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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Organizadora Márcia de Lima Elias Terra Graduada em pedagogia e história. Especializações em inspeção escolar e práticas de supervisão, educação a distância e metodologia do ensino e aprendizagem de história Mestre em educação Professora do Colégio Batista de Varginha e no Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS - Varginha, MG, onde atua nas disciplinas de sociologia, realidade política e econômica contemporânea, história da educação e metodologia de ensino da história PEARSON © 2014 by Pearson Education do Brasil Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Pearson Education do Brasil. D iretor editorial e de conteúdo: Roger Trimer Gerente de produção editorial: KellyTavares Supervisora de produção editorial: Silvana Afonso Coordenação de produção editorial: Sérgio Nascimento Editor: Casa de Ideias Editor assistente: Marcos Guimarães R edação: Raul Coachman Preparação: Eloiza Lopes R evisão: Ana Paula Perovano Projeto gráfico e diagramação: Casa de Ideias Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) ( Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) História da educação/ Biblioteca Universitária Pearson. - São Paulo : Pearson Education do Brasil, 2014. 1. Educação - Brasil- H istória 2. Educação - História I. Biblioteca Universitária Pearson. 14-02241 , lodices para catálogo sistemático: 1. Brasil: Educação : História 370.981 2. Educação brasileira : História 370. 981 2014 CDD-370.981 Direitos exclusivos para a língua portuguesa cedidos à Pearson Education do Brasil, uma empresa do grupo Pearson Education Rua Nelson Francisco, 26 - Limão CEP: 02712-100, São Paulo - SP Fone: (11) 2178-8686 - Fax: (11) 2178-8688 e-mail: vendas@pearson.com SUMÁRIO Apresentação ........................................................................................... VI Prefácio ..................................................................................................... VI 11 Unidade 1 Raízes históricas da educação ..................................... 1 A educação na Antiguidade .................................................................. 5 A educação nas civilizações orientais .............................................. 7 A educação hebraica ........................................................................... 18 A educação na civilização da Grécia .............................................. 19 A educação no Império Romano .................................................... 24 A educação na Idade Média ............................................................... 26 A educação cristã ................................................................................. 27 Tomás de Aquino e a fé cristã .......................................................... 29 A educação islâmica ............................................................................ 30 A mulher da Idade Média .................................................................. 32 As corporações de ofícios ................................................................. 33 A formação dos cavaleiros medievais ........................................... 34 As universidades medievais ............................................................. 35 A educação moderna ............................................................................ 3 7 A revolução de Copérnico ................................................................. 38 A Renascença ......................................................................................... 40 A Reforma Protestante ....................................................................... 41 A Companhia de Jesus ....................................................................... 43 O lluminismo .......................................................................................... 44 A Didática magna de Comênio ........................................................ 45 O Romantismo ....................................................................................... 47 O Positivismo ......................................................................................... 49 Unidade 2 Modelos tradicionais de ensino ............................... 55 A pedagogia moderna .......................................................................... 57 A nova didática ........................................................................................... 58 O Empirismo britânico ........................................................................ 59 O Idealismo transcendental de Kant ............................................. 62 A nova concepção de infância na Modernidade ...................... 65 __ iv_ ( História da educação As sistematizações pedagógicas do século XX .......................... 68 A educação socialista .......................................................................... 69 A psicologia da educação .................................................................. 72 O pragmatismo de John Dewey .................................................... 77 A psicologia comportamental ......................................................... 79 Educação a distância ........................................................................... 81 A experimentação pedagógica das Escolas Novas .................. 84 O método Montessori ......................................................................... 84 A Teoria Cognitiva de Jean Piaget .................................................. 86 A experiência da escola Summerhill ............................................. 89 O Pós-Modernismo de Michel Foucault ....................................... 91 O Neo-Humanismo social .................................................................. 93 Unidade 3 A história da educação no Brasil ............................. 99 Educação no Brasil Colonial ............................................................. 101 A atuação dos jesuítas ....................................................................... 102 As escolas de primeiras letras ....................................................... 104 O ensino secundário e superior ................................................... 104 A Era Pombalina ................................................................................... 106 As aulas régias .................................................................................... 107 O Seminário de Olinda .................................................................... 