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UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES EDUARDO HENRIQUE FERREIRA REFLEXOS DO PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL UBERABA - MG 2018 UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES EDUARDO HENRIQUE FERREIRA REFLEXOS DO PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes - UCAM, como requisito para a obtenção do título de Especialista em Direito Processual Civil UBERABA - MG 2018 1 REFLEXOS DO PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Eduardo Henrique Ferreira1 RESUMO O presente estudo versa sobre o princípio da cooperação ou colaboração, positivado no art. 6º do Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), o qual promoveu uma reestruturação de todo o sistema processual brasileiro, reformulando o diálogo processual para estabelecer uma relação direta entre o órgão jurisdicional e as partes, com vistas a aprimorar a prestação jurisdicional, a ser efetivada a partir da cooperação entre os sujeitos, sob o prisma de um modelo cooperativo de processo. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo definir tal relevante princípio processual e perscrutar os seus reflexos no atual Digesto Instrumental, mediante a análise das regras aplicáveis de forma geral e das regras específicas dele emanadas. Busca-se, ainda, esclarecer que a norma principiológica em tela é composta por um feixe de regras e relações jurídicas, inspirando todo o ordenamento processual, sobretudo os princípios da boa-fé processual, da ampla defesa e do contraditório, entre outros. Por fim, será demonstrada a relevância do princípio da cooperação ou colaboração para todo o sistema processual vigente. Palavras-chave: Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), modelo processual brasileiro, normas fundamentais do processo civil, princípio da cooperação ou colaboração, princípio da boa-fé processual, regra da não surpresa. Introdução A Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, instituiu o Novo Código de Processo Civil, promovendo uma reestruturação de todo o sistema processual brasileiro, por meio da introdução de novos institutos processuais e aprimoramento das normas já existentes. Nesse sentido, é necessário reconhecer a profunda alteração realizada pelo novo Codex, que não procedeu à mera modificação de regras pontuais, mas revolucionou a própria sistemática do Direito Processual Civil nacional, propondo uma nova forma de conceber o processo. Com efeito, o legislador, pautado pelas grandes discussões do Direito Processual Civil brasileiro, além de criar novos institutos, remodelou os já existentes, a fim de tornar a lei mais técnica e mais apta a assegurar a efetividade do processo. 1 Advogado da União, Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Especialista em Direito Constitucional Aplicado com capacitação para o Ensino no Magistério Superior pela Faculdade Damásio de Jesus, Especialista em Direito Administrativo e Contratos pela Universidade Cândido Mendes – UCAM. 2 Entre as alterações promovidas, sobreleva-se a importância conferida pelo Novel Código Processual ao princípio da cooperação ou colaboração ao tratar das normas fundamentais do Processo Civil, positivado expressamente no art. 6º diploma legal (“todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”). Trata-se de uma nova dimensão do princípio do contraditório, que reformula o diálogo processual para estabelecer uma relação direta entre o órgão jurisdicional e as partes, visando ao aprimoramento da decisão judicial, a ser efetiva a partir da cooperação entre os sujeitos, sob o prisma de um modelo cooperativo de processo. Existem vários modelos de direito processual, destacando-se tradicionalmente na doutrina os modelos dispositivo e inquisitivo. No entanto, é possível conceber um terceiro modelo, sob o prisma do processo cooperativo, que mais se adequa ao atual estágio da sociedade brasileira. Como elucida Fredie Didier2, “Os princípios do devido processo legal, da boa-fé processual e do contraditório, juntos, servem de base para o surgimento de outro princípio do processo: o princípio da cooperação. O princípio da cooperação define o modo como o processo civil deve estruturar-se no direito brasileiro. O art. 6º do CPC o consagrou expressamente: “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”. Esse modelo caracteriza-se pelo redimensionamento do princípio do contraditório, com a inclusão do órgão jurisdicional no rol dos sujeitos do diálogo processual, e não mais como um mero espectador do duelo das partes. O contraditório é valorizado como instrumento indispensável ao aprimoramento da decisão judicial, e não apenas como uma regra formal que deve ser observada para que a decisão seja válida. A condução do processo deixa de ser determinada pela vontade das partes (marca do processo liberal dispositivo). Também não se pode afirmar que há uma condução inquisitorial do processo pelo órgão jurisdicional, em posição assimétrica em relação às partes. Busca-se uma condução cooperativa do processo, sem destaques para qualquer dos sujeitos processuais. O modelo cooperativo parece