Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
JULIA ANDREOLA RITTER CONTRIBUIÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA NO TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR DA RESPIRAÇÃO BUCAL Sinop/MT 2019 JULIA ANDREOLA RITTER CONTRIBUIÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA NO TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR DA RESPIRAÇÃO BUCAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Avaliadora do Departamento de Odontologia, da Faculdade de Sinop - FASIPE, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Odontologia. Orientador: Prof.º Jackson Luiz Urnau Sinop/MT 2019 JULIA ANDREOLA RITTER CONTRIBUIÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA NO TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR DA RESPIRAÇÃO BUCAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Avaliadora do Curso de Odontologia - FASIPE, Faculdade de Sinop como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Odontologia. Aprovado em JACKSON LUIZ URNAU Professor(a) Orientador(a) Departamento de Odontologia – FASIPE MARCOS MASSAHIRO SUZUKI Professor(a) Avaliador(a) Departamento de Odontologia – FASIPE MÁRCIO SOLDATELLI STUDZINSKI Professor(a) Avaliador(a) Departamento de Odontologia – FASIPE RAFAEL ALVES SCHWINGEL Coordenador(a) do Curso de Odontologia FASIPE - Faculdade de Sinop Sinop-MT 2019 RESUMO A respiração é um processo fisiológico, sendo uma função vital e inata ao ser humano. A respiração bucal é uma alteração patológica que diminui a capacidade vital, intelectiva e psicológica, podendo até mesmo levar o paciente a morte. Através de uma revisão bibliográfica, este trabalho teve o objetivo de pesquisar, analisar e relatar como o Cirurgião-Dentista pode contribuir no tratamento do paciente respirador bucal. A respiração bucal possui uma etiologia multifatorial que pode ser desde uma predisposição anatômica até obstruções físicas. Nesses pacientes, durante o processo de inspiração e expiração o ar passa somente pela cavidade bucal, causando um aumento da pressão aérea intrabucal. O tratamento deve ser feito através de uma equipe multiprofissional e de acordo com a faixa etária do paciente, sendo o mais adequado diagnosticar e interromper a presença da respiração bucal o mais cedo possível. A expansão transversal da maxila é a principal contribuição que o cirurgião-dentista pode oferecer como tratamento. Em pacientes com dentição decídua, mista ou permanente jovem geralmente é realizada a disjunção óssea através da Expansão Rápida da Maxila (ERM). Em pacientes adultos que não possuem mais crescimento ósseo pode-se optar pela Expansão Rápida da Maxila Cirurgicamente Assistida (ERMAC) ou pela Expansão Rápida da Maxila Assistida por Mini-Implantes (MARPE). Com relação aos métodos utilizados para realização do presente estudo, foi feito um levantamento bibliográfico, através de livros, artigos científicos, teses e dissertações durante os meses de fevereiro a outubro do ano de 2019. Palavras chave: Expansão Rápida da Maxila. Respiração Bucal. Sutura Palatina Mediana. ABSTRACT Breathing is a physiological process, therefore is a vital and innate function to humans. Mouth breathing is a pathological alteration that diminishes the vital, intellectual and psychological capacity and may even lead the patient to death. Through a bibliographic review, this study aimed to research, analyze and report how the dentist can contribute to the treatment of mouth breathing patients. Mouth breathing has a multifactorial etiology that can range from anatomical predisposition to physical obstruction. In these patients, during the inspiration and expiration process, air passes only through the oral cavity, causing an increase in intra oral air pressure. The treatment should be done through a multidisciplinary team and according to the age of the patient, being the most appropriate diagnose and stop the presence of mouth breathing as early as possible. Maxillary transverse expansion is the main contribution that the dentist can offer as a treatment. In patients with young deciduous, mixed or permanent dentition, bone disjunction is usually performed through Rapid Maxillary Expansion (RME). In adult patients who no longer have bone growth, Surgical Assisted Rapid Maxillary Expansion (ERMAC) or Mini-Implant Assisted Rapid Maxillary Expansion (MARPE) can be chosen. Regarding the methods used to carry out the present study, a bibliographic survey was made through books, scientific articles, theses and dissertations during the months of February to October of 2019. Keywords: Rapid Maxillary Expansion. Mouth Breathing. Mid Palatal Suture. INTRODUÇÃO A respiração é um processo fisiológico vital e necessário para a sobrevivência humana que acontece de forma involuntária e a todo momento. Este processo é tão importante que qualquer obstrução na passagem do ar pelo nariz gera muitos desconfortos. Desconfortos estes que propiciam o início de uma respiração anormal e patológica na qual o ar passa pela boca ao invés do nariz, a denominada respiração bucal.