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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFACVEST CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA MARIANA DOS SANTOS ROBERTA RAPHAELLY CAMARGO DA SILVEIRA WILLIAM FREITAS HIPOCALCEMIA PUERPERAL BOVINA LAGES/SC 2019 MARIANA DOS SANTOS ROBERTA RAPHAELLY CAMARGO DA SILVEIRA WILLIAM FREITAS ROSA HIPOCALCEMIA PUERPERAL BOVINA Revisão bibliográfica apresentada à disciplina de Clínica de Grandes animais I, do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Unifacvest Prof. ME: Jean Gabriel Dal Pizzol LAGES/SC 2019 RESUMO A hipocalcemia puerperal, febre do leite ou febre vitular é uma doença metabólica-nutricional decorrente do desequilíbrio na regulação de cálcio no sangue. Há este desequilíbrio de Ca porque aumenta a demanda de Ca no chamado ‘’período de transição’’, período este em que a vaca sofre por diversas mudanças decorrentes da gestação. Acomete principalmente vacas leiteiras e pode ocorrer 3 semanas antes e 3 semanas após o parto, se apresentando na maioria dos casos a ocorrência no pós-parto. A manifestação clínica é dividida em estágios, sendo que no primeiro a vaca pode apresentar sintomas como inapetência e debilidade; no segundo estágio há presença de prostração e decúbito esternal; por fim no terceiro estágio a vaca encontra-se em decúbito lateral e estado comatoso. Se não tratada imediatamente pode se tornar um fator predisponente para a ocorrência de outras enfermidades. O diagnóstico da hipocalcemia basicamente se dá pelos sinais clínicos e mensuração dos níveis de cálcio no sangue. A prevenção é através de mudanças no manejo nutricional de acordo com as necessidades das vacas gestantes e em casos que houver a decorrência da doença, o tratamento primordial é a administração de borogluconato de cálcio intravenosa. Palavras-chave: Hipocalcemia puerperal, homeostase do cálcio, manejo nutricional. ABSTRACT The parturient hypocalcemia, milk fever or vitular fever is a metabolic-nutritional disease resulting from the disequilibrium in the regulation of calcium in the blood. There is this Ca desequilibrium because it increases the demand for Ca in the ‘‘transition period’’, this period in which the cow undergoes several changes due from pregnancy. Mainly affects milch-cows and can occur 3 weeks before and 3 weeks after calving, in most cases occurring in the post-partum period. The clinical manifestation is divided into stages; in the first one, the cow may present symptoms such as inappetence and weakness; in the second stage there is the presence of prostration and sternal decubitus; lastly, in the third stage, the cow is lateral decubitus and comatose. If not treated immediately, it can become a predisposing factor for the occurrence of other illnesses. The hypocalcemia's diagnosis is basically based on clinical signs and measurement of blood calcium levels. The prevention is through changes in nutritional management according to the needs of pregnant cows, and in cases where there is the disease, the primordial treatment is the administration of intravenous calcium borogluconate. Keywords: Parturient hypocalcemia, Calcium Homeostasis, Nutritional management 5 1. INTRODUÇÃO A Hipocalcemia Puerperal Bovina é uma das disfunções mais recorrentes em vacas na fase intitulada de “período de transição” que corresponde a 3 semanas anteparto e 3 semanas puerpério (CORBELLINI, 1998). Neste período as demandas energéticas são maiores em razão do crescimento fetal e lactogênese (WHATHES et al., 2007), afetando assim desempenho produtivo e reprodutivo dos animais levando a perdas econômicas decorrentes destes desequilíbrios nutricionais (HAYIRLI et al., 2002)2. A doença quando se manifesta de forma subclínica é uma das principais responsáveis pelos danos causados, como não há sinais clínicos ela passa despercebida