Buscar

Ebook Filosofia e Ética - FGV

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 82 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 82 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 82 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
 
2 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Fundação Getulio Vargas 
Programa de Certificação de Qualidade 
 
Curso: 
 
Graduação em Administração 
 
Filosofia e Ética 
 
 
 
Professora Elaboradora: 
Cláudia Regina Bomfim da Fonseca 
Formação Acadêmica 
Doutora em Ciências Humanas pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e 
Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e mestre em 
Sociologia pelo mesmo programa. Bacharel e licenciada em História, pela 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Especializada em Teoria e Práxis 
do Meio Ambiente, pelo Instituto Superior de Estudos da Religião - ISER e em 
Filosofia e Bioética pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Possui 
uma Monção de Louvor e Reconhecimento concedida pela Câmara Municipal do Rio 
de Janeiro, em homenagem pela contribuição para o desenvolvimento e 
disseminação dos aspectos socioculturais da etnia cigana na cidade do Rio de 
Janeiro. 
Experiência profissional 
Com mais de 25 anos de experiência profissional, desenvolveu pesquisas na UFRJ; 
no Instituto de Medicina Social da UERJ; na Fiocruz, no Cpdoc da Fundação Getulio 
Vargas e na Universidade Complutense de Madrid (Espanha). Como professora, 
integrou as equipes de instituições como o SENAC, o Colégio Marista São José - RJ, 
a Universidade Estácio de Sá e a UFRJ. Como consultora em educação, atuou no 
Núcleo de Educação Continuada, da Associação Brasileira de Educação e no curso 
de Avaliação Econômica de Projetos, da Fundação Itaú Social. 
Atualmente exerce as funções de tutora de apoio ao professor, na Fundação 
CECIERJ; de professora e coordenadora colaboradora na Fundação Cesgranrio; de 
professora-autora de cursos e materiais didáticos e de coordenadora pedagógica no 
Instituto de Desenvolvimento Educacional, da FGV. 
 
3 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Sumário 
 
Capítulo 1 - Introdução à Filosofia e Ética ...................................................................................... 5 
1.1. A pergunta é: Por quê? .......................................................................................................... 5 
1.2. Ética ou Filosofia Moral.......................................................................................................... 7 
1.3. Filosofia e Ética na Administração ....................................................................................... 9 
1.4. Praticando – questões para reflexão ................................................................................. 10 
Capítulo 2 – Outros temas da filosofia .......................................................................................... 12 
2.1. O conhecimento .................................................................................................................... 13 
2.2. A verdade como um valor .................................................................................................. 14 
2.3. Filosofia Política .................................................................................................................... 15 
2.4. Praticando – Reflexões ....................................................................................................... 16 
Capítulo 3 – Os Antigos ................................................................................................................... 18 
3.1. O conhecimento mítico ........................................................................................................ 19 
3.2. Os Pré-Socráticos ................................................................................................................. 20 
3.3. Os Sofistas ............................................................................................................................. 21 
3.4. Sócrates ................................................................................................................................. 22 
3.5. Platão ...................................................................................................................................... 23 
3.6. Aristóteles .............................................................................................................................. 23 
3.7. Período Helenístico e Romano ........................................................................................... 25 
3.8. A virtude como justa medida ............................................................................................... 26 
3.9. Praticando – Conhecendo outras filosofias ...................................................................... 27 
Capítulo 4 – Filosofia Patrística e Filosofia Escolástica ............................................................. 28 
4.1. A filosofia patrística e Santo Agostinho ............................................................................. 29 
4.2. A filosofia escolástica e São Tomás de Aquino ............................................................... 30 
4.3. Moral e religião na Idade Média ......................................................................................... 31 
4.4. Praticando – Sugestões de Filmes .................................................................................... 33 
Capítulo 5 – A Filosofia da Renascença ....................................................................................... 35 
5.1. Giordano Bruno ..................................................................................................................... 36 
5.2. Maquiavel e a moral de um príncipe .................................................................................. 36 
5.3. Praticando – Extrato de O Príncipe, de Maquiavel ......................................................... 37 
Capítulo 6 – Filosofia Moderna ...................................................................................................... 40 
6.1. O Racionalismo Cartesiano ................................................................................................ 41 
6.2. Descartes e a moral provisória ........................................................................................... 42 
6.3. O empirismo inglês ............................................................................................................... 43 
4 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
6.4. A ética como fruto de um pacto .......................................................................................... 45 
6.5. Praticando – Código de Ética ............................................................................................. 46 
Capítulo 7 – Filosofia da ilustração ................................................................................................ 48 
7.1. O empirismo de David Hume .............................................................................................. 48 
7.2. Jean-Jacques Rousseau ..................................................................................................... 49 
7.3. Rousseau e o contrato social .............................................................................................. 50 
7.4. Immanuel Kant ...................................................................................................................... 52 
7.5. A moral da razão prática kantiana ..................................................................................... 53 
7.6. Praticando – Humor inteligente .......................................................................................... 55 
Capítulo 8 – A filosofia contemporânea ........................................................................................ 55 
8.1. História e progresso ............................................................................................................. 56 
8.2.O utilitarismo inglês .............................................................................................................. 59 
8.3. O materialismo histórico ...................................................................................................... 61 
8.4. A oposição ao racionalismo ................................................................................................ 62 
8.5. Existencialistas e pós-modernos ........................................................................................ 65 
8.6. Praticando – As mulheres na filosofia ............................................................................... 66 
Anexo I – Caso para análise ........................................................................................................... 70 
Anexo II – Caso para análise ......................................................................................................... 73 
Anexo III – Sugestões de Vídeos ................................................................................................... 76 
Anexo IV – Respostas: questões do capítulo 1 ........................................................................... 78 
Referências bibliográficas ............................................................................................................... 81 
 
 
 
 
5 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Capítulo 1 - Introdução à Filosofia e Ética 
 
“Pior do que não saber, é fingir que sabe; pior do que não conhecer, é fingir que conhece. O 
conhecimento e, portanto, a inovação, começa exatamente quando sei que não sei algo, quando 
tenho consciência da minha ignorância e enxergo a urgência em saná-la.” 
(Cortella, 2009:7) 
Iniciamos nosso curso já com uma pergunta: Para que servem a Ética e a Filosofia? 
E quando você pensou que ia obter a reposta, eis que vamos lhe indicar outros 
questionamentos. Por que não aproveitar para nos perguntarmos no que 
acreditamos? Será que temos clareza com relação aos princípios que regem nossas 
vidas? E indo um pouco mais além: no que estariam baseados esses princípios? 
Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, acreditamos ou 
recusamos coisas, pessoas, situações e tudo isso indica quais são as nossas 
crenças. Nossas crenças são aquelas coisas ou ideias em que acreditamos sem 
questionar, que aceitamos porque são óbvias, evidentes. 
Indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam a existência e o 
porquê de tais crenças e sentimentos nos leva à chamada atitude filosófica. É essa 
atitude filosófica que vai nos ajudar a responder às nossas indagações. Para tanto, 
precisaremos dizer não aos preconceitos, aos pré-juízos; interrogar sobre o que são 
as coisas, as ideias, os fatos. A mescla dessas habilidades possibilitará que nos 
tornemos indivíduos capazes de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, um 
valor, um costume, um comportamento, uma obra artística ou científica, sem 
preconceitos e sem pré-julgamento; exercitando nossa capacidade para julgar, 
discernir e decidir corretamente, tomando como base uma atitude crítica diante da 
realidade que nos é apresentada. 
 
1.1. A pergunta é: Por quê? 
Em português, a palavra “filosofia” possui um sentido muito amplo. Dizemos que 
determinada empresa possui uma nova “filosofia” de trabalho, abolindo a hierarquia, 
por exemplo; ou que aquela população ribeirinha tem uma “filosofia” de vida invejável 
ou que meu amigo resolveu seguir a “filosofia” hindu. Nesses exemplos, a palavara 
“filosofia” parece ter a ver com uma concepção, um saber. No entanto, é importante 
demarcar que 
6 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
“A filosofia tem suas origens e ponto de partida quando o pensamento investigador do homem se 
volta reflexivamente sobre si próprio e seu conteúdo de conhecimentos já elaborados e conceituados, 
ou em via de elaboração, a fim de aferi-los, compreender o processo de sua elaboração, conceder-
lhe segurança e orientação adequadas para a utilização prática a que se destinam” (Prado Junior, 
2008:29). 
A disciplina acadêmica que se intitula filosofia usa essa palavra num sentido estrito: 
Filosofia – palavra de origem grega 
philos = amigo; sophia = sabedoria 
Designa um tipo de especulação que se originou e atingiu seu apogeu entre os 
antigos gregos e que teria nascido entre o fim do século VII a.C. e o início do século 
VI a.C., nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto. 
As viagens marítimas, a invenção do calendário, a invenção da moeda, o surgimento 
da vida urbana, a invenção da escrita alfabética e a invenção da política teriam sido 
as condições históricas para o surgimento da filosofia, já que, nesses momentos, 
mito e religião teriam cedido lugar à razão. A Filosofia busca refletir sobre a realidade, 
qualquer que seja ela, objetivando descobrir seus significados. 
Para Caio Prado Junior (Idem), “o conhecimento do conhecimento, ou seja, o 
conhecimento como ‘objeto do conhecimento’, o que vem a ser o ato ou ato de 
‘conhecer’; e como se realiza esse fato, qual a sua sequência”, seriam as questões 
das quais se ocupa a Filosofia.1 
Portanto, lembre-se: Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. As 
indagações filosóficas se realizam de modo sistemático. 
“Filosofia é um modo de pensar sistemático, organizado e metódico com questões precisas daquilo 
que se faz, para indagar sobre os porquês. E por que não é como. Quem pergunta pelo como é a 
ciência.” (Cortella, 2007:7,8) 
Segundo alguns autores, para que possamos exercitar um pensar filosófico, ou 
chegarmos ao ponto de “filosofar”, precisamos de algumas certezas e, ao mesmo 
tempo, precisamos duvidar e colocar em questão as heranças filosóficas que 
recebemos. Indo um pouco além, talvez fosse necessário optar entre o ceticismo ou 
o dogmatismo. Ou, quem sabe, não seria possível beber na fonte de ambos? 
 
