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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS ESCOLA DE DIREITO ANDERSON REINALDO GOMES SANTOS EMPREGABILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA SÃO PAULO/SP 2020 EMPREGABILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Artigo científico apresentado ao curso de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Marcelo Barbosa de Melo. Data de aprovação: 19 / 06 / 2020 Banca Examinadora: Professor Orientador: Marcelo B. de Melo Professor: Pedro Henrique Benatto Professora: Maria Vitoria Queijar Alvar SÃO PAULO/SP 2020 EMPREGABILIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Anderson Reinaldo Gomes Santos1 Resumo: O trabalho objetiva analisar os efeitos da aplicação da Lei 8.213/91 para a inclusão social das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, buscando também identificar as dificuldades enfrentadas na execução da lei, e qual sua principal função. Foi feita uma análise histórica para contextualizar a definição da pessoa com deficiência na sociedade brasileira. Para estruturação da pesquisa, utilizou-se o método bibliográfico acerca do tema, em caráter exploratório, em especial nas áreas de Direito Constitucional Brasileiro, Direitos Humanos, Direito do Trabalho e Recursos Humanos. Adotou-se a metodologia de revisão de literatura, catalogando e escolhendo diversificada bibliografia a qual foi trazida para este trabalho, tais como livros, teses, artigos, reportagens, dados de registro dos órgãos do governo, dentre outros, pertinentes ao tema proposto, com a finalidade de facilitar a compreensão da inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Palavras chave: Inclusão. Pessoa com Deficiência. Mercado de trabalho. Direito. Sociedade. EMPLOYMENT OPPORTUNITIES FOR THE PEOPLE WITH DISABILITY Abstract: The article aims to analyze the effects of the application of Law 8.213/91 for the social inclusion of people with disabilities in the labor market, also seeking to identify the difficulties faced in implementing the law, and what is it main function. A historical analysis was carried out to contextualize the definition of people with disabilities in our society. To structure the research, the bibliographic method was used, in an exploratory character, especially in the areas of Brazilian Constitutional 1 Graduando no curso de Direito da Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU. 1 Law, Human Rights, Labor Law and Human Resources. The literature review methodology was adopted, cataloging and choosing a diverse bibliography and brought to this work, such as books, theses, articles, reports, registration data from government agencies relevant to the proposed theme, in order to facilitate understanding about employment opportunities for the people with disability. Key Words: Inclusion. Disabled People. Job market. Right. Society. Introdução Pelo presente trabalho buscou-se reunir e analisar informações que possam delinear a importância que a sociedade brasileira atribui à temática da inclusão social, especificamente da inclusão da pessoa com deficiência. A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, mais conhecida como a Lei de Cotas das Pessoas com Deficiência, embora legalmente vigente, é uma realidade que ainda precisa acontecer. Várias ainda são as discussões sobre a dificuldade de implantação, embora tais dificuldades não sejam instransponíveis. Pelo conjunto documental estudado, verifica-se que, na atualidade, a sociedade brasileira busca minimizar as mazelas vinculadas a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, e o faz estimulando atitudes favoráveis à inclusão social, e, ao mesmo tempo, desestimulando condutas de exclusão, rejeição, e até opressão. Buscou-se catalogar diversos materiais bibliográficos para que os diferentes tipos de fontes sobre o tema pudessem ter espaço de análise. No primeiro capítulo poder-se-á visualizar a situação atual através de dados coletados por órgãos oficiais. Os números ajudam a entender, de imediato, a relevância que a sociedade precisa atribuir ao segmento da pessoa com deficiência. No segundo capítulo aborda-se o modo como a pessoa com deficiência é vista/percebida pela sociedade ao longo da história, contexto qual é possível constatar a luta constante pelo reconhecimento da condição de vida digna que deve ter a pessoa com deficiência. 2 Não obstante, a pessoa com deficiência ainda encontra barreiras, mas já se tem demonstrado avanços no combate ao preconceito e na ampliação de oportunidades no mercado de trabalho. Já no terceiro capítulo, são apresentados dados atuais sobre as dificuldades ainda existentes, o que contribui para a compreensão da validade e da eficácia normativa para a inclusão social, e não apenas para o enquadramento da empresa como “preenchedora de espaços” (cotas), bem como para compreender se há a verdadeira inclusão: a pessoal – atitudinal e mais almejada, pois o seu campo de atuação ocupa o mesmo espaço que as relações rotineiras. Desta forma, este trabalho buscou transcrever as mudanças históricas e legislativas focadas na inclusão da Pessoa com Deficiência. 1. A Situação Fática Ao analisarmos o comportamento de um tema na rotina social através de fatos (passados ou atuais) ou estatísticas, retiramos a película de poeira de nossa janela que nos impedia de visualizarmos a verdadeira realidade. 1.a) Dados O censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE constatou que quase 46 milhões de brasileiros tem algum tipo de deficiência. Em 2017 o IBGE fez uma atualização nesses dados reformulando e caracterizando as deficiências, conforme se depreende do quadro abaixo, que será explanado a seguir: Figura 1 – Dados atualizados do IBGE - Censo de 2010, Brasil e São Paulo2 2 Dados atualizados do IBGE - Censo de 2010, Brasil e São Paulo (capital) disponível em < https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/pessoa_com_deficiencia/cadastro_inclusao/dados _censoib ge/index.php?p=43402 > Acesso em 20 Abr. 2020. 3 Até 2018 a quantidade de Pessoas com Deficiência (PcD) com vínculo empregatício era de 446.496 (quatrocentos e quarenta e seis mil e quatrocentos e noventa e seis), de acordo com a Relação Anual de Informações Sociais - RAIS do Ministério do Trabalho e Emprego3. Cumpre perceber que se trata de uma gama considerável de pessoas. Fazendo uma conta simples, baseada no valor do Benefício de Prestação Continuada - BPC4, o custo de uma PcD, a título exemplificativo, dos 25 anos de idade até 60 anos de idade, para o Governo Federal é de quase meio milhão. 3 BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho. Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Brasília, DF, Sistema Dinâmico. Disponível em < https://sit.trabalho.gov.br/radar/ > . Acesso em 20 de Abr. 2020. 