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Freud e o conceito de castração Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 103 Freud e o conceito de castração Amadeu de Oliveira Weinmann*, Porto Alegre O artigo propõe-se realizar uma revisão do conceito de castração, na obra de Freud, visando a apreender as diferentes formulações conferidas a essa noção no texto freudiano. Como questão de fundo, operando como um organizador da pesquisa, o artigo busca identificar as raízes freudianas do conceito lacaniano de castração. A hipótese sugerida é que Lacan parte das elaborações conceituais freudianas acerca da castração, tal como essas se encontram especialmente em Inibições, sintomas e ansiedade. Palavras-chave: psicanálise, castração, narcisismo, Édipo, angústia. * Professor Doutor do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia do Instituto de Psicologia/ UFRGS e do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura/UFRGS. Amadeu de Oliveira Weinmann 104 Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 Introdução As primeiras leituras de textos lacanianos produzem certa perplexidade no leitor familiarizado com a obra de Freud, no que concerne ao modo como o conceito de castração opera no corpo daquela teoria. Tal conceito parece referir-se a um processo psíquico tão geral, no sentido de não se restringir à organização genital infantil, que se configura como radicalmente diverso da acepção freudiana do termo. Com esta questão no horizonte, propusemo-nos a empreender uma revisão do conceito de castração na obra de Freud. De tal revisão, decorre a divisão das elaborações conceituais freudianas acerca da castração em três tempos. Em um primeiro momento, o complexo de castração consiste em uma dentre outras teorias sexuais infantis – a de que todas as crianças possuem o mesmo tipo de órgão genital – e não desempenha papel decisivo na constituição de uma neurose. Posteriormente, tal processo é elevado à condição de determinante da estruturação subjetiva, em estreita ligação com o Édipo e o narcisismo. Por fim, deixa de consistir em uma problemática exclusiva da organização genital infantil e amplia-se no sentido de abarcar todo corte do vínculo com o objeto primordial, do qual resulta a produção de angústia. A hipótese que sustentamos é de que a conceitualização lacaniana acerca da castração lança suas raízes especialmente nessa última formulação. Uma teoria sexual infantil Na primeira edição dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, de 1905, o fundador da psicanálise não faz qualquer referência ao que viria denominar, posteriormente, de complexo de castração. É por meio da análise do pequeno Hans, publicada em 1909 com o título Análise de uma fobia em um menino de cinco anos, que Freud tem sua atenção despertada para o elevado valor atribuído pelo menino a seu pênis. Este interesse e sua vinculação com os enigmas da diferença sexual e da origem dos bebês estariam na gênese das investigações infantis acerca da sexualidade, as quais Freud apresenta de uma forma sistematizada em seu artigo Sobre as teorias sexuais das crianças, de 1908. Neste artigo, Freud examina, pela primeira vez, os elementos constituintes do complexo de castração. Sua característica fundamental seria a tendência do menino a atribuir a todos os seres humanos a posse de um pênis. O desconhecimento da diferença anatômica entre os sexos e o alto valor erógeno user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Freud e o conceito de castração Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 105 desse órgão para si impediriam ao menino conceber a existência de seres semelhantes a ele desprovidos desse componente (fantasia da mulher com pênis). A existência do clitóris nas meninas, sua forma – identificada pela criança como a de um pequeno pênis – e sua excitabilidade contribuiriam para a persistência dessa tendência. A proibição da atividade masturbatória e a visão dos órgãos genitais femininos – a impressão de que eles teriam sido mutilados – despertariam no menino o temor à castração (na menina, essa mesma constatação engendraria fortes sentimentos de inveja do pênis). O desconhecimento da existência da vagina, na mulher, e do sêmen, no homem – produto da imaturidade biológica das crianças – impediria a compreensão do ato sexual e de sua relação com a origem dos bebês, conduzindo ao que Freud chama de fracasso das teorias sexuais infantis. Nesse momento de sua investigação, Freud analisa o complexo de castração como uma dentre várias teorias sexuais