1 Ou, mais precisamente, o autor indica que tais questionamentos se agrupam na disciplina conhecida 
por teoria do conhecimento, epistemologia ou gnosiologia. Disicplinas essas que constituem, segundo 
consenso generalizado, capítulos da filosofia (Prado Junior, 2008: 16). 
7 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
O ceticismo é a corrente de pensamento que duvida de toda e qualquer 
possibilidade de se chegar ao conhecimento verdadeiro. Já o dogmatismo parte da 
admissão de que é possível conhecer as coisas em si e de que esse conhecimento 
é confiável para nos guiar na vida prática, sendo a doutrina ou atitude que afirma, de 
modo absoluto, sermos capazes de chegar a verdades seguras exclusivamente por 
meio do uso da razão. 
Mas o que é a verdade? 
Existe apenas uma concepção de verdade? 
E você? Tem uma verdade ou várias? 
Ao longo dos séculos, a Filosofia demonstrou um conjunto de preocupações, 
indagações e interesses que lhe vieram desde seu nascimento na Grécia. Esses 
interesses permitiram algumas divisões da Filosofia em campos que variaram ao 
longo do tempo. 
Na época de Aristóteles, a filosofia se dividia em Lógica ou os processos de alcançar 
o conhecimento sobre as coisas, sobre o ser das coisas; Física, que compreendia 
os saberes sobre tudo o que existe ou pode existir, dos seres da natureza ao espírito 
humano; Ética, que tratava do agir, das ações humanas, do que o ser humano é e 
do que o ser humano faz. 
Atualmente, a Filosofia compreende a Ontologia, que se caracteriza pela reflexão 
sobre a natureza do ser, sobre os objetos em geral; a Gnosiologia, que é a reflexão 
sobre a natureza e as condições do conhecimento; e a Axiologia, que é a reflexão 
sobre os valores. A Axiologia compreende a Ética e a Estética. 
1.2. Ética ou Filosofia Moral 
Ética é a parte da filosofia que se ocupa das ideias morais. Como disciplina, a ética 
é uma meta moral, uma reflexãosobre os fundamentos das normas morais e sobre 
sua justificação. 
“O termo moral designa o conjunto de atitudes humanas relacionadas aos costumes. Separa o ‘certo’ 
do ‘errado’, o ‘preferível’ do ‘detestável’ em sistemas de regras e normas que todos devemos observar 
no plano individual e no coletivo, no plano pessoal e no social.” (Thiry-Cherques, 2008:30) 
A tradição filosófica emprestou ao termo ética uma acepção científica: a da reflexão 
sobre a conduta e sobre os princípios que permitem separar o bem do mal, o certo 
do errado. Ao longo dos séculos, a Filosofia demonstrou um conjunto de 
8 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
preocupações, indagações e interesses que lhe vieram desde seu nascimento na 
Grécia. Esses interesses permitiram algumas divisões da Filosofia em campos que 
variaram ao longo do tempo. 
Mas e a moral? 
Bem, a moral responde à pergunta: “O que deve ser feito?”, sendo um conjunto de 
deveres que são reconhecidos como legítimos, ainda que esses deveres venham a 
ser violados em algum momento (Comte-Sponville, 2002). 
“É a lei que imponho a mim mesmo, ou que deveria me impor, independentemente do olhar do outro 
e de qualquer sensação de recompensa. ‘O que devo fazer?’ e não: ‘O que os outros devem fazer?’. 
É o que distingue a moral do moralismo” (Idem) 
Pode-se pensar sobre a moral de três maneiras diferentes. A primeira delas é 
indagando-se se uma ação particular ou tipo de ação é certa ou errada. Por exemplo, 
o aborto ou a eutanásia são certos ou errados? Mentir pode ser admissível? É a 
chamada Ética prática. Pode-se tentar, também, entender as mesmas ideias 
considerando nossas próprias ações, ou considerando o tipo de pessoas que 
podemos ser ou nos tornar, a chamada Ética normativa. Ou, ainda, pode-se pensar 
crítica e reflexivamente sobre a moral, estudando as próprias ideias de certo e 
errado, bom e mau, a chamada Metaética. 
A moral diz respeito não só a situações práticas, mas a ideias sobre a natureza 
humana e sobre como “valores morais” se inserem em nossa concepção científica 
do mundo. 
Mas o que são valores? 
Valor é um bem subjetivo. Um valor é o que desperta interesse ou estima. “O termo 
‘valor’ deriva da esfera econômica, da palavra grega áksios,a,on, o que é valioso, o 
que merece o seu preço. O valor qualifica o bom e o que é útil.” (Thiry-Cherques, 
2008:31) 
Existe o mundo das coisas e o mundo dos valores. O valor é sempre uma relação 
entre o sujeito que valora e o objeto que é valorado, não havendo, portanto, valor em 
si, mas valor para alguém. A Axiologia, portanto, reflete sobre o significado do 
conceito de valor, os chamados juízos de valor, buscando explicitar a natureza e as 
características do valor. 
9 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Foi a filosofia kantiana que preparou o campo para as discussões axiológicas 
contemporâneas, na medida em que afirmava que caberia ao sujeito transcendental 
assumir o peso e a responsabilidade de seus valores. O sujeito seria um ser 
autônomo, ou seja, um ser capaz de julgar por si próprio ao fazer juízos estéticos e 
morais. 
Mas, e quanto aos juízos de valor? 
Quando enunciamos um acontecimento constatado por nós, proferimos o chamado 
juízo de fato. Um exemplo é se digo “está chovendo”. Os juízos de fato dizem o que 
algo é ou existe, e dizem o que as coisas são e como são e por que são. 
Diferentemente dos juízos de fato, existem os juízos de valor, que são avaliações 
sobre as coisas, pessoas, situações e são proferidos na moral, nas artes, na política, 
na religião. Ao dizer “a chuva me faz mal”, estou interpretando e avaliando o 
acontecimento. 
“Juízos de valor não se contentam em dizer que algo é ou como algo é, mas se referem ao que algo 
deve ser. Dessa perspectiva, os juízos morais de valor são normativos, isto é, (...) são normas que 
determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos.” (Chauí, 
2010:307) 
Ética é a parte da filosofia que se ocupa das ideias morais. Como disciplina, a ética 
é uma reflexão sobre os fundamentos das normas morais e sobre sua justificação 
(Thiry-Cherques, 2008). 
Vale reiterar que toda cultura e cada sociedade institui uma moral, que é constituída 
de valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido e à conduta 
correta e incorreta. Nesse contexto, a Ética, como disciplina, configura-se como uma 
reflexão que discute, problematiza e interpreta o significado dos valores morais, 
nascendo quando se passa a indagar o que são, de onde vêm e o que valem os 
costumes. 
Será que todas as sociedades possuem a mesma moral? A moral pode ser relativa? 
1.3. Filosofia e Ética na Administração 
Como um campo novo de investigação, essa disciplina propõe mais perguntas do 
que oferece respostas: quais os deveres em relação à comunidade em que a 
organização está inserida? É justo blefar em uma negociação? A competição é 
moralmente justificada? 
10 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Fazer as perguntas corretas e formulá-las adequadamente talvez seja o grande 
desafio da ética neste momento. 
Uma grande variedade de temas é abordada sob a insígna da Ética na 
Administração: 
 A ética com relação a produtos  São eticamente questionáveis as decisões de 
promover e vender produtos de segurança ou valor questionáveis para o consumidor, 
como, por exemplo, cigarros e álcool? 
 A ética na propaganda  Como lidar com a propaganda enganosa? Em algum caso 
ela é legítima? 
 A ética na concorrência  O que carcateriza uma concorrência desleal? 
 A ética no trabalho  As diferenças salariais são justificáveis do ponto de vista ético? 
Até onde vai a responsabilidade das empresas para com seus empregados? 
Organizamos esse emaranhado de perguntas para tentar mostrar que essas 
reflexões estão diretamente ligadas à filosofia, já que será nos baseando naquilo 
em que acreditamos, nos princípios que regem nossas vidas, que conseguiremos 
respondê-las. E é a filosofia que nos ajuda a pensar em que estão baseados esses 
princípios e seus porquês. 
1.4. Praticando – questões para reflexão 
 
Questão 1 
A figura a seguir pode ser usada para ilustrar o conceito de moral em filosofia. 
 
