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( São Paulo I E. Libero Badaró, 292 I ,i*# > Toaos os direitos reservados Rio de Janeiro Eu a do Ouvidor, 166 ( São Paulo I E. Libero Badaró, 292 I ,i*# > Toaos os direitos reservados Rio de Janeiro Eu a do Ouvidor, 166 L. R I B O U L E T Diplomado em Estudos superiores de Filosofia e História da educação, Professor no Instituto N. D. de Valbenoite, em Saint-Etienne H I S T O R I A D A P E D A G O G I A Traduzida da segunda edição por Justino Mendes Prefácio de André Baudrillart Agregado da Universidade Obra premiada pela Academia francesa LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA PAULO DE AZEVEDO LTDA. , Belo Horizonte E. Rio de Janeiro^ 655 N IH IL OBSTAT. Scti Pauli, 14 aprilis 1951 Pe. Matheus M. Garcez censor ad hoc. IMPRIMA-SE t Paulo Bispo A ux ilia r São Paulo, 1 6 de A b ril de 1 951. L. R I B O U L E T Diplomado em Estudos superiores de Filosofia e História da educação, Professor no Instituto N. D. de Valbenoite, em Saint-Etienne H I S T O R I A D A P E D A G O G I A Traduzida da segunda edição por Justino Mendes Prefácio de André Baudrillart Agregado da Universidade ,Obra premiada pela A cadem ia francesa LIV R A R IA FRANCISCO ALVES EDITÔBA PAU LO DE AZEVEDO LTD A. R io de Janeiro I S ão Paulo I B elo H orizonte Eua do Ouvidor, 166 | E. Libero Badaró, 292 | E. Bio de Janeiro, 655 Todos os direitos reservados P R E F Á C I O O livro que se vai ler é, antes de tuáo, uma história da pedagogia, nome um tanto singular de uma ciência e de uma arte. Ciência, pois que supõe, pelo menos, o conheci m ento da psicologia e até duma parte da fisiologia; arte, pela adaptação, flexibilidade, habilidade e até dons natu rais que ela exige. Os principais sistemas, e êles são le gião, que se têm aberto caminho quase desde as origens históricas são, portanto, aqui analisados e apreciados su cessivamente, e expostas e julgadas as suas aplicações. Mas é também um livro de princípios, e o autor não hesitou em sustentar os seus com uma generosa firmeza, em afirmá-los com uma lealdade à qual os mesmos adver sários do seu pensamento prestarão certam ente homena gem. É que a pedagogia não é uma ciência abstrata. Ela age sôbre a matéria viva e sôbre o que há de mais essencial e de mais precioso na natureza humana, a alma, cuja for mação ela assegura. Credes em Deus? Na alma imortal? Admitis a Revelação, e que Jesus Cristo veio ao mundo para a salvação dos homens? É claro que, conform e as respostas afirmativas ou negativas que derdes a estas ques tões, o fim supremo da educação, todo o seu fundo, será modificado. No primeiro caso, pois que a vida atual não é senão uma preparação, uma provação da qual depende a sorte do homem na vida eterna, o primeiro cuidado do edu- caãor será assentar sôbre bases sólidas as relações ão ho mem com o que é Divino, ãar à vida moral a preferência' sôbre a vida intelectual, fazer ãesta a serva e o apoio ãa viãa espiritual. Não se proceãerá ão mesmo moão se se crer que a criança faz a sua entraãa no mundo com a tara ão pecado original; ou se, com Rousseau, se julga que a natureza a faz nascer boa. Desconfiar-se-á da ingerência ão Estaão, que poãe ser imparcial ou até favorável à for mação religiosa ãa infância, mas também poãe ser inteira m ente o contrário, ãiverso, segunão os tempos e lugares; em toão caso, sujeito a tem íveis variações. Se formos ao fundo das coisas, verificaremos que as mais essenciais di vergências que apresentam os sistemas ãe eãucação proce dem ãesta concepção primária, e não somente ãos antago nismos decisivos, mas até ãos matizes que distinguem as famílias religiosas e as escolas filosóficas. É preciso, por tanto, tomar um partido. O autor adere claramente aos princípios católicos. M e rece elogios, entretanto, por ter sabido conservar-se juiz imparcial e por não ter hesitado em ãar a sua plena apro vação ao que êle encontrou de sábio e de útil nos escritos ãos racionalistas, dos protestantes e até dos inimigos decla rados das verãaães ãe que êle se mostra decidido campeão. Plenamente de acôrdo com êle, quanto aos princípios, eu faria talvez algumas reservas na aplicação. Há dema- siaãas contingências que é preciso levar em conta. Infe lizmente é um fato que, nas socieãaães moãernas, a uniãade ãe pensamento de que gozou quase unânimemente a Iãade- Méãia, por exem plo, foi rompida. A divisão das opiniões, a oposição das crenças criam uma situação extraordinària- m ente ãifícil. Por outra parte, as naçoes muito mais nu merosas, muito mais ativas que outrora, tornaram-se form i dáveis máquinas cuja rodagem tôda é solidária, cujos órgãos devem ser regulados, vigiados, mantidos, assegurados no seu funcionamento, sob pena das mais perigosas perturba ções. Nestas condições, e sobretudo na nossa velha Europa, e particularmente entre os povos latinos, parece difícil ne gar que a instrução pública seja um dos primeiros deveres do Estado. Para os estudos superiores, a questão não pare ce duvidosa. Só o Estado os pode assegurar. Entre nós, no nosso tempo, levando em conta a nossa economia e os nossos costumes, os progressos ãa ciência e a sua difusão não poderiam ser entregues ao risco ãa ini ciativa privaãa. Só o Estaáo poãe áistribuir êste ensino, kegunão as prec.isões, por tôãas as partes do território; só êle é bastante rico para o subvencionar. A experiência o ãemonstra. Os mesmos motivos, na nossa opinião e em graus ãiversos, valem para o ensino secundário e para o ensino primário. Entretanto, deveria haver, por um lado, largueza ãe espírito neste ensino oficial que deve respeitar tôda forma respeitável e séria ão pensamento e, por con seguinte, reconhecer os ãireitos ão pensamento religioso; e, por outro laão, a mais larga benevolência conceãida ao ensino livre em todos os seus graus. Esta largueza ãe es pírito não tem sofrido, creio eu, muitos ataques nas ãuas primeiras ordens ãe ensino. As universiãaães ão Estaáo têm contado e contam ainãa eminentes representantes ãa ãoutrina católica e sabe-se que vários, entre os mais emi nentes ãefensores ãa Igreja e ãa liberãaãe ão ensino, têm recebido a formação universitária. É que aqui o bocaão era ãuro ãemais para ser arrebataão pelos políticos. O inãivi- ãualismo é irreãutível na Universidade. Esta ãisposição não é sem inconvenientes, eu o reconheço. É certo que o ensino ganharia em coesão se o entenãimento fôsse mais estreito entre os professores ãuma mesma classe. Evitar- se-ia especialmente a sobrecarga e se obteria, pelo menos, uma melhor ãivisão ão trabalho fora ãa classe. As tentativas feitas neste sentião até hoje não têm sião infelizm ente nem seguidas nem perseverantes, bem que fôssem conformes às Instruções. A culpa é da pouca boa-vontaáe dos professôres a êste respeito e da falta ãe firmeza dos chefes ãe estabele cimentos. Por que o ãevotamento tão real ãos professôres ãa Universiãade, o seu sentimento geralmente tão escrupu loso do dever profissional é incapaz ãe lhes impor êste leve sacrifício? Seja como fôr, o indiviãuálismo tem pelo menos esta vantagem ãe ter até o presente salvaguardado a inde pendência do pensamento. Além ãisso, habituaãos ao manejo e à luta ãas iãéias, a maior parte dos professôres sabem guardar o respeito às oniniões alheias e têm bastante tato vara não ofender ne nhuma delas. Quanto ao _ensino primário, ninguém ignora como está . e o motivo não honra os dirigentes sectários: é que êles têm que lidar com uma clientela sem defesa e com um pessoal mal prevarado para a crítica ãas iãéias que lhes impõe uma formação autoritária e dogmática. Aqui, mais que em qualquer outra parte, é vela liberdade que temos oue lutar, e vão haverá nem liberdade cnmvleta nem ver dadeira igualdade enauanto o pai de família, que ao ensino oficial prefere o ensino livre, tiver que vagar ãuas vêzes; uma vez. como contribuinte para a escola oficial e, outra, para sustentar a escola livre. Estamos absolutamente ãe acôrdo com oautor dêste livro: esta ãeve receber a sua parte proporcional ãos ãinhei- ros públicos. As questões peãagógicas estão mais que nunca na or- ãem ão dia. A ãa escola única que surgiu bem recente mente é uma ãas mais graves. Tanto haveria que ãizer que vão a voãeríamos tratar aqui com o ãesenvolvim ento que ela comvorta. Certamente, e todos estão ãe acôrão sôbre êste ponto, é para ãesejar que os alunos ão futuro tenham a maior segurança ãe passar, se seus pais o ãeseja- rem, ão ensino primário para o secunãário e depois para. o superior. Mas faltar-lhes-ão os meios no estado atual? Seriam mais eficazes se a concessão ãas bôlsas escapasse ao favoritismo. As garantias atuais são insuficientes e as nos sas classes contam bolseiros vindos do ensino primário, in capazes ou indignos, que ocupam um lugar que deveria per tencer a outros mais m erecedores. Os favorecidos com bôl- sa, é certo, podem ser riscados a juízo das assembléias de professores, mas compreende-se fàcilm ente que estas não recorrem a uma medida tão grave e tão comprometedora para aquêle-a quem se aplica, senão na última extremidade. E ainda a última palavra pertence à administração central na qual as influências exteriores concentram o seu esfôrço. Por mais amplo, por mais liberal que se suponha o re gime da escola única, o qual está muito sujeito a se tornar trote e tirania, seria porventura prudente e democrático privar a agricultura e o operariado da flor das inteligências, na escola primária? Por alguns êxitos, quantas desclassi ficações! Quantas candidaturas ao pequeno funcionalismo, quantas fôrças perdidas por alguma pouca vantagem! Que exército de mal sucedidos e ãe descontentes se prepararia! Sem falar nos ciúmes e discussões de famílias, produzidos pela desigualdade ãe tratamento dos seus membros. En tão a sorte de todos os jovens franceses, qualquer que seja a sua origem, se deciãirá pela idade dos áoze ou treze