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Formação Politica e Economica do Brasil -

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Prévia do material em texto

Formação Política e Econômica do Brasil 
 
 
 
 
 
MARIA FÁTIMA DE MELO TOLEDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORMAÇÃO POLÍTICA E 
ECONÔMICA DO BRASIL 
 
 
 
 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Taubaté 
Universidade de Taubaté 
2014 
 
 
 
Copyright©2014. Universidade de Taubaté. 
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode 
ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. 
 
Administração Superior 
Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo 
Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan 
Pró-reitor de Administração Prof.Dr.Francisco José Grandinetti 
Pró-reitor de Economia e Finanças Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva 
Pró-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lúcia Perondi Fortes 
Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof.Dr. José Felício GoussainMurade 
Pró-reitora de Graduação Profa.Dra.Ana Júlia Urias dos Santos Araújo 
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof.Dr.Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira 
Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro 
Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires 
Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino 
Coordenação Tecnológica Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga 
Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira 
Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques 
Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva 
Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti 
Coord. de Curso de Pedagogia 
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios 
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais 
Revisão ortográfica-textual 
Projeto Gráfico e Diagramação 
Autor 
 Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino 
Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira 
 Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto 
Profa. Ma. Nanci Aparecida de Almeida 
Me.Benedito Fulvio Manfredini 
Maria de Fátima de Melo Toledo 
Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro 
Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 
Central de Atendimento: 0800557255 
Polo Taubaté 
 
 
 
Polo Ubatuba 
 
 
 
Polo São José dos Campos 
 Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara 
Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 
Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 
Secretaria: (12)3625-4280 
Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 
Tel.: 0800 883 0697 
e-mail: nead@unitau.br 
Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h 
Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 
Parque Residencial Jardim Aquarius 
Tel.: 0800 883 0697 
e-mail: nead@unitau.br 
Horário de atendimento: 8h às 22h 
Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi 
Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU 
 
 
 
 
T649f Toledo, Maria Fátima de Melo 
Formação política e econômica do Brasil / Maria Fátima de Melo Toledo. Taubaté: UNITAU, 2011. 
71p. : il. 
ISBN 978-85-62326-80-6 
Bibliografia 
1. Formação política. 2. Estrutura econômica. 3. Sociedade brasileira. I. Universidade de Taubaté. II. 
Título. 
 
 v 
 
 
PALAVRA DO REITOR 
Palavra do Reitor 
 
 
Toda forma de estudo, para que possa dar 
certo, carece de relações saudáveis, tanto de 
ordem afetiva quanto produtiva. Também, de 
estímulos e valorização. Por essa razão, 
devemos tirar o máximo proveito das práticas 
educativas, visto se apresentarem como 
máxima referência frente às mais 
diversificadas atividades humanas. Afinal, a 
obtenção de conhecimentos é o nosso 
diferencial de conquista frente a universo tão 
competitivo. 
 
Pensando nisso, idealizamos o presente livro-
texto, que aborda conteúdo significativo e 
coerente à sua formação acadêmica e ao seu 
desenvolvimento social. Cuidadosamente 
redigido e ilustrado, sob a supervisão de 
doutores e mestres, o resultado aqui 
apresentado visa, essencialmente, a 
orientações de ordem prático-formativa. 
 
Cientes de que pretendemos construir 
conhecimentos que se intercalem na tríade 
Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de 
forma responsável, porque planejados com 
seriedade e pautados no respeito, temos a 
certeza de que o presente estudo lhe será de 
grande valia. 
 
Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa 
leitura. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
Prof. Dr. José Rui Camargo 
Reitor 
 
 
vi 
 
 
 
 vii 
Apresentação 
 
 
Este livro-texto tem por objetivo compreender o processo de formação do Estado e da 
nação no Brasil, com suas formas sociais, econômicas, políticas e culturais e 
especificidades que nos imprimiram um selo especial 
 
Outro período extremamente importante do ponto de vista político é aquele 
compreendido entre 1868-1889, período em que o país assiste a transformações 
profundas que levaram à implantação do regime republicano. Entre as grandes 
transformações que marcaram essa época estão o processo de imigração europeia em 
massa, a urbanização, as lutas pela abolição, a questão religiosa e a questão militar. 
 
 
 
viii 
 
 ix 
Sobre a autora 
 
 
MARIA FÁTIMA DE MELO TOLEDO é graduada em História pela Universidade 
de São Paulo, onde realizou seu Mestrado (2000) e Doutorado (2006) em História 
Social. É professora das disciplinas História da América e História da África e Ásia na 
Universidade de Taubaté. Faz parte do quadro de professores do Mestrado em 
Desenvolvimento Humano da UNITAU. Como pesquisadora, atua, principalmente, nas 
áreas de História do Brasil, História da África e da América. Como professora, leciona 
História e Sociologia no Ensino Médio. 
 
 
E-mail: melotoledo@gmail.com 
 
 
x 
 
 xi 
Caros(as) alunos(as), 
Caros( as) alunos( as) 
O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se 
como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais 
diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta 
com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande 
experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, 
ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. 
Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. 
Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web 
interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a 
distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais 
preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. 
A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e 
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como 
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e 
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e 
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo 
estudado. 
Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para 
a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de 
blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados 
ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. 
Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua 
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais 
atores desta formação. 
Para todos, os nossos desejos de sucesso! 
Equipe EAD-UNITAU 
 
xii 
 
 
 xiii 
Sumário 
 
Palavra do Reitor .............................................................................................................. v 
Apresentação ..................................................................................................................vii 
Sobre a autora .................................................................................................................. ix 
Caros(as) alunos(as) ........................................................................................................ xi 
Ementa .............................................................................................................................. 1 
Objetivos ........................................................................................................................... 2 
Introdução ......................................................................................................................... 3 
Unidade 1. A formação do Estado português e a expansão marítima ...................... 7 
1.1 A formação do Estado Moderno e a expansão comercial: duas faces do mesmo 
processo ............................................................................................................................ 7 
1.2 Por mares nunca dantes navegados: Portugal na época dos descobrimentos ........... 10 
Unidade 2. A organização da produção: o Antigo Sistema Colonial ...................... 15 
2.1 A fase inicial da exploração econômica: escambo e feitorias – 1500–1530 ............ 16 
2.2 O sistema de capitanias hereditárias: 1530-1549 ..................................................... 19 
2.3 O estabelecimento do governo-geral: 1549 .............................................................. 22 
2.4 A política economica: o Antigo Sistema Colonial ................................................... 25 
2.5 A organização da produção colonial ........................................................................ 27 
Unidade 3. A economia colonial: séculos XVI-XVIII ................................................ 31 
3.1 A economia açucareira ............................................................................................. 31 
3.1.1 Antecendentes ........................................................................................................ 31 
3.1.2 O emprego da mão de obra indígena e africana na economia açucareira .............. 34 
3.2 A mineração no Brasil .............................................................................................. 37 
3.2.1 Antecedentes .......................................................................................................... 37 
3.2.2 A descoberta das minas ........................................................................................ 38 
3.2.3 Conflitos coloniais do século XVIII ...................................................................... 42 
3.2.4 A produção de ouro ............................................................................................... 44 
3.3 A crise do sistema colonial: as inconfidências ........................................................ 46 
Unidade 4. Da Monarquia à República ...................................................................... 49 
4.1 O período colonial tardio .......................................................................................... 49 
4.2 A transferência da família real para o Brasil e o processo de emancipação política 50 
 
xiv 
4.2 A montagem da economia cafeeira .......................................................................... 55 
4.3 A “paz” do Segundo Reinado e o colapso do regime imperial ................................ 57 
4.4 O regime republicano no Brasil ................................................................................ 59 
Caderno de Atividades.................................................................................................... 65 
Referências ..................................................................................................................... 67 
 
 
 
 
11 
 
 
ORGANIZE-SE!!! 
Você deverá usar de 3 
a 4 horas para realizar 
cada Unidade. 
Formação política e 
econômica do Brasil 
 
 
 
 
Ementa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMENTA 
 
 
A disciplina se propõe a uma reflexão sobre a formação e organização 
do Estado brasileiro, partindo da experiência colonizadora até a 
formação do Estado nacional, tendo como abordagem a análise de longa 
duração dos séculos XVI ao XX, em que se pretende analisar os 
aspectos centrais que estruturam a política e a economia no Brasil. 
 
 
 
 
22 
 
 
 
Objetivo Geral 
Compreender o processo de formação política e econômica do Brasil e os 
principais aspectos internos e externos que norteiam esse processo. 
 