Imagem: Google Imagens 
Relacione o conceito de moral visto em sala de aula e em sua apostila à figura acima. 
Adaptada da prova nacional de Filosofia e Ética do programa de Certificação de Qualidade FGV, 2017.1 
11 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
 
Questão 2 
As imagens a seguir dizem respeito ao tratamento dado às propagandas de cigarro 
no Brasil. A primeira imagem é da década de 1970, a segunda mostra uma 
embalagem de cigarro hoje, já que uma lei obriga que as embalagens advirtam os 
consumidores sobre os riscos do fumo. 
 
 
 
A partir da comparação entre as duas imagens e considerando o que elas 
representam, no que diz respeito ao conceito de valor, o que se pode inferir? 
Adaptada da prova nacional de Filosofia e Ética do programa de Certificação de Qualidade FGV, 2017.1 
Questão 3 
Considere a charge a seguir: 
 
 
A charge acima, utilizando-se da ironia, chama a atenção para o papel da Filosofia 
em nossas vidas. Considerando a charge, qual seria esse papel da Filosofia? 
Adaptada da prova nacional de Filosofia e Ética do programa de Certificação de Qualidade FGV, 2017.1 
12 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Capítulo 2 – Outros temas da filosofia 
Já é de nosso conhecimento que a filosofia nasceu entre os gregos, no século VI 
a.C. Esse modo de pensar, essa postura diante do mundo, que vai além da aparência 
dos fenômenos, em seu nascimento, englobava tanto a indagação filosófica, quanto 
o que chamamos hoje de conhecimento científico (Aranha e Martins, 2005). O 
filósofo teorizava sobre todos os assuntos, até que no século XVII, com Galileu 
Galilei e o aperfeiçoamentodo método científico, a ciência passa a se constituir como 
uma forma específica de abordagem da realidade, estabelecendo seu campo. 
Ainda assim, a reflexão filosófica seguiu se interessando pelos mais variados temas: 
a ciência, seus valores e seus métodos, seus mitos; a religião; a arte; o ser humano 
em sua vida cotidiana. Enfim, tudo pode vir a ser objeto da reflexão filosófica (Idem), 
pois 
“A filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas 
importunas, abre a porta das possibilidades, faz-nos entrever outros mundos e outros modos de 
compreender a vida.” (Ibidem: 12) 
Dentre os temas de interesse da filosofia, podemos destacar: o conhecimento, a 
metafísica, a moral, a mente, a religião, a política e a ciência, só para citar alguns 
exemplos. 
Um dos mais antigos temas da filosofia é aquele que busca responder a questões 
fundamentais sobre a natureza da realidade, a metafísica. A questão fundamental 
da metafísica seria “o que é?” 
“A metafísica é a investigação filosófica que gira em torno da pergunta ‘O que é’?. Este ‘é’ possui dois 
sentidos: 
1. Significa ‘existe’, de modo que a pergunta se refere à existência da realidade e pode ser transcrita 
como: ‘O que existe?’ 
2. Significa ‘natureza própria de alguma coisa’, de modo que a pergunta se refere à essência da 
realidade, podendo ser transcrita como: ‘Qual é a essência daquilo que existe?’ 
Existência e essência da realidade em seus múltiplos aspectos são assim, os temas principais da 
metafísica que investiga os fundamentos, os princípios e as causas de todas as coisas e o Ser íntimo 
de todas as coisas, indagando por que existem e por que são a questão.” (Chauí, 2010:180,181) 
Vale acrescentar que a palavra metafísica não foi empregada pelos filósofos gregos, 
ela foi usada pela primeira vez para denominar o conjunto de escritos que, segundo 
13 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
a classificação de Andrônico de Rodes,2 localizavam-se após os tratados sobre física 
ou sobre a natureza. Meta: “após, depois”; tà physica: “aqueles da física”. “Assim, a 
expressão tà meta tà physica significa literalmente ‘aqueles [escritos] que estão 
[catalogados] após os [escritos] da física”. (Idem:183) 
Outro tema da filosofia diz respeito aos questionamentos sobre “o que é a mente”? 
A questão reside no âmago da filosofia da mente e, apesar dos esforços de alguns 
dos maiores filósofos e cientistas do mundo, continua sendo profundamente 
desconcertante. Não menos desconcertante tem sido a busca pela resposta sobre a 
existência de Deus. Ao indagar como Deus é, como podemos saber sobre Deus e 
como devemos compreender a linguagem e a crença religiosas, a filosofia da 
religião discute o lugar da razão na formação da crença religiosa. 
Seria um erro considerar cada um desses temas da filosofia como campos de 
investigação estanques. 
Eles se sobrepõem. 
Bem, nós não vamos estudar aqui todas as áreas investigadas pela filosofia. 
Privilegiaremos aquelas cujas ideias e discussões consideramos essenciais a um 
administrador. Focaremos, portanto, nossa atenção no Conhecimento, na Filosofia 
Moral e na Filosofia Política. 
2.1. O conhecimento 
Quando a filosofia se volta para o tema do conhecimento, ela pretende descobrir o 
que é possível saber, como se chega ao que se sabe e o que é conhecimento. Na 
verdade, essas seriam as questões centrais para a filosofia como um todo. 
Dá-se o nome de conhecimento à relação que se estabelece entre um sujeito 
cognoscente (ou uma consciência) e um objeto. 
O conhecimento pode ser definido como a apreensão do objeto pelo sujeito. Nesse 
sentido, haveria diversos tipos de conhecimento: 
 conhecimento por contato (“conheço bem minha cidade”) 
 enquanto habilidade (“sei dirigir”) 
 conhecimento proposicional (“sei que águias são aves”) 
A filosofia volta-se, sobretudo, para o terceiro: o que é conhecer uma proposição? 
 
2 Andrônico de Rodes usou pela primeira vez a palavra metafísica, por volta do ano 50 a.C., quando 
da sua organização e classificação da obra de Aristóteles. 
14 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Proposição = enunciado declarativo que faz uma afirmação. 
Na vida diária, damos por certo que podemos “saber” tais proposições, confiando, 
por exemplo, nas evidências imediatas de nossos sentidos ou lembrando o que 
aprendemos no passado. Mas será que conhecemos de fato tanto quanto pensamos 
conhecer? 
Em filosofia, a questão do que podemos conhecer é de importância fundamental. 
Mas o que se entende por conhecimento? Para Platão,3 conhecimento é a crença 
verdadeira justificada. Crenças devem ser tanto verdadeiras quanto apoiadas por 
fortes evidências para se qualificarem como conhecimento. Mas essa definição foi 
criticada. Um debate que é travado nesse campo põe em relação dois caminhos: 
 Visão racionalista  procura estabelecer se a razão pura pode produzir 
conhecimento por si só. 
 Visão empirista  acredita que dependemos da experiência sensorial para 
chegarmos ao conhecimento. 
De toda forma, para alguns pensadores, o conhecimento almeja ser verdadeiro. 
Seria o desejo do verdadeiro que moveria a Filosofia e suscitaria filosofias. 
 
2.2. A verdade como um valor 
Quando dizemos que uma casa é verdadeira, estamos dizendo que ela existe na 
realidade, ou seja, não é um desenho de uma casa ou uma casa de brinquedo. O 
sentido do termo verdade no senso comum é existência real. 
Em filosofia, verdade não qualifica o objeto, mas é um valor que diz respeito aos 
juízos e às asserções sobre lógica. Para saber se esses juízos e afirmações são 
verdadeiros, há pelo menos quatro critérios: 
 Evidência: algo que é considerado coletivamente, não pode ser recusado como 
verdade. 
 Conformidade: pressupõe a identidade entre a verdade do ser e a verdade do 
conhecimento. 
 Êxito: o conhecimento será verdadeiro se os resultados e as suas aplicações 
práticas forem úteis e puderem ser verificados. 
 