elaboradas pelas crianças. Outros exemplos dessas seriam a fantasia anal do nascimento e a concepção sádica da relação sexual entre os pais. Essas teorias estariam de acordo com a constituição psicossexual infantil e permaneceriam como fantasias no inconsciente adulto, subjazendo ao sintoma neurótico. No artigo Sobre o narcisismo: uma introdução, de 1914, Freud vincula os distúrbios do narcisismo originário da criança ao complexo de castração. Entretanto, não desenvolve a relação existente entre esses dois processos. Apenas discute o conceito de protesto masculino, de Adler, considerando-o narcisista em sua natureza e oriundo do complexo de castração. Conclui seu debate com Adler contestando a importância do protesto masculino na gênese das neuroses: Acho inteiramente impossível situar a gênese da neurose na estreita base do complexo de castração, por mais poderosamente que, nos homens, esse complexo ocupe o primeiro plano entre suas resistências à cura de uma neurose. Incidentalmente, conheço casos de neurose em que o “protesto masculino” ou, como o encaramos, o complexo de castração, não desempenha qualquer papel patogênico, nem sequer chegando a aparecer (Freud, 1914, p. 99). Narcisismo, Édipo e feminilidade Esse ponto de vista foi radicalmente revisto a partir de 1923. Em três artigos quase sucessivos, Freud (1923, 1924a, 1925) situa o complexo de castração regendo uma etapa do desenvolvimento psicossexual infantil, estabelece sua íntima conexão não apenas com o narcisismo (esboçada anteriormente) como com o user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Amadeu de Oliveira Weinmann 106 Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 complexo de Édipo e o eleva à condição de fator determinante na constituição subjetiva masculina ou feminina. Em outros textos, contemporâneos dos citados acima, Freud (1924b, 1924c, 1927) assinala que os mecanismos psíquicos denominados recalcamento (Verdrängung), recusa (Verleugnung) e rejeição (Verwerfung) – que se encontram na gênese de uma estruturação neurótica, perversa e psicótica respectivamente – operam, essencialmente, sobre a representação da castração, central na estruturação psíquica1. Em A organização genital infantil, Freud (1923) postula que a criança apresenta, entre os 2 e os 5 anos, uma florescência sexual na qual a zona genital ocupa papel de destaque e há escolha objetal acompanhada de afetos intensos. Entretanto, afirma: [...] a característica principal dessa “organização genital infantil” é sua diferença da organização genital final do adulto. Ela consiste no fato de, para ambos os sexos, entrar em consideração apenas um órgão genital, ou seja, o masculino. O que está presente, portanto, não é uma primazia dos órgãos genitais, mas uma primazia do falo (Ibid., p. 158, grifos do autor). Freud propõe que, originalmente, o menino (e sua análise, até esse momento, está fortemente centrada no que ocorre com a criança do sexo masculino) percebe a distinção entre homens e mulheres, mas não a relaciona a uma diferença existente entre seus órgãos genitais. Intrigada por essa questão, a criança investe toda a intensidade de sua pulsão escopofílica – em sua versão ativa (voyeurismo) ou passiva (exibicionismo) – nessa pesquisa. No entanto, a percepção dos órgãos genitais femininos (mais exatamente, a representação de sua radical diferença em relação aos masculinos) seria, inicialmente, recusada, pois colocariaem jogo a possibilidade de perda de tão valioso atributo – o pênis – responsável pelo incremento do narcisismo do menino e cuja falta legaria à menina uma ferida narcísica. Disso Freud deduz a depreciação e mesmo o horror às mulheres, bem como a disposição para a homossexualidade, presentes em alguns homens. Entretanto, a generalização da condição de castrada para todas as mulheres constitui um lento processo. A princípio, apenas mulheres desprezíveis, culpadas de impulsos inadmissíveis, teriam sofrido tal punição. Mulheres a quem o menino respeita, como sua mãe, reteriam o pênis por muito mais tempo. 