Obj eti vos 
Objetivos Específicos 
 Compreender o sentido da colonização para a formação estrutural da 
economia e da sociedade brasileira; 
 
 Analisar as estruturas econômicas ao longo do processo histórico; 
 
 Discutir aspectos da formação do Estado e da nação brasileira como o 
processo de independência e a experiência republicana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
Introdução 
 
 
 
 
O estudo do passado não deve ser apenas uma atividade intelectual em si. Ele é 
indispensável para a compreensão do presente e para a transformação da realidade. "É o 
momento de regressar ao passado, o momento de voltar sobre si mesmo", escreveu 
Lucien Febvre em Combates pela História (1970). É também uma inquietação com o 
presente que nos faz debruçar sobre o passado de um povo, de uma sociedade e de suas 
instituições, que nos levam a ir em busca da sua formação, num conjunto dos fatos e 
acontecimentos essenciais que a constituíram num largo período de tempo, conforme 
postula Caio Prado Júnior no clássico Formação do Brasil Contemporâneo. 
Inserido nesse quadro de ideias, este livro-texto tem por objetivo apresentar as linhas 
gerais do processo de formação do Brasil, destacando o seu passado colonial e o 
programa político nele implícito, problematizando, por meio do processo de transição 
de colônia a nação, os impasses e as possibilidades na constituição da sociedade 
nacional e da democracia no país. Já afirmava Marx que a liberdade consiste na 
conversão do Estado de órgão imposto à sociedade civil em órgão completamente 
subordinado a ela. Com isso, o filósofo-economista quer dizer que a razão de ser do 
Estado é sociedade civil, ou seja, os cidadãos. O Estado não deve, portanto, atuar em 
benefício próprio ou de alguns grupos particulares em detrimento do todo, sob o risco 
de limitar a liberdade. 
Essa foi e continua sendo, no entanto, uma prática política comum na nossa história. 
Conhecer o contexto histórico em que o Brasil se formou e as relações que aqui se 
desenvolveram entre Estado e sociedade ajuda a esclarecer a presença de práticas 
políticas pouco democráticas em diferentes momentos da nossa história. Dessa forma, 
este livro-texto está dividido em quatro unidades. 
Na Unidade 1, A formação do Estado Português e a expansão marítima, estudaremos a 
constituição do Estado Moderno em Portugal, processo precoce em relação às demais 
 
 
 
44 
 
monarquias europeias, de modo a entender o que levou Portugal a ser a vanguarda da 
expansão marítima no século XV. Além disso, apresentaremos as linhas gerais do 
chamado Antigo Sistema Colonial, a política econômica em relação à colônia e os 
mecanismos necessários para que ela funcione a favor do Estado português. 
De acordo com essas diretrizes, abordar-se-á a colonização do Brasil, tema da Unidade 
2, A organização administrativa e econômica da colônia, na qual apresentaremos as 
diferentes formas de exploração tentadas no Brasil, antes da colonização, propriamente 
pela coroa portuguesa. Nessa unidade, também veremos que a opção pela monocultura 
açucareira tinha a ver com as condições do comércio na Europa naquele momento e não 
foi novidade para Portugal que já produzia açúcar nas ilhas do Atlântico, com a mesma 
tecnologia que empregaria aqui. A diferença ficou a cargo do volume da produção e da 
constituiçãode toda uma sociedade cujas relações sociais foram fundamentadas no 
domínio de um homem sobre outro homem, do senhor sobre o escravo, formando a 
mentalidade da sociedade colonial, na qual todos vão querer ser senhore, conforme 
escreveu o jesuíta Antonil, porque traz consigo o ser respeitado e obedecido. 
Na Unidade 3, estudaremos a economia colonial nas suas duas principais atividades, a 
economia açucareira e a mineração, mostrando as relações de poder que se 
estabeleceram em torno da atividade econômica e a crise do sistema colonial no final do 
século XVIII, influenciado pelo contexto liberal norte-americano e europeu, apontando 
para o rompimento político entre colônia e metrópole. 
Até aqui procuramos mostrar a presença de práticas políticas mais ou menos contínuas 
para a vida política do país, relacionando-as ao contexto econômico. 
Na Unidade 4, Da Monarquia à República, estudaremos em linhas gerais (pois outras 
questões serão temas de livros-texto específicos futuros) o processo político da 
emancipação da colônia, a relação das elites agrárias do sudeste, o novo eixo econômico 
do país com o Estado imperial e o sistema republicano no Brasil. Indícios de 
Modernidade em sua época, tanto a monarquia constitucional brasileira, com seu poder 
moderador que concedia ao imperador direito quase absoluto sobre a vida política, 
como a república, com suas estratégias de exclusão da população da vida política do 
 
 
 
55 
 
país ou de coerção, indicam que se tratava antes de uma modernidade de superfície, pois 
traziam em seu bojo um profundo arcaísmo antidemocrático, que foi escancarado pela 
ditadura militar nos “anos de chumbo”. Procurar-se-á entender, por meio da formação 
histórica do país, os impasses e a fragilidade sobre a qual repousa a democracia no 
Brasil. Para tentar reverter esse quadro e transformar essa realidade, é, portanto, o nosso 
intuito. 
 
 
 
 
 
 
66 
 
 
 
 
77 
 
Unidade 1 
Unidade 1 . A formação do Estado português e a 
expansão marítima 
 
 
 
1.1 A formação do Estado Moderno e a expansão comercial: 
duas faces do mesmo processo 
O início da Época Moderna, período em que ocorre o processo de expansão marítima e 
a colonização da América nos séculos XV e XVI, está ligado a um processo geral de 
transformações econômicas, sociais e políticas na Europa. O surgimento do Estado 
Moderno, que evoluiu para o Estado Burguês da forma que conhecemos hoje, ocorreu a 
partir desse período, com a concentração do poder político nas mãos dos soberanos. 
Diversos fatores concorreram para isso, entre eles a crise econômica e social dos séculos 
anteriores, marcados por epidemias de peste, cujo grau de mortandade acarretou a 
diminuição drástica da mão de obra disponível nas cidades e deixou abandonadas as 
lavouras, provocando crise no abastecimento e falta de alimentos. Outro fator que 
colaborou para desestabilizar a economia europeia medieval foi o ciclo de guerras que 
ocorreu entre os séculos XIV e XV, como a Guerra dos Cem Anos, entre França e 
Inglaterra, que forçou os países a aumentar ou criar impostos para financiar as guerras. 
Nesse contexto de crise generalizada, a nobreza, que vivia principalmente dos 
excedentes produzidos no campo, passou a depender cada vez mais do apoio do rei para 
manter suas rendas. Nesse momento, as monarquias europeias souberam reverter esse 
quadro a seu favor, diminuindo os poderes locais que mantinham até então os senhores 
feudais e fortalecendo os poderes régios, centralizando, progressivamente, o poder na 
figura do rei (ANDERSON, 1984). 
 
 
 
88 
 
CURIOSIDADE 
Novidade na Europa no século XVI e 
responsável pelo desenvolvimento 
político e econômico dos Estados 
Modernos, a burocracia existia na 
China desde o século VII. A 
burocracia chinesa centralizava a 
administração e o controle do 
Império, fundado no século III a.C., e 
era a responsável, ao lado das 
crenças filosóficas e religiosas, pela 
força do império. Foi um mecanismo 
de centralização do poder estatal – 
como a Europa faria cerca de mil 
anos depois – fruto de uma reforma 
institucional inspirada em Confúcio 
no século VII, pelos quais, aos 
poucos, foi substituída a casta 
aristocrática que detinha os 
principais cargos de poder por 
mandarins que tinham uma 
formação clássica e eram eleitos por 
mérito e não mais porque 
pertenciam a famílias nobres. 
 
É por meio desse processo que monarquias como a 
França, Espanha, Inglaterra começaram a se 
centralizar, representando, assim, uma ruptura com a 
soberania fragmentada das formações políticas e 
sociais medievais (ANDERSON, 1984). Para 
assegurar para si a autoridade pública e política, os 
Estados Modernos criam uma organização de tipo 
burocrático, uma burocracia racional para o 
cumprimento direto de tarefas administrativas, como, 
por exemplo, o sistema fiscal que, com sua capacidade 
de extrair por meio dos tributos parte do excedente 
produzido pela sociedade, determinava a consolidação 
do centro político e o exercício do poder do Estado 
sobre um território (COSTA, 2000). 
Todo o desenvolvimento do Estado Moderno se faz a partir daí, conforme a análise 
clássica do sociólogo alemão Max Weber, a partir da criação de um poder legal ou 
racional, impessoal, fundado num corpo de regras legais, onde os titulares têm sua 
autoridade limitada a uma determinada esfera de competência (WEBER, 1987). 
Portugal, no entanto, teve sua trajetória histórica e formação política, em certos 
aspectos, diferentes das dos países citados anteriormente. Seu processo de eliminação 
dos fracos traços de feudalismo e posterior centralização do poder na figura do rei é 
precoce em relação aos outros países, ocorrendo entre os séculos XIII e XV. Neste 
período, a nobreza e o clero portugueses têm sua autonomia limitada pelo rei, por meio 
de diversos mecanismos, como a proibição da concessão de novos feudos e a revolução 
de Avis, que coloca no trono português um rei apoiado pela burguesia de Lisboa 
(FAORO, 1997). 
 
 
 
99 
 
No Brasil, o jurista gaucho Raymundo Faoro 
foi um dos pioneiros no uso da sociologia 
interpretativa de Max Weber para analisar a 
formação do sistema político brasileiro. Em 
Os Donos do Poder, publicado primeiramente 
em 1958, Faoro afirmava que desde o 
período colonial o Brasil foi dominado por 
um “estamento burocrático”, cuja origem se 
encontrava nas características peculiares do 
Estado patrimonialista português, 
contradizendo assim a corrente 
historiográfica que afirmava que o Brasil 
tinha vivido um passado “feudal”, o que 
explicaria o domínio e a presença na 
sociedade pós-colonial de poderes rurais 
tradicionais. 
 