3 Platão faz essa afirmação no Teeteto, diálogo escrito por ele no qual o autor discorre sobre a 
natureza do conhecimento. 
15 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
 Não contradição: é a verdade lógica que se dá dentro de uma determinada 
linguagem, podendo ser atingida obedecendo-se às normas e ao funcionamento 
dessa linguagem. 
Ao longo da história, os filósofos adotaram concepções diferentes de verdade, 
dependendo da sociedade e da cultura em que estavam inseridos bem como da 
corrente filosófica à qual estavam ligados. 
2.3. Filosofia Política 
Caracterizada como o estudo de como organizamos nossas sociedades, o modo 
como realmente fazemos e o modo como poderíamos fazê-lo para torná-las 
melhores, a filosofia política enfrenta o desafio de descobrir o que termos como 
liberdade, igualdade, justiça, direitos, por exemplo, significam de fato, e o que 
podemos fazer para colocá-los em prática de modo articulado. 
A articulação desses termos e suas relações com a moral nos remetem à tensão 
entre a ética e a polícia. A filosofia política busca dar conta das reflexões acerca das 
concepções que nos dizem o que é moralidade e ajudam a descrever o que é 
importante numa vida moral, além de refletirem sobre o fenômeno político, 
elaborando teorias para explicar sua origem, finalidade e suas formas. 
Filósofos se ocuparam de política desde o tempo dos gregos antigos. A República, 
de Platão, que expôs sua visão sobre como uma comunidade política ideal deveria 
funcionar, inaugurou um debate que prossegue até os dias de hoje. A Filosofia 
Política pergunta-se sobre as ideias-chave que regulam e moldam nossas vidas 
políticas – conceitos como justiça, igualdade e liberdade. Ao longo da história, vários 
filósofos pensaram a respeitodessas ideias-chave, relacionando-as com a moral e 
a ética. 
A palavra política vem do termo grego polis, que significa “cidade”, sendo arte de 
governar, de gerir os destinos da cidade. Costuma-se dizer que a política como 
reflexão surgiu na Grécia nos séculos V a.C. e IV a.C. com os sofistas, e, depois, 
com Platão e Aristóteles, que buscavam explicar as virtudes e mazelas das formas 
de governar, propondo a melhor maneira de agir na vida pública. 
“Política e Filosofia nasceram na mesma época. Por serem contemporâneas, diz-se que ‘a Filosofia 
é filha da pólis’ e muitos dos primeiros filósofos (os chamados pré-socráticos) foram chefes políticos 
e legisladores de suas cidades. Por sua origem, a Filosofia não cessou de refletir sobre o fenômeno 
16 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
político, elaborando teorias para explicar a origem dele, sua finalidade e suas formas.” (Chauí, 2010: 
355) 
A Política teria como finalidade a vida justa e feliz, sendo inseparável da Ética. Para 
os gregos, era inconcebível a Ética fora da comunidade política, pois nela a natureza 
ou essência humana encontrava sua realização mais alta. Sendo assim, Ética (no 
sentido de estudo dos problemas individuais) e Política (no sentido de estudo dos 
problemas sociais) eram inseparáveis para os antigos. 
No período helenístico, e posteriormente em Roma, surgem alguns movimentos com 
preocupações basicamente éticas, centrados nos indivíduos. Na Idade Média, o 
Cristianismo introduz noções que serão essenciais na formação da consciência ética 
ocidental. É somente a partir do Renascimento que o poder político começa a se 
libertar da teologia, diferenciando Estado de Igreja. 
Baseando-se nessas ideias, alguns autores – como Hermano Roberto Thiry-
Cherques – optaram por classificar essas concepções e seus principais teóricos em 
correntes éticas. Em cada uma delas, encontraremos teorias relacionadas à Ética e 
à Política de forma entrelaçada. Daqui por diante, encontraremos algumas 
concepções éticas correlacionadas ao tempo e aos filósofos que delas se ocuparam. 
2.4. Praticando – Reflexões 
Veja esta gravura de MC Escher: 
17 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
 
Queda de Água 
Observe a cascata com cuidado. O que você percebeu? 
E as torres? São da mesma altura? Mas, e a da direita? Não está em um andar mais 
baixo do que a da esquerda? 
Maurits Cornelis Escher (1898 - 1972) 
Foi um artista gráfico holandês conhecido pelas suas xilogravuras, litografias e 
meios-tons (mezzotints), que tendem a representar construções impossíveis, 
preenchimento regular do plano, explorações do infinito e as metamorfoses – 
padrões geométricos entrecruzados que se transformam gradualmente para formas 
completamente diferentes. 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Maurits_Cornelis_Escher 
 
Mas o que Escher tem a ver com o que estamos falando? 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Maurits_Cornelis_Escher
18 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
É que a busca do que podemos saber e conhecer começa, muitas vezes, com uma 
questão fundamental: as aparências são um bom guia da realidade? 
Por vezes, podemos ser enganados pelo que ocorre diante dos nossos olhos. 
Capítulo 3 – Os Antigos 
 
“No período que vai de Tales a Sócrates, muitas das grandes questões filosóficas, se não todas, já 
haviam sido levantadas. Com a física jônica, emerge a razão, que se afirma como instrumento 
adequado para a aquisisção do conhecimento. Mas cedo se descobre que a razão não somente 
explica as coisas. Ao contrário. Ela descobre dificuldades lá onde ninguém suspeitava que as 
houvesse.” (Iglésias, 1986:46) 
 
Como todas as criações e instituições humanas, a filosofia está na história e tem 
uma história. Está na história, pois manifesta e exprime os problemas e questões 
que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos diante 
do que é novo e ainda não foi compreendido. Tem uma história, já que as resposta 
e soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-
se saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem. 
E é com o olhar voltado para essa linha de tempo imaginária que vamos seguir 
trilhando nosso caminho. Nossa proposta é fazer um passeio pela história da 
filosofia, refletindo acerca das ideias e principais pensadores de cada época, 
relacionando suas ideias a temas com as concepções concernentes ao 
conhecimento e à ética. 
A proposta é iniciar nossa jornada pela Grécia antiga, já que os primeiros registros 
de pensamento propriamente filosófico remontam ao ano de 585 a.C. e ligam-se a 
Tales, de Mileto, uma colônia grega que se localizava na costa da Ásia Menor. Mas, 
se como afirmou Aristóteles, a filosofia começa com o espanto, pressupõe-se que 
ela deva ser tão antiga quanto a própria humanidade. No entanto, até onde se sabe, 
antes de 600 a.C., “as reações aos enigmas próprios da condição humana eram 
míticas e religiosas, emvolvendo apelo à tradição e ao sobrenatural.” (Law, 2011:24). 
É, portanto, nesse período que se verifica a transição da elaboração cognitiva para 
um outro nível, que será o da filosofia que então se inaugura. 
19 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
3.1. O conhecimento mítico 
 
Desde seu nascimento, a filosofia debruça-se sobre os conteúdos da consciência 
mítica, tentando dar-lhes interpretações teóricas. O processo de diferenciação entre 
mito e filosofia foi longo e necessário para que a filosofia formulasse o que é e qual 
é sua função. 
Mas, o que é um mito? A palavra mito vem do grego, mythós, que significa discurso, 
mensagem, palavra, assunto, invenção, lenda, relato imaginário. Um mito é uma 
narrativa sobre a origem de alguma coisa por meio de lutas, alianças e relações 
sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. 
O mito de Narciso 
 
Narciso era um belo rapaz, filho do deus Céfiso e da ninfa Liríope. Por ocasião de 
seu nascimento, seus pais consultaram o oráculo Tirésias para saber qual seria o 
destino do menino. A resposta foi que ele teria uma longa vida, se nunca visse a 
própria face. 
Muitas moças e ninfas apaixonaram-se por Narciso quando ele chegou à idade 
adulta. Porém, o belo jovem não se interessava por nenhuma delas. A ninfa Eco, 
uma das mais apaixonadas, não se conformou com a indiferença de Narciso e 
afastou-se amargurada para um lugar deserto, onde definhou até que somente 
restaram dela os gemidos. As moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-
las. 
Nêmesis apiedou-se delas e induziu Narciso, depois de uma caçada num dia muito 
quente, a debruçar-se numa fonte para beber água. Descuidando-se de tudo o mais, 
ele permaneceu imóvel na contemplação ininterrupta de sua face refletida e assim 
20 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
morreu. No próprio Hades ele tentava ver nas águas do Estige as feições pelas quais 
se apaixonara.4 
Você conhece algum mito? 
Será que a razão substitui os mitos? 
Os mitos são irracionais? 
3.2. Os Pré-Socráticos 
Os filósofos dessa época assim foram denominados não somente porque viveram e 
desenvolveram suas ideias no período anterior a Sócrates, mas porque possuíam 
uma unidade temática, a physis (Mattar, 2010). 
Nesse período, a filosofia ocupa-se fundamentalmente da origem do mundo e das 
causas das transformações das substâncias, sendo os filósofos observadores e 
estudiosos da natureza. Por esse motivo, são lembrados como “filósofos da 
natureza”. 
Suas ideias apresentam uma mescla de concepções metafísicas e místico-
religiosas. Preocupam-se com o problema da “substância” universal que daria 
origem a todas as coisas e as teria constituído. Tales, citado anteriormente, dirá o 
que é a água; Anaxímenes, o ar; Anaximandro, uma substância indefinida, apeiron 
(Prado Junior, 2008:30). 
Há, ainda, algunsdos filósofos pré-socráticos que percebem que a multiplicidade e 
a instabilidade das feições naturais seriam atribuídas à ilusão enganadora dos 
sentidos. Por trás dessa ilusão estaria a verdadeira realidade, onde se encontram a 
uniformidade e permanência. A busca desses filósofos segue sendo pela identidade 
desse princípio ideal. Esse princípio unificador da natureza varia segundo os 
filósofos: para Pitágoras, serão os números; para Parmênides, o SER; para Heráclito, 
o Logos; para Anaxágoras, o Nous (Idem: 34). 
Temos, portanto, os chamados monistas, de um lado, que acreditam que a origem 
da realidade se reduz a apenas um elemento, e os atomistas, de outro, que admitem 
o átomo (partículas indivisíveis e invisíveis) como os elementos primordiais do 
universo. 
 