aos olhos dos tratadores destes animais causando sérias consequências quando predispõe ao surgimento de doenças secundárias ou relativas a hipocalcemia como: metrite, mastite, retenção de placenta, parto distócico, deslocamento de abomaso e timpanismo. (GOFF, 2008). Entre as raças leiteiras o gado Jersey é o que apresenta a maior susceptibilidade à ter a hipocalcemia, a maioria dos casos são registrados nas primeiras horas pós- parto, entre 12 e 24 horas. (SANTOS, 2006). Resultante de um desequilíbrio na regulação calcêmica esta doença se caracteriza como um distúrbio metabólico- nutricional (CORBELLINI, 1998). 6 2. DEFINIÇÃO A hipocalcemia do gado leiteiro é um distúrbio metabólico comum que ocorre no parto de vacas adultas, é determinado pela hipocalcemia, fraqueza muscular geral, tetania, colapso circulatório e depressão de consciência. Essa doença também denominada como febre vitular, paresia puerperal hipocalcêmica ou febre do leite (RADOSTITS et al.,2002) Quando acometidos os animais podem apresentar um quadro clinico que inclui inapetência, tetania, paralisia flácida, inibição da micção e da defecação, decúbito, coma e eventualmente morte (ALBORNOZ, 2006 apud ALBORNOZ ,2016) 3. ETIOPATOGENIA A hipocalcemia puerperal é uma doença metabólico-nutricional, é caracterizada quando cerca de − 48 até + de 72 horas com relação ao parto há um súbito desequilíbrio na regulação dos níveis de cálcio (Ca) no sangue. Não especificamente uma deficiência de Ca mas sim uma persistente duração da hipocalcemia fisiológica comum em vacas leiteiras de alto valor genético de produção durante o parto devido a uma súbita mudança do fluxo de Ca entre os diferentes compartimentos corporais nos quais este mineral está presente. Durante os últimos 60 dias de gestação há uma perda de 5,7g/dia de cálcio que é direcionada ao feto, durante a produção do colostro e ainda mais durante a produção do leite de leite esta perda aumenta para 15-20g/dia. Só é possível manter um “pool” de Ca intercambiável (70-80g/dia) com uma absorção intestinal eficiente e/ou com aumento da reabsorção óssea, ainda mais diante das perdas fecais e urinárias. (CORBELLINI, 1998) O cálcio é um mineral essencial para o funcionamento de nosso organismo, faz a regulação do ritmo cardíaco, participa da formação óssea, permeabilidade da membrana entre outras. O sistema de regulação de cálcio no sangue é muito controlado, os valores tem que se manter estáveis para não ocasionar prejuízos ao sistema como um todo. No período puerperal há uma dificuldade de mantença da homeostase de cálcio, a demanda de cálcio está elevada devido a produção de colostro e leite, caso os mecanismos de reabsorção óssea não estejam regulados, o cálcio será retirado do sangue e ossos ocasionando assim a hipocalcemia.( JÚNIOR e MINERVINO, 2011) Existem três fatores que são responsáveis pelo equilíbrio de cálcio sistêmico, as variações que podem ocorrer em um ou mais desses fatores que podem ocasionar 7 uma desordem metabólica. A primeira variação pode ser uma excessiva demanda de cálcio para produção de colostro, uma demanda que vai além da capacidade de mobilização a partir dos ossos e da absorção intestinal. A segunda se dá no período do parto onde pode ocorrer a diminuição da absorção de cálcio no intestino. A terceira e mais comum é que os níveis séricos de cálcio basais não estão sendo mantidos devido uma mobilização de cálcio dos ossos que não está sendo suficientemente rápida. É visto que no período final da gestação a mobilização e utilização imediata das reservas de cálcio é diminuída, o que torna essas fêmeas incapazes de resistir a perda desse mineral, pelo leite e colostro. A hipocalcemia também está associada a uma disfunção da paratireoide (GOOF, 2008) O nível normal decálcio no sangue é de 8,8 a 10,4 mg/dL (GONZÁLES, 2006), esta homeostase é controlada endocrinamente pelo Paratormônio (PTH), pela Calcitonina e a Vitamina D³ (tabela 1). 