financiar uma empresa, maior será seu risco financeiro. O financia- mento de dívida obriga a empresa a fazer pagamentos de juros e a restituir a dívida, aumentando, assim, o risco. A incapacidade de atender as obrigações associadas ao uso de dívida pode resultar na insolvência da empresa e em perdas para os portadores de títulos de dívida, bem como para os acionistas e proprietários. A chance de níveis de preço em mudança (inflação ou deflação) afetarem adversamente os retornos de um investimento é o risco do poder de compra. Especifi- camente, esse risco é a probabilidade de os preços em alta (inflação) reduzirem o poder de compra (a quantia de uma dada commodity que pode ser comprada com uma uni- dade monetária). Por exemplo, se no ano passado um dólar (real) comprava três barras de chocolate e hoje só pode comprar duas, porque agora as barras de chocolate cus- tam 50 cents cada uma, o poder de compra de seu dólar (real) diminuiu. Em períodos de níveis declinantes de preço (deflação), o poder de compra do dólar (real) aumenta. Em geral, os investimentos cujos valores se alteram com os níveis gerais de preço têm baixo risco de poder de compra e são os mais lucrativos durante o períodos de preços em alta. Aqueles que fornecem retornos fixos têm alto risco de poder de compra, e são os mais lucra- tivos durante períodos de baixa inflação ou de níveis de preços em queda. Os retornos sobre ações de fabrican- tes de bens duráveis, por exemplo, tendem a se alterar com o nível geral de preços, enquanto os retornos de contas de depósito e títulos de dívida, não. Os títulos são, especialmente, afetados pelo risco da taxa de juros. Isso é verdadeiro particularmente para títulos que oferecem aos compradores um retorno periódico fixo. O risco da taxa de juros é a probabilidade de as mudanças nas taxas de juros afetarem adversa- mente o valor de um título. As próprias mudanças nas taxas de juros resultam de mudanças na relação geral entre a oferta e a demanda por dinheiro. À medida que as taxas de juros mudam, os preços de muitos títulos flutuam: eles diminuem tipicamente com taxas de juros crescentes, e aumentam com taxas de juros decrescentes. Como será visto, mais detalhadamente, os preços de títulos de renda como títulos de dívida caem quando as taxas de juros sobem. Desse modo, eles for- necem aos compradores a mesma taxa de retorno que estaria disponível a taxas prevalentes. O oposto ocorre quando taxas de retorno caem: o retorno sobre um título de renda fixa é ajustado para baixo, a um nível competi- tivo, por um ajuste acima de seu preço de mercado. Um segundo aspecto, mais sutil, do risco da taxa de juros está associado ao reinvestimento da renda. Como observado na discussão a respeito de juros sobre juros, somente se for possível obter uma taxa de retorno inicial sobre a renda recebida de um investimento é que é pos- sível atingir uma taxa de retorno plenamente com- posta igual à taxa de retorno inicial. Em outras palavras, se um título de dívida paga 8% de juros anuais, você deve ser capaz de ganhar 8% sobre os juros recebidos durante o período de retenção do título de dívida para obter uma taxa de retorno plenamente composta de 8% naquele período. Esse mesmo aspecto de risco da taxa de juros se aplica ao reinvestimento dos proventos recebidos de um investimento em seu vencimento ou venda. Um aspecto final do risco da taxa de juros está relacionado a investir em títulos de curto prazo, como letras do Tesouro e certificados de depósito. Quando os títulos de curto prazo vencem, os investidores enfren- tam o risco de ter de investir seus proventos em títulos com rendimentos mais baixos, e que em curto prazo são afetados adversamente. Contudo, aumentos da taxa de juros caírem é, portanto, o risco da taxa de juros de uma estratégia de investimento em um título em curto prazo. A maioria dos instrumentos de investimento está sujeita ao risco da taxa de juros. Embora títulos de renda fixa sejam afetados mais diretamente pelos movimentos das taxas de juros, eles também afetam outros instrumentos em longo prazo, como ações ordinárias e fundos mútuos. Geralmente, quanto mais alta a taxa de juros, mais baixo o valor de um instrumento de investimento, e vice-versa. O risco de não ser capaz de liquidar um investimento convenientemente e a um preço razoável é chamado de risco de liquidez. A liquidez de um instrumento de investimento é a consideração importante. Em geral, os instrumentos de investimento negociados em mer- cados limitados, no qual a demanda e a oferta são GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 10 | pequenas, tendem a apresentar menos liquidez que aqueles negociados em mercados amplos. Geralmente, pode-se vender um instrumento de inves- timento meramente cortando significativamente seu preço. Entretanto, para ter liquidez, um investimento deve ser ven- dido facilmente a um preço razoável. Por exemplo, um título comprado recentemente por $ 1.000 não seria visto como altamente líquido se pudesse ser vendido rapida-mente apenas a um preço bastante reduzido, como $ 500. Instrumentos como ações e títulos de dívida de impor- tantes empresas listadas na New York Stock Exchange, geralmente, têm alta liquidez; outros, como as ações de uma pequena empresa em um setor em declínio, não têm. A probabilidade de o Congresso fazer mudanças desfavoráveis nas leis tributárias é conhecida como risco fiscal. Quando maior a probabilidade de tais mudanças diminuírem os retornos após os impostos e os valores de mercado de certos investimentos, maior o risco fiscal. Mudanças indesejáveis nas leis tributárias incluem a eliminação de isenções de impostos, a limita- ção de deduções e aumentos nas taxas de impostos. Em anos recentes, o Congresso norte-americano aprovou inúmeras mudanças nas leis tributárias. Uma das mais significativas foi a Lei de Reforma Tributária de 1986, que continha cláusulas que reduziam a atra- tividade de muitos instrumentos de investimento, par- ticularmente imóveis e outros mecanismos de econo- mia fiscal. Mais recentemente, a taxa máxima aplicável a ganhos de capital realizados sobre ativos mantidos por mais de 12 meses foi reduzida. Obviamente, essa mudança beneficia os investidores e não representa as consequências desfavoráveis do risco fiscal. Embora praticamente todos os investimentos sejam vulneráveis a aumentos nas taxas fiscais, certos