ser o mais adequado para uma democracia. Dierle José Coelho Nunes, que fala em modelo comparticipativo de processo como técnica de construção de um processo civil democrático em conformidade com a Constituição, afirma que “a comunidade de trabalho deve ser revista em perspectiva policêntrica e comparticipativa, afastando qualquer protagonismo e se estruturando a partir do modelo constitucional de processo. Disso surgem deveres de conduta para as partes e para o órgão jurisdicional, que assume uma “dupla posição”: “mostra-se paritário da condução do processo, no diálogo processual”, e “assimétrico” no momento da decisão; não conduz o processo ignorando ou minimizando o papel das partes na “divisão do trabalho”, mas, sim, em uma posição paritária, com diálogo e equilíbrio. A cooperação, corretamente compreendida, em vez de “determinar 2 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento Fredie Didier Jr. – 17. ed. – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. p. 124-126. 3 apenas que as partes – cada uma para si – discutam a gestão adequada do processo pelo juiz, faz com que essas dele participem. No entanto, não há paridade no momento da decisão; as partes não decidem com o juiz; trata-se de função que lhe é exclusiva. Pode-se dizer que a decisão judicial é fruto da atividade processual em cooperação, é resultado das discussões travadas ao longo de todo o arco do procedimento; a atividade cognitiva é compartilhada, mas a decisão é manifestação do poder, que é exclusivo do órgão jurisdicional, e não pode ser minimizado. Neste momento, revela-se a necessária assimetria entre as posições das partes e do órgão jurisdicional: a decisão jurisdicional é essencialmente um ato de poder. Em um processo autoritário/inquisitorial, há essa assimetria também na condução do processo. (...) O modelo cooperativo é, enfim, uma terceira espécie, que transcende os tradicionais modelos adversarial e inquisitivo. Eis o modelo de direito processual adequado à cláusula do devido processo legal e ao regime democrático”. Apesar da positivação do princípio da cooperação no art. 6º do Código de Processo Civil, o modelo cooperativo é extraído não apenas do aludido dispositivo legal, mas de todo o sistema estabelecidopelos arts. 5º a 10 do diploma normativo. Confira-se: Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar- se de acordo com a boa-fé. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência; II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; III - à decisão prevista no art. 701. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Verifica-se, portanto, que o modelo cooperativo, expressamente adotado pelo Novo Código de Processo Civil, consiste em uma evolução dos modelos anteriores – inquisitivo e dispositivo – conclamando os sujeitos da relação processual para 4 colaborarem e alcançarem, em tempo razoável, uma prestação jurisdicional justa e efetiva. Desenvolvimento A tutela jurisdicional prestada pelo Estado deve ser pautada pelo devido processo legal, nos termos do art. 5º, LIV, da Constituição Federal (“ninguém será privado da liberada ou de seus bens sem o devido processo legal”), postulado do qual emanam diversos princípios que regras que asseguram a sua efetivação. Visando à sua melhor compreensão, vale destacar que o devido processo legal é um direito fundamental de conteúdo complexo, do qual podem ser extraídos os princípios da contraditório, da publicidade, da duração razoável do processo, da efetividade, da adequação, da eficiência, da boa-fé processual, entre outros. Nesse contexto, incumbe rememorar que o processo é um feixe de relações jurídicas travadas entre os sujeitos processuais, os quais, sob o prisma do princípio da cooperação ou colaboração, devem atuar de forma a contribuir para a prestação jurisdicional que tenda ao devido processo legal. Assim, o princípio da cooperação ou colaboração cria para as partes obrigações de fazer e não fazer necessárias para a existência de um processo leal e cooperativo. É possível estabelecer três vertentes básicas do princípio da cooperação, quais sejam: a) dever de esclarecimento, consistente na postura judicial de requerer das partes os esclarecimentos necessários quanto às suas alegações e pedidos, evitando, por conseguinte, a decretação de nulidade e interpretação equivocada sobre alguma conduta; b) dever de consulta, que impõe ao órgão judicante a prévia consulta aos interessados para a prolação de decisão, evitando a surpresa dos demandantes; e c) dever de prevenção, consubstanciado na orientação às partes de eventuais deficiências visando à sua correção. Sobre o dever de o juiz zelar pelo efetivo contraditório, Fredie Didier ressalta que3: “No Direito Português, a doutrina identifica a existência de um dever de o juiz auxiliar as partes: “o tribunal tem o dever de auxiliar as partes na superação das eventuais dificuldades que impeçam o exercício de direitos ou faculdades ou o cumprimento de ônus ou deveres processuais”. Cabe ao órgão julgador 3 Idem, p. 131-132. 