107 O Reinado Joanino .............................................................................. 108 A fuga para o Brasil ........................................................................... 108 O Reino Unido Brasileiro ................................................................. 109 A educação no lmpério ....................................................................... 111 O Primeiro Reinado ............................................................................. 111 Ensino público x privado ................................................................ 112 A Era de D. Pedro 11 •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 11 4 Um patrono das artes e das ciências .......................................... 114 A educação no Segundo Reinado ............................................... 115 O Brasil republicano ............................................................................ 117 A Primeira República (1889-1930) ................................................ 117 Os ideais republica nos .....................................................................117 As reformas educacionais ............................................................... 118 A Revolução de Trinta (1930-1937) .............................................. 120 A educação na Era Vargas ............................................................... 120 O Ministério da Educação ............................................................... 120 O Manifesto de 1932 ........................................................................ 121 A Constituição de 1934 ................................................................... 122 O Estado Novo (1937-1945) ............................................................. 122 Autoritarismo e modernização ..................................................... 123 A educação no Estado Novo ......................................................... 124 Sumário) _v __ A República Populista ........................................................................ 125 A Constituição de 1946 e a educação ........................................ 127 A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) ...... 128 Os movimentos pela educação popular ................................... 130 O método Paulo Freire ..................................................................... 131 O regime militar (1964-1985) .......................................................... 132 A educação durante a ditadura .................................................... 134 A reforma do ensino superior ....................................................... 135 A reforma do ensino de 1 º e 2º graus ......................................... 136 O Brasil novamente democrático .................................................. 136 A Nova República ................................................................................. 137 O fim do regime militar ................................................................... 137 A velha política dos novos tempos ............................................. 138 Os trabalhadores no poder ............................................................ 139 A educação na Nova República ...................................................... 139 A educação integral .......................................................................... 140 A Assembleia Constituinte e o Fórum da Educação .............. 143 A educação na nova Constituição ............................................... 144 O plano decenal de educação para todos ................................ 145 A nova Lei de Diretrizes e Bases ................................................... 146 Unidade 4 A educação na atualidade ........................................ 151 Tendências da educação contemporânea ................................. 153 Novas mudanças na legislação ..................................................... 153 A ação de organismos internacionais .......................................... 160 A Unesco ................................................................................................ 161 A Cepal ................................................................................................... 166 O Bane o M u n d ia 1 ................................................................................ 1 6 7 Educação a distância no Brasil ........................................................ 168 Ensino por correspondência .......................................................... 169 Rád ia-escola ......................................................................................... 169 TV educativa ......................................................................................... 170 EaD e o ensino superior ................................................................... 171 U n i ver si d a d e s a be rt a s ...................................................................... 1 7 2 Universidades virtuais ...................................................................... 173 Legislação da EaD no Brasil ............................................................. 174 A escola do futuro ................................................................................. 175 A revolução das TIC ............................................................................ 176 A educação na era digital ................................................................ 177 O ensino presencial versus virtual ................................................ 178 As novas modalidades do ensino do futuro ............................. 187 Referências ............................................................................................. 