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ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE O DÉFCIT DE CONHECIMENTO DOS PACIENTES EM HEMODIÁLISE COM A ADESÃO AO TRATAMENTO

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ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE O DÉFCIT DE CONHECIMENTO DOS PACIENTES EM HEMODIÁLISE COM A ADESÃO AO TRATAMENTO
[footnoteRef:1]Rhayane Ellen Carvalho Feitosa [1: Acadêmica de Enfremagem.] 
[footnoteRef:2]Dayane Cristina de Sousa Rocha [2: Professora Especialista da Universidade Estadual do Piauí;] 
Allamy Danilo Moura e Silva[footnoteRef:3] [3: Professor Mestre da Universidade Estadual do Piauí.] 
RESUMO- A Doença Renal Crônica (DRC) é a perda lenta, gradual e irreversível das funções renais, representando um problema que acomete um número cada vez maior de indivíduos. O paciente com DRC enfrenta uma série de desafios para conseguir levar a diante seu tratamento e se adequar aos novos hábitos e costumes impostos por ele. A qualidade de vida relacionada a saúde (QVRS), enquanto percepção subjetiva do indivíduo sobre seu tratamento e todas as suas particularidades, é muito importante em um momento em que se prima e direciona os sistemas de saúde para essa finalidade. Pesquisas demonstram que o conhecimento desta patologia por parte do paciente pode melhorar sua adesão e por conseguinte sua qualidade de vida. Esta pesquisa tem como objetivo geral verificar o conhecimento de pacientes com DRC sobre sua patologia e a relação deste fator com a adesão satisfatória ao tratamento.
INTRODUÇÃO
De acordo com Brasil (2017), a doença renal crônica (DRC) atinge 10% da população mundial e afeta pessoas de todas as idades e etnias. Destaca-se que a enfermidade afete um a cada cinco homens e uma a cada quatro mulheres com idade entre 65 e 74 anos. Podendo afetar também pessoas de outras faixas etárias. 
Esse comprometimento da função renal acarreta na retenção de fluidos, manifestando-se como edema e com o aumento da pressão arterial, acompanhada de sequelas danosas em relação ao miocárdio e aos vasos sanguíneos. Há também o acúmulo de ureia, desencadeando um quadro conhecido por uremia, que pode levar a morte em poucos dias. A insuficiência renal crônica (IRC) interfere diretamente na vida dos pacientes e pode representar um problema médico significativo (ROMÃO-JÚNIOR, 2004).
Em sua maioria, os pacientes acabam por ter dificuldades de adesão por muitas vezes encararem o tratamento como uma modalidade dolorosa e angustiante que representa limitações físicas, sociais e nutricionais, e consequentemente interfere na interação deste com a sociedade e até com a própria família.
Alguns almejam o transplante pensando em melhorar sua qualidade de vida, por se considerarem vulneráveis à morte devido ao comprometimento ocasionado pelo tratamento; pois, têm consciência das dificuldades, já outros preferem seguir com a hemodiálise e não aceitam a possibilidade de transplantar, mas em praticamente todos os casos, quanto menor for a quantidade de informações recebidas pelo paciente, maiores são as teorias criadas por estes, diante da falta de referências concretas, que poderiam ajuda-lo a melhor se definir enquanto paciente renal e em termos de melhores opções de tratamento.
O paciente com DRC enfrenta uma série de desafios para conseguir levar adiante o tratamento hemodialítico. Pesquisas demonstram que o conhecimento desta patologia pode melhorar o controle da doença e dentre os fatores que podem afetar a qualidade de vida e adesão ao tratamento encontra-se o grau de conhecimento dos pacientes sobre sua patologia quanto mais cedo a DRC for detectada e as condutas terapêuticas corretas forem administradas, mais se consegue retardar a progressão da doença e consecutivamente melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 
É importante que o paciente com DRC seja acompanhado por uma equipe multiprofissional, para orientações e educação como, por exemplo: aconselhamento e suporte sobre mudança do estilo de vida; avaliação nutricional; orientação sobre exercícios físicos e consumo de álcool e cigarros. Se faz necessário o acompanhamento do calendário de vacinação, seguir a programação de vacinação; o uso de medicações prescritas pelo especialista, orientações sobre autocuidado e sobre o tipo de acesso.
É de fundamental que, por ser um tratamento de longo prazo, a hemodiálise necessite da elaboração de um plano de cuidados específicos, pois, na medida em que o tratamento caminha, surgem tensões, ansiedade, e outros sentimentos que afetam não só a ele, mas a todos os familiares.