¹ Com o passar do tempo o paciente acostumado a respirar pela boca devido a algum fator que impede a respiração confortável pelo nariz, começa a desenvolver alterações craniofaciais, comportamentais e até mesmo posturais. Isso acontece pois é necessário que na cavidade bucal, local onde ocorrem vários processos importantes do organismo como respiração, fonação, deglutição e mastigação, todas as funções estejam devidamente funcionando em equilíbrio e de forma harmônica. Quando ocorre um desequilíbrio em alguma dessas funções, todas as outras funções também se alteram.² O cirurgião-dentista especialista, através do tratamento ortodôntico, melhora não apenas as desarmonias dentárias mas também a estrutura óssea respiratória. Primeiramente age de forma interceptativa ou preventiva, para eliminação dos hábitos deletérios, e posteriormente de forma curativa, através da expansão transversal da arcada maxilar. Esse procedimento consiste na separação da sutura palatina mediana, que está presente entre os fragmentos ósseos maxilares, aumentando o espaço transversal e devolvendo a forma e função adequadas para a arcada superior.3,4 A importância do estudo sobre a mudança do padrão de respiração dos indivíduos, se consolida na literatura, sendo um problema de relevância pública, visto que, tendo intensidade, gravidade e duração, possa resultar em uma série de desagradáveis consequências para o crescimento e desenvolvimento craniofacial, além de ser frequentemente, uma das principais causas do desalinhamento dentário e do desenvolvimento mandibular inadequado.5 Desta forma, questiona-se: como o cirurgião-dentista, em conjunto com os demais profissionais da área da saúde, podem resolver de forma efetiva o problema da respiração bucal? Assim, o objetivo desse estudo foi, através de uma revisão bibliográfica, pesquisar, analisar e relatar como o cirurgião-dentista pode contribuir no tratamento multidisciplinar do paciente respirador bucal. 6 REVISÃO DE LITERATURA Respiração Nasal A respiração se inicia com a passagem do ar pelo nariz, sendo filtrado, aquecido e umidificado, e chegando aos pulmões com boa qualidade e com as vias aéreas inferiores protegidas. Possui efeito crucial no complexo estomatognático, responsável pelo funcionamento harmônico da face, quando em equilíbrio e controlado pelo Sistema Nervoso Central.6, 1 Quando por alguma razão, independente da sua etiologia, o nariz não é mais a principal fonte de entrada de ar para o organismo, o paciente recorre a respiração bucal, originando, em alguns casos, a Síndrome do Respirador Bucal, reconhecida também como Síndrome da Face Longa,sendo estas, representadas por um conjunto de sinais e sintomas característicos de quem respira pela boca.3 De acordo com Moss, que desenvolveu a teoria da “Matriz Funcional de Moss”, a função estimula o crescimento ósseo, ou seja, o padrão respiratório nasal adequado leva a um correto crescimento e desenvolvimento do complexo craniofacial, interagindo efetivamente com a mastigação e a deglutição. Por outro lado, quando ocorre uma alteração na respiração, há consequências e alterações mio funcionais no desenvolvimento fisiológico, não somente da face, mas em todo o organismo.1 A respiração bucal é vista atualmente como um problema de saúde pública já que possui alta prevalência, interfere na qualidade de vida do paciente e possui custo social elevado. O que inicialmente é uma necessidade, pode ao longo do tempo, transformar-se em um hábito inconsciente que poderá persistir mesmo quando a causa da obstrução for removida.7, 8 Respiração Bucal: etiologia, sinais e sintomas A mudança no padrão respiratório leva a modificações em vários órgãos e sistemas do organismo. Quando a respiração bucal substitui ou complementa a respiração nasal, de acordo com a sua duração, intensidade e época de instalação, pode ocasionar graves alterações morfofuncionais e comportamentais. A respiração pela boca está relacionada a fatores genéticos, hábitos