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AULA 1 COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS Prof. Phelipe de Lima Cerdeira 2 CONVERSA INICIAL Com este material, damos início à discussão da disciplina Compreensão e produção de textos, um dos conteúdos que dizem respeito à grade obrigatória do nosso curso de especialização. Ao falar de compreensão e de produção de textos, é necessário construirmos um raciocínio que vá além de uma enumeração de conceitos teóricos, devidamente organizados e preenchidos por citações que atestem uma dada credibilidade. Em nosso caso, tomaremos o cuidado de ilustrar, sempre que julgarmos necessário, o nosso raciocínio a partir do eixo central desta disciplina: o texto. Espero, em contrapartida, que cada aluno e aluna possa também fazer o mesmo – o processo é involuntário, como sabemos, mas pode ganhar outras nuanças quando realizado por meio de uma epistemologia dialógica de trabalho e de estudo –, buscando, com base em seu reportório discursivo, textos (escritos e orais) que possam exemplificar tudo o que estamos estudando. Que possamos estabelecer um diálogo profícuo até o final deste módulo, compreendendo e produzindo, juntos, novos textos. CONTEXTUALIZANDO Independentemente de qual seja a área efetiva de atuação profissional, é provável que essa problemática faça parte da sua rotina – seja de maneira direta, seja por uma subjacente atribuição, afinal, tal como apregoado pelo filósofo Mikhail Bakhtin e grande parte dos pensadores que conjugaram o respeitado círculo bakhtiniano, todos nós, em diferentes esferas, assumimos por meio da linguagem a função de enunciar, produzir e compreender textos. Somos, portanto, partícipes de inúmeros discursos da vida cotidiana (Bakthin, 2006). E, se partilhamos discursos, fica mais clara a ideia de que, independentemente do texto a ser produzido, reverberamos afirmativas outrora enunciadas, seja de maneira convicta e direta, seja por artifícios como alusões, paráfrases ou ironias. O fato é que ratificamos o quanto a língua é, sim, um ato social. A nossa percepção sobre algum assunto acaba sendo atravessada pela maneira de ver o mundo na qual fomos engendrados ou naquela que decidimos estabelecer as nossas relações. Produzir e compreender um texto corresponde à perspectiva de atribuir significado, dialogar e se fazer inteligível em diferentes contextos enunciativos. Da conversa informal entre amigos à construção de uma aula para alunos do ensino 3 médio, dos conteúdos diários trocados em aplicativos de mensagens instantâneas à elaboração de uma hipótese de leitura para viabilizar um trabalho acadêmico de conclusão de curso, tudo, absolutamente tudo exemplifica como estamos, periodicamente, atuando na compreensão e na produção de textos. Para subsidiar o nosso debate ao longo de toda a disciplina, daremos destaque nesta primeira aula para certas reflexões teóricas que nos permitam entender o que podemos intitular como um texto, afastando-nos de atribuições sistematizadoras e pouco producentes. Em seguida, elucidaremos as propriedades de um discurso e de um enunciado e, com base nisso, a possibilidade para se cotejarem as fronteiras entre o que está dito e o que pode ser percebido. Por último, discorremos a respeito das distintas manifestações de um texto a partir do que se entende como gêneros textuais. Nesta fase de contextualização, momento em que nos aproximamos da disciplina, infiro que cada discente tenha postulado as suas inquietudes a respeito de uma temática que frequenta os nossos horizontes de expectativas desde os deveres escolares. Sendo assim, permito-me fazer um convite para que julgamentos e certezas cristalizados possam ser, ao menos, (re)lidos e reconsiderados. A compreensão e a produção não precisam – ou melhor, dizendo, não podem – ser tomadas como a pedra que tinha no meio do caminho, mas o caminho que pode recontar a história de muitas pedras. TEMA 1 – AFINAL, O QUE É UM TEXTO? Em nossa Conversa inicial e na seção Contextualizando, já reforçamos o quanto cada um de nós está exposto ou assume a função de agente enunciador de diferentes textos. Como seres de e do discurso, arquitetamos via linguagem textos para informar, solicitar, descrever, argumentar, sugerir, dissertar, enfim, para comunicar o que pensamos. Mas, afinal, o que é exatamente um texto? Antes de se indagar mentalmente, tente responder a uma questão anterior: em sua época escolar, até o ensino fundamental, se um professor ou alguém lhe fizesse a mesma pergunta, qual seria a sua resposta? Toda e qualquer generalização é problemática, mas, possivelmente, a sua réplica teria sido algo do tipo “Ué, professor, texto é toda e qualquer informação, composta pelo encadeamento de várias frases ou mesmo parágrafos”. Talvez, o comentário esteja extenso demais para a resposta de uma criança. Quem sabe, “para mim, texto é um bloco escrito, com várias frases juntas!”, ou, ainda, “Ah! Professor, para 4 mim, um texto é algo com, no mínimo, 15 linhas”. O que acha agora? A sentença estaria mais verossímil, cumpriria com o repertório de uma criança afoita em querer demonstrar os seus conhecimentos? Não cabe agora, claro, elucubrar qual seria o período mais consistente para responder o que está em xeque. Responder o que é um texto, para nós, adultos, não é uma das tarefas mais fáceis, mesmo