inves- timentos com vantagens fiscais, como títulos de dívida municipais e outros títulos, bens imóveis e recursos naturais, geralmente têm maior risco fiscal. O risco de mercado é o risco de os retornos sobre investimentos declinarem devido a fatores de mer- cado independentes de um dado investimento, como acontecimentos políticos, econômicos e sociais, por exemplo, além de mudanças nos gostos e preferências do investidor. O risco de mercado incorpora realmente inúmeros riscos diferentes: o risco do poder de compra, o risco da taxa de juros e o risco fiscal. O impacto dos fatores de mercado sobre retornos de investimentos não é uniforme. Tanto o grau quanto a dire- ção da mudança no retorno diferem entre os instrumentos de investimento. Por exemplo, a legislação que coloca cotas restritivas à importação de bens japoneses pode resultar em um aumento significativo no valor (e, portanto, no retorno) de ações de fabricantes de eletrônicos e de automóveis. Essencialmente, o risco de mercado é refletido na vola- tilidade de preço de um título – quanto mais volátil o preço de um título, maior o risco percebido pelo mercado. O risco de evento ocorre quando algo que tem um impacto repentino e substancial em uma empresa afeta sua condição financeira. O risco vai além do risco financeiro e de negócio, ou seja, não significa necessa- riamente que a empresa ou o mercado esteja indo mal. Em vez disso, envolve um evento inesperado que tem efeito significativo e geralmente imediato sobre o fator subjacente de um investimento. Um exemplo de risco de evento é a oferta da Bridgestone/Firestone, em agosto de 2000, para substituir 6,5 milhões de pneus, princi- palmente, nos caminhões leves e SUVs da Ford, com base em 46 mortes e mais de 300 acidentes envol- vendo pneus Firestone que teria se rompido na pista. As ações da Brigstone Corp. – a empresa holding japonesa da Brigestone/Firestone – foram afetadas rápida e nega- tivamente. Caíram cerca de 20% na Tokyo Exchange durante os dois que se seguiram ao comunicado. O risco de evento pode assumir várias formas e afetar todos os tipos de instrumentos de investimento. Felizmente, seu impacto tende a ser isolado na maioria dos casos. Por exemplo, as ações de apenas um número pequeno de empresas foram afetadas diretamente pela oferta da Bridgestone/Firestone para substituir pneus. Necessariamente, o gestor da empresa precisa ter certa aversão ao risco na maioria dos casos e opera- ções. Essa postura é mais característica de empresas comerciais e industriais do que em empresas financeiras que, por sua vez, precisam dosar um tomar mais de risco a fim de obter maior rentabilidade. 1.8. 2 Avaliando o risco Técnicas para quantificar o risco de um instrumento de investimento são bastante úteis. Entretanto, serão de pouca utilidade se não tiver ciência de sua percepção em relação ao risco. O investidor individual tende a buscar respostas GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 11 | a estas perguntas: “Vale a pena assumir o risco perce- bido para se obter o retorno esperado?”, “Posso obter um retorno mais alto para o mesmo nível de risco ou um risco mais baixo para o mesmo nível de retorno?”. Examinar as características gerais de risco-retorno de instrumentos de investimento alternativos e a questão do nível aceitável de risco ajudará a esclarecer como avaliar o risco. Uma ampla variedade de comportamentos de risco- retorno está associada a cada tipo de instrumento de investimento. Algumas ações ordinárias oferecem agora retornos baixos e risco baixo; outras, altos retornos e alto risco. Evidentemente, uma ampla gama de comportamen- tos de risco-retorno existe para investimentos específicos de cada tipo. Em outras palavras, uma vez selecionado o tipo adequado de instrumento, ainda é necessário decidir qual título específico deve ser adquirido. 1. 9 Elaboração e gerenciamento do orçamento, formação de preços e organização de controles considerando as estratégias da organização O planejamento e a elaboração de orçamentos são elementos fundamentais do gerenciamento de desempe- nho de uma empresa. Eles demonstram um meio de tra- duzir a estratégia em um conjunto coerente de iniciativas e fornecer uma base para avaliação e alinhamento objetivos. A ausência de orçamentos bem definidos e discu- tidos, internamente por todos os setores estratégicos da empresa, com vistas ao atendimento das necessidades de curto, médio e longos prazos devido à empolgação de algum gestor com tendências ambiciosas pode, às vezes, comprometer toda a história de uma corporação. Além de orçamentos bem elaborados, compatí- veis com as estratégias de crescimento das empresas, é necessário organizar todo o processo que envolve a estrutura de custos das empresas a fim de poder, entre outras possibilidades, ajudar a constituir um processo de correta identificação de pontos de equilíbrio mínimos para a viabilização de projetos e escalas de produção, antes dela ocorrer. O Portal do Sebrae fornece uma série de planilhas gratuitas que contemplam instrumentos de grande rele- vância para o gestor financeiro. As planilhas permitem o cálculo do ponto de equilíbrio do negócio, o capital de giro necessário para tocar o negócio, além de todo o conjunto de fatores necessários para a formação do preço de venda. Veja este exemplo de planilha disponível: Figura 2 GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 12 | 2 . ANÁLISE DE CUSTOS NA FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA A competitividade tem exigido das empresas a busca contínua em aprimorar a qualidade em todos os processos e as atividades que executam, buscando obter a aceitação dos seus produtos e/ou serviços e alcançar não apenas a permanência no mercado que atuam, mas também, outros objetivos desejados. Alguns dos aspectos que impactam fortemente na obtenção desses objetivos são aqueles que dizem res- peito à análise dos custos e suas influências nas deci- sões que impactam a formação do preço de venda. Estas decisões que objetivam a definição do preço de venda envolvem aspectos muitas vezes analisados de forma empírica, baseadas em dados e informações históricas ou subjetivas, apenas com alguma base científica. Este tipo de análise e decisão não mais atende as necessidades que a competitividade trouxe, princi- palmente em períodos recessivos e de crise, quando a demanda cai de forma relevante, passando