A partir do exposto, surgiu o seguinte questionamento: É possível estabelecer uma correlação entre o grau de conhecimento do paciente a respeito de sua patologia e a adesão deste ao tratamento. 
Diante do exposto o presente artigo buscou verificar o conhecimento de pacientes com DRC sobre sua patologia e a relação deste fator com a adesão satisfatória ao tratamento. E como objetivos específicos conhecer o perfil de pacientes em tratamento hemodialítico em clínica na cidade de Floriano-PI, discutir sobre a importância da informação para a melhoria da qualidade de vida e adesão de pacientes renais crônicos ao tratamento e averiguar possíveis fatores que interferem no conhecimento sobre a patologia e no tratamento de DRC.
PERCURSO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo de caráter descritivo, com abordagem quantitativa, realizada em uma Clínica de Hemodiálise na cidade de Floriano-PI. 
O presente estudo foi realizado na cidade de Floriano-PI, na Nefroclínica Ltda, uma Clínica de Hemodiálise. O estudo aconteceu nos meses de agosto a dezembro de 2019, na referida clínica, perpassando as etapas de seleção da amostra, aplicação do instrumento e construção da análise dos resultados obtidos.
A amostra foi composta por 10% da população, sendo selecionados pacientes que estavam regularmente em tratamento, tinham acima de 18 anos e aceitaram de forma livre e esclarecida participar da pesquisa.
Durante todo o estudo foi respeitado os preceitos ético-legais constantes na resolução 466/12 e 510/16, do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde. O estudo foi realizado mediante o cadastro para liberação de parecer na Plataforma Brasil e posterior análise da Comissão Interna de Ética em Pesquisa da UESPI de Floriano-PI, após autorização da Clínica de Hemodiálise de Floriano-PI. 
RESULTADOS
A amostra foi composta por 10% dos pacientes em tratamento hemodialítico, que estiveram em consonância com os critérios de inclusão e exclusão. Identificou-se (Gráfico 1) que a faixa etária prevalente foi a de pessoas com idade acima 47 anos. 
TABELA 1: Idade dos participantes da amostra
	
IDADE
19 a 28 
29 a 37
38 a 46
47 a 55
56 a 64
65 a 73
74 a 81
	
5
5
7
7
3
2
1
	
17%
17%
23%
23%
10%
7%
3%
	TOTAL
	30
	100
Fonte: Pesquisadora, 2019.
Identificou-se como mostra a tabela 1, que a faixa etária prevalente foi a de pessoas com idade entre 38 e 55 anos,46% dos pacientes (n=14) e uma quantidade grande de adultos jovens, 34% (n=10) com idade entre 19 e 37 anos. 
TABELA 2:Sexo dos participantes da amostra
	SEXO
MASCULINO
FEMININO
	
20
10
	
67%
33%
	TOTAL
	30
	100
Fonte: Pesquisadora, 2019.
A pesquisa mostrou que 67% da amostra foi composta por pessoas do sexo masculino, o que corrobora com a informação de Engel (2005), de que qualquer idade, sexo ou raça pode ser acometida pela DRC, cerca de 60% são do sexo masculino e 40% do sexo feminino, embora as pesquisas apresentem a prevalência maior em mulheres. 
Tabela 03: Escolaridade
	Escolaridade
Não alfabetizado
Ens. Fund. Incompleto
Ens. Fund. Completo
Ens. Med. Incompleto
Ens. Med. Completo
Ens. Sup. Completo
	N
7
8
2
4
8
1
	%
23
27
7
13
27
3
	Total
	30
	100
Fonte: Pesquisadora, 2019.
Foi observado que dos pacientes em tratamento hemodialítico na clínica avaliada, 23% da amostra é não alfabetizado, enquanto 27% dos pacientes possuem apenas o ensino fundamental incompleto. O que se demonstra um fator relevante, já que esses escores jutos perfazem 50% da amostra.
DISCURSSÃO
Quando inqueridos sobre os fatores que dificultam a adesão ao tratamento, 37% se referiu a falta de informações precisas, 33% a dificuldades de locomoção, já que a maioria dos pacientes faz Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Esses 37% aliados aos 10% quese referiram anão saber os riscos e benefícios levam a um dado significativo no que tange a informação. 