3.1 Tabela 1 Hormônio No sangue No rim No osso No TGI PTH ↑ concentração ↑ reabsorção ↑ desmineralização ↑ absorção Calcitonina ↓ concentração ↓ reabsorção ↓ desmineralização Não tem efeito Vitamina D³ ↑ concentração ↑ reabsorção ↑ desmineralização ↑ absorção Fonte: Jacques,2011 Durante a absorção intestinal se faz necessário que o cálcio esteja na forma iônica livre para que seja auxiliado pela presença do quimo de origem estomacal quem em situações de hipocloridria, pode não ocorrer a absorção do carbonato de cálcio, exceto se administrado junto com o alimento (SPINOSA et al.,2006). A estimativa é que 20% do cálcio da dieta é absorvido, entretanto se houver excesso ou ausência de vitamina D este processo pode ser falho. A absorção de cálcio diminuiu com o decorrer da idade do animal, assim também a absorção óssea podendo ocasionar o aparecimento de distúrbios metabólicos, levando a uma necessidade crescente de protocolos para tratamento adequados a fim de uma correção. (OETZEL e MILLER, 2012). Segundo Corbellini (1998), além da pesquisa endocrinológica, o principal fator ligado à ocorrência de HP em vacas leiteiras, é o manejo da dieta do pré-parto; os seguintes sendo fatores predisponentes: • Excesso de Ca no pré-parto • Falta de Mg durante todo o período da vaca seca 8 • Demasia de proteína degradável NNP no pré-parto, dificultando a absorção do Mg • Excesso de cátions na dieta do pré-parto (particularmente de K) • Deficiência no ingresso de Ca, P e Mg no pós-parto. A hipocalcemia causa perdas econômicas consideráveis na produção leiteira, o manejo correto se faz extremamente necessário. Durante as primeiras quatro a seis semanas pós-parto as perdas diárias são de 1,1 kg até 2,9 kg de leite. A vida produtiva da vaca é reduzida em 3 a 4 anos. (RAJALA-SCHULTZ et al.,1999). No entanto, segundo MULLINGAN et al (2006) além das perdas produtivas existem também as associadas ao aumento da casuística de doenças secundarias como exemplos, retenção de placenta, deslocamento de abomaso, metrites, mastites e cetose, evidenciando assim a importância da prevenção da hipocalcemia (Figura 2). 3.2 Figura 2: consequências da hipocalcemia e hipocalcemia subclínica Fonte: adaptado de MULLINGAN et al. (2006) 4. SINTOMATOLOGIA 4.1 Primeiro estágio No primeiro estágio, a vaca ainda se encontra em estação. Nesta fase a hipocalcemia puerperal leva a uma hipersensibilidade dos nervos condutores e dos músculos, causando tremores musculares, excitação, anorexia, ataxia e debilidade em geral. O animal reluta em movimentar-se, não se alimenta e a temperatura corporal é normal, podendo ficar neste estágio por horas. (JACQUES. 2011) 9 4.2 Segundo estágio A segunda fase caracteriza-se por prostração, apatia e decúbito esternal, geralmente com torção lateral da cabeça voltada para o flanco. Com a aproximação algumas dessas vacas abrem a boca, esticam o pescoço e a cabeça e provocam protusão da língua, o que pode ser expressão de apreensão e medo de um animal incapaz de levantar. A pele e as extremidades encontram-se frias, o focinho seco, a temperatura retal subnormal (36 a 38°C), batimentos cardíacos aumentados (80 bpm), porém menos audíveis devido a diminuição da intensidade. A ausência de movimentos ruminais é observada e a estase ruminal pode levar a um timpanismo secundário. Há relaxamento do esfíncter e perda do reflexo anal, constipação, podendo ocorrer ainda prolapso uterino. (STORCK, 2013). 4.3 Terceiro estágio O terceiro estágio e caracterizado por decúbito lateral. A vaca geralmente está em estado de coma, e flacidez completa dos membros e não consegue reassumir o estado de decúbito esternal por conta própria. Em geral, a depressão da temperatura e do sistema cardiovascular é mais acentuada. Os sons cardíacos são praticamente inaudíveis e a frequência cardíaca aumentada a 120 bpm. Timpanismo e é geralmente causado pelo decúbito lateral, podendo ter aspiração do suco ruminal. Sem tratamento o animal morre devido ao choque em um estado de colapso total ou por pneumonia por aspiração. (STORCK, 2013). 5. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da hipocalcemia puerperal está baseado na anamnese de parto, idade da vaca, concentração de cálcio no sangue, sintomas clínicos e produção de leite. Hipomagnesemia e hipofosfatemia geralmente estão associadas a casos de hipocalcemia puerperal. O prognóstico é desfavorável quando o quadro clínico ultrapassa 48 horas, isso é devido ao maciço dano muscular, causado pela necrose do decúbito prolongado. (JACQUES, 2011). As enzimas creatina quinase (CK) e aspartato transferase (AST), que indicam a lesão muscular quando aumentadas demonstram que a vaca dificilmente irá se recuperar. Os níveis de cálcio no sangue podem aparecer abaixo de 5 mg/dL, porem níveis inferiores a 7 mg/dL já demonstram sinais clínicos. No hemograma pode haver alguma alteração como eosinopenia neutrofilia e linfopenia sugestivas de hiperatividade 10 adrenocortical, porém, são alterações inespecíficas encontradas em outros distúrbios metabólicos. (Jacques, 2011). A hipocalcemia predispõe o animal a outras patologias e distúrbios. Vacas hipocalcêmicas apresentam 23,6 vezes mais chances de desenvolverem distúrbios energéticos (cetose); 7,2 vezes de apresentar distocias pós-parto; 5,4 vezes mais chances de desenvolver mastites clinicas e 4 vezes mais propensas a retenção de placenta. (SAUER, 2005) É importante o veterinário estar ciente das doenças que podem levar um erro de diagnóstico. Portanto, o clinico deverá realizar um exame completo do animal, inspecionando o ubere (todas as tetas devem ser examinadas), a frequência cardíaca e respiratória, mucosas, aparelho digestivo, buscando descartar patologias que possam provocar sinais clínicos semelhantes. (SAUER, 2005). Devido aos sintomas serem um tanto inespecíficos é necessário realizar o diagnóstico diferencial com a esteatose hepática, cetonemia, desnutrição, osteomalácia, fratura de pélvis, endometrite séptica, mastite aguda e gangrenosa, linfossarcoma, acidose ruminal aguda e intoxicações. (JACQUES. 2011). 6. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL 6.1 Hipofosfatemia A hipofosfatemia, geralmente vem associada a casos de hipocalcemia onde o tratamento de cálcio falha ou em casos de ataque repentino de decúbito (SAUER. 2005). 6.2 Toxemia No exame clinico do animal toxêmico verifica-se aumento da frequência cardíaca, respiratória, temperatura corporal no início e subnormal em casos mais avançados e secreções anormais em um ou mais tetos. Estes dados irão auxiliar no diagnóstico definitivo. (SAUER. 2005). 6.3 Cetose Casos concomitantes de cetose e hipocalcemia também poderão acontecer, sendo que nestes o animal responde ao tratamento com cálcio, tomando a posição de estação e mantendo o sinal clinico de cetose, como lambedura vocalização, andar em círculos (RADOSTITS et al., 2002). 11 6.4 Hipomagnesemia Animais de todas as idades podem apresentar concentrações reduzidas de magnésio no plasma, sendo que as vacas leiteiras poderão desenvolver esse quadro em qualquer período (gestação ou lactação). A hipomagnesemia pode estar associada a hipocalcemia, embora pode ocorrer isolada, ocasionando também o decúbito de animais. Nesse caso há uma maior tetania e hiperestasia, taquicardia, bulhas cardíacas mais altas e convulsões. (SAUER. 2005). 