anos. E será nessa iâaãe que se poãe seguramente julgar ão fu turo dum menino? Um desenvolvim ento tardio está longe de prenunciar uma irremediável incapacidade. Entram na Politécnica alguns que aos quatorze anos não com preen diam nada de matemática; e quantas vêzes temos visto alu nos, um pouco lentos ou retardaãos por sua saúáe, remon tarem o vôo na terceira ou na segunda classe, ao passo que meninos precoces, depois de com eços admiráveis, encontra vam um limite nessas mesmas classes e até um pouco antes. Êsse último caso será inevitàvelm ente o de muitos meninos precoces vindos das escolas primárias. É que as qualida des necessárias para ter bom êxito ou para distinguir-se nas classes elementares não são de todo as mesmas que para jazer bom curso de humanidades ou estudos científicos le vados um pouco mais longe. Por que dar o mesmo ensino a meninos que tudo esperam da escola e àqueles cuja vida de família os impregna cada dia duma formação moral e intelectual bem mais íntima que a da escola? As necessi dades não são as mesmas. É ainda uma manifestação dêste espírito ãe falsa igualdaáe, tôãa ãe aparência e ãe superfí cie, à base de inveja, que envenena os nossos costumes e se infiltra nas nossas instituições. Haveria bem outras coi sas a dizer, mas vamos adiante. Queixam-se ãa decaãência ãos estuãos. Mais ãuma causa contribui para isso, em particular dois defeitos do atual plano ãe estudos. Abarca demasiado e é falto de fle- xibilidaãe. Quanto à sobrecarga, todos estão ãe acôrão. É demasiaão o que se pretenãe fazer o aluno aprenãer para que êle aprenãa bem. O menino consciencioso, verãaãeiramente laborioso, a não ser dotado ãuma memória e ãuma faciliãaãe excepcio nais, mata-se nesse trabalho. Nós o esmagamos para maior ãano ão seu equilíbrio intelectual e fisiológico. Quanto aos outros, êles mesmos sabem guarãar-se ão esfalfamento, mas então ãe que serve para êles o plano de estudos? A falta ãe flexibiliãaãe! Aqui não ignoro que me arrisco a per turbar os espíritos amigos ãum belo regulamento. E no entanto! O autor lembra muito a propósito a palavra tão justa ãum Oratoriano: “ Não se poãe ter êxito nas ciências para as quais não se sente nenhum atrativo” . O que um, menino faz com ãesgôsto claro e persistente não lhe pode ser proveitoso. Se ãeciãiãamente se verificam essas ãuas conãições, por que exigir ão aluno um esforço que não lhe poãe ser proveitoso e que até lhe é prejuãicial, porque o fatiga e o impede de se consagrar a estudos que, êstes sim, lhe são úteis? Por que perseverar em fazer aprender o latim ou o grego a um aluno que, no fim de dois ou três anos, não compreende nada nas versões e a quem o tema não faz obter senão hábitos deploráveis de negligência e de incorreção? E a sacrossanta matemática? Está verificado que, nas classes inferiores, a tirania dos problemas é um flagelo abominável. Em dez meninos, oito se embrutecem nêles e, se mostram trabalhos apresentáveis, é porque tôda a família se pôs a ajudar; a irmã mais velha que prepara o seu diploma; o pai, que volta fatigado ao lar, para se ver logo convidado a êste atraente trabalho suplementar e não consegue sem pre levá-lo a bom têrm o ainda que seja po litécnico. Não estou inventando. Mais tarde é outra coi sa. Eu não quereria contristar a ninguém, mas é preciso dizê-lo, um defeito bastante difundido entre os professores de matemática é não compreenderem que não se compreen de. Como êles têm naturalmente o espírito de geometria e, por conseqüência, a demonstração geométrica lhes aparece com a claridade da evidência, não concebem que esta clari dade possa ser para outros claro-escuro- ou noite profunda. No fundo se explica bastante bem esta ilusão. Por mais fortes que sejam, contudo, êles mesmos têm seus limites que outros excedem . Para muitos espíritos literários, ou simplesmente um pouco curtos, aquêle limite está bem per to do ponto ãe partida. Isto êles deveriam perceber. E Pascal enfim não opôs o espírito de finura ao de geometria? Em todo caso, os programas são prematuros. Muitos jovens não se abrem para a matemática senão pelos 15 ou 16 anos. Mas há as Escolas! Muitas vêzes professores experim enta dos ãe matemática especial nos têm ãito: “ Enviai-nos bons espíritos formaâos por sóliãos estuãos literários; êles farão em áois anos o que teriam feito em três e talvez em quatro” . Que resposta mais autorizaãa! A té lá, portanto, redijam programas mais accessiveis à maioria; êstes estudos tão particulares sejam diviáiãos não por classes mas por cursos ãe fôrça áesigual. Quanto ao menino’ inteiramente refra- lário à matemática (e existem !) deixem -nos em paz e per mitam-lhes desenvolver-se conforme as suas aptidões. É todo o contrário do que nós fazemos. Êste menino é áotado unicamente para as letras, para as artes? depressa, dêem-lhe lições de matemática! E inversamente, se êle se anuncia como bom geômetra e deplorável latinista, depressa, dêem-lhe repetições de la tim! E não digo que a aventura não valha alguma vez a pena ãe ser tentaãa, mas se não se obtém naãa, perseverare diabolicum. Mas é que há o bacharelado! Meu Deus, diz- se muito mal ão bacharelado; e, certamente, êle se presta à critica. Tem pelo menos uma vantagem que é a de ser um estimulante. Mas não ãeveria ser um obstáculo ao justo desenvolvim ento do aluno no sentião das suas facul dades. Bastaria, para isso, praticar largamente o sistema ãas notas compensador as. Ora, é a eliminação que vence e no último Congresso ão Ensino secunãário, pleiteanão caãa qual pro domo, ainãa peãiam que fôsse reforçaão. Bem vejo que se pode objetar ao que precede; mas quê! naãa é perfeito neste munão e. ãos resultaãos atuais, parece que ãe todos os inconvenientes escolhemos os piores. Aliás muitos ãos alunos ão ensino secunãário, sobretuão nas clas ses sem latim, estariam muito mais em seu lugar no primá rio superior. Eles aí encontrariam programas, métoãos e, digo-o por experiência pessoal, bem que não seja para mi nha honra, professôresmuito melhor aãaptados à sua ma neira ãe espírito e às suas necessiãaães. Na escola primária, ãemasiaãa ambição nos programas e ãemasiaãa uniformidade. Os estudos primários não de vem ser um m edíocre resumo ãos secunãários. Se tantos conscritos provam nos exam es regimentais que esqueceram. í tudo ou nunca compreenderam nada, é porque encheram os seus cérebros duma multidão de noções mal digeridas, acima do seu alcance de meninos incultos. E será sã pe dagogia aplicar os mesmos programas aos meninos da gran de cidade e aos da roça ao que vigia as vacas no intervalo das classes e ao filho do artífice ou do operário urbano que vê e ouve cada dia uma multidão, de coisas boas ou más, mas cujo espírito está muitas vêzes singularmente desper to? Nem as necessidades são as mesmas, nem as capaci dades. Uma palavra para terminar sôbre uma questão deli cada mas muito importante: as relações entre as famílias e os mestres. “ Que o pai tenha um amigo no mestre de seu filho” , escrevia o judicioso Quintiliano. Que verdade em poucas palavras, e quanto é desconhecida !... Certa m ente o fato existe e, para um e outro, é um grande auxí lio, um grande conforto, e, para o menino, um grande be nefício. As mais das vêzes. porém as famílias confiam o menino à escola ou ao colégio e depois se retiram com a consciência satisfeita, persuadidas de que cumpriram todo o seu dever. Na realidade só se desembaraçaram dêle. 'No entanto, não há,' educação completa senão pela colaboração da família e dos mestres, verdade que não deveria haver necessidade ãe repetir É difícil ao mestre, encarregado duma classe numerosa, conhecer bem todos os seus alunos, sobretudo conhecê-los em pouco tempo. As aparências podem enganar. Alguns se lhe esqui vam sempre. Poucos minutos de conversação podem escla recê-lo melhor do que meses duma observação sem cessar, distraíáa por outros cuidados. Por 'sua vez o m estre pode dirigir discretamente a atenção dos pais para os inconve nientes de certas maneiras para com seus filhos, demasiada exigência e rudeza; e, muitos mais comumente, uma com placência cega. Certos meninos têm necessidade de ser poupados; outros, de ser estimulados sem escrúpulo. Se o dever dos pais é estabelecer relações com o mestre, o dever dês te é facilitar-lhas. Há pais que não ousam, quer por uma espécie de timidez para com o mestre, herdada da sua i infância, quer por desconfiança de si mesmos, quer por uma discrição mal entendida. Saibam êles que entre a absten ção e o abuso possível, o bom educador preferirá sempre o segundo inconveniente. A o invés destas úteis e cordiais relações que coisa sin gular a atitude de certos pais para com os mestres! Con fiam-lhes os filhos e desconfiam dêles. Estão sempre pron tos a suspeitar da sua consciência, ãa sua imparcialidade, do seu zêlo. Entre a palavra ão m estre e os áizeres inte- ressaãos ãum menino preguiçoso ou dissipado, ou que se conhece como mentiroso, não se hesita. É sempre o meni no que tem razão. E à mesa da familia? Com que malig no prazer pai, mãe, irmãos e irmãs não vêem o aluno arre medar o mestre, não o ouvem contar com chiste e abundân cia as peças que pregam, êles e os seus colegas! Ainda bem quando o pai, toáo regozijado com a narração de proezas que lhe recorãam os belos ãias ãa sua infância, não entra também com a narração ãas suas. E ainãa os pais têm mui tas vêzes a pruãência ãe ser bastante reservaãos sôbre êste ponto, mas os tios! E a mãe e a irmã mais velha sorriem complacentemente, bem que elas sintam que talvez aquilo não seja muito ortoãoxo! Sentem-se um pouco orgulhosas no funão, por terem um filho, um irmãozinho tão vivo, tão espirituoso; e, bem que êle o nota, o levaão! E ãepois, qual é o francês que não se ri ao ver o ãelegaão apanhar? E tuão isso não é naàa. Em compensação, infeliz ão professor aue tiver ãeixaão escapar alguma palavra muito viva e sobretuão