para aqueles que vivenciam o seu dia a dia na área das Humanidades e até mesmo nas Letras. A nossa dificuldade se deve muito ao fato de que, ao longo das últimas décadas, a percepção em relação ao que entendemos como língua acabou ganhando aportes teóricos fundamentais, desconstruindo, pouco a pouco, uma concepção simplista do fenômeno linguístico. Falar que um texto é somente “um bloco textual escrito” já não era mais convincente. Ao texto caberia uma incumbência muito mais ampla, capaz de exemplificar as inúmeras manifestações discursivas utilizadas pelo ser humano em seu dia a dia. Dessa forma, um texto não deve ser vislumbrado tão somente como uma sequência de enumerações justapostas, mas como uma fonte de enunciação potencial. O que isso quer dizer? Ora, como se pode imaginar, muita coisa (muitos novos textos). Tal postura teórica permitiu entender que um bilhete deixado para alguém que se ama ou que seja colado na geladeira também é um texto; da mesma maneira, é um texto uma fotografia, uma bula de remédio, uma imagem grafitada na parede, a receita de bolo herdada por alguém da família, até mesmo uma palavra. Apenas uma palavra pode se converter em um texto? Ora, assumindo uma atribuição contextual, sem dúvida alguma. Experimente pensar empiricamente: a palavra pare, sozinha, comunica algo imediato para você, certo? O que você entenderia ao ler apenas essa palavra pare em uma folha de caderno rasgada de maneira displicente, caída no chão da sua casa? Uma possibilidade seria imaginar que alguém estava bravo ou que pedia para o seu possível interlocutor mais respeito, por exemplo. No entanto, você pensaria o mesmo ao ver essa palavra no contexto em que ela está aplicada na página seguinte? 5 Figura 1 – Placa de trânsito Fonte: Patrick Hanser/Shutterstock. Estimamos que a sua resposta tenha sido negativa, ou seja, muito provavelmente a sua reação para o caso em que a palavra pare está inserida em uma placa de trânsito regulamentada oficialmente em seu país lhe permitiu atribuir um sentido diferente ao postulado para o caso em que o mesmo signo verbal estava apresentado em uma folha de papel. A que se deve tal comparação? Trata- se de uma maneira clara para que possamos perceber como, em diferentes contextos, uma palavra é mais do que somente uma palavra. Pare constrói, em contextos variados, enunciados potencialmente diferentes, o que permite afirmar que, em ambos os casos, temos um tipo de texto (no final desta aula, discorreremos mais a respeito com basena perspectiva dos gêneros textuais). No segundo caso, quando pare compõe o que chamamos de placa de trânsito, há uma mensagem com certa complexidade, um símbolo construído baseado numa convenção social, o que se deve não somente ao signo verbal pare, pois atribuiremos significado ao termo com base nos signos visuais utilizados (a forma e a cor vermelha da placa, sem falar da tipologia e o padrão maiúsculo escolhido para o léxico), conferindo uma nova instância discursiva, revelando um novo texto. Uma palavra, então, pode ser também um exemplo de texto? Como vimos aqui, sem dúvida alguma. Segundo o professor e importante linguista brasileiro Marcuschi (2009, p. 71-72), “o texto é o resultado de uma ação linguística cujas fronteiras são em geral definidas por seus vínculos com o mundo no qual ele surge e funciona. Esse fenômeno não é apenas uma extensão da frase, mas uma entidade teoricamente nova [...] Exige explicações que exorbitam as conhecidas análises do nível morfossintático”. 6 Mas, antes de seguir, que tal voltarmos algumas décadas e entender como ocorreu essa mudança na esfera linguística quando pensamos a perspectiva do texto? Os nomes de Ferdinand de Saussure e Noam Chomsky são, sem dúvida alguma, dois dos grandes alicerces para avalizarmos os rumos da linguística nos últimos cem anos. Estabelecendo dicotomias para pensar a língua – Saussure com sua langue X parole e Chomsky com o dual desempenho X competência –, cada um desses teóricos estabeleceu argumentos para pensar a língua ora como um fato social, ora como um caráter inato. Seja como for, nas duas concepções, o texto ainda não era o foco central do objeto linguístico. Ao longo do século XX, a linguística dedicou especial atenção para os estudos da língua com base em duas grandes frentes: a formalista, cuja compreensão é atomizada e pautada em uma abordagem não contextualizada e diretamente interessada no destaque para a questão sintática; e, é claro, o formalismo, que quebrou a sistemática dos estudos linguísticos em torno da forma para recontextualizar a língua com base em múltiplos contextos, como uma atividade complexa, viva, uma verdadeira “forma de ação” (Marcuschi, 2009, p. 22). Dentre as perspectivas funcionalistas mais pujantes, cabe-nos destacar postulados instituídos nas escolas linguísticas de Praga, Copenhague e Londres, com teóricos como Jakobson, Hjelmslev, Firth, Halliday, entre outros. É a partir das décadas de 50 e 60 que, na Linguística, começam a figurar diferentes perspectivas de estudos, advindas, fundamentalmente, das discussões provocadas pelo gerativismo de Chomsky e pela busca de cotejo interdisciplinar em todas as humanidades. Nesse sentido, emerge como um dos eixos de estudos a linguística de texto, a análise do discurso, a sociolinguística etc. Os estadunidenses Firth e Halliday são