6.5 Lesões As lesões que geram decúbitosão mais comuns na época de parto devido ao relaxamento dos ligamentos. A forma mais comum de lesão é a paralisia obstétrica, ocorrendo em novilhas com parto difícil, como também em animais adultos, especialmente em animais com baixa condição corporal. A forma caracteriza-se por escoiceamento frequente com um ou dois membros posteriores. Casos mais graves estão associados a flexão do boleto, fraqueza de um ou ambos membros posteriores, até incapacidade de se manter em estação. O exame do membro afetado revela uma sensibilidade normal, posição normal em casos brandos; e em casos graves o membro encontra-se estendido (SAUER. 2005). 7. TRATAMENTO O tratamento de escolha é a infusão IV de borogluconato de cálcio, na dose de 100 – 200g (RADOSTITS, 2002), a 10%. Há também borogluconato de Ca a 23% para administração IV. Deve-se cuidar também na velocidade e na concentração administrada, pois altas concentrações de Ca (>25mg/dL) podem ocorrer se for administrado em um período curto, provocando uma parada cardíaca (HORST et al., 1997). Para González & Silva (2006) a infusão lenta e contínua de borogluconato de cálcio deve ocorrer em doses de 400 – 800 mL. As perdas econômicas foram reduzidas com a administração do borogluconato de cálcio no tratamento ao longo dos anos (RADOSTITS et al., 2007). Em alguns casos pode não ocorrer melhora do paciente, mesmo que os níveis de cálcio já tenham voltado ao normal, portanto nestes casos é indicada a administração de fosfato de sódio ao tratamento com sais de cálcio (RADOSTITS et al., 2007). Os fatores que não permitem o sucesso do tratamento são diversos; inclui-se a diferente necessidade de cada animal em receber a reposição de cálcio necessária, 12 idade, pois vacas mais velhas são mais acometidas; intervalo entre o aparecimento da doença e o início do tratamento (BLOOD; RADOSTITS, 1991 apud SOUZA et al., 2019). Além do tratamento direto à hipocalcemia, pode-se administrar métodos terapêuticos auxiliares, como a administração da dexametasona na dose de 20 mg IM ou IV, segundo Spinosa, Górniak e Bernardi (2002), os medicamentos como a dexametasona, são agentes hiperglicemiantes, obtendo efeito através da captação e da utilização periférica da glicose e promoção da gliconeogenese a partir de aminoácidos e ácidos graxos livres, desta forma mobilizando glicose para o animal. Além de possuírem ação analgésica, bloqueando manifestações precoces da inflamação e manifestações tardias como reparação e proliferação tecidual. Abaixo um protocolo de tratamento e evolução dos animais realizado por SOUZA et al, (2014): 7.1 Tabela 2 8.PREVENÇÃO A prevenção para a hipocalcemia consiste na realização de um bom manejo nutricional no pré-parto, com dietas balanceadas e nutritivas (RODRIGUES, 2004). 13 Segundo Obaa (2011 apud FACCO et al, 2013), a concentração elevada de Ca na dieta não costuma ser a principal causa para que o quadro de hipocalcemia no parto ocorra, mas sim a elevada diferença entre cátions e ânions na dieta. A profilaxia da hipocalcemia pode ser feita por diferentes manejos nutricionais, sendo eles: dieta com baixa concentração de Ca; dieta aniônicas; dieta com o uso de vitamina D, cálcio oral e Drench. 8.1 Dieta com baixa concentração de cálcio A prevenção da hipocalcemia tem como base o uso de dietas deficientes em Ca, fator este, que estimulará a secreção e atividade do PTH, e na manipulação do balanço cátio-aniônico (BCA) da dieta, influenciando a atividade do PTH e, portanto, consequentemente influenciando também o mecanismo de absorção ativa de Ca (SANTOS, 2006 apud FACCO et al, 2013). Animais os quais recebem dietas pré-parto com níveis altos de Ca, são associados com elevadas concentrações do metabólito 24,25 – Dihidroxicolecalciferol da vitamina D, que podem antagonizar a ação da vitamina D 3 ativa (1,25(OH)2D3) (HORST; REINHARDT, 1983). Estes metabólitos da vitamina D elevados aumentam então a incidência de hipocalcemia puerperal e por curiosidade também apresenta-se em animais com paresia (LEAN; DEGARIS, 2009 apud ESNAOLA,2011). Portanto, recomenda-se as dietas com baixos níveis de Ca no pré-parto; segundo