193 APRESENTAÇÃO Nos catálogos de livros universitários, há vários títulos cuja pri- meira edição saiu há 40, 50 anos, ou mais. São livros que, graças à identificação da edição na capa e e somente a ela), têm sua idade reve- lada. E, ao contrário do que muitos podem imaginar, isso não é um problema. Pelo contrário, são obras conhecidas, adotadas em diversas instituições de ensino, usadas por estudantes dos m ais drrerentes per- fis e reverenciadas pelo que representam para o ensino. Qual o segredo de sucesso desses livros ? O que eles têm de diferente de vários outros que, embora tenham tido boa aceitação em um primeiro momento, não foram tão longe? Em poucas pala- vras, esses livros se adaptaram às novas realidades ao longo do tempo, entendendo as mudanças pelas quais a sociedade - e, con- sequentemente, as pessoas - passava e as novas necessidades que se apresentavam . Para que isso fique mais claro, vamos pensar no seguinte: a maneira como as pessoas aprendiam m atemática na década de 1990 é igual ao modo como elas aprendem hoje? Embora os ali- cerces da disciplina permaneçam os mesmos, a resposta é: não! Nesse intervalo de tempo, ocorreram mudanças significativas - a Internet se consolidou, os celulares se popularizaram, as redes sociais surgiram etc. E todas essas mudanças repercutiram no modo de vida das pessoas, que se tornou mais rápido e desafiador, mudando os fundamentos do processo de ensino/ aprendizagem. Foi com base nisso que nasceu a Bibliografia Universitária Pear- son (BUP). Concisos sem serem rasos e simples sem serem sim- plistas, os livros que compõem esta série são baseados na premissa de que, para atender sob medida às necessidades tanto dos alunos de graduação como das instituições de ensino - independente- mente de eles estarem envolvidos com ensino presencial ou a dis- tância -, é preciso um processo amplo e flexível de construção do saber, que leve em conta a realidade em que vivemos. Assim, as obras apresentam de maneira clara os principais conceitos dos temas propostos, trazendo exatamente aquilo que o estudante precisa saber, complementado com aprofundamentos e Apresentação) ~v_1_1 __ discussões para reflexão. Além disso, possuem uma estrutura didática que propõe uma dinâ- mica única, a qual convida o leitor a levar para seu dia a dia os aspectos teóricos apresenta- dos. Veja como isso funciona na prática: A seção "Panorama" aprofunda os tópicos abordados ao mostrar como eles funcionam na prática, promovendo interessantes reflexões. A educação na China Imperial da Antiguida- de era fortemente influenciada por duas cor- rentes filosóficas antagônicas. A filosofia de Confúcio prioriza a tradição, o culto aos ante- passados, a virtude e o altruísmo, valores transmitidos pelo exemplo. A doutrina taois Saiba mais Exemplo Fique atento Link Introdução Vamos iniciar uma jornada rumo ao conhecimento. Nosso terna é educação e seus caminhos, ao longo do tempo e do espaço, e este tema será explorado estudando-se suas características e de que forma a religião, a política ea economia influenciaram em seus aspectos tan- to ideológicos quanto metodológicos. De acordo com Saviani (1980), a compreensão da trama da história só será garantida se forem leva- dos em conta ·os dados de bastidores: Vale dizer se é examinada acpo.-ku.to!iU1 S:c-~,udc nl'CIJOOgcnurl.x 11h=O'llmcbcccb:tn, cb 6h.."" q,:ie«q·.:u~ icur ~rcc no SJu~ Qc: pau:1d.'c'c:o:: so.:sdr.ta< q.a: uttari:a &, 11:t!Q dt cdJaa. 9'0 • .:<co ;\rô.)n>.) Gru12'c1,, .>'\n.a, ),lilaucri:o e 111.Ubu:rt.c &rriln >.S:.ui,o-. bu.:wa=. «>cbomr Cltl1l11d:J1ii:cc a p'llCOI p:d,Wu A •dU<tJç&, unitário d•Gromsd J\ica o (@.'1'oc J<GY• lr.t-J 1!1 b1n..,;\1*..--a»C",m:::~1 (1 tl 1. 19l 7). IIC:i.ohd:YCnt a»6:1tr li ltll !o,-=aqlo.,pi.r.n:1011 b=:.;mop9'> mln"lllll a:lu;saçib cndOMlJ, o.,s= nuru.,ilo ..:,:di(:a.:1t, llai:in11 cfl~fi:11 G1m:::aa~ cp.dl1111o cknco q,:icpnnl:gnY1u1 for. c.19'0 wlluW pua 11s..:l1~:, Ô."CllrrriCII, cncpum dc:itrnv1111 C'Cíiollt dil'ltln:ti pn g Í«r::nçlb da Clld~l ck llltb:llnd.Yd ~ tulta.:in«c F.c: :a .. m: piln~ ' \«bc ('Jt$ hor::crrc dlo sn:b:tutK. c:u$n:c1od."utéc:i. nu:i»cxd,d.: "fU'lÇrlo nclco.i,r E11 ~ol, ti:= u= pip:] (l.l'ldu::.c~J lê M cll:ol1 cp.-.: ~ ~l:ctunic ,.Jo ba:=id>:i: Um ffel:l!'ll.D)cpJcpa- :!UI Cq'UCidui: VQIIIIUU o.,iu, dcccrto p:m:irtc e o~rac«b" dl'l dac:cstl:.1b:ml'l.. kcc.n- cbu:u l'))'f'l1t.:ul1.1111 Em.~..:cn::c~a, cac~o.ladc.-tc ,:a f'Ü))IOI C8Jltkda, vo}Jl.11 FJCU ll'l c:\=w.dl'l cb CJ.babo nb<lnil Jilt Jt~l'I d.:vcrn SIJ' •.mba::id.1 o= u:11 CUcp.ll'II UD.i:Ro.-m1 de pq:cui:ajllo d: do d: dn Pln cv~r »e~ ~m fX"O:!CO (ca=iu poi:~:in:s p-!J'Qnd:ispuu Íl7.a C)lja i.l.n::dO O'ta: ccb."Uef'Oc v1d1 ~nl Ocod:Jodcc~ol, ddcndd.lp.~ C'rr-.c~1of«co: u:A m:uy!o S.lba mais l ..... .. ..... ú ~! II.I .,..,. ti:d M.11 .. , ./() , b.ctunl1>:113tr'W no m::n. e r .o fO."\la::.'!,1,VCm., ?te 11brTicb cc. p,.q.a.., ..t,~,:,, d,n:,»:c11 c~t::dl>$. cc. (U"ljlb diç ~&.:,e cl:a 1111.n.-s. ,i,:cp: 1""...,or..holeMt.:u o kvu»o cc ..:«a"' do=:ndgrt cbc:«..:ia:b de CJ1tbUOO. Gruc:,i,,:i ...,,. .u Qf,fflll.d, pcp.._\! u:::A c~b ~ru~ ..:cc II u:ulb ô, 1t1tbwho airull e Gtu'M r1d:..:cu1l '------' A P'do gogl o tk Mo ko rtnlco O W"mu,no ~~l."C) M1Ltrcdtõ (1S:S~1939) lntub)u .:bfrtc t,,xh II v1d1 p:11:1 dib;c-.ir a::11 po..-i1gq;111 OJ_po b):trto cr.11.c1m- ba:=fl' " ei:00)11 cm u~ 00Jctr,x\1d: )ôU'.lh"11l. p:Ub.:1)C1bv11 e :mldrn Ac'CII d:, rdin:kubo::~o c da l>.'Clp;:ll,&I p:bd:~e po,b> cu»Jil' , s::p;,d~,11 c<driiuir flUtl a ~cnau;!lo do5....:1,m.. Q) nu Umlo s...,,,:bOI O Império Romano usou a força das armas para conquistar todo o mundo conhecido de sua época. Entretanto, ao submeter a Grécia, foi fortemente influenciado por sua civiliza- ção. Filósofos como Cícero, Sêneca e Plutarco traçavam as diretrizes da educação romana, Ao longo do livro, o leitor se depara com vários hipertextos. Classificados com o "Saiba mais" "Exemplo" "Fique atento" e "Link" ' ' ' esses hipertextos permitem ao aluno ir além em suas pesquisas, oferecendo-lhe amplas possibi- lidades de aprofundamento. A linguagem dialógica aproxima o estu- dante dos temas abordados, eliminando qual- quer obstáculo para seu entendimento e incentivando o estudo. A diagramação contribui para que o estu- dante registre ideias e faça anotações, intera- gindo com o conteúdo. Todas essas características deixam claro que os livros da Bibliografia Universitária Pearson constituem um importante aliado para estudantes conectados e professores ob- jetivos - ou seja, para o mundo de hoje - e certam ente serão lembrados ( e usados) por muito tempo. Boa leitura! PREFÁCIO Pensar na educação como caminho para a humanização impli- ca conhecer sua trajetória. Dessa forma, traçamos um estudo que objetiva demonstrar como a educação está relacionada aos ele- mentos políticos, econômicos e ideológicos. Buscamos na história as possibilidades de compreensão desses elementos que constituí- ram a educação, ao longo do tempo e em variados espaços. Se queremos compreender o presente e fazer previsões sobre o futuro , o melhor caminho será lançarmos o olhar sobre o passado. Reflita sobre a frase de Ecléia Bosi "O passado não é o anteceden- te do presente, é a sua fonte". Pois bem, é acompanhando a evolu- ção dos sistemas educacionais, desde os seus primórdios, que poderemos traçar um fio condutor capaz de