bucais inadequados e obstrução nasal de gravidade e duração variáveis. Dentre os quadros obstrutivos pode-se destacar a hiperplasia adenoamigdaliana, rinites alérgicas e não-alérgicas, hipertrofia de cornetos inferiores, entre outros. A rinite alérgica é a causa mais frequente da alteração.9 7 A respiração bucal compromete também a postura do indivíduo. Como fica com a boca aberta por longos períodos de tempo, a língua passa a ficar mais baixa, no assoalho bucal, junto aos dentes inferiores. Para melhorar as condições da passagem do ar o indivíduo tende a projetar a cabeça para a frente, esticando o pescoço e alterando assim toda a postura da coluna.3 Em pacientes com respiração oral, têm sido observado redução dos diâmetros craniofaciais, má oclusão dentária (apinhamento dos dentes anteriores, mordida cruzada posterior, protusão da maxila, retrusão da mandíbula) e direção de crescimento vetorial facial com predomínio do componente vertical.7 Geralmente esses pacientes possuem cansaço frequente, sonolência diurna, pouco apetite e déficit de aprendizado e atenção. Podem apresentar alterações faciais características como aumento do terço inferior da face, maxila atresica, palato ogival, ângulo goníaco obtuso e alterações oclusais, sendo as principais, a mordida aberta anterior, vestibularização dos incisivos superiores e mordida cruzada posterior. É comum encontrar também lábio superior curto; lábio inferior com eversão; falta de selamento labial; hipotonia dos músculos levantadores da mandíbula e da língua; alterações da postura de língua em posição habitual, na deglutição e na fala; alterações na mastigação, além de adaptações posturais.9 Os pacientes respiradores bucais geralmente são classificados em três tipos. Orgânicos: quando existem obstáculos mecânicos que prejudicam a respiração nasal; Puramente funcionais: quando mesmo depois de retirar todos os obstáculos continuam com a boca aberta; Com necessidades especiais: quando há uma disfunção neurológica que propicia a alteração da respiração.10 O fluxo de ar que passa através das vias aéreas superiores na respiração nasal, contribui para o desenvolvimento das estruturas, principalmente a maxila. Já a respiração bucal altera o equilíbrio de forças exercidas pela língua, bochechas e lábios sobre o osso da maxila. Uma pressão aumentada ao nível das bochechas e a uma redução de pressão da língua, que se encontra no repouso sobre a mandíbula, conduz ao estreitamento da arcada maxilar. Quando ocorre a respiração bucal o paciente sente a necessidade de baixar a mandíbula ocorrendo o acompanhar da língua e consequente extensão da cabeça. Pelo fato da mandíbula se encontrar mais abaixo e aos dentes não se encontrarem em contato, pode ocorrer uma sobre erupção dos dentes posteriores, fazendo com que a mandíbula rode para baixo e para trás, abrindo a mordida anteriormente, aumentando o overjet e a altura facial. O overjet aumentado pode levar a uma necessidade de interposição da língua durante a deglutição, deste modo pode-se desenvolver um padrão de deglutição atípica.8 8 Ao caracterizar a relação entre hábitos orais nocivos e os efeitos que podem ter sobre o crescimento e desenvolvimento craniofacial, é possível concluir que a posição de repouso da língua é o fator que mais interfere no desenvolvimento da má oclusão.3 O crescimento e o desenvolvimento do maciço crânio facial e, consequentemente, a oclusão dentária sofrem influências do meio ambiente pela respiração, amamentação, mastigação, hábitos deletérios e deglutição. Durante o movimento de sucção e movimento anteroposterior da mandíbula realizado durante a amamentação é desenvolvido um estímulo ao crescimento da mandíbula, que contribui com que haja posteriormente uma relação harmoniosa com a maxila.7, 8 Durante o processo fisiológico adequado da amamentação, o mamilo do seio materno sela completamente a boca da criança, impedindo a entrada de ar pela boca e forçando a passagem pelo espaço aeronasal. Possibilitando desta forma, o aumento da força de vedamento labial, prevenindo o reflexo condicionado indesejável da respiração bucal. Com a utilização cada vez mais frequente das mamadeiras substituindo a amamentação materna, os movimentos que normalmente deveriam ocorrer são suprimidos acarretando numa falta de desenvolvimento da mandíbula, de sincronização da respiração e de desenvolvimento da musculatura oral.11, 8 A amamentação é a principal forma de prevenir a respiração bucal, pois a criança que se alimenta no peito materno mantém os