Nrc (2001), as vacas no pré-parto devem receber menos de 15g de Ca/vaca/dia, visando estimular os mecanismos que atuam na liberação de Ca dos ossos para o sangue e manter seus níveis próximos à normalidade em períodos que exigem grandes níveis de Ca, através da redução da calcitonina e do aumento das concentrações sanguíneas do PTH e colecalciferol. Horst et al. (1997 apud FACCO et al, 2013) recomenda dietas nos últimos 14 dias de gestação com 15-20 g de Ca/dia, seguida de uma dieta pós-parto com elevados níveis de Ca. Santos (2006 apud FACCO et al, 2013) relatou que além da reabsorção óssea, ocorre também a absorção intestinal de Ca, esta também ativada através da síntese da vitamina D, que é estimulada pelo PTH. Em casos de animais os quais recebem suplementos para garantir uma alta produtividade e recebem níveis de Ca maiores do que o recomendado no pré-parto, podem, segundo Wilson (2003 apud ESNAOLA, 2011) receber óleos vegetais na 14 dieta, pois são capazes de englobar o Ca para uma forma insolúvel prevenindo sua absorção. 8.2 Dietas aniônicas As dietas aniônicas consistem em fornecer sais aniônicos com base em sulfatos e cloretos, negativando o balanço cátion-aniônico da dieta. Estas dietas visam diminuir as concentrações sanguíneas de HCO3, que leva à queda leve do pH sanguíneo e urinário, tendo como consequênica mecanismos fisiológicos mais ativos e levando ao aumento de Ca no sangue. Dietas com níveis altos de ânions, principalmente Cl e S, tendem a prevenir hipocalcemia puerperal (BLOCK,1994 apud ESNAOLA, 2011). As dietas aniônicas e catiônicas têm sido pesquisadas e utilizadas grandemente na produção animal, principalmente na alimentação de vacas no pré- parto (CAVALIERE; SANTOS, 1998). Elas devem ser introduzidas na dieta nas últimas semanas que antecedem o parto para um balanceamento cátion-ânion dietético (BCAD) negativo (WILKENS et al., 2012). Segundo Sanchez (1995), as dietas aniônicas devem ser suplementadas com 140 a 150 g de Ca/vaca/dia, por no mínimo 10 dias antencedendo a previsão do parto. Os sais aniônicos adicionados às dietas são o ácido clorídrico, cloridrato de amônio, cloridrato de cálcio, sulfato de cálcio, sulfato de magnésio e o enxofre (GOFF et al., 2004). Estes sais não são palatáveis, portanto não devem ser oferecidos em grandes quantidades, para que não ocorra redução do consumo de MS dos animais (HORST et al. , 1997 apud ESNAOLA, 2011). Nesta dieta é importante que haja o controle nutricional, para que não ocorra consequências indesejáveis, logo o monitoramento do pH urinário é muito importante para determinar as respostas dos animais frente a ação dos sais aniônicos na dieta (SEIFI et al. , 2004 apud ESNAOLA, 2011). A mensuração do pH da urina deve ser feita após 48 horas do início da dieta aniônica, e deve-se descartar os primeiros jatos de urina para que não ocorra interferências por secreções vaginais (GOFF, 2008 apud ESNAOLA, 2011). O pH da urina deve estar com valores entre 6,0 e 7,3. Se a média do pH da urina estiver entre 5,0 e 5,5, significa que o excesso de anions está induzindo uma acidose metabólica descompensada e que o consumo de MS pelos animais diminuiu (GOFF, 2008 apud ESNAOLA, 2011). 15 8.3 Vitamina D A administração de vitamina D visa aumentar a absoração do Ca pelo intestino. Pode ser administrada via oral e intramuscular, mas em doses repetidas podem causar intoxicação (JORGENSEN, 1974). O início do fornecimento deve acontecer 5 dias antes da data prevista do parto, entretanto, se o não acontecer o parto na data prevista,e ocorrer a suspensão no fornecimento da vitamina por até 4 dias antes do parto, a possibilidade de ocorrer hipocalcemia aumenta (RADOSTITS et al., 2007 apud ESNAOLA, 2011). Segundo Radostits et al. (2007 apud ESNAOLA, 2011), pode-se oferecer uma dose máxima de 20 milhões de U/dia via oral, porém se obteem melhores resultados quando se administra 1 milhão de U de vitamina D por 45 kg peso; e segundo Eddy (1999) pode-se oferecer 10 milhões de U de vitamina, 2 a 8 dias antes do parto, via intramuscular. Há propababilidade de ocorrer calcificação nas paredes dos vasos quando se faz tratamento e profilaxia com vitamina D, porém esta probabilidade pode ser reduzida se a ingestão de cálcio e fósforo estiverem acontecendo de maneira adequada (RADOSTITS et al., 2007 apud ESNAOLA, 2011). 