4 Trata-se de programa assistencial, previsto pela Constituição Brasileira de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social, que concede transferência monetária mensal a pessoas portadoras de deficiência e idosos, atendidos requisitos legais, mas que em suma não tenham recursos próprios para garantia de uma vida digna. Mais detalhes disponíveis em: < https://www.inss.gov.br/beneficios/beneficio-assistencia-a-pessoa-com-deficiencia-bpc/ > Acesso em 20 Abr. 2020. 4 Pode-se projetar então essa conta por meio da multiplicação pelos 15.304.473 PcD’s que não estavam trabalhando até 2018. Caso o governo fosse obrigado a custear essas pessoas por meio do BPC, garantindo-lhes o mínimo de uma vida digna, o custo seguirá uma ordem crescente. O número crescente de pessoas com algum tipode deficiência no Brasil é preocupante, reflexo dos acidentes de trânsito, trabalho, violência urbana, doenças congênitas e sociais. A maioria dessas pessoas ainda não alcançou a sua cidadania. Vivem à margem da sociedade, segregados dos seus direitos constitucionais, vítimas da ignorância e do preconceito, enfrentando barreiras arquitetônicas e humanas (CLEMENTE, 2003, p. 17) Atribui-se a Aristóteles a frase: “é mais fácil ensinar um aleijado a desempenhar uma tarefa útil do que sustentá-lo como indigente”. (VALTECIDES, 1992, s.n.) 1.b) Custo x Trabalho Uma solução que parece simples no papel, seria de dar continuidade no fomento do valor agregado da força de trabalho da PcD, mas, na prática do mercado de trabalho, o significado da expressão “carteira assinada” é diferente para os dois lados. Na visão de Carreira (1992, p. 10), “para as empresas, a decisão de admitir força de trabalho está diretamente ligada à relação custo x benefício, e não às questões de preconceitos de sexo, religião, cor, pessoas deficientes etc.” (CARREIRA, 1992, p. 10) O empresário “(...) atua num mercado competitivo no qual vence o melhor e, portanto, ele contrata força de trabalho que o ajude a conquistar seus objetivos, sejam elas [pessoas] brancas, pretas, amarelas, católicas, muçulmanas, ateias, deficientes ou não.” (CARREIRA, 2002, p. 9) Já para a PcD o significado do trabalho tem mais elos com a própria autoestima e a relevância na sociedade, do que simplesmente com a ideia de se ter uma contraprestação (salário). O portador de deficiência que trabalha sente-se cidadão, capaz de encontrar na ocupação uma oportunidade de inclusão e de acesso aos mesmos direitos. É uma igualdade que, em qualquer outra circunstância, seja pelo preconceito, 5 ou pelas barreiras arquitetônicas, está muito longe de ser alcançada. (PASTORE, 2000, p. 58) 2. Quem são as Pessoas com Deficiências 2.a) Nomenclaturas As nomenclaturas servidas para designar as PcD foram diversas, desde oficiais até as extraoficiais, estas comportavam mais um cunho vexatório do que a vontade de identificar o outro. Fonseca (2005, p. 289) traz algumas denominações, como (...) inválidos, incapazes, excepcionais e pessoas deficientes, até que a Constituição de 1988, por influência do Movimento Internacional de Pessoas com Deficiência, incorporou a expressão pessoa portadora de deficiência. (Fonseca, 2005, p. 289) Muitos destes termos tinham um significado pejorativo, e por vezes também identificavam movimentos assistenciais, como se pode perceber do trecho abaixo: No final da década de 50, foi fundada a Associação de Assistência à Criança Defeituosa – AACD (hoje denominada Associação de Assistência à Criança Deficiente). Na década de 50 surgiram as primeiras unidades da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APEG). (FRIEDRICH, 2016, s.n.) A maior preocupação sempre foi a de buscar a adoção de termos que não expressem preconceitos e evitem ao máximo constrangimentos desnecessários. Na nossa sociedade, mesmo que a ONU e a OMS tenham tentado eliminar a incoerência dos “conceitos”, a palavra “deficiente” tem um significado muito forte. De certo modo ela se opõe à palavra “eficiente”. Ser “deficiente”, antes de tudo, é não ser “capaz”, não ser “eficaz”. Pode até ser que, conhecendo melhor a pessoa, venhamos a perceber que ela não é tão “deficiente” assim. Mas, até lá, até a segunda ordem o “deficiente” é o “não-eficiente”. (RIBAS,1994, p. 12). Até no campo da educação, a identificação nominal de um plano pedagógico para as PcD sofre suas mutações. Ao longo dos anos a denominação dada ao ensino dos “deficientes” foi se modificando, sendo chamada então de: pedagogia curativa, pedagogia terapêutica, pedagogia especial, pedagogia corretiva, ensino especial e por 6 último educação especial, então os mesmos passaram a ser chamados de portadores de necessidades educativas especiais. (VIEIRA, 2009, p. 2) É forçoso ressaltar o que diz o Prof. João Batista C. Ribas (1994, p. 7) a respeito das palavras: “As palavras são expressões verbais criadas a partir de uma imagem que nossa mente constrói.” (RIBAS, 1994, p. 7) A bem da verdade é que os termos estarão sempre evoluindo. De acordo com Fagundes (2008, s.n. citado por FRIEDRICH, 2016, s.n.) (...) cada época é utilizada termos cujo significado seja compatível com os valores vigentes em cada sociedade enquanto esta evolui em seu relacionamento com as pessoas que possuem este ou aquele tipo de deficiência. Ou seja, se a sociedade evolui, o tratamento para os portadores de deficiência melhora. (FRIEDRICH, 2016, s.n.) Neste estudo aplicar-se-á o termo Pessoa com Deficiência – PcD, originário da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2007) e adotado pelo Brasil nos termos do §3º, do art. 5º da CF/88 (BRASIL, 1988), com valor de Emenda Constitucional, pelo Decreto nº 6.949/2009. Desde então, o termo Pessoa com Deficiência passou a ser utilizado nas demais leis esparsas nacionais, e não poderia ser diferente a aplicação do termo na Lei nº 13.146 de 2015, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, qual tem a mais atual e completa compilação jurídica no que tange à Pessoa com Deficiência, possibilitando a proteção jurídica-social a este indivíduo. A definição de PcD depreende-se do art. 2º desta lei: Art. 2º - considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual, ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode construir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015, art. 2º) O que mais conta para toda uma sociedade é sempre saber tratar cada pessoa como ser humano, carente de compaixão e de respeito. Se não pelo caráter, no mínimo, pela ética de um convívio saudável em sociedade. (...) cada sujeito está inserido numa situação concreta, histórica, e carrega concepções e vivências que o caracterizam de forma particular. O sujeito 7 constrói e se constrói como identidade cultural, social, política, econômica. Para tal, toma em conta aspectos étnico-raciais, sexuais e de gênero, geracionais, territoriais, religiosas, entre outros. A identidade é construída como caminho de afirmação em contextos multifacetados – mesmo que em sociedades administradas facilmente estes contextos sejam tensionados a se diluírem na massificação. Considerando a situação concreta em que cada sujeito se encontra como particularidade, emerge a exigência da pluralidade em diversas direções e sentidos. A particularidade aponta para necessidades