TABELA 1: Idade dos participantes da amostra
No Brasil, cerca de 60% dos pacientes com Insuficiência Renal Crônica estão na faixa etária entre trinta e sessenta anos, sendo 15% abaixo dos trinta anos e 25% acima dos sessenta anos (ENGEL, 2005) 
Essas doenças atingem com mais frequência, pessoas de idade mais avançada e a incidência aumenta com a faixa etária. Brasil (2010) argumenta que, esse aumento na incidência da doença, em função da idade, é resultado de hábitos alimentares inadequados e da não realização de atividades físicas ao longo da vida, além de aspectos genéticos, estresse e outros fatores determinantes, assim como Thomé (2019) aponta que a proporção de crianças/adolescentes e de idosos (idade ≥ 65 anos) em diálise em 2017 não se alterou em relação aos percentuais observados em 2016.
O maior número de indivíduos de mais idade avançada, acena também para uma ligação com o fato da alta prevalência, nessa clientela, de doenças como a hipertensão arterial e a Diabetes Mellitus tipo 2. Lopes et al (2014) aponta o fator idade dos pacientes numa correlação negativa com o conhecimento da patologia, pois os estudos na área dão conta de que a idade mais elevada e menor escolaridade apresentam índices de correlação negativa no controle de doenças crônicas, e consequentemente com a qualidade de vidas dos pacientes.
TABELA 2:Sexo dos participantes da amostra
Macedo (2018) atesta que a DRC afeta aproximadamente 195 milhões de mulheres em todo o mundo e atualmente é a 8ª causa de mortalidade nesta população com cerca de 600 mil mortes por ano. Dados da Sociedade Internacional de Nefrologia, também apontam que a prevalência da Doença Renal Crônica é maior em mulheres (14%) do que em homens (12%).
Este dado quando confrontado com o fato de mais homens estarem em tratamento e é explicado pela autora pelo fato de apesar das doenças renais atingirem mais a população feminina, o número de mulheres em diálise é menor do que o número de homens por motivos como o fato da progressão para Doença Crônica Terminal ser mais lenta nas mulheres, embora acredite-se, também, que as mulheres procuram mais tardiamente o atendimento médico que os homens por razões socioeconômicas e religiosas. A Sociedade Internacional de Nefrologia atesta ainda que muitas mulheres são provedoras da família, não podem parar de trabalhar, precisam cuidar dos filhos e não tem acesso fácil a atendimento hospitalar.
A prevalência do sexo masculino em tratamento de hemodiálise é corroborada ainda por dados encontrados nos resultados de estudos de Kusumoto at al (2008) e Santos, Lucena e Do Vale (2010), já que nestes a maior prevalência de DRC dialítica também é em homens. Estudos internacionais ainda apontam que a maior prevalência é em homens, como no de Ekrikpo et all (2011) que mostrou um centro de diálise na Nigéria com 57% pacientes do sexo masculino em hemodiálise. Conforme abordado no estudo de Santos, Lucena e Do Vale (2010) e Guney e outros (2012), acredita-se que o gênero masculino possa ser mais um fator de risco para a doença renal crônica, assim como outros fatores demográficos, como, por exemplo, a idade, o que já foi discutido anteriormente. (FREITAS, BASSOLI & VANOLI, 2013)
TABELA 3: Grau de escolaridade dos participantes da amostra
Se a pesquisa visa fazer uma ligação entre o conhecimento apresentado pelo paciente de sua patologia e o seu nível de escolaridade, logo surgirá a hipótese de que o baixo nível de escolaridade possa interferir na capacidade desse paciente de compreender seu quadro de saúde como um todo.
Outros estudos ressaltam a maioria dos entrevistados com nível de escolaridade baixo, levando-se em consideração que a sociedade atual é capitalista, com oportunidades de trabalho progressivamente competitivas, essa baixa escolaridade vai atrapalhar esse indivíduo em pontos diferentes de sua vida, como por exemplo sua inserção e/ou permanência no mercado de trabalho. O nível de conhecimento dos entrevistados e o grau de escolaridade, reflete-se acerca da preponderância de quesitos sociais e culturais, para que o cidadão reúna condições de alcançar e assimilar conhecimentos e informações adicionais ao seu processo de sobreviver. (XAVIER, et al, 2014).
GRÁFICO 01: Conhecimento do paciente sobre o significado de doença renal crônica.
Fonte: Pesquisadora, 2019.