lábios vedados, posiciona a língua corretamente e desenvolve as funções do aparelho estomatognático de forma harmônica, estabelecendo um padrão adequado de respiração.12 Diagnóstico A avaliação clínica da condição nasofaríngea pode ser feita em consulta odontológica através de testes simples como por exemplo observar se o espelho clínico embaça quando próximo das narinas, observar as fibras do algodão movidas pelo fluxo de ar, ou pela observação do tempo que o paciente consegue manter determinada quantidade de água na boca, avaliandoassim o tipo de respiração. Muitos profissionais podem realizar a avaliação e o tratamento dos indivíduos respiradores orais, mas é atribuição do médico otorrinolaringologista definir o fator causal da alteração do padrão respiratório.13 Um dos recursos mais utilizados pelo cirurgião-dentista ortodontista para analisar as alterações craniofaciais que possam ter se desenvolvido é a telerradiografia lateral do crânio (Figura 1), sobre a qual se realiza o traçado cefalométrico. A cefalometria é muito importante para realização dos diagnósticos, planejamentos e controles de tratamentos, pois é possível observar as relações entre as estruturas ósseas craniofaciais, o tecido mole e os dentes.14 9 FIGURA 1: Telerradiografia Lateral do Crânio. Fonte: (PERIN, 2016). Tratamento A interdisciplinaridade atualmente está muito presente e cada vez mais se mostra como uma necessidade, possibilitando ao paciente maior segurança e confiabilidade na reabilitação. A odontologia e as diversas áreas da saúde vêm a cada dia concretizando as variadas possibilidades de atuação conjunta.16, 3 Para que seja realmente efetivo o tratamento deve começar com a eliminação de todos os hábitos nocivos do paciente, desde o uso da chupeta; sucção digital ou quaisquer hábitos viciosos. Além disso, deve-se estimular a mastigação correta dos alimentos, visto que geralmentedesenvolveram uma deglutição atípica e estimular o consumo de alimentos fibrosos, duros e secos para exercitar os maxilares.17 Na maioria dos casos, visto que o problema afeta diversos órgãos do sistema estomatognático, o tratamento isolado não resolve efetivamente o problema do respirador bucal. Assim, há a necessidade de inter-relacionamento do fonoaudiólogo com o otorrinolaringologista, ortodontista e fisioterapeuta.12 Quanto mais cedo se intervir mais bem sucedido será o tratamento da respiração bucal. Após a remoção da causa direta da respiração bucal, o paciente precisa ser submetido a uma reeducação da respiração e a readaptação da musculatura, para que o problema não persista como um hábito residual. Juntamente com a readaptação muscular, deve ser feito um tratamento ortodôntico afim de corrigir os problemas oclusais.18 10 Cada profissional envolvido no tratamento possui sua importância e é crucial na efetividade a longo prazo. O médico otorrinolaringologista normalmente traça um diagnóstico e avalia a fonte de obstrução nasal (septo nasal, cornetos, adenóides ou amígdalas hipertrofiadas), bem como a sua necessidade de remoção cirúrgica, ou não.3 O objetivo do tratamento ortodôntico é modificar a estrutura bucal para permitir a respiração correta através de aparelhos fixos ou móveis, visando melhorar não só a correção dos dentes, mas também a estrutura óssea respiratória. Cabe ao fonoaudiólogo a reeducação da respiração, com exercícios de fortalecimento e ajuste da musculatura alterada pela respiração bucal. O fisioterapeuta atua através da reeducação da postura corporal. O otorrinolaringologista determina se há obstrução nasal ou faríngea na passagem do ar e qual a melhor forma de tratamento. Verifica também se o paciente é alérgico e qual a melhor alternativa para tratar, além de acompanhar a evolução do caso. O nutricionista pode auxiliar o paciente em relação a dificuldade que este enfrenta de se alimentar e respirar pela boca ao mesmo tempo. É fundamental que cada especialidade profissional demonstre ter conhecimento das diversas áreas atuantes na reabilitação do respirador oral e dos objetivos em comum no tratamento, portanto, é importante procurar falar a mesma linguagem e realizar a prevenção conjuntamente, e não trabalhar isoladamente com foco restrito a sua área de atuação.18 Expansão Rápida da Maxila (ERM) Dentre os métodos terapêuticos para aumentar a largura maxilar, a mais utilizada atualmente é a Expansão Rápida da Maxila. Essa é uma técnica caracterizada por utilizar forças de elevada magnitude com o intuito de obter resposta esquelética máxima, através da