fundamentais para os estudos dessa disciplina, uma vez que concentram a sua observação da língua por meio do plano do texto e do seu tensionamento com base no contexto. No que diz respeito às contribuições críticas brasileiras, são expressivas as reflexões do já aludido Marcuschi (2009), além de nomes como os de Fiorin e Savioli (2007) e Koch e Travaglia (2010), entre outros. Falar em linguística do texto, hoje, é também vislumbrar no horizonte enunciativo a perspectiva de uma língua que é necessariamente heterogênea e que se manifesta de distintas maneiras, mesmo que seja pelo mesmo falante (aqui, a importância da concepção dos registros e das variações socioculturais 7 utilizadas propositalmente por um falante ou uma comunidade falante). Ao perceber o texto não como um resultado de enumerações e alinhamentos sintáticos coerentes, mas como a representação de uma unidade múltipla de sentidos, de interações sociais, passa a ser cada vez mais clara a ideia de unidades comunicativas. Assim, nessa rápida digressão e linha do tempo, é possível perceber como a problemática voltada à linguística textual não guarda nem mesmo meio século de reflexões, o que aponta para o seu caráter inicial e, ao mesmo tempo, a infinidade de contribuições que a área tende a receber ao longo de todo o século XXI. Como vimos, com base na postura textual-discursiva empregada por Marcuschi (2009) e outros pensadores sociointeracionistas, o texto é compreendido não apenas como unidade composta de estruturas, mas, também, como uma fonte de enunciação. Um exemplo catedrático dessa abordagem é o desenvolvido pela linguista Koch na obra Desvendando os segredos do texto (2001). O texto passa a ser caracterizado como o único material linguístico observável, diferente de um fonema ou do morfema, sendo, por sua vez, articulado por diferentes níveis, tais como aspectos linguísticos, sociais/históricos e cognitivos. Esse viés é corroborado por outros teóricos, como Norma Goldstein, Maria Silvia Louzada e Regina Ivamoto, responsáveis por conceituar o texto como “toda produção linguística, oral ou escrita, que apresenta sentido completo e unidade. Tais produções podem ser elaboradas por um ou mais de um autor, numa determinada situação. (Goldstein; Louzada; Ivamoto, 2009, p. 11). Ratifico o quanto devemos entender sempre que nenhum texto se constrói como um conjunto de práticas enunciativas, não como um simples conglomerado de informações justapostas. Todo texto é, mais uma vez, um evento comunicativo ou proposta de sentido, que necessariamente depende da interação do leitor ou de um ouvinte (no caso de um texto não escrito). Além de depender da interação de um eventual interlocutor, para ler e dar significado a um texto, seja ele qual for, é fundamental inter-relacionar as informações contidas em cada uma das unidades linguísticas. Na leitura de um romance, por exemplo, não atribuímos significados isolados, ou seja, não lemos apenas o título ou cada capítulo separadamente. Ao contrário, construímos uma espécie de teia discursiva, capaz de ligar diversos conteúdos em prol de um sentido macro. Da mesma maneira, em uma charge, não atribuímos sentido apenas para as cores, para o desenho ou para uma 8 eventual frase dita. Cada elemento integrante se conecta (ainda que, em um extremo, de maneira antitética), viabilizando a significação. Como bem postulado pelo linguista Macedo (1976, p. 32), uma palavra só se realiza dentro do texto. Uma expressão linguística ganha o seu valor dentro da estrutura sintagmática. Relacionar palavras a significações, a possíveis significações fora da realização textual é tarefa irreal. Com certos substantivos que indiquem coisas físicas, observáveis como “casa, sapato, calça, árvore” ou outros, talvez ainda seja possível o relacionamento. Com outras palavras, parece inteiramente impossível fora do texto. Se as unidades de um texto não são autônomas, passa a ser mais verossímil compreender a importância de que possamos, como interlocutores, promover um confronto entre as partes. Por meio desse exercício de tensionamento e de conhecimento das variáveis extratextuais (o que já chamamos aqui como contexto), é possível alcançar diferentes níveis de leitura presentes em um mesmo texto. Para exemplificar esse fato, passamos ao nosso próximo texto, coincidentemente outro poema: “Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto, 2008, p. 219). Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tãoaéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. O poema de João Cabral ajuda-nos pontualmente a entender como um texto é constituído com base na relação e no tensionamento de cada uma de suas unidades. Sozinho, o título “Tecendo a manhã” parece distanciar-se da metáfora do dia nascendo e sendo anunciado por galos que se intercomunicam e anunciam a chegada de um novo dia. Para tanto, é preciso seguir, ler o poema não de maneira fragmentada, mas, literalmente, tecendo verso a verso, acompanhando o cantar construído pelo eu lírico. O léxico tecido, solto, é apenas um verbete perdido em meio a tantas outras palavras escolhidas pelo poeta pernambucano. 