Ao serem interpelados sobre o que é a DRC, 70% (n=21) da amostra afirmou saber, através da resposta sim, enquanto 30% (n=9) relatou que não. Embora a maioria tenha acenado positivamente, a porcentagem que relatou não saber se torna significativa diante do fato de que ao entrar no tratamento os pacientes passam por uma equipe multiprofissional que explica de forma clara e objetiva o que vem a ser a doença, tirando as dúvidas do paciente e prestando assistência médica, nutricional, social e psicológica, o que leva a crer que o paciente deveria estar bem informado.
A doença renal crônica (DRC) atinge 10% da população mundial e afeta pessoas de todas as idades, etnias e classes. Desataca-se que a enfermidade afeta um a cada cinco homens e uma a cada quatro mulheres com idade entre 65 e 74 anos. Podendo afetar também pessoas de outras faixas etárias. A doença renal crônica apresenta entre seus sintomas edemas nas pernas, falta de apetite, cansaço e palidez cutânea. (BRASIL, 2017).
GRÁFICO 2: Conhecimento do paciente a respeito das consequências ao se faltar uma sessão de hemodiálise
Fonte: Pesquisadora, 2019.
No que tange a se considerar bem informado no tocante ao que acontece quando falta a hemodiálise, 60% (n=18) da amostra assumiu se considerar mal informado, um dado alarmante diante dos prejuízos que podem acarretar a vida do paciente quando este deixa de frequentar as sessões. Embora 30% (n=9) se considere bem informado, ainda é perceptível a quantidades de falhas no alinhamento dessa construção.
De acordo com Brasil (2019c) a hemodiálise é o procedimento através do qual uma máquina filtra e limpa o sangue, fazendo parte do trabalho que o rim não consegue mais fazer. O procedimento retira do corpo os resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos. Também controla a pressão arterial e ajuda o organismo a manter o equilíbrio de substâncias como sódio, potássio, ureia e creatinina.
A diálise, que é uma terapia renal substitutiva (TRS) se torna necessária quando os medicamentos, dieta e restrição hídrica se tornam insuficientes Uma vez que a DRC se instala, o paciente necessita da diálise para se manter vivo, sendo que as principais manifestações clínicas são fraqueza, adinamia e fadiga fácil, que se correlaciona com o grau de anemia, queixas de prurido, edema e pele facilmente escoriável, anorexia, náuseas e vômitos, entre outros sintomas que podem se agravar caso o paciente falte as sessões de diálise, podendo leva-lo inclusive a morte (BRASIL, 2014).
 
Gráfico 3 Frequência em que os pacientes costumam faltar as sessões de hemodiálise.
Fonte: Pesquisadora, 2019.
No tocante ao comparecimento as sessões, 60% (n=18) da amostra afirma que costuma comparecer a todas, mas chama a tenção o fato dos outros 40% (n=12) se distribuírem entre não, faltar às vezes e faltar com frequência, que no caso do tratamento dialítico se constitui como um grande risco a saúde e a vida do paciente.
É possível estabelecer uma relação entre os óbitos e a baixa adesão ao tratamento, levando-se em consideração o relativo número de faltas dos pacientes ao tratamento. Para a confirmação desses indicadores são necessárias as análises de parâmetros bioquímicos e de informações mais pormenorizadas a adesão à prescrição alimentar e farmacológica, do grupo pesquisado. (GUERRA-GUERREIRO, SANHUEZA e CACERES-ESPINA, 2012
Mendonça (2007), Rocha (2009), evidenciaram em suas pesquisas no que tange a adesão, que o número de faltas dos pacientes ao tratamento, indicou para uma correlação inversa entre suporte social e essas faltas. Chamam a atenção para a relevânciado suporte social, pois o apoio oferecido pela equipe pode em muito auxiliar na adesão, na medida em que o paciente se sente bem emocionalmente e fisicamente, favorecendo a aceitação da doença e a eficácia do tratamento, por a partir daí ser desenvolvido de forma adequada.
De acordo com o Instituto de Nefrologia - INEFRO (2019) as consequências as faltas as sessões de HD surgem ao longo dos meses ou anos, pois apresenta-se uma sobrecarga paulatina do coração e dos vasos, e um significativo prejuízo aos ossos e enfraquecendo as defesas do organismo. Logo os pacientes que faltam mais têm maior índice de desnutrição, mais infecções, anemia, doenças do coração, derrames, insônia, impotência sexual e depressão – o que acarreta maior frequência de internações hospitalares Faltar 1 sessão de hemodiálise no mês pode acarretar o aumento do risco de morte em 19%, enquanto faltar 2 sessões de hemodiálise no mês aumenta esse risco para 51%. Muitas vezes o próprio paciente não se apercebe dessas faltas e de que uma caída na sua qualidade de vida está relacionada a elas, gerando sintomas e podendo levá-lo a óbito. 