Essas transformações políticas fizeram da 
monarquia portuguesa uma das primeiras 
monarquias modernas; no entanto, em Portugal, 
ela manteve traços de patrimonialismo, forma de 
dominação política anterior, tradicional, a qual, 
pela força da tradição, todos deviam obediência 
ao rei. Isso era caracterizado pelas relações de 
caráter pessoal do soberano, em oposição às 
relações impessoais que predominam nos 
sistemas burocráticos modernos, o que explica, 
segundo Weber, a presença de uma das principais características nas monarquias 
patrimonialistas e a falta de distinção entre as esferas pública e privada: a separação 
entre os assuntos públicos e os privados, entre patrimônio público e privado e as 
atribuições senhoriais públicas e privadas dos funcionários se desenvolveu só em certo 
grau dentro do esquema de arbitrariedade do senhor (WEBER, 1987). 
Dentro desse quadro, é que se desenvolverá o capitalismo de tipo monárquico 
português, orientado pela arbitrariedade do soberano que caracterizava o 
desenvolvimento econômico das organizações políticas patrimonialistas 
(FERNANDES, 1976). Faltava ao soberano patrimonialista, segundo Weber, a 
qualidade de calculabilidade, indispensável ao funcionamento de uma organização 
estatalmoderna e ao desenvolvimento histórico posterior de formas econômicas 
capitalistas. 
[E]em seu lugar, aparecem a imprevisibilidade e o volúvel arbítrio dos 
funcionários, o favorecimento ou desfavorecimento do soberano e de 
seus súditos. Assim, mediante um hábil aproveitamento das 
circunstâncias e das relações pessoais, pode perfeitamente um simples 
homem privado obter uma posição privilegiada que lhe ofereça 
probabilidades de lucro quase ilimitadas. Porém deste modo, como é 
evidente, se põe grandes travas a um sistema econômico capitalista 
(Weber, 1987, p. 833). 
É, portanto, dentro dessa moldura que se organiza todo o desenvolvimento econômico 
português no período Moderno, especialmente o processo de expansão comercial e 
marítima portuguesa para a África e Ásia a partir do século XV, que houve um 
 
 
 
1100 
 
desdobramento importante na descoberta e colonização do Brasil. Foram as condições 
políticas analisadas anteriormente que permitiram a expansão marítima portuguesa no 
século XV, que serviu também para reforçar ainda mais o processo de fortalecimento do 
rei. Só um estado forte e centralizado poderia mobilizar recursos em grande escala para 
um empreendimento do nível da expansão marítima, que dependia de investimentos 
econômicos e desenvolvimento das técnicas. O Estado Moderno, com a autoridade 
centralizada na figura do rei, foi, assim, pré-requisito para a expansão marítima, o que 
explica que tenha sido Portugal estar na vanguarda desse movimento. 
 
1.2 Por mares nunca dantes navegados: Portugal na época dos 
descobrimentos 
Denominamos expansão marítima o 
processo histórico de descoberta de novas 
terras, movimento ao qual se dedicaram 
Portugal e Espanha a partir do século XV 
(1400-1500). Esse processo ocorreu devido 
a uma série de fatores, que tem a ver com as 
condições históricas do período, como 
vimos acima. Além dos fatores políticos que 
favoreceram o desenvolvimento moderno 
em Portugal e Espanha, o impulso 
fundamental dos descobrimentos se deve 
também a uma mistura de interesses 
religiosos e econômicos. 
Na esfera religiosa, observa-se uma cruzada 
contra os muçulmanos que desde o século 
VII ocupavam o norte da África; no aspecto 
econômico, predominavam as ideias de 
encontrar ouro na Guiné e procurar por 
 
Figura 1.1 – Mapa contemporâneo de 
Portugal. 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal. 
Acesso em 21 dez. 2009. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Po-map.png
 
 
 
1111 
 
 
Figura 1.2 - Propostas 
 
especiarias no Oriente, cujas rotas tradicionais do período medieval e o trafico no 
Mediterrâneo se encontravam, naquele momento, nas mãos dos turcos. Esse processo de 
expansão é hoje identificado com o de “europeização ou ocidentalização do mundo”, 
tentativa de uniformizar os costumes conforme valores e padrões europeus. Tratava-se 
de um movimento inteiramente novo, que não guardava semelhança com nenhum outro 
processo marítimo anterior, devido ao desenvolvimento náutico da época e, 
principalmente, às consequências que acarretou o desenvolvimento histórico (TOLEDO, 
2010). 
As viagens de descobrimento dos portugueses iniciam-se por volta de 1419, depois da 
conquista de Ceuta, na África, aos mouros, em 1415. Até então, povos árabes 
estabelecidos no norte da África tinham o monopólio do transporte de ouro do Sudão 
ocidental pelo deserto do Saara e daí, por meio do Mediterrâneo, para os comerciantes 
italianos de Genova e Veneza. Com o estabelecimento português na África, mercadores 
e traficantes de escravos conseguiram drenar esse comércio de escravos, ouro e 
produtos do Oriente para Lisboa pelo Atlântico tirando da rota do Saara (BOXER, 
2001). Esse processo de exploração marítima, no entanto, provocou disputa no atlântico 
entre Portugal e Espanha, cujas nobrezas tinham se tornado cada vez mais dependentes 
dos produtos de luxo do Oriente. 
Essa rivalidade está na origem do 
tratado de Tordesilhas, que 
dividiu o oceano entre os dois 
reinos em 1494. Antes disso, 
porém, o tratado de Alcáçovas, de 
1479, estabeleceu a partilha 
horizontal do Atlântico. 
Ratificado em 1480 pelos reis 
espanhóis, o Tratado definia a 
ocupação das ilhas do Atlântico e 
as áreas de influência de cada 
país. Portugal reconhecia o 
domínio da Espanha nas ilhas Canárias. A Espanha, por sua vez, reconhecia os direitos 
 
 
 
1122 
 
CURIOSIDADE 
Portugal deixou à Espanha e a navegadores particulares a opção de explorar o Atlântico no sentido oeste, rumo 
às Índias. Um desses navegadores foi Cristovão Colombo que, segundo registros históricos, estava em Portugal 
quando Bartolomeu Dias retornou da sua viagem marítima com a notícia de que tinha dobrado o Cabo das 
Tormentas. Colombo estaria presente quando Dias narrou toda sua viagem e desenhou a costa da África, légua 
por légua, numa carta de navegação. Essa audiência fez Colombo desistir dos seus empreendimentos em 
Portugal e pedir apoio aos reis da Espanha, que, decididos a competir com Portugal pelos lucros provenientes do 
comércio com o Oriente, decidiu apoiar Colombo a chegar às Índias pelo ocidente, o que resultou no 
descobrimento do continente americano (COUTO, 1999). 
de Portugal sobre as demais ilhas, Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé, bem 
como sobre todas as ilhas e terras descobertas, com o respectivo comércio, a partir de 
um paralelo traçado a sul das Canárias (COUTO, 1999). 
A partir de 1481, a coroa portuguesa começou a explorar o Atlântico sul na África, 
construindo o forte de São Jorge da Mina, navegando até o cabo da Boa Esperança 
(1488) dentro do projeto português de alcançar as Índias (isto é, o Oriente) pelo 
Atlântico sul, rota considerada mais viável, segura e próxima que o “atlântico ocidental” 
- em direção ao Oeste. 
Com o descobrimento da América, criou-se um impasse em relação ao antigo Tratado 
de 1479, que divida o oceano horizontalmente, porque Portugal pretendia estender 
paralelo original a todo o oceano e não apenas às ilhas próximas do continente europeu, 
o que faria com que parte das novas terras descobertas ficasse sob domínio português. 
Foi Colombo quem sugeriu adotar um novo critério para a divisão do Atlântico, 
traçando uma linha a 100 léguas a oeste do arquipélago das Canárias. Tudo o que se 
situasse a oeste dessa linha pertenceria a Espanha e, a leste, a Portugal, o que foi 
rejeitado pela coroa portuguesa que propôs a negociação direta entre os representantes 
dos dois reinos – experientes navegantes, como Duarte Pacheco Pereira, que já tinham 
realizado expedições de reconhecimento à área em litígio. Com o Tratado de 
Tordesilhas, assinado em 07 de junho de 1494, Portugal exigiu o afastamento do 
paralelo para 370 léguas, alegando que esse era o espaço marítimo indispensável para a 
navegação com segurança e facilidade para as Índias. Os reis espanhóis concordaram 
 
 
 
1133 
 
 
Figura 1.3 - Tratado 
 
com a exigência, mas em troca viram garantida uma série de direitos, entre eles o de 
sucessão do trono de Portugal, garantido a D. Manuel, irmão da rainha de Portugal e 
primo-irmão da rainha da Espanha, Isabel (COUTO, 1999). 
Definidas as questões territoriais, 
Portugal retoma as expedições rumo 
às Índias por meio da África. Em 
1497, parte a expedição de Vasco da 
Gama, primeira armada composta 
de naus para cruzar o Atlântico Sul 
e atingir Calicute, na Índia, em 
1498, inaugurando a “época de 
Vasco da Gama da historia asiática” 
(BOXER, 2001, p. 55), 
caracterizada pelo comércio de 
especiarias produzidas na Ásia, que 
tinham grande procura na Europa: 
pimenta, canela, cravo-da-índia, noz moscada, gengibre, que provinham de Malabar, 
Molucas, Malaca, Goa e Ormuz (ver Mapa da Expansão Portuguesa disponível em 
<hptt://pt.wikipedia.org/wiki/Descobrimentos_portugueses>). É nesse contexto também 
que a expedição de Pedro Álvares Cabral partiu de Lisboa e, em uma inflexão 
exageradaa sudoeste, atingiu o Brasil (MAGALHÃES e MIRANDA, 1999). 
Organizada a rota do cabo, o Mediterrâneo perdeu sua importância como via de 
expansão do ocidente para o Oriente. Lisboa, no século XVI, é considerada uma 
“metrópole comercial” com uma aparência “mestiça”, devido à grande presença de 
escravos e mercadores estrangeiros. O Atlântico tornou-se a moldura do capitalismo 
moderno e sua integração inaugurou uma nova era - a capitalista -, e a projeção da 
Europa sobre o mundo (GRUZINSKI, 2000). 
 