a domi- nar o ambiente achamada “briga de preços”, fato que permite, por exemplo, a existência de duas empresas com a mesma estrutura física e de recursos financeiros, praticando preços muito diferentes. Percebe-se então que o preço de venda não pode mais ser objeto de decisões empíricas, mas, sobretudo, objeto de estudo, o que torna necessário conhecer todos os elementos que o compõem, sejam internos ou externos. Para conhecer esses elementos que compõem o preço de venda, são necessários procedimentos organizacionais que informem sobre a estrutura patri- monial, assim como os relacionamentos sistêmicos que as empresas estabelecem com o ambiente no qual estão inseridas, pois, qualquer decisão sobre preço de venda poderá provocar alterações em todas as áreas das empresas e, consequentemente, neste relacionamento. Ao buscar apoio em estudos realizados, García (1998, p.109) afirma que “La determinación del precio de venta es uno de los más importantes problemas en las decisiones de planeamiento que la gerencia maneja.. Los contadores internos puedem proporcionar una con- tribuición importante en esta materia, utilizando técnicas indicadas.” Santos (1999, p. 21) também acentua a impor- tância, quando considera que “a formação do preço de venda dos produtos e serviços nas empresas consti- tui-se numa estratégia competitiva de grande relevância para as organizações.” Em razão desses aspectos apresentados e, enten- dendo a necessidade de contribuir para uma melhor clareza por parte das empresas na análise dos custos e na formação do preço de venda, este artigo busca comentar sobre cada elemento, conceituando-o e bus- cando compreender seu comportamento nas operações comerciais. De forma mais específica, são apresentados os diferentes critérios utilizados na formação do preço de venda, a partir das diferentes ópticas de custos, e também aqueles baseados nos preços praticados pelo mercado e no retorno dos investimentos. Juntamente com estes, são apresentados os conceitos e elementos básicos para a formação do preço de venda, tais como: mark-up, parâmetros externos, efeitos tributários sobre as vendas e sobre a margem de lucro líquida desejada de tributos sobre o lucro. Não é objetivo construir modelos de formação de preço de venda a serem praticados em regimes infla- cionários ou mesmo na opção de compra ou venda a prazo. 2. 1 Áreas de influência direta Os preços atuam mais diretamente sobre deter- minadas áreas, quais sejam: compras, estoque, custos, marketing, vendas e finanças. A capacidade em adquirir mercadorias, ou maté- rias primas, com preços menores; na gestão dos esto- ques; a eficiência nos processos produtivos; as políti- cas na formação dos preços; os procedimentos para a colocação dos produtos no mercado e a gerência dos recursos financeiros, são elementos/processos/ GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 13 | atividades que, se não agregam valor sob a ótica do cliente, também não deveria impactar negativamente os resultados. Este impacto negativo fará com que as empresas tentem obter mais recursos (lucros) através das opera- ções comerciais, fato que poderá influenciar na busca de vantagem competitiva através de preços considera- dos baixos para o mercado que atua. Para compreender como estes elementos impac- tam, será apresentada a estrutura genérica dos preços de vendas. 2. 2 Estrutura do preço de venda Entende-se como preço de venda o valor mone- tário que a empresa cobra de seus clientes em uma transação comercial. Este valor deverá ser suficiente para que a empresa cubra todos os gastos que foram necessários para colocar o produto, mercadoria ou ser- viço, à disposição do mercado, até a transferência da propriedade e da posse destes, incluindo o lucro dese- jado ou possível. Estes gastos normalmente incluem a aquisição de matérias-primas, mercadorias, serviços, como a mão de obra direta e indireta, além dos gastos com estocagem, financeiros, tributos, e outros. Para aglutinar estes gastos pode-se utilizar os seguintes elementos: preço de venda, custo, despesas variáveis, despesas fixas e margem de lucro. Até decorrente da quantidade de estudos sobre o tema, o custo pode ser o principal elemento que impacta a formação do preço de venda, por isso no item 6 será realizada a análise deste. Despesas variáveis são entendidas como os gastos decorrentes das vendas. Por exemplo: tributos diretos e indiretos, comissões, fretes, propagandas, etc. Despesas fixas são conceituadas como os gastos que obrigatoriamente existirão, mesmo que não haja vendas. Por exemplo: aluguéis das edificações, parte fixa dos salários dos vendedores, remuneração dos sócios gerentes, salários administrativos, etc. Margem de lucro é o valor que a empresa entende ser suficiente para atender as seguintes finalidades: remuneração do capital investido, reinvestimento na própria empresa, outros investimentos de curto e longo prazo, distribuição aos sócios e empregados, a remune- ração pelo risco do empreendimento, e também para compor o patrimônio da empresa. Normalmente apenas os sócios, ou a alta adminis- tração, e quem define esta margem de lucro. Como custo poderá ser o primeiro elemento que impacta o preço de venda, são apresentadas a seguir algumas óticas e formas de influências. 2. 3 Métodos de custeio Os métodos de custeio objetivam identificar os gas- tos inerentes ao processo produtivo, acumulando-os de forma organizada aos produtos. Estes custos podem ser aplicados a diferentes objetos tais como: produtos, departamentos, atividades, processos, ordem de produção, ou outras formas que o gestor possa demonstrar interesse. Os métodos existentes são: pleno, absorção, variá- vel/direto e por atividade. O custeio pleno, ou integral, é aquele que se carac- teriza pela apropriação de todos os custos e despesas aos objetos. O custeio por absorção objetiva a apropriação de todos os gastos decorrentes somente do processo produtivo aos produtos, identificando os fixos, variáveis, diretos e indiretos. O custeio variável, ou direto, tem o propósito de alocar aos produtos somente os custos identificados como variáveis, normalmente compostos pela maté- ria-prima e a mão-de-obra direta, consumidos no pro- cesso produtivo. O custeio baseado em atividades (ABC – Activity Basead Costing) procura identificar quais os custos das atividades e não dos produtos, pois defende a óptica de que os produtos consomem atividades e, são estas, e não os produtos, que consomem recursos. GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 14 | Além desses métodos, na formação de preço de venda também são utilizados os custos de transferên- cias e os valores praticados no mercado. Os custos de transferências são aqueles utilizados nos relacionamen- tos entre as áreas de responsabilidade existentes nas empresas. Já os valores de mercado são aqueles prati- cados por outras empresas do mesmo ramo. 2. 