Gráfico 4: Razões que podem interferir na adesão ao tratamento dialítico.
Fonte: Pesquisadora, 2019.
Quando inqueridos sobre os fatores que dificultam a adesão ao tratamento, 50% (n=15) se referiu a falta de informações precisas, 40% (n=12) a dificuldades de locomoção, já que a maioria dos pacientes faz Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Esses 50% aliados aos 10% (n=3) que referiram não saber os riscos e benefícios levam a um dado significativo no que tange a informação. 
Segundo Maciel et al (2015) o déficit de conhecimento influencia negativamente no processo de autocuidado, pois clientes com baixa instrução têm dificuldade de compreender as recomendações dadas, obtendo maior índice de abandono ao tratamento. Outro fator que merece menção é o fato de que pelo fato de terem dificuldades de entendimento, esses pacientes também acabam por ter dificuldades na prevenção de suas comorbidades, levando muitas vezes a um retardo na descoberta da DRC e consultivamente a uma abordagem tardia da problemática.
Verificou-se que 40% da amostra mencionou a dificuldade de locomoção como um fator relevante, o que é corroborado por Maciel et al (2015) quando esta afirma que “o transporte é uma causa importante de faltas e atrasos na HD, visto que os clientes renais queixam-se da dificuldade financeira para custear o translado ao centro hemodialítico”. 
A obrigatoriedade de se transportar pelo menos 3 vezes por semana para o local do tratamento, muitas vezes de um município a outro, a falta de transporte, o valor pago pelo deslocamento, entre outros são fatores geradores de ansiedade para alguns pacientes e seus familiares, o que pode acarretar numa quebra do regime terapêutico. 
As primeiras consultas geralmente causam fantasias, desconfianças, medos e um imaginário permeado pela ideia de que a vida acabou, que não conseguiram mais viver bem, entre outras questões angustiantes, porém, com o passar do teme diante de uma abordagem acolhedora e que dê motivação e significado para o paciente nessa nova fase de sua vida, permite derrubar esses tabus e essas inquietações. O paciente passa a sentir o centro de tratamento como um local em que está seguro, onde serão bem assistidos, estabelecem rotinas que se tornam cada vez mais familiares de procedimentos, se adaptam a equipe gerando confiança nos profissionais e em suas práticas, e se sentem compreendidos em suas necessidades 
GRÁFICO 5: Nível de entendimento do paciente a respeito da sua patologia.
Fonte: Pesquisadora, 2019.
No que diz respeito ao grau de entendimento sobre a doença, é bastante significativa a porcentagem dos que se referiram a serem mal informados (60%) (n=18) . Maciel et al (2015) aponta que as classes sociais desfavorecidas apresentam dificuldades no conhecimento, e essa fragilidade vai interferir diretamente na adesão ao tratamento. Se faz necessária uma atuação maciça e constante de uma equipe multidisciplinar, que utilize estratégias educativas contínuas tendo como foco a promoção do conhecimento como fator capaz de auxiliar esse paciente a seguir de maneira correta seu tratamento. Essa abordagem precisa dispor de maneiras específicas que facilitem o entendimento dos pacientes, através de palestras, rodas de conversa, folderes informativos e principalmente uma linguagem que alcance esse paciente e favoreça sua compreensão. (MACIEL, et al, 2015).
As pessoas com DRC devem ser acompanhadas por uma equipe multiprofissional, nas Unidades Básicas de Saúde e nos casos que requerem, nas unidades de atenção especializada em doença renal crônica, para orientações e educação como, por exemplo: aconselhamento e suporte sobre mudança do estilo de vida; avaliação nutricional; orientação sobre exercícios físicos e abandono do tabagismo; inclusão na programação de vacinação; seguimento contínuo dos medicamentos prescritos; programa de educação sobre DRC e TRS; orientação sobre o auto cuidado; orientações sobre as modalidades de tratamento da DRC; cuidado ao acesso vascular ou peritoneal, entre outros. (BRASIL, 2014, p.26). 
GRÁFICO 6: Relação entre melhor informação e melhor assiduidade de acordo com o paciente.