4 Irene Machado. Literatura e redação. São Paulo: Scipione, 1994, p. 142-3. Resumo da autora a partir 
do Dicionário de mitologia grega e romana, de Mário da Gama Kury. Fonte: http://tempo-de-
ler.blogspot.com/2009/06/o-mito-de-narciso.html Acesso em 11/2016 
 
21 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Você sabia que Pitágoras de Samos via a matemática como elemento essencial para 
a compreensão do mundo? O pitagorismo, além de escola filosófica, também foi uma 
seita política, religiosa e moral. 
3.3. Os Sofistas 
Durante muitos séculos, os chamados “sofistas” fizeram parte da história da retórica, 
da literatura, mas não da filosofia. Os estudiosos contemporânos já os incorporaram 
como parte da história da filosofia, havendo, portanto, uma mudança no modo como 
se leem hoje os textos do passado (Marques, 2007). 
“Mas, para compreendermos o início dessa história toda, temos que voltar a Platão, pois foi ele quem 
primeiro incluiu os ‘sofistas’ nesse grande debate que é a história da filosofia; ou melhor, ‘incluiu 
excluindo’, pois, em seus diálogos, os ‘sofistas’ são personagens que dialogam com Sócrates e que 
servem como contraponto para Platão definir o que é o filósofo.” (Idem:15) 
Platão considerava que o que os sofistas faziam era o uso e o estudo da linguagem, 
dos modos de dizer as coisas (retórica), mas, a despeito de toda essa discussão, o 
que não se pode negar é que com os sofistas é que a filosofia se torna antropológica, 
já que a Natureza é substiuída pelo homem, que passa a ser o principal objeto da 
reflexão filosófica. 
Os sofistas utilizavam-se da persuasão e criticavam os ensinamentos dos filósofos 
cosmologistas, considerando que estes estariam repletos de erros e contradições e 
que não tinham utilidade para a vida da pólis. Eles se autodenominavam mestres da 
oratória, afirmando ser possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons 
cidadãos (Chauí, 2010). 
O fato é que sob o governo de Péricles, a economia ateniense experimentou um 
grande impulso. O desenvolvimento do comércio marítimo, da indústria mineradora, 
do artesanato, do setor de construções públicas, das exportações, fez com que uma 
classe de “novos-ricos não nobres” emergisse e passasse a exercer e a disputar o 
poder ao lado dos aristocratas de sangue (Marques, 2007). 
“Os antigos e os novos ricos passam a se opor, ou se aliar, em circunstâncias diferentes, de acordo 
com os interesses ou os problemas em debate na cena política (...) o número de processos civis 
cresce enomermente, os quais passam a ser tratados nos tribunais; os sofistas e outros intelectuais 
participam dessas circunstâncias, oferendo à classe emergente uma educação (paideía)” (Idem: 
23,24). 
22 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Os sofistas passam a cobrar pela formação que oferecem aos cidadãos, prática que 
chocou os aristocratas e provocou indignação. Como críticos do social, as 
discussões sobre as relações entre o homem e o Estado tornam-se primordiais em 
suas reflexões, desprezando discussões filosóficas para as quais não se poderiam 
encontrar respostas (Mattar, 2010). É o homem que passa a ser a medida de todas 
as coisas.5 
3.4. Sócrates 
Nasceu em 469 a.C., em Atenas. Sua filosofia, seus ensinamentos e sua vida nos 
são descritos por seu discípulo Platão, já que Sócrates nada escreveu. 
Sócrates considerava que reconhecer a própria ignorância seria o primeiro passo 
para o conhecimento, já que é partir dessa premissa que passamos a buscar aquilo 
que não conhecemos. É com esse espírito crítico, que considerava de extrema 
relevância para o pensar, que Sócrates vai posicionar-se contra os sofistas, na busca 
por valores absolutos por meio de uma forma de conhecimento científica. 
Interessava-se, sobretudo, pelas questões morais que afetavam a vida dos 
indivíduos. Dentre suas ideias sobre ética, destacamos sua tese de que a integridade 
moral é sua própria recompensa. 
“[..] ele dizia que fazer o mal prejudica o perpetrador muito mais do que aqueles a quem o mal é feito, 
pois, embora infortúnios externos possam nos ocorrer, a verdadeira boa vida consiste na pureza da 
alma” (Law, 2011:242) 
Para Sócrates, ninguém fazia o mal intencionalmente, mas por pura ignorância, por 
não saber que se estava praticando o mal. Nesse sentido, considerava que sua 
missão era, portanto, expor a ignorância dos outros quanto à verdadeira natureza 
dessas virtudes (Idem). O processo de questionamento a que expõe seus 
interlocutores, em seus diálogos filosóficos, é denominado maiêutica, propondo não 
ensinar, mas antes, aprender por meio de perguntas. 
Sócrates acreditava que seu talento residia em ajudar os outros a buscar dentro de 
si um conhecimento que lhe seria inato e que residiria em suas mentes. Indo além, 
propunha que, antes de querer conhecer a natureza e antes de querer persuadir os 
outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. 
 
5 É de Protágoras, um sofista que viveu no século V a.C., essa conhecida máxima: “ O homem é a 
medida de todas as coisas” (Mattar, 2010:17). 
23 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
3.5. Platão 
Nascido em Atenas, entre os anos 429 e 427 a.C., em uma família nobre, esse 
discípulo de Sócrates foi o primeiro filósofo a produzir um corpo de obras substancial. 
A maioria de suas obras tem forma de diáologos e é o mundo das ideias, das formas 
e dos conceitos que se constitui como primordial em sua filosofia. 
Em aproximadamente 387 a.C., Platão funda a Academia, uma instituição 
permanente de pesquisa e ensino, o primeiro modelo de universidade. 
“O objetivo da Academia platônica não é apenas realizar investigações científicas e filosóficas; 
pretende ser também um centro de preparação para uma atuação política baseada na busca da 
verdade e da justiça.” (Pessanha, 1986:54) 
A filosofia desenvolvida na Academia não é uma doutrina fixada e rígida, mas uma 
investigação sempre aberta, preconizando uma verdadeira ginástica do espírito, um 
constante exercício para pensar. 
E é exercitando esse pensar que Platão propõe que se afirme hipoteticamente a 
existência de “formas” ou “essências” ou “ideias” que seriam modelos eternos das 
coisas sensíveis (Idem). Nesse sentido, as “imagens” ou os dados da experiência 
são reflexos ou cópias aproximadas e imperfeitas das “ideias”, pois são as “ideias” 
que constituem “representação” da Realidade (Prado Júnior, 2008:41). Partindo 
dessa premissa, Platão analisa as ideias buscando determinar a natureza e 
estruturação, a disposição relativa em que elas em conjunto se articulam e se 
entrosam entre si, sua derivação e filiação umas das outras (Idem). 
“Se quisermos alcançar o conhecimento puro de alguma coisa, devemos nos afastar do corpo e 
contemplar as coisas por si mesmas com a alma por si mesma” (Platão, Fédon 66 a, op cit Law, 
2011:244). 
Existe, portanto, diferença entre o mundo sensível, das aparências, e o mundo 
inteligível, das ideias. 
3.6. AristótelesAristóteles nasceu em Estagira, no norte da Grécia, em 384 a.C. Estudou na 
Academia de Platão, de quem se afasta, no que diz repeito às ideias, já que elimina 
a distinção estabelecida por seu mestre entre os objetos da ciência e da filosofia 
(Prado Junior, 2008). Sua obra busca dar conta do Universo, abordando todos os 
campos do conhecimento, proporcionando o encontro entre a filosofia e a ciência 
natural. 
24 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Aristóteles integra as “ideias” platônicas às “coisas” da realidade sensível. 
“Para ele, o que Platão designa por ‘ideias’ não são mais que diferentes maneiras com que 
concebemos as coisas (...). Mas essas maneiras de conceber as coisas, ou seja, as ‘categorias’ do 
entendimento (substância, qualidade, quantidade, relação, lugar, tempo, situação, maneira de ser, 
ação sofrida), constituem para Aristóteles maneiras de ser das próprias coisas” (Idem:42). 
Os seres seriam, dessa forma, constituídos de matéria e forma, e ambas estariam 
no próprio objeto, no próprio mundo sensível. O que Aristóteles está defendendo é a 
possibilidade de uma ciência sobre o real concreto, já que, para ele, seria possível 
conhecer esse real concreto e mutável, por meio de definições e conceitos que 
permanecem inalterados. Essa premissa está fundada na crença de que o Universo 
seria um todo ordenado segundo leis constantes e imutáveis (Faria, 1989:69). 
É Aristóteles que funda a lógica formal como ciência, caracterizando-se como um 
instrumental que poderia servir a todas as ciências, sendo formal porque não 
estudaria nenhum conteúdo específico, mas apenas as regras do raciocínio (Mattar, 
2011). 
“Lógica significa, simplesmente, a arte e o métodos do pensamento correto. É a logia ou método de 
toda ciência, de toda disciplina e de todas as artes; e até a música a contém. É uma ciência porque, 
numa proporção muitíssimo elevada, os processos de pensamento correto podem ser reduzidos a 
regras como a física e a geometria, e ensinados a qualquer inteligência normal; é uma arte, porque, 
pela prática, dá ao pensamento, afinal, aquela precisão inconsciente e imediata que guia os dedos 
do pianista sobre o seu instrumento para extrair harmonias sem esforço. Nada é tão enfadonho quanto 
a lógica, e nada tão importante.” (Durant, 1996:76,77) 
Uma das muitas contribuições de Aristóteles para a filosofia é a chamada doutrina 
do silogismo,6 instrumento que utiliza para realizar sua dedução do particular a partir 
do universal. 
Segundo Marilena Chauí (2010), a Filosofia, para Aristóteles, encontraria seu ponto 
mais alto na metafísica e na teologia. A primeira caracteriza-se por ser a ciência da 
realidade pura, daquilo que deve haver em toda e qualquer realidade, do ser ou 
substância de tudo o que existe. A segunda, por ser a ciência das coisas divinas, 
“que são a causa e finalidade de tudo o que existe na natureza e no homem” 
(Idem:44). 
 