5 providenciar, sempre que possível, a remoção do obstáculo. Para cumprir este dever, poderia o órgão julgador, por exemplo, sugerir a alteração do pedido, para torna-lo mais conforme o entendimento jurisprudencial para casos como aquele. Esse dever é um dos aspectos do princípio da cooperação, também previsto no CPC português. A relação entre os deveres de cooperação e a promoção da igualdade processual é muito difundida na doutrina. (...) O dever de zelar pelo efetivo contraditório tem designação mais precisa e, por isso, abrangência mais restrita; cumpre-se o dever com adequações do processo feitas pelo juiz em situações excepcionais”. Reflexo dessa concepção é a previsão do art. 357, § 3º, do Código de Processo Civil, que ao tratar do saneamento e organização do processo, dispõe que “se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação dom as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações”. Dessa forma, o princípio da cooperação concretiza o princípio do contraditório, em seu aspecto substancial, ao assegurar às partes o poder de influenciar na solução da controvérsia. Vale destacar, ainda, que conforme já se manifestou o Superior Tribunal de Justiça, “o princípio da cooperação, que demanda atividade cooperativa de todas as partes que compõem a relação jurídico-processual, não tem aplicabilidade apenas no Direito Processual Civil, sendo indispensável sua incidência no âmbito do Direito Processual Penal, em que está em jogo, além da razoável duração do processo, a liberdade do indivíduo”4. Explicitada a inovação introduzida pelo modelo cooperativo do processo e suas consequências práticas, é necessário tratar de dois vetores fundamentais para a sua concretização, quais sejam o princípio da boa-fé processual e a regra da não surpresa. Princípio da boa-fé processual Relevante vetor do modelo cooperativo de processo, o princípio da boa-fé processual está previsto expressamente no art. 5º doa Lei 13.105/2015, segundo o qual “aquele que de qualquer forma participar do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”. 4 AgRg no HC 415.123/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 15/03/2018, DJe 27/03/2018 6 O aludido princípio já pautava o Código de Processo Civil de 197 e era extraído do dever dos sujeitos do processo de proceder com lealdade e boa-fé, nos termos do seu art. 14, II. Contudo, o Novel Código Instrumento conferiu um novo dimensionamento ao postulado, alçando-o a pressuposto de toda a atuação processual. Nesse diapasão, todos os sujeitos que, de qualquer forma, participam do processo devem atuar em consonância com a boa-fé objetiva, entendida essa como norma de conduta, que impõe e proíbe determinados atos, criando deveres anexos a serem seguidos por todos os integrantes do diálogo processual. No ponto, vale esclarecer que o princípio da boa-fé objetiva, norma processual, não se confunde com a exigência de boa-fé subjetiva para a configuração de alguns atos processuais. A boa-fé objetiva é norma de conduta, criando obrigações e situações jurídicas, ao passo que a boa-fé subjetiva é elemento fático exigido em algumas situações. Depreende-se, assim, que o postulado em tela impõe deveres de cooperação entre os sujeitos da relação processual e exerce uma função hermenêutica, pautando a decisão judicial e as postulações das partes. Inspirado pelo princípio da boa-fé processual, o art. 77 da Lei 13.105/2015 prevê alguns deveres das partes, dos procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo, quais sejam: expor os fatos em juízo conforme a verdade; não formular pretensão ou apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento; não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaraçãoou à defesa do direito; cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação; declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva; e não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso. Fredie Didier menciona quatro concretizações da aplicação do princípio da boa-fé objetiva ao processo5: “a) Proibição de criar dolosamente posições processuais, ou seja, proibição de agir de má-fé. O dolo processual é conduta ilícita, por conta da incidência 5 Idem, p. 110-111. 7 do princípio da boa-fé. Mas há regras expressas que concretizam isso, por exemplo: o requerimento doloso da citação por edital (art. 258), a litigância de má-fé (Art. 80, CPC) e a atuação dolosa do órgão jurisdicional (art. 143, I). b) A proibição do venire contra factum proprium. Trata-se de proibição de exercício de uma situação jurídica em desconformidade com um comportamento anterior que gerou no outro uma expectativa legítima de manutenção da coerência. (...). c) A proibição de abuso de direitos processuais. O abuso do direito é conduta ilícita; o abuso de um direito processual também. Qualquer abuso do direito no processo é proibido pela incidência do princípio da boa-fé processual. (...). d) Verwirkung (supressio, de acordo com a sugestão consagrada de Menezes Cordeiro): perda de poderes processuais em razão do seu não-exercício por tempo suficiente para incutir no outro sujeito a confiança legítima de que esse poder não mais seria exercido”. O princípio da boa-fé objetiva processual revela-se um importante corolário do modelo cooperativo, traçando as linhas diretivas para