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BORGES, Francieli - Literatura Comparada e Intertextualidade

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Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
B732l Borges, Francieli.
Literatura comparada / Francieli Borges, Gabriela 
Semensato Ferreira, Karina Regedor Gercke. – Porto 
Alegre : SAGAH, 2017.
222 p. : il. ; 22,5 cm. 
ISBN 978-85-9502-040-5
1. Literatura comparada. I. Ferreira, Gabriela 
Semensato. II. Gercke, Karina Regedor. III. Título. 
CDU 82.091
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 2 25/01/2017 16:37:39
A Literatura Comparada 
e a intertextualidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Identificar a intertextualidade nas obras literárias.
 � Definir os tipos de intertextualidade presentes no discurso.
 � Analisar as diferenças estruturais da intertextualidade.
Introdução
Você já percebeu que, ao ler um texto, muitas vezes você se lembra de 
outro? Mesmo que o outro texto não esteja ali, existe algum elemento que 
faz com que você se lembre de outra obra, de outra referência. Essa é a 
magia da intertextualidade: todo texto literário é uma rede de conexões 
infinitas. Neste texto, você vai conhecer a intertextualidade e suas 
sutilezas, reconhecer os tipos de intertextualidade presentes nos textos 
e, por fim, identificar como elas se diferenciam de maneira estrutural.
Intertextualidade e suas sutilezas
A importância da intertextualidade para a Literatura Comparada se encontra 
no fato de o intertexto ser inerente à obra. A intertextualidade, enquanto 
concessão de um texto a partir de outro já existente, se revela imprescindível 
como procedimento para a verificação das relações dialógicas entre textos. 
Ela é, por isso, a mais marcante propriedade da produção literária.
A intertextualidade pode ter funções diferentes, que dependem muito dos 
textos e dos contextos em que ela é inserida. O seu reconhecimento está ligado 
ao “conhecimento do mundo”, e esse conhecimento deve ser compartilhado, 
ou seja, ser comum ao produtor e ao receptor do texto.
Ela é a interpretação do mundo e só pode ser interpretada pelo leitor, que 
tem uma bagagem de conhecimentos e percepções incomparáveis, produzidos 
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 172 25/01/2017 16:37:51
e adquiridos por meio da sua atuação nesse mundo, por meio de suas experiên-
cias pessoais. A sua bagagem cultural, o seu background e as suas condições 
cognitivas são únicas. Portanto, a maneira como o discurso do outro integra o 
discurso desse leitor é única, não se repete e, por isso, a externalização desse 
discurso é única também.
Julia Kristeva, filósofa búlgara-francesa, seguindo os passos de Bakhtin, 
desenvolveu o contexto de intertextualidade afirmando que todo texto é uma 
retomada de outros textos. Assim, pode dizer respeito simplesmente à vincu-
lação de um gênero, à repetição de uma ideia ou um ideal presente em uma 
obra, ou mesmo à reescrita explícita de um determinado texto.
A intertextualidade engloba em sua definição a noção de um “diálogo” 
entre textos. Nele, um autor emprega a fala de outro, ou repete uma fala de si 
mesmo presente em outro texto, retomando sua própria obra e reescrevendo-a, 
nos casos denominados de intratextualidade.
Mikhail Bakhtin foi quem primeiro sistematizou o estudo da intertextualidade, apesar 
de não ter gerado esse termo. Seus estudos antecedem em quase 50 anos as orientações 
da linguística moderna; o seu método antecipa os pressupostos da análise do discurso 
e da semiótica, além dos estudos na área da sociolinguística. 
Não existe um só texto literário que não seja intertexto, que não esteja em 
conexão com outros textos. A partir do momento em que a crítica literária 
toma consciência desse processo, tem a oportunidade de encarar de outro 
modo a Literatura Comparada. Você pode notar que o antigo debate teórico 
em torno das influências, fontes e empréstimos pode ser retomado, mas 
agora com um novo vigor.
Mantendo-se fiel à lição de Bakhtin, Julia Kristeva não perde de vista o fato 
de que a criação literária, como releitura de textos anteriores, também é um 
processo que não ignora a dimensão contextual. Ou seja, quando reaproveita 
173A Literatura Comparada e a intertextualidade
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 173 25/01/2017 16:37:52
um conceito de um texto escrito em outra época, o novo autor está trazendo 
o elemento tomado para dialogar com o momento histórico atual.