4 Métodos utilizados para formação do preço de venda Devido à crescente competitividade, antes de for- mar preço e definir suas políticas de vendas, as empre- sas deverão fazer um diagnóstico, o mais completo possível, acerca do mercado que atuam, do ambiente externo que está inserida, da concorrência, além de seus próprios pontos fortes e fracos existentes em sua estrutura patrimonial. Além destes aspectos, deverá verificar quais os valores que seus clientes atuais, e os clientes em poten- cial, estariam dispostos a pagar por seus produtos. Outros aspectos que deverão ser considerados são aqueles referentes aos objetivos da empresa, os quais basearão as políticas de preços a serem adotadas. Só após estas verificações e com enfoque de fora para dentro, é que as empresas deveriam, então, decidir quais os preços de vendas que poderão praticar.Sobre esses aspectos a serem analisados, Santos (1999, p. 22) apresenta o que denomina de etapas operacionais para a estruturação sistêmica do preço de venda, a partir do enfoque econômico. São elas: avaliação estratégica das variáveis externas x não-controláveis; caracterização do ambiente de competição de x mercado; projeção da demanda de mercado e do pro- x duto; projeção das vendas esperadas dos demais x produtos da empresa; identificação dos objetivos globais e funcionais x da empresa e estabelecimento dos objetivos de preço; identificação das políticas e diretrizes da x empresa e estabelecimento das políticas e diretrizes de preço; identificação das estratégias de globais e fun- x cionais da empresa e estabelecimento das estratégias de preço; projeção da estrutura de custos e despesas da x empresa; apuração do capital investido no negócio e do x respectivo custo de oportunidade; aplicação do preço de simulação mais ade- x quado; obtenção da demonstração do resultado eco- x nômico; avaliação e adequação do preço referencial às x condições de comercialização. O autor entende que os preços de vendas deverão buscar a otimização da relação preço/custo/volume, a qual a empresa poderá obter do (1) fluxo de lucros con- tínuos a longo prazo, permitindo a otimização no uso da capacidade instalada, e (2) garantir um retorno satisfató- rio sobre os capitais investidos no negócio. Para Bernardi (1996, p. 219), os preços de vendas podem ser determinados a partir dos seguintes fatores: os objetivos definidos, a demanda identificada e da con- corrência. Bernardi (1996, p. 221) ainda completa, afirmando que “estabelecer preços é uma decisão difícil e com- plexa, notadamente quando o mesmo é estabelecido pela primeira vez, ou quando se objetiva mudar os pre- ços. A formação dos preços, orientando-se pelo ponto de vista interno, poderão adotar os seguintes caminhos: preços baseados nos custos, retorno do investimento e a maximização dos lucros”. Também Atkinson et al (2000) considera essas dificuldades, quando analisa as variáveis que atuam em decisões sobre preço e mix de produtos, traçando parâ- metros e apresentando casos em estabelecimento de preços para curto e longo prazo. A seguir são demonstradas definições de preço de venda com base no retorno do investimento e na maxi- mização dos lucros. GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 15 | 2. 5 Preço de venda baseado no investimento Construído com base em percentual previamente estabelecido no planejamento. Para calcular o preço de venda são necessários os seguintes elementos: custos e despesas totais padronizados para o x período; e, identificação do total investido para o período. x Utilizando estes elementos: Despesas + (% retorno ∙ capital investido) Custo total Utilizando valores despesas: $ 400.000,00 capital investido: $ 4.000.000,00 retorno definido: 20% custo total: $ 1.500.000,00 Então: 400 000,00 = (20% ∙ 4 000 000,00) = 0,80, ou 80% 1 500 000,00 Multiplicando 1,80 sobre os custos totais, têm-se: Vendas: $ 2.700.000,00 Custos: $ 1.500.000,00 Despesas: $ 400.000,00 Lucro: $ 800.000,00, ou seja, 20% de $ 4.000.000,00, ou ainda 29,62% das vendas. Obviamente que este percentual de 20% deverá ser médio para toda a empresa, podendo alternar um percentual específico para cada produto. 2.5. 1 Preços baseados na maximização dos lucros Para identificar o preço de venda que alcance o maior lucro possível, Bernardi (1996, p. 245) afirma que devem ser considerados os seguintes fatores: Estimativa das vendas totais possível e elas-1 | ticidade do preço: para determinado preço base, estima-se realisticamente o potencial de volume de vendas e, simulando variações nos preços, observa-se o impacto no volume. Estimativa de custos e despesas: mesmos os 2 | fixos podem variar, conforme o volume ven- dido, assim, a empresa estima seus custos e despesas para o volume estudado. Localização do preço que maximiza: através 3 | de simulações sobre um preço base e um volume esperado de venda, juntamente com o custo, busca-se encontrar em que preço e volume que o lucro pode ser maximizado. Como exemplo têm-se um preço base de R$ 40,00 e um volume esperado de 1.000 unidades. Simulando uma variação de 5% de forma gradual, obtém-se o quadro 3 a seguir: Tabela 2 Variação do lucro em função da variação do custo. PrEço uniDADES VEnDAS totAiS VAriAção CuSto totAL VAriAção LuCro 40,00 1.000 40.000 --- 36.000 --- 4.000 38,00 1.100 41.800 1.800 36.400 400 5.400 36,00 1.200 43.200 1.400 37.000 600 6.200 GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 16 | PrEço uniDADES VEnDAS totAiS VAriAção CuSto totAL VAriAção LuCro 34,00 1.300 44.200 1.000 37.800 800 6.400 32,00 1.400 44.800 600 38.800 1.000 6.000 30,00 1.500 45.000 200 40.000 1.200 5.000 28,00 1.600 44.800 (200) 41.400 1.400 3.400 Tabela 3 Formação percentual do preço de venda. Preço de venda 100,00 % ICMS da venda 17,00 % PIS/COFINS 3,65 % Despesas 10,00 % Lucro antes dos tributos 15,00 % Total 45,65 % O mark-up divisor será: 100 % – 45,65 % = 0,5435 100 O mark-up multiplicador será: 1 = 1,8399264 0,5435 Observa-se que os melhores preços de venda estão entre R$ 36,00 e R$ 34,00, para os volumes de 1.200 a 1.300 unidades, capazes de gerar os lucros de R$ 6.200,00 e R$ 6.400,00 respectiva- mente. O problema deste método se encontra na deter- minação dos volumes que serão ou não aceitos pelos clientes, fato que estudos estatísticos e comportamen- tais poderão contribuir. 