abertura da sutura palatina mediana, com movimento dental mínimo.20 O uso da disjunção maxilar para tratar a deficiência transversa da maxila é conhecido e usado há mais de 140 anos, entretanto, somente após as pesquisas do Dr. Andrew Haas, durante a década de 60, inúmeras investigações clínicas e experimentais foram relatadas na literatura e a expansão começou a ser usada rotineiramente.21 Na década de 80, Eysel foi o primeiro rinologista a investigar os efeitos da expansão da maxila nas dimensões da cavidade nasal e constatou que, no período após a expansão, várias mudanças ocorrem na maxila, como o aumento da largura nasal próximo à sutura palatina mediana. O aumento da cavidade nasal poderia diminuir a resistência do fluxo aéreo e melhorar a respiração. Entretanto, esses efeitos dependem de alguns fatores como a existência ou não de obstruções e de sua localização e gravidade.22 11 Em casos de deficiência e atresia maxilar, a “Expansão Rápida da Maxila” permite um posicionamento mais proporcional entre as bases dentárias superior e inferior, movendo a maxila para baixo e para frente, com consequente abertura da mordida anterior e aumento do ângulo dos planos mandibular e oclusal.23 Quando o paciente está em fase de crescimento, durante o período das dentições decíduas, mistas e permanente jovem, o tratamento tem um maior efeito ortopédico, quando comparado a dentição permanente adulta, pois a resposta óssea e sutural é mais favorável na fase de crescimento ósseo.21 A disjunção palatina tem como principais indicações a correção de mordidas cruzadas posteriores de natureza esquelética, além de qualquer situação clínica que beneficie com o aumento do perímetro e/ou largura da arcada como respiradores bucais, portadores de fendas/fissuras lábio-alvéolo-palatinas, ou existência de discrepâncias dento-alveolares.3 Existem vários benefícios com a utilização de dispositivos que proporcionam a expansão dos arcos dentários superiores, sendo possível observar, expansão transversa das narinas, acompanhada do abaixamento do assoalho da cavidade nasal facilitando a respiração nasal normal; uma tendência dos dentes inferiores a inclinarem para vestibular, seguindo a movimentação dos dentes superiores.23 Frequentemente, a manifestação clínica mais comum da deficiência transversal da maxila é a presença de mordida cruzada posterior, porém, existem situações onde não há mordida cruzada posterior e verifica-se a maxila atrésica, isso ocorre devido as compensações dentárias. A deficiência transversal da maxila pode levar a desvios funcionais da mandíbula e consequente crescimento assimétrico, comprometimento da estética do sorriso, respostas periodontais adversas e alterações funcionais decorrentes dessa constrição maxilar.24 Por ser um procedimento essencialmente ortopédico, o mesmo apresenta limitação de idade para sua realização. Após completar a fase de crescimento ativo, o acúmulo de força requerida para romper a sutura fica consideravelmente alta, ocasionando dor, possibilidade de fenestração radicular ou de necrose da mucosa palatina. Nessas situações pode-se realizar a expansão cirurgicamente assistida, que faz a expansão sem o risco dos efeitos colaterais.25 Para muitos autores, a fase considerada ideal para a realização da expansão é a que ocorre o surto de crescimento ou até os 15 anos de idade. O crescimento transverso do osso maxilar pela sutura palatina mediana continua até os 16 anos nas meninas e 18 anos nos meninos, porém o grau de sinostose da sutura palatina mediana varia para cada indivíduo.3, 21 A disjunção em pacientes em crescimento pode ser realizada por meio de aparelhos expansores como o de Haas, que é um aparelho dentomucosuportado, Hyrax e o Disjuntor de 12 McNamara, que são classificados como dentosuportados. Em comum eles possuem um parafuso expansor, que fica paralelo a sutura palatina mediana e precisa ser ativado diariamente a fim de acumular forças suficientes para romper a resistência oferecida pelas suturas maxilares.25 O disjuntor do tipo Haas (Figura 2) é um aparelho que apresenta uma estrutura de metal constituída por quatro bandas, que normalmente estão posicionadas, com apoio de resina acrílica, nos primeiros molares e primeiros pré-molares superiores permanentes, unidas por um parafuso de expansão. Sua principal função é separar as suturas e afastar os ossos maxilares. Este tipo de aparelho é indicado principalmente para o uso na dentição permanente.1, 26 FIGURA 2: Disjuntor de Haas Fonte: (CAPELOZZA FILHO; SILVA