distintas e para mediações diversas de satisfação. Dessa forma, abre-se lugar para o direito à identidade (e à diferença) e para o direito de subsistência. As demandas dos grupos e segmentos sociais clivam a singularidade e também a universalidade com a perspectiva da proteção (específica) e do enfrentamento das práticas de exclusão que se traduzem em potenciais de violação de direitos. Na particularidade do sujeito se radica a exigência de proteção dos direitos humanos como exigibilidade dos direitos, considerando os arranjos e as correlações históricas disponíveis e possíveis, visto que nelas emergem as lutas dos segmentos sociais específicos (mulheres, GLBT, negros, indígenas, pessoas com deficiência, idosos, crianças e adolescentes, jovens entre outros), em geral vulnerabilizados e vitimados socialmente. A particularidade do sujeito apresenta como exigências de atitude (compreensão e prática) a paciência, a tolerância, o respeito e o diálogo. (CARBONARI, 2007, p. 180, 181) 2.b) História Depreende-se que os estudos sobre o direito das pessoas com deficiência estão correlacionados aos fatos históricos. Os estudos sobre o direito das pessoas com deficiência não estãodissociados dos fatos históricos, reveladores que são da evolução e da consequente edição de suas leis. Por isso, antes da apresentação dos direitos da pessoa com deficiência, faremos uma brevíssima incursão histórica para melhor compreender esse indivíduo no cenário histórico da nossa civilização. (GUGEL, 2008, s.n.) Vasconcellos (2009, p. 23), no seguinte trecho, pautando-se em demais estudiosos, elucida a percepção histórica da pessoa com deficiência: Com a construção histórica da deficiência, múltiplas terminologias foram utilizadas para conceituar as pessoas com deficiências, como por exemplo, idiota – usado na política grega e na medicina para os seres que não 8 possuíam participação nas ações coletivas, não possuindo o reconhecimento de cidadãos, cretino – derivação do termo italiano cristiano que se refere a um “homem qualquer” ou “pobre coitado” (BATISTA, 2004). Além destes termos, outros pejorativos como retardado, imbecil, demente e demais, foram utilizados para referir-se às pessoas com deficiência. Segundo Gugel (2006), estes termos representavam a essência de seres socialmente sem utilidade e dispensáveis no cotidiano. (VASCONCELLOS, 2009, pag. 23 – sem destaques no original) Complementarmente, Rubens Valtecides Alves (1992, p. 18-32, citado por FONSECA, 2005, p. 72) ilustra (...) pelo exemplo dos Sirionos (tribo seminômade que habita a selva amazônica boliviana, próximo à fronteira com o Brasil) que costumam abandonar as pessoas com deficiência, idosas, ou com doenças que impeçam ou dificultem a movimentação da tribo. Os balineses (nativos da Indonésia), por sua vez, são impedidos de manter contato amoroso com pessoas que fujam do padrão estético ou comportamental em vigor. Sabe-se, ademais, que os astecas, de acordo com determinação expressa de Montezuma, confinavam as pessoas com deficiência em campos semelhantes a zoológicos para exposição e para escárnio público (...). A Lei da XII Tábuas previa, expressamente, autorização para que os pater famílias eliminassem os filhos com deficiência, o mesmo ocorrendo em Esparta, onde as crianças portadoras de alguma deficiência eram projetadas, em cerimônia religiosa, do alto do Taigeto (abismo de mais de 2.400 metros de profundidade, próximo de Esparta). (ALVES, 1992, p. 18-32 apud FONSECA, 2005, p. 72) Na contemporaneidade, a sociedade brasileira encontra-se diante de uma realidade, ainda que não imputada à mesma, cobra uma responsabilidade solidária de ações que possam minimizar a subtração do reconhecimento social das PcD’s, entretanto, opta-se por transferir essa responsabilidade ao Estado. Estes desafios compelem à responsabilidade solidária e deveriam corresponder à validez intersubjetiva das normas ou, pelo menos, do princípio básico de uma ética da responsabilidade. O que se vê, no entanto, é a predominância de uma moral eficaz na esfera íntima (microesfera) e, quando muito, na esfera da política nacional (mesosfera), que, de regra, se rege pela razão de Estado para proteger o egoísmo e a identificação grupal. Quando se trata de verificar as normas vigentes no âmbito amplo dos interesses humanos vitais (macroesfera), o que se vê é seu cuidado confiado a relativamente poucos iniciados e experts no assunto. Vige, portando, uma 9 moral conservadora que, ante a ciência, tem dificuldade de assumir o desafio posto a ela. (CARBONARI, 2007, p. 172) Voltando a discorrer sobre os fatos históricos, verifica-se que em tempos de império romano, suas políticas não eram bárbaras apenas nas guerras, mas também no trato com os seus PcD’s: As leis romanas da Antiguidade não eram favoráveis às pessoas que nasciam com deficiência. Aos pais era permitido matar as crianças...com deformidades físicas, pela prática do afogamento. Relatos nos dão conta, no entanto, que os pais abandonavam seus filhos em cestos no Rio Tibre, ou em outros lugares sagrados. Os sobreviventes eram explorados nas cidades por “esmoladores”, ou passavam a fazer parte de circos para o entretenimento dos abastados. Ao tempo das conquistas romanas, auge dos Césares, legiões de soldados retornavam com amputações das batalhas dando início a um precário sistema de atendimento hospitalar. (GUGEL, 2008, s.n.) Por causa das guerras os romanos e os atenienses foram as primeiras sociedades a desenvolverem um plano de assistencialismo “semelhante a uma previdência social (...) Discutiam, esses dois povos se a conduta adequada seria a assistencial, ou a readaptação desses deficientes para o trabalho que lhes fosse apropriado”. (FONSECA, 2005, p. 73) Para melhor compreender o perfil imaginário que a sociedade atual tem sobre a PcD, é de vital importância, também verificar no contexto religioso a rotulação dada à PcD. A história não é linear e não acontece num vácuo ou num nada. Pelo contrário, ela é concreta e se relaciona com as vidas cotidianas das pessoas. Desta forma, compreender as imagens cristãs construídas sobre a deficiência no percurso histórico compreende um processo a ser lido dentro de seu momento, considerando suas peculiaridades, sem uma transposição automática do hoje para o ontem... Ao se tratar sobre as imagens da deficiência na tradição cristã pretende-se, num movimento difícil, mas necessário, indiciar conceituações que caracterizavam as pessoas com deficiência em determinadas épocas através de suas relações de atendimento (STRELHOW, 2016, s.n.) Foi no vitorioso Império Romano que surgiu o cristianismo. A nova doutrina voltava-se para a caridade e o amor entre as pessoas. As classes menos favorecidas sentiram-se acolhidas com essa nova visão. O cristianismo 10 combateu, dentre outras práticas, a eliminação dos filhos nascidos com deficiência. Os cristãos foram perseguidos, porém alteraram as concepções romanas a partir do Século IV. Nesse período é que surgiram os primeiros hospitais de caridade que abrigavam