 
 
1144 
 
CURIOSIDADE 
 
A polêmica em torno do descobrimento do Brasil 
Verdadeira obsessão entre alguns historiadores, o descobrimento do Brasil é motivo de intensos debates. O 
historiador português Jorge Couto defende a prioridade do navegador Duarte Pacheco Pereira na descoberta, 
apoiado nas instruções dadas a Cabral, secretamente, pelo rei D. Manuel, pelas quais Cabral deveria “procurar o 
continente já visitado por Colombo e Duarte Pacheco”. Para o historiador e almirante brasileiro Max Justo Guedes, 
não havia qualquer ordem para descobrir nada, mas havia uma noção das terras ao sul das que Colombo havia 
descoberto. Já Joaquim Romero de Magalhães, historiador português que, em 1999, publicou os documentos da 
armada de Cabral, entre eles a carta de Pero Vaz de Caminha, o Novo Mundo foi descoberto por acaso. Poderia 
haver suspeita de terras a oeste, mas os documentos não apontam para esse sentido. Segundo Romero, depois de 
descobrir o caminho marítimo para as Índias em 1498, o rei de Portugal queria enviar nova expedição às Índias – 
comando concedido a Pedro Álvares Cabral. Foi a maior frota que, até então, partiu de Portugal. 
 
 
 
 
 
 
1155 
 
Unidade 2 
Unidade 2 . A organização da produção: o Antigo 
Sistema Colonial 
 
 
Na Unidade 1 deste livro-texto, tratamos dos vínculos entre a expansão marítima, que 
provocou a descoberta de novas terras, e a política econômica arquitetada pelas 
monarquias europeias para promover a riqueza e o fortalecimento dos Estados na 
Europa. Vamos ver agora como o Brasil se constituiu em colônia do ponto de vista 
econômico e administrativo, empregando o conceito de colônia de exploração, isto é, 
aquela que promove o seu povoamento com o objetivo principal de explorá-la 
economicamente, ao contrário da colônia de povoamento, que promove a sua 
exploração para atrair colonos e conseguir o seu povoamento (NOVAIS, 1969). 
Nesse sentido, a colônia viveu primeiramente um período de ocupação e exploração 
econômica na forma de feitorias, semelhantes às feitorias comerciais que Portugal 
desenvolvera na África no século XV, que não se caracterizava como colonização. 
Somente após 1549, que podemos falar em colonização efetiva do Brasil, quando se 
estabeleceu na colônia o primeiro governo-geral e, com ele, uma estrutura 
administrativa ligada às necessidades do processo de colonização. Vejamos então como 
a exploração econômica da colônia foi organizada, a partir das diferentes fases e 
atividades desenvolvidas no período colonial. 
 
 
 
 
 
 
1166 
 
 
Figura 2.1 - Bosque de pau-brasil no Jardim 
Botânico de São Paulo. 
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ 
Caesalpinia_echinata>. 
Acesso em 22 dez. 2009. 
 
 
 
 
Figura 2.2 - Detalhe do mapa Terra Brasilis, de 
1519, que mostra indígenas envolvidos na 
atividade de extração de pau-brasil na costa 
brasileira. 
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro: Brazil-16-
map.jpg>. 
Acesso em 22 dez. 2010. 
2.1 A fase inicial da exploração econômica: escambo e feitorias 
– 1500–1530 
As primeiras explorações da costa 
brasileira datam de 1501 e 1503. Por 
ordem do rei de Portugal, a costa 
brasileira foi explorada pelo navegador 
italiano Américo Vespúcio, que deu 
notícias pessimistas ao rei D. Manuel, 
afirmando que na terra recém-descoberta 
só havia pau-brasil e cana-fístula, árvore 
da qual se extraía mirra. Por isso, ainda 
em 1503, o Brasil parecia ser apenas um 
bom lugar para parada de navios no 
abastecimento de água e provisões. 
Porém, as expedições que aqui paravam 
com esses objetivos já levavam 
carregamentos de pau-brasil na sua 
bagagem de volta à Europa. 
 
Ao contrário das outras ilhas do 
Atlântico, como Açores e Madeira, 
onde os portugueses imediatamente 
povoaram e deram início ao processo 
de colonização, o Brasil foi tratado 
pelos portugueses como tratavam os 
territórios explorados na África, isto é, 
o objetivo inicial era apenas a 
exploração por meio de feitorias 
comerciais e não a colonização que, da 
forma como foi definida, implica o 
estabelecimento de uma estrutura mais 
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/Brazil-16-map.jpg
 
 
 
1177 
 
CURIOSIDADE 
Uma madeira similar ao pau-brasil já era conhecida pelos europeus desde a Idade Média e utilizada com o mesmo 
fim de tingir tecidos. Era extraída desde o século XV na Ásia, especialmente na ilha de Sumatra, no Oceano Pacífico, 
e chamava-se em latim lignum brasile. Como se percebe, a madeira já devia seu nome à “brasa”, devido à cor 
vermelha que produzia. Em francês, chamava-se bresil e, em português, brasile. Era conhecida pelos índios do 
Brasil com o nome de ibirapitanga, que significa “madeira vermelha”. 
complexa que a de uma feitoria comercial. 
Nesse primeiro momento de exploração do Brasil, os produtos comercializáveis eram, 
principalmente, madeiras para tintura e animais exóticos, como macacos e papagaios. 
Além desses “produtos”, os europeus já enviavam índios escravizados para serem 
comercializados na Europa. 
Assim, os primeiros contatos entre os portugueses e os índios do Brasil ocorreram 
devido ao comércio de pau-brasil, madeira que produzia um corante vermelho muito 
usado na Europa para tingir tecidos como linho, seda, algodão, tecidos estes que seriam 
usados na confecção de roupas luxuosas para a nobreza europeia. 
Conforme registros da época, a exploração do pau-brasil era rudimentar, feita com a 
ajuda dos indígenas, com ferramentas portuguesas, em troca de miçangas e 
quinquilharias. Eram extraídos troncos de 8 a 12 m de altura, com 80 cm de diâmetro, 
encontrados no litoral - do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte. A madeira extraída 
era enviada para a Europa, onde havia grande comércio. Em Flandres, por exemplo, 
importante centro europeu de manufaturas têxteis, a única madeira corante usada era o 
pau-brasil de Pernambuco (MARCHANT, 1980) 
 
Como essa atividade econômica foi organizada pela coroa portuguesa? Nas primeiras 
décadas de exploração, estabeleceu-se o monopólio régio do pau-brasil, isto é, só a 
coroa portuguesa poderia explorar essa atividade, ficando proibida a exploração privada. 
Porém, não tendo ainda nos primeiros anos de exploração gerado grande receita para 
Portugal, especialmente quando comparada com a riqueza do comércio proveniente da 
Índia, a coroa portuguesa preferiu transferir a exploração do pau-brasil a particulares, 
por meio de contratos de arrendamento. Por meio desses contratos, o comerciante 
obtinha o direito de explorar o pau-brasil e comprometia-se a enviar a quinta parte da 
 
 
 
1188 
 
madeira extraída ao soberano. Além disso, o arrendatário do contrato deveria enviar seis 
navios para o Brasil, com o objetivo de explorar 300 léguas de costa e construir uma 
fortaleza, mantendo-a por sua conta durante um período de três anos e tirando da 
responsabilidade da coroa a proteção do novo território descoberto (COUTO, 1999) 
A primeira frota enviada nesse sistema de arrendamento da exploração saiu de Lisboa 
em agosto de 1502 e explorou Porto Seguro por um ano, retornando a Portugal com 
pau-brasil e escravos indígenas. Em 1505, a coroa retomou o monopólio de exploração 
do pau-brasil que deveria durar, sob controle da coroa, até 1534. Neste período, a coroa 
portuguesa instalou feitorias ao longo da costa, em pontos estratégicos, como Porto 
Seguro, Cabo Frio, Pernambuco,e autorizou embarcações comerciais a desembarcar e 
comerciar com os índios. A política de arrendamento e exploração do Brasil, no entanto, 
deixou o território a mercê de invasores estrangeiros, porque o lucro da venda do pau-
brasil na Europa, ao longo dos anos, tornara-se considerável. Não se conhece 
exatamente os lucros dessa atividade, mas, sem dúvida, eram grandes para atrair a 
atenção de novos investidores e estados estrangeiros, como a França que, não tendo 
colônias na América, praticavam o comércio ilegal de pau-brasil. 
Esse comércio praticado pelos franceses acabou por criar entre Portugal e França um 
grave problema geopolítico, devido à presença constante de piratas franceses nas costas 
do Brasil, cujos ataques tornaram a exploração do pau-brasil pouco atrativa. É dessa 
época a célebre frase do rei da França, Francisco I, que teria dito, em resposta às 
queixas de Portugal, desconhecer onde estava escrito no testamento de Adão que o 
mundo deveria ser dividido entre espanhóis e portugueses apenas. A frase do rei francês 
indicava que os franceses não aceitavam os direitos exclusivos de Portugal sobre o 
Brasil e, com base na lei das nações, o jus gentium, e no conceito de império, insistiram 
no seu direito de comerciar livremente, recusando-se a respeitar qualquer pretensão 
territorial que não tivesse sido, efetivamente, ocupada pelos portugueses, o que no 
período significava toda a costa do Brasil (COUTO, 1999). 
 