Fonte: Pesquisadora, 2019.
De forma indiscutível toda a amostra relatou acreditar que se fosse mais bem informada sobre a doença e o tratamento teria uma melhor adesão, não faltando as sessões. O que pode ser considerado é de que maneira se poderia levar essa informação ao paciente, como já foi supracitado, de forma clara e de acordo com o entendimento desse paciente. Araújo et al (2013) destaca que a falta de informação sobre a doença e o tratamento pode também ser correlacionada com o baixo nível socioeconômico e de escolaridade.
Segundo Madeiro et al (2010), mais uma vez a equipe multidisciplinar se apresenta como fator indispensável pela adesão do paciente, já que esta deve estabelecer uma relação terapêutica concreta, que vai além da diálise em si, na medida em que esta equipe deve envolver o paciente e seus familiares num processo de adaptação, esclarecendo suas dúvidas e esclarecendo a importância da aderência à terapia para o bem estar e redução da mortalidade. 
A baixa adesão pode também ser associada a fatores como as situações estressantes enfrentadas pelos pacientes, a necessidade de mudanças significativas em rotinas e horários, mudanças alimentares, dores e desconfortos do próprio tratamento, os agravantes emocionais por saber que se está enfrentando uma doença crônica, dentro outros elementos que perpassam o ambiente clínico e a vida social desses indivíduos, gerando muitas vezes um impacto negativo na vida destes. (MADEIRO et al , 2010).
GRÁFICO 7: Relação entre informação e qualidade de vida.
Fonte: Pesquisadora, 2019.
Quando interrogados sobre receberem informações da equipe de profissionais sobre sua patologia e como melhorar sua qualidade de vida, 100% (n=30) da amostra afirmou que sim. De acordo com Brasil (2018) no que tange aos critérios para a organização e funcionamento do cuidado da pessoa com doença renal crônica no âmbito do sistema único de saúde – SUS, em seu Art. 61, Inciso IX, aponta como diretriz o “desenvolvimento de medidas de promoção da saúde e que garantam a difusão das ações de saúde e o cuidado à pessoa com DRC de forma compartilhada entre os entes federados”. 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maior parte da amostra é do sexo masculino, e embora a DRC possa acometer pessoas de qualquer idade, sexo ou etnia 60% dos indivíduos em tratamento são do sexo masculino embora as pesquisas apresentem a prevalência maior em mulheres, porém a progressão da doença é mais, e ainda pelo fato delas procurarem mais tardiamente o atendimento.
O nível de escolaridade despontou nos resultados como algo relevante, já que a pesquisa apontou que o baixo nível de escolaridade pode interferir na capacidade de compreensão do paciente da sua patologia, e, por conseguinte interferir na adesão. Na clínica avaliada, 23% da amostra é não alfabetizado,e o nível de conhecimento dos entrevistados atrelado a seu grau de escolaridade, descaracteriza a reunião de elementos necessários para a assimilação de conhecimentos e informações. 
No que tange ao saber o que é a DRC, 70% afirmou que sim, porém a porcentagem que relatou não saber se avulta diante da quantidade de informações recebidas pelos pacientes ao ingressarem no tratamento dialítico, a disponibilidades das equipes para orientar e esclarecer e a importância desse conhecimento por parte dos paciente s e familiares para que o tratamento se desenvolva a contento.
Quando se abordou a autoconsciência sobre as informações recebidas, os dados são muito contundentes, pois 61% da amostra se considera mal informado. Se a necessidade de informações leva a teorização de que através dela pode-se melhorar a adesão e consequentemente a qualidade de vida destes pacientes, algo está discrepante, na medida em que parte tão maciça da amostra não se sente bem informado, sendo importante avaliar em que consistem as falhas nessa comunicação, se apenas no receptor ou no emissor também. 
Os dados sobre a assiduidade dos pacientes também estão de acordo com os dados encontrados em outras pesquisas, 60% da amostra afirma que costuma comparecer a todas, mas é relevante o fato dos outros 40% se distribuírem entre não, faltar às vezes e faltar com frequência, que no caso da diálise geram consequências que só vão ser percebidas ao longo do tempo, podendo comprometer a saúde e a vida do paciente, com diversos prejuízos e até mesmo a morte.