indigentes e pessoas com deficiências. (GUGEL, 2008, s.n.) Ainda tratando do cristianismo, cumpre trazer à luz contrapontos que podem ser encontrados nos relatos bíblicos, que retratam que a pessoa que tinha qualquer tipo de deficiência ou mesmo doença, era vista como uma pessoa condenada por Deus, em razão do seu pecado5 ou do pecado de seus pais, tendo-se, a título exemplificativo o relato bíblico descrito no Evangelho Segundo João, cap. 9. Vale destacar, conforme trecho do Evangelho Segundo Lucas, cap. 5, versos 12 a 16, que caso a pessoa fosse curada, os fariseus é que detinham o aval para o retorno ao seio da sua família e demais atividades correlatas ao convívio social. Os períodos marcados pelo fim do Império Romano (Século V, ano 476) e a queda de Constantinopla (Século XV, em 1453), marcam o início da Idade Média. É marcada por precárias condições de vida e de saúde das pessoas. A população ignorante encarava o nascimento de pessoas com deficiência como castigo de Deus. Os supersticiosos viam nelas poderes especiais de feiticeiros ou bruxos. As crianças que sobreviviam eram separadas de suas famílias e quase sempre ridicularizadas. (GUGEL, 2008, s.n.) Logo, com o domínio do cristianismo na Idade Média, a igreja, por meio dos senhores feudais, influenciou socialmente a assistência para que ocorresse o amparo aos doentes e as pessoas com deficiência. Graças à doutrina cristã os deficientes começam a escapar do abandono ou da “exposição”, uma vez que, donos de uma alma, tornam-se pessoas e filhos de Deus, como os demais seres humanos. É assim que passam a ser, ao longo da Idade Média, “les efants du bom Dieu”, numa expressão que tanto implica a tolerância e a aceitação caritativa quanto encobre a omissão e o desencanto de quem delega à divindade a responsabilidade de prover e manter suas criaturas deficitárias. Como para a mulher e o escravo, o cristianismo modifica o status do deficiente que, desde osprimeiros séculos 5 De acordo com a Bíblia e a interpretação cristã, pecado é a transgressão da lei de Deus (Evangelho Segundo João, cap. 3, verso 4), essa lei é os dez mandamentos descritos e escritos pelo dedo de Deus (Êxodo, cap. 20). 11 da propagação do cristianismo na Europa, passa de coisa a pessoa. Mas a igualdade de status moral ou teológico não corresponderá, até a época do iluminismo, a uma igualdade civil de direitos. (PESSOTTI, 1984, p. 04 e 05) Em outros momentos, talvez mais sombrios da história tem-se (...) notícias de que os povos antigos e mesmo os povos indígenas tinham o costume de tirar a vida do recém-nascido com alguma deficiência física. Isso ocorria com rituais próprios, como enterro da criança viva ou jogando-a num abismo e outras tantas formas imagináveis de se tirar vida de alguém. (CAVALCANTE, 2001, s.n.) Mas, conforme ensina Fonseca (2005, p. 74), foi com o Renascimento que a visão assistencialista cedeu lugar, definitivamente, à postura profissionalizante e integradora de pessoas com deficiência. É na Idade Moderna que começam a surgir a criação de métodos e acessórios com finalidade de facilitar a integração e o exercício do trabalho e locomoção das pessoas com deficiência. Dentre os mais importantes estão, a linguagem dos sinais e o sistema braile. Gerolamo Cardomo (1501 a 1576), médico e matemático inventou um código para ensinar pessoas surdas a ler e escrever, influenciando o monge benedito Pedro Ponce de Leon (1520-1584) a desenvolver um método de educação para pessoa com deficiência auditiva, por meio de sinais. Esses métodos contrariaram o pensamento da sociedade da época que não acreditava que pessoas surdas pudessem ser educadas. (...) No Século XIX, em 1819, Charles Barbier (1764-1842), um capitão do exército francês, atendeu a um pedido de Napoleão e desenvolveu um código para ser usado em mensagens transmitidas à noite durante as batalhas. Em seu sistema uma letra, ou um conjunto de letras, era representada por duas colunas de pontos que por sua vez se referia às coordenadas de uma tabela. Cada coluna podia ter de um a seis pontos, que deveriam estar em relevo para serem lidos com as mãos. O sistema foi rejeitado pelos militares, que o consideraram muito complicado. Barbier então apresentou o seu invento ao Instituto Nacional dos Jovens Cegos de Paris. Entre os alunos que assistiram a apresentação encontrava-se Louis Braille (1809-1852), então com quatorze anos, que se interessou pelo sistema e apresentou algumas sugestões para seu aperfeiçoamento. Como Barbier se recusou a fazer alterações em seu sistema, Braile modificou totalmente o sistema de escrita noturna criando o sistema de escrita padrão – o BRAILLE – usado por pessoas cegas até os dias de hoje. (GUGEL, 2008, s.n.) 12 A seu turno, a Revolução Industrial começa a obrigar as nações a verem as PcDs com um foco mais utilitário, pois há os acidentes de trabalho e as doenças derivadas da exaustão dos trabalhos exercidos nas grandes fábricas industriais, além de guerras e as pestes se fazendo então necessária a própria criação do Direito do Trabalho e um sistema eficiente de seguridade social, com atividades assistenciais, previdenciárias e de atendimento da saúde, bem como de reabilitação dos acidentados. Fundaram-se organismos nacionais de apoio a pessoas com deficiência, nos séculos XIX e XX, entre os quais o Relief of Ruptured and Criplled, atual Hospital de Manhattan, nos Estados Unidos, e a Society and Home for Cripples, na Dinamarca. (FONSECA, 2005, p. 74). 3. A PcD é Internacional 3.a) O papel da ONU e da OTI Cavalcante (2001, s.n.) trata do recorte histórico no qual a Organização das Nações Unidas – ONU, por meio de sua agência, a Organização Internacional do Trabalho – OIT, atuou no tema da PcD, conforme se extrai dos trechos abaixo: Em 1923, a OIT recomendou a aprovação de leis nacionais que obrigassem as entidades públicas e privadas a empregar um certo montante de portadores de deficiência causada por guerra. Em 1944, na Reunião da Filadélfia, a OIT aprovou uma recomendação, visando induzir os países membros a empregar uma quantidade razoável de deficientes não- combatentes. (...) Aos 20 de dezembro de 1971, a Assembleia das Nações Unidas proclama a declaração dos Direitos do Deficiente Mental. (...) A declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, aprovada pela ONU em 9 de dezembro de 1975, garantiu aos portadores de deficiência os direitos inerentes à dignidade humana (art. 3º), bem como previu de que as necessidades especiais seriam consideradas no planejamento econômico e social art. (8º). (CAVALCANTE, 2001, s.n.) A ONU proclamou o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes. O evento tinha como lema “Participação Plena e Igualdade”. Este evento partiu do pressuposto de buscar ou viabilizar meios para que as PcD pudessem ter participação e voz, no desenvolvimento de suas comunidades. 