1 Em Fetichismo, Freud sugere que o mecanismo específico da psicose é uma modalidade da Verleugnung, em que o reconhecimento da realidade da castração é efetivamente suprimido. A posteriori, Lacan (1955-56) põe nesse lugar o conceito Verwerfung, delineado por Freud em As neuropsicoses de defesa (1894). user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Freud e o conceito de castração Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 107 Ainda em A organização genital infantil, Freud assinala: “[...] o significado do complexo de castração só pode ser corretamente apreciado se sua origem na fase da primazia fálica for também levada em consideração” (Ibid., p. 159-160, grifos do autor). Em uma nota de rodapé, acrescentada em 1923 ao caso Hans, Freud (1909) amplia este ponto de vista: Já foi sugerido com insistência que o bebê, toda vez que o seio materno é afastado dele, sente essa privação como uma castração (isto é, como perda daquilo que ele considera uma parte importante do seu próprio corpo); ademais, sugeriu-se que ele não pode deixar de ser identicamente afetado pela perda regular de suas fezes; e que, afinal, o ato do próprio nascimento (que consiste, de fato, na separação da criança da mãe, com a qual ela até então esteve unida) constitui o protótipo da castração. Mesmo reconhecendo todas essas raízes do complexo, expus o ponto de vista de que a expressão complexo de castração deve restringir-se àquelas excitações e consequências decorrentes da perda do pênis (p. 17-18, grifo do autor). Podemos nos perguntar por que Freud vincula o complexo de castração de maneira tão estrita à organização genital infantil, desautorizando sua utilização no que diz respeito às perdas vivenciadas nas organizações pré-genitais da libido. Parece-nos coerente pensar que o conceito de castração, em Freud, encontra-se em íntima conexão, desde suas origens, com uma estrutura ternária, ou seja, edípica. É pelas vinculações da masturbação infantil com fantasias de incesto e, sobretudo, pela interdição paterna deste, que se introduz o temor à castração. Esse papel do pai na estrutura edípica justifica o fato de que seja atribuído o mais alto valor narcísico àquilo que assinala sua potência: o falo, que atrai a mãe e a afasta da criança. É nesse sentido que Freud afirma que a oposição fundamental da organização genital infantil não é entre masculino e feminino, como a partir da puberdade, mas entre possuir ou não o falo, entre ser ou não castrado. Em A dissolução do complexo de Édipo, Freud (1924a) questiona-se a respeito dos fatores que conduzem à decadência do complexo de Édipo e ao ingresso da criança no período de latência, postulando que é o temor à castração o que desencadeia o desmantelamento da organização genital infantil no menino. Nesse sentido, a proibição da atividade masturbatória associa-se às experiências precedentes de perda de partes altamente significativas do corpo: “[...] a retirada do seio materno – a princípio de modo intermitente e, mais tarde, definitivamente – e a exigência cotidiana que lhes é feita para soltarem os conteúdos do intestino” (Ibid., p. 195). Entretanto, somente quando a percepção dos órgãos genitais user Destacar Amadeu de Oliveira Weinmann 108 Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 femininos é representada como falta de pênis (e não mais como presença de um pequeno pênis, que ainda irá crescer) é que a angústia de castração se instala em toda sua magnitude. Uma vez que a masturbação infantil – que, inicialmente, consiste em uma atividade estritamente autoerótica – se vincule, intimamente, às fantasias incestuosas do menino, a angústia de castração passa a atuar como o mais poderoso fator na demolição de seu complexo de Édipo. Nesse contexto, Freud considera o que denomina de complexo de Édipo duplo ou completo, decorrente da constituição bissexual do ser humano. Nesse sentido, sustenta que a criança “[...] poderia colocar-se no lugar de seu pai, à maneira masculina, e ter relações com a mãe, como tinha o pai, caso em que cedo teria sentido o último como um estorvo, ou poderia querer assumir o lugar da mãe e ser amada pelo pai, caso em que a mãe se tornaria supérflua” (Ibid., p. 196). Entretanto, o reconhecimento pelo menino da realidade da castração inviabiliza qualquer uma dessas formas de satisfação de suas fantasias edípicas, uma vez que ambas acarretam a perda de seu pênis, “[...] a masculina como uma punição resultante e a feminina como precondição” (Ibid., p. 196). O elevado interesse narcísico do menino em preservar seu pênis o leva a interromper seu desenvolvimento sexual – a suspender sua atividade genital –, introduzindo-o no período de latência. Desse processo resulta, através da substituição de investimentos libidinais objetais por identificações, a constituição do supereu, o qual defende o eu dos investimentos libidinais pertencentes ao complexo de Édipo, perpetuando a interdição parental ao incesto. Freud postula que essa operação tem uma dimensão bem maior do que a de um simples recalcamento do complexo de Édipo; se