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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE DIREITO Aluna: Mariana Rufino Moreira da Silva matrícula: 201734112 QUESTÕES - DIREITO DO TRABALHO 1) Considerando-se o trabalho à distância, pode-se dizer que o call center é uma espécie lícita de terceirização de serviços? A reforma trabalhista tornou lícita a terceirização de serviços para atividades fim, o que antes era proibido. Inclusive, a lei 6019/74, alterada pela reforma, assim determina: Art 4º - A: “Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução” Desta forma, a terceirização após a reforma pode ser empregada em atividades que compõem a essência da empresa, atividades primárias. Antes da reforma, a terceirização só poderia ser utilizada para atividades secundárias - atividades-meio - ou seja, para aquelas atividades periféricas que não contribuem para a definição da empresa perante o mercado, com fulcro na súmula 331 do C. TST. Portanto, a análise sobre qual tipo de atividade (meio ou fim) que os call centers prestam torna-se desnecessária já que a própria legislação é clara sobre o assunto: a transferência da execução de qualquer atividade, inclusive as principais, é espécie lícita de terceirização. Conclui-se que, apesar de a terceirização de atividades-fim receber alta carga de crítica, como exemplo a possível perda do acesso à carreira e salário família, restou claro que os call centers são espécies legítimas de terceirização, já que não há nenhum dispositivo legal que barre essa determinação e, além disso, a lei permite que o faça. 2- Uma pessoa física que preste serviços online para várias empresas pode pedir reconhecimento de vínculo de emprego com uma ou mais delas? Versa o artigo 3º da CLT: “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.” Desta forma, extrai-se que, para reconhecimento de vínculo empregatício, é necessário que haja pessoalidade (o trabalhador deve ser pessoa física e prestar os serviços de forma pessoal); continuidade (deve haver a prestação do serviço de forma periódica, isto é, não esporádica); subordinação (existe relação de hierarquia, em que o empregador dá ordens e o empregado as executa); e onerosidade (há contraprestação pelo serviço prestado). Frisa-se que a pessoalidade não quer dizer que o trabalho deve ser prestado de forma presencial. O artigo 75-B da CLT considera o teletrabalho: “a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”. Inclusive, a lei afirma que não há diferenciação entre o trabalho prestado na sede da empresa e o prestado à distância se os pressupostos da relação de emprego estejam presentes: Art. 6º, CLT: Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego. Importa dizer que o trabalho externo diferencia-se do teletrabalho pela característica do trabalho a ser desempenhado, que deve ser obrigatoriamente desenvolvido fora da sede da empresa, a exemplo dos técnicos de TV e internet. Neste sentido, o exercício de teletrabalho tem reconhecimento de vínculo empregatício. Assim, no caso em tela, há a possibilidade de pedir o reconhecimento de vínculo empregatício à uma ou mais empresas em que o trabalhador preste serviços online, desde que haja pessoalidade, continuidade, subordinação e onerosidade. 3- Considerando-se os princípios constitucionais trabalhistas (art 7°, CF), defenda a inconstitucionalidade da terceirização ampla. A proteção conferida pela Constituição ao trabalho é evidente. Logo no 1º artigo, ela prevê como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil os “valores sociais do trabalho”. Após, garante, nos artigos 6º a 11º uma série de direitos trabalhistas de natureza individual e coletiva. A exemplo da garante preocupação do legislador constitucional com o trabalho, foi determinado pela Carta Magna que compete privativamente à União legislar sobre a temática, além de criar uma justiça especializada para processar e julgar as causas trabalhistas. Ademais, a Constituição estabelece que a ordem econômica terá como fundamento a valorização do trabalho humano e torna inconstitucional o trabalho escravo. Desta forma, o