FILHO, 1997). Anos depois de uso do aparelho de Haas, sendo questionado por irritar os tecidos moles e pelo grande acúmulo de alimentos devido ao acrílico que cobria o palato, foi desenvolvido um aparelho com bandas nos 1º molares decíduos e 1º molares permanentes, totalmente fabricado em aço inoxidável. O aparelho Hyrax (Figura 3) apresenta a vantagem de permitir uma maior facilidade de higienização, além de ter menor volume e ser consequentemente menos traumático para o palato. Por outro lado, a ausência do acrílico neste tipo de aparelho é um fator que permite mais facilmente a recidiva e torna o aparelho mais flexível,produzindo uma menor expansão ortopédica por separação da sutura e maior expansão ortodôntica.28, 26 13 FIGURA 3: Disjuntor Hyrax. Fonte: (FRASSON, 2010). O aparelho de McNamara (Figura 4) é um disjuntor dentossuportado, indicado para pacientes que possuem padrão de crescimento facial vertical. É constituído por uma estrutura de aço inoxidável, sem bandas, adaptado nos dentes posteriores e na região mediada possui um parafuso expansor. Possui uma camada de cerca de 3mm acrílico transparente sobre a face oclusal dos dentes posteriores.29, 26 FIGURA 4: Disjuntor McNamara. Fonte: (RODRIGUES, 2014). Expansão Rápida da Maxila Cirurgicamente Assistida A Expansão Rápida da Maxila Cirurgicamente Assistida (Figura 5) é uma forma eficiente de tratamento para pacientes esqueleticamente maduros com deficiências maxilares. O tratamento consiste na combinação de procedimentos ortodônticos e cirúrgicos, aumentando o espaço no arco dental, além de alinhar os dentes.30 14 A SARPE age expandindo transversalmente a maxila com a diminuição da resistência óssea por meio de osteotomias dos pilares da maxila, com o auxílio de um aparelho expansor que libera a força necessária a separação dos suportes ósseos remanescentes. A técnica é indicada para pacientes que não possuem mais crescimento ósseo, que o problema seja apenas transversal e que pela idade não se consegue um sucesso com a expansão rápida da maxila, devido a atresia ser maior que 5 mm, ou quando há atresia maxilar unilateral apresentando assimetria maxilar.31 Este procedimento pode ser realizado com a osteotomia bilateral dos pilares zigomáticos e da sutura do palato com ou sem a separação dos processos pterigóides.30 Após a expansão da maxila necessária ser obtida, o aparelho expansor é travado e mantido em posição durante um período de contenção, normalmente entre 3 a 6 meses, de acordo com a técnica utilizada e também da neoformação óssea na região da sutura palatina mediana que é acompanhada radiograficamente através de radiografias oclusais da maxila.32 Figura 5: Expansão Rápida da Maxila Cirurgicamente Assistida Fonte: (EGITO VASCONCELOS et al., 2016). Expansão Rápida da Maxila Assistida por Mini-Implantes A incorporação dos mini-implantes na ortodontia trouxe a possibilidade de ancorar aparelhos disjuntores diretamente no osso maxilar, favorecendo a disjunção e eliminando 15 diversos efeitos colaterais decorrentes das forças ortopédicas sobre tecidos moles e dentários. Esta técnica (Figura 6) vem se estabelecendo como uma alternativa de sucesso para o tratamento de atresia maxilar e mordidas cruzadas, especialmente em pacientes adultos, com maturação óssea. Através da aplicação de forças diretamente sobre os ossos maxilares, é possível obter uma disjunção puramente esquelética, evitando a necessidade da cirurgia.33 Com a evolução dos mini-implantes, uma mudança de paradigma tem-se estabelecido no quesito ancoragem. Quando se instala os mini-implantes com auxílio de um disjuntor, nas regiões para-suturais, as forças mecânicas são transmitidas diretamente na estrutura óssea, diminuindo os efeitos dentários colaterais, aumentando a eficiência da expansão mecânica e reduzindo a recidiva, visto que, há menor inclinação dento-alveolar vestibular. Além disso, essa nova técnica pode ser utilizada em pacientes com ausências dentais e em pacientes com suporte alveolar reduzido e reabsorções radiculares.34 Diversos aparelhos podem ser utilizados para realização do Marpe, como TPD (transpalatal distractor), Magdburg, Distrator Palatal de Rotterdam, MWD (maxillary widening device) e Hyrax modificado. A quantidade de mini-implantes que precisam ser utilizados para a ancoragem do disjuntor varia de acordo com o tipo de disjuntor e a idade do paciente. Normalmente são utilizados entre quatro e seis mini-implantes.33 A complicação mais frequente desse procedimento é relacionada a inflamação e hiperplasia da mucosa ao redor dos mini-implantes, consequente da higienização do local. Não há relatos na literatura de complicações mais graves decorrentes do Marpe. Palatos demasiadamente atrésicos e profundos podem apresentar dificuldades na adaptação do disjuntor na posição correta, reduzindo a taxa de sucesso nesses pacientes.34 FIGURA 6: Marpe Fonte: (PERIN, 2016). 