nos guiar em uma re- , flexão sobre os rumos da educação do nosso tempo. E dessa forma que iniciaremos a leitura deste livro sobre a história da educação. O livro está dividido em quatro unidades, nas quais você pode conferir as mudanças e as permanências que caracterizaram a edu- cação a partir da divisão histórica: Antiguidade, Medievo, Moder- nidade e Contemporaneidade, e o que nos interessa mais de perto, o histórico da educação brasileira. Assim, podemos conferir as várias formas de influências que subsidiaram a elaboração de pro- jetos, decretos e leis educacionais de nosso país. Para iniciar nossa trajetória, na Unidade 1 vamos tratar da edu- cação na Idade Antiga, Média e Moderna. Na Unidade 2 serão abordados temas voltados para a pedagogia moderna, a sistemati- zação da pedagogia do século XX e a Escola Nova. Na Unidade 3 teremos a oportunidade de refletir sobre a educação brasileira, desde a chegada dos jesuítas, que lançaram as bases da nossa edu- cação, até a aprovação das Leis e Diretrizes e Bases da Educação, em 1996, com o objetivo de mudar o cenário da educação no país. Na Unidade 4 vamos abordar as inovações e o desenvolvimento tecnológico, com temas voltados para a educação do presente, como a educação a distância e a educação do futuro. Ao final de cada Unidade, apresentaremos estratégias de aprendizagens com exercícios de fixação. Para reciclar o que foi apresentado, teremos Panoramas e o item Recapitulando. Este livro fo i escrito em uma linguagem que conduz o leitor à reflexão, com questionamentos que favorecem a construção do conhecimento, sobre variados as- pectos da história da educação. Então, sinta-se conv idado a nos acompanhar nesta jornada. Márcia de Lima Elias Terra Prefácio) _ix __ -------------- UNI D A D E Raízes históricas da educação ------- Objetivos de aprendizagem • Compreender a forma como se relacionam o Estado (organização político-social), a religião (poder espiritual), a cultura (costumes e práticas populares) e a educação (transmissão de conhecimento e preparação para a vida). • Entender como funcionava o sistema educacional nas sociedades orientais da Antiguidade, em países tão impregnados pela cultura religiosa como a China, o Japão e a índia. • Deslumbrar-se com a magnífica civilização da Grécia Clássica e enten- der por que o pensamento de filósofos como Sócrates, Platão e Aristó- teles moldou a cultura ocidental, a começar pelo Império Romano. • Conhecer o regime feudal que caracterizou a Idade Média, o obscu- rantismo causado pela perseguição religiosa, os romances de cavala- ria e a forma como se dava a educação naquele tempo. • Conhecer a cultura árabe, na qual a religião islâmica está presente em todos os aspectos da vida de seu povo, e como isso se reflete na educação. • Compreender o que foi a Renascença e o Humanismo e por que o Iluminismo abriu caminhos para as revoluções do século XVIII. • Identificar nas reformas religiosas (Reforma Protestante e Contrarre- forma) elementos que transformaram os alicerces religiosos e cultu- rais da Idade Moderna e Contemporânea. • Observar os contrastes entre correntes filosóficas e educacionais, como o Romantismo de Rousseau e o Positivismo de Augusto Comte. Temas • 1 - A educação na Antiguidade Quando pensamos sobre educação, ensino e aprendizagem, logo nos remetemos às escolas. No entanto, quando elas surgiram? Como __ 2., ( História da educação era a educação na época das sociedades tribais?Vamos come- çar nossos estudos salientando que nas sociedades tribais a educação era difusa, as crianças aprendiam com os adultos, imitando seus gestos e comportamentos, a "educação era para a vida e por meio da vida'~ Todo conhecimento deveria ser transmitido, pois ele era uma questão de sobrevivência. Com a sedentarização, o desenvolvimentode técnicas, da escrita, da urbanização e do comércio alteram as relações e surgem dife- renças na organização social que se refletem também na edu- cação. Se antes ela era integral e universal, ela se tornava, então, privilégio, saindo do espaço natural de convivência para um lugar específico. Surgem as escolas! As denominadas civilizações fluviais se tornam sociedades com- plexas e iniciam o processo educativo, com elementos filosófi- cos, políticos e religiosos. É isso que vamos ver daqui em diante. A Antiguidade foi marcada por diversas civilizações, entre elas a grega e a romana, que deixaram importante legado cultural para o Ocidente. Destacam-se também as civilizações orientais, que valorizaram a filosofia e a religião; esses elementos influen- ciaram a educação da China, da Índia, do Japão e dos hebreus, cuja cultura era carregada, além de pelos conteúdos religiosos, por um forte sentimento de identidade nacional. • 2 - A educação na Idade Média Neste tema vamos acompanhar o período da Patrística e a Esco- lástica, quando a fé cristã se organizou em forma de doutrina reli- giosa, para exercer forte influência em todos os setores da vida cultural, ideológica e educacional. Vamos acompanhar também a expansão da religião islâmica, que predominou em todo o Oriente Médio e exerceu forte influência na Península Ibérica. • 3 - A educação moderna Depois de mil anos marcados pelo Medievo, vemos a transição do feudalismo para o capitalismo, sistema que vai influenciar a educa- ção e as relações sociais a partir do século XV. Nesta unidade, va- mos observar os fatos históricos que assinalaram a Idade Moderna, com as revoluções sociais que viriam inaugurar a Idade Contem- porânea. Nesse período de mudanças, vamos observar de que forma essas transformações afetaram a educação. Introdução Vamos iniciar uma jornada rumo ao conhecimento. Nosso tema é educação e seus caminhos, ao longo do tempo e do espaço, e este tema será explorado estudando-se suas características e de que forma a religião, a política e a economia influenciaram em seus aspectos tan- to ideológicos quanto metodológicos. De acordo com Saviani (1980), a compreensão da trama da História só será garantida se forem leva- dos em conta "os dados de bastidores". Vale dizer se é examinada a base material da sociedade cuja História está sendo reconstituída. Tal procedimento supõe um processo de investigação que não se limita àquilo que convencionalmente é chamado de história da educação, mas implica investigações de ordem econômica, política e social do país em cujo seio se desenvolve o fenômeno educativo que quer compreender. Nesta unidade temos metas, portanto fique atento e observe que va- mos caminhar na linha do tempo, analisando a educação dos tempos