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NOVA HISTôRIA DA IGREJA COMITÊ DE DIREÇÃO L.-J. Rogier (Nimtga), Roger Aubert (Lovairia), AI. D. Knowles (Cambridge) SECRETARIO DE REDAÇÃO A. G. \Veiler (Nimega) CONSELHEIRO PARA A HISTORIA AMERICANA }. T. Ellis (Washington) J. Dos Primórdios a São Gregório Magno (604) por Jean Daniilou e Henri /1,-farrou (Paris) 2. A Idade Média (600-1500) por M. D. Knowles (Cambridge). Colaboraçáo de D. Obolensky sobre as Igrejas Ortodoxas da Europa Oriental 3. Reforma e Contra-Reforma (1500-1715) por Gumano Tüchle (Munique). Colaboraçao de C. A. Bouman (Utrccht) sobre a História da Igreja Oriental 4. Século das Luzes, Revoluções, Restaurações ( 1715-1848) por L.-/. Rogitr (Nimega) e J. de Bertier de Sauvigny (Paris). Colaboraçiio de Joseph Hajjar sobre a Histõria da Igreja Oriental 5. A Igreja na Sociedade Liberal e no Mundo Moderno ( 1848 aos nossos dias) por R. Auberl (Lovaina) e L.-J. Rogier (Nimega) l "'v.. ""-~ 1); "v._"J NOVA HISTôRIA DA IGREJA ')! ~, ~é A DIREÇ/\O DE L.-J. ROGIER, R. AUBERT, M. D. KNOWI.ES cf ' II A IDADE l\lÉDIA por DAVID KNOWLES E DIMITRI @BOLENSKY Tradução de JOÃO FAGUNDES HAUCK, Professor de História na Universidade de Juiz de Forn Editora Vozes Ltda. Petrópolis, l{J 1974 1t lt lslNII fll1111tt,, 1 ~--.,,- "+. ' ' ILIIT!tl t!NTIIL i '. 7. O Império carolin.gio em 814 6 A FONTE DA AUTORIDADE Em um pcriodo em que toda a região do mundo que estava submetida à autoridade de reis e papas coincidia com a Cristandade, e em que, pelo menos no Ocidente, a cultura era de predomínio re- ligioso e clerical, o debate relativo às relações entre o sacerdote e o rei era, de tempos em tempos, o exercício intelectual preferido das mais lúcidas inteligências da época carolíngia, e no período seguinte ia lançar em agitação a Europa toda. Já desde a conversão de Gons- tantino a suprema autoridade da Igreja, expressa na parte Oriental do Império pela coletividade episcopal, e no Ocidente pelo Papa de Roma, enfrentou o desafio de resolver um problema novo para sua experiência: as devidas relações entre um soberano cristão e a au- toridade eclesiástica. De inicio o problema não se punha, em razão de o representante do poder ser ao mesmo tempo um convertido que diferiu até o fim da vida a sua entrada na Igreja como membro efe- tivo, um conquistador a quem a Igreja devia inteiramente sua nova situação de liberdade e privilégios, um homem genial e dinâmico que já antes de sua conversão tinha absorvido muito da concepção, então dominante, de um monarca do tipo oriental, carismático, quase divino. Antes da conversão de Constantino a Igreja não passava de um grupo minoritário no vasto Império romano. De acordo com os ensi- namentos de São Pedro e São Paulo ' os cristãos prestavam obediên- cia em todas as coisas Jicitas, aos poderes seculares regularmente constituídos, ainda que vivessem em verdadeira autarquia. Quando o imperador declarou sua adesão à fé cristã, a Igreja não podia mais considerá-lo como um poder externo, um magistrado represen- tante da autoridade divina só no domínio temporal, e mesmo assim só quando as leis fossem justas e lícitas. Menos ainda podia a Igreja áceitar inteiramente a idéia de um governante sagrado quase divino. Nasce pouco a pouco uma tensão que nunca será completamente re- laxada, a conhecida tensão entre "Igreja" e "Estado"; na verdade. pode-se. afirmar que as conseqil~ncias remotas da conversão de Cons- ' Romanos 13,1•7; /Ptdro 2,13-17. Capitulo VI ::(1 ,· tjo nocivas quan!o _foram ?enéficos os 3 J lgr~J? .0 0 imperador rnstao _considerou como De ,n1ct dar assistência à lgr~F'! p~ra que ela mela no mundo; mas a d1stanc1a entre as- uen:i. Por muito tem~o,_ só ao impL'- ncílio universal da lgre1a, só ele goz:wa permitia dar c~nsclhos ou ord~ns 0 imperador, amda que com as 3 mitisse que O desejo de paz e unidade do ho- mclho soberano se sobrepusesse. a~ ~cio do pastor mem de EstJdo ~ºu ' rdade e pela firmeza da d1sc1plma. No século ou do teólogo pd30 \erar-se uma mudança q1!e se co_mplctou no rei-quinto corneç?