 
 
 
1199 
 
Os direitos portugueses sobre o Brasil foram 
fixados em bulas papais e estabelecidos a partir 
da tradição medieval canônica da jurisdição 
papal, conceito formulado no século XIII, que 
conferia autoridade ao papa para atribuir, na 
forma de monopólios, as terras descobertas ou a 
descobrir a todo governante que aceitasse 
evangelizá-las. Esse conceito foi atacado no 
Renascimento e já não era aceito nem mesmo 
entre os juristas e teólogos espanhóis, como 
Francisco Vitória, que questionava, no século 
XVI, os direitos do papa à jurisdição do mundo. 
Juridicamente, as bulas papais e o tratado de 
Tordesilhas eram reconhecidos apenas pela 
Espanha. 
CURIOSIDADE 
 
As informações da nau Bretoa, navio que esteve no Brasil em 1511, revelam os 
produtos que encontravam mercado em Portugal. Quando retornou para a 
Europa, a nau levava em sua carga 5 000 toras de pau-brasil, 22 tuins, 16 
saguis, 16 gatos, 15 papagaios, 3 macacos, tudo isso avaliado em 24$220 rs 
(vinte e quatro mil duzentos e vinte réis), além de 40 peças-escravos, na 
maioria mulheres. 
Durante toda a década de 1520, a reação de Portugal contra a pirataria e o contrabando 
franceses foi a de enviar frotas para patrulhar os 
mares com instruções para afundar navios 
estrangeiros não autorizados. A estratégia 
portuguesa, no entanto, não foi bem sucedida, 
pois, não só a pirataria não diminuiu como foi 
ampliada para outras áreas do império 
português, como o Açores e o estreito de 
Gibraltar. Segundo registros, entre as décadas 
de 1520 e 1530, teriam sido capturados pelos 
franceses cerca de 20 navios portugueses por ano. 
Diante desse quadro, a coroa portuguesa recuou, pois era impossível patrulhar toda a 
costa e também não havia dinheiro suficiente para povoá-la. A coroa portuguesa decide 
então que deveria ser 
instalado no Brasil algum 
tipo de colônia 
permanente, de maneira a 
ocupar e efetivar a posse 
do território. 
 
 
2.2 O sistema de capitanias hereditárias: 1530-1549 
A primeira solução encontrada pela coroa portuguesa para ocupar efetivamente o 
território foi o sistema de capitanias hereditárias. Esse foi um dos objetivos da 
expedição de Martim Afonso de Sousa em 1530. Com uma frota de cinco navios e 
quatrocentos colonos, a expedição servia tanto à antiga política de patrulha da costa 
como à nova - de colonizar. Assim, depois de reconhecer a costa, foi estabelecida uma 
colônia em 1532, no litoral sul, em São Vicente, por meio de concessões de terras aos 
chamados capitães donatários. 
 
 
 
2200 
 
 
Figura 2.3 - Capitanias hereditárias (Luís 
Teixeira. Roteiro de todos os sinais..., c. 1586. 
Lisboa, Biblioteca da Ajuda. 
Fonte:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitanias_do
_Brasil>. 
Acesso em 05 maio 2011. 
 
 
 
Além da concessão de dez léguas da costa 
como propriedade própria, os donatários 
recebiam amplos poderes, como da 
jurisdição; da cobrança de impostos; dos 
privilégios, como o de fundar cidades, 
nomear funcionários, distribuir terras a 
outros colonos; do controle do comércio de 
escravos de índios, além de uma 
porcentagem do comercio de pau-brasil. 
Conforme Schwartz, o objetivo desse 
sistema era o de estimular o povoamento e o 
desenvolvimento econômico da colônia, daí 
os benefícios que os donatários recebiam 
(SCHWARTZ e LOCKHART, 2002). 
Segundo o perfil que Schwartz e Lockhart 
traçam dos donatários, eles eram fidalgos 
portugueses, nobres menores, isto é, 
membros da pequena nobreza, funcionários 
da Coroa e soldados que lutaram nas Índias, recebendo terras como mercê, isto como 
forma de recompensa pelos serviços prestados à coroa portuguesa no ultramar. Muitos 
donatários não dispunham de nenhum conhecimento prévio da função, nem de recursos 
financeiros para tocar o empreendimento, daí serem poucos os casos bem sucedidos do 
sistema de capitanias. Outros jamais conheceram suas possessões no Brasil, 
abandonando o projeto colonizador sem nem mesmo começar (SCHWARTZ e 
LOCKHART, 2002). 
 
 
 
2211 
 
 
Figura 2.4 - Ruínas do Engenho dos Erasmos, na atual divisa de São Vicente e Santos. 
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Engenho_dos_Erasmos>. 
Acesso em 05 maio 2011. 
 
Entre os casos bem sucedidos, podemos citar a capitania de São Vicente, no sul, que 
contou com a aliança do náufrago João Ramalho, que já vivia junto aos índios da região 
antes do estabelecimento dos portugueses. Nessa capitania, não havia pau-brasil, mas 
seu donatário, Martim Afonso de Sousa, conseguiu com que investidores estrangeiros 
investissem na produção de açúcar na região. O próprio Martim Afonso era dono de um 
engenho que, posteriormente, foi adquirido por uma família holandesa e recebeu o seu 
nome, sendo conhecido então como engenho dos Erasmos ou dos Schetz. 
 
Em termos econômicos, a economia açucareira desenvolvida em São Vicente foi 
semelhante àquela desenvolvida pelos portugueses nas ilhas do Atlântico, como a ilha 
da Madeira. Tratava-se, basicamente, de um empreendimento português montado com 
capital estrangeiro para produzir açúcar, ainda em pequena escala, para o comércio 
europeu (SCHWARTZ, 1992). 
O maior sucesso nessa primeira etapa do processo de colonização foi, sem dúvida, a 
capitania de Pernambuco, de Duarte Coelho Pereira, que migrou de Portugal com toda a 
família, irmãos e colonos para povoar a nova terra. É bastante favorecido pela 
localização da capitania, que era uma importante área de exploração de pau-brasil. Além 
disso, Duarte Coelho, assim como Martim Afonso, atraiu para a sua capitania outros 
investimentos – a produção de açúcar, que foi desde o início muito bem sucedida. 
Em1542, a capitania de Pernambuco já adquiria escravos africanos para trabalhar nos 
engenhos e, em 1585, já contava com mais de 60 engenhos de açúcar. Outro fator 
 
 
 
2222 
 
importante que ajudou o desenvolvimento de Pernambuco foi a aliança firmada com os 
índios por meio dos casamentos dos colonos com índias, estabelecendo vínculos 
familiares que garantiram o suprimento de comida e mão de obra ao povoamento desde 
as primeiras décadas. 
Entre as capitanias que malograram na tentativa de colonização, está Porto Seguro, 
capitania doada a um nobre português que migrou para o Brasil. Seu donatário foi aqui 
acusado de heresia e, perseguido pela Inquisição, retornou a Portugal. Da mesma forma, 
a capitania de Ilhéus não resistiu aos ataques de índios Aimorés e fez seu com que o seudonatário vendesse seus direitos a um mercador italiano. Na Bahia, igualmente, a 
invasão de terras provocou grande resistência e ataques por parte dos índios. Decididos 
a abandonar o empreendimento, os colonos tentaram retornar a Portugal, quando 
sofreram um naufrágio e foram mortos pelos índios. 
Assim, apesar dos casos bem sucedidos de São Vicente e Pernambuco, o sistema de 
capitanias não vingou, fracassando como instrumento de colonização. Entre as causas, 
Schwartz aponta que Portugal, apesar da riqueza do comércio com as Índias, era um 
país pequeno com o compromisso excessivo de criar tantas colônias. Era um “convite 
ao desastre”, como escreve o autor, mas era o possível na época. O autor destaca 
também a importância das alianças indígenas no empreendimento, enfatizando que ali 
onde elas ocorreram o sistema foi bem sucedido. 
Diante desse quadro, o fracasso de algumas capitanias mais o grande sucesso financeiro 
de Pernambuco levaram a coroa portuguesa a assumir, em 1543, o controle direto da 
colônia, instituindo, em 1549, o governo-geral. 
 
2.3 O estabelecimento do governo-geral: 1549 
Em relação ao que foi dito anteriormente, podemos observar que, depois de quase 
cinquenta anos da “descoberta” do Brasil, a posse do território, principal causa da 
colonização, continuava ameaçada. As expedições guarda-costas não resolveram o 
problema da manutenção da posse. A colonização por meio de capitanias também não 
 
 
 
2233 
 
tinha dado resultados práticos e os índios não paravam de ameaçar os núcleos de 
povoamento existentes. Daí a nova tentativa da coroa portuguesa para garantir a posse 
da terra por meio do estabelecimento de um sistema administrativo e da presença de um 
governador-geral, de modo a garantir a permanência do povoamento e desse suporte 
econômico ao povoamento, estruturando uma produção de gêneros para o comércio 
europeu. 
O conceito de colonização, portanto, deve ser entendido nesta chave explicativa, 
enquanto “ocupação, povoamento e valorização econômica” de certa região, conforme 
visto anteriormente e definido por Fernando Novais. Isso significa que o processo 
colonizador empreendido no período moderno foi orientado pela política mercantilista 
das monarquias europeias, conforme estudado na Unidade anterior, ou seja, a 
colonização é realizada, em grande medida, em função das exigências das economias 
metropolitanas, visando à ampliação do setor mercantil na metrópole e ao 
fortalecimento do poder real (NOVAIS, 1969). Este é o sentido da colonização, o de ser 
retaguarda da metrópole, conforme a análise clássica de Prado Júnior (1994). 
O império português, embora tivesse um objetivo comum em desenvolver 
economicamente suas colônias, não adotou um único modelo administrativo. Na Índia, 
houve um vice-reinado desde o início da colonização, que abrangia todas as possessões 
portuguesas, do Cabo da Boa Esperança até o Extremo Oriente. No Marrocos, as várias 
praças e fortificações lá instaladas, desde o século XV, tinham governos independentes. 
Da mesma forma na África subsaariana, as possessões também eram independentes, 
espécies de reinos, como Angola. Segundo Ricupero, o tipo de administração levava em 
conta a realidade local, a dificuldade de comunicações, entre outros fatores 
(RICUPERO, 2006). 
No Brasil, a solução adotada foi a de um governo-geral que tinha por função, além de 
defender os portugueses contra os índios que resistiam à colonização, fundar uma nova 
povoação à qual seria dado o nome de São Salvador; castigar os índios que destruíram a 
antiga capitania da Bahia, fazendo com que a punição servisse de exemplo aos outros 
índios, além de favorecer os índios que não participaram da destruição, de modo a obter 
seu apoio. 
 