9 No entanto, no enunciado lírico, se transforma em verbo para aludir ao processo de construção de uma manhã sendo anunciada; vira também substantivo o céu, que é uma tela etérea, leve, pronta para servir de espaço para poeta e leitor. Por meio de uma leitura que busca o todo, conseguimos vislumbrar o diálogo do poema com outros textos, garantindo, assim, a construção do significado (ainda que nunca tenhamos vivido no campo, podemos facilmente atribuir significado e relacionar o cantar de um galo com o raiar do dia e o despertar o trabalho). Não convencidos totalmente com o exemplo, nos aventuraremos na leitura de outro texto: agora, uma fotografia. Na primeira imagem a seguir, qual significado é possível depreender? O que exatamente você lê ao identificar a cena? Figura 2 – Uma mulher Fonte: Jonathan Bachman/Reuters/Latinstock. De maneira imediata, ainda que fora do contexto discursivo presumível de um desfile de moda, poderíamos inferir que se trata de mais um desfile de uma marca que decidiu inovar e levar o seu novo conceito da temporada para as ruas de uma grande cidade. Para alguns, a imagem da modelo esguia ao lado, com o vestido longo, ainda que em um cenário urbano, permite a construção de um sentido de sofisticação e estilo. A paleta de cores e o cinza predominante parecem criar uma sensação de infinitude, graças à passagem realizada a partir do asfalto (interessante ressignificação de uma passarela) e que segue com o movimento dos tecidos 10 envolvendo o corpo da mulher. Esse nível de leitura concederia, assim, o descortinar de um novo significado, a possível relação da natureza da mulher com o dado concreto do urbano que nos traga pelo corre-corre da rotina e nos recria. Pois bem, tentando propor seguir a nossa leitura em textos imagéticos, seguimos com a próxima fotografia: Figura 3 – Guardas Fonte: Jonathan Bachman/Reuters/Latinstock. Dessa vez, o que é possível decodificar e atribuir como significado em uma primeira leitura? A resposta não parece ser muito complicada, sobretudo para um interlocutor-médio brasileiro, habitante de zonas urbanas, vítima da violência frequente que assola o dia a dia de milhares de pessoas. A vestimenta dos agentes de segurança, no entanto, pode ser o primeiro elemento de estranheza, afinal, não apresenta códigos e signos visuais de decodificação instantânea, tal como uma bandeira de um estado ou federação, a inscrição “polícia” ou “tropa de choque” etc. Tamanho cuidado na proteção na indumentária dos agentes de segurança permite, em um nível menos superficial da leitura, delimitar que o texto visual está inserido em um cenário de uma grande manifestação, talvez, um protesto relacionado a algum encontro em Davos do G7, por exemplo. Agora, que tal lermos as duas imagens anteriores contextualizadas, a partir da totalidade da fotografia da qual elas fazem parte? Observa atentamente o resultado na página seguinte: 11 Figura 4 – Tomando o bastão no Baton Rouge Fonte: Jonathan Bachman/Reuters/Latinstock Da mesma forma que no exemplo anterior, no poema “Tecendo a manhã”, o significado dessa fotografia se dá a partir de sua leitura em conjunto. Quando unimos as duas imagens e as contextualizamos, seguramente o significado atribuído para cada fragmento separado se esvai. O texto permite uma nova leitura, desperta o choque com base na antítese beleza-fragilidade versus força- coerção. Conjugada à unidade linguística verbal, ou seja, ao título dado à foto (traduzido de maneira literal como “Tomando o bastão no Baton Rouge”), concederia um efeito de significação potencializado, sobretudo para o interlocutor que possa acionar, com base em seu repertório, o significado da foto. Aqui, a perspectiva do texto é aquela de um tecido, um evento comunicativo despertado com a interação do interlocutor. Tomando essa perspectiva, o texto ganha novas matizes e o seu significado é expandido em função do diálogo com outros fatos e discursos em voga na contemporaneidade, com o fato de Baton Rouge ser a capital da Lousiana, nos Estados Unidos, palco de recentes protestos realizados pela população negra a partir da ação de policiais brancos. Ao apresentarmos segmentos dessa fotografia (unidades visuais equivalentes a palavras retiradas do poema de João Cabral de maneira isolada), construímos leituras totalmente distintas. Se fracionarmos o texto imagético (a fotografia) em duas metades, nos 12 afastamos do significado total, descontruindo o texto ou, no mínimo, criando outros dois textos distintos. Diante disso, podemos construir dois critérios quando pensamos em um texto: 1. Jamais tomar apenas um fragmento e julgar todo o texto por conta disso; 2. Entender que toda leitura deve considerar o contexto e o tensionamento com demais textos já existentes. Vale lembrar que o fato de conjecturarmos o texto como um tecido não é apenas um argumento pragmático, o resultado de uma metáfora utilizada aqui com base num poema de João Cabral. Fiorin e Savioli (2007, p. 15), em Para entender o texto: leitura e redação, já apontavam justamente como todo “texto é um tecido, uma estrutura construída de tal modo que as frases não têm significado autônomo: num texto, o sentido de uma frase é dado pela correlação que ela mantém com as demais”. Assim sendo, passamos para a próxima etapa: o que será, então, um discurso? TEMA 2 – O QUE É UM DISCURSO? Para teorizar e apresentar o conceito de discurso, parece relevante voltarmos ao texto imagético apresentado anteriormente: a foto da modelo com os policiais. A imagem, como vimos, revela-se como um