2. 6 Preço baseado no custo Nas empresas que possuem sistema de custos e, adotando-os como base na formação dos preços de vendas, o processo desta formação poderá se tornar prática e simples, evidenciando os seguintes aspectos: preço e continuidade, competitividade, rotinização das decisões e estrutura formal do preço. Nesse procedimento, o conhecimento da estrutura do processo produtivo poderá se constituir como van- tagem competitiva. Colocado em processos rotineiros, qualquer altera- ção para reavaliação do preço de venda torna-se fácil e estruturada, economizando tempo e esforços. A estruturação formal é simplificada, bastando ape- nas a definição de um mark-up (taxa de marcação). Desta forma, quando os preços de venda utilizam o custo como base de sua formação, o objetivo passa a ser a definição de um mark-up divisor ou multiplicador. Esse mark-up é um valor ou percentual que aglu- tina os elementos que compõem o preço de venda, ou seja, o custo, as despesas e o lucro. Supondo a seguinte estrutura de preço de venda, de forma percentual tem-se o quadro 4 a seguir: GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 17 | Como exemplo, têm-se o valor de $ 100,00 como custo unitário e o preço de venda, utilizando o mark-up divisor, será $ 183,99, e pelo mark-up multiplicador será também de $ 183,99, resultando em lucro de $ 27,60, ou seja, 15% do preço de venda. O exemplo citado não destaca qual o método de custo utilizado. No entanto, existem discordâncias quanto à identificação do custo unitário. Em relação a estes custos unitários, vários conceitos podem ser uti- lizados na fórmula para determinação de preços. Em geral, os custos podem ser: custo atual, custo previsto ou o custo padrão. O custo atual refere-se aos valores históricos mais recentes. O custo previsto é aquele que se refere a valor futuro, ou de reposição, para determinado período. O custo padrão é o valor estimado para um determinado grau de eficiência, que poderá ser um grau ótimo ou simplesmente normal. Outro fator que impacta o custo unitário utilizado na formação do preço de venda é acerca da metodologia utilizada. Em razão disso, serão apresentados exemplosde formação de preço de venda com base nos custeios por absorção, custeio variável, custeio ABC e os valores de transferência. 2. 7 Com base no custeio por absorção O custeio por absorção define que o custo dos produtos serão constituídos por todos os gastos no pro- cesso produtivo, desta forma, o preço de venda deverá cobrir os custos totais (somatória da matéria-prima con- sumida, mão-de-obra direta e os custos indiretos alo- cados), obtendo-se o lucro bruto, e este deverá cobrir as despesas fixas e variáveis, além de proporcionar o lucro líquido. O objetivo deste cálculo é uma primeira aproxima- ção do preço; ele poderá sofrer modificações posterio- res, decorrentes das alterações no mercado. Qualquer alteração nas condições de mercado impac- tam este cálculo, forçando a empresa até a reprojetar o produto, adequando seus custos aos preços aceitos. A utilização do custeio por absorção é alvo de crí- ticas, tais como: ignora a procura por parte do mercado, aten-1 | do-se à estrutura interna da empresa, o que provoca uma certa omissão quanto aos pro- cedimentos da concorrência e, por isso, pode- rão não auxiliar na obtenção de vantagens em relação ao mercado que atua; baseando-se somente em custos históricos, o 2 | preço de venda encontrado poderá prejudicar a reposição dos estoques, além de, no longo prazo, agir negativamente sobre os lucros; utilizando a absorção de todos os gastos no 3 | processo produtivo, não evidencia os diferentes aspectos intrínsecos a cada elemento dos cus- tos, pois, a compreensão das diferenças existen- tes entre os vários tipos de custo, está, cada vez mais, sendo fator importante neste processo. Entendendo que poderá atender com eficiência as análises de custos e sua influência na formação do preço de venda, têm-se procurado utilizar outros méto- dos na identificação dos custos. 2.7. 1 Com base no custeio direto O quadro 5 a seguir demonstra, de forma simpli- ficada, as diferenças entre o custeio direto e o custeio por absorção: Tabela 4 Absorção X direto no preço de venda. PrEço PELo ABSorção PrEço PELo DirEto pREçO DE VEnDA 90,00 90,00 MATERIAIS 18,00 18,00 MãO-DE-OBRA DIRETA 12,00 12,00 CIF TOTAL 30,00 10,00 IDEnTIFICADO 10,00 10,00 nãO IDEnTIFICADO 20,00 -- CuSTO DE pRODuçãO 60,00 40,00 MARGEM DE COnTRIBuIçãO 30,00 50,00 * DESpESAS FIxAS E VARIAVEIS 10,00 30,00 LuCRO LIquIDO 20,00 20,00 MARk-up MuLTIpLICADOR 1,50 2,25 Fonte: *Acumula $20,00 dos CIF não identificado. GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 18 | Verifica-se que a definição do mark-up dependerá do método de custeio utilizado. A forma que se demonstrou os custos diretos e sua relação com o preço de venda neste exemplo, indica como as informações podem ser utilizadas como na formação do preço de venda. É importante ressaltar que o mark-up é somente um guia, não constituindo-se no único indica- dor para todos os produtos. É fato que as empresas não possuem, sempre, um só produto, sendo que, na forma- ção dos preços e a avaliação da lucratividade por linha de produto, não se deve trabalhar com um fator de mark-up único ou médio, e sim, com diversos fatores individuais, os mais adequados a cada um dos produtos. Embora a utilização somente dos custos diretos “retrata de alguma forma a variação dos custos pelo volume de atividades” (Cia & Cia – 1998, p. 289), a uti- lização gerencial do custeio variável permite o destaque dos custos variáveis, fato que contribui nas análises sobre o desempenho destes elementos quanto aos aspectos qualitativos e quantitativos obtidos no processo produtivo. Por outro lado, a utilização somente do custeio variá vel faz com que sejam desconsideradas outras ati- vidades, as quais poderão estar ligadas aos custos fixos, como parâmetros de variação no custo unitário. Para as empresas que descentralizarão suas fases operacionais, na forma de divisões distintas, ou mesmo constituindo controladas ou coligadas, os chamados Preços de Transferências é que deverão ser um dos fatores que mais impactam os preços de vendas de cada área de responsabilidade. 