assim fosse, este permaneceria inconsciente, manifestando mais tarde seus efeitos patogênicos. Propõe que o que de fato ocorre, se a operação for inteiramente levada a cabo, é a demolição do complexo de Édipo. No tocante às meninas, Freud considera que o complexo de castração também é decisivo no que concerne à dissolução do complexo de Édipo, ao estabelecimento do supereu e ao ingresso no período de latência. Entretanto, na mulher esses processos não percorrem a via da angústia de castração, mas ocorrem como desdobramentos de sua inveja do pênis. A fantasia de ter tido (e perdido) um pênis, inicialmente válida para si própria e só posteriormente aplicada às outras mulheres, [...] não é tolerada pela menina sem alguma tentativa de compensação. Ela desliza – ao longo da linha de uma equação simbólica, poder-se-ia dizer – do pênis para um bebê. Seu complexo de Édipo culmina em um desejo, user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Freud e o conceito de castração Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 109 mantido por muito tempo, de receber do pai um bebê como presente – dar- lhe um filho (Ibid., p. 198). Assim, a diferença crucial no modo como o complexo de castração se apresenta à menina – como uma castração já consumada – conduz a um destino radicalmente diferente daquele descrito para o menino: joga-a nos braços de seu objeto edípico. A ausência daquela que é a mais importante razão para que o menino repudie seus desejos edípicos – o temor à castração – faz com que só muito gradualmente a menina os abandone, motivada pela não realização dessas fantasias. Secundariamente, a possibilidade de perda do amor materno também contribui para a dissolução do complexo de Édipo na menina. Em Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos, de 1925, Freud interroga-se, radicalmente, acerca da validade do postulado – que defendera até então, ainda que de maneira incerta – do caráter análogo do desenvolvimento psicossexual dos meninos e das meninas, isto é, de uma suposta simetria entre esses dois processos. É nesse artigo que enuncia, pela primeira vez de uma forma sistemática, o ponto de vista que a sexualidade feminina apresenta singularidades que a impedem de ser equiparada à masculina.Em trabalhos posteriores, Freud (1931, 1933) amplia sua compreensão acerca da sexualidade feminina, ressaltando a importância do vínculo pré-edipiano da menina com sua mãe. Entretanto, mantém a tese que é a posição frente à castração o fator determinante na constituição da feminilidade. Freud (1925) recorda que a descoberta da zona erógena genital, em ambos os sexos, com frequência ocorre associada ao prazer de sugar o polegar, a princípio sem que se possa vinculá-la a qualquer significação psíquica, mas consistindo em uma experiência puramente autoerótica. Também sugere que essa nova fonte de prazer é herdeira de parte do erotismo derivado da perda do mamilo da mãe (hipótese que fantasias posteriores de felação parecem confirmar). A essas experiências primitivas, vivenciadas tanto por meninos quanto por meninas, vêm somar-se, posteriormente, o incremento do interesse por suas zonas erógenas genitais juntamente com o despertar de sua curiosidade sexual. Esse núcleo compartilhado de experiências e a incompreensão a respeito do que diferencia homens e mulheres estaria na origem da crença nutrida pelas crianças de ambos os sexos de que possuem o mesmo tipo de órgão genital. A constatação a que chega a menina que seu órgão genital não é apenas menor do que o do menino, mas essencialmente diferente – mutilado, de acordo com a representação que faz dele – implica um duro golpe em seu narcisismo. Evidentemente, a menina também pode defender-se dessa percepção mediante a user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Amadeu de Oliveira Weinmann 110 Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 recusa da castração. Nesse caso, é capaz de “[...] enrijecer-se na convicção de que realmente possui um pênis e subsequentemente ser compelida a comportar-se como se fosse homem (grifo do autor)” (Ibid., p. 282). O reconhecimento pela menina de que não é dotada do atributo fálico que é próprio aos meninos implica uma série de desdobramentos. À medida que a castração deixa de ser percebida como uma punição pessoal e estende-se ao conjunto das mulheres, a menina passa a compartilhar do desprezo dos meninos por seu sexo – fato que consiste em um resíduo de seu complexo de masculinidade. A inclusão da mãe no universo das castradas a rebaixa aos olhos da filha, gerando