texto, apresenta-se como um evento comunicativo, único, dotado de sentido e aberto à interação de um ou mais interlocutores. No entanto, a partir do conhecimento de mundo ou do que chamamos na linguística de repertório discursivo, podemos alocar a imagem em mais uma manifestação para denunciar a tensão racial vivenciada pela população estadunidense. Grande parte desse significado se deve não exatamente ao texto, mas, sim, às informações extratextuais acionadas pelo interlocutor. A ciência de que sucessivos protestos contra crimes raciais – principalmente nos estados do sul dos Estados Unidos – ocorreram em 2017 e acabaram despertando a adesão de diferentes esferas sociais no país e mesmo no mundo acaba definindo como será atribuído sentido a essa imagem, a esse texto. Para acionar essa interpretação, sem dúvida alguma, é decisivo o aporte dos conhecimentos extratextuais de quem está observando/lendo a imagem. Estamos falando, como podem presumir, do discurso. 13 Em uma concepção em que a língua não se faz simplesmente como um código, uma estrutura isolada, e tampouco o texto se refere a apenas ao encadeamento de ideias, sendo, na verdade, toda e qualquer unidade linguística dotada de sentido completo em um dado contexto, o discurso acaba se transformando em uma instância de inquestionável valor para a construção de sentido. Trata-se, pois, de uma proposta para entendê-lo como uma prática, não exatamente como o objeto concreto da enunciação, como a materialização com base em estruturas tangíveis e definidas. Em vez disso, é próprio do discursoapontar – de maneira direta ou alusiva – o posicionamento do emissor de determinado texto, a sua relação com as condições de produção que motivaram certa elaboração. Para viabilizar a nossa reflexão, pensemos na charge a seguir: Figura 5 – Charge “Rede social”. Fonte: Ivan Cabral, 2011. Criada pelo caricaturista Ivan Cabral em 2011 e utilizada pelo Exame Nacional do Ensino Médio no ano de 2012, a charge presente na página anterior nos ajuda a esmiuçar o que problematizamos como uma instância clara do discurso. No texto, a combinação entre os signos visuais (uma rede carcomida e remendada, dando suporte ao que podemos presumir ser uma família, já que temos a figura da mulher-mãe, do homem-pai e de inúmeras crianças) é potencializada com base nas unidades verbais (não somente o comentário dito por um dos adultos, mas, sobretudo, a frase que se constitui como um eixo de leitura, o argumento ou tema do texto, apresentado semioticamente como uma espécie de cartaz colado no muro). 14 Pois bem, ao propor a decodificação do texto-charge, é possível atribuir como significado uma crítica sobre a realidade de um determinado extrato social, que, mesmo em tempos de suposta evolução por conta da tecnologia, segue à margem do consumo e dos contextos discursivos de outra parte da população. O jogo irônico é construído pela polissemia das palavras “rede” e “social”. No primeiro caso, temos acesso ao significado do primeiro léxico por conta do termo ser retratado não somente pelos significantes (verbal e visual) imediatos, mas, também, por conta da alusão a um tipo de comunicação ou suporte que enreda milhares de pessoas em torno da internet. Já no segundo, a ambiguidade está no fato de o aditivo social não ser usado exatamente como complemento de rede e, por isso, da primeira leitura voltada às plataformas tecnológicas, mas a uma possível alusão ao condicionante social, àquilo que estaria – ou deveria estar – à disposição da sociedade. A priori, a proposta de leitura do texto e atribuição de significado poderia ser realizada, com maior ou menor dificuldade, por grande parte dos interlocutores. Todavia, pensando na realidade discursiva de um receptor brasileiro, a leitura poderia ser expandida com base em seu repertório, no seu conhecimento de mundo. Eis, aqui, a relevância do discurso responsável por acionar a criação da charge. Não sendo anacrônico, isto é, estabelecendo uma leitura sincrônica ao tempo de criação da charge, o receptor poderia ativar o fato de que, justo em 2011, começavam a despontar o que seria a febre das redes sociais para subsidiar a interação interpessoal virtual. A ironia construída pelo uso polissêmico do termo rede social poderia ser – por que não? – uma referência ao desconhecimento de uma parte da população sobre o tópico, uma construção de sentido altamente verossímil para aqueles não alfabetizados com a linguagem digital. Além disso, com base no discurso, poderia se pensar em questões conjecturais da realidade econômica e social brasileira, que protagonizou, sobretudo na primeira década do século XXI, uma nova configuração e padrão de consumo com distintos subsídios planejados pelo governo federal. Nesse caso, o conceito de social se expandiria e se relacionaria diretamente a uma sistemática clara de governar então vigente; rede social poderia ser a personificação de outra ideia, projeto ou plano de assistência e cuidado para certa população em risco econômico. Também via discurso seria possível potencializar as unidades não verbais do texto (a imagem da família na rede), atrelando tal representação a uma realidade regional brasileira, ao fato de que muitas famílias, sobretudo nas regiões mais quentes, o 15 tipo de acomodação para dormir continua sendo a rede. Percebemos, então, o quanto