2.7. 2 Com base nos preços de transferência Segundo Limberg et al. (1997, p. 69): “um preço de transferência é a quantia cobrada por uma compa- nhia por um produto ou serviço que forneceu a uma companhia relacionada, como uma transferência entre uma matriz e sua filial, ou subsidiária.” Esta situação aplica-se aos relacionamentos entre as áreas de responsabilidade. Ele aparece quando uma empresa descentraliza suas operações, segregando em unidades fisicamente separadas, embora possam, cada uma, realizar apenas uma das fases do processo produtivo. De outro modo, a descentralização também poderá acontecer caso a empresa objetive atuar em outros seg- mentos do mesmo mercado, ou até em outros mercados. Normalmente quando uma área de responsabilidade não for inteiramente independente e separável, os bens e serviços que produz serão transferidos pelo custo de produção, podendo prejudicar uma análise mais eficiente do processo produtivo e o resultado geral desta área. De outra forma, com as possibilidades de tecno- logia de processamento de dados existente, a identifi- cação do preço de transferência ampliou-se para um conjunto complexo de procedimentos. Um destes procedimentos é aquele que busca medir o desempenho dos segmentos divisionais, através do rela- cionamento entre o capital investido e o lucro obtido, fato que provoca a compreensão e análise do conceito de lucro por parte de todos os envolvidos, contribuindo para aumen- tar o interesse em alcançar uma adequada taxa de lucro. Adotando-se o conceito de lucro nas transferên- cias, torna necessária a definição da receita, sendo esta, então, parcela do custo da unidade receptora. Assim, o preço com o qual se fazem as transferências obriga a análise periódica sobre todos os processos incorridos, o que pode revelar pontos fracos em algum processo que ocorra em alguma das áreas que se relacionam. Os métodos mais utilizados para a definição dos preços de transferências são: custo real, custo padrão, custo padrão mais margem, preço de mercado e preço administrado. Aqueles baseados nos custos podem não contribuir para empresas com estrutura descentralizada que precisam medir o desempenho de suas unidades, além dos fatores já citados quanto aos métodos de acumulação dos custos. Outro aspecto sobre custos é a responsabilidade, pois, a controlabilidade destes custos causa alguma confusão entre os gestores divisionais e, entre estes e a alta administração da empresa. Este aspecto será analisado no item 7. Diante destes aspectos, a opção mais indicada por vários autores constantes na bibliografia pesquisada para a formação dos preços de transferência são os valores praticados pelo mercado, desde que exista um mercado externo bem desenvolvido do produto que se procura transferir. O principal obstáculo é que nem sem- GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 19 | pre este mercado existe, principalmente para produtos intermediários e os semiacabados. 2.7. 3 Com base no custeio ABC Por intermédio desse método, busca-se identificar as atividades que contribuem, de forma específica e a mais direta possível no processo produtivo. Utilizando ferramentas próprias, procura identificar todos os gastos relacionados às atividades produtivas, transferindo os recursos consumidos nestas atividades para o produto. A identificação das atividades pode ser a seguinte, apresentada no quadro 2 a seguir, conforme apresenta Atkinson et al. (2000, p. 136): Quadro 2 Categorias e direcionadores de custos das atividades CAtEGoriAS AtiViDADES rEPrESEntAtiVAS DirECionADorES DE CuStoS DAS AtiViDADES ATIVIDADES DE ApOIO àS InSTALAçõESAdministração da fábrica Contabilidade e pessoal Limpeza, iluminação Aluguel, depreciação Metros quadrados de espaço Quantidade de funcionários ATIVIDADES DE ApOIO AO pRODuTO Projeto do produto Administração de peças Engenharia Pedidos de expedição de produtos Quantidade de produtos Quantidade de peças Quantidade de pedidos de alteração de projetos. ATIVIDADES RELACIOnADAS COM O LOTE Setup da máquina Inspeção do primeiro item Pedidos de compra Materiais manuseados Programação da produção Horas de setup Horas de inspeção Quantidade de pedidos Quantidade de materiais movimentados Quantidade de turnos de produção ATIVIDADES RELACIOnADAS COM AS unIDADES Inspeção de cada item Supervisão da mão-de-obra direta Consumo de energia e óleo para funcionamento das máquinas Quantidade de unidades Horas de mão-de-obra direta Horas de máquina Fonte: ATKINSON et al. (2000, p.136). Também em Kaplan & Cooper (1998, p. 102) podem ser observadas a quadro 7 a seguir, caracterizando as atividades em um processo industrial: Tabela 5 Identificação das atividades e os recursos consumidos. AtiViDADE SALárioS E BEnEFíCioS (uS$) oCuPAção (uS$) EquiPAmEntoS E tECnoLoGiA (uS$) mAtEriAiS E SuPrimEntoS (uS$) totAL (uS$) pROCESSAR pEDIDOS DE CLIEnTES 31.000 5.300 12.600 800 49.700 COMpRAR MATERIAIS 34.000 6.900 8.800 1.500 51.200 pROGRAMAR ORDEnS DE COMpRA 22.000 1.200 18.400 300 41.900 TRAnSFERIR MATERIAIS 13.000 2.100 22.300 3.600 41.000 pREpARAR MáquInAS 42.000 700 4.800 200 47.700 InSpECIOnAR ITEnS 19.000 13.000 19.700 800 52.500 MAnTER InFORMAçõES SOBRE pRODuTOS 36.000 2.800 14.500 400 53.700 ExECuTAR MuDAnçAS DE EnGEnHARIA 49.000 32.000 26.900 2.400 110.300 GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 20 | AtiViDADE SALárioS E BEnEFíCioS (uS$) oCuPAção (uS$) EquiPAmEntoS E tECnoLoGiA (uS$) mAtEriAiS E SuPrimEntoS (uS$) totAL (uS$) ExpEDIR pEDIDOS 14.000 900 700 500 16.100 LAnçAR nOVOS pRODuTOS 35.000 44.000 16.100 18.700 113.800 SOLuCIOnAR pROBLEMAS DE quALIDADE 18.000 2.100 1.200 800 22.100 TOTAL 313.000 111.000 146.000 30.000 600.000 Fonte: Kaplan & Cooper (1998, p.102). Atribuindo aos produtos os custos de cada atividade, o valor unitário pretende ser o mais correto possível, con- tribuindo para que o preço de venda a ser formado guarde relação específica com o resultado deste produto. Outro objetivo deste método e a identificação das atividades que agregam valor, e as que não agregam, sob a óptica do mercado que atua. O cálculo para formação do preço de venda, utilizando