6 “Um silogismo é um trio de proposições das quais a terceira (a conclusão) segue-se da verdade 
admitida das outras duas (as premissas ‘maior ‘ e ‘menor’). Por exemplo, o homem é um animal 
racional; mas Sócrates é homem; portanto, Sócrates é um animal racional” (Durant, 1996:79). 
25 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Lógica: Estudo dos métodos e princípios da argumentação. Investigação das 
condições em que a conclusão de um argumento se segue necessariamente de suas 
premissas. 
3.7. Período Helenístico e Romano 
Esse período é caractarizado como o último período da filosofia antiga. 
Historicamente, é marcado pela perda de hegemonia da pólis grega, que 
desaparece como centro político, deixando de ser referência principal para os 
filósofos. Por outro lado, o pensamento grego se expande para além de suas 
fronteiras, mesclando-se a elementos orientais. 
Os movimentos filosóficos desse período demonstram preocupações éticas com o 
ser humano como ser individual e não mais político, talvez porque os filósofos já não 
podem mais se ocupar diretamente da política, já que esta passa a ser privilégio dos 
imperadores romanos (Cahuí, 2010). 
“Datam desse período quatro grandes sistemas cuja influência será sentida pelo pensamento cristão, 
que começa a formar-se nessa época: estoicismo, epicurismo, ceticismo e noplatonismo” (Idem:45). 
O epicurismo, escola fundada por Epicuro, entende que a serenidade e o prazer7 
deveriam ser as finalidades máximas dos homens. 
Para os estoicos, seguidores do estoicismo fundado por Zenão de Citium, a justiça 
e o dever são os valores mais importantes para o ser humano. Para Zenão de Citium, 
o mundo estava racionalmente ordenado, e a paz de espírito é alcançada mediante 
o controle das paixões. 
Uma outra linha de pensamento defende a impossibilidade de o homem chegar ao 
conhecimento: são os céticos. O ceticismo, fundado por Enesidemo, está baseado 
na ideia de que, embora possamos ter um grande número de crenças, de fato 
sabemos muito menos do que supomos saber. 
Por fim, citaremos os neoplatônicos, seguidores de um movimento fundado por 
Plotino, que, por meio de sua doutrina da trindade (o uno, o intelecto e a alma), 
buscou transpor a lacuna entre a teoria das ideias de Platão e a teologia cristã. Essa 
versão do platonismo determinou o desenvolvimento da matafísica cristã na Idade 
Média. 
 
7 O prazer aqui entendido como ausência de perturbação e de dor. 
 
26 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
3.8. A virtude como justa medida 
Se optássemos por dividir nossos estudos sobre a ética aplicada à gestão em 
“correntes éticas”, tal qual o faz Thiry-Cherques em seu livro Ética para executivos 
(2008), poderíamos dar a impressão de que tais correntes são um capítulo à parte 
dentro de todo o conteúdo teórico metodológico da filosofia. Para que não corramos 
o risco de ser mal interpretados nesse sentido, optamos por trazer à tona as ideias 
de mais destaque em cada escola de pensamento, ou período da história da filosofia, 
que tenham relação direta com a Ética ou Filosofia Moral. 
Nesse movimento, o primeiro passo será considerar as concepções de Aristóteles 
acerca da relação entre ética e política. Tais concepções foram denominadas por 
Thiry-Cherques (Idem) de “economia moral da moderação”, já que, para Aristóteles, 
“o cultivo do espírito nos ensina que as virtudes, sejam dianoéticas, sejam éticas, 
são regidas pela moderação, pelo justo meio” (Ibidem:48). Vejamos o porquê dessa 
denominação e como chegar a essa moderação. 
Em sua Política, Aristóteles nos afirma que, assim como a natureza do universo se 
rege por leis eternas e imutáveis, também o Estado deve ser regido segundo uma 
constituição que traduza, tanto quanto possível, a própria natureza do Estado. O 
papel da filosofia, nesse contexto, seria a de subsidiar teoricamente os governantes 
para que governem com justiça. 
“A associação composta por vários povoados forma uma cidade perfeita, possuindo todos os meios 
de se bastar a si própria, para além de ser atingido, por assim dizer, o fim de toda sociedade. 
Unicamente nascida da necessidade de viver, ela existe para viver em bem-estar e abundância. É por 
isso que podemos dizer que toda cidade é um fato da natureza, visto que foi a natureza que formou 
as primeira associações; porque a cidade, ou sociedade civil, é o fim dessas associações.” 
(Aristóteles, Política. Op cit. Faria, 1989:82) 
Sendo os seres humanos fundamentalmente seres sociais, o governo é visto por 
Aristóteles como uma instituição que deve ajudar os seres humanos a alcançarem 
uma boa vida em sociedade. 
O ser humano deve lutar pelo bem-estar e, para alcançá-lo, é necessário viver 
virtuosamente. 
“Seguindo a concepção de que todas as coisas se regem segundo uma ordem subjacente, que brota 
da próprianatureza e visa o seu pleno desenvolvimento, a virtude aparece como a justa medida, ou 
seja, a medida determinada por essa ordem natural e pelos fins que a sobre-determinam.” (Idem: 83) 
27 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Aristóteles continua e vai nos dizer que o objetivo da vida é a felicidade, e que a ética 
prende-se à felicidade, no que consiste e como é possível alcançá-la. A felicidade é 
o bem supremo, buscado por si mesmo, e que não pode ser objeto de nenhuma 
ciência porque se refere ao ser humano na singularidade da sua existência privada 
e social. 
O caminho que leva o ser humano a essa felicidade é o caminho do meio. O meio-
termo justo se alcança pela ponderação e se rege pelo bom senso. “É o que permite 
escolhermos, cada um de nós, em sua singularidade e na particularidade de seu 
contexto e da sua circunstância, a ação mais sensata” (Thiry-Cherques, 2008:48). 
3.9. Praticando – Conhecendo outras filosofias 
“Enquanto Sócrates e Platão lançavam os fundamentos da filosofia ocidental, Confúcio e Lao-tsé 
inauguraram a era clássica da filosofia chinesa. Ela durou 400 anos e foi enriquecida por pensadores 
como Mozi, Mêncio e Han Fei, todos preocupados sobretudo com questões sociais e políticas que 
fundaram as quatro principais escolas do pensamento chinês.” (Law, 2010:26) 
São elas: o confucionismo, o taoísmo, o moísmo e o legalismo. 
 
Confúcio 
Foto/fonte: 
http://spazioinwind.libero.it/popoli_antichi/Religioni/Confucio.html 
Acesso em: 11/2017 
Já a filosofia indiana nasce a partir de um conjunto de escritos religiosos antigos que 
remontam ao século XIV a.C., os Vedas. Várias escolas de pensamento surgiram 
em reação aos Vedas, aceitando ou questionando seus dogmas, dentre essas 
últimas podemos citar o Budismo, fundado por Sidarta Gautama (Idem). 
 
Sidarta Gautama - Buda 
http://spazioinwind.libero.it/popoli_antichi/Religioni/Confucio.html
28 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
 
Estátua gigante de Buda, em Hong Kong. 
(Bule Sky Studio / Shutterstock.com) 
 
Foto/fonte: 
https://www.infoescola.com/religiao/budismo/ 
Acesso em: 12/2018 
 
 
“Meio milênio antes de Cristo, o príncipe hindu Sidarta Gautama deixou seu luxuoso 
palácio e sua família para seguir os passos da mendicância, do jejum, da meditação. 
E acabou criando uma religião que crê no homem e que, hoje, influencia cada vez 
mais pessoas no Ocidente.” 
Texto/fonte: 
https://super.abril.com.br/historia/o-principe-hindu-sidarta-gautama-o-iluminado/ 
Acesso em: 12/2018 
 