o discurso subsidia a construção de significado de um texto. Como veremos a seguir, a divisão entre texto e discurso nem sempre será tão catedrática assim, o que fortalece a ideia de uma fronteira bastante tênue entre o que se intitula como texto e o que se toma como discurso. Para viabilizar a continuidade da nossa reflexão nesta disciplina, vale retomar, com base nos estudos de Marcuschi, três das definições mais frequentes quando se discorre a respeito do discurso: • conjunto de enunciados que derivam da mesma formação discursiva; • uma prática complexa e diferenciada, obedecendo a regras de transformação analisáveis; • regularidade de uma prática. (Marcuschi, 2009, p. 58) TEMA 3 – O QUE É UM ENUNCIADO? Definidos texto e discurso com base numa perspectiva sociointeracionista, cabe-nos ainda discutir o que se deve à instância do enunciado. Se o texto se fundamenta como toda unidade com significado completo e que permite a interação de um interlocutor, enquanto o discurso está relacionado propriamente ao contexto e ao conhecimento de mundo do interlocutor, o que caracteriza ou define propriamente o enunciado? Na perspectiva de Mikhail Bakhtin, sobretudo de sua obra Marxismo e filosofia da linguagem (2006), passaremos a entender a língua dentro de sua esfera enunciativa. O enunciado acaba, pois, ganhando relevância, sendo ele entendido como uma espécie acontecimento discursivo. O linguista Benveniste (2005) será, certamente, um dos teóricos-chave para pensarmos a respeito do enunciado. De acordo com sua ótica, todos os textos que produzimos, antes de serem arquitetados por múltiplos discursos, têm uma motivação, uma subjetividade capaz de mediar a relação entre o interlocutor e o receptor. Por meio do enunciado ou da enunciação, seria possível definir o que e como certo discurso é motivado e transformado em um eventual texto. O enunciado se fundamenta, assim, como uma espécie de disparador dos discursos que se inter-relacionam e constituem em um texto. A enunciação, ainda que provenha de apenas um agente, é sempre um ato social: “A enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de fala determinado pela situação ou pelo contexto mais amplo 16 que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade linguística” (Bakthin; Voloshinov, 2006, p. 107). TEMA 4 – O IMBRICAMENTO ENTRE TEXTO E DISCURSO Ainda que possamos, de maneira didática, buscar aqui nuanças entre texto e discurso, é fato que a sua diferenciação nos estudos da linguística textual acabou sendo problematizada. A tendência contemporânea nos estudos linguísticos é não propor uma dicotomia ou uma separação contundente entre o que é um texto e o que é um discurso. De qualquer forma, se precisássemos pensar em certas matizes entre os dois, seria possível dizer que é o texto é uma espécie de objeto de figura (manifestação e materialização de algo dito), enquanto o discurso é um objeto do dizer, a representação máxima da enunciação. Segundo Marcuschi (2009, p. 58) esta distinção entre texto e discurso é hoje cada mais complexa, já que em certos casos são vistas até como intercambiáveis. A tendência é ver o texto no plano das formas linguísticas e de sua organização, ao passo que o discurso seria o plano do funcionamento enunciativo, o plano de enunciação e efeitos de sentido na sua circulação sociointerativa e discursiva envolvendo outros aspectos. Em algum sentido, seria possível pensar que o texto é o objeto empírico, a instância do particular, aquilo que pode ser observável. Daí, portanto, a possibilidade de vislumbrar um texto composto apenas com uma frase, três parágrafos ou mesmo um romance de 500 páginas. Na outra ponta, o discurso atenderia a um caráter universal, apontaria para o funcionamento motivado por um enunciado (pensando ainda na ideia do romance, tratar-se-ia das esferas discursivas que alicerçam como certa temática foi tensionada). Para alguns teóricos, o discurso seria o resultado do texto, somado, necessariamente, às condiçõesde produção que o cercam; já o texto poderia ser tomado como o discurso, sem que as ditas condições de produção sejam agentes influenciadores. Novos rumos na linguística textual passaram a relativizar o fato de que só pode ser registrado no discurso as condições de produção, uma vez que nenhum texto pode ser enunciado sem que ele esteja diretamente relacionado ao seu contexto. Daí, portanto, a afirmação ao dizer que texto e discurso guardam, cada vez mais, sinuosidades. A separação entre texto e discurso, para teóricos como Jean-Michel Adam, é apenas o resultado de uma perspectiva ou necessidade metodológica. 