16 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Com relação aos métodos utilizados para a realização do presente estudo, foi feito um levantamento bibliográfico durante os meses de fevereiro a outubro do ano de dois mil e dezenove, com informações do acervo da biblioteca da Faculdade Fasipe em conjunto com sistemas eletrônicos, como Scielo, Pubmed, Periódicos Capes e Biblioteca Virtual em Saúde. Constituem o estudo fontes resgatadas de livros, artigos científicos, monografias e artigos de revistas publicados do ano de 1997 à 2018. 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nos resultados obtidos através deste estudo de revisão bibliográfica é possível concluir que os cirurgiões-dentistas, em conjunto com outros profissionais da área da saúde, como fisioterapeutas, psicólogos, médicos otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos e nutricionistas, são aptos e portanto possuem a responsabilidade de traçar o correto diagnóstico, além de auxiliar na melhora da condição respiratória do paciente. A principal contribuição do cirurgião-dentista no tratamento do paciente respirador bucal é através da expansão esquelética da arcada maxilar. Em pacientes em período de crescimento ósseo, normalmente até quinze anos de idade, é possível a realização da “Expansão Rápida da Maxila”, com aparelhos que realizam a separação da sutura palatina mediana e consequentemente disjuntam a maxila. Em pacientes que já possuem maturação óssea o procedimento mais utilizado e considerado mais efetivo nos últimos anos, foi a “Expansão Rápida da Maxila Cirurgicamente Assistida”, um procedimento mais invasivo, cirúrgico, em que é realizada osteotomia bilateral dos pilares zigomáticos e da sutura do palato com ou sem a separação dos processos pterigóides. Atualmente, uma nova técnica para realização da expansão da arcada maxilar em pacientes adultos vem sendo usada com sucesso, a “Expansão Rápida da Maxila Assistida por Mini-Implantes”. Este procedimento apresenta como principais vantagens em relação aos outros de não possuir os efeitos colaterais causados pelos aparelhos ortopédicos e por ser menos invasivo, não havendo a necessidade do paciente realizar um procedimento cirúrgico, visto que possui a ancoragem totalmente esquelética dos mini- implantes para a realização da disjunção. 18 REFERÊNCIAS 1. Silva RZ. O paciente respirador oral e o tratamento ortodôntico [Trabalho de Conclusão de Curso]. Rio Grande do Sul: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2011. 39p. Graduação em Odontologia. 2. Campanha SM, Freire LM, Fontes MJ. O impacto da asma, da rinite alérgica e da respiração oral na qualidade de vida de crianças e adolescentes. Revista CEFAC. 2008;10(4):513-519. 3. Rodrigues SF. Respiração bucal [Dissertação de Mestrado]. Porto: Universidade Fernando Pessoa; 2014. 68p. Mestrado em Medicina Dentária. 4. Weisheimer A. Efeitos imediatos da expansão rápida da maxila no sentido transversal, com os disjuntores tipo Haas e Hyrax, em tomografia computadorizada cone beam [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; 2008. 149f. 5. Menezes VA, Cavalcanti LL, Albuquerque TC, GarciaAF, Leal RB. Respiração bucal no contexto multidisciplinar: percepção de ortodontistas da cidade do Recife. Dental Press J Orthod. 2011;16(6):84-92. 6. Coelho Ferraz MJ. Respirador bucal: uma visão multidisciplinar. 1st ed. São Paulo: Lovise; 2005. 2, Mecanismo da respiração; p. 37-42. 7. Imbaud TC, Mallozi MC, Domingos VB, Solé D. Frequency of rhinitis and orofacial disorders in patients with dental malocclusion. Revista Paulista de Pediatria. 2016;34(2):184- 188. 8. Passos MM, Frias-Bulhosa J. Hábitos de sucção não nutritivos, respiração bucal, deglutição atípica-impactos na oclusão dentaria. Revista Portuguesa de Estomatologia. 2010;51(2):121- 127. 9. Costa M, Valentim AF, Becker HM, Motta AR. Findings of multiprofessional evaluation of mouth breathing children. Rev. CEFAC. 2015;17(3):864-878. 10. Abreu RR, Rocha RL, Lamounier JA, Guerra FM. Etiologia, manifestações clínicas e alterações presentes nas crianças respiradoras orais. J. Pediatr. 2008;84(6):529-535. 