ressentimento nesta por aquela tê-la enviado ao mundo tão insuficientemente aparelhada. Desse processo, resulta um afrouxamento do vínculo amoroso da menina com sua mãe, fator importante na mudança de objeto que ocorre no Édipo da mulher. Outro desdobramento significativo do complexo de castração na menina é o refluxo de sua atividade masturbatória. Essa atividade, incidindo sobre o clitóris, remete a menina ao sentimento narcísico de humilhação associado à inveja do pênis. Nesse sentido, a supressão da masturbação clitoridiana, na infância, pode ser considerada como precursora da onda de repressão que, na puberdade, quando a menina descobre sua vagina e o funcionamento de seus órgãos genitais internos, extingue grande parte da sexualidade masculina da mulher, tornando possível o desenvolvimento de sua feminilidade. Por fim, ainda por força da inveja do pênis, a menina é impelida a buscar o objeto fálico, que pode reparar o dano sofrido em seu narcisismo, junto àquele que supostamente o possui e de quem espera, finalmente, o receber. Com esse fim em vista, toma seu pai como objeto de amor, passando a rivalizar com sua mãe. As equivalências simbólicas, existentes na mente da criança, entre pênis e bebês (e fezes, presentes, etc.) possibilitam o deslizamento da fantasia de receber um pênis do pai – quando isso for, decididamente, percebido como impossível – para o desejo de usufruir o pênis do pai e, por meio dele, receber um bebê. Essas descobertas analíticas conduzem Freud a postular que, “enquanto, nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é introduzido através do complexo de castração (grifos do autor)” (Ibid., p. 285). Dessa afirmação, depreende-se que o complexo de castração opera sempre no sentido de inibir a masculinidade e de incentivar a feminilidade. Como decorrência da diferença existente entre uma castração ameaçada e outra representada como tendo sido realizada, Freud aponta que a menina nunca terá um supereu tão inexorável como o do menino e que, portanto, user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Freud e o conceito de castração Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 111 lidará com seus desejos edípicos mediante o recalcamento, o que faz com que os efeitos desses desejos persistam longamente em sua vida mental. A análise pormenorizada desses três artigos fundamentais revela que o conceito de castração tornou-se central na teoria psicanalítica. Por castração entende-se uma operação psíquica estruturante do sujeito, cujo destino faz dele o que é. Entretanto, sobre o que incide a castração? Depreende-se, dos textos trabalhados acima, que ela opera sobre a relação do sujeito com o falo. E o que é o falo, nesse momento da teorização freudiana? Pensamos que não pode deixar de ser a representação psíquica do pênis, a qual, no imaginário infantil, assinala a potência paterna. É essa representação que o menino teme perder e que a menina visa receber. Não é o pênis em sua realidade orgânica – embora o psicótico eventualmente realize a mutilação de seus órgãos genitais (ou alucine que essa tenha ocorrido) – isto tem de ser compreendido como o retorno, sobre o corpo, de uma representação que foi rejeitada no psiquismo, a da castração. Mesmo que, por meio do fetiche, o perverso siga recusando a realidade da castração, isso ainda é uma operação psíquica. Angústia Em Inibições, sintomas e ansiedade, de 1926, Freud amplia sua concepção a respeito da castração, articulando-a a uma nova formulação sobre a angústia. Inicialmente, Freud propusera que a angústia tinha sua origem no represamento da libido. Com isso queria dizer que a libido, dissociada da representação recalcada e mantida livre no aparelho psíquico (não ligada a uma nova representação, cujo acesso à consciência e à motilidade permitisse um processo de descarga), automaticamente convertia-se em angústia. Freud reformula essa concepção, negando que a angústia se origine da libido recalcada. Nessa nova formulação, a angústia é entendida como um afeto de desprazer gerado no eu, afeto esse que sinaliza, a partir de registros mnêmicos prévios, a ocorrência de uma situação ameaçadora à integridade do próprio eu, para que este adote as medidas defensivas apropriadas. Essa ameaça – que pode ser uma moção pulsional oriunda do isso, um ditame do supereu, ou um perigo que se apresenta desde a realidade externa – é considerada, em última análise, sempre uma ameaça de castração. Nesse momento de sua obra, Freud parece disposto a ceder àqueles que reivindicam a extensão do conceito