~ 3 r O Jpel de protetor foi absorvido pelo de go- nado de Just1111ª11: 1 ~odefno de cesaropapismo não é ~dequado, e é rernador. O terrn Justi niano atribuía teor~camentc ao b1s~o de Roma certo que mes~o es iritual e de magisténo, mas na prática se com- urn.1 supremaaa / de Deus, Unico e absoluto governador e legis- por1.1v.1 como. 0 e ci t~odo O Império. fallavam aos últimos impcrado- bdor da ~f }: e:ta combinação de genio, personalidade, poder e res, sem u;:a~~rizava Justiniano; além disso, agiram muitas vezes d~póti~ e brutal, inc~mpatív~l com qualquer teoria ~azoá- \'CI de sua posição. E ainda assim os imperadores de Constantmopla continuaram a considerar-se como os elellos re~r.esentantes de Deus, corn O encargo da responsabilidade moral e espmtual de um Império que se confundia com a Cristandade. Se O imperador com-ertido e seus sucessores retardaram, prova- velmenie, por sua ativa liderança, o aparecimento de uma autoridade única na Igreja liberta, as suas pretensões de uma autoridade divina sobre todos os cristãos estimularam os papas de Roma, que no correr dos skulos tinham tornado mais explícita sua afirmação de serem os herdeiros da promessa e da missão confiada a Pedro, a manifes- tar uma pretensão semelhante em relação à soberania religiosa. A partir de Gelásio I e de Justiniano I foram afirmados abertamente os pontos de \·is1a opostos. O Papa apresentava o sacerdócio como a suprema ~utoridade n~ma sociedad~ governa~a, nos assuntos temporais, pelo imperador; tnnta anos mais tarde o imperador se considerava o chefe da Cristandade, à qual o sacerdócio devia dar os cuidados e o ali- mento espirituais. Desta forma, enquanto o Papa situava com fir- meza o ii:!1perador n_a Igreja de que ele era o pastor, agia o impera- dor, se nao em teona, pelo menos na prática como um rei-sacerdote baseado em tradições que remontavam tanto 1 às monarquias orientais' quanto ao Antigo Testamento. ' . O problema ainda continuava sem solução no pontificado de Gre- góno 1, que demonstrava grande deferência pelo imperador, ao mesmo A Fonte da Autoridade 81 tempo cm que desenvolvia ao máximo a centralização da autoridade papal no Ocidente; em seu pontificado é ainda manifesta a "indecisão de pensamento": enquanto se dirige ao imperador com o respeito devido a seu senhor, trata como "filhos" os reis do Ocidente ainda que soberanos. Por mais de um século após Gregório I co~tinuam os papas a admitir a soberania temporal do imperador, sobre sua pessoa e sobre os territórios que eles praticamente administram cm seu nome; comunicam-lhe sua eleição, e recebem sua aprovação; da- tam seus documentos pelos anos de reinado do imperador1 e profes- sam lealdade ao seu soberano de Constantinopla. Ao mesmo tempo em que aparece a primeira divergência entre o Papa e o Imperador, desenvolve-se também a tensão entre o pa- triarca de Constantinopla e o Papa de Roma. O patriarcado da cidade imperial, estabelecido depois dos outros1 devia a dignidade de sua sé, ao centro do governo, e a uma resolução expressa do Concílio de Constantinopla (381) que o classificava depois de Roma na or- dem de precedência. O prestígio do patriarcado cresceu, e os impe- radores sentiam-se inclinados a exaltar a posição do patriarca em oposição