se, por seu mal, ela foi pouco acertada! Uma carta pungente, se não é francamente descortês, bem de pressa o chamará à orãem. E, bem entenãião, a inãignação se terá manifestado primeiramente na presença do menino. As vêzes é ainda pior. Um reitor de Academia nos dizia: “ Sabei, meus senhores, que não há. um só dentre vós, ouvi bem, não há um só, contra o qual eu não tenha recebido cartas anônimas” . Ingênuos educadores, ide lá fiar-vos na quela palavra .preliminar e jalaz: “ Entre nós, meu senhor, diante do menino, é sempre o professor que tem razão!” Reconhecimento, os m estres não o pedem. Talvez fôsse justo que as mesmas penas, tão prontas a repreendê-los, se utilizassem, às vêzes, para lhes agradecer. Tal não é o costume. “ No dia da entrada, dizia um velho professor, não sei onde dar com a cabeça. Os pais me ro deiam, me lisongeiam, me esmagam com recomendações No dia ãa saída, não há atropelo para me agradecer. Posso sair muito sossegadamente” . Bem excepcionais são as pa lavras ãuma mãe ãe família que foi ter comigo um dia para me dizer: “ O senhor naãa perdoa a meu filho, o senhor o vigia e o segue ãe perto. Venho agraãecer-lhe; seria mais fácil ãeixar passar tuão e não se ocupar com um aluno que tão pouco satisfez” . Rara avis. Pois bem tuão isso é deplorável e, no fun do, os pais bem o sabem; mas que fazer? a fraqueza triunfa. “ Os meus pequenos são engraçadinhos” . Felizm ente o pro fessor é suptentaão pelo seu ideal superior. Mas quanto seria mais viável a tarefa. quanto lhe seria mais fácil fazer- se respeitar e, por conseguinte, amar se os pais colaboras sem com êle para o maior bem de seus filhos!” Como lhes posso fazer bem? dizia tristem ente a Rollin um regente de colégio, êles não me amam!” A afeição é metade ãe tôda pedagogia; o autor dêste livro excelente e que não tinha necessiãaãe ãe prefácio para se fazer apreciar, não me contestará, tenho certeza. Pai ãe família, faze um amigo do mestre ãe teu filho! André B audrillart I N T R O D U Ç Ã O O estudo das doutrinas pedagógicas é um elemento in dispensável na formação dos educadores. Dá-lhes idéias gerais sôbre as questões essenciais da educação, faz-lhes conhecer o desenvolvimento das instituições escolares, a evolução dos métodos e o valor das obras que terão que consultar mais tarde. A ciência da educação não é uma ciência a priori. A geração espontânea não existe no mundo intelectual como não existe no mundo físico. Todo progresso supõe uma tradição, porque tem um ponto de partida e êsse ponto de partida está necessàriamente no passado. A pedagogia atual constituiú-se lentamente com as idéias, as experiências dos sistemas, que apareceram através dos séculos e nas diferen tes nações civilizadas, e que são as mais apropriadas para atingirem o fim que se propunham educando a mocidade. Está, portanto, intimamente ligada à historia da educa ção. Ambas têm o mesmo domínio; elas se completam e se inspecionam mutuamente. “ O estudo histórico não nos dis pensa de têrmos uma doutrina, diz M. Rousselot; mas, agindo como um estimulante e como um guia. ajuda-nos a formá-la e nos fornece têrmos de comparação para julgarmos a que estabelecemos para nós” . A história da pedagogia, além do interêsse que apresenta a todo espírito cultivado, nos revela a origem, a evolução, o aperfeiçoamento incessante dos métodos; faz conhecer a contribuição de cada século para os progressos do ensino, a influência dos acontecimentos históricos na fundação das es colas; julga, em nome da moral, e de uma sã psicologia, as idéias dos clássicos da pedagogia; enfim, ela recolhe as ver dades duradouras cuja reunião constitui os elementos duma teoria, senão definitiva da educação, pelo menos fixada nas suas grandes linhas. O conhecimento das doutrinas pedagógicas tem como efeito manter mais elevado o ideal dos mestres, abrir-lhes horizontes mais vastos, preservá-los da rotina e conservá- los em guarda contra uma presunção e uma arrogância que lhes seriam funestas. Se foram precisos longos séculospara formular um princípio, perceber-lhe tôda a importância, fazer dêle judiciosas aplicações, quão temerário seria o edu cador-que quisesse contentar-se com as suas próprias luzes e a sua experiência pessoal! É fácil verificar: os progressos na arte de ensinar não se realizam senão pela introdução, na escola, dos princípios e das leis que decorrem do estudo atento dos grandes escritores pedagógicos. A prática, é cer to, precedeu a teoria; mas a teoria reage contra a rotina e fiscaliza os dados da experiência. A história da pedagogia nos faz conhecer as mais belas páginas dos grandes educadores. Que proveito não tiramos dêste estudo quando nos põe em relação com gênios imor tais, como Platão, Santo Agostinho, Descartes, Fénelon; com ilustres benfeitores da mocidade, como Gerson, S. Pedro Fourier, São J. B. de La Salle, Pestalozzi, o Pe. Girard, o Ven. Champagnat, Mons. Dupanloup, D. Bosco! Haverá coisa mais atraente do que a narração dos seus trabalhos, das suas fadigas, das provações sem número que os acome teram sem jamais abalar a sua constância? Os seus nobres exemplos são de natureza a fortificar os corações e as vonta des que se sentiriam fracassar num labor sempre penoso e muitas vêzes ingrato. A sua vida “ estimula para o bem” , e ;; mais bela página que deixaram é a do seu sublime devo- tamento ao apostolado da infância. O conhecimento das quimeras e dos erros pedagógicos também não é sem pro veito. Estes são, como se tem dito, experiências falhas que contribuem para o progresso dos métodos, premunindo-nos contra os escolhos que convém evitar. Assim êste estudo aviva o espírito crítico, habituando os mestres a não aceita rem as teorias senão quando receberam a sanção do tempo e da experiência. Nesta obra estudamos sucessivamente a antiguidade, os primeiros séculos do cristianismo, a Idade Média, a Renas cença e os tempos modernos, seguindo o desenvolvimento das instituições escolares e indagando, dos mestres eminen tes de cada época, como êles conceberam o problema da educação. Assim unimos constantemente a história das ins tituições à análise das doutrinas; agir de outro modo seria isolar idéias e fatos que, na realidade, nunca estiveram se parados. As doutrinas e os sistemas não têm valor senão enquan to se preocupam com a formação integral do menino. A educação muda de caráter, é incompleta e superficial quan do não é baseada em crenças. A religião é, na família e na escola, um elemento indis pensável. Poder-se-ia demonstrar isso examinando os tris tes resultados da escola que pretende ser neutra, escutando as aflitivas lamentações das vítimas da dúvida, das almas angustiadas pelo tormento do infinito. Só ele revela ao me nino a sua grandeza e os seus destinos imortais; só ela,pode dar-lhe a vitória sôbre os seus maus instintos; só ela pode consolá-lo nas provações e sofrimentos da vida. O exame das idéias filosóficas não é menos importante: em cada século a educação é o éco da filosofia dominante. Por trás da Ratio studiorum e da Companhia de Jesus, já se disse, por trás do Emilio de J. J. Rousseau, apa rece tôda uma filosofia. Existem, portanto, relações bem es treitas entre a filosofia e a pedagogia; duma doutrina mate rialista, por exemplo, é difícil deduzir princípios de educa ção religiosa. Eis por que é necessário conhecer as bases sôbre que certos educadores têm edificado os seus sistemas, a fim de não se deixar ofuscar pelos aspectos brilhantes que as suas concepções apresentam. A influência da família é um fato que também não se deve negligenciar. A familia é a célula da sociedade. É para o menino a escola por excelência. A sua inteligência, o seu coração, a sua vontade nela recebem impressões que jamais se apagam. É no lar que êle haure princípios reli giosos, começa a lutar contra os seus maus instintos e a pra ticar as virtudes que estão na raiz de tôda organização do méstica e social: simpatia, afeição, gratidão, respeito, obe diência, espírito de sacrificio, devotamento ao bem comum. A educação, na família, varia conforme a convicção dos pais e a autoridade que lhes é dada pelo costume e pelas leis. O papel da mãe sobretudo é de uma importância extrema; tudo que tendesse a torná-lo menos eficaz prejudicaria a educa ção da criança. ( O meio social completa a educação familiar. As con versações, as leituras, os acontecimentos da vida material, intelectual, moral e religiosa modificam as idéias, os senti mentos, o caráter da criança. Até o solo e o clima contri buem numa medida variável para a formação da sua indivi dualidade. Será necessário acrescentar que êste volume é uma obra de boa-fé e de imparcialidade? Já não é permitido negli genciar, de caso pensado, certos períodos da história da edu cação e certas categorias de educadores. Acreditamos sin ceramente, por exemplo, que os primeiros séculos do cristia nismo apresentam algum interêsse no ponto de vista das es colas, e que a idade Média não é “ uma época verdadeiramente pobre sob o ponto de vista pedagógico” . Todos os devota- mentos, quaisquer que sejam as crenças que os inspiram, merecem a nossa admiração; e, procuramos lealmente em todos os sistemas a parte de verdade que êles encerram. Não se surpreenderão, portanto, de nos ver glorificar os séculos de fé, fazer justos elogios aos benfeitores cristãos da infân cia e fazer justiça à Igreja Católica, “ luz das nações” e “ ins- Trutora dos povos” há vinte séculos. Às vêzes querem que se ignore o mérito que lhe compete na fundação de escolas e nos progressos do ensino. Entretanto, os trabalhos dos historiadores mais eminentes demonstram claramente que ela foi desde os primeiros séculos a principal; e, em certas épocas, a única conservadora e dispensadora dos conheci mentos humanos. Dedicamos especialmente este livro aos pais e mestres. Oxalá êle lhes dê uma idéia mais alta da sua incumbência, nobre entre tôdas! É o nosso maior desejo. E se os exem plos de devotamento à infância que nêle acham os levarem a um cumprimento mais perfeito dos seus deveres de estado, será isso a nossa mais agradável recompensa. HISTÓRIA DA PEDAGOGIA 4 W . ----------- \-------------------------------------------- NA ANTIGUIDADE ---- — ............................................