Kristeva também aborda a questão da intersubjetividade referindo-se à 
relação entre autor e leitor (ou emissor e receptor, enunciador e enunciatário, 
destinador e destinatário, codificador e decodificador, etc.). Para ela, essa 
relação faz parte de um eixo horizontal, ao qual se junta um vertical (intertex-
tualidade), referente à relação entre um texto e os demais (intertextos), sejam 
eles contemporâneos ou anteriores àquele que dialoga com eles.
A intertextualidade da leitura desorganiza a linearidade, problematiza 
qualquer origem ou destino que a “explique”. Isso, entretanto, também proble-
matiza o status do intertexto (texto que se relaciona com o texto lido): se ele é 
agregado ao texto, se passa, também, a constituí-lo, a separação entre texto e 
intertexto é precária, bem como a própria noção de intertextualidade. Mas é 
isso, justamente, o que dá maior dinamismo à intertextualidade, oferecendo 
possibilidades como, por exemplo, lidar com essa precariedade criticamente, 
integrando-a ao próprio jogo da leitura.
Isso explica a defesa da imprecisão do intertexto e, consequentemente, 
da própria intertextualidade. Por essa ótica, ainda que seja importante para 
o texto, a intertextualidade não deve ser supervalorizada. Caso o seja, ela se 
torna supérflua, excessiva, nociva.
Não determinar a intertextualidade é tentar controlá-la, mantê-la longe 
dos olhos de quem lê. Sua ocorrência moderada é benéfica porque, em tese, 
possibilita a significância e o texto; mas, se em excesso, o texto se vira contra 
si mesmo, coloca a significância em xeque por meio de hierarquias e de arbi-
trariedades da própria intertextualidade. Então, se rompe a indeterminação 
e se traz o texto para o campo das contradições e dos conflitos (semióticos, 
políticos, etc.), o qual, afinal, é o campo da leitura.
Se, por um lado, a noção de intertextualidade revitalizou a Literatura 
Comparada, por outro trouxe um grande desafio: a sua permanente redefinição 
como prática de leitura. Essa redefinição remete constantemente a outros 
textos, anteriores ou simultâneos, os quais estão presentes naqueles em que, 
circunstancialmente, o leitor busca produzir sentido.
Contemporaneamente, todo estudo comparatista convoca, necessariamente, 
a noção de intertextualidade, mesmo que isso fique implícito a tal ponto 
que você se esqueça de se interrogar sobre o real sentido dessa categoria na 
atualidade.
Literatura comparada174
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 174 25/01/2017 16:37:52
Tipos de apropriação nos textos literários
Você deve imaginar que o diálogo entre os textos não é um processo tranquilo 
nem pacífico. Sendo os textos um espaço em que se inserem dialeticamente 
estruturas textuais e extratextuais, eles são um local de conflito da linguagem.
A ocorrência intertextual acontece de diversas maneiras. As formas mais 
explícitas são pela epígrafe, que se constitui de uma escrita introdutória a 
outra; pela citação, que diz respeito à transcrição explícita de um trecho de 
outro autor; pela alusão, que denota uma leve menção a um elemento de um 
texto ou ao próprio texto, e pela referência, marcada pela presença de algum 
elemento de um outro texto que leva o leitor a relacioná-los. No entanto, as 
práticas intertextuais explícitas mais significativas estão presentes na paródia, 
na paráfrase e no pastiche.
Há, a todo o momento, um encontro de discursos que se valem um do outro 
para se construírem, o que, apesar disso, não compromete a singularidade e 
a particularidade. Afinal, ao se utilizar de algum elemento de uma obra de 
outro autor, o escritor não perde sua credibilidade. Muito pelo contrário,ele 
pode dar um novo sentido, uma nova visão inesperada àquele elemento em 
sua obra, que a faz singular, original.
As discussões acerca da cópia, da influência e da originalidade são bastante 
antigas e acompanham a evolução da escrita e, consequentemente, da literatura. 
A discussão sobre o direito autoral também é inerente à intertextualidade.
O desejo de originalidade é o pai de todos os empréstimos, de todas as imitações. 