de castração para todas as experiências significativas de perda vivenciadas na infância. Tendo em vista que a angústia da criança é produto de seu desamparo psíquico – o qual, por sua vez, é uma user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Amadeu de Oliveira Weinmann 112 Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 contrapartida de seu desamparo biológico – Freud postula que a angústia decorre das vivências de perda ou de separação em relação a quem protege do desamparo: no caso, a mãe. Nesse sentido, o pênis inclui-se na mesma série a que pertencem o seio e as fezes: a dos objetos destacáveis do corpo, por meio dos quais se dá a ligação com a mãe, isto é, dos objetos que simbolizam, para a criança, o desejo materno. Privá-la desses objetos é cortar sua ligação com a mãe. A partirdessas novas premissas, o conceito de castração transforma-se, passa a designar a operação de separação ou de perda dessa ligação primordial da criança com sua mãe, operação esta cujo produto imediato, anterior a qualquer elaboração psíquica, é a angústia. Diante dessas importantes inovações teóricas, como fica o conceito de falo? Parece-nos que, nesse momento de suas investigações, Freud afrouxa o vínculo, que até então sustentara de forma estreita, entre o conceito de falo e a representação do pênis. Esse ponto de vista está mais de acordo com sua noção de equivalências simbólicas, tal como a apresenta, por exemplo, em As transformações do instinto exemplificadas no erotismo anal: [...] parece que nos produtos do inconsciente – ideias espontâneas, fantasias e sintomas – os conceitos de fezes (dinheiro, dádiva), bebê e pênis mal se distinguem um do outro e são facilmente intercambiáveis. [...] esses elementos do inconsciente são tratados muitas vezes como se fossem equivalentes e pudessem livremente substituir um ao outro (grifos do autor) (Freud, 1917, p. 136). Dessa forma, a atribuição da condição fálica – entendida como a capacidade de promover um incremento do narcisismo, no sentido da identificação ao eu ideal – pode circular entre diferentes representações, cujo elemento em comum é sua possibilidade de simbolizar, para a criança, o desejo da mãe, disso advindo o poder que lhes é conferido de ligação com o objeto materno. Podemos pensar que pai, nessa estrutura, seja tudo aquilo que provoca um corte na relação da criança com seu objeto primordial, hipótese que amplia, inclusive, os conceitos de incesto e de complexo de Édipo, estendendo-os sobre toda a sexualidade infantil. A castração em Lacan No seminário A relação de objeto, Lacan (1956-57) realiza uma releitura do conceito de castração. Em sua reflexão acerca do estatuto do objeto em psicanálise, o autor diferencia três modalidades da falta: privação, frustração e user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Freud e o conceito de castração Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 113 castração. A privação é uma falta real. Ela consiste em um furo no tecido psíquico. E o objeto cuja falta ela expressa é simbólico: um significante. A frustração, por sua vez, consiste em um dano imaginário e o objeto cuja falta ela reivindica é real: o corpo materno. No que concerne à castração, ela consiste em uma falta simbólica e o objeto cuja ausência ela enuncia é imaginário: o falo. E cada uma dessas modalidades da falta remete a um agente. A privação é a falta real de um objeto simbólico, cujo agente é o pai imaginário. A frustração é a falta imaginária de um objeto real, cujo agente é o pai simbólico. E a castração é a falta simbólica de um objeto imaginário, cujo agente é o pai real. Nesse seminário, a instância paterna é pensada em três registros. O pai imaginário consiste no pai idealizado e, simultaneamente, terrorífico da infância. A ele é atribuída a mutilação – a falta real – no corpo da díade mãe e bebê. É preciso que esse pai morra, simbolicamente, para que essa falta se inscreva em significantes. O pai simbólico é o que metaforiza o desejo materno, é o que abre ao filho a possibilidade, ao mesmo tempo em que lhe impõe a necessidade, de trilhar outras sendas que não as do corpo da mãe. Sendas narrativas, que o corpo da linguagem permite percorrer. Por fim, o pai real consiste nas marcas da Lei no corpo da mãe. É o que põe limites a seu gozo do filho. É essa interdição primordial que permite que o bebê simbolize – e não seja – o falo para sua mãe. No seminário As formações do inconsciente, Lacan (1957-58) elabora um conceito estrutural do Édipo. Se o Édipo consiste em uma estrutura que