 
 
2244 
 
Eram funções do governador-geral também tomar medidas em relação à defesa das 
capitanias, mandando construir fortes, cercar as vilas e engenhos, juntar populações e 
fundar vilas, estabelecer cadeia em todas as vilas, demonstrando que sua autoridade se 
dava também em nível local, isto é, das câmaras municipais. Estabelecido no Brasil, o 
governador poderia então exercer o controle direto sobre os donatários, funcionários da 
coroa e moradores. Assim, capitães-mores e câmaras deveriam passar a funcionar como 
instâncias inferiores ao governo geral, que poderia, assim, limitar e controlar os poderes 
locais, como as câmaras e a burocracia colonial. 
Vejamos agora qual era a situação das capitanias depois do estabelecimento do governo-
geral para percebermos corretamente o papel que representou para a economia colonial 
o estabelecimento do governo-geral. Quando da chegada de Tomé se Sousa, em 1549, 
havia dois tipos de capitania: as capitanias reais, como a Bahia, compradas pela coroa 
portuguesa aos descendentes, e as capitanias particulares. A partir daquela data, as 
capitanias reais, por causa do apoio da coroa portuguesa que investia financeiramente na 
melhoria das capitanias, principalmente em fortes e presídios, passaram a ter franco 
desenvolvimento (RICUPERO, 2006). Já as capitanias particulares não apresentavam o 
mesmo desenvolvimento, com exceção de Pernambuco e Itamaracá. As demais 
capitanias privadas, como São Vicente e Espírito Santo estavam estagnadas ou como 
Porto Seguro e Ilhéus, em franca decadência. 
Fica claro que, estabelecido na colônia o sistema de governo-geral, nas décadas que se 
seguiram a sua instalação, ele passou a ter um papel central na montagem do processo 
de colonização do Brasil, atuando nas guerras contra índios e invasores estrangeiros, 
como os franceses no Rio de Janeiro. O governo-geral possibilitou também a conquista 
de novas terras – como as capitanias da Paraíba (1584), Sergipe (1587), Ceará (1603-
13), Maranhão (1612-15) – e de escravos indígenas para a expansão da agricultura e da 
cana de açúcar, alicerce da economia colonial nos séculos XVI e XVII e fundamento de 
uma elite que nascia na colônia totalmente envolvida com o processo de colonização 
(RICUPERO, 2006) 
 
 
 
 
2255 
 
2.4 A política economica: o Antigo Sistema Colonial 
A partir da política econômica que dirige as ações do Estado no período Moderno, o 
Mercantilismo, a administração e o gerenciamento da colônia eram feitos a partir da 
metrópole. O mercantilismo pautava-se na ideia de metalismo, isto é, na identificação da 
riqueza com o metal nobre amoedável, especialmente o ouro e a prata. Ao contrário do 
pensamento medieval, cujo ideal era a pobreza, a política econômica dos Estados 
Modernos considerava que o enriquecimento era desejável e se fazia por meio do 
comércio. Essa é uma das ideias que levaram os países à expansão marítima. 
Outra forma de enriquecimento do Estado era o protecionismo. Para tal, o rei deveria 
colocar impostos em todas as entradas e saídas da sua região, incentivar a exportação de 
produtos industrializados, subsidiando essas exportações e importar produtos artesanais 
ou sobretaxar a sua produção local de modo a não incentivá-la. Outro princípio do ainda 
do mercantilismo era o colonialismo, pelo qual os Estados procuravam se expandir 
comercialmente e enriquecer por meio do comércio de especiarias; dos produtos 
tropicais, como o açúcar, dos metais preciosos. É graças ao colonialismo que Portugal e 
Espanha  num primeiro momento, com a descoberta e colonização da América , 
França, Inglaterra e Holanda, num segundo momento, construíram seus impérios 
coloniais (NOVAIS, 1983). 
Em relação às colônias, a política mercantilista tinha por objetivo resguardar a área 
colonial dos demais países. Dessa forma, a medula do sistema, isto é, o ponto essencial 
para o seu perfeito funcionamento, tornou-se o monopólio do comércio. Esse é o eixo 
em torno do qual girava toda a política colonial. O monopólio definiu o sistema 
colonial, conforme análise de Novais (1983). A colônia, assim, só passou a ter sentido, 
devido à possibilidadede explorar o seu comércio por meio do monopólio. 
Para isso, existe entre metrópole e colônia, um pacto colonial que define as funções de 
cada parte. À colônia, coube produzir exclusivamente mercadorias tropicais (pau-brasil, 
açúcar) e metais preciosos, que foram comercializados pela metrópole na Europa. Já à 
metrópole, coube abastecer a colônia de produtos manufaturados cuja produção 
posteriormente proibida na colônia não era incentivada. Esse é o “sentido da 
 
 
 
2266 
 
colonização”, segundo o conceito clássico de Prado Júnior (1994): ser a retaguarda 
econômica da metrópole. É esse sistema econômico que permitiu à metrópole o seu 
enriquecimento, por meio dos “lucros extraordinários”, advindos do monopólio colonial 
(NOVAIS, 1974). Resumindo, a metrópole – no caso estudado, Portugal – enriquecera 
de maneira extraordinária, por meio do seguinte esquema: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mecanismo de funcionamento do Antigo Sistema Colonial. 
Esse esquema ilustra os vínculos da colonização europeia com a política mercantilista e 
com a etapa de formação do capitalismo comercial. Podemos verificar, assim, a 
importância fundamental da colonização moderna, pois permitiu o fortalecimento do 
Estado Moderno e a ascensão de uma burguesia mercantil na Europa que enriquecia 
com a venda de produtos coloniais e de produtos manufaturados para a colônia 
(NOVAIS, 1974). 
 
BRASIL 
Vende sua produção à 
metrópole a preços 
monopolistas 
 
Compra manufaturados 
da metrópole a preços 
monopolistas 
 
 
MERCADO EUROPEU 
 
Compra de Portugal a 
produção produzida na 
colônia aos preço do 
mercado europeu 
 
PORTUGAL 
 
Compra produtos coloniais ao 
menor custo 
 
Vende para a colônia produtos 
manufaturados a preços 
monopolistas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2277 
 
2.5 A organização da produção colonial 
Essas são as linhas mestras do Antigo Sistema Colonial, pelas quais, após o 
descobrimento da América, os estados europeus se organizaram para explorar o novo 
continente, de modo a promover o seu enriquecimento, isto é, das metrópoles europeias 
que promoveram a expansão marítima. Chamamos esse processo de colonização 
moderna ou sistema colonial, isto é, um conjunto de regras que orientam a relação 
econômica entre a metrópole e suas colônias. Colonizar, portanto, no período moderno 
– aquele compreendido, em linhas gerais, entre o Renascimento e a Revolução Francesa 
–, não significa apenas povoar, promover a imigração de povos de uma região para 
outra, mas tem um significado mais profundo. Colonizar significa ocupar um território, 
povoar e, principalmente, promover a exploração de uma atividade econômica voltada 
para o mercado metropolitano, isto é, para o mercado europeu (NOVAIS, 1969). O 
Brasil, enquanto colônia de Portugal, insere-se neste contexto - o de exploração de 
caráter mercantil, que marcou, profundamente, a sua vida econômica e social. 
Quando o Brasil foi “descoberto”, em 1500, Portugal já explorava comercialmente 
regiões da África e da Ásia, mas na forma de entrepostos ou feitorias que 
comercializavam os produtos existentes nessas regiões. Nesse caso, os europeus não 
intervinham diretamente na produção das mercadorias, mas apenas comercializam-na. 
Isso não é colonizar, conforme o conceito que vimos anteriormente. No Brasil, após o 
período de comercialização do pau-brasil, a exploração agrícola de produtos tropicais 
foi a forma encontrada pela coroa portuguesa para valorizar a sua colônia e garantir sua 
posse, constantemente ameaçada pelos interesses franceses. O processo de expansão 
marítima, por sua vez, foi um instrumento da expansão da economia mercantil europeia 
para outros territórios. Por esse motivo, toda atividade econômica se orientava segundo 
o interesse da burguesia comercial europeia. A colônia, portanto, foi instrumento de 
riqueza da burguesia metropolitana e do poder da coroa portuguesa. A política 
econômica da época moderna visava, assim, à centralização e ao poder do Estado e 
provocou o enriquecimento da burguesia europeia. 
No entanto, constituiu-se também na colônia uma elite cujo enriquecimento da 
historiografia recente mostrou que “passava pelo serviço do rei”, como escreveu 
 
 
 