= . CAPÍTULO PRIMEIRO A E ptíC A Ç Â O NOS POVOS NÃO C IV ILIZA D O S Entre os povos não civilizado^, a educação se apresenta sob a mais simples das suas formas: não há escolas propria mente ditas, nem programa de estudos; uma imitação servil é o único método empregado. A formação da juventude é instintiva, rotinera e limi tada somente às coisas que têm por objeto a satisfação das precisões materiais: alimentação, vestuário, abrigo. Sob a direção dos pais, o menino se inicia pouco a pouco nas várias ocupações da tribo: cuidados da casa, fabricação de utensí lios, tecelagem >de vários panos, pesca e caça, manejo de armas, guarda dos rebanhos, trabalhos agrícolas. Não obs tante, êste modo de proceder implica uma espécie de edu cação intelectual e até o cultivo de certas qualidades morais. É possível, portanto, depreender desta formação rudimentar alguns traços da educação como nós a concebemos, isto é, ocupando-se ao mesmo tempo do corpo, da inteligência e da alma, em geral. Educação física — Os selvagens deixam grande liberda de a seus filhos. Êstes aproveitam-na para se entregarem a alegres divertimentos. Um dos. seus jogos prediletos con siste em arremedar as ocupações da vida dos adultos. Entre as tribos guerreiras fazem espadas, escudos, arcos e flechas, simulam emboscadas e combates; entre as tribos mais pací- íicas, imitam os trabalhos que têm à sua vista: tecelagem, construção de cabanas, obras de cerâmica, trabalhos de roça, pesca e caça, navegação em canoas. Estas diversões os pre param para a vida real; contribuem à sua formação intelec tual, apurando as suas faculdades de observação, de imagi nação e de invenção. Educação intelectual — Aeducação é sobretudo prática; tem por fim tornar o menino capaz de prover às suas pre- cisões e, mais tarde, às da sua família. Cedo começa esta formação e varia conforme ao sexo da criança e à maneira de viver da tribo. Se o menino está destinado a viver de caça e pesca, habituam-no, a princípio, a encontrar raízes, larvas de formiga e vermes; mais tarde, exercita-se em matar lagartos ou outros pequenos animais de que a tribo se alimenta. E, enquanto se torna hábil no manejo das armas, apren de a trepar com agilidade, a preparar e colocar aparelhos de pesca. Segue o rasto de animais selvagens e conhece pelos mais leves indícios a presença da caça que procura. Se se destina aos trabalhos agrícolas, guarda os reba nhos, aguça e alisa as ferramentas; vai à roça no momento da maturação dos grãos, afim de espantar os pássatos. Bem cedo se torna hábil em tôda espécie de trabalhos manuais. As ocupações da menina são mais ou menos as mesmas em tôda a parte: aprende a levantar a choupana, a ajuntar lenha ou mariscos, a trançar esteiras e cestas, a preparar argila para os vasos de barro. Ajuda nas colheitas, joeira o grão, pisa-o e coze-o. Entr-p êstes povos, a escola propriamente dita não existe. Entretanto, algumas grandes aldeias possuem uma constru ção especial que os meninos procuram aos grupos. Entre os Bororos do Brasil, por exemplo, essa construção toma o no me de bahito, e os meninos ali se reúnem para aprender a fiar, tecer, fazer armas e cantar as suas melodias nacionais. Esta educação não dá às faculdades uma formação sis temática e racional, mas apura as que lhes são mais neces sárias no seu gênero de vida. Os pais, obrigados a lutar contra perigos de tôda sorte, compreendem instintivamente que devem exercitar os sentidos de seus filhos e dar-lhes uma agudeza extrema. E, realmente, o que impressiona logo nos selvagens, é a acuidade maravilhosa das suas percepções sensoriais. O seu ouvido é de grande delicadeza; os seus olhos são tão exercitados que certas tribos errantes podem conhecer pela vista o número, a idade e até a nacionalidade das pessoas que passaram. O seu olfato pode rivalizar com o dos cães. São dotados de memória prodigiosa. O dono dum re banho, vendo desfilar os seus animais, às vêzes bem nume rosos, verifica se o rebanho está completo, indica e descreve as cabeças que faltam. A sua imaginação é igualmente mui to viva, como atestam os seus discursos, os seus cantos de guerra, as suas parábolas e contos. O poder de reflexão atinge, às vêzes, um grau tal que excita admiração. Educação móral e religiosa — O senso moral dos povos não civilizados é muito embotado, mas a sua alma conserva ainda impressões da lei natural. A sua consciência fala- lhes, e impõe a seus pensamentos e a seus atos uma certa sanção. Compreendem a obrigação que têm de transmitir a seus descendentes alguns preceitos de boas maneiras e de bom procedimento. As suas recomendações dirigem-se ao culto dos antepassados, ao respeito aos anciãos e aos pais, ao sentimento de honra, à fidelidade à palavra dada, à obediên cia às autoridades legítimas. No entanto, esta formação se faz sem nenhum constrangimento: os selvagens crêem que todo castigo corporal degrada e que a alma do menino com quem muito se ralha ou que muito se espanca, se sente mal no seu corpo e procura separar-se dêle. As tribos guerreiras sempre cultivaram com cuidado o valor, a paciência, o desprêzo da dor e da morte. O P. Bres- sani cita rasgos admiráveis verificados por êle entre os índios da América do Norte: meninos aturam a fom e durante oito ou dez dias sem se queixar; rapazinhos amarram os braços, colocam uma brasa sôbre os seus braços amarrados e por- fiam para ver quem a aguentará por mais tempo; furam ou fazem' furar a sua pele com uma agulha, uma sovela aguça da ou uma ponta aguda e desenham assim sôbre os seus corpos, para ficar indelével, uma águia, uma serpente, um dragão ou qualquer outro animal favorito. Em numerosas povoações, a passagem da infância para a adolescência é distinguida por certos ritos particulares que têm o caráter duma formação moral. Os jovens são separados da comunidade e enviados por algum tempo, sob a guarda dos anciãos mais respeitáveis da tribo, para uma residência especial afastada da aldeia. A princípio executam certas cerimônias de caráter purificató- rio: jejuns, privações de certos gêneros de alimentos, por exemplo, dos que êles consideram gulodices. Vêm depois os ritos da iniciação. Compreendem invariàvelmente uma representação mími ca da morte e da ressurreição; de então em diante estão m or tos para a vida irresponsável da sua infância e devem viver para os deveres mais graves de que vão ser incumbidos. Dão-lhes um nome novo e fazem-lhes aprender um dis curso esotérico somente conhecido pelos iniciados. Os jo vens são, às vêzes, submetidos, no curso da iniciação, a pro vas brutais e repugnantes: extração de dentes, tatuagem, escarificação, circuncisão. Estas provas permitem avaliar a coragem dos candidatos. Estimam muito os que podem su portar os mais graves sofrimentos com o ânimo do Espar tano. As instruções que lhes são dadas por essa ocasião, refe rem-se às leis do matrimônio, às tradições sagradas da tribo, às divisas do território, às precauções a tomar contra certos vícios degradantes, à fidelidade ao chefe da nação. Os ins- rrutores não esquecem o lado material- e prático da vida. Dão aos seus ouvintes instruções judiciosas sôbre a guerra," a caça, a pesca e as artes manuais; exortam-nos a combater com coragem, a proteger os fracos e a defender os oprimidos. As noções religiosas que os povos de civilização inferior transmitem a seus filhos são quase sempre eivadas de cren ças supersticiosas, de práticas exquisitas, frequentemente imorais e cruéis. Distinguem-se nelas, contudo, dum mo do mais ou menos claro, um conjunto de preceitos, de prá ticas, de instituições, que razoàvelmente se podem conside rar como os elementos primários da religião. Mons. Le Roy assim resume êstes dados fundamentais: “ Distinção entre o mundo visível e o mundo invisível; sentimento de dependência do homem com relação a êsse mundo superior; crença em um poder supremo, organizador e senhor do mundo e, ao mesmo tempo, pai dos homens; crença em espíritos independentes; uns, tutelares; outros, hostis; crença pa alma humana distinta do corpo e separan do-se dêle à hora da morte; crença no mundo do Além, o mundo das almas e dos espíritos; senso moral baseado na distinção do bem e do mal; sentimento de pudor, de justiça, de responsabilidade, de liberdade, de dever;' reconhecimento explícito ou implícito da consciência; noção de pecado, com sanção aplicada pela autoridade do mundo invisível ou de seus representantes; organização cultuai: oração, oferenda, sacrifício, ritos, cerimônias, símbolos; sacerdócio, primeira mente representado pelo chefe de família; depois, pelos an ciãos ou sacerdotes; distinção entre o sagrado, e o profano, e atingindo as pessoas, os lugares, os objetos e as palavras; estabelecimento e organização da família como centro social e religioso procurando conservar a pureza do sangue, im pondo leis a si mesma, distinguindo-se por sinais especiais, fortificando-se por alianças (toténs) e transmitindo as suas tradições, sobretudo por ocasião das principais fases da vida: nascimento, adolescência, casamento e morte” . (A la re- cherche ãe Vorigine ães religions, p. 21-22. Paris, 1922). B ib liografia O) — A . B r o s , La Ueligion ães peuples non civilisés ( P a r i s , 1 9 0 7 ) . — C hristus, Manuel ã ’ lústoire ães Religions, eh. I et I I ( P a r i s , 1 9 3 2 ) . -— Cyelopeãia o f éãucation, art. Primitive peoples (N e w -Y o rk , 1 9 1 1 ) . — Dic- tionnaire apologêtique, art. Animisms, Fêtidhisme, Naturalisme. — E a s t m a n , Inãian boyhooã ( N e w -Y o rk , 1 9 1 2 ) . — M g r . L e R o y , La Ueligion ães primi, tifs ( P a r i s ,1 9 0 9 ) . — P . M o n r o e , A text-booh in the history o f éãucation, c l i . I (N e w -Y o rk , 1 9 0 6 ) . CAPÍTULO II A EDUCAÇÃO NA CHINA Resumo histórico. “ . . . Os Chineses se atribuem origens fabulosas, mas a existência regular da sua nação parece remontar ao anoi três mil antes cTa era cristã. Os fatos autênticos de sua história só datam de três séculos antes de nossa era. O primeiro imperaefor célebre foi Chewang-te (246-210) que fêz construir a grande muralha. Desde os tempos mais remotos até a aurora do século XX, a forma de govôrno foi o absolutismo. O imperador, Filho do Céu, segundo pen savam, participava da força do alto. Ninguém ousaria examinar ou (1 ) D epois de cada estudo im portante, indicam os algum as obras nas quais se encontrarão desenvolvim entos que podem interessar. É inútil dizer que não pretendem os dar — o que aliás seria im possível — uma b ib liog ra fia com pleta do assunto. O Dicionário e o Novo Dicionário ãe Peãagogia são os de B u isson ; — a Cyelopeãia é que apareceu em cinco volum es, sob a d i reção de M onroe, na livraria M acm illan, N ew -Y ork (1 9 1 1 -1 9 1 3 ) . contradizei as suas ordens consideradas divinas. Hoje. a China é uma república constitucional. Sob a influêncià das idéias ocidentais, o povo chinês, entorpecido durante longos séculos numa meia civilização, parece entrar hoje na ca minho do progresso, mas não se desembaraça senão com dificuldade do seu estreito formalismo. * Religião. —: Og chineses professam sobretucfo o confudonismo, o budismo © o taoismo. O confucionismò é a doutrina de Çonftícia (551-478). Êste filósofo tratou soibretudo, nos seus ensinamentos, C nos seus escritos, de elevar a tradição., A doutrina que melhor se desprenderia das suas obras, diz Mons. E. Blanc, seria um vasto naturalismo panteístico ( Diccion. ãe p'hilosophiel art, Confuoius). Os seus livros formam o código moral e político da China. Buda (622-543), filósofo indu, é o autor dfo &udismo. A sua doutrina compreende a eternidade da matéria, a transmigraçâo das almas e o nirvana ou aniquilamento. Ensina também que todos os hcimens são ir mãos e que se devem tratar com bondade, piedade e amor. Renúncia, vida virtuosa, supressão de todo amor próprio, caridade para com o próximo, tais são, conforme Buda, as virtudes cardeais que n traem as bênçãos sôbre a humanidade. O taonismo é a doutrina do Taot livro principal de Lao tseu, filósofo contemporâneo de Confúcio. O seu ensino se resume numa espécie de panteísmo, e a sua moral na doutrina do não-agir. Quer êle que o povo viva no bem-estar e na tranqüilidade, mas sem receber instrução, a fim de fugir aos (Tesejos inquietos, insatisfeitos, que são a conseqüência dela. A educação tradicional — O antigo sistema de educação existia vários séculos antes da nossa era e ainda não desa pareceu completamente; o que nos permite descrevê-lo como atual. _ A primeira educação se faz na família. Confúcio diz no pai: “Educa teu filho desde cedo, ensina-o a mover-se, a ficar em pé, a falar, a comportar-se em visita, a distinguir ü> que deve aos velhos e aos moços. Aos sete anos ensina- lhe os caracteres. Enquanto é pequeno não o acostumes a comer bem e. andar bem vestido; que não tenha fome nem frio, é quanto basta”. Considera-se a educação familiar, muito importante. A família é o núcleo da organização social; se os pais dão aos filhos bons princípios, a vantagem será para o Estado todo: “Se os negócios da casa são bem dirigidos, os do Estado o serão também, porque êstes descansam sôbre aqueles; quem venera seus pais venerará também o rei” . Educação escolar — O menino vai à escola pela idade de sete anos. Na China as escolas são numerosas. Nas ci dades grandes cada bairro possui uma ou duas. Os alunos são obrigados a ter grande veneração pelo mestre. Há uma máxima que diz que se deve venerar tôda a vida como um pai, o professor que se adotou: “ Quando um aluno acom panha seu mestre na estrada, não o deve deixar para falar a outra pessoa; também não deve caminhar atrás dêle, mas deve conservar-se um pouco à direita. Quando o mestre se apoia sôbre o seu ombro para lhe dizer alguma coisa ao ou vido, deve colocar a mão sôbre a bôca para o não incom o dar com o seu hálito; jamais deve interrompê-lo quando êle lhe fala” . A peça principal da mobília da classe é a prateleira de Confúcio; o aluno saúda-a ao entrar, prostra-se, oferece o arroz, o incenso, velas para as festas. Um assento e uma mesa para o mestre completam a mobília. Os alunos for necem tudo o que lhes é necessário: mesa, cadeira, livros e papel. Curso de estudos — Podemos distinguir, na China, os es tudos elem entares e os estudos superiores. Os estudos ele mentares fazem-se dos sete aos doze anos. É seu fim .prin cipal conservar a unidade da nação, manter as tradições an cestrais e preparam o menino para os deveres da vida. Para conseguir êsse resultado emprega-se, como meio, a educação religiosa que faz conhecer 0 bem; como aplicação, as boas maneiras, que exprimem a retidão do coração, e o cerim o nial que presta a cada um as honras que lhe são devidas. A ciência religiosa é tomada dos livros sagrados que são em número de nove: os quatro livros clássicos e os cinco livros canônicos, escritos ou colecionados por Confúcio e seus discípulos, e cujo conjunto forma um código político e moral universalmente respeitado, que todos os festudantes devem aprender de cor. Ligam os Chineses grande importância ao que êles cha mam as cinco correlações comuns a todos os homens: rela ções entre soberano e súditos, pais e filhos, espôso e esposa, irmão e irmã, companheiro e companheira. E imaginam, diz o P. Ricci, que nos países estrangeiros não se ocupam dessas relações. O menino é formado com grande cuidado na polidez e boas maneiras. Um dos primeiros livros que lhe põem nas mãos, é um tratado sôbre a Piedade filial, escrito em forma de diálogo e que contém os deveres dum filho para com seus pais. O curso de estudos elementares compreende, além disso, a leitura, a escrita e os elementos do cálculo. Acrescentam- lhe a música como ,um meio de introduzir a harmonia nas ?lmas. Os elem entos ãe leitura e de escrita são aprendidos tendo à vista os objetos cujos signos se estudam: tem-se as sim a coisa, o nome e 0 sinal escrito. Para o cálculo ser vem-se do suan-pon, espécie de ábaco-contador. O menino é submetido a três espécies de trabalhos: exercícios de me mória, explicação de sentenças e composições elementares. Os estudos superiores têm por fim formar letrados ou nspirantes às funções do Estado. O curso de estudos é so bretudo literário: o aluno estuda os nove livros sagrados que encerram tôda a filosofia ortodoxa e quase tôda a história antiga da China; depois, a literatura de certas épocas, es pecialmente as poesias da dinastia dos Tangs; as odes de Li-Ta-Ko, cuja riqueza eqüivale, ao que parece, às de Ho- :. ácio ou de Anacreonte. Depois disso, dedica-se ao estudo dos ensaios dos mestres antigos; em seguida, à historia por menorizada da China; e, enfim, à filosofia nos comentadores de Confúcio e nas obras dos filósofos que ocupam o primeiro lugar entre os pensadores do império. Deve adquirir ain,da noções sôbre os astros, minerais, flores, animais, e conhecer as grandes leis da natureza. Aos dezoito ou- dezenove anos está maduro para os exames. Apreciação — Este gênero de educação presta-se muito à critica. Liga-se demasiado à cultura da memória e negli genciam-se as demais faculdades. O trabalho é difícil, abor recido, sem atrativo; é obtido, antes, pelo temor do que pelo interêsse. — A cultura moral é igualmente insuficiente: nada ou quase nada para a formação do caráter e da consciência. O menino é submetido a uma passividade quase absoluta, a qual sufoca a personalidade. O estudo exclusivo da litera tura nacional desenvolve um patriotismo exagerado que leva a desprezar o que é estrangeiro. Educação nova— De alguns anos para cá os métodos europeus de educação se têm introduzido na China, à imi tação das escolas fundadas pelos missionários católicos (La- zaristas, Associação das Missões estrangeiras, Jesuítas, Ir mãos Maristas, etc.) e dos missionários protestantes. Em 1898, o imperador decretou a fundação de escolas médias e superiores e organizou uma universidade conforme o modêlo das universidades do Ocidente. Esta medida, porém, desa gradou e o inovador foi destronado. Entretanto, a univer sidade subsistiu. Em 1902 ela foi unida ao colégio dos In térpretes que existia em Pekin, havia quarenta anos. Rea briu-se como tal em 1903. Um decreto de 1904 a reorganizou em quatro secções: moral e filosofia, línguas estrangeiras, direito e ciências políticas, história e belas-letras. Deixa-se uma grande parte aos clássicos chineses. Hoje, cada pro víncia tem sua universidade. O ensino ministra-se à euro péia em grande número de escolas secundárias e primárias. As nacionais de estrangeiros se submetem à fiscalização oficial. Esta educação nova muito pouco se preocupa com a for mação moral. A própria familia deixa ao menino uma li berdade excessiva. Os professôres, na maior parte, estão convencidos da inanidade das religiões, do valor exclusivo das ciências empíricas, e estão impregnados das doutrinas materialistas de Büchner e Heckel; confessam que, para êles, o fim moral e religioso é secundário e que o fim humanitá rio e social é preferido. Os Chineses que fizeram os seus estudos na Europa e na América, voltam à pátria persuadi dos de que a religião já teve seu tempo e repetem, nas re vistas e livros, as velhas fórmulas do positivismo: “A ciên cia substitui a religião! A humanidade substitai-se defini tivamente a Deus!” Os alunos, ao invés de seguirem seus cursos, fazem con ferências, organizam manifestações; os manuais são imbuí dos de idéias revolucionárias; os livros de moral