define combinações possíveis entre quatro termos – o bebê, a mãe, o pai e o falo – pode- se pensá-lo em três tempos lógicos. Em um primeiro momento, o bebê situa-se como o falo da mãe, que se configura fálica. Entretanto, a inscrição do pai na estrutura opera como uma báscula na completude imaginária da díade. É porque algo ainda falta à mãe que ela se volta para o pai – condição de possibilidade de o bebê constituir o fort-da. Ato contínuo, é o pai onipotente, que priva mãe e filho de seu êxtase narcísico, que se apresenta como fálico. É no momento em que o pai aparece como também castrado que a condição fálica delineia-se como uma posição que eventualmente se ocupa – identificação a um ideal do eu – e não como algo que se é – identificação ao eu ideal. Nessa perspectiva, a castração consiste em uma operação simbólica, que permite ao infante deslocar-se do falo como objeto imaginário para o falo como significante. Em A significação do falo, de 1958, Lacan (1958) critica as leituras pós- freudianas do conceito de falo: Na doutrina freudiana, o falo não é uma fantasia, caso se deva entender por isso um efeito imaginário. Tampouco é, como tal, um objeto (parcial, interno, user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Amadeu de Oliveira Weinmann 114 Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 bom, mau etc.), na medida em que esse termo tende a prezar a realidade implicada numa relação. E é menos ainda o órgão, pênis ou clitóris, que ele simboliza (p. 696). Para o psicanalista francês, o falo consiste em um significante. E disso decorrem duas importantes consequências. Por um lado, ele não deve ser buscado do lado das significações – o que evidencia o tom irônico do título desse trabalho – visto ser condição de possibilidade da produção do significado: “[...] o significante tem função ativa na determinação dos efeitos em que o significável aparece como sofrendo sua marca, tornando-se, através dessa paixão, significado” (Ibid., p. 695). Por outro, ele não é um significante qualquer, mas aquele que assinala a castração materna. Nessa perspectiva, o falo consiste no que torna possível o desejo: “o falo é o significante privilegiado dessa marca, onde a parte do logos se conjuga com o advento do desejo” (Ibid., p. 699). Em tal concepção, a diferença sexual não define, a priori, a posição do infante frente à mãe: “Se o desejo da mãe é o falo, a criança quer ser o falo para satisfazê-lo” (Ibid., p. 700). É precisamente nesse ponto que o conceito lacaniano de castração é tributário das inovações teóricas introduzidas por Freud em Inibições, sintomas e ansiedade. Porém, é nesse mesmo ponto que essas elaborações conceituais diferenciam-se. Se, por um lado, o falo, em Lacan, descola- se da representação do pênis – como em Freud, em Inibições, sintomas e ansiedade –, por outro, ele é desdobrado em dois registros: imaginário e simbólico. No registro do imaginário, ele consiste no que a criança quer ser, ou, quando isso é percebido como impossível, quer ter (incidentalmente, convém notar que a concepção freudiana da castração circunscreve-se ao problema de ter, ou não, o falo). Nesse sentido, o falo opera a completude imaginária do infante e sua mãe, isto é, permite a identificação da criança ao eu ideal. Em contrapartida, no registro do simbólico, o falo consiste no significante que inscreve o caráter inexorável da falta na mãe. Nessa perspectiva, ele opera como o que defende o infante da condição de objeto de gozo do Outro primordial. Se, em Freud, a função paterna interdita a mãe ao filho, em Lacan, a tônica é deslocada. É para a mãe que se volta a Lei, proibindo-a de reintegrar seu produto. E isso tem implicações no que diz respeito ao conceito de angústia. Em Inibições, sintomas e ansiedade, a perda do objeto imaginário, que promove a ligação ao corpo materno, é experimentada com angústia. No seminário A angústia, Lacan (1962-63) propõe que a angústia consiste, antes de tudo, no efeito da falta de um significante que aponte a castração materna. Dito de outro modo, se, emFreud, a angústia concerne à ameaça de perda do falo imaginário – angústia de castração – user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar user Destacar Freud e o conceito de castração Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 115 em Lacan, ela decorre da falta do falo simbólico, isto é, da não incidência da castração. Em síntese, a defesa mais eficiente contra a angústia de castração é a castração. Considerações finais Pensamos ser possível afirmar que o conceito de