Todo autor exposto a uma influência faz escolhas diante dessa influência, e a origi-
nalidade tem sua marca nessas escolhas. O autor pode ser influenciado por algumas 
qualidades de uma obra, e essa influência imprime uma maior originalidade em sua 
produção. Os escritores do século XVI, sem disporem do termo, já tinham certa noção 
do que era a originalidade literária. A originalidade que percebemos em uma obra 
literária vem da capacidade de criação do autor ao escolher o assunto, usar recursos 
diversos e alterar as influências específicas que agiram sobre ele.
175A Literatura Comparada e a intertextualidade
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 175 25/01/2017 16:37:52
Tipos de intertextualidade
Epígrafe: constitui uma escrita introdutória. A epígrafe é um pré-texto que 
resume o pensamento do autor. É uma citação que ocorre na abertura de um 
livro ou texto.
Citação: é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas e geralmente 
com o nome do autor. Verifica-se também que há citação quando um determi-
nado autor retoma um trecho de obra alheia, incorporando-o explicitamente 
ao seu. Esse expediente se evidencia, no texto escrito, pelo uso de marcadores 
como as aspas. A citação pode ser direta ou indireta. Ela é direta quando a 
cópia é feita de forma integral, idêntica ao texto de origem, e indireta quando 
é feita a paráfrase do texto original, ou seja, quando o trecho é reescrito 
com outras palavras, mas mantendo seu sentido. Pode-se dizer que é uma 
espécie de tradução dentro da própria língua. A alusão é uma forma indireta, 
incompleta ou subentendida de citação: a referência ao autor ou texto alheio 
é feita sutilmente.
Paráfrase: o autor recria, com seus próprios recursos, um texto já existente, 
relembrando a mensagem original ao interlocutor. Na paráfrase as palavras 
originais são alteradas, mas a ideia do texto é confirmada pelo novo texto, e 
a alusão ao original ocorre para atualizar ou reafirmar os sentidos do texto 
citado. É o mesmo que dizer com outras palavras o que já foi dito. É uma espécie 
de interpretação de um texto com palavras próprias, mantido o pensamento 
original; ou, ainda, uma intertextualidade que assinala uma semelhança entre 
o texto original e o derivado, levando em conta que a diferença, se houver, 
não é substancial, mas constitui uma “adaptação” do original.
Paródia: É uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo 
retomado, rompe com ele, sutil e abertamente, ela muitas vezes perverte o 
texto anterior, visando a crítica de forma irônica. A paródia é uma forma de 
contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias 
impostas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das 
artes. Ocorre, aqui, um choque de interpretação. A voz do texto original é 
retomada para transformar seu sentido, o que leva o leitor a uma reflexão 
crítica de suas verdades incontestadas anteriormente. Com esse processo, há 
uma indagação sobre as verdades estabelecidas e uma busca pela verdade real, 
concebida por meio do raciocínio e da crítica. Tradicionalmente, a paródia 
é definida como um escrito que imita uma obra literária, de forma crítica. É 
um texto que subverte a mensagem do texto que o inspirou.
Literatura comparada176
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É possível perceber que a paráfrase se posiciona ao lado da ideologia dominante, 
é uma continuidade. A paródia caminha para o lado das diferenças. A paráfrase se 
direciona à condensação, às semelhanças. Desse modo, a paródia se apresenta como 
um efeito centrífugo, descentralizador. Já a paráfrase se manifesta como um efeito 
centrípeto, centralizador, uma vez que retoma o processo de construção do texto 
apropriado, mantendo a sua ideologia, os seus efeitos de sentido. Próxima da paráfrase, 
numa primeira leitura, estaria a tradução. Antes de a intertextualidade ser aceita 
como conceito crítico, o tradutor era considerado mero transcodificador de línguas. 
Recentemente, a atividade de tradução ganhou novos contornos, sendo também 
vista como uma forma intertextual, quase como seu sinônimo.
Pastiche: junção de outros vários textos. Apresenta elementos próximos e ao 
mesmo tempo distantes da paródia, que muitos, equivocadamente, veem como 
seu sinônimo. É certo que tanto paródia quanto pastiche envolvem imitação. 
Entretanto, o pastiche se associa à imitação de um estilo, ou à apropriação de 
um gênero sem, com isso, necessariamente, querer criticá-lo. Contemporanea-
mente, o pastiche pode ser visto como uma espécie de colagem ou montagem, 
se tornando uma paródia em série ou colcha de retalhos de vários textos.