13 De acordo com Nogueira (2015, p. 18/19) ...desde o ano de 1981 o Brasil não parou de editar normas que garantem a inclusão para o segmento, muito embora grande parte desse arcabouço de normas tem sua eficácia contida pela falta de apenação, o que tem determinado a busca pela intervenção do Poder Judiciário como forma de fazer valer as leis. O Judiciário por sua vez nem sempre encontra meios legais de punir adequadamente aos que evitam cumprir estas leis e, assim, na conquista pela tendência por cidadania vamos caminhando a passos lentos, ganhando mais pelo papel dialético das leis do que por força dos mandamentos legais.” (NOGUEIRA, Revista da ESA, p. 18/19) Como consequência da proclamação do ano internacional da PcD, em dezembro de 1982, a ONU lança o Programa Mundial de Ação para Pessoas com Deficiência6, que norteou as ações de vários países para a inclusão social da PcD. Na ONU, em 14/12/1990, é aprovada a Resolução nº 45 propondo ao Secretário-Geral não só a execução do Programa Mundial de Ação para as Pessoas com Deficiência, como uma mudança “no foco do programa das Nações Unidas sobre deficiência passando da conscientização para a ação” (ONU, Resolução 45/91) Pastore (2000, p. 36) afirma que “esses instrumentos basearam-se no princípio segundo o qual os portadores de deficiência são membros da sociedade e têm o direito de permanecer nas comunidades e ali receber os serviços de educação, saúde e emprego como os demais habitantes”. (PASTORE, 2000, p. 36) Desde então, de acordo com Fonseca (2005, p. 75), muitos países vêm adotando políticas de inclusão social e laboral de pessoas com deficiência. (...) políticas essas que se manifestam por meio de reservas de vagas ou de cotas para trabalhadores com deficiência em empresas ou na administração pública. Em alguns países, diante da impossibilidade de atendimento das cotas por parte das empresas, facultam-lhes as determinações legais, uma 6 Para mais detalhes, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, por meio do Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa mantém disponível no portal da Câmara, em português, o Programa de Ação Mundial para as Pessoas Deficientes (Doc. das Nações Unidas. Resolução 37/52, de 3.12.1982). Disponível em < https://www2.camara.leg.br/atividade- legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica- externa/ProgAcMundPessDef.html > Acesso em 28 Abr. 2020. https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/ProgAcMundPessDef.html https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/ProgAcMundPessDef.html https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/ProgAcMundPessDef.html14 contribuição com recursos financeiros direcionados para programas de formação profissional para pessoas com deficiência. São os seguintes: na Europa – França, Alemanha e Itália e, na Ásia – China, Japão e Tailândia. Em outros países, ainda existe legislação que se limita a proibir a discriminação em termos de critério de admissão e de conservação do emprego, bem como de remuneração e de garantia de progresso na carreira, como se constata na Austrália, no Canadá, na Nova Zelândia, em países escandinavos, na África do Sul, no Reino Unido e nos Estados Unidos. As medidas governamentais de implementação de políticas de emprego consistem em benefícios financeiros para empregadores e assessoramento técnico disponível. (FONSECA, 2005, p. 75). 3.b) No Brasil O professor Dr. Cesar Eduardo Lavoura Romão7 fala que a “inclusão não está na moda, está na constituição”. Assim, ao lecionar, deixa claro que a inclusão da PcD é direito-dever previsto na Constituição da República Federativa do Brasil - CF/88. Neste passo, cabe mencionar os dizeres da Ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal - STF, na época presidente, em uma palestra para os alunos do Centro Universitário de Brasília - UniCeub, no dia 21 de maio de 2018: Nós somos craques em fazer leis. A Lei da Ficha Limpa é copiada em muitos lugares, bem como a Lei Maria da Penha. Temos uma das melhores leis de refugiados. Nossas constituições são muito bem feitas. A nossa dificuldade é de cumprir as leis... A Constituição não é uma folha de papel. Ela deve garantir dignidade... Se conseguirmos cumprir a Constituição em sua totalidade, conseguiremos alcançar a democracia. (O GLOBO, 2018, s.n.) A CF/88 em seu artigo 1º, incisos II, III e IV (BRASIL, 1988), prevê os fundamentos da República: a cidadania; a dignidade da pessoa humana; e os valores sociais do trabalho. Já em seu artigo 3º, incisos I, III e IV (BRASIL, 1988), determina que o objetivo da República é a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, com a erradicação da pobreza e redução das desigualdades sociais e regionais, na 7 Cesar Eduardo Lavoura Romão é advogado, professor universitário e instrutor do IN Movimento Inclusivo. Mestre em Direito Penal pela PUC-SP e Pós-graduado em Direito Penal pela FMU. A expressão é cotidianamente utilizada pelo professor ao lecionar. 15 promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Ainda, no texto constitucional, dispõe no artigo 170, inciso VII e VIII (BRASIL, 1988), como princípios da atividade econômica, a redução das desigualdades, a busca do pleno emprego, a valorização do trabalho humano e da livre iniciativa, com o fim de assegurar a todos uma existência digna. Portanto, tem-se que o trabalho é um direito fundamental e social. Qualquer forma de discriminação, inclusive na invenção de critérios para admissão e salários é proibido na Constituição, nos termos do artigo 7°, inciso XXXI (BRASIL, 1988). Não obstante, é diária a ousadia em afrontar o texto constitucional, bastando à percepção, um simples olhar nos classificados dos jornais. Ao analisar os classificados constantes em jornais, nos confrontamos com anúncios que afastam potenciais candidatos do processo de seleção, bem como são verdadeiros centros de discriminação do trabalhador brasileiro, suscetíveis a processos judiciais e trabalhistas por afrontar abertamente a Constituição Federal. (...) Tais como discriminação quanto à idade, sexo, cor e raça, estado civil e condição física. (TEIXEIRA, 2008, s.n.) Cabe perfeitamente citar o artigo 8º, incisos II e III da Lei 7.853/89: Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa: (...) II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua deficiência; III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à pessoa em razão de sua deficiência. (BRASIL, Lei 7.853/89, art. 8º) Percebe-se claro o sentido das demais leis ordinárias que visam a garantir a aplicabilidade do texto constitucional. Não é a punição, mas a garantia de uma sociedade mais justa, com paridade de “armas”, nessa luta infindável de garantir a dignidade do ser humano. 