Capítulo 4 – Filosofia Patrística e Filosofia Escolástica 
 
O problema central enfrentado pelos pensadores que marcaram a filosofia no 
período que compreende a chamada Idade Média era a conciliação das exigências 
da razão humana com a relevância divina. Pensadores judeus, cristãos e 
muçulmanos buscaram combinar a filosofia grega e romana com a ortodoxia religiosa 
(Law, 2011). 
Nesse período, a cultura urbana transforma-se em cultura rural, o feudalismo se 
caracteriza como organização sociopolítica e, com a queda do Império Romano e as 
invasões bárbaras, a Igreja torna-se a instituição detentora do saber, e a fé 
https://www.infoescola.com/religiao/budismo/
https://super.abril.com.br/historia/o-principe-hindu-sidarta-gautama-o-iluminado/
29 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
estabelece-se como padrão de conhecimento. A Idade Média foi, portanto, dominada 
pela teologia (Mattar, 2010) e pela Filosofia Cristã, que, influenciada pelo 
Cristianismo, predominou no Ocidente, principalmente na Europa, no período entre 
o século I ao XIV de nossa era (Costa, 1986). 
Tal período compreende duas épocas, a primeira conhecida como filosofia patrística, 
e a segunda conhecida por filosofia escolástica ou medieval. 
4.1. A filosofia patrística e Santo Agostinho 
Segundo Chauí (2010), a filosofia patrística compreende o período que vai do século 
I ao século VII e se inicia com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São 
João. Essa denominação lhe foi atribuída pois as obras desse período foram 
elaboradas pelos apóstolos Paulo e João e pelos chamados Padres da Igreja. 
“A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros 
padres da Igreja para conciliar a nova religião – o Cristianismo – com o pensamento filosófico dos 
gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos à nova 
verdade e convertê-los a ela. A Filosofia Patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da 
evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos 
antigos.” (Idem: 46) 
Duas linhas de pensamento carcaterizaram a filosofia patrísitica: uma tratava da 
possibilidade de conciliar razão e fé; a outra acreditava na impossibilidade desse 
feito. O fato é que se podem distinguir três posições a esse respeito. A primeira 
agrupava os pensadores que julgavam fé e razão inconciliáveis, considerando a fé 
superior à razão. A segunda reunia aqueles que consideram ser possível a 
conciliação entre razão e fé, no entanto, subordinavam a primeira à segunda. Por 
fim, temos um terceiro grupo de pensadores que não acreditava na conciliação entre 
razão e fé, mas afirmava que cada uma delas possuía um campo próprio de 
conhecimento e que esses campos não deviam ser misturados. 
É com Santo Agostinho que se superam “as vacilações, dúvidas e desconfianças 
em relação a dar acolhida, no Cristianismo, à filosofia antiga” (Costa, 1986:90). 
Tendo sido professor de retórica antes de se converter ao Cristianismo, Agostinho 
de Hipona, ou Santo Agostinho, viveu entre os anos 354 e 430. Suas obras mais 
conhecidas são sua autobiografia Confissões e sua descrição do reino de Deus, 
intitulada Cidade de Deus. 
30 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Ao reinterpretar o platonismo, busca conciliá-lo com os dogmas do Cristianismo, 
afirmando que a verdade vislumbrada por Platão é a mesma que se manifesta de 
forma plena na revelação cristã. Sendo assim, Deus criaria as coisas a partir de 
modelos imutáveis e eternos, ou seja, as ideias divinas. Essas ideias existiriam na 
mente ou sabedoria divina, conforme testemunho da Bíblia, e não em um mundo à 
parte, como acreditava Platão (Idem). 
“A ideia neoplatônica de um mundo imaterial de ideias e do bem ou uno como princípio primeiro de 
todo ser dava lugar para um criador espiritual que é causa de todas as coisas.” (Law, 2011:257) 
4.2. A filosofia escolástica e São Tomás de Aquino 
A filosofia medieval, que vai do século VIII ao século XIV, encontra um cenário 
diferente do período patrístico. As traduções dos gregos já são lidas por intermédio 
dos árabes, surge a liberdade de pensamento e de espírito nas universidades do 
século XIII, representando o deslocamento dos centros de estudos das abadias para 
as catedrais e cidades. 
“Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Romana dominava a 
Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as 
primeiras universidades ou escolas. E, a partir do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a 
Filosofia medieval também passa a ser conhecida com o nome de escolástica.”( Chauí, 2010:47) 
À discussão já presente na filosofia patrística – conexão entre a filosofia clássica e o 
Cristianismo – a escolástica acrescenta o Problema dos Universais. Segundo Mattar 
(2011), os “universais” seriam conceitos que nos permitem utilizar a palavra “homem” 
para nos referirmos a todos os homens, e não apenas a um indivíduo, um homem 
individual. A questão que se estabelece como um “problema” é justamente se tais 
universais teriam uma existência objetiva, para além da mente do sujeito que se 
utiliza da linguagem. Essa pergunta poderia ser respondida de diversas formas a 
depender da correntede pensamento. De um lado, afirmava-se que tais universais 
possuíam algum tipo de existência na realidade, além do próprio pensamento. De 
outro lado, acreditava-se que os universais seriam apenas características da 
linguagem, do pensamento, não possuindo existência na realidade. Trata-se, 
respectivamente, dos realistas e dos nominalistas. Na verdade, tal discussão 
persiste, desde então, nas reflexões ocidentais (Idem). 
É nesse período que nasce propriamente a chamada filosofia cristã, que é, na 
verdade, a teologia. Um de seus temas mais recorrentes são as provas da existência 
de Deus e da imortalidade da alma (Chauí, 2010). 
31 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Santo Ancelmo e Pedro Abelardo são considerados os fundadores da escolástica 
medieval e não mediram esforços para tentar compreender com a razão as verdades 
da revelação, ou seja, buscaram explicar racionalmente as verdades da fé. Mas é 
São Tomás de Aquino o representante do apogeu dessa filosofia. Seus esforços 
foram guiados no sentido de “cristianizar” a filosofia aristotélica. 
Canonizado pelo Papa João XXII em 1323, São Tomás de Aquino nasceu em 1225 
em uma família nobre no reino de Nápoles e viveu até 1274. O autor da Suma 
Teológica buscou a unificação entre a filosofia e a teologia, valorizando o mundo 
sensível como fonte de conhecimento. Distinguiu dois caminhos para a aquisição do 
conhecimento: o raciocínio e a revelação. O conteúdo das verdades reveladas, no 
entanto, estaria acima da capacidade da razão natural. 
Tanto a teologia quanto a filosofia poderiam tratar do mesmo objeto. Entretanto, a 
filosofia utilizaria as luzes da razão natural, enquanto a teologia se valeria das luzes 
da razão divina manifestada na revelação. Desse modo, São Tomás de Aquino 
parece encontrar o equilíbrio entre fé e razão, distinguindo-as, mas não as separando 
necessariamente (Costa, 1986). 
“Há verdades sobre Deus que excedem toda capacidade da razão humana... Mas há algumas que a 
razão natural também é capaz de alcançar. Por exemplo, que Deus existe.” (Suma contra os gentios, 
Livro 1. Op Cit, Law, 2011:264) 
4.3. Moral e religião na Idade Média 
 
“Deus não é a fonte dos males... Eles existem devido ao pecado voluntário da alma, à qual Deus deu 
livre Escolha.” ( Santo Agostinho, Contra fortunatum manichaeum, Acta seu disputaio cap. 20. Op cit, 
Law, 2011:257) 
Com a expansão do Cristianismo, a cultura ocidental foi marcada pela tradição moral 
fundada nos valores religiosos e na crença em uma vida após a morte. Nesse 
contexto, os valores são entendidos como algo transcendente, posto que resultam 
de doação divina, o que leva à identificação da pessoa moral com o ser temente a 
Deus (Aranha e Martins, 2005). 
32 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Nessa construção do que Chauí (2010) chama de metafísica cristã, há algumas 
adaptações feitas a partir do neoplatonismo, do estoicismo e do gnosticismo.8 
Embora este último tenha sido considerado herege, há duas ideias que foram 
conservadas e que nos são úteis para a discussão da moral, ambas refletem acerca 
da existência do “mal”: a primeira afirma que o Mal existe realmente, estando 
personificado na figura do demônio. A segunda considera que a matéria seria o 
centro onde o demônio, ou o Mal, agiria sobe o mundo e sobre o homem. A pergunta 
que se faz, portanto, é como lidar com esse problema do Mal? Na verdade, o que 
subjaz a essa pergunta é uma outra questão: se Deus é tão bom, por que teria criado 
o Mal? 
Santo Agostinho a responde apontando um caminho um pouco distinto da tradição 
gnóstica: para ele, o mal não seria algo substantivo, mas uma privação ou falta de 
bem. Para ele, tudo o que Deus criou é bom, o mal só ocorreria quando sua criação 
fosse corrompida. Sendo assim, Deus não poderia ser considerado responsável pela 
criação do mal, já que este decorre das ações livres dos anjos e dos homens (Law, 
2011). 
“Para os cristãos, o homem é livre porque sua vontade é uma capacidade para escolher tanto o bem 
quanto o mal, sendo mais poderosa do que a razão e, pelo pecado original, destinada à perversidade 
a ao vício, de modo que a ação moral só será boa, justa e virtuosa se for guiada pela fé e pela 
revelação.” (Chauí, 2010:194) 
Está também em São Tomás de Aquino a ideia de que a ação moral está ligada à 
vida virtuosa vivida no seio da comunidade, no esforço intelectual e na contemplação 
da essência de Deus. Sua ética parte da concepção de que todas as coisas criadas 
possuem um propósito, e a realização desse propósito é seu bem. 
 
 
8 “O gnosticismo era um dualismo metafísico, isto é, afirmava a existência de dois princípios supremos 
de onde provinha toda a realidade: o Bem, ou a luz imaterial, e o Mal, ou a treva material. Para os 
gnósticos, o mundo natural ou o mundo sensível é resultado da vitória do Mal sobre o Bem e por isso 
afirmavam que a salvação estava em libertar-se da matéria (do corpo) através do conhecimento 
intelectual e do êxtase místico. Gnosticismo vem da palavra grega gnosis, que significa 
‘conhecimento’.” (Chauí, 2010:193) 
 
33 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
4.4. Praticando – Sugestões de Filmes 
 
 
Em 1327, William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano, e Adso von 
Melk (Christian Slater), um noviço, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. 
William de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja 
deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos 
que acontecem no mosteiro. William de Baskerville começa a investigar o caso, que 
se mostra bastante intrincando, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do 
Demônio. William de Baskerville não partilha dessa opinião, mas antes que ele 
conclua as investigações Bernardo Gui (F. Murray Abraham), o Grão-Inquisidor, 
chega no local e está pronto para torturar qualquer suspeito de heresia que tenha 
cometido assassinatos em nome do Diabo. Como não gosta de Baskerville, ele é 
inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são diabolicamente influenciados. Essa 
batalha, junto com uma guerra ideológica entre franciscanos e dominicanos, é 
travada enquanto o motivo dos assassinatos é lentamente solucionado. 
Assista ao trailler: 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-2402/trailer-19533939/ 
Fonte: 
http://www.adorocinema.com/ 
Acesso em: 11/2017 
 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-2402/trailer-19533939/
http://www.adorocinema.com/
34 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
 