não ensinam senão um grosseiro materialismo. (L. Coiffard, Notes sur Venseign. en Chine, Enseignement chrétien (juin 1922). Tal formação faz desclassificados, folgazões ou revoltados. Üni- camente o cristianismo seria capaz de reagir contra a corru ção dos costumes e de formar corações e vontades; mas êste ainda não penetrou as massas. B ib liogra fia — BiOt, Essai sur 1’ instruction publique cn Chine (P aris, 18 47 ). — M . C o u r a n t , Études sur 1’éãucation ct la colonisation (P aris , 1 9 04 ). — Cyclopeãia o f eãucation, art. China. — S. S. L a u r j e , Tlislorical survey o f Prc-Christian eãucation (L ondres, 1907). — M a r t i n , The Chine se t tlieir eãucation, philosophy anã letters (N ew -Y ork , 1881). — Nouvcau Vic- tionnaire de Péclagogic, « r t . Chine. — B . P. W ie g e t La Chine moâerne, 3 vol. (Paris, 1922). • CAPÍTULO III A EDUCAÇÃO NO JAPÃO Regumo histórico. — Compõe-se o Japão de cinco grandes ilhas, a saber: Hanto ou Nipon, Sikoku, Kiusa, Yezo, Formosa e algumas outras ilhas de menor extensão. A fundação dó império remonta; segundo os anais japonêses, áo sé timo século ant«s t’.a ncissa era. O imperador exerceu diretamente 'i autoridade militar até o século X II, em que a entregou a um genera- Hssirno chamado Shagun. Na século X V II a dignidade de Shagiln tor nou-se hereditária e o imperador não exerceu mais que uma autoridade nom inal; os nobres foram reduzidos ao estado í e vassalos com o nome de daimios- Êste período (le feudalismo militar durou até 1868. Nessa época o imperador tornou a ser soberano efetivo. Desde então o Japão tem realizado um progresso intelectual e material “sem precedentes nos anais da humanicíade.” Religião. — Três religiões dividem as crenças do povo japonês: oi shintoísnu)' o budismo e o cristianismo. O sintoismo (shinte, voz ílos deuses) é a religião primitiva dos Ja ponêses. Consiste na veneração dos deuses, isto é, dds antepassados da casa imperial, e em certas orações aos deuses do vento e dfo fogo, à deusa da alimentação e da cozinha. Prescreve também certas purifi cações que têm em vista as manchas corporais mais do que ás morais. O budismo foi introduzido no Japão no sexto século da nossa era e adotaiío, pouco a pouco, pela grande massa da nação. Desde então a civilização japonêsa seguiu um desenvolvimento ao mesmo tempo para lelo e subordinado ao da China. Tôdus as obrigações, morais'impostas pelo budismo se resumem nos Goleai e nos Gorin. Os Gokai são os prin cipais mandamentos: nãi matar, não furtar, não se entregar à luxúria, não mentir, não tomar bebida alcoólica. Os Gorin são as cinco relações humanas dos Chineses. O cristianismo, perseguido por muito tempo, é tolerado hoje em vir tude da liberdade dos cultos. O juãmimo e o maometismo têm poucos adeptos no .TapãQ. Educação antiga — Pelo ano 270 da nossa era, um le trado chinês, vindo da Coréia, trouxe para o Japão a escrita chinesa. Até ,essa época a maior parte dos japonêses igno rava a arte’ de escrever. O rei Mommu estabeleceu, em 701, uma universidade em .Tóquio, ordenou a criação de escolas em cada província e promulgou regulamentos relativos à educação. O pessoal da universidade de Tóquio constava de um superintendente, um adjunto e professores. Uniam-se à uni versidade as escolas especiais de medicina, astrologia e mú sica. Os estudos começavam entre os treze e os dezesseis anos. Dois íivròs, de início, eram pçstos' nas mãos dos estudantes: o Kokio, ou Livro do dever filial, e o Rongo, ou filosofia de Confúcio. Estudavam a seguir as especialidades a que se consagravam. Os exames do fim dos estudos eram presidi dos pelo ministro das cerimônias. Os candidatos eram gru pados em categorias, conforme as especialidade? que tinham estudado: clássicas chineses, ciências políticas, jurisprudên cia, matemática, medicina, astronomia. Cada escola de província tinha um professor escolhido pelos notáveis; se ninguém era capaz de desempenhar êsse cargo, dirigiam-se ao ministro das cerimônias o qual desig nava o titular. Aprendiam primeiro a ler; depois, a com preender os caracteres chineses; por último, liam o Kokio e o Rongo. Os alunos que desejavam ler mais de dois livros clássicos eram transferidos para a universidade. Durante o shagunato, a universidade de Kioto, que havia desaparecido, foi substituída pelo Colégio de Confúcio, em Yedo. Êste estabelecimento chegou a contar três mil alu- nos. Os daimios também criaram escolas em suas provín cias. Os negociantes, os agricultores e os artífices que qui sessem fazer instruir seus filhos, deviam confiá-los a profes sores particulares. O número de Japonêses que recebiam uma educação elementar, era considerável. Às mulheres só se dava uma instrução limitada; algumas, no entanto, se distinguiram pela erudição e talentos poéticos. Educação nova — Desde 1868, a educação é organizada no Japão segundo os métodos ocidentais. É dirigida por um ministro de instrução pública, inspetores especiais para cada gênero de ensino e um conselho de instrução pública. As escolas de todos os graus são numerosas: escolas pri márias e primárias superiores, escolas normais, escolas se cundárias, universidades (Tóquio, Kioto, Sapporo); escolas profissionais para o comércio, a agricultura, engenharia flo restal e engenharia civil; escolas especiais de música, de lín guas estrangeiras, de medicina, de direito, de letras, etc. O Japão exerce uma influência intelectual considerável sôbre todos os povos da Ásia: Chineses, Indus, Coreanos, freqüentam as suas escolas e universidades. Apreciação da educação nova — Fazem-se algumas cen suras à educação atual dos Japonêses. — A primeira é a de ter destruído, sem os substituir, os fundamentos das reli giões de origem chinesa. A legislação impõe neutralidade absoluta às escolas primárias e secundárias. O ensino mo ral é baseado unicamente no culto do imperador e no amor da pátria. Enche-se a cabeça dos meninos com a narração das maravilhosas proezas dos antepassados, mas esquecem defalar-lhes das virtudes ordinárias. O resultado prático, é uma juventude precoce e pretenciosa, com ares pessimistas e desiludidos. O problema seria achar uma moral que pu- desse-satisfazer às almas: os sistemas propostos pecam pela base. Só o cristianismo podia satisfazer. Além disso, os Japonêses dificilmente aceitam o sobrenatural; êles mesmos confessam ter a alma “profundamente agnóstica”. As con versões aò protestantismo não têm maior importância “do que um mudar de roupa”. Censur4-se*à pedagogia japonêáa ser por demais calcada iôbre a dos povos ocidentais; têm, daí, resultado defeitos consideráveis: os livros são muitas vêzes acima do alcance dos alunos e os professores apegam-se de preferência às pas sagens mais abstrusâs; os professores empregam por demais a forma unicamente expositiva. A fiscalização do Estado parece excessiva. Está tudo tão minuciosamente previsto que'não fica lugar para nenhuma iniciativa pessoal. Os me ninos sonham só em ser funcionários, e os educadores pro curam demasiadamente salvar as aparências. O barão Aruske assim caracteriza a educação nova: “A pedagogia japonêsa é tôda de fachada, admirável no papel, de fato “puramente decorativa”. Os estudantes saem das universidades pelos vinte e cinco ou vinte e oito anos, le vando uma formação de pouco uso. Tôdas as suas energias foram dirigidas para o que ér meio: mas o fim, a vida real, foi completamente Tiegligenciada. Em compensação esta mo cidade tem a cabeça repleta de teorias revolucionárias que ela vai propagando pelo país, “o que não acontece sém causar justos receios aos espíritos bons”. B ibliografia. — C h b istts , Manuel ãss Seligiont, ch. IV . — CyrXo- pedia af eãucation, art. Japan. — Étufies, n.o du 20 mai 1914. — Aperçu gênêral fie 1’ éfiucation au Japon (Tokio, 1905JV — Bevue hebãomadaire, n.o du 31 décembre 1910. A EDUCAÇÃO DOS INDUS Resumo histórico. — A história antiga da Índia é puuco conhecida. O livro de .Tó faz alusão às riquezas destas regiões e, às vêzes, tomam pela índia o país de Ofir, aonde Salomão, de combinação com ofe Fení- clos, enviava suas frotas. Êste país ;só entra definitivamente na história pela invasão de Alexandre (327 a. C.). Os Árabes nela fizeram in cursões no século VIII. Tamerlãa fundou ali, alguns séculos1 mais tar(Te, um vasto império, cujas ruínas algumas potências européias, sobretudo a Inglaterra, repartiram entre si. Não obstante as- oposi- ções e revoltas, os ingleses não têm cessado de estender os limites das suas possessões e têm permanecido os 'senhores da Índia. Religião. — O bramqnitsmo, religião primitiva, foi um instante des tronado pelo budismo que procurou a destruição das escolas existentes; mas êste novo culto não "tardou em perder seus partidários. Não existe hoje senão em Ceilão e na vizinhança da China. Os livros sagrados dos Indus sãoi os Vedas, aos quâis acrescentam os Puranas (livros de orações), o Mahabârata, o Samaiana (livros épi cos) e as 'leis de Manu, coletânea de preceitos morais, de leis, de tradi ções e de costumes. Os Vedas são a mais importante dessas colefáneas. Contêm as idéias religiosas da raça Ariana e a narração dos principais acontecia mentos nesses povos desde o comêço das suas invasões até o seu estabe lecimento definitivo na Índia. Dêste livro se destaca uma espécie de panteísmo cujos traços principais são os seguintes: no princípio existiu uma espécie de deus adormecidV), Bralim. ■ O seu acordar foi o sinal da criação e da produção dos fenômenos. Do seu seio saíram Brahma, Vishnu e Siva, que formam a trimurti indiana. Castas. — Nas Índias, o povo está há muito tempo dividido em castas: 110 grau mais elevado estavam os brâmaneg. Compreendem os sa cerdotes e os sábios: juriscansultos, méd'icos, professôres; em seguida, vinham os guerreiros, oficiais e soldados, os negociantes, os artífices, os agricultores; por líltimo, qs servos que não tinham direito a nenhuma educação. Abaixo destas castas estavam os párias, reputados infames e indignos de tér comunicação com os outros membros da sociedade. Durante longna séculos os brâiíianes ('xeivevairt n maior influência. Foram, ao mesmo tempo, sacerdotes, pl-cfessôres, legisladores, guardas da literatura védica e de todos os conhecimentos- Fdram éies que de terminaram as ciências que cada uma das outras castas deve possuir. Educação na família — Os Indus amam muito os filhos e os educam para a vida futura. Inspiram-lhes grande res peito pelos; pajs e mestres. A instrução familiar limita-se a algumas práticas de piedade e à aprendizagem dum ofício. Tudo se aprende por imitação e o nascimento fixa o destino de cada menino. Disto resulta uma rotina que abafa tôda individualidade, todo talento pessoal, e não deixa nenhuma possibilidade „de alguém se elevar pelo esforço acima da sua condição. Educação elementar — Os meninos das castas superiores têm direito à educação, e os livros sagrados .