antigos até a modernidade. Se queremos compreender o presente e fazer previsões para o futuro, o melhor caminho será lançarmos o olhar sobre o passado. Reflita so- bre a frase de Ecléia Bosi: "O passado não é o antecedente do presen- te, é a sua fonte': Pois bem, é acompanhando a evolução dos sistemas educacionais, desde os seus primórdios, que poderemos traçar um fio condutor capaz de nos guiar em uma reflexão sobre os rumos da edu- cação do nosso tempo. Nesta primeira unidade, vamos convidá-lo para uma viagem no tem- po e no espaço em busca de repostas e também levantando outros questionamentos que estão mais ligados ao nosso dia a dia de estu- dos do que você pode imaginar. Nossa jornada pela "máquina do tempo" não nos permitirá um maior aprofundamento sobre cada uma das escalas. Em compensação, poderemos fazer comparações, obser- vações, compreender como as diferenças culturais, econômicas, polí- ticas e religiosas de cada povo exercem influências na educação, direcionando os conteúdos didáticos, as tendências filosóficas e os métodos pedagógicos empregados. Raízes históricas da educação) _3 __ __ 4., ( História da educação Fique atento Este momento é especial. Dê uma parada e refl ita: Como foi a sua formação escolar? Lembra-se de como foi alfabetizado? Quais eram as disciplinas ou os conteúdos que você estudou? E a metodologia utilizada pelos professores? São muitos questionamentos, mas pense sobre cada um deles e vai perceber que, em cada resposta, existe uma relação histórica. Essa é a chave para com- preender as estreitas relações entre educação, história, política e economia. Veremos como, ao longo do tempo, a filosofia, a religião e o Estado mantêm laços, e de que forma a educação sempre refletiu essa orien- tação. Você observa como ainda hoje esses elementos estão intima- mente ligados? A primeira etapa de nossa viagem será pelas civilizações orientais da Antiguidade, visitando a China, o Japão e a Índia. Após uma passagem pelo Oriente Médio, onde analisaremos a educação dos hebreus, viaja- remos de novo no tempo para conhecer a civilização greco-romana, que por sua contribuição para a filosofia e a ciência jurídica moderna é considerada o berço da cultura ocidental. Em seguida, vamos acompanhar a formação da Igreja Católica Romana durante a Idade Média, um período em que a organização político-social em feudos senhoriais não favorecia as trocas comerciais, muito menos o intercâmbio cultural. Os povos quase não se encontravam e quando isso acontecia nem sempre o encontro era amistoso. Além disso, a In- quisição católica costumava "purificar" pelas chamas os hereges que ou- savam rezar por outro catecismo. Por todas essas dificuldades, a Idade Média costuma ser descrita como"tempos das trevas''. o que talvez seja um exagero. Será que é isso? É bom que você conheça esse período histórico e registre suas opiniões sobre ele e seu contexto educacional e cultural. De qualquer forma, nossa próxima parada será na Itália, onde uma mag- nífica efervescência cultural - que recebeu o significativo nome de Re- nascimento - acendeu definitivamente as luzes de toda a Europa, preparando os salões - e as salas de aula - para as revoluções sociais e educacionais que viriam a seguir. O mundo nunca mais seria o mesmo! Pronto para embarcar? Pois, então, prepare-se! Da próxima vez que você sentar em uma sala de aula, mesmo que esteja com o notebook ou o tablet nas mãos, você se lembrará que, 25 séculos atrás, homens como Aristóteles e Platão já se preocupavam com a melhor maneira de ensinar. A educação na Antiguidade Para uma melhor compreensão do nosso presente, precisamos lançar o olhar em direção ao passado e acompanhar a evolução histórica que nos trouxe até os dias de hoje. O objetivo deste livro não é constituir um compêndio de história, repleto de nomes, da- tas e locais a serem decorados. Quando convidamos você a se juntar a nós em uma jornada através do tempo, nosso foco estará sempre na reflexão. A partir da análise crítica das ideias dos pen- sadores representativos de uma época ou de determinada socieda- de, buscamos uma interação com as teorias educacionais com que lidamos em nosso dia a dia. Talvez você se surpreenda ao observar que algumas questões que já eram debatidas há tempos permanecem como objeto de in- tensa polêmica. A história da educação está inserida e escrita com as mesmas tintas nos sucessivos cenários políticos, sociais e reli- , giosos. As vezes parece se repetir, pois seu avanço se dá através de uma "espiral ascendente", em que o mesmo ponto é revisitado em um patamar acima. Antes de embarcarmos nesta viagem através do tempo, con- vém definir com clareza certos conceitos. Quatro séculos depois que Comenius publicou sua Didática Magna, lançando os funda- mentos para a estruturação da escola moderna, ainda se discute o significado de didática ( do grego didczsko: instruir). Segundo o próprio Comenius, seria "a arte de ensinar tudo a todos", e ele acreditava na existência de um método universal. Podemos afir- mar que a didática tem o objetivo de tomar eficiente o processo de ensino-aprendizagem.Como atingir esse objetivo é uma questão complexa, que muda seus contornos com a mesma velocidade com que surgem novas tecnologias aplicadas ao ensino. ' E surpreendente que até mesmo o papel do professor - ensinar - ainda não esteja totalmente definido e delimitado. Há um con- senso de que não se trata de meramente transmitir um volume de ' conhecimentos para os alunos. E bem mais do que isso. Mas até onde vão as atribuições do mestre e da escola como um todo? Não estaremos distantes da verdade se dissermos que o sentido dessa missão é o desenvolvimento integral da pessoa humana, preparan- do-a para o pleno exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Raízes históricas da educação) _s __ __ 6., ( História da educação Logo no início de nossa viagem, quando visitarmos as civiliza- ções milenares do Oriente, veremos que desde a Antiguidade essas duas finalidades da educação - formação do cidadão e preparação para o trabalho - já eram difíceis de conciliar em um mundo de trabalho hierarquizado. Se no terceiro milênio nós assistimos ao de- bate dos pensadores e pedagogos em torno da dicotomia educação versus f armação, naquelas priscas eras não havia muito que discu- tir. Em sociedades rigidamente divididas em castas, não fazia senti- do fornecer "cultura inútil" para membros de um segmento social destinado ao trabalho braçal desde o seu nascimento. Não por acaso, o saber e a cultura nos grandes impérios eram privilégio