8.4 Cálcio oral Os produtos com cloreto de cálcio (CaCl) proporcionam a redução do pH sanguíneo de maneira que auxília na prevenção da hipocalcemia, aumentando a sensibilidade dos tecidos ao PTH. No entanto, o excesso na administração de cloreto de cálcio pode induzir a acidose metabólica (GOFF; HORST, 1993 apud ESNAOLA, 2011), e como as suas soluções aquosas são muito cáusticas, causam ulceração da boca e da mucosa digestiva (WERMUTH, 1990 apud FRANÇA, 2013), o que acarreta na diminuição de consumo de alimento, algo que já ocorre no período pré-parto, portanto, iria piorar ainda mais a situação. Ótimos são os resultados obtidos quando ocorre administração em doses entre 50 e 125 g de Ca/dose (GOFF et al. , 1996 apud ESNAOLA, 2011) havendo então o aumento nos níveis de cálcio. 8.5 Drench O drench possui diversas qualidades, como melhorar o desempenhono pós- parto, prevenir a ocorrência de deslocamento de abomaso e acidose metabólica, 16 prevenir e tratar a hipocalcemia e cetose e no caso do propionato de cálcio, também aumenta o cálcio no sangue (Stokes & Goff, 2001; Veenhuizen et al., 1991 apud GONÇALVES, 2015). Goff (2009 apud ALVARENGA, 2013) recomenda a administração de solução oral, drench, como medida preventiva de enfermidades metabólicas que ocorrem no período de transição. Segundo o autor soluções contendo 50 g de carbonato de cálcio, 100 g de fosfato de cálcio, 50 g de cloreto de sódio são efetivas para a prevenção e controle destas enfermidades. Além destes minerais, pode-se fazer a adição de 100 g de óxido de magnésio e adição de sódio, o qual irá aumentar a absorção de magnésio pelo rúmen. 17 CONCLUSÃO A hipocalcemia puerperal bovina sendo uma doença metabólica que acomete comumente bovinos leiteiros de grande potencial genético; e que como consequência há perdas econômicas e produtivas, torna-se uma doença a qual necessita ser controlada e prevenida. A hipocalcemia possui interação com outras doenças, visto que se não for imediatamente tratada pode agravar para ocorrência de outras patologias. A forma subclínica, que possui alta prevalência, torna-se um fator predisponente para patologias como retenção de placenta, metrite e mastite. Para que esta realidade mude é essencial que haja mudança no manejo e na dieta no pré-parto e no pós-parto, a fim de minimizar e evitar a ocorrência da hipocalcemia puerperal. Diversos são os métodos nutricionais que podem prevenir a hipocalcemia, sendo as dietas aniônicas um método o qual está trazendo bons resultados para as propriedades de leite. O tratamento, apesar de ser relativamente fácil, possui seus riscos se não for administrado por uma pessoa competente, pois pode levar o animal ao óbito se não for realizada de maneira correta. 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBORNOZ, L. et al. Hipocalcemia Puerperal Bovina. Revisión. Veterinaria (Montevideo), v. 52, n. 201, Montevideo, 2016. CORBELLINI, C. N. Etiopatogenia e controle da hipocalcemia e hipomagnesemia em vacas leiteiras. Anais do Seminário internacional sobre deficiências minerais em ruminantes. Editora da UFRGS, Porto Alegre, 1998. ESNAOLA, G. S.; Controle da hipocalcemia puerperal em bovinos leiteiros. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011. FACCO, F. S.; SILVA, M. R. H.; VRISMAN, D. P.; STRUCHER, F.; COSTA, F. C. 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