2288 
 
recentemente Bicalho (2005, p. 74). Nesse sentido, os diversos serviços prestados ao rei 
pelos colonos que já tinham algumas posses – a defesa da colônia contra estrangeiros e 
a conquista das terras do sertão aos índios, por exemplo – resultavam em mercês 
remuneratórias, funcionando como estratégias para o enriquecimento e “enobrecimento” 
da elite colonial. 
O pagamento pelos serviços prestados à metrópole vinha na forma de terras, títulos de 
fidalgo, com direito à pensão em dinheiro etc. Mas, especialmente, na forma de cargos 
na burocracia colonial. Envolvidos, ao mesmo tempo, em vários setores da economia 
colonial e da burocracia administrativa, muitos colonos souberam utilizar-se dessa 
estrutura organizacional em beneficio próprio, de modo a conseguir o seu 
enriquecimento, prática a qual a metrópole fazia vistas grossas porque precisava desses 
agentes para a colonização. Assim, apesar do enriquecimento da metrópole e do seu 
grupo mercantil, desde os primórdios da colonização, a ocupação de cargos burocráticos 
e postos militares operaram no sentido de fortalecer o poderio econômico e social dos 
agentes coloniais (TOLEDO, 2006) 
Sendo, no entanto, o principal motivo da colonização o enriquecimento da metrópole, a 
produção colonial organizou-se de modo a se ajustar a esse objetivo. Para tal, a 
atividade econômica a ser desenvolvida no Brasil será a agricultura de produtos 
complementares a da Europa. No caso do Brasil, esse produto foi a cana-de-açúcar 
voltada para a produção de açúcar branco e mascavo, comercializados no mercado 
europeu, como veremos adiante. A cultura da cana é assim escolhida porque permitia à 
coroa portuguesa valorizar economicamente a colônia e promover a sua ocupação e o 
seu povoamento, assegurando assim a defesa da colônia (NOVAIS, 1969) 
A opção pela exploração econômica de um só produto, a chamada monocultura, 
destinada à exportação, encontra sua lógica na natureza da colonização da época 
moderna. A monocultura de exportação é, portanto, inerente à colonização da época 
mercantilista e deriva das condições históricas – políticas e econômicas – do momento. 
Realizada dessa forma, por meio da exploração de um só produto, a economia colonial 
foi complementar a da metrópole e mostrou a necessidade de adquirir tudo o que não é 
produzido na colônia. Dessa forma, as colônias, além de produtores para as metrópoles, 
 
 
 
2299 
 
Metrópole: no contexto do sistema 
colonial, o termo identifica o país 
que detém o domínio político e 
econômico sobre uma colônia. 
Identifica, assim, um centro de 
poder e uma região periférica. 
 
CURIOSIDADE 
Introduzido na Europa pelos venezianos, o consumo do açúcar foi popularizado pelos portugueses, que são 
responsáveis também pela popularização do tabaco, que era ainda desconhecido na Europa. No início da expansão 
comercial, esses produtos eram conhecidos apenas pelas virtudes medicinais que lhes eram atribuídas. Em pouco 
tempo, no entanto, o tabaco e o açúcar se transformaram de condimento de luxo e remédio dado aos doentes em 
objetos de desejo de muitas pessoas. Até o século XV, o açúcar era uma droga de luxo, como a pimenta, acessível a 
poucos e vendida em boticas. Os que não podiam comprar açúcar (isto é, a maioria) adoçava os alimentos com mel. 
De tão luxuoso, o açúcar era deixado como herança em testamentos da nobreza e presenteado por reis a outros 
monarcas. 
 
tornam-se também centros consumidores da produção metropolitana, gerando a 
dependência da economia colonial da sua metrópole (NOVAIS, 1969) 
Da mesma forma que os interesses econômicos europeus 
determinaram a forma de exploração econômica, o modo de 
produçãoa ser empregado na colônia também foi 
estabelecido em função dos interesses da metrópole, de 
modo a permitir a maior lucratividade possível. Isso explica também o emprego da mão 
de obra escrava no Brasil, no momento em que essa forma compulsória de trabalho 
estava quase extinta na Europa. O emprego de mão de obra livre assalariada nesse 
momento poderia gerar uma economia de subsistência ou o desenvolvimento 
econômico interno, o que escaparia aos interesses da metrópole. O objetivo da colônia 
não era o seu povoamento, mas a exploração mercantil. A política metropolitana não era 
uma política que visava o individuo, mas a colônia se constituía para enriquecer a 
metrópole, como vimos. Por isso, renasce na colônia, no período moderno, a escravidão, 
cujo tráfico fará a fortuna de muitos mercadores. 
 
 
 
 
3300 
 
 
 
 
 
3311 
 
Unidade 3 
Unidade 3 . A economia colonial: séculos 
XVI-XVIII 
 
 
3.1 A economia açucareira 
3.1.1 Antecendentes 
Quando os portugueses iniciaram o cultivo da cana e a fabricação de açúcar no Brasil, a 
partir da década de 1530, essa atividade não era nenhuma novidade para eles, pois eles 
já cultivavam a cana-de-açúcar, trazida da Sicília por ordem do infante D. Henrique, nas 
ilhas portuguesas do Atlântico, como a Ilha da Madeira e os Açores. Da mesma forma, 
não se constituiu novidade o emprego da mão de obra escrava africana na economia 
açucareira. A novidade foi o volume de açúcar produzido pelo Brasil, que levou à ruína 
a produção das ilhas portuguesas, e a proporção que atingiu o tráfico de escravos 
africanos, que se transformou, por si só, numa atividade tão ou mais lucrativa que a 
produção de açúcar (MAURO, 1997) 
Os primeiros registros que temos da produção de açúcar nas ilhas do Atlântico datam de 
1502, quando cabiam ao rei de Portugal apenas 500 arrobas do açúcar produzido nos 
Açores. Próximo do fim do século XVI, em 1570, a produção de açúcar da Ilha da 
Madeira era relativamente grande, de 200 mil arrobas. O surto do açúcar brasileiro, no 
entanto, foi responsável pelo declínio do açúcar nessas ilhas. Outros fatores, 
especificamente locais, concorreram para o declínio da produção nas ilhas. Como 
mostram numerosos autores, a produção do açúcar exigia grandes capitais e uma 
extensa rede de serviços intermediários, o que incluía processo de refino e 
representantes comerciais em Lisboa e na Flandres, responsáveis pela maior parte dos 
negócios. Onde não estivessem constituídas essas redes, dificilmente a produção 
 
 
 
3322 
 
passaria do consumo interno, isto é, as vendas não ultrapassariam o mercado local para 
atingir o mercado internacional. Assim foi nas ilhas portuguesas do Atlântico, mas 
também no México, no Peru e em Cuba, isto até o século XIX. (BRAUDEL, 1979). No 
Brasil, no entanto, a produção de açúcar nos séculos XVI e XVII atingiu níveis 
espetaculares e foi a principal riqueza do império português. 
Desde 1510, tem-se notícias do açúcar brasileiro na Europa, mas é só a partir de 1570 
que começou a se exportar o produto em quantidades significativas. O principal destino 
da produção açucareira era Lisboa. Por meio de Lisboa, o açúcar ia para as mãos dos 
holandeses. A Holanda comprou, até 1600, 2/3 do volume de açúcar produzido no 
Brasil. O açúcar era refinado na Holanda e, em seguida, comercializado em toda a 
Europa. A inexistência de refinarias no Brasil deveu-se em parte à ausência de 
concorrência no mercado português, o que resultou num mercado menos complexo e 
menos exigente, levando o açúcar “barreado” do Brasil a uma maior aceitação 
(SCHWARTZ, 1992). 
Até o século XIX, o açúcar foi o principal produto de exportação no Brasil. Mesmo 
durante o período áureo do ouro, quando o Brasil ajudou a impulsionar a revolução 
industrial na Inglaterra, o valor das exportações de açúcar excedeu o de qualquer outro 
produto (SCHWARTZ, 1995). Embora já existissem engenhos de açúcar em São 
Vicente, desde a época das capitanias hereditárias, o centro da produção açucareira não 
estava no Sul da colônia, mas na atual região Nordeste, devido à presença nesta região 
do solo de massapé, específico dos climas quentes e úmidos, que retém muito bem a 
umidade. Muito rico em material orgânico, além de muito resistente, o massapé 
permitia até seis colheitas de cana antes de se esgotar. Outro tipo de solo que permitia a 
lavoura da cana era o salão, que era mais arenoso e, portanto, incapaz de reter tanto a 
umidade, característica essencial para a cultura da cana. As areias eram então o solo 
destinado ao cultivo da mandioca. 
Durante a segunda metade do século XVI e todo o século seguinte, essa foi a região da 
cana-de-açúcar. Em torno dessa atividade econômica, formou-se a chamada sociedade 
açucareira, com destaque para Pernambuco e Bahia. Apenas no século XVIII, a 
 
 
 
3333 
 
produção de açúcar, cuja exportação partia do Rio de Janeiro, ganhou volume e 
expressão, a partir da região de Campos dos Goitacazes. 
No início da produção colonial (século XVI), a palavra engenho designava apenas a 
máquina de fazer açúcar - o moinho propriamente. Com o tempo, o engenho passou a 
denominar todas as propriedades, terras e lavouras de cana, tornando-se um complexo 
açucareiro, uma unidade de produção. Por meio desse processo, os 63 engenhos 
instalados em Pernambuco, em 1591, produziram 378 000 arrobas de açúcar ou 87 
toneladas por engenho. Igual prosperidade vivia a Bahia, que também contava com 63 
engenhos, produzindo, em 1610, 300 000 arrobas de açúcar ou 69 toneladas por 
engenho (SCHWARTZ, 1992). Em 1614, a produção total de açúcar no Brasil atingia 
700 000 arrobas, produzidas em 192 engenhos, cifra que aumentou para 960 000 
arrobas, produzidas em 300 engenhos, em 1624, às vésperas da invasão holandesa. A 
montagem e grande expansão da economia açucareira no Brasil ocorrem, portanto, entre 
1570 e 1620, o número de engenhos aumentou e o consumo do produto expandiu-se, 
provocando a elevação do preço do açúcar acima do nível de elevação geral dos preços 
na Europa. 
O século XVII, no entanto, ficou conhecido como o século da crise generalizada na 
Europa, conjuntura que colaborou para o declínio da produção açucareira no Brasil. A 
partir de 1620, no contexto da guerra entre a Holanda e o império espanhol, os preços 
do açúcar sofreram queda. Da mesma forma, a concorrência externa começou a afetar a 
produção do açúcar brasileiro. 
Depois de um breve período de recuperação, em 1630, quando seus preços subiram 
120%, enquanto os preços dos produtos locais subiram apenas 45%, o açúcar sofreu 
nova queda (de 7%) entre 1635-1652. (FERLINI, 2003). Essa tendência manteve-se até 
o final do século seguinte, quando ocorreu um surto de renascimento da economia 
açucareira devido a outras condições históricas. 
 