(Shastras) orde nam a fundação duma escola em cada aldeia. Mas as moças não recebem educação; são consideradas sêres inferiores, e os Indus acreditam que a mulher letrada não obedece nem quer trabalhar. O professor pertence à classe dos brâmanes. É objeto r’ e grande e proferida veneração. Os Vedas aconselham que levem um assento atrás dêle quando sobe umá montanha, nara que possa descansar, e recomendam que lhes segurem as sandálias enquanto êle se veste. E o livro sagrado acres centa: “Aquêle que censurar seu mestre, ainda quando êste se tivesse enganado, entrará depois dai morte no corpo dum burro; se o censurar falsamente transformar-se-à num cão; se êle se servir do que lhe pertence sem lho pedir, passará para o corpo de um verme; enfim, se invejar os seus méritos,, será transformado em vérminà”. O mestre é considerado como quem faz um trabalho todo espiritual, e seria urn insulto oferecer-lhe retribuição. Mas os seus alunos podem dar-lhe presentes e oferecer-lhe, con- forme seus'meios, “ um campo, ouro, pedras preciosas, uma vaca ou um cavalo, um guarda-sol, um par de chinelos, um escabêlo, cereais, roupas ou um manjar delicado” . O curso de estudos é, por assim dizer, exclusivamente religioso. O menino é instruído a princípio oralmente; de pois, estuda os livros sagrados: catecismo budista e Vedas. A moral se ensina sobretudo por meio de provérbios e fá bulas. O catecismo budista é dividido em duas partes. A primeira encerra dez mandamentos com relação: a) aos três pecados ão corpo: assassínio, furto, impureza; b) aos quatro pecados ãa língua: mentira, calúnia, injúrias, conver sações ociosas; c) aos três pecaãos do espírito: cobiça, ma lícia, ceticismo. A segunda aponta cinco perigos que cum pre evitar: o abuso de licores que produzem embriaguez, o jôgo, a preguiça, a companhia dos maus, os lugares de di vertimentos públicos. As outras matérias do programa são a leitura, a escrita o a aritmética. Métodos — O mestre dá o ensino individual, e cada alu no forma uma divisão. Às vêzes, os maiores e mais adianta dos dirigem os trabalhos dos menores. Daí seguiu-se o sis tema mútuo. Para aprender os caracteres, o menino traça-os primeiro sôbre a areia com os dedos ou uma vara, depois os grava com uma ponta de ferro em fôihas de palmeira; finalmente, permitem-lhe reproduzi-los a tinta em fôlhas de plátario. Em aritmética, o conhecimento das tabuadas precede o es tudo das quatro operações. A disciplina é geralmente suave e paternal. As leis de Manu prescrevem não empregar a vara senão depois que todos os outros meios forem esgotados: “ Se um aluno se torna culpado duma falta, o seu professor o repreenderá severamente e o advertirá que na próxima transgressão o corrigirá com a vara. E se a falta é cometida num tempo frio poderá lançar-lhe água fria” . Educação superior — A educação superior é organiza da, na índia, há milhares de anos. Com o nome de pa- rishadas existiam colégios muito tempo antes de Cristo. No princípio, a parishada tinha trêsprofessôres; mais tarde, leve vinte e um e tornou-se verdadeira universidade. Durante muito tempo, os altos estudos foram únicamen- (e reservados aos brâmanes. Mas, à medida que se desen- ' olveram as cidades, nelas fundaram-se escolas de litera tura, de direito, de astrologia, de astronomia e de medicina. O programa compreende o conjunto dos conhecimentos humanos: relig!ão gramática, matemática, astronomia, li teratura, filosofia, direito e medicina. Nas leis de Manu é que se deve procurar o ideal a atingir: ‘Aprender e com preender os Vedas, praticar piedosas mortificações, adqui rir o divino conhec;mento da fé e da filosofia, tratar com veneração o pai natural e o pai espiritual” . Os livros sagrados formam a base e a coroa da cultura intelectual dos Indus. Do estudo atento dos Vedas têm feito derivar a maior parte das suas ciências: a fonética, pronúncia verdadeira e natural dos sons; a gramática, arte ua construcão das frases: a métrica, a liturgia e os seus ritos, a exegese para explicar-lhe a significação, a astrono mia para a determinação cronológica dos sacrifícios. A es tas ciências primitivas se acrescentaram outras da mesma origem: a jurisprudência, as lendas, a lógica e a dogmática. Ass:m se formou o sistema ãas dez ciências às quais vieram a juntar-se a música e a medicina. Os Indus têm levado bem longe os estudos gramaticais; o seu método tem servido de modelo aos gramáticos m o dernos. Em todo tem oo têm cultivado com cuidado a ma temática. Atribui-se-lhcs a invenção do sistema decimal. Apreciação geral — Graças ao seu sistema de educação superior e ao espírito de espiritualidade que a anima, a índia sempre foi um país de ascetas, de letrados, de filóso fos e de matemáticos. Mas a educação elementar é preju dicada por graves defeitos: rotina excessiva dos mestre?, cultura demasiado exclusiva da memória, negligência sis temática da educação das mulheres, das crianças, dos ser vos e dos párias. Ocupa-se muito pouco com a formação do caráter e o cultivo da vontade. O regime das castas mantém, entre os Indus, um espírito de egoísmo, de sufi ciência e de orgulho que os impede de adotar as idéias e os métodos dos Ocidentais. A educação' antiga tende a desaparecer. Colégios e universidades, fundados sobretudo pela Inglaterra, existem em várias cidades. A difusão do cristianismo enfraquece pouco a pouco o espírito de casta e prepara o reino de uma íraternidade conforme o espírito do EVangelho. Bibliografia. — Chri-Stus, Hintoires de.s religions, cli. V I. — Cyelo. pedia o f (ducalion, art.' índia. — líüTT, O. R., History o f civilization in ■ Aiicieiil índia, 3 rol. (Londres et Caleutta, 1900). — Laurie, Pre-christian (ducation. — Paroz, Histoire universelle de la pédagoyie (Paris, 1883 y. — W arren, .1. SchooJn in British índia ( Washington. 1873). CAPÍTULO V EDUCAÇÃO DOS ASSÍRIOS E BABILÔNIOS Resumo histórico. — A Assíria ocupava n parte superior (la bacia do Tigre e (To Kufrates: e, Babilônia, a parte inferior. A Caldéia, pla nície imiitu rica e muito fértil, era uma província de Babilônia. Qs povos que habitavam êsses países erain originários dos elevados planal- 11is da 'Ásia. ' Os Caldeus, primeiros possuidores do solo,, tinliam uma- civilização muito adiantada foram subjugados e absorvidos peliís Ba-' liilônios. Religião. — Pelos textos conhecidos até << dia de hoje, a mais an- llga forma dê religião dos Assírios tf dos Babilônios fói o politeísmo. Cada cidade tinha o seu (1'eus, o qual possuía .d seu templo, recebia as homenagfns <io póvo e o protegia. Este deus era assistido poiv uni nú mero considerável de divindades secundárias. O rei da cidade não era mais do que oi seu representante ou o seu sacerdote. No decurso dos séculos o número das divindades diminuiu e uma hierarquia se formou, íi lesta da qual se achava reunida Uma espécie de tríade composta de .Inou, deus do céu de En-lil, deus da terra e de Ea, delis do mar. Os Assírios e Babilônios tinham a alma religiosa- Os textos dos liidos e das orações que dirigiam fi divindade exprimem sentimentos muito elevados. Acompanhavam as suas súplicas com presentes, li- bações e sacrifícios. Tinham a noção, do liem e do mal e consideravam a doença e ás provações como castigos. O culto que tributavam aos mortos, prova que tinham idéia da vida futura. Mas nenhum texto conhecida atesta a sua crença na ressurreição geral ou 11a transmigra- ção das almas. Educação — Os Caldeus tiveram escolas, e os magos- foram os seus primeiros professores! Os templos eram os principais centros de atividade intelectual. Os Caldeus de sapareceram como raça; mas legaram a seus vencedores uma civilização muito adiantada. O seu idioma, estudado como língua morta, só era empregado nas cerimônias reli giosas. Nada se sabe de preciso sôbre a organização escolar dos Assírios e Babilônios, mas o estado da sua civilização leva a supor que tinham escolas numerosas. O .saber lhes era necessário para assegurar ao povo o bem-estar e manter no exterior o bom nome da nação. A alta educação era reservada aos magos e às castas superiores. Um menino inteligente podia, porém, chegar a uma cultura elevada, que lhe dava acesso aos empregos do Estado. A instrução era sobretudo técnica e prática: tratava-se de formar comerciantes e escrivães. Entretanto, em certa época, os estudos ditos liberais estiveram em gran de aprêço: houve especialistas em literatura religiosa, em astronomia, em história. Aprofundou-se sobretudo a ciên cia do comércio e adotou-se um engenhoso sistema de con tabilidade. As grandes cidades possuíam bibliotecas cujos livros eram pranchetas ou cilindros sôbre os quais estavam gra vados os caracteres cuneiformes. O descobrimento de al guns dêsses “manuais” , destinados aos escolares, permitiu conhecer de modo mais preciso a civilização dêsses povos. O programa de estudos compreendia a religião, a