dos sacerdotes. Depositários do conhecimento sobre as competências mais altas e complexas, a poderosa casta dos religio- sos controlava sua irradiação segundo critérios bem definidos. As ciências esotéricas e sagradas eram restritas à formação de sacerdo- tes. Os estudos "intelectuais", como a matemática, geometria e as- tronomia, além de noções sobre valores morais e filosóficos, eram exclusivos para as classes dominantes. O domínio da leitura e da escrita elevou os escribas a um status intermediário de trabalhador qualificado. Para os segmentos ou classes considerados inferiores - artesãos, camponeses, artistas e guerreiros - eram reservadas as téc- nicas elementares de produção, transmitidas de pai para filho ou na práticanas oficinas de ofício. Na base da pirâmide social, aos escra- vos era ensinado um único conceito fundamental - a obediência. Não é difícil perceber que essa educação hierarquizada era um instrumento a serviço da dominação social, em que a classe domi- nante detinha a exclusividade das técnicas de produção e a classe dominada tinha acesso apenas às técnicas primárias de trabalho. Com isso, era assegurada a perpetuação da nobreza e das elites no poder. Se fizermos um corte rápido para os dias de hoje em nosso país, vamos assistir a ardorosas discussões no Congresso sobre a de- mocratização e melhoria do ensino público, enquanto alguns defen- dem o uso de verbas públicas para financiar o ensino privado. Qualquer semelhança será mais do que uma simples coincidência ... A educação do terceiro milênio e a da Antiguidade estão separa- das por milênios de evolução tecnológica e social, passando pelas trevas medievais, a Renascença, o Iluminismo, as revoluções bur- guesas e marxista, sem falar de Comenius, Rousseau, Durkheim, \ Freud e das Escolas Novas. A primeira vista, são coisas tão díspares quanto a tradição oral e o ábaco em relação ao computador conecta- do à Internet por satélite. Porém, se você se juntar a nós e acompanhar o passo a passo dessa história, verá muito mais do que o aprimoramento de métodos pedagógicos e técnicas de ensino-aprendizagem. Em muitos aspec- tos, ainda se trava uma renhida luta entre educação elitista versus educação popular. Com outras roupagens, trata-se do mesmo emba- te que vem se desenrolando através dos séculos, desde o tempo das sociedades tribais ou das primeiras organizações sociais. O primeiro trecho de nossa viagem vai nos levar para uma v i- sita às civ ilizações milenares do Oriente. Depois de percorrer as I terras da China Imperial, do Japão feudal e da India, faremos uma parada no Oriente Médio para observar o sistema educacional dos hebreus. Em seguida, você vai entender porque todos são unânimes em reconhecer que a civilização da Grécia Clássica deu régua e com- passo para a cultura ocidental, e até hoje influencia e é tema de estudo por todo o mundo. Os primeiros a serem influenciados pela cultura helênica foram os romanos, que os conquistaram pela for- ça das armas e foram seduzidos por sua cultura. A educação nas civilizações orientais Neste tópico serão estudados os seguintes itens: • A educação na China. a Confucionismo e taoismo. • A educação no Japão. I a A educação na India. • O budism o. a As civilizações "hidráulicas" da Antiguidade oriental. A educação na China I China, tão longe e tão perto! E assim que podemos iniciar nossa conversa sobre o Dragão do Oriente, como ela é simbolicamente conhecida. Houve um tempo em que conhecer a milenar cultura chinesa não despertava interesses, mas hoje reconhecemos a sua importância tanto nas questões econômicas quanto nas culturais. A China Imperial da época do célebre filósofo Confúcio (551- _479 a.C.) não dispunha de um sistema de ensino regulamentado. Segundo a tradição, existiam dois níveis de educação: o ensino elementar e o superior. A educação inicial era realizada na própria família. Cabia ao pai ensinar o filho pequeno a andar, a falar e a se Raízes históricas da educação) _1 __ Saiba mais Pesquise sobre o importante legado que os povos chineses nos proporcionaram. É uma infinidade de técnicas, produtos e inovações. __ a_ ( História da educação comportar diante dos adultos. A educação familiar era importante, na medida em que a família era o pilar de sustentação da organi- zação social. Ao completar 7 anos de idade, tinha início o ensino elementar, que era ministrado em pequenas escolas ou por professores parti- culares, na própria casa. Começava então o aprendizado da leitura e da escrita, além dos rudimentos de cálculo. Esse nível de ensino ocupava o dia inteiro dos alunos de 7 a 14 anos, mas não tinha caráter obrigatório. Junto com suas lições, as crianças desde cedo recebiam noções sobre preceitos morais básicos. Acima de tudo, era importante manter a unidade da nação e as tradições ances- trais. Nesse sentido, a figura do Imperador era adorada como uma divindade. Os mandarins, que faziam cumprir suas ordens, tam- bém eram venerados. Dentro do lar, o pai era o elo mais próximo dessa hierarquia divina, e tinha autoridade incontestável. O ensino superior destinava-se àqueles que ambicionavam me- lhores colocações em sua carreira profissional, como funcionários e mandatários do Estado. Além de toda a história da China ances- tral, eram estudados deforma dogmática os grandes salmos chine- ses e a filosofia de Confúcio. No campo das ciências naturais, os alunos recebiam noções sobre astros, plantas, minerais e outros elementos da natureza. Ao completar 18 anos, o estudante era sub- metido a exames de avaliação, produzindo composições literárias sobre os textos lidos. Se fosse aprovado, poderia ter acesso a me- lhores oportunidades em sua vida. Confucionismo e taoismo "Ouvir ou ler sem refletir é ocupação vã. Refletir sem livro nem mestre é perigoso." (Confúcio) "Uma Jornada começa com um único passo.'' (Lao Tsé) A filosofia de Confúcio prioriza a ética nas relações pessoais e políticas, começando pela valorização da família, principalmente o respeito aos pais. O código moral criado a partir de seus ensina- mentos valoriza a tradição, o culto aos antepassados, a virtude e o altruísmo. A melhor maneira de transmitir esses valores, segundo ele, é o bom exemplo. Passados 2.500 anos, os valores e princí- pios confucianos continuam muito influentes até os dias de hoje, em todas as partes do mundo. Para Confúcio, a missão fundamental da Educação é ensinar a cada um, desde os primeiros anos de vida, comoseguir na "senda do saber", cuja direção é a "instrução". A doutrina taoista (Tao traduz-se como "o caminho") baseia-se