17 Frisa-se a importância de que texto e discurso não sejam tomados como valores proporcionais para diferenciar, respectivamente, a escrita da fala. Essa comparação, além de incoerente, se distancia – e muito – de tudo o que conversamos até aqui. Além de apontarmos as fronteiras porosas entre texto e discurso, esta seção arquiteta o raciocínio com base na asseveração da linguagem como resultado de um recorte ideológico e, portanto, não neutro, pontuando – ainda que de maneira subjacente – questões como a noção de língua e de registro (sobretudo no contexto da escrita). TEMA 5 – O TEXTO E AS SUAS ARQUITETURAS Para finalizar esta unidade, é fundamental que toquemos em algumas outras questões concernentes ao texto. Todo texto pode ser composto por tipos ou sequências linguísticas, ajudando a definir como será a sua arquitetura ou desenvolvimento discursivo. O tipo textual definirá, na prática, como um texto se consolida e se mostra aos interlocutores. Estão em jogo critérios como a argumentação, a narração, a exposição, a descrição, a injunção, entre outros. Isso não significa, obviamente, que um texto não possa apresentar mais de um tipo textual; o que haverá, sim, é certa predominância, fazendo com que um texto seja mais descritivo (caso de uma bula de remédio, por exemplo). Como unidade completa e capaz de assegurar significado, o texto se transforma em um dos pilares para que a comunicação verbal seja subsidiada. Dessa maneira, não seria incorreto pensar por que não pensar em um estudo que pudesse mapear tudo sobre o texto, não é mesmo? Arrolar todos os componentes do texto, dissecá-lo metodicamente, seria uma maneira lógica para se construir todas as possibilidades da língua, correto? Errado, uma vez que esse feito é totalmente impossível. Ao longo das décadas, a ideia de uma possibilidade de se falar em uma gramática de um texto passou a ser cada vez mais refutada, justamente por entender que nenhum texto pode ser definido ou determinado a partir de regras que justificassem questões intrínsecas. Cada texto é um mundo novo, aberto, construído a partir de fenômenos multifacetados. Criar todas as regras capazes de definir um texto ou gênero textual seria incorrer no mesmo tipo de incapacidade ou equívoco do narrador borgeano presente no conto Del rigor en la ciencia. No conto, conhecemos um narrador que idealizava a criação de tão minuciosa a ponto de ser igual à realidade: 18 DEL RIGOR EN LA CIENCIA . . . En aquel Imperio, el Arte de la Cartografía logró tal perfección que el mapa de una sola Provincia ocupaba toda una Ciudad, y el mapa del imperio, toda una Provincia, Con el tiempo, esos Mapas Desmesurados no satisfacieron y los Colegios de Cartógrafos levantaron un Mapa del Imperio, que tenía el tamaño del Imperio y coincidía puntualmente con él. Menos Adictas al Estudio de la Cartografía, las Generaciones Siguientes entendieron que ese dilatado Mapa era Inútil y no sin Impiedad lo entregaron a las Inclemencias del Sol y de los Inviernos. En los desiertos del Oeste perduran despedazadas Ruinas del Mapa, habitadas por Animales y por Mendigos; en todo el País no hay otra reliquia de las Disciplinas Geográficas. (Borges, 1974, p. 847) Se o mapeamento – tal como a maquete no conto do escritor argentino – se faz contraproducente, passa a ser exequível vislumbrar o texto a partir das suas múltiplas manifestações e práticas sociais: os gêneros textuais. Marcuschi (2009, p. 155) define os gêneros como “formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas”. Por serem fruto das nossas necessidades discursivas, as possibilidades de construção de gêneros textuais diferentes são mesmo incontáveis, sobretudo se pensamos no impacto causado pela tecnologia na criação de novos gêneros ou gêneros emergentes. Mais uma vez, “os gêneros textuais são dinâmicos, de complexidade variável e não sabemos ao certo se é possível contá-los todos, pois como são sócio-históricos e variáveis, não há como fazer uma lista fechada, o que dificulta ainda mais a sua classificação” (Marcuschi, 2009, p. 159). Para esta disciplina, é válido lembrar que são exatamente os gêneros textuais que nos permitem comunicar-nos em diferentes instâncias discursivas. Quando escolhemos escrever um e-mail em vez de escrever uma ata ou uma receita, significa que entendemos que o que desejamos comunicar encontra no gênero definido a melhor coerência discursiva. As diferenças entre um e-mail e uma receita não se dão por critérios linguísticos, mas funcionais. Ao definir, por isso, o e-mail como forma de comunicação com o nosso chefe, sabemos que deveremos cumprir com certas premissas, características específicas do gênero. Isso não significa que os parâmetros do gênero são estáveis, afinal, o caráter vivo e mutável da língua sempre irá governar a estrutura dos gêneros textuais. Ao retomar preceitos do linguista Bakhtin, passa a ser possível entender que os gêneros textuais fundamentam-se como gêneros do discurso. Há, de alguma maneira, uma estabilidade na natureza dos gêneros textuais, ainda que cada um possa guardar particularidades, de acordo com fatores como a intencionalidade e o grau de monitoramento do falante. Para serem enunciados, os gêneros textuais dependem de suportes, que podem ser, por sua vez, 19 convencionais ou incidentais. Por suportes podemos ter, por exemplo, embalagens, para-choques de caminhão, roupas, paredes, livros, o corpo humano etc. De acordo com Marcuschi (2009), os gêneros textuais também cumprem com um regime de poder social, já que, a partir deles, também acessamos a diferentes espaços sociais. Um exemplo rotundo dessa capacitação de adequação a uma esfera discursiva se dá a partir dos gêneros acadêmicos (tese, ensaio, dissertação etc.). Tudo o que escapa dos limites possíveis para os gêneros acadêmicos, por exemplo, acaba sendo sentenciado como uma não ciência. FINALIZANDO Para versar a respeito dos processos de compreensão e produção textual, demos início a esta disciplina com importantes problematizações teóricas. Nesta aula, discorremos a respeito do conceito de