o ABC, não será diferente, pois, o que irá mudar será o mark-up, conforme já verificado quando da comparação entre o custeio por absorção e o cus- teio direto. A tabela 6 a seguir apresenta o estudo de Cia & Cia (1998, p. 290), através da Tabela IX e apresentado o quadro comparativo custeio variável X ABC X lógica da TOC (Teoria das Restrições – outro conceito aplicado à acumulação dos custos (grifo nosso): Tabela 6 Comparação variável x ABC x TOC mESES 1 2 3 VARIáVEL $ 6.440 $ 7.080 $ 7.880 ABC $ 3.761 $ 5.430 $ 6.923 TOC $ 6.000 $ 6.000 $ 7.000 Fonte: Cia & Cia (1998, p. 290). Cia & Cia ainda complementam: “Assim, o total de custos e despesas projetados variam de acordo com a abordagem utilizada.” Desta forma, quando a formação da variação da mark-up baseia-se no custo, o percentual divisor ou o índice multiplicador será diferente em decorrência da abordagem na acumulação dos custos. Embora o elemento custo seja, normalmente, o que mais causa interferência, obviamente que, caso altere o valor de outro elemento componente no cálculo do mark-up, também será alterado o preço de venda encontrado. Sobre a capacidade de análise proporcionada pelo custeio ABC, vê-se que, identificando cada atividade, torna possível um melhor entendimento do processo, a análise das tarefas, o fluxo dos recursos consumidos dire- tamente nas atividades primárias e de apoio, auxiliando a detecção de problemas existentes nas atividades, nos recursos desperdiçados, e as possibilidades de interven- ção (tomada de decisão) na correção dos desvios (se houver comparação com padrões preestabelecidos), ou nas reavaliações periódicas destas mesmas atividades. Segundo Sakamoto et al. (1997, p. 400), pode-se observar que o ABC proporciona condições para a obten- ção das seguintes informações de caráter gerencial: Como reduzir custo: x reduzindo o tempo e esforços; x eliminando atividades desnecessárias; x redistribuindo/eliminando recursos não x utilizados; identificando custos redundantes. x Passos para desenvolvimento: x determinação da missão; x comunicação dos objetivos; x desenvolvimento das medidas de perfor- x mance. GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 21 | Como analisar atividades: x identificando atividades não essenciais; x provendo formas de análise das ativida- x des significantes; examinando ligações entre as atividades; x analisando o custo da complexidade; x Direcionar para a Classe Mundial. x gestão estratégica x apoio à administração. x análise do valor agregado da qualidade. x orçamento baseado em atividades, etc. x O autor considera que essas ferramentas utilizadas pelo ABC contribuem para que ele seja o sistema de custeio de que a empresa necessita para avaliar, através de análises e investigações paralelas, as decisões de curto prazo que pretende tomar. De forma comparativa, pode-se considerar que os procedimentos que o ABC proporciona sejam simila- res aos processos de auditoria, o qual objetiva guiar a empresa através de um processo lógico de identificação dos objetivos, medição do desempenho atual, determi- nação do efeito das práticas atuais e identificação de onde as mudanças são necessárias. Isso auxilia a empresa a priorizar ações, mas não modifica a necessária vinculação entre os processos operacionais e as estratégias definidas pela alta admi- nistração. 2. 8 Preço com base no mercado Nos métodos de formação de preço de venda para o mercado, a empresa poderá decidir pela fixação com base nos preços praticados pelo mercado, deixando, como prioridade, uma menor atenção aos seus próprios custos ou à procura de seus produtos. Desta forma, o preço de venda praticado pela empresa poderá ser igual, menor ou maior do que o praticado no mercado, dependendo dos objetivos e das inferências que deduz sobre as possíveis influên- cias que podem lhe causar os componentes do sistema que está inserida. Quando a empresa decide adotar este procedi- mento, ou desconhece quase por completo sua estru- tura interna, ou aparenta confiar nesta estrutura, ou então, seu sistema de informações baseia-se apenas nos custos integrais e históricos em lugar dos custos incrementais (aumento de volume), ou futuros (deriva- dos dos planos existentes). Sobre a formação do preço baseado no mercado, Motta (1997, p. 35), considera que: As preocupações seguintes sejam tomadas para compatibilizar a formulação de uma estra- tégia de preço, quais sejam: identificar os custos incrementais e evitáveis x que são aplicáveis a uma alteração de vendas; calcular a margem de contribuição e variação x das vendas em equilíbrio relativas à mudança de preço proposta; avaliar a sensibilidade ao preço por parte dos x compradores, com a finalidade de estimar a plausibilidade de eles alterarem suas compras, acima ou abaixo da variação das vendas em equilíbrio; identificar os concorrentes e avaliar suas pro- x váveis reações; identificar compradores para os quais os cus- x tos, sensibilidade ao preço e concorrência são significativamente diferentes, e segmentá-los com base no preço, onde for possível; calcularas consequências em termos de lucro, x aritmética ou graficamente, para diversas e prováveis alterações das vendas; aceitar ou rejeitar as modificações de preço x propostas, considerando os benefícios de resul- tados favoráveis, em comparação com os riscos percebidos de consequências desfavoráveis. Quando formado com base no mercado, o preço de venda poderá ser determinado pelos seguintes fato- res: monopólios, oligopólios, convênios e concorrenciais (agressivos e/ou promocionais). Existe também aquele que busca envolver tanto os custos, as decisões de concorrência, e as características do mercado, chamado de Método Misto, para o qual San- tos (1991, p. 125) chama a atenção, afirmando que “seria GESTãO EM PROCESSOS GERENCIAIS | 22 | bastante temeroso para a administração de uma empresa estabelecer preços sem a combinação desses fatores. Cedo ou tarde ela teria de arcar com as consequências de sérios erros que poderiam deixar de ser cometidos.” Outros fatores a serem considerados na formação de preços com base no mercado é que há setores em que os preços são geralmente ditados apenas pelo mer- cado, tais como: setores de alta tecnologia, devido aos curtos x ciclos de vida dos produtos; setores em que os preços de mercado sejam x facilmente conhecidos, como no caso de commodities; setores em que os custos dos produtos são x difíceis de determinar. Entretanto é natural que os gestores dediquem maiores atenções aos produtos que alcancem maior lucratividade; e é o sistema de custos que vai proporcio- nar informações sobre as margem efetivamente obtidas. Neste sentido, o ABC se apresenta como um sistema que fornece informações mais acuradas, isto é, mais isentas de erros sistemáticos. Além disso, há de se considerar que produtos fabricados sob encomenda geralmente não possuem preços de mercado disponível, fato proporcionado pela obrigatoriedade da análise de valor efetuada sobre as atividades. Ampliando os aspectos acerca do método de acu- mulação de custos que a empresa opte por utilizar, um destes e aquele que se refere à condição, ou autonomia descentralizada, do efetivo controle sobre os recursos aplicados no processo produtivo, ou seja, a Controlabili- dade, que será analisada no item 8. 