na obra Tao Te Ching ( caminho da retidão), atribuída aos filósofos chineses Lao-Tsé e Tchuang Tseu. Escrita em forma de versos, a obra sustenta a existência de um projeto invisível e onipresente para o universo. O papel do Tao nesse sistema é o de uma força eterna, amorfa e intangível, o grande princípio de ordem universal que governa o cosmos. Para explicar o sentido e a harmonia do universo, o taoismo lança mão do equilíbrio entre opostos - ser e não ser; dificuldade e facilidade; alto e baixo; longo e curto; claro e escuro; para além de seu antagonismo, são todas formas comple- mentares de um mesmo todo harmônico, coeso e indivisível. O materialismo é rejeitado e considerado um obstáculo para a ilumi- nação. A aceitação é o primeiro passo no caminho para a paz inte- rior. O Tao pode ser alcançado pela meditação e a prática de exercícios físicos e respiratórios. A educação no Japão Por volta do século VII a. C. , quando a fundação do Império japonês substituiu o antigo sistema feudal, a religião predominan- te era o xintoísmo (xinto traduz-se por "voz dos deuses"). Sua característica era a veneração dos ancestrais da casa imperial e de deuses que representavam animais e forças da natureza. Com a crescente influência da cultura chinesa, o budismo foi introduzido no Japão no século VI d.C. e progressivamente foi conquistando a preferência de sua população. Três séculos an- tes, quando um letrado chinês levara ao Japão a escrita chinesa, a maioria dos japoneses ainda ignorava a arte de escrever. A educação no Japão era iniciada entre os 13 e os 16 anos de idade, e se baseava em dois livros fundamentais: o Kotio - dedica- do aos deveres familiares - e o Rongo - que contemplava a filoso- fia de Confúcio. Os mestres eram escolhidos pela monarquia, mas havia também os mestres particulares. Mantidas sob um rígido sistema social de patriarcado, as mulheres tinham limitado acesso à educação. Raízes históricas da educação) _9 __ __ ,o_ ( História da educação Saiba mais Você já ouviu falar em países emergentes? Tanto o Brasil quanto a Índia fazem parte desse grupo de países. Que tal pesquisar sobre os dados econômicos e sociais desses países? Quais outros países fazem parte desse grupo? De que forma a questão educacional é conduzida nesses países que integram o rol dos emergentes? Criada no início do século VII d.C. , a Universidade de Tóquio ensinava matemática, medicina, astronomia, ciência política, ju- risprudência e os clássicos da literatura chinesa. Posteriormente, a universidade fo i substituída pelo Colégio de Confúcio, que che- gou a ter três mil alunos. A educação na Índia "O que honra sua mãe ganha o mundo terrestre; o que honra o seu pai, o mundo celeste de Brama. O que ofende seu mestre, após a morte passará para o corpo de um asno." (Provérbio hindu) I I E impossível falar da educação na India sem abordar as duas religiões predominantes no país: o bramanismo - a mais antiga - e o budismo - surgido no início do século V a.C. O bramanismo é uma religião monoteísta, baseada na crença de que o universo e o homem provêm do corpo de Brama (subs- tância cósmica). A alma é reencarnada sucessivamente em diver- sos seres, de acordo com o comportamento em v ida. Segundo a revelação de Brama, exposta nos quatro livros sagrados (Vedas), há uma trindade composta de Brama (o criador), Vishnu (o con- servador) e Shiva (o destruidor). Além disso, é preciso considerar a rígida hierarquia social do país, div idida em quatro castas (categorias): os brâmanes (sacer- dotes); os xátrias (guerreiros); os vaixás ( da classe industrial) e os sudras ( da classe servil). Totalmente marginalizados da escala so- cial ficavam os párias (sem casta). As castas eram classes hereditárias. Isso significa que a catego- ria social do indivíduo era determinada antes mesmo de seu nasc i- mento. Independentemente de seus potenciais talentos ou esforço pessoal, ele permaneceria na casta onde nasceu. I Portanto, a característica básica da educação na India é ser uma educação de castas. A instrução era exclusividade das três castas superiores. Os brâmanes eram iniciados nos estudos aos 8 anos de idade; os xátrias, aos 11 ; os vaixás, aos 12. Os mestres pertenciam às classes superiores, e eram venerados. Era comum a escola funcionar ao ar livre, à sombra de uma árvore. Todas as ativ idades de ensino tinham fundo religioso, de- dicando-se ao estudo do catecismo budista e os livros sagrados. Os valores morais eram transmitidos por meio de fábulas e pro- vérbios. A prática da escrita e da leitura era inicialmente feita na areia; depois em folhas de palmeira e mais tarde com tinta sobre folhas de plátanos. O ensino da aritmética abrangia as quatro ope- rações elementares. Durante muito tempo, a educação superior era reservada ape- nas aos brâmanes. Com a crescente urbanização do país, esse pri- vilégio foi estendido às outras classes. As disciplinas eram religião, filosofia, gramática, literatura, matemática, astronomia, direito e medicina. Mas, acima de tudo, os livros sagrados formavam a base da vida intelectual. Cada um dos quatro Vedas demandava doze anos de estudo, sendo que nos primeiros cinco os alunos apenas ouviam . Somente depois de completado esse estágio lhes seria permitido se manifestar. Concluir o estudo dos Vedas era uma empreitada para poucos. Na prática, a maioria abandonava a escola ao completar 20 anos de idade. Inserida em um regime aristocrático de castas que excluía as mulheres e os párias, e influenciada por um misticismo contem- plativo, a educação hindu constituía uma barreira ao desenvolvi- mento de talentos. O budismo ''Jamais permita que os impasses da vida o perturbem. Afinal, ninguém pode escapar dos problemas, nem mesmo santos ou sábios. Sofra o que tiver de sofrer. Desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida." (Buda) O budismo originou-se a partir dos ensinamentos de um prín- cipe hindu chamado Siddharta Gautama (563 -483 a.C.), que ficou conhecido como Buda ("o iluminado"). Ao constatar as condições de miséria em que vivia a maioria do povo, o jovem príncipe abandonou o palácio em que vivia com sua família e passou seis anos em formação espiritual com grandes mestres. A doutrina budista não se baseou nos escritos sagrados e nas tradições hindus, como o sistema de castas e o poder dos brâma- nes. Em vez disso, concentrou seu foco sobre a conduta moral do indivíduo. Raízes históricas da educação J _,_, __ __ , 2., (H istória da educação Ao ignorar as barreiras discriminatórias impostas pela socieda- de de castas, o budismo