16 4. A Inclusão da PcD é Lei 4.a) Ações Afirmativas O trabalho, desde 1948, por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é reconhecido no Artigo XXIII, como direito de toda pessoa, sem qualquer distinção. Por meio do trabalho o indivíduo se reconhece como sujeito pertencente à sociedade, sendo assim uma necessidade a ser atendida de forma a gerar independência e liberdade, consequentemente garantindo o exercício da cidadania. Constitui-se pertencente à categoria de cidadãos aquele que se encontra inserido no mercado de trabalho, e que por meio de sua atividade laboral é reconhecido socialmente e como sujeito produtivo. (BATISTA, 2000, s.n. apud VASCONCELLOS, 2009, p.26) No conceito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2006, p. 231 citado por VASCONCELLOS, 2009, p. 26) o mercado de trabalho é definido por ser “...um espaço de socialização do indivíduo. O trabalho tem em sua essência um valor social que o acompanha desde as sociedades humanas mais primitivas”. (IPEA, 2006, p. 231 citado por VASCONCELLOS, 2009, p. 26) As legislações referentes ao direito do trabalho da pessoa com deficiência ganha visibilidade a partir da Convenção n° 159/83 da OIT, a qual garantiu que as políticas voltadas a este segmento, deviam basear-se na reabilitação profissional a todas as categorias de deficiência, de modo a promover oportunidades de emprego para esses profissionais no mercado de trabalho. (VASCONCELLOS, 2009, p. 26) A CF/88 no artigo 37, inciso VIII (BRASIL, 1988), afirma que cabe ao Estado reservar um “percentual dos cargos e empregos públicos” as pessoas com deficiência e complementarmente a Lei nº 7.853/89 assegura às PcD a garantia de reserva de vagas no mercado de trabalho nos setores público e privados. As leis brasileira e européia determinam percentuais que variam de 2% a 7%, nos diversos países, dependendo do número de empregados que componham o quadro de trabalhadores das empresas, normalmente em empresas médias e grandes. Ao empregador, evidentemente, cabe o direito de selecionar esses trabalhadores, mas deve contratá-los e adaptar seu empreendimento às necessidades desses trabalhadores, chegando a lei estadunidense a estabelecer critérios específicos, quais sejam: providências para que o local de trabalho se torne fisicamente acessível; aquisição ou 17 modificação de equipamentos ou dispositivos; reestruturação da função ou modificação da programação de trabalho; ajuste ou modificação de materiais ou políticas de treinamento; e a disponibilização de ledores ou interpretes qualificados. Assinale-se que não há, nos Estados Unidos, cotas fixadas por lei, mas tais cotas são frequentemente determinadas pelo judiciário, desde que se constate inexistirem pessoas com deficiência nas empresas, de acordo com o critério da discriminação por impacto ou objetiva. De qualquer modo, a lei, nesta hipótese, dirige a vontade contratual, indicando aos sujeitos obrigações voltadas ao fim específico de que o empregador abra as portas da empresa para pessoas com deficiências, independentemente do desejo dos sócios, por dever inerente à função social por meio do trabalho. Não basta a mera contratação, há que haver trabalho, inclusão na empresa, o que implica mudança atitudinal do empregador e dos demais trabalhadores não deficientes. Trata-se de ação afirmativa que se reflete diretamente na cédula jurídica interpessoal e dirige o próprio impulso contratual. Como se vê, o desencadeamento do contrato se condiciona, o que corrobora a superação até mesmo da autonomia privada,que pressupõe o desencadeamento contratual pela vontade das partes e o subsequente dirigismo legal do contrato em prol do interesse público. Nas ações afirmativas, o interesse público inicia-se no desencadeamento do contrato, o que reafirma a natureza complexa dessa relação jurídica em que a vontade dos sujeitos resta coadjuvante do interesse público. Ela não fenece, mas inegavelmente, submete-se. (FONSECA, 2005, p. 240-241). 4.b) Lei de Cotas: Inclusão x Realidade A Lei 8.213/91, em seu art. 93, trata da obrigatoriedade de inclusão da PcD no setor privado do mercado de trabalho. Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I – até 200 empregados..................2%; II – de 201 a 500.............................3%; III – de 501 a 1.000.........................4%; IV – de 1.001 em diante..................5%. (BRASIL, Lei 8.213/91, art. 93) 18 À primeira vista, tem-se a impressão que não haverá complexidade para que essa lei tenha sua eficácia. Contudo na prática a realidade é outra. Figura 2 – Dados sobre as PcD’s no mercado de trabalho conforme informações do Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho8 Em uma análise comparativa da Figura 1 que descreve a quantidade de PcD no país, e a Figura 2 (acima) que descreve a quantidade de PcD empregadas, pode- se tirar algumas conclusões: (i) quantas empresas existem que possam se enquadrar, de acordo com a lei, no preenchimento de cotas para PcD?; 8 Ibidem: 3 19 Figura 3 – Dados da plataforma Data Sebrae sobre as empresas 9 Não parece ser a falta de empresas o motivo de se ter ainda tantas PcD’s desempregas, já que se cada empresa contratasse uma PcD, a melhor das hipóteses seria zerar o número de PcD’s desempregadas. (ii) Da falta de fiscalização; Em 1999, quase nove anos depois da Lei 8.213/91, o Decreto nº 3.298/99, em seu parágrafo 5° do art. 36, determinou a competência da Fiscalização, das cotas para PcD’s, ao Ministério do Trabalho e Emprego. O resultado do trabalho de fiscalização do MTE pode ser visualizado na imagem abaixo 9A plataforma Data Sebrae é uma plataforma digital mantida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, com o fito de produzir informações úteis aos pequenos negócios, formando um banco de dados. Disponível em < https://datasebrae.com.br/totaldeempresas/ > Acesso em 28 Abr. 2020. 20 Figura 4 – Dados sobre a Fiscalização da Cota de PcD’s no mercado de trabalho conforme informações do Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho 10 O Dr. Almir Pazzianoto Pinto, Ex-Ministro do Trabalho, em artigo jornalístico publicado pelo Estado de S. Paulo (2016, s.n.), teceu algumas críticas ao trabalho dos Auditores Fiscais na fiscalização para cumprimento do dispositivo da Lei de Cotas que garante a inclusão da PcD. Por sua vez, a crítica recebeu resposta dos auditores Ana Maria Machado da Costa, Fernando André Sampaio Cabral e Fernanda Maria Pessoal di Cavalcanti, justificando, na época, que existiam “15.000 ações fiscais” sendo realizadas por ano e que as ações de fiscalização são reconhecidas pela OIT como uma forte atuação no combate ao descumprimento da norma, todavia é o empresariado só se ver na obrigação de cumprir a normativa quando é forçado pelo judiciário.” (COSTA et al, 2016, s.n.) (iii) O empresariado e a PcD; A Revista Exame, na edição 1182, de 03/04/2019 trouxe como matéria de capa: “O Poder da Diversidade”. A revista analisou 109 empresas, que se inscreveram 10Ibidem: 3 21 para serem avaliadas, para saber o grau de promoção da inclusão de mulheres, negros, pessoas com deficiência e LGBTI+11. Marina Filipe (autora da matéria), assinalou que “um dos motivos apontados pelas empresas para não cumprir a cota é a falta de escolaridade dessa parcela da população.” (FILIPE, 2019, p. 34) Ivone Santan, fundadora do Instituto Modo Parités, rebateu dizendo que “as empresas dizem que não há pessoas com deficiência qualificadas para ocupar os postos, como se o problema fosse somente