ao •Papa, como conseqôência direta de seu êxito em subor- diná-lo ao seu esquema de pensamento. Esta subordinação, por sua vez, estimulava o patriarca a afirmar sua igualdade, e mesmo, em determinados momentos, sua superioridade em relação a Roma. E as- sim tinham sempre os papas, pelo menos a partir do século sexto, dois adversários de suas reivindicações, o imperador e o patriarca; o desaparecimento de qualquer espécie de poder politico eclesiástico dos patriarcas depois das conquistas muçulmanas teve como efeito o en- fraquecimento prático da posição de Roma, embora possa parecer que fosse. fortalecido em teoria. NoOcidente tinham os papas se acostumado a tratar toda a pe- nínsula itálica ao sul da diocese de Milão, incluindo também a Africa, e, em certas ocasiões, a Espanha e o sul da Gália, como uma pro- víncia eclesiástica sobre a qual lhes competia a vigilância direta ou indireta, e consideravam o resto do mundo ocidental como um ter- ritório em que poderiam tomar as iniciativas que lhes parecessem boas. Desta forma toda a Europa ocidental podia ser considerada, em certo sentido, e assim era considerada pelos bizantinos, como um grande patriarcado ocidental; dividia-se, na realidade, em duas zonas: a pro- víncia de Roma, cujos bispos estavam direta e completamente sob a jurisdição do Papa, simbolizada por um pallium que dele recebiam i e a parte mais extensa da Cristandade que se prolongava para além dos Al~cs, onde os metropolitas de uma cidade ou região governavam provlnc1as autônomas, consagravam seus bispos, e reuniam sínodos . A jurisdição dos metropolitas era incrente às suas Igrejas, e Roma só intervinha quando havia apelações, ou quando surgiam entre me- Hlstórl1 ... Ed)26S1 - 6 Cap/fufo VI 82 0 utro lado, as Igrejas missioná- . ('Stões mais graves. B ~t~nha e depois a da Germãnia, t~opahta;,iff~ias, primeiro a da a~tes da proví~cia de ~orna. A_gos- nas ~onsideradas quase. ~:°r:cebcram o pallwm, e fizeram Jllra- e_ram 7ilibrordo e Bonifác1 Bonifácio tentou, mas sem sucesso du- 11"~~~ · na Igreja franca; ~a rios Magno, por :~ouro, · ao obter o pallmm para seus me- ouiras ra ; com isto os col~cou, sem querer, tropotiras, em que se requeria a intervençao do Papa para na órbita ~e _Rom;; •urisdição. obter os direi tos l e natural para quem só conhece a Igreja ~s1e relacionamen~:de~:os~ mas não era. viável no clima político Católica dos tempos téd' . persistiu por muito tempo na Inglaterra, do inicio da ~dade 1' 1~' dividido uma influência monárquica po- onde não havia, n 0 u~se':s~~ mas nã~ poderia sobre~iver no continen!e> derosa que s: 1~:mp os conceitos francos e g~~mãmcos ~e. ~o_narqma, onde predomt:s ficavam contentes em permitir que a 1mc1attva par- e. onde os P P No ais dos fran_f.Qâ, onAde uma poderosa monarquia usse de outro~e~us_des_ccnd.cutes_car.o.língi.as, as neccs- !~~f~~verno e O conceito de re~Jeza que lhes era p_róprio se ·untaram para colocar nas mãos d~ r~1 o controle ~a ~greJa. Numa {ociedade simples, nominalmente cnsta mas_ ~uas~ inteiramente sem trura !!.!..Yual a única classe culta e_ il.Jlmc.a_IüeJa.tura __ e.ram_ ck - , 1_ 'e ra íne\ri~ ~_!!!lrjpj!,l taref~ de ~m- monarca enérgico ·,- tinha desero cuidado e o gove_mo da vida cnsté! em t~dO!_Q§.._as-: Neste sentido o longo remado de Carlos Magno ta tornar-se 0 tipo. e o modelo da monarquia francesa até a Revolução. Carlos .M!gno cercou-se de um gr~ ~~~~~ cl~si ásti- ços1 chefiados por 'i-~lcuín0..t_q!:!_e_!1âO só_ o ap~iav<!!!l_ s~ ~~ !_!