a atuação dos sujeitos do processo. Regra da não surpresa De outro lado, a regra da não surpresa, consectário direto do princípio do contraditório na sua acepção substancial, é extraído dos arts. 9º e 10 do Código de Processo Civil, nos termos dos quais, respectivamente, “não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida” e “o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”. Exemplificando, Fredie Didier explicita6: “Como poderia o órgão jurisdicional punir alguém, sem que lhe tenha dado a chance de manifestar-se sobre os fundamentos da punição? Por exemplo, demonstrando que os fatos em que se baseia a sua decisão ou não ocorreram ou ao menos não permitem a aplicação daquela sanção. Se não fosse assim, teríamos punição sem contraditório. Não é ilícita a aplicação de qualquer punição processual, sem que se dê oportunidade de o “possível punido” manifestar-se previamente, de modo a que seja possível, de alguma forma, influenciar no resultado da decisão. Mais condizente com essa visão do princípio do contraditório é o art. 772, II, do CPC, que impõe ao juiz que, em qualquer momento da fase executiva, advirta o executado que o seu procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça. Ora, antes de punir, adverte sobre o comportamento aparentemente temerário, para que a parte possa explicar-se. Também deve ser assim a aplicação da multa do art. 77, § 2º, CPC. Deverá o magistrado, ao expedir a ordem ou o mandado para cumprimento da diligência, providenciar advertir esses sujeitos (partes ou terceiros) de que o seu comportamento recalcitrante poderá resultar na aplicação da 6 Idem, p. 79-80. 8 mencionada multa. Sem essa comunicação/advertência prévia, a multa porventura aplicada é inválida, por desrespeito ao princípio do contraditório. O responsável precisa saber das possíveis consequências de sua conduta, até mesmo para demonstrar ao magistrado as razões pelas quais não cumpriu a ordem, ou não a fez cumprir, ou até mesmo para demonstrar que a cumpriu ou não criou qualquer obstáculo para o seu cumprimento. Afinal, o contraditório se perfaz com a informação e o oferecimento de oportunidade para influenciar no conteúdo da decisão; participação e poder de influência são as palavras-chaves para a compreensão desse princípio constitucional. Esse dever de advertência foi expressamente consagrado no § 1º do art. 77 do CPC. Correta também a solução encontrada pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial n. 250.781/SP, rel. Min. José Delgado, DJ de 19.06.2000: “Processual civil. Litigância de má-fé. Requisitos para sua configuração. 1. Para a condenação em litigância de má-fé, faz-se necessário o preenchimento de três requisitos, quais sejam: que a conduta da parte se subsuma a uma das hipóteses taxativamente elencadas no art. 17, do CPC; que à parte tenha sido oferecida oportunidade de defesa (CF/1988, art. 5º, LV); e que da sua conduta resulte prejuízo processual à parte adversa”. Referida regra é inspirada pelo dever de consulta, uma das vertentes do princípio da cooperação, que impede o órgão jurisdicional de proferir decisão fundamentada em questão de fato ou de direito sem antes oportunizar às partes o direito de manifestação. O modelo cooperativo reforça, portanto, a regra da não surpresa, uma vez que, assumindo que todos os sujeitos do processo devem colaborar para a efetiva prestação jurisdicional, impõe-se, por conseguinte, a sua participação na construção dos atos e decisões judiciais. Conclusão Conforme demonstrado ao longo deste estudo, o modelo cooperativo constitui importante reformulação estrutural promovida pelo Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.150/2015), que passou a conceber o trâmite processual e a efetiva prestação jurisdicional como um fim de responsabilidade de todos os sujeitos integrantes do processo. Tão relevante alteração de concepção do modelo processual deve ser apreendida e exercida por todos aqueles que de alguma forma lidam e interveem no processo, buscando-se cada vez mais aprimorar a prestação jurisdicional, pautada sempre no devido processo legal. 9 O tema envolve, portanto, todos os operadores do Direito, em todas os seus ramos, considerando que o Direito processual permeia todas as áreas jurídicas, porquanto passíveis de judicialização. REFERÊNCIAS BRAGA, Sérgio Murilo Diniz. Novo Código de Processo Civil. 2ª Edição – 2016, Belo Horizonte: Editora Líder, 2016. DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento Fredie Didier Jr. – 17. ed. – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. _________. Fundamentos do princípio da cooperação no direito processual civil português. Coimbra: Wolters Khiwer Portugal Coimbra Editora. 2010. GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado® / Marcus Vinicius Rios Gonçalves; coordenador Pedro Lenza. – 6. ed. – São Paulo: Saraiva, 2016. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil – Volume único / Daniel Amorim Assumpção Neves – 8. ed. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016. SCARPINELLA, Cássio. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015
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