externo”. (FILIPE, 2019, p. 34) Talvez o problema real seja a capacidade limitada da PcD para desempenhar certos tipos de atividade profissional. Entretanto, Ribas (1995, p. 6) explica que este não é o problema: As pessoas portadoras de deficiência são capazes de cumprir os mais variados tipos de tarefas dede que lhes seja dado treinamento prévio e condições de acessibilidade. Mesmo assim, empresas com infra-estrutura não adaptada para receber esses portadores, tentam justificar com os mais variados tipos de argumentos o não cumprimento da lei. O principal deles é o medo da perda de lucratividade a partir de uma suposta incapacidade da pessoa portadora de deficiência em se adaptar a uma linha de produção, escritórios ou qualquer outro ambiente de trabalho. (RIBAS, 1995, p. 6) O Professor Ribas concluiu que o campo empresarial ainda é uma fonte de preconceitos. O empresário ou quem contrata se verá cheio de dúvidas – ou mesmo de preconceitos – ao empregar um deficiente, isto faz com que, no mais das vezes, o empregador não contrate os serviços dos deficientes. Estes preconceitos consistem em acreditar, mesmo sem nada que confirme, que as pessoas deficientes são lentas para qualquer tipo de tarefa, solicitam chegar tarde e sair cedo do serviço, ou mesmo faltar sempre. Os empresários, em sua maioria, garantem de antemão que as pessoas deficientes são, enfim, 11 “LGBTI+” é acrônimo que significa lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais e outras identidades de gênero e sexualidade não contempladas na atual sigla adotada, representadas pelo “+”. O acrônimo, em suma, une diversos grupos que lutam pelo não preconceito.Em 2018 foi lançado o Manual de Comunicação LGBTI+. Disponível em: < https://unaids.org.br/wp- content/uploads/2018/05/manual-comunicacao-LGBTI.pdf > Acesso em 28 Abr. 2020. 22 trabalhadores que não correspondem às exigências do ritmo imposto pela produtividade. A frase “a vaga já foi preenchida” é uma constante na vida do deficiente que procura emprego. O que se tem visto, no entanto, é que: 1) raro é o deficiente que procura um serviço cuja tarefa lhe é difícil ou impossível de cumprir, e 2) quase nunca é perguntado ao próprio deficiente se ele estaria preparado para a tarefa oferecida. (RIBAS,1994, p. 85) Em matéria jornalística, Salomão (2016, s.n.) destaca 6 mitos sobre a contratação das pessoas com deficiência, podendo ser elencados e explanados abaixo: 1 - falta de gente – argumento que foi explanado alhures e constatado pelos dados que este não é motivo; 2 - qualificação – argumento que também não se sustenta e a própria matéria traz à tona que “uma em cada quatro pessoas têm ensino médio completo, 7% têm ainda superior completo (SALOMÃO, 2016, s.n.); 3 - preferem os benefícios – alega-se que a PcD prefere receber o auxílio governamental a ter que trabalhar, todavia, “apenas 3,2” das PcD recebem esse auxilio (BPC); 4 - custa caro – alega-se o possível gasto com reforma para proporcionar mais acessibilidade, porém o foco dos Recursos Humanos deveria ser o de proporcionar à PcD a integração ao ambiente de trabalho; 5 - não haveria vantagens em se contratar PcD – mas “a multa para o não cumprimento da cota” é alta, a multa é visível, os benefícios são invisíveis; e 6 – produtividade – fazer a experiência de contratação é sempre o melhor remédio para ver os desafios sendo vencidos pela PcD. Ao empregar a PcD a empresa vai além de uma cota legal, passando a promover o desenvolvimento de pessoas, conforme se depreende de entrevista no quadro Case de Sucessoapresentado na matéria “Empregabilidade da Pessoa com Deficiência”, produzido pela Associação Canoense de Deficientes Físicos – ACADEF (2019, 12m27s). Conforme a descrição da situação da defasagem dos números no cumprimento da lei de Cotas, fica constatado que o crescimento no número de PcD 23 com carteira assinada existe, mas é lento, e a Lei já está perto de completar seus 30 (anos) e ainda se está bem aquém do que ela propõe de inclusão. Nas palavras do Dr. Geraldo Nogueira (presidente da comissão de defesa dos direitos da pessoa com deficiência – OAB/RJ), “está se criando um déficit de justiça... infelizmente, o fato de ter uma legislação inclusiva exemplar não tem significado que a realidade cotidiana das pessoas com deficiência no Brasil esteja seguindo o que estabelece as leis”.(NOGUEIRA, 2015, p.15 e 18) Quando a PcD não desfruta de um emprego, à ela é negado não só a gratificação salarial ao final do mês, mas somado a isso, existe a sonegação de direitos constitucionais, como o de cidadão. O direito a acessibilidade e a inclusão social, como qualquer direito humano, é inalienável e indissolúvel, pois defende o reconhecimento e a valorização da diversidade humana como meio para uma vida independente, o bem-estar e o desenvolvimento social. Para que o indivíduo se torne um cidadão ou cidadã é necessária a sua interação com toda a sociedade, oportunizando-o ofertar e receber experiências e habilidades, numa troca crescente em busca de progresso. (NOGUEIRA, 2015, p.15) É forçoso ressaltar que a supressão, ou seja, a irregularidade no cumprimento dessa lei também sinaliza clara violação aos direitos humanos. A violação dos direitos humanos produz vítimas. Vítimas são aquelas pessoas humanas que sofrem qualquer tipo de apequenamento ou de negação de seu ser humano, de seu ser ético. Em termos ético – filosóficos, vítima é aquele ser que está numa situação na qual é inviabilizada a possibilidade de produção e reprodução de sua vida material, de sua corporeidade, de sua identidade cultural e social, de sua participação politica e de sua expressão como pessoa, enfim, da vivência de seu ser sujeito de direitos. (CARBONARI, 2007, p.170) A sociedade ainda limita o campo de atuação dos direitos humanos, interpretando muito mal a sua função social. A defesa e a promoção dos direitos humanos não se esgota na luta contra a violência policial e na perseguição política, pois que seus outros alvos são: a injustiça social, o terrorismo econômico e a degradação ecológica, típicos do mundo globalizado. Garantia de direitos humanos tem a ver com a moralização dos hábitos da administração pública, com a consciência sobre cidadania e com o envolvimento individual de cada ser na ação 24 sociocomunitária. A garantia dos direitos e das liberdades individuais não pode, nessa perspectiva, ser violada seja qual for o pretexto. Os fins não justificam os meios, em especial quando os direitos básicos da pessoa são desprezados. (NOGUEIRA, 2015, p.15) 4.c) Perde-se ao não incluir O exercício de uma profissão pela PcD, mesmo que garantido legalmente e parecendo uma obrigação ao empresariado, fornece a ela a oportunidade de desenvolver a própria autonomia, e este é o significado da inclusão. O desenvolvimento da autonomia significa dar-lhes a chance de ter vida própria, de realizar atividades consideradas básicas mas que os mesmo não conseguiram realizar como andar e comer sem auxílio, atender o telefone, dançar, praticar esportes, etc. (VIEIRA, 2009, p. 