~a, mas cuida\·am de fornecer uma base 1deológ!f_fl__PA@ a rnst1f1car e _canonizar. O resumo de seu pensamento foi aquilo que tomou o Óo-me de "augustinismo politico'', expressão que designa uma teoria política baseada na Cidade de Deus de Agostinho, não precisamente como o Jutor queria que fosse entendida, mas fundam~ em~ las _J}Olí- ticas qu~_1~tl!11!, l!Q ~rr~no__s!_!§...l tividades_!~f]pOrai~_ e espirituais, a in rerpe~etração do natural e do sobre.natural, dos poderes divinos e humanos, que o~orre. ou parece ocorrer, C'!}._g@nde parte do pen- samento de Agostmho. Sabe-se que Carlos ~\1angOI admirava e ado- rava as idêias _ de Agoslinho, e se julgava diviiiamente escolhido para gorernar a Cidade de Deus. Para ele o papel do clero era rezar ~__povo de Deus e administrar-lhe os sacramentos.;• A missao dO ' 1mQerador e~tava b~m ~efinida no célebre programa de · governo que, e_mbora escrito por .~lcumo e ~endo o reflexo das opiniões dos eclesiás- ucos d..a corte, r111_1:esenra de modo exato o nensamento de Carlos"M."ãg]"o: A Fonte da Autoridade 83 A mim compete defender de modo geral a Santa Igreja de Cristo de qualquer incursão dos pagãos e devastação dos infiéis; e, internamente, for- talecer a fé católica por uma clara afirmação e aceitação. A vós compete elevar as mãos a Deus, como Moisés, para sustentar nossos braços a fim de que, por vossa intercessão.. . possa o povo cristão triunfar sempre e cm toda parte de seus inimigos. • Para entender qualquer análise dos atos e da política de Carlos Magno, deve o leitor saber que praticamente _!lâo existi <! no Ocidente ~ma administração burocrática regular, como a do Império do Oriente, e sem ela nenhuma eficácia teriam leis e programas. Em Bizãncio, como na França moderna, uma burocracia estável e competente ga- rantia a continuidade da máquina administrativa, mesmo quando o chefe titular da administração era incompetente ou efêmero. O leitOJ deverá também estar ciente da incapacidade do imperador e de muitos de seus agentes de, em sua vida particular, dar exemplo de fideli- tj_ªºe j grandeza da moral cristã, ou de desprezo pelas coisas do f!!_und~. Feitas estas reservas, ainda ãSSl11_1 Cariõs""Magno aparece co- mo µm prínçipe que se _distinguiu pela ' preocup_!ÇM de garantir o bem=.estar__da_lgrcja..__O_ grandc corpo de leis promulgadas durante o seu reinado abrange todos os aspectos da vida da Igreja; ÇQJJ.YQ.tQ.U _ fil._n..9.Q.9s reformadores, e _e.nx.i..oJL.impetores a todo o Império, tirado~ do meio eclesiástico. Dos dois plenipotenciários (missi) que juntos . percorriam todos os distritos de seu reino, um era eclesiástico, e po-\ .~. ' · dia acontecer ~e ambos fossem bisP-Q§.; 9§ direitos dos bispos e das p~o~riedades eclesiást~as, a ed~ç(!ção do _çL~..J!!.. dete_nninasQ_e_§__ji- tu~g1cas, a defesa de peque.E.~.J g!~jas e de seus encarr_~gados e pro- 1 pnedades, a santidade do mªt~imôl!!9 e a _p_~ v_çn_çã_o __ ãeJicã.nclãJõ)~ \ __,-- tudo isso foi objeto de legislação durante o seu reinado. Suas capitulares, baseadas no direito canônico usual quando este podia ser aplicado, conservaram-se na Gália como normas ideais e como mo~elos de reforma por mais de dois séculos. ,ei.lé11_! diss<!_ o ÍrT_!p~~a- çlor pr_e..QS!lfª~-se C.Qryl_ a doutrina, o que se vê não apenas nos artigos Çe fé que impô~--~ todos os seus sllditos, mas também em tres 1m- porta!1tes oportunidaq~~, _qui -ii}aljg rem0~L~inda,_quando tomou a mí- ciativa de opor-se, se_m dll__v__!_da po i:..