Apropriação: a apropriação às vezes é confundida com o plágio (que não 
é um procedimento intertextual, mas simplesmente um furto textual). Ela é 
um tipo de citação deslocada para um contexto estranho e até impertinente. 
Pode ser vista como forma radical da paródia (pois se aproxima mais desta do 
que da paráfrase) ou como forma de citação descontextualizada.
Bricolagem: são alguns procedimentos da intertextualidade das artes 
plásticas e da música que também aparecem na literatura. Quando o processo 
de citação é extremo, ou seja, se um texto é formado a partir de fragmentos 
de outros textos, tem-se um caso de bricolagem. A técnica da montagem ou 
colagem é uma das formas de apropriação.
Tradução: a tradução é uma adequação de um texto em outra língua, a 
língua nativa do país, por exemplo, um livro turco que é traduzido para a 
língua portuguesa.
Referência e alusão: na alusão, não se aponta diretamente o fato em ques-
tão. Ele é apenas sugerido por meio de características secundárias e metafóricas.
A intertextualidade, seja a paródia ou a apropriação, por exemplo, mais 
que simples expediente lúdico, pode ser entendida como forma de reflexão 
crítica sobre a arte. Os autores, em diferentes épocas e estilos, recorreram a 
177A Literatura Comparada e a intertextualidade
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essa ferramenta para demonstrar maior consciência sobre o fazer artístico. A 
intertextualidade está diretamente associada à metalinguagem, pois ambos os 
procedimentos são relacionais. Na intertextualidade, um texto absorve outros. 
Ambos os procedimentos tornam o leitor mais crítico e reflexivo.
Diferenças estruturais na intertextualidade – 
uma questão de heterogeneidade
A partir dos “fios dialógicos vivos” que são os “outros discursos”, os discursos 
do outro são colocados no interior do discurso que se tece polifonicamente. 
Isso dá origem a um jogo de várias vozes cruzadas cuja presença é mostrada 
de diferentes formas: de maneira implícita, por conta da memória do leitor; 
ou de maneira explícita.
Essas vozes mostram uma propriedade fundamental da linguagem: a he-
terogeneidade, que pode ser constitutiva ou mostrada. Como heterogeneidade 
constitutiva, você pode considerar o “diálogo” que um discurso mantém com 
o outro por meio da dialogização interna do discurso (dialogismo baktiniano). 
Os textos se constituem a partir de outros textos. Eles são atravessados, ocu-
pados, habitados pelo discurso do outro. Sob as palavras de um discurso, há 
outras palavras, outro discurso, outro ponto de vista social.
Já a heterogeneidade mostrada incide sobre as manifestações explícitas, 
recuperáveis a partir de uma diversidade de fontes de enunciação. Para o 
autor, os fenômenos da “heterogeneidade mostrada” vão bem além da noção 
tradicional de citação e mesmo daquela, mais linguística, de discurso rela-
tado (direto, indireto, indiretolivre). Incluem a pressuposição, a negação, a 
parafrasagem, a imitação, entre outros fenômenos.
Os objetos textuais e a direção dos sentidos não se constituem propriamente 
na criação do autor. Surgem na apropriação de enunciados externos ao indi-
víduo, criados socialmente, que já existiam antes da enunciação do referido 
texto e que existirão após ela. Você pode perceber, então, que a presença do 
outro na formação discursiva em estudo confere ao discurso a heterogeneidade 
mostrada. Esta pode se apresentar sob diversas formas, inclusive aquela em 
que a presença do outro não aparece explicitamente na frase, mas sim de forma 
implícita, sugerida, como na imitação de outros discursos.
Foi com a linguista Jaqueline Authier-Revuz (1990, 1998, 2004) que o 
conceito de heterogeneidade se desenvolveu e ganhou espaço. A partir da 
teoria de interdiscurso proposta pela análise discursiva francesa, e também 
da noção de dialogismo e de polifonia desenvolvida por Mikhail Bakhtin, 
Literatura comparada178
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 178 25/01/2017 16:37:52
Authier-Revuz (1990, 1998, 2004) estabeleceu o conceito de heterogeneidade 
enunciativa. Assim, possibilitou à análise discursiva uma contribuição teórica-
-metodológica para a análise do outro na discursividade produzida nos textos 
literários.