2. 9 Controlabilidade dos custos Sobre este aspecto, Horngren e Foster (apud Parisi, 1995, p. 60), ressaltam que “controlabilidade é o grau de influência que um gerente específico tem sobre os custos ou receitas ou outros itens em questão”. Este aspecto é de suma importância em qualquer procedimento que vise a análise dos custos, pois o grau de autonomia detido pelo gestor divisional impacta diretamente a capacidade de decidir sobre a utilização, ou não, de determinado recursos, fato que influencia direta- mente sobre o desempenho obtido pelo gestor divisional. Quando aos processos de controle, Arantes (1998, p. 167-178) faz um estudo sobre eles destacando os seguintes aspectos. “O processo de controle: x avaliação dos resultados; x comunicação dos desvios; x acompanhamento das correções; x A necessidade de parâmetros de avaliação: x resultados previstos; x resultados realizados. x Uniformidade de critérios de planejamento e x controle. Escopo do controle em todos os planos (glo- x bais e divisionais). Papéis e responsabilidades no controle: x disposição de bons instrumentos; x responsabilidade de todos. x Ciclo do controle em todos os níveis gerenciais: x frequência; x amplitude; x nível de detalhe. x Os registros não constituem o controle. x Os instrumentos não substituem a ação do x controle. A necessidade de agilidade do controle. x O controle para frente (prospectivo). x Destaque apenas das exceções. x Martins (1994, p. 259) acentua ainda que “pode-se dizer que a empresa tem controle dos seus custos e despesas quando conhece os que estão sendo incor- ridos, verifica se estão dentro do que era esperado, analise as divergências e toma medidas para correção de tais desvios. Isto nos permite concluir que nenhum sistema de custos, por mais completo e sofisticado que seja, é suficiente para se determinar que a empresa tenha controle deles.” GESTãO FINANCEIRA E GOVERNANçA CORPORATIVA | 23 | Rocha (1995, p. 3) acompanha esta afirmação, comentando que “sistemas ideais são provavelmente inatingíveis em organizações reais, pois cada uma tem seus próprios objetivos e é diferente em termos de pro- dutos, processos, cultura e condições atuais.” Martins (1994, p. 260) ainda defende que, “já que o objetivo em mira é controle, não seria mais lógico fazermos as análises por separtamentos, já que sobre estes a identificação da pessoa responsável é imediata, enquanto que normalmente não existe uma pessoa res- ponsável pelo produto?”. Esta ideia de Martins, de forma geral, é discutida pelo Sistema ABC, no qual é possível delegar autono- mias e responsabilidades ao gestor de um produto, ou linha de produtos, para que ele seja o responsável direto por todas as atividades ligadas à produção de determi- nado produto, ou linha de produtos. 2. 10 Sobre a contribuição dos sistemas de custos na análise dos processos produtivos Existem vários questionamentos sobre a contribui- ção que os sistemas de custos por absorção e variável oferecem para a análise detalhada sobre a eficiência de cada recurso consumido no processo produtivo e nos processos comerciais. Estes sistemas tradicionais fornecem informações que refletem o passado e, na maioria, contribuem ape- nas para decisões que buscam solucionar problemas de curto prazo (mesmo quando realizadas prospecções em orçamentos). Ao fornecer as variações entre o custo real e o orçado, evidencia o que se gastou no período, contra o que foi orçado para este mesmo período. Utilizando estas variações, possibilitam ações ape- nas para os gestores divisionais, pouco contribuindo para o comprometimento dos funcionários que exe- cutam, efetivamente, as tarefas no processo produtivo (chamado de “chão da fábrica”). Outro aspecto é o tratamento do custo fixo, arbi- trariamente rateado (absorção) ou relegado a gastos do período (variável). O foco é direcionar os custos aos centros de cus- tos e, destes, para as áreas de responsabilidade, acom- panhando a premissa de que, alguém é responsável pelos recursos consumidos naquela área e, por possuir um certo nível de autonomia sobre o controle destes recursos, deverá responder pelos resultados ocorridos (accountability). Em razão da constatação destes aspectos e, pres- sionadas pelo acirramento da concorrência, com a con- sequente diminuição dos lucros, as empresas buscaram conhecer seus pontos fracos e fortes, no sentido de redirecionarem ações que possibilitassem sua continui- dade no mercado. Neste ambiente, surge, após maiores pesquisas, o custeio ABC, o qual apregoa que o custos devem ser gerenciados e não simplesmente eliminados. Para este gerenciamento deverá identificar os obje- tivos da empresa, as funções que apoiam estes objetivos, os processos que possibilitam a execução das funções, as atividades inseridas nestes processos, as tarefas que fazem parte destas atividades e as operações executa- das para o cumprimento das tarefas. Aliadas a estes aspectos, busca-se também identifi- car os chamados direcionadores de custos, o quais são entendidos como os fatores que provocam o consumo de recursos para a execução das atividades. Identificando-se as atividades e os direcionadores de custos, os recursos consumidos serão atribuídos aos produtos que consumiram as atividades, o que pro- porciona a identificação dos recursos, variáveis e fixos, sacrificados pela empresa no processo produtivo de determinado produto. Também se insere neste método a análise de valor de cada
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