___influên_cia de seus conselheiros, ~_gntra o que i onsiderava doutrina falsa. · ~- ---- Em muitos destes casos Carlô·s M3gno continuava as tradições autocráticas de seu pai, e como soberano extremamente hábil e prá- tico, ~tralizava_cada .vcz_mais_o p.odeL exe.c_ufül..o_ ctn suas mãos. Ele pode ter sido um analfabeto no sentido técnico do - tCrn{O - mas na realidade era um J.!9_rn.._en1_~~cionalmei:ite inttjig~ntc;_ é Ímpossivel saber com certeza até que ponto seus conselheiros eclesiásticos teriam es tabelecido por · si mesmos os fundamentos teóricos em que, de acordo • Epistola ad Leonem papam, cm MGH Epistolae IV, 137. capitulo VI . iar-se sua política de go- pret:"~;3 p~r cks exercido foi realmente o P 1"'1, de Alcuino. Por pa~ l eta a de sei!_ r: inado _ Carlos lmpj rio romanQ_nO Ocic.lerite:'" de Aix-la-Charellc, .~om os nomes como a referência à Nova Roma". mesm~e_ aJ g!_ej~j~cid~ . ciÕ mtperador do Oriente. Quatro re1,•1ndicados Ptendia ser "Senhor e pai, rei e sa- J!ll~ ·ão de 800~t~nsl5.os''i e outros lhe atribuíam 0 : ut? de 1~!~nte de Cristo; cr~ o "reg~dor (rector) pa~t de '~~ra:, apoiar ta,s ambu1çocs, Alcumo, Teodulfo do po\-o rai.imentos na realeza de Saul e ~cus sucesso- t outrOS encontrlr3:" :i.:, Carlos Magno cr: o novo_ Moisés, o novo rt.s no ~1110 dr: 1.: sacerdote e rei i nao que tivesse os poderes oa\l, ao mesmo ie Po ai confendos pelas sagradas Ordens, mas no do ministeno sacrament ' ão de rei e mais tarde P-ela sentido de, ão do sacerdote, em virtÜ"Ci'e" s_uyq,ção lesiâsticos, convocârcõnê'f.:- d, qu~ nmnentes à fé e à moral. ~~L.a1Ii3™idopelo apa a Cãrlõs~"lagjig. em . 800-;e,a s•ntido muito- difererrte· pelas duas partes mteressa- ~=.rp~:a O e~ap~, ~ [los _1'_\a~o se transformava em prote~or ofi-cial e defensor ~ tohca; para ~arlos ~\agno a coroaçao ape- nas sandonavJ o_~ á era uma re@B~Jili> ...t___que ele ocunava Do Ociden te O lugar que no passado coubera ao Imperador romano, e sua autoridade se estendia, em_P.rincipio, se não de fato '-~g_bre todos os cristãos do Ocidente. A partir de então haveria, de fato, dÕis imperadores. Teoncamente uma \-e rdadeira diarquia, o oposto de um gomno oolegiado, era incompatível com as pretensões dos dois, o imperador da nov-a Roma, e o Papa da antiga Roma; na prática, a im~ibilida~ tl'Órica foi ignorada ou superada. Em qualquer e.aso, a tese dos teólogos de Carlos i\-\agno não podia se; formalmente admitida pelo Papa ou por seus assessores. Era. tãu inace.itã\-el com~.ª ~retensão de J~stiniano, mas, como aquela, podia ser tolerada em s1\eno.o, ou mesmo ignorada, enquanto não che- gasse º. tempo __ de u.11 _a~ rdo. O pontificado romano, além de sua afirmaçao tr~aonal, bas1ca, dogmãlica, de exercer o supremo man- dato prome!1do a Pedro, estava empenhado, nes te tempo, numa outra demonstraçao de soberania. a e.i!~~~mos co~, por fo rça das circunstâncias, os papas passarain ~pas a~v!"~ de soberanos ~emporais ~a Itália Central. Os gora que tal autoridade se firmava em títulos im- A Fonte da Autoridade 85- periais. Na última década do século V foram elaborados em Rom~, fora da Cúria pontifícia, diversos documentos falsos, chamados de S1maco, por trazerem dalas do pontificado do Papa Simaco (498-514); o principal deles é a célebre Legenda Sancli Silves/ri. Apresentava-se como uma biografia de Silvestre 1, e . narrava como ele curou e ba-_ tizou o imperador Constantino 1, e como o imperador deu ao _Papa o primado na Igreja, bem como a posse de Roma, ?