Entre as dificuldades de adesão a falta de informações precisas e as dificuldades de locomoção figuraram de maneira impositiva, o que também encontra respaldo em outras pesquisar da área. O não conhecer gera um impacto negativo no autocuidado necessário a esses pacientes, comprometendo as comorbidades, aumentando os índices de internações e de abandono do tratamento.
Foi imperativa a constatação da importância da equipe multiprofissional para esse processo de adesão, orientando, informando e monitorando esse paciente. Vale salientar a necessidade de se estruturar esse suporte de forma pensada para facilitar o entendimento dos pacientes. Outra opção viável seria a fomentação de atividades de apoio como palestras, rodas de conversa, circulares informativos, e a abertura e acesso aos profissionais sempre com o cuidado de demonstrarem segurança, linguagem acessível, informações claras para que o paciente possa confiar e se sentir confortável e acolhido.
A pesquisa evidenciou o desejo dos pacientes a terem mais acesso a informações que os auxiliem na compreensão de sua patologia e os ajude na melhoria da sua qualidade de vida. Alcançou os objetivos traçados, na medida em que conseguiu verificar o conhecimento desses pacientes com DRC sobre sua patologia e a relação deste fator com a adesão satisfatória ao tratamento.
A transmissão de informações precisas, pontuais e relevantes aponta para possibilidades de auxílio na adesão, fazendo-se necessárias políticas especificas tanto de entidades públicas como privadas, com o intuito de fornecer esse suporte para a disseminação de conhecimento capazes de ajudar o paciente a se tornar mais protagonista da sua vida, sendo mais pró ativo e até mesmo mais consciente da sua responsabilidade em seu melhoramento bem como em possíveis pioras. 
A pesquisa apresentou relevância em âmbitos como o clínico, social e o acadêmico, por trazer essa discursão pertinente e necessária, buscando possibilidades de melhorar a adesão de pacientes em processo de diálise, contribuindo para que pacientes, familiares, equipes de saúde e público em geral possam perceber na informação uma possibilidade a mais de melhorar a qualidade de vida de pessoas e reduzir o número de internações e óbitos. Bem como despertar o interesse para pesquisas posteriores nessa área, considerada ainda, uma nuance negligenciada do tratamento.
REFERÊNCIAS
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15 GUERRA-GUERRERO. V, SANHUEZA-ALVARADO. O, CACERES-ESPINA. M. Qualidade de vida de pessoas em hemodiálise crônica: relação com variáveis sociodemográficas, médico-clínicas e de laboratório. Rev Latino-Am Enfermagem 2012.
16 MENDONÇA, D.P. Qualidade De Vida Dos Portadores De Insuficiência Renal Crônica Em Tratamento De Hemodiálise [Dissertação de mestrado]. Goiânia: Universidade Católica de Goiás; 2007. 164 p
17 ROCHA, R.P.F. SANTOS, I. Necessidades de autocuidado entre doentes com doença renal crônica: revisão integrativa de literatura. Rev Pesq Cuid Fundam 2009; 1:457-67.
18 INEFRO Instituto de Nefrologia Compromisso com o Tratamento in http://inefro.com.br/compromisso_com_o_tratamento/2019 Acesso em 12/12/2019.
19 MACIELL, Camila de Godoy. Et al Adesão ao tratamento hemodialítico: percepção dos pacientes renais crônicos. Programa de Residência de Enfermagem em Nefrologia do Hospital Barão de Lucena, Olinda: 2015
20 ARAÚJO, C. P.et al. Insuficiência Renal Crônica: um enfoque na prevenção do problema emergente no Brasil. Rev. Contexto&Saúde 2013; 11(20) Disponível: https://www. revistas.unijui.edu.br Acesso em 12 dez 2019.
COMPARECIMENTO	
SIM	NÃO	FALTO AS VEZES	FALTO COM FREQUÊNCIA	18	2	5	5	
ADESÃO	
Falta de informações precisas	Não saber os riscos e benefíciosSer uma doença que não tem cura	Dificuldades de locomoção	50	10	0	40	
ENTENDIMENTO	
Me considero bem informado	Me considero mal informado	Sei o básico	Não sei responder	10	60	20	10	
CONHECIMENTO/ASSIDUIDADE	
SIM	NÃO	EM PARTES	NÃO SEI RESPONDER	100	0	0	0	
INFORMAÇÃO	
SIM	NÃO	100	
DRC
IRC	
SIM	NÃO	70	30	
FALTAS	
Me considero bem informado	Me considero mal informado	Sei o básico	Não sei responder	9	18	3	0

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