No século XII, Abelard (Derek De Lint), um respeitado filósofo e professor em Paris, 
é contratado para ser o tutor da bela e inteligente Heloise (Kim Thomson). 
Rapidamente eles se apaixonam, mas precisam manter seu relacionamento 
escondido de todos, porque Abelard está comprometido com o celibato. 
Fonte: 
http://www.interfilmes.com/filme_20458_Em.Nome.de.Deus-(Stealing.Heaven).html 
Acesso em: 11/2017 
 
Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto pela morte de 
sua esposa e filho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, 
que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém e dedica sua vida a manter 
http://www.interfilmes.com/filme_20458_Em.Nome.de.Deus-(Stealing.Heaven).html
35 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar também a esta meta, mas após a 
morte de Godfrey ele herda terras e um título de nobreza em Jerusalém. 
Determinado a manter seu juramento, Balian decide permanecer no local e servir a 
um rei amaldiçoado como cavaleiro. Paralelamente, ele se apaixona pela princesa 
Sibylla (Eva Green), a irmã do rei. 
Assista ao trailler: 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54205/trailer-19340632/Fonte: 
http://www.adorocinema.com/ 
Acesso em: 11/2017 
 
Capítulo 5 – A Filosofia da Renascença 
“Finda a Idade Média, um espírito de renascimento intelectual e artístico floresceu na Europa. Nesse 
período de inovação e descoberta, surgiu uma nova cepa de pensadores que contestou as ideias 
medievais ortodoxas sobre a ordenação do Universo e da sociedade.” (Law, 2011:34) 
Marcada pela descoberta de obras desconhecidas de Platão e de novas obras de 
Aristóteles, a denominada Filosofia da Renascença expressa o espírito naturalista e 
científico do período que vai do século XIV ao século XVI, o Renascimento. 
Com o sistema feudal dando lugar ao capitalismo, à medida que emergia uma nova 
classe de comerciantes ricos, camponeses e servos são expulsos de suas terras, 
indo em direção à cidade. O comércio se desenvolve, as cidades crescem e surge a 
impressão tipográfica substituindo o pergaminho pelo papel. Todo esse cenário 
propicia a emergência de um novo humanismo nas artes e um espírito de 
redescoberta nas ciências e de questionamento das teorias vigentes sobre o mundo. 
“Francis Bacon (1561-1626) propôs uma nova abordagem ao esforço científico, que ficou conhecida 
como o método da indução. Ele aconselhou os cientistas a começarem com observações do mundo 
usando-as como base para produzir teorias gerais. Essa abordagem contrastava fortemente com a 
tendência dos pensadores medievais a se curvar à autoridade dos modelos tradicionais de 
funcionamento do mundo.” (Idem:35) 
O homem passa a ser valorizado e considerado o centro do Universo, em meio a 
uma efervescência cultural e política que critica a Igreja romana, e culmina com a 
Reforma Protestante que propõe um retorno aos ensinamentos da Bíblia. 
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54205/trailer-19340632/
http://www.adorocinema.com/
36 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Poderíamos dizer que nesse período predominaram linhas de pensamento que 
percebiam o homem como artífice de seu próprio destino, “defendido em sua 
liberdade e em seu poder criador e transformador” (Chauí, 2010:48). Nesse contexto, 
a natureza é concebida como um grande ser vivo, dotada de alma universal, e o 
homem, compreendido como parte dessa natureza. Tem-se, por fim, a recuperação 
da ideia de República, defendendo a liberdade política. 
5.1. Giordano Bruno 
Giordano Bruno nasceu em 1548 e foi morto nas fogueiras da Inquisição em 1600. 
Um pensador heterodoxo, foi influenciado por Nicolau de Cusa, de quem tomou a 
ideia de que o Universo é espacialmente infinito, no qual nosso sistema solar é 
apenas um dos muitos que abrigam vida inteligente e a noção da concordância dos 
opostos. Também se mostrou fascinado por Heráclito, 
Parmênides, Demócrito, Lucrécio e Plotino, Raimundus Lullus e Nicolau Copérnico. 
Buscou demonstrar que o Sol era maior que a Terra e defendeu a infinitude do 
Universo, considerando-o como um conjunto dinâmico que se transforma 
continuamente, num movimento constante. Assim como o Universo, Deus também 
seria infinito, imanente e transcendente ao mesmo tempo, num Universo composto 
de “mônadas” ou átomos animados, estando presente por toda parte, como poder 
infinito. 
Nessa concepção, Deus e matéria nada mais seriam que dois aspectos da mesma 
substância, considerando Deus como alma e princípio ativo do mundo, e a matéria 
como princípio passivo. Foram, portanto, essas ideias, que antecipam Spinoza e 
Leibniz, e seu interesse por magia e astrologia que o puseram no hall dos heréticos 
e merecedores dos tribunais da Inquisição. Por ter se recusado a renegar suas 
ideias, foi condenado à fogueira por esse mesmo tribunal. 
5.2. Maquiavel e a moral de um príncipe 
 
“É uma máxima válida que ações repreensíveis podem se justificar por seus efeitos, e que quando o 
efeito é bom (...) sempre justifica a ação.” (Maquiavel, Discursos 1.9 Op cit, Law, 2011:271) 
No século XVI, enquanto a formulação de teorias políticas partia das obras dos 
filósofos greco-romanos, um diplomata e conselheiro dos governantes de Florença 
parte da experiência real de seu tempo para examinar como os governantes agiam 
de fato. Esse era Nicolau Maquiavel, que viveu entre 1469 e 1527, e escreveu O 
37 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
Príncipe, obra na qual reflete acerca dos desafios da conquista e manutenção do 
poder, sendo a obra inaugural da filosofia política moderna. 
A tradição da política normativa antiga e medieval descrevia o “ideal” do bom 
governo, delineando as virtudes requeridas para um bom soberano, além de partir 
da ideia de que boa comunidade política deveria ser constituída para o bem comum 
e a justiça. A partir das observações diretas dos acontecimentos, Maquiavel percebe 
que tais ideias acerca da política já não eram capazes de compreender o que seria 
o poder e que, sendo assim, uma nova concepção de sociedade e da política 
tornava-se necessária (Chauí, 2010). 
Essa concepção considera que a cidade é um espaço de lutas internas e que estaria 
originalmente dividida por dois desejos opostos: de um lado, o desejo daqueles que 
querem oprimir e comandar, de outro, o povo, que não deseja ser oprimido nem 
comandado. O que, portanto, unificaria e dar-lhe-ia identidade seria o polo superior, 
que é o poder político. “A política não é a lógica racional da justiça e da ética, mas a 
lógica da força transformada em lógica do poder e da lei” (Idem: 369). 
Nessa linha de pensamento, os valores morais que regulam as condutas individuais 
não são os mesmos que regulam a ação política, já que os valores políticos são 
medidos pela eficácia prática e pela utilidade social. 
“A recusa do prevalecimento dos valores da moral pessoal na ação política indica um novo conceito 
de ordem – a ordem mundana como projeto do Estado, e não mais a ordem divina, no caso, expressa 
na moral cristã” (Aranha e Martins, 2005:302). 
Um príncipe precisa ter virtù, ou seja, precisa ter a capacidade de ser flexível às 
circunstâncias, sendo hábil para aparentar integridade moral e estando pronto para 
agir impiedosamente para alcançar suas metas. 
A despeito de rotularem as ideias de Maquiavel, na verdade sua intenção parecia 
ser a de demonstrar que, por vezes, se faz necessário praticar ações que pareçam 
moralmente condenáveis para se atingir um fim digno, que, para ele, seria a 
manutenção da ordem civil, por exemplo. 
E para você? Os fins justificam os meios? 
 
5.3. Praticando – Extrato de O Príncipe, de Maquiavel 
 
38 
 
 Filosofia e Ética – Versão 1 
 
 
 Capítulo XVI 
DA LIBERALIDADE E DA PARCIMÓNIA. 
 Começando, pois, pelas primeiras qualidades que mencionei, digo que seria bom o 
príncipe ser tido por liberal; não a liberalidade usada de modo que o não pareça, que 
essa prejudica-te, porque se ela se usa virtuosamente e como se deve usar, não 
será conhecida e por conseguinte não te evitará a fama do contrário. A querer manter 
entre os homens a fama de liberal é preciso não descuidar nenhuma espécie de 
sumptuosidade; de modo que sempre um príncipe desta natureza consumirá todos 
os seus haveres em obras semelhantes e ver-se-á, por fim, na necessidade de 
agravar extraordinariamente os povos, recorrer a toda a espécie de impostos e fazer 
todas aquelas coisas que se podem fazer para obter dinheiros. Isto começará a 
torná-lo odioso aos olhos dos súbditos e pouco estimado de todos, por tornar-se 
pobre; de modo que, com esta sua liberalidade, tendo ofendido muitos para premiar 
poucos, sente as primeiras necessidades e periga ao primeiro risco; e se assim que 
o reconhece quer retroceder, logo incorre na fama de mesquinho. 
Portanto, um príncipe, que não possa usar da virtude da liberalidade sem dano seu, 
deve, se é prudente, fazer pouco caso da fama de mesquinho, porque com o tempo 
será tido sempre por mais liberal, vendo que com a sua parcimónia as suas rendas 
lhe

Continue navegando