A língua por si e em seu uso real não é considerada apenas como um 
conjunto abstrato de signos. Ela tem a propriedade de ser dialógica. O autor 
não se refere apenas à interação presencial, ao diálogo face a face. Refere-se 
à realidade de que, para construir seu discurso, necessariamente, considera o 
discurso de outro autor. Assim, o dialogismo deve ser pensado não em termos 
semânticos ou lógicos, mas em termos de pontos de vista de sujeitos sociais 
sobre uma realidade dada.
Para Jaqueline Authier-Revuz (1990) o discurso é heterogêneo, pois “[...] 
sempre sob as palavras, ‘outras palavras’ são ditas: é a estrutura material 
da língua que permite que, na linearidade de uma cadeia discursiva, se faça 
escutar a polifonia não intencional de todo discurso [...]”.
A heterogeneidade é tomada como base – a linguagem é heterogênea em 
sua constituição. A heterogeneidade discursiva estuda a relação entre a língua 
e o que é considerado como seu “exterior”, procurando entender como se dá a 
inscrição do outro no discurso. Desse modo, uma formação discursiva sempre 
colocará em jogo mais de um discurso. O texto é heterogêneo; não é possível 
definir um dos discursos sem remeter ao outro. 
Para o interdiscurso, considere que todo discurso é construído no processo de 
incorporação de outros discursos, pré-construídos, produzidos em seu exterior.
Ao fazer uso da heterogeneidade, característica do discurso, o sujeito dá a 
ilusão de ser uno, de ser a origem do dizer, de ser homogêneo e despojado de 
conflitos. Essa percepção é fundamental para a análise do discurso que tem 
na presença do outro uma de suas características fundamentais.
Você pode compreender a heterogeneidade de duas maneiras: a mostrada 
(marcada ou não marcada) – sinalizada com marcas características na superfície 
linguística – e a constitutiva (não marcada linguisticamente) – sinalizada pelo 
dialogismo de Bakhtin.
179A Literatura Comparada e a intertextualidade
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 179 25/01/2017 16:37:52
Enfim, com base nas noções de intertextualidade, você pode concluir que 
a relação entre textos foge a questões de dependência ou dívida, focando no 
caráter sociável dos textos literários, na capacidade que têm de interagir uns 
com os outros, no diálogo e na complementação entre eles, bem como na 
originalidade como produto desse confronto. Quando compreende o fenô-
meno da intertextualidade como inerente ao texto, você tende a abolir alguns 
conceitos errôneos de influência e fonte considerados ao longo da história da 
Literatura Comparada.
A intertextualidade, então, aniquila a face negativa com que a questão da 
influência era tratada, já que os intertextos são elementos de natureza intra-
textual, formadores e constituintes da obra. A própria palavra “intertexto”, de 
texere, que significa tecer, conduz a essa ideia de dialogismo. É por meio do 
intertexto que se pode tecer, costurar, unir os vários “retalhos da rede” literária.
1. Sobre a intertextualidade, 
é possível afirmar:
a) O texto que faz referência a 
outra obra é absolutamente 
dependente dela.
b) Intertextos são quaisquer textos 
que possuam a mesma temática.
c) O autor só faz referência a 
outra obra para criticá-la.
d) O autor não dá nenhuma pista 
sobre a qual obra ele se refere, 
esperando que o leitor adivinhe.
e) A intertextualidade tanto pode 
manter o mesmo sentido da 
obra anterior quanto invertê-lo.
2. Leia o texto: “Metamorfose às 
avessas. Ao acordar num oco de pau 
uma bela manhã, um inseto viu-se 
transformado em homem. Ainda 
sem consciência do que acontecera, 
tentou voar a uma árvore florida: 
os membros desajeitados 
golpearam ridiculamente o ar, as 
mãos estalando de encontro às 
coxas. [...]” CAMPOS, Paulo Mendes. 
Metamorfose às avessas. In: O amor 
acaba: crônicas líricas e existenciais. 