19 11. Santos Neto ET, Barbosa RW, Oliveira AE, Zandonade E. Fatores associados ao início da respiração bucal no desenvolvimento da primeira infância. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. 2009;19(2):237-248. 12. Laje SR, Canuto LF. A respiração bucal e suas consequências: aspectos relevantes para a ortodontia. Rev. UNINGÁ. 2017;25(1). 13. Melo DL, Santos RV, Perilo TV, Becker HM, Motta AR. Avaliação do respirador oral: uso do espelho de Glatzel e do peak nasal inspiratory flow. Rev. CoDAS. 2013;25(3):236- 241. 14. Barbosa MC, Knop LA, Lessa MM, Araujo TM. Avaliação da radiografia cefalométrica lateral como meio de diagnóstico da hipertrofia de adenoide. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial. 2009;14(4):83-91. 15. Tolazzi AL. A influência do controle de qualidade em telerradiografias em norma lateral e na obtenção de pontos cefalométricos [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2005. 137 p. 16. Bervian J, Rodrigues R. O conhecimento dos ortodontistas sobre a atuação fonoaudiológica em respiradores bucais. RFO UPF. 2010;15(3):293-297. 17. Machado PG, Mezzomo CL, Viero AF. A postura corporal e as funções estomatognáticas em crianças respiradoras orais: uma revisão de literatura. Revista CEFAC. 2012;14(3):553- 565. 18. Gianasi LR. Respirador Bucal: Tratamento com sistema de aparelhos miofuncionais [trabalho de conclusao de curso]. Alfenas: INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FUNORTE / SOEBRÁS; 2016. 52 p. Programa de Especialização em Ortodontia. 19. Paranhos LR, Cruvinel MO. Respiração bucal: alternativas técnicas em ortodontia e ortopedia facial no auxílio ao tratamento. J Bras Ortodon Ortop Facial. 2003;8(45):253-9. 20. Silva Filho OG, Caldas RS, Freitas PZ, Ferrari Junior FM. Influência da expansão rápida da maxila na rizólise dos caninos decíduos usados como ancoragem. Dental Press J Orthod. 2009;14(5):53-61. 21. Rossi RRP, Araujo MT, Bolognese AM. Expansão maxilar em adultos e adolescentes com maturação esquelética avançada. Rev. Dent. Press Ortodon Ortop. Facial, Maringá. 2009;14(5):43-52. 20 22. Cappellette MJ, Alves FE, Nagai LH, Fujita RR, Pignatari SS. Impact of rapid maxillary expansion on nasomaxillary complex volume in mouth-breathers. Dental press journal of orthodontics. 2017;22(3):79-88. 23. Simões MM, Jóias RP, Siqueira DF, Paranhos LR. Avaliação da altura facial inferior após expansão rápida da maxila. Odonto. 2009;17(33):26-34. 24. Lima Filho R, Bolognese AM. Ortodontia: Arte e Ciência. Dental Press Maringá. 2008;1:496p. 25. Scanavini MA, Reis SA, Simões MM, Gonçalves RA. Avaliação comparativa dos efeitos maxilares da expansão rápida da maxila com os aparelhos de Haas e Hyrax. Rev. Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2006; 11(1):60-71. 26. Viegas S, Fernandes D, Pereira P, Delgado A. Disjuntor de McNamara: as mais‐valias de uma férula como disjuntor. Revista Portuguesa De Estomatologia. 2016;25:24-31. 27. Capelozza Filho L, Silva Filho OG. Expansão rápida da maxila: consideração gerais e aplicação clínica, Parte I. Rev. Dental Press Ortodon. Ortop. Maxilar. 1997;2(3):88-92. 28. Aniceto MF. Importância da expansão rápida da maxila no tratamento do paciente respirador bucal. Revista da Universidade Ibirapuera. 2015;10:24-41. 29. Frasson JM. Studo postural e eletromiografico dos músculos masséter, trapézio e orbicular da boca em crianças com respiração predominantemente bucal antes e após disjunção palatina [Tese]. Piracicaba: Faculdade de Odontologia de Piracicaba; 2010. 102 p. 30. Egito Vasconcelos BC, Caubi AF, Dias E, Augusto C, Lago GG. Expansão rápida da maxila cirurgicamente assistida: estudo preliminar. Revista brasileira de otorrinolaringologia. 2016;72(4): 457-61. 31. Scartezini GR, Saska S, Dantas JF, Hochuli VE, Gabrielli MA. Expansão cirúrgica da maxila em pacientes adultos: expansão rápida assistida cirurgicamente ou osteotomia Le Fort I segmentar? Revista da literatura. Revista de Odontologia da UNESP. 2013;36(3): 267-273. 32. Ramires T, Maia RA, Barone JR. Alterações da cavidade nasal e do padrão respiratório após expansão maxilar. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. 2018;74(5):763-769. 21 33. De Oliveira IR, et al. Marpe–relato de caso e passo a passo da técnica. Rev. OrtodontiaSPO. 2018;51(3):306-13. 34. Perin MA. Expansão rápida da maxila assistida por mini-implantes (MARPE) em pacientes adultos [Trabalho de Conclusão de Curso]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2016. 28 p. Pós-Graduação em Ortodontia.
Compartilhar