3) Em uma entrevista a Diário Brasil TV Gênesis (2020, 51m33s), sobre empregabilidade da PcD, o professor e jornalista Antonio Leitão, disse que “ninguém constrói cultura por decreto, ninguém faz inclusão por decreto” (DIÁRIO BRASIL TV GÊNESIS, 2020) Neste contexto, é clara a percepção de constatar que a inclusão está nas atitudes dos indivíduos. É importante compreender que a lei não efetiva as atitudes, mas ratifica o direito que a pessoa com deficiência tem de ter suas necessidades asseguradas. Muitas vezes a grande barreira a ser ultrapassada está no campo das atitudes ainda muito disseminadas no cotidiano...Falamos de diferenças, mas não aceitamos o diferente. (XAVIER, 2016, s.n.) (...) a questão da integração dos deficientes, envolve antes de mais nada o relacionamento entre essas pessoas [PcD] e as consideradas “normais”, que deverão aceitá-las e compartilhar com elas as facilidades e experiências de uma vida comunitária mais ampla. (VIEIRA, 2009, p.2) O maior problema ainda continua sendo a indiferença. Vítimas exigem diferenciação – como base de superação da indiferença. A diferença é marca de um tempo que já não tem espaço para o outro; de um sem-tempo do outro, cheio do mesmo. A diferença é marca de uma compreensão plural do humano e de sua realização. Ser é ser diferente, ser diferente é não ser o mesmo. A mesmice preenche; a alteridade abre(-se). Como somente se pode construir e se construir na abertura, é a alteridade 25 que abriga o humano como construção do ser humano, mais humano. Relação é presença é reconhecimento, que é construção. O outro é que põe o eu, de tal sorte que a subjetividade é, antes, intersubjetividade. A consciência, como presença crítica, é vida que vive a ajuda a viver. Relações que não alimentam o reconhecimento dos distintos em comunhão são não- relações, pseudo-relações, ajuntamento, “amnésia antropológica”. Daí que, mais do que uma disposição do eu, a relação é efetivação do encontro de alteridades. O fazer-se é temporal e incerto. É lembrança e esquecimento. A urgência insiste em tornar fugazes todas as lembranças e a tornar certo somente o aqui e agora. A permanência incita à memória, que faz as certezas se tornarem frágeis. Urgência e permanência dizem um pouco das marcas do tempo no fazer-se humano como reconhecimento. A memória é a abertura permanente para o sentido que se faz história, que é histórico. O sentido é núcleo do humano como construção no tempo, do tempo e para o tempo. É a memória que preserva o sentido do e no momento; do e no processo. Momento e processo constituem o sentido do humano e o humano com sentido. Incomodar-se e incomodar, eis as idéias-chave que contrastam com a indiferença. A alteridade desinstala: é presença incômoda. Acomodar(-se) é admitir que o mesmo, cheio de sentido, já não precisa do outro; é dispor-se a não sair do próprio lugar. O lugar do mesmo é o sem-lugar da alteridade. O acomodar-se é o sentir-se satisfeito. Ora, humanos satisfeitos são (não- )humanos que atingiram o limite e esgotaram as possibilidades; que se pretendem plenos e certos, definitivamente. Daí que, ser humano, humanizar- se e humanizar é diferenciar-se, ser outro, abrir-se à alteridade. A diferença é a morte do humano e da humanidade que há na gente. Se não se nasce pronto, também a vida, por si, não apronta. Viver é, acima de tudo, busca permanente e encontro com os outros, com o humano que se faz reconhecimento. (CARBONARI, 2007, p. 174, 175) 5. Conclusão Como visto, o direito da pessoa com deficiência ao trabalho é constitucional, derivado inclusive de uma conscientização mundial e árduo trabalho das grandes instituições governamentais como a ONU em levar às mais diferentes nações a cultura universal da inclusão. Pautando-se nos fundamentos que a Constituição brasileira trouxe, em seu artigo 1º, é notável que não se pode ter um fundamento e o outro não. Ou seja, a 26 Magna Carta não estipulou o conceito de escolher um fundamento para aplicar na sociedade. O princípio do artigo 1º da CF é a busca diária para integrar e internalizar na cultura social brasileira todos os fundamentos, o Estado só é Estado se trouxer ao quadro fático (leia-se realidade) esses fundamentos. Neste passo se vislumbra a esperança de que o Brasil sempre buscou alcançar a máximada pluralidade de regiões e culturas existentes no território nacional, sem esquecer da individualidade de cada pessoa humana. Depreende-se que a pessoa com deficiência sempre buscou a visibilidade de pessoa humana, em todos os sentidos, para que possa usufruir de uma vida digna, e para isso se valeu sempre da busca pela conquista do espaço na sociedade, exercendo a cidadania, dentre outras frentes, por meio do exercício do trabalho. Ainda existe um déficit muito grande no tocante a dependência de fiscalização para o cumprimento de diversas leis, mas que serão cumpridas se cada um dos indivíduos se tornar não só um cumpridor mas também um vigilante, e não precisa ir longe, basta olhar para os lados e será possível ver a necessidade de inclusão no simples ato de atravessar a rua. A isto chama-se direitos humanos, que na essência nada mais é do que cuidar em manter o trato mais digno possível do ser humano. De não torcer nem invocar qualquer desumanização que seja, por mais simples que possa parecer. É na preservação de direitos e não na busca de fabricá-los que se conseguirá manter uma sociedade mais justa, e cada vez mais igualitária. Muito já se alcançou no processo da inclusão social, mas ainda há muito à caminhar. É necessário estimular a sociedade para que ela não se dê por satisfeita, haja vista que sempre haverá a necessidade de preservar as garantias constitucionais para que se possa ter, a cada amanhecer, o renascimento da sociedade fraterna, pluralista, sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida. 27 REFERÊNCIAS ALVES, Rubens Valtecides. Deficiente físico: Novas dimensões da proteção ao trabalhador. São Paulo: LTr, 1992. ASSOCIAÇÃO CANOENSE DE DEFICIENTES FÍSICOS – ACADEF. 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Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm >. Acesso em: 20 Abr. 2020. _____. Ministério do Trabalho e Emprego. Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho. Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Brasília, DF, 1996a. Disponível em < https://sit.trabalho.gov.br/radar/ > Acesso em 20 de Abr. 2020. _____. Presidência da República. Decreto n° 6.949, de 25 de agosto de 2009 – Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com 28 Deficiência e seu Protocolo facultativo, assinado em Nova York, em 30 de março de 2007. Organização das Nações Unidas – ONU. BRÍGIDO, Carolina. Cármen Lúcia: ‘Somos craques em fazer leis. A nossa dificuldade é cumpri-las’. O Globo. Publicado em 21/05/2018. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/brasil/carmen-lucia-somos-craques-em-fazer-leis-nossa- dificuldade-cumpri-las-22704020 > Aceso em 20 Abr. 2020. CARBONARI, Paulo César. 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