constituinte deixou que o trabalho é de suma importância para garantir a dignidade da pessoa humana. Neste ínterim, a violação da terceirização ampla aos direitos constitucionais trabalhistas é explícita. Conforme a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, o trabalhador terceirizado recebe de 25% a 30% menos que o trabalhador convencional, e trabalha 3 horas a mais por semana, o que viola o disposto a valorização conferida pela Constituição ao precarizar o trabalho. Além disso, a Constituição estabelece que os riscos do trabalho devem ser diminuídos através de normas de saúde, higiene e segurança. Contudo, não é pelo o que preza a terceirização ampla, já que esta libera, amplamente, a prática laboral arriscada Ainda, a ampliação da terceirização mantém a ideia de pejotização, já que o projeto não proibiu o fenômeno. A pejotização vem da sigla “PJ”, pessoa jurídica. Esse fenômeno é aquele através do qual os empregados são contratados sob a fachada de microempresa individual ou EIRELI. Ou seja, o empregador contrata um trabalhador para trabalhar mediante pessoalidade, continuidade, subordinação e onerosidade (requisitos que configuram existência de vínculo empregatício), mas sem arcar com as verbas trabalhistas sob a máscara de uma empresa que estaria prestando serviços, e não um empregado que estaria trabalhando, o que fere claramente a Constituição. O projeto de terceirização também prejudica a representação sindical do trabalhador ao não previr o sindicato que seria responsável pelos interesses do indivíduo. O texto constitucional preocupa-se, também, com a saúde e segurança do trabalhador. O processo de terceirização ignora essas garantias, aumentando consideravelmente o número deacidentes de trabalho . No que concerne ao empregado público, o projeto de terceirização original previa até mesmo a terceirização de atividade fim, o que viola a previsão de concurso para ingressar no serviço público. Inclusive, ao nepotismo não é conferida nenhuma vedação, já que não foram previstas restrições de parentesco entre os trabalhadores e contratantes. Desta forma, a terceirização ampla, ao reduzir a gama de proteções do trabalhador, se mostra incompatível com o texto constitucional que busca essa proteção e a garantia de dignidade. Ademais, resta clara a violação ao princípio de vedação ao retrocesso social ao ferir direitos e garantias já previstos na Carta Magna. 4- Com a reforma trabalhista, admite-se a prevalência do negociado sobre o legislado. Considerando-se todas as formas de flexibilização pré-existentes, é possível dizer que a reforma implementou a tese de que o art. 7° em seus incisos VI, XIII e XIV encerra números exemplificativos? A lei 13.467/17, mais conhecida como Reforma Trabalhista, teve como um dos objetivos flexibilizar os direitos através da prevalência do negociado sobre o legislado, salvo quando se tratar de objeto ilícito. A Constituição Federal prevê no artigo 7º, desde antes da reforma, três hipóteses dessa prevalência: inciso VI ( “irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo”); inciso XIII (“duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho”); e inciso XIV (“jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva”). Antes da reforma, essas eram as hipóteses de prevalência, tratadas como rol taxativo. Porém, a nova CLT prevê novas possibilidades em que os acordos coletivos se sobrepõem ao disposto na legislação, razão pela qual os casos elencados na Constituição passam a ser tratados como exemplificativos. Inclusive, o artigo 611-A da CLT, que dispõe sobre essas possibilidades, também trata-se de rol exemplificativo, já que utiliza a expressão “dentre outros” ao determinar a prevalência dos acordos e convenções coletivas sobre o pautado em lei. Apesar dessa prevalência expressa, ela não é ilimitada: o artigo 611-B lista hipóteses de vedação à essa disposição, além de outras previsões do artigo 7º da Constituição Federal. 