São Paulo: Companhia das Letras, 
2013. Você acabou de ler o início 
de uma crônica de Paulo Mendes 
Campos. A qual obra ela faz alusão?
a) Dom Casmurro, de 
Machado de Assis.
b) A Metamorfose, de Franz Kafka.
c) Dona Flor e seus Dois 
Maridos, de Jorge Amado.
d) Ensaio sobre a Cegueira, 
de José Saramago.
e) Letra da música “Monte 
Castelo”, escrita por Renato 
Russo, líder da banda Legião 
Urbana nos anos de 1980.
3. Texto 1 
Tão logo viu José Dias desaparecer 
no corredor, Bento deixou 
o esconderijo e correu até a 
varanda do fundo. Não quis 
saber das lágrimas da mãe, 
Literatura comparada180
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 180 25/01/2017 16:37:52
por conta da promessa que 
ela fizera dezesseis anos antes, 
quando ele fora concebido. 
Texto 2
Tão depressa vi desaparecer o 
agregado José Dias no corredor, 
deixei o esconderijo, e corri à 
varanda do fundo. Não quis saber 
de lágrimas nem das causas 
que as fazia verter a minha mãe. 
A causa era provavelmente os 
seus projetos eclesiásticos, e a 
ocasião destes é a que vou dizer, 
por ser já então história velha; 
datava de dezesseis anos. 
Ao ler os textos, é possível afirmar:
a) O texto 1 pertence ao original de 
Machado de Assis e o texto 2 à 
recriação de Fernando Sabino.
b) O texto 2 faz referência aos 
conflitos do próprio narrador.
c) De modo geral, o texto recriado 
por Fernando Sabino busca criar 
uma linguagem rebuscada com 
base em Machado de Assis.
d) O texto 1, ao omitir a condição de 
agregado de José Dias, não altera 
o foco narrativo do romance.
e) O texto 1 é plágio do texto 2.
4. Ao considerarmos a letra da 
música “Monte Castelo”, de Renato 
Russo, líder da banda Legião 
Urbana, escrita nos anos de 1980, 
podemos perceber a presença de:
a) Paródia, pois o texto da 
canção rompe com o original, 
sutil e abertamente.
b) Paráfrase, pois as palavras 
originais não são alteradas.
c) Citação direta, uma vez que há 
fragmentos dos textos originais 
que são aproveitados de modo 
literal, ainda que tenham sido 
colados pelo compositor.
d) Alusão, pois o fato, o tema 
é apontado diretamente.
e) Pastiche, pois trata-se apenas 
da junção de vários textos 
existentes com a intenção 
de construir uma crítica.
5. Sobre a intertextualidade:
a) A intertextualidade, tema 
estudado pela Linguística 
Textual, não é um elemento 
recorrente na escrita de textos.
b) Existe apenas um tipo de 
intertextualidade: a implícita.
c) A intertextualidade interfere na 
construção de sentidos do texto.
d) Podemos dizer que a 
intertextualidade é apenas 
a apropriação literal de um 
texto para a criação de outro.
e) Julia Kristeva afirma que todo 
texto é único, original. Apenas 
sofrem influências de outros.
181A Literatura Comparada e a intertextualidade
SER_Literatura_Comparada_Book.indb 181 25/01/2017 16:37:52
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline.Entre a transparência e a opacidade: um estudo enunciativo 
do sentido. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Heterogeneidade(s) enunciativa(s). Cadernos de Estudos 
Linguísticos, Campinas, n. 19, p. 25-42, jul.-dez. 1990.
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Palavras incertas: as não coincidências do dizer. Cam-
pinas: UNICAMP, 1998.
Leituras recomendadas
BARROS, Diana Luz de; FIORIN, José Luiz (Org.). Dialogismo, polifonia, intertextualidades: 
em torno de Bakhtin. 2. ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2003.
CARVALHAL, Tania Franco. Literatura comparada. 5. ed. São Paulo: Ática, 2010. (Prin-
cípios, v. 58).
CARVALHAL, Tania Franco; COUTINHO, Eduardo de Faria. Literatura comparada: textos 
fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
FARACO, Carlos A.; CASTRO, Gilberto; TEZZA, Cristóvão. (Org.). Diálogos com Bakhtin. 
Curitiba: UFPR, 2008.
FREITAS, Antonio Carlos R. O desenvolvimento do conceito de intertextualidade. 
Icarahy, Niterói, n. 6, 2011. Disponível em: <http://www.revistaicarahy.uff.br/revista/
html/numeros/6/dlingua/ANTONIO_CARLOS.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2016.
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