ª ~ual o ~mpe- rador se retiraria para fundar nova capital. Esta h1stóna serviu de base para uma falsificação muito mais tendenciosa, conhecida como Doação de Constantino, segundo a qual Constantino teria autorizado ao Papa Silvestre o uso de todas as vestes e insígnias imperiais, e cedido seu palácio, a cidade de Roma, todas as provindas da Itália e as cidades do Ocidente, incluídas expressamente as ilhas. Por este ato tornava-se o Papa um igual do imperador, com iguais poderes no Ocidente. E não só isso: parece claro que o autor da Doação queria sugerir que Constantino afastou-se de Roma a fim de deixar em mãos do Papa o poder soberano; cm outras palavras, Constantino ter-se-ia feito imperador de Constantinopla por concessão do Papa; e esta concessão podia igualmente ser retirada. E' incerta a data da falsa· Doação, mas certamente não é poste- rior aos primeiros anos do século nono. A crítica recente foi mais além, mostrando que o documento foi fabricado para firmar o apelo de Estêvão II a Pepino (754) , afirmando que o pontificado tinha sido despojado pelos lombardos de territórios doados por Constantino, sem tomar em consideração o fa'to liistórico de muitos destes territó- rios terem pertencido até recentemente ao Império Oriental. Este do- cumento, ao contrário da Legenda, foi composto muito provavelmente na Cúria pontifícia, embora não necessariamente com a conivência do Papa. Qualquer que seja a influência que possa ter exercido no tempo, o documento tornou-se bem depressa uma das armas mais respeitáveis do arsenal pontifício; mas deve ser notado claramente que nem a Legenda nem a Doação foram de qualquer forma respon- sáveis pela doutrina tradicional, muito mais antiga, da autoridade do Papa como sucessor de Pedro. Já no tempo de Gregório Magno o papado vinha agindo havia muito tempo, pelo menos em determinados assuntos e em determinados setores, em virtude de uma autoridade que era única, não somente por sua natureza e extensão, mas de fato, embora de 1!1odo ainda não plenamente definido, superior a qual- quer outra autondade. Os papas apresentavam nos concílios ecumêw nicas fórmulas de féi reconhecia-se como necessária sua homologação para que os cânones de um concilio adquirissem força de lei univer- sal; seus representantes assumiam a precedência, e intervinham rios debates de modo decisivo. Os papas se pronunciavam sobre todos os problemas de fé e disciplina, e decidiam questões de toda espéci~, ·.:.' ' ., Copilulo VI . . 0 de apelação a Roma cm as-66 . 1 amentoi o .~1rc1t embora de má vontade, pela bnictid3S a seu JU era adm1udo, 3 Gália e cm outras partes. :~ntos de importâ~%omeavam legadose:i Constantinopla. Ao estabe- lgrtj:t do maneni~am com plenos poderes . . Entre- Tinham um ra, ª~rio I, os pap~s fora~ cch~sados lt'ce rem a I Ore~rais, e sua açao era 1mped1d~ e tanto, nos temp. . e mesmo, em outras ocas1ocs, · 'atividade ponti~i7ia, por falta exerciam O pontificado. Mesmo cessou quas 1; de Pepino e Carlos Magno de .\·onta.d~a iniciativa no reino franco, cm assnn; :;" se periferia do reino, Frisi~, S~- partes completa ao dar auton~açao xõnia e . . á ias, estabelecer os poderes, e . confirmar 3 as 31ividadcs mission 'fácio ou de seus companheiros e su- alterar as dccisõt's de om • . . . cessores. história do pontificado apareciam. penod1- No decurso da longa d d ziam com rapidez e profundidade ta- camente 3lgun~ ~:ipas q~: 5: /oficio, falavam e agiam com energia das as potennahdades não por abuso do poder, mas por uma i~~perad~ e fora ~º;:~~ade que lhes competia. Um exemplo é v1sao mais ~lara / . coincidiu seu governo com o tempo cm que os Nicolau I (8:>S-8~ ) f cõnia vinham conseguindo sua independência bispos do .norte_ t t: iu tanto dentro como fora do impfaio ca- do ~ er impe~\ d! ~ma autoridade completa e imediata sobre rolln~io, como b e e~us metropolitas· anulava eleições e decisões. acci- os bispo~ e _so re e:ocava processos' para a Cúria pontifícia. No caso ~;adi~-:~~o~se eLoUrio 3giu como juiz s11prc~10 cm assuntos de di- reito e de moral, mesmo tratando-se de um r~1, e a_té com o. emprego da excomunhão. Este último ponlo é de particular 1mportân~1a. Tanto no Oriente