5- Quais os limites do poder de fiscalização do empregado no que diz respeito a revista pessoal dos trabalhadores? A fiscalização e monitoramento dos funcionários em seu lugar de trabalho não é irrestrita. Apesar de se tratar de empresa em que, teoricamente, o proprietário poderia vigiar seus empregados da maneira que lhe seja mais conveniente, não se pode suprimir ou ignorar os direitos individuais previstos constitucionalmente, como a intimidade, a privacidade, a imagem, a honra, o sigilo de comunicações e a dignidade da pessoa. A seguir, algumas hipóteses práticas serão melhor analisadas. a. Vestiário pode conter câmera de segurança? A fiscalização dos empregados nos vestiários por meio de câmeras é inconstitucional, já que viola expressamente o artigo 5º da Constituição, cláusula pétrea. No referido artigo, à privacidade, intimidade, imagem e honra são garantidas a inviolabilidade. Portanto, a instalação de câmeras no vestiário, local destinado à troca de roupa, feriria, claramente, os direitos tutelados pela Carta Magna. Inúmeras decisões de diversas regiões dos TRTs ratificam o exposto, sendo que o TRT da 23º região sumulou o entendimento, nos seguintes termos: “O monitoramento por câmera em vestiário/banheiro configura abuso do poder diretivo se violar a intimidade do trabalhador”. b. No posto de trabalho do empregado, podem ser instaladas escutas? O sigilo das comunicações telefônicas, exceto por ordem judicial, e a livre expressão são garantias constitucionais. Desta forma, parte da doutrina entende ser violação constitucional a instalação de escutas no ambiente de trabalho, pois a comunicação verbal entre funcionários exterioriza pensamentos pessoais, de temas diversos, não necessariamente sobre o trabalho executado em si, além de não haver decisão judicial que justifique a monitoração das ligações. Contudo, o tema ainda é amplamente discutido, e a outra parte da doutrina entende ser possível a fiscalização dos áudios quando se tratar de conversas que versem, estritamente, sobre o trabalho. A questão dos call centers é mais pacífica: a fiscalização dos áudios trata-se também da forma que a empresa tem que assegurar a qualidade do trabalho. Portanto, é permitida, desde que o empregado esteja ciente do monitoramento, que esteja somente no posto de trabalho e que os áudios não sejam disponibilizados à terceiros. c. Quando o email pessoal do empregado pode ser fiscalizado? A Constituição Federal (CF) aduz no artigo 5º a inviolabilidade da intimidade, da vida privada e o resguarda o sigilo da correspondência, exceto por ordem judicial, como direito fundamental. O e-mail particular do empregado é um meio de comunicação estritamente pessoal, individual e inviolável. Desta forma, o empregador não pode fiscalizá-lo, sob pena de indenização. Contudo, o empregador tem a prerrogativa de restringir ou até proibir o uso do e-mail pessoal durante o horário de trabalho. Já o e-mail corporativo, fornecido pelo empregador, é considerado ferramenta de trabalho e pode ser monitorado, desde que esteja ciente o trabalhador de seu uso exclusivamente profissional. 6- OXFAM Brasil: no Brasil, a desigualdade salarial entre homens e mulheres só vai ser rompida efetivamente a partir de 2047”. Dê sua opinião. Para que seja possível opinar sobre a alegação feita pela OXFAM Brasil, é preciso analisar alguns pontos cruciais para o entendimento sobre a questão de desigualdade salarial em nosso país. Segundo artigo 461 da CLT, o salário daqueles que ocupam cargos idênticos, desempenhados na mesma empresa, corresponderá igual salário, independente de sexo, etnia, nacionalidade ou idade. Todavia, de acordo com uma pesquisa feita em 2018 pelo site de empregos Catho, mesmo ocupando os mesmos cargos, atuando nas mesmas áreas com mesmo nível de escolaridade, a diferença salarial pode chegar a até 53%. Insta salientar que isto é devido a prática de naturalização do machismoque sempre esteve presente de forma significativa em nossa sociedade e ainda perpetua com reflexos diretos na vida da mulher no mercado de trabalho. É possível verificar através de pesquisas feitas pela Catho, que as empresas preferem até contratar homens ao invés de mulheres, uma vez que estas são mais propensas a abandonar cargos por causa de gravidez e filhos. Por