texto, discurso e enunciado, baseando-nos no pressuposto de que a língua não é apenas um código, mas uma manifestação ou prática social. Após apresentar uma breve linha temporal do processo de transformação do objeto linguístico e da criação pontual da área da linguística textual na década de 1960 do século XX, passou a ser possível entender o texto não como um bloco estanque e limitado à escrita, revelando-se como uma unidade completa à qual se pode atribuir um sentido. Da mesma maneira, por questões didáticas, problematizamos os conceitos de discurso e enunciado, atrelando ao primeiro a relação direta e necessária com o contexto e com as variáveis de produção. Aprendemos também que subsidiamos toda a nossa comunicação por meio dos gêneros textuais, seja destacando uma receita, uma bula de remédio, um romance lido, uma charge, uma reportagem, uma fábula escutada em torno de uma fogueira etc. Seja qual for o contexto discursivo no qual estivermos inseridos, a prática da leitura e produção de um texto com base em todo o seu potencial discursivo significa poder abrir frentes para discussõesem diferentes níveis linguísticos, tais como: estudar a construção lexical e a sua relação com variantes de uma língua; pensar em questões concernentes aos níveis sintáticos, semânticos e pragmáticos; entender diferentes fenômenos fonéticos e fonológicos; sistematizar tópicos de ordem estrutural, tais como paradigmas verbais; refletir a respeito do processo de construção de argumentação, estrutura de redação e escolha de 20 estilo textual; além da consequente possibilidade de se viabilizar a análise de leituras com base em um mesmo texto, dando margem para a discussão sobre a compreensão textual. Ademais, além de tudo o que foi comentado, foi possível, neste primeiro encontro, demonstrar como a produção discursiva vai muito além do ato de comunicar-se, uma vez que, para alimentar tal prática, é necessário estabelecer parâmetros argumentativos e, sobretudo, alinhar-se a eixos que possam garantir o reconhecimento e a decodificação de um determinado gênero textual. Para escrever uma tese de doutorado, mais do que o aprofundamento e a pesquisa em uma área, será necessário construir discursivamente uma hipótese a partir dos parâmetros de tal gênero, oferecendo aos interlocutores possibilidades de relacionar esse trabalho com outros de um mesmo grupo textual. Em nossa próxima aula, seguiremos com a reflexão, dando especial atenção para os aspectos que caracterizam a textualidade. LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática, 2007. Texto de abordagem prática LÓPEZ MORALES, H.; SAMPER PADILLA, J.; HERNÁNDEZ CARRERA, C. E. Producción y comprensión de textos. Coruña: Netbiblo, 2003. SANTOS, L. W. Análise e produção de textos. São Paulo: Contexto, 2012. Saiba mais FÁVERO, L. L. Linguística textual: memória e representação. Revista Filologia linguística do português, n. 14, v. 2, 2012. p. 225-233. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/flp/article/viewFile/59911/63020>. Acesso em 5 ago. 2018. 21 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. J. et al. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2006. BAKHTIN, M.; VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. BENVENISTE, E. Problemas da linguística geral. Tomos I e II. Campinas: Pontes, 2005. BORGES, J. L. Obras completas (1923-1972). Buenos Aires: Emecé Editores, 1974. COSTA, I. B.; FOLTRAN, M. J. A tessitura da escrita. São Paulo: Contexto, 2013. FERNANDES. C. A.; PAULA, B. A. Compreensão e produção de textos em língua materna e língua estrangeira. Curitiba: InterSaberes, 2012. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática, 2007. GERALDI, J. W. Unidades básicas do ensino do português. In: ALMEIDA, M. J. et al. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2006. GOLDSTEIN, N.; LOUZADA, M. S.; IVAMOTO, R. O texto sem mistério: leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009. GUIMARÃES, E. Texto & argumentação: Um estudo de conjunções no português. Campinas: Pontes, 2007. HARTMANN, S. H. de G.; SANTAROSA, S. D. Práticas de leitura para o letramento no ensino superior. Curitiba: InterSaberes, 2012. KOCH, I. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2001. KOCH, V. I.; TRAVAGLIA, C. L. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2010. KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estratégias de produção textual. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2010. KÖCHE, V. S.; BOFF, O. M. B.; MARINELLO, A. F. Leitura e produção textual: gêneros textuais do argumentar e expor. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. LÓPEZ MORALES, H.; SAMPER PADILLA, J.; HERNÁNDEZ CARRERA, C. E. Producción y comprensión de textos. Coruña: Netbiblo, 2003. 22 MACEDO, W. Elementos para uma estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Presença, 1976. MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2009. MARQUESI, S. C. A organização do texto descritivo em língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. METO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2008. SANTOS, L. W. Análise e produção de textos. São Paulo: Contexto, 2012. SILVA, R. do C. P. da. Linguística textual e a sala de aula. Curitiba: InterSaberes, 2012. Conversa inicial
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