gramáti ca, a aritmética, a história e a geografia. Os manuais de história são muito metódicos. A tabuada de multiplicação estava em uso nas escolas e conhecia-se o sistema decimal. Os elementos da leitura se ensinavam por sílabas que se combinavam para formar palavras: era um passo para o alfabeto. As escavações têm trazido à luz inúmeras obras sôbre todos os conhecimentos humanos. Sabemos, por outro la do, que os magos eram versados em tôdas as ciências., São considerados como os fundadores da matemática e da as tronomia. Acharam-se os relatórios dirigidos ao rei com os resultados das suas observações: estudavam os astros, sobretudo com o fim de tirar presságios para o bem ou mal da humanidade. Estabeleceram a semana de sete dias, in ventaram os signos do zodíaco e determinaram a duração do ano. A sua literatura epistolar era considerável; os frag mentos que nos restam são preciosos para a história. O código dos Caldeus e dos seus sucessores continha leis muito sábias baseadas na justiça e na probidade natu ral. As ordenações do rei Hammurabi (2342-2288) são cé lebres. A medicina foi menos florescente, porque conside- ravam as doenças efeitos da influência dos maus espíritos. Para curar os doentes, empregavam principalmente encan tamentos. Segundo M. Lenormant e outros orientalistas, os Assírios tinham feito engenhosas classificações do reino animal e do reino vegetal. Descobertas recentes fazem su por que os sábios dêsse país tinham à sua disposição certos instrumentos de óptica e que dêles se serviam para gravar os caraciereF sôbre as pranchetas e os cilindros. Universidade «?e Babilôn*a — Babilônia foi o centro de uma grande atividade intelectual. O próprio rei mantinha, em seu palácio, uma escola superior em que se estudavam as línguas, as ciências naturais, a astronomia e a matemá tica. O curso dos estudos se fazia em três anos. Os estu dantes eram mantidos pelo Estado. No fim do curso o rei os examinava com cuidado a fim de conhecer o seu juízo o a inteligência. Foi nesta escola que o profetaDaniel e os seus companheiros se instruíram em tôdas as ciências do seu tempo. Cultura moral — Infelizmente a formação moral dos alunos foi por dfemais negligenciada nas escolas da Assíria. Êstes povos se entregaram a tôda espécie de desordens. Deus foi ofendido de tál modo que pronunciou contra Ní- nive e Babilônia terríveis ameaças cujos efeitos não tarda ram a se fazer sentir. Suas cidades foram destruídas e, alguns séculos mais tarde, mal se recordava o lugar que elas haviam ocupado. Bibliografia. — - C ii r is t t t s , Hirtoire ãcs rrlipions, Ch. XTT. — Cyrlo. prãia of cducaticn, art. Assyro-BabyTonians. — L a u r ie . Prr-CMMinn etln. cation. — M a r p é r o , Histoire ancirnnc des pcuplm <7' 1’Oricnt (P a r is , 3 9 0 0 ). —- Nouvcau Dictionnairc de pcdaçtogic, art. ChaldCe, Chaldíens. — D e la - roETE, L a Mcsopotamie (P a r is 1 9 2 3 ). EDUCAÇÃO DOS PERSAS Resumo histórico. — Os Persas descendiam dos Árias que se haviam estabelecido, no oitavo século antes da nossa era, a leste do Tigre, entre o mar Cáspio e o gôlfo Pérsico. A Pérsia foi, durante vários séculos, um grande e poderoso império que Alexandre conquistou. Ápós a morte do grande conquistador, êste país foi entregue sucessivamente aos Selêucidas, aos Partas e aos Sassânidas. Os Árabes se apoderaram dêle no século VII. Religião- — Os Persas adoraram, a princípio, os astros, os elementos e os fenômenos naturais. Zuroastro foi o fundador da religião dualista cujos princípios estão contidos no Zend-Avestn. A base desta crença é a dciutviníi da existência de dois princípios hostis e opostos: Ormuzd, espírito do bem e Ahriman, espírito do mal. As vii^tades que é preciso praticar para ser agradável a Ormuzd sã o : a reti<?8u, a 'caridade para com «s pobres, a hospitalidacíe com os estranhos. Os Persas acredi tavam ainda no julgamento das almas, depois da morte, nos castigos e recompensas da outra vida. Educação — O sistema escolar dos Persas ieve o mérito de atrair a atenção dos grandes pensadores' da antiguidade, sobretudo dos Gregos. Esteve em vigor até a conquista árabe. Começava a educação na família. O p.ai possuía um poder soberano; era obedecido e respeitado. Formar .os fi lhos na virtude, velar pela sua saúde, fazer dêles úteis ser vidores do Estado, tal era o seu ideal. Heródoto nos diz que os Persas ensinavam aos filhos três coisas: montar a cavalo, atirar com o arco e dizer a verdade. Cultivavam nêles sólidas.qualidades morais: a obediência, o amor aos pais, a justiça, o valor, a temperança, o sentimento de honra e o desejo de ser agradável a Ormuzd. Aos sete anos, a criança considerava-se do Estado. Seria a educação dada a todos por igual? Inclina-se a crer que erã principalmente reservada à classe elevada. O Avesta contém alguns preceitos a êste respeito: “A edu cação é a vida da humanidade. . . Os homens elevam-se aos empregos mais ilustres pela educação que os torna ca pazes de í ler* e. escrever”. Uma secçãó, hoje perdida, do livro sagrado era dedicada unicamente à arte de educar a mocidade. Os filhos ^dos pobres provàvelmente não rece biam senãtí uma educação muito sumária. Strabão e ou tros escritores asseguram que os filhos dos nobres e dos ricos eram educados na côrte do rei, por homens graves e de procedimento irrepreensível. Períodos de educação — A instrução formal principiava aos sete anos. No ponto de vista físico, compreendia a cor rida, a equitação, o tiro de flecha e de dardo. A alimenta ção era das mais frugais: pão, agrião e água. A formação intelectual compreendia a leitura do Avesta e a escrita. A religião era considerada” a base necessária da formação do cidadão”. (Avesta) Dos quinze |toá vinte é cinco anos, efetuava-se a forma ção militar. O jovem recebia primeiro o cinto da virili dade; depois, prestava juramento de seguir a lei de Zoroas- tro e de servir o Estado com fidelidade. Exercitava-se tam bém na equitação e no manejo das armas. Dos vinte e cinco aos cinqüenta anos, òs Persas eram soldados: tomavam parte nas guerras e expedições. Aos cinqüenta anos, os cidadãos mais instruídos e mais virtuo sos tornavam-se educadores. Na Persia, como na Caldéia. os magos foram os mestres por excelência. O Avesta lhes recomendava que estabelecessem entre êles e os alunos um laço comparável ao de um irmão com seu irmão ou dum pai com seu filho. Os Persas tributavam a seus mestres uma grande veneração e, após a morte, punham-nos muitas vêzes no número dos santos. A aula começava cedo porque estava prescrito aos jovens levantarem-se antes do canto do galo. Estrabão nos informa que se reiíniam desde a aurora na praça pública como se estivessem dispostos a tomar as armas ou a sair para a caça. Dividiam-se em companhias de quinze; e sob a direção dos seus mestres ou dos sátrapas, faziam uma marcha assaz longa. Os exercícios intelectuais alternavam com os exercícios militares. Os professores exigiam uma exposição das suas lições. O curso de estudos não era uniforme. O dos soldados compreendia religião, leitura, escrita e, sobretudo, educa ção física. O dos magos era muito mais extenso. Com preendia religião, história, matemática, astronomia, astro logia, alquimia, etc. Apreciação — Êste sistema de educação, se realmente existiu como o descrevem alguns escritores da antiguidade, merece graves censuras. Favorecia o estadismo e destruía os direitos da família sôbre o filho. Parte da população recebia educação insuficiente. A cultura física tinha uma importância exagerada em detrimento da formação inte lectual. Apesar dos seus defeitos, esta educação deu resul tados apreciáveis. A Pérsia teve os seus poetas ilustres: Ferduci, Saadi, Hafiz; e os Contos das Mil e uma Noites estão traduzidos em tôdas as línguas. B i M i o g r a f i a . — C h r i s t u s , M anuel d ’liistoire ã : s religions, ch . V . — Cyclopcãia o f educai ion, a rt . Pcrsiun éãucation. — L a u r ie , Pre-Christian. — M a s p é r o , I I i loire anci.nnc âes peuples dc VOricnt. — N ouvcau D i e - Uonnaire ãe pédagogie, a rt. P erse. — X é n o p h o n , L a Cyropédie. EDUCAÇÃO DOS EGÍPCIOS Resumo histórico. — O E g ito fo i p o v o a d o dVsde n m ain rem ota an tigu idade. N u m erosas d in astias de fa r a ó s o g ov ern a ra m n os tem pos m ais rem otos. O s H ik sos , h a v en d o -se a p od era d o de nina p a r te d o te rr i tório , su ced eram n «s r e is ; fo ra m , porém , ex p u lsos pelo an o d e 1700 antes de C risto e a (Vina&tia n a cion a l torn ou a re in ar sôb re todo o E gito . E m 525, C am bises se a p rd e ro u d o p a ís e torn ou -o p rov ín cia d a P érsia . C on q u istan d o-o p o r seu turno, A le x a n d r e fu n d ou a c id a d e de A lex a n flr ia (pie se torn ou fo c o de c iên cia e c iv iliz a çã o . O E g ito p rosp erou m uito sob o g ov êrn o dos P to lrm ieu s ; fo i p r o v ín c ia ,r o m a n a alguns an os an tes da era c r is tã e con q u ista d a p e los S a rra cen os n o sécu lo V II . Religião. — T in h a m os E g íp c io s um a d outrin a re lig io sa qu e con si d era va m rev e la d a . E sta v a con tid a nos liv ros hcrmáUcos, c u jo au tor, se gu n do a tra d içã o , n ão era sen ão o deus T ot, o M ercú rio d f«3 G regos. E sses liv ro s con tin h a m h in os e câ n ticos sa g ra d os e tra ta v a m de todos os con h ecim en tos hum anos. E m todo tem plo d o E g ito d ev ia h a v er um ex em p la r . A p r in c íp io êste p ov o a d orou um só D e u s ; c a ;u, p orém , em breve na m ais g rosse ira id o la tr ia . P restou cu lto aos m a is vis an im a is e at»3 aos legum es d as hortas.i "N o E g ito , d iz B ossuet, tm lo era deus ex ce to o p ró p r io D eu s.” O s E g íp c io s a cred ita v a m na im orta lid a d e da alm a, nas recom p en sa s e ca stig os da ou tra viría. E sta v p m con v en c id os de que as
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