isso, constata-se que a ideia de que a mulher deve ser “do lar” ainda não foi superada, bem como a ideia de que o homem deve ganhar mais por, supostamente, sustentar a casa enquanto sua esposa não só não tem espaço no mercado de trabalho, como também deve permanecer com a função de cuidar da casa e da família, caso faça o contrário e decida trabalhar, será remunerada de forma inferior a figura masculina. Infelizmente, segundo a afirmação feita pela OXFAM Brasil, a igualdade salarial só será atingida daqui a aproximadamente 28 anos, o que, ao meu ver, é extremamente distante levando-se em consideração a ocupação e posição que a figura feminina se encontra frente a sociedade atualmente. A razão de tal desigualdade é incontestavelmente decorrente de uma visão machista, de uma sociedade que claramente se incomoda com as conquistas feitas por um grupo de minorias, que depois de muita luta, passou a “ter voz” e agir de acordo com suas próprias vontades. As possíveis formas de solucionar esta lide são: conscientizar a população da desigualdade que ocorre em relação a diferença salarial entre homens e mulheres, além de movimentos sociais que busquem a efetivação do artigo acima mencionado da CLT para que ocorra a concretização do que está previsto em Lei, uma vez que nos encontramos em um Estado Democrático de Direito. 7- Diana, nome social de Antônio Carlos, hoje com registro, foi admitida como supervisora de compras no supermercado BBB Comércio de Gêneros Alimentícios. Na primeira semana de trabalho, o gerente geral a informou que não poderia mais usar o banheiro/vestiário feminino, já que três funcionárias evangélicas se sentiam constrangidas com a presença da mesma. Pergunta-se: a. A conduta da empresa, que configura discriminação de gênero, é lícita? O respeito à identidade de gênero do trabalhador é fundamental para garantir a dignidade que lhes é conferida pelas leis brasileiras. Desta forma, a conduta da empresa fere explicitamente a Constituição Federal, que prevê o direito à igualdade, liberdade sexual e autodeterminação previstos no artigo 5º da CF, cláusula pétrea. Fere também um dos objetivos da República (artigo 3º, IV, CF): o de promover o bem de todos, sem discriminações de qualquer gênero. Além disso, a conduta preconceituosa e discriminatória da empresa fere os direitos de personalidade presentes no Código Civil. Versa o código: “Art. 186, CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187, CC: Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” Assim, a conduta da empresa constitui ato ilícito, e faz surgir a obrigação de indenizar conforme o artigo 927 do supramencionado dispositivo. Do ponto de vista penal, se a conduta for praticada mediante violência ou grave ameaça, há possibilidade de ser enquadrada no artigo 146, CP (Constrangimento Ilegal). Entretanto, caso contrário, não há enquadramento típico. b. A conduta pode ser enquadrada como assédio moral? O assédio moral caracteriza-se como toda conduta abusiva que atinge a integridade física ou psíquica do trabalhador de forma a interferir em sua auto estima através de humilhações, constrangimentos ou rebaixamentos, de forma continuada. No caso em tela, é visível a existência de assédio já que a conduta caracteriza um abuso, uma proibição vexatória e de cunho preconceituoso. Caracteriza, inclusive, o assédio moral discriminatório, posto que a causa da conduta vem de uma hostilidade devido à identidade de gênero da trabalhadora. É praticado de forma vertical, já que a conduta assediadora partiu de um superior. c. Diana seria obrigada a cumprir esta ordem? A Constituição Federal prevê que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (artigo 5º, II). A conduta praticada pela empresa não possui nenhum respaldo legal, já que o fato de se tratar de empresa privada, sujeita a regras e determinações próprias, não justifica a violação dos direitos individuais da trabalhadora. Além disso, por se tratar de ato ilícito praticado pela empregadora, a trabalhadora não possui obrigação de cumprir tal determinação.
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