como no Ocidente, mostravam-se os papas fácei s em ex- comungar, isto é, em separar da comunhão com a Igreja de Roma, considerada como a Igreja universal , aqueles que lhe dcsobcclccesscm, qualquer que fosse sua classe ou posição. Mas nem todos os papas agirn rn assim; no espaço de mais de quatrocentos anos verificam-se diversos intervalos, e dois períodos de considerável duração, cm que o ponl ificado caiu na impotência, seja por falta de fibra pessoal, seja por terem sido os papas envolvidos nas intrigas e lutas das fam i!ias romanas. Coube a Nicolau enfrentar o caso de Fócio, que trataremos dc- poisi desde o inicio assumiu uma posição de superioridade, condcnan- A Fontt da Auloridadt 87 do O patriarca como intruso; cassou seus próprios legados~ em virtude de um mal-entendido provocado por um inimigo do Fóc10i ~m uma carta ao imperador reivindica poderes até então nunca c~erc_1dos no Oriente, como o direito de chamar a Roma as partes cm htig10, para examinar o assunto, mesmo no caso de não terem apelado ao Papa. Nicolau refere-se ao sumo pontificado com expressões não superadas cm fo rça nem mesmo por Gregório VII. Constituídos prfncipes de_ t~da a terra , eram os papas um resumo da Igreja toda; todos os cr1 sta?s estão sujeitos à autoridade pontifícia ; fora da Igreja de Roma nao há cristianismo; o Papa é o chefe dos bispos; o monarca que trata um bispado como se fosse sua propriedade, excede seus poderes. O Papa é o mediador entre Crist? e os homens, e é at~avés de le que se origina o poder tanto do imperador como dos bispos. P~de-se admitir · que os exageros de linguagem e de pensamento de Nicolau sejam devidos cm grande parte à influência de seu ?Iler ego, A~as- tácio o Bibliotecário, um personagem de caráter duvidoso, que linha sido sucessivamente um .,mhicioso candidato ao papado, um exco- mungado, um sacerdote reduzido ao es tado leigo,e cuja vi~lê~cia de lingua gem e ele ação envenenou sem necessidade as ne~oc 1açoes, tanto em Constantinopla como no caso ele Hincmaro de Re1ms; m~s podem ser também resultantes da influ~ncia exerci_da pelas D~creta1s, em Alanásio e cm seu superior. Provavelmente, mais que uma mflu l!n- cia determinante, constitulram reforço oportuno. Seja como for, a lin- guagem das cartas do Papa l! às vezes drás tica, quase brutal, de un~a lógica implacável. E' a prim_eira amostra . da. dureza de ~xpressao que vai reaparecer cm Gregório VII, e Bon1fác10 VIII. Tal lmguagci:n só podia ser empregada com l!X ito por um homem fo rte, e depois do pontificado dos sucessores de Nicolau, Adriano 11 e Joã? VIII , não será ouvida por quase dois séculos; mas a correspondência e os atos des tes papas autoritários permaneceram nos arquivos da Cúria como o arco de Ulisses, prontos para serem manejados quando de novo aparecesse a necessidade de uma arma poderosa. Por ocasião da restauração do lmpl!rio por Oto o Grande, boa parte da doutrina sobre o poder imperial foi adota~a p~los sober~n~s germânicos, mas com a diferença de ser, por assun di zer, exteriori- zada. Todo o poder executivo competia ao braço secular, mas nenhun~ rei germânico, exceto talvez Henrique 11 , atribuiu a si o papel de pai e chefe da Igreja no Ocidente. Isto representa uma mudança de mentalidade, sutil mas real. Carlos Magno, como príncipe indicado por Deus, regia o seu povo que, sob outro aspecto1 constitu ía a Igreja; é que os imperadores, tanto o do Ocidente como o do Oriente, • W. Ullmann é pa rcial com rclac;fi ll a Anastácio ; p:i.ra out ro ponto de vista cl . A. L il p ô t r e, Dr Ano.,toslo llibliolhecario S('dis api1S /olirt1(', Pnrls, 1885. Capitulo VI ss . ni\•ersal, ao passo que ?s soberanos , seu impeno como u as no reino germânico, do qual consideravam ciam O pcder apen •tórios governados pelo Papa, gem1âni't05 e;;r constituída re.losr~:~r;. na prática exigiam o direito uma parte e juramento de fide I an; grandes senhores feudais, e ligado"~:o u:bre os bi~pos, ;:aevaerde uma igreja_ sob ~ependênci_a ~:br~º 0 papado, que na: fe!es O imperador recebia o titulo ~e v1-. 