 
 
3344 
 
3.1.2 O emprego da mão de obra indígena e africana na economia 
açucareira 
A escravidão não desapareceu por completo na Europa ocidental e mediterrânea após o 
colapso do Império romano. Porém, ao longo da Baixa Idade Média, a escravidão, 
enquanto sistema de trabalho, deixou de existir no Ocidente europeu, com exceção dos 
países do Mediterrâneo, isto é, dos países das penínsulas Ibérica e Itálica. Porém, 
mesmo assim, a escravidão era, nos séculos XIV e XV, uma instituição urbana e tinha 
pouca importância no conjunto da economia, pois o emprego em larga escala de 
escravos na produção agrícola havia se tornado residual nessas regiões. Assim, a 
recriação do escravismo, enquanto emprego massivo de escravos nas tarefas agrícolas, 
foi realizada por portugueses e espanhóis só após a segunda metade do século XV, com 
a introdução da produção açucareira nas ilhas atlânticas, e, no século XVI, com a 
colonização da América (MARQUESE, 2006). 
No Brasil, a mão de obra empregada na montagem da economia açucareira e dos 
engenhos de açúcar nos seus primeiros momentos foi, predominantemente,indígena. 
Uma parte dos índios (recrutados em aldeamentos jesuíticos no litoral) trabalhava sob 
regime de assalariamento, mas a maioria era submetida à escravidão, geralmente devido 
a guerras entre índios e colonos. Dessa forma, empregada, desde os primórdios da 
colonização, no plantio e beneficiamento da cana-de-açúcar, a mão de obra indígena 
permaneceu durante quase um século como uma das forças de trabalho nos engenhos e 
nas fazendas da Bahia e de Pernambuco, seja na forma cativa ou livre, como mostrou 
Schwartz (1992). Porém, a crescente oposição da Igreja à escravidão indígena e a 
ocorrência de várias epidemias no litoral brasileiro (como sarampo e varíola), que 
vitimaram muitos índios entre 1562-63, levaram à reposição da força de trabalho nos 
engenhos. Na década seguinte, em resposta à pressão dos jesuítas, a Coroa portuguesa 
promulgou leis que coibiam parcialmente a escravização de índios. 
Nessas condições históricas, em torno de cinquenta anos, a principal força de trabalho 
dos engenhos do nordeste, obtida nos sertões, deixou de ser indígena, sendo substituída 
pelo escravo africano. Os registros do engenho Sergipe do Conde, na Bahia, que 
pertenceu ao governador-geral Mem de Sá, mostram claramente essa transição. Em 
 
 
 
3355 
 
1572, apenas 7 % dos 280 escravos do engenho eram africanos. Vinte anos depois, no 
final do século XVI, esse percentual chegou a 38% do total de escravos. Finalmente, em 
1638, não havia mais registros de mão de obra indígena cativa no engenho Sergipe do 
Conde e sim uma população de 81 escravos africanos (SCHWARTZ, 1992; FERLINI, 
2003). A transição para a mão de obra africana acompanhava também o aumento da 
produção açucareira nas primeiras décadas do século XVII, provocado pelo crescimento 
do mercado europeu e pelos altos preços que o açúcar atingiu no período, conforme 
vimos antes. 
Pesquisando as razões da transição da mão de obra indígena para a africana, uma 
corrente de historiadores, nos anos 1970, colocou a seguinte questão: porque o colono 
adquiria o escravo africano se o índio, quando adquirido de aldeamentos jesuítas ou não, 
era cinco vezes mais barato que os africanos, considerando que ele, até as primeiras 
décadas do século XVII, funcionou bem como trabalhador? É a essa pergunta que 
historiadores, como Fernando Novais, e sociólogos como Florestan Fernandes, 
Fernando Henrique Cardoso e Otavio Ianni, buscaram responder. Para eles, a resposta 
está essencialmente relacionada à economia mercantilista do período. 
Segundo esses autores, o trabalho escravo, de índios ou negros, foi fundamental para o 
desenvolvimento da economia colonial e, portanto, da metrópole, porque só assim, dado 
o nível de tecnologia da época e a abundância de terras, a colônia pôde produzir gêneros 
de maneira barata e gerar, desta maneira, lucros extraordinários para a metrópole. 
Segundo Novais (1983), 
toda a estruturação das atividades econômicas coloniais, bem como a 
formação social a que servem de base, definem-se nas linhas de força 
do sistema colonial mercantilista, isto é, nas suas conexões com o 
capitalismo comercial. [...] o próprio modo de sua produção define-se 
nos mecanismos do sistema colonial [...] A colonização organiza-se no 
sentido de promover a primitiva acumulação capitalista nos quadros 
da economia europeia, ou noutros termos, estimular o progresso 
burguês nos quadros da sociedade ocidental. [...] Não bastava produzir 
os produtos com procura crescente nos mercados europeus, era 
indispensável produzi-los de modo a que a sua comercialização 
promovesse estímulos à acumulação burguesa nas economias 
europeias. [...] Ora, isso obrigava as economias coloniais a se 
organizarem de molde a permitir o funcionamento do sistema de 
exploração colonial, o que impunha a adoção de formas de trabalho 
 
 
 
3366 
 
compulsório ou na sua forma limite, o escravismo (NOVAIS, 1983, p. 
97). 
A indústria açucareira, porém, continuou empregando mão de obra indígena na 
execução de algumas atividades secundárias durante o século XVII, especialmente 
quando se colocavam obstáculos ao uso da mão de obra africana. Já observa Novais 
(1983) que os colonos recorriam à escravidão indígena na falta dos africanos, devido a 
fatores conjunturais, como a dificuldade de navegação no Atlântico ou a concorrência 
colonial. Outros obstáculos ao tráfico negreiro puderam também provocar o 
recrudescimento da escravidão indígena. A atuação de corsários e piratas no contexto 
das guerras do século XVII, saqueando barcos portugueses em alto mar e capturando 
africanos que seriam vendidos no Novo Mundo, também provou o aumento da 
escravidão indígena no Brasil (ALENCASTRO, 2000). Esse período – especialmente 
entre as décadas de 1625 e 1650 – representou o chamado “período de fome de negros”, 
quando uma série de eventos ocorridos na África levou ao estanco o fornecimento de 
escravos para o Brasil (MAURO, 1997). 
No entanto, a produção açucareira no Brasil atingiu tal volume a partir de 1570, que 
exigiu grande quantidade de mão de obra, o que concorreu para o emprego definitivo da 
escravidão africana na colônia. Os primeiros escravos africanos começaram a ser 
importados em meados do século XVI e foram empregados basicamente nas atividades 
especializadas, como o processo de cozimento e purgação do açúcar. Por esse motivo, 
eram bem mais caros que os indígenas - um escravo africano custava, na segunda 
metade do século XVI, cerca de três vezes mais que um escravo indígena. A partir desse 
período, também, os portugueses aprimoraram o funcionamento do tráfico negreiro 
atlântico, sobretudo após a conquista definitiva de Angola, em fins do século XVI, 
território que passou a ser o principal ponto de fornecedores de escravos para o 
Brasilserá até o século XVIII. 
O desenvolvimento da produção açucareira é explicado pelos números do tráfico. Entre 
1576 e 1600, desembarcaram em portos brasileiros cerca de 40 mil africanos 
escravizados. Entre 1601 e 1625, esse volume mais que triplicou, passando para cerca 
de 150 mil, sendo que a maior parte foi destinada a trabalhos em canaviais e engenhos 
de açúcar do nordeste (MARQUESE, 2006). Entre 1625 e 1650, esse número caiu para 
 
 
 
3377 
 
50 mil. A partir de 1720-1730, já no contexto de descoberta das minas, os escravos 
foram para Minas Gerais, diminuindo, com isso, ainda mais a produção de açúcar. 
 
3.2 A mineração no Brasil 
3.2.1 Antecedentes 
Encontrar ouro e prata na época Moderna, período entre o Renascimento e a Revolução 
Francesa – quando a riqueza de um país é expressa pelas reservas de metal amoedável, 
isto é, ouro e prata, que este país possuía –, era o objetivo máximo da colonização 
europeia. Era um ideal a ser perseguido e alcançado, o que está claro nas cartas que a 
Coroa Portuguesa encaminhava para a colônia ou na documentação produzida na 
colônia por meio dos relatos dos cronistas. Desde Pero Vaz de Caminha, já se falava em 
achar metais no Brasil. O ouro, no entanto, foi encontrado pela primeira vez apenas por 
volta de 1560, por Brás Cubas, em São Vicente. Mais do que o escravo índio, o ouro de 
lavagem proporcionou, nesse período, o maior ativo na exportação da vila de São Paulo. 
As crônicas da época mencionam as minas de Jaraguá, Vuturuna, Jaraguamimbaba, 
Ribeira de Iguape, Cananeia, Paranaguá e alguns outros pontos dos quais se extraíam 
ouro de lavagem na capitania de São Vicente. Em 1615, desapontada com as modestas 
receitas da mineração na colônia, a Coroa portuguesa retirou seus mineradores do Brasil 
e os enviou a África, desistindo da procura de ouro no Brasil. Os particulares, no 
entanto, continuaram a procurar o metal na colônia ao longo de todo o século XVII, 
tanto no nordeste (especialmente na Bahia) como nas capitanias do sul. 
Em 1596, enquanto sertanistas baianos e pernambucanos vasculhavam os sertões em 
busca de prata e ouro, três

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