castração apresenta três momentos na obra de Freud: refere-se a uma das teorias sexuais infantis em Sobre as teorias sexuais das crianças, é alçado à condição de processo psíquico central, em íntima conexão com o Édipo e o narcisismo, em A organização genital infantil, e estende-se sobre toda a sexualidade infantil, referindo-se ao corte da relação com o objeto primordial em Inibições, sintomas e ansiedade. Embora reconheçamos diferenças cruciais entre as concepções freudiana e lacaniana de castração, falo e angústia, o ponto de vista sustentado neste trabalho é o de que Lacan parte, em sua elaboração do conceito de castração, da formulação freudiana que se encontra, especialmente, em Inibições, sintomas e ansiedade. Abstract Freud and the castration concept The article intents to review the concept of castration in Freud’s work, aiming at apprehending the different formulations given to this notion in the Freudian text. As a background topic, acting as an organizer of the research, the article pursues the identification of the Freudian roots the Lacanian concept of castration. Our hypothesis is that Lacan derives his theorization from Freud’s concept of castration, as it is particularly formulated in Inhibitions, symptoms, and anxiety. Keywords: psychoanalysis, castration, narcissism, Oedipus complex, anxiety. Resumen Freud y el concepto de castración El artículo se propone a realizar una revisión del concepto de castración en la obra de Freud, con el objetivo de aprehender las diferentes formulaciones conferidas a esta idea en el texto freudiano. Como cuestión de fondo, operando user Destacar Amadeu de Oliveira Weinmann 116 Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 como un organizador de la investigación, el artículo busca identificar las raíces freudianas del concepto lacaniano de castración. La hipótesis sugerida es que Lacan parte de las elaboraciones conceptuales freudianas respecto a la castración, tales como las encontramos, especialmente en Inhibición, síntoma y angustia. Palabras clave: psicoanálisis, castración, narcisismo, Edipo, angustia. Referências Freud, S. (1894). As neuropsicoses de defesa. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 3, pp. 51-66), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 7, pp. 119-229), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1908). Sobre as teorias sexuais das crianças. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 9, pp. 189-204), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1909). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 10, pp. 13-133), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 14, pp. 77-108), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1917). As transformações do instinto exemplificadas no erotismo anal. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 17, pp. 133-141), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1923). A organização genital infantil. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 19, pp. 155-161), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1924a). A dissolução do complexo de Édipo. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 19, pp. 191-199), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1924b). Neurose e psicose. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 19, pp. 165-171), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1924c). A perda da realidade na neurose e na psicose. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 19, pp. 203-209), Rio de Janeiro: Imago, 1996. Freud, S. (1925). Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. In Freud e o conceito de castração Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 117 Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. 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O seminário, livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. Lacan, J. (1958). A significação do falo. In Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. p. 692-703. Lacan, J. (1962/1963). O seminário, livro 10: a angústia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. Recebido em 02/09/2013 Aceito em 16/10/2014 Revisão técnica de Karem Cainelli Amadeu de Oliveira Weinmann Av. Montenegro, 186/602 90460-160 – Porto Alegre – RS – Brasil e-mail: weinmann.amadeu@gmail.com © Revista de Psicanálise – SPPA Amadeu de Oliveira Weinmann 118 Revista de Psicanálise da SPPA, v. 22, n. 1, p. 103-117, abril 2015 radicalmente diverso da acepção freudiana do termo. Sem título
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