1 do imperador. A. aconteceu com Conrado li, mas e~C1ªdc Deus, ou de Cn5lo, r~"ta época, e se aplicava m_ais aos ;;a um titulo de honra pr~!a pessoa. o imperador gcrmâm~o não 1 do imperador q~e à O 5 para tomar o lugar de Cnsto na :/~nsidem•a escolhido ufar da e~greja i deve-se dizer, de preferência, qualidade de _cabeça e a~ividades em virtude de sua rea leza , e_. nes te que ele e:mna certas I de Cristo Desta forma, na medida em sen1ido, era o repres:n~;ae teoria ou ~m programa do seu modo de que é possível deduz!r . carolíngio absorveu mais completamente agir. parece ~ue O ;:r~~~o espiritual da Igreja;. na reali~a~e, c nt_r~- que o germ~n~co O ea a menos grave para a mdependencia espm- tanto, con5t1tu•t am ç ia por intermédio de homens da Igreja cm fual. Cartosue\:~~~de~!va de interesse _para a mesma Igreja; . os im- b~:i~o1! q rmãnicos, a não ser os mais devotos'. estavam mais prco- ados e~ os interesses temporais de seu remo, do :iual os tcr- rit~rios ponlificios, por mais importantes que fossem, nao passava m de uma parle. 7 A IGREJA BIZANTINA 1. A CRISTANDADE ORIENTAL NO St:CULO SHIMO O século sét imo, que marca na história do Império romano do Oriente um momento decisivo, foi um pcriodo de mudanças muito importantes na vida da Igreja Oriental. Os acontec imentos políticos e milita res no in terior do império bizantino e em suas fronteiras do leste e do sudeste modifica ram o mapa eclesiástico da Cristandade oriental, e deram à Ig re ja bizantina novas fe ições culturais que se- ri am mantidas durante a Idade Média. As vitóri as dos persas na Síria, Arménia, Palestina e Asia Menor, sua conquista do Egito (611-619), e as invasões, na mesma época, das províncias balcânicas do Império pelos áva ros e eslavos, pa reciam anunciar os últimos dias do Império romano no Oriente. A tomada e o saque de Jerusalém (614), e a transferência da relíquia da Santa Cruz para a Pérsia, chocaram pro- fundamente os bizantinosj a guerra que se seguiu contra o Império persa assumiu, a seus olhos, o caráter de uma guerra santa. O res- su rgimento de Bizâncio foi fruto principalmente das reformas admi- ni strativas e militares do imperador Hcráclio (610-641) i a Igreja con- tribuiu com sua parte, assumindo generosamente parte dos encargos fi nanceiros da guerra, e avivando o fervor patrió ticoi um exemplo no1ável é a at itude animadora assumida pelo patriarca Sérgio durante o fracassado ataque a Constantinopla pelos persas , ávaros e eslavos, cm 626; o ressurg imento levou à reconquista das províncias imperiais da Asia e da Africa (622-628), e à volta triunfal da Santa Cruz a Jerusalém. Mas o restabelecimento mostrou-se cfêmero. Quarenta anos depois da vitória de Bizâncio sobre os persas, os exércitos árabes conquistavam as províncias imperiais da Síria, Mesopotâmia, Armênia e Egito ; e embora nas duas últimas provas de força entre Bizâncio e o ca lifado omlada, em 678 e 718, os á rabes tenham sido rechaça- dos diante dos muros de Constantinopla, muitas das províncias do Im pério O riental, incluídas as dioceses de Alexandria, Jerusalém e Antioquia, ca íram sob o domínio do lslã , pela metade do século sé- timo. Antioquia foi mais tarde reconquistad., por algum tempo (de
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