atraiu os segmentos inferiores, como a classe dos mercadores. Inicialmente, seus seguidores limitavam- I -se a uma pequena área da India, mas com o tempo a revolução humanista de Buda propagou-se pelo mundo e exerce hoje grande influência, tanto na cultura oriental como na ocidental. Saiba mais A essência do bud ismo reside em "Quatro Verdades Nobres": 1 . A vida é dor; 2. A causa da dor é o desejo; 3. A cessação da dor se obtém com a cessação do desejo; 4. Existe um óctuplo caminho que conduz à cessação da dor. O óctuplo ca tíl inho consiste nos segu intes itens: 1. A justa visão; 2. A justa resolução; 3. A justa linguagem; 4. A justa conduta; 5. O justo viver; 6. O justo esforço; 7. A justa menta lidade; 8. A justa concentração. As civilizações ''hidráulicas'' da Antiguidade Oriental A expressão "civilizações hidráulicas" remete à dependência econômica que as civilizações primitivas localizadas nas terras áridas e desertos do Oriente Próximo tinham dos grandes rios da região, como o Tigre, o Eufrates, o Nilo e o Jordão. No período pré-histórico, numerosas tribos migraram para essa região em busca de melhorescondições para a produção de alimentos. Essa dependência das terras férteis da bacia dos rios ocorreu também I na India, com os rios Ganges e Indo, e na China, com os rios Yang-Tsé e Amarelo. Vamos analisar com mais detalhes essas ci- vilizações, que foram marcada por muitos elementos, os quais contribuíram para a organização das sociedades orientais. Essa região recebe o nome de Berço da Civilização. Vamos conferir as razões dessa denominação? A Mesopotâmia A palavra Mesopotâmia é de origem grega, significando "entre rios" (meso - potamos). Contido entre os rios Tigre e Eufrates, seu território corresponde ao atual Iraque. Sua ocupação por povos de diferentes costumes, religiões e formas de organização social in- tensificou-se a partir de 6500 a. C. Os Sumérios foram um dos primeiros povos a habitar a região. Desenvolveram a escrita e também os veículos de roda. Naquela época, controlavam as enchentes sazonais dos dois grandes rios com diques e canais, e utilizavam complexas obras de irrigação para tornar as terras próprias para a agricultura. Esse desenvolvi- mento contribuiu para a formação de Estados centralizadores, ca- pazes de submeter a maioria do povo à servidão no trabalho na lavoura. Isso favoreceu a ascensão ao poder de uma elite proprie- tária das terras. Surge, então, o Estado, para administrar as ques- tões sociais e politicas. As técnicas de irrigação e tratos culturais foram sendo aperfeiçoadas pelos povos que ali habitavam, como os sumérios, os caldeus e os acádios. I E atribuída aos sumérios a criação de uma das mais antigas formas de escrita de que se tem notícia - a escrita cuneiforme, utilizada inicialmente para registros comerciais e a contabilidade de bens. As cidades sumerianas eram independentes entre si, com autonomia política e sistemas de leis próprios. A divisão e a riva- lidade entre esses centros permitiu que a região fosse conquistada por um povo oriundo da Síria - os Amoritas. 8 O Império Babilônico - chegando à região por volta de 2500 a.C. , seis séculos depois os Amoritas estabeleceram seu domí- nio. A sede do novo Império foi a cidade de Babilônia, o que levou os Amoritas a serem denominados babilônicos. Entre seus monarcas, na primeira metade do século XVIII a. C. Ha- murabi unificou as cidades sumerianas e incrementou a nave- gação pelos rios, fomentando o comércio entre a Alta e a Baixa Mesopotâmia. Apesar dessas realizações, ficou mais conheci- do por um rigoroso código de leis, em que a célebre Lei de Talião pregava "olho por olho; dente por dente" . • O Império Assírio - em meio a diversos levantes das cidades dominadas que se seguiram à morte de Hamurabi, o declínio do poder babilônico propiciou a invasão dos assírios, que vi- viam ao norte da região. O Império Assírio manteve sua Raízes históricas da educação) _1_3 __ __ ,4., ( História da educação hegemonia no período entre 1300 e 612 a.C. Entre seus reis, Assurbanípal destacou-se pela expansão territorial com a ane- xação do Egito e a criação da Biblioteca de Nínive, com seu grande acervo de plaquetas de argila. • Os caudeus - a v iolenta opressão dos assírios sobre os povos dominados provocou diversas revoltas. Em 612 a.C. os cau- deus conseguiram assumir o poder, e a cidade da Babilônia voltou a ser a capital do Império. O chamado Segu,ndo Império Babilônico teve curta duração (612 a 539 a.C. ), mas foi mar- cante. O imperador Nabucodonosor tornou a Babilônia um dos mais importantes centros comerciais da Antiguidade. No plano militar, conquistou o povo hebreu, que foi conduzido do Vale do Jordão para a Babilônia, em um episódio bíblico. Além dis- so, construiu suntuosos templos e palácios, um deles com os famosos "jardins suspensos". Vinte anos após a morte de Nabucodonosor, a expansão terri- torial dos persas pôs fim ao período de independência política da Mesopotâmia. A educação na Mesopotâmia Assim como ocorria em todas as outras nações da Antiguidade, a base para a transmissão do conhecimento na Mesopotâmia era a tradição oral. O desenvolvimento prático da escrita cuneiforme em suas cidades foi um passo importante para a civilização daque- la época. A invenção e o aperfeiçoamento dessa escrita ocorreram ini- cialmente dentro dos templos religiosos, verdadeiros centros so- ciais da época. Os sacerdotes constituíam uma casta privilegiada na hierarquia social, acima de camponeses, guerreiros, artesãos e artistas. Eles eram os depositários da palavra escrita e disciplina- vam as competências técnicas mais complexas, como escrever, contar e medir. Com base nessas operações eram desenvolvidas a literatura, a matemática, a geometria e a astronomia. Logo a escrita cuneiforme tornou-se um instrumento tão im- portante no processo de ensino-aprendizagem que os escribas ad- quiriram o status de profissionais qualificados. Para exercer o ofício de grafar as informações e registros na nova linguagem, os candidatos a escriba precisavam passar por uma longa educação e treinamento em um local conhecido como edubba. Sob a rígida disciplina e a orientação de um dubsar (mestre), eles usavam sila- bários para aprender a escrever sobre placas de argila. Essa forma- ção especializada ocupava desde o início da juventude até a idade adulta. Uma das disciplinas mais importantes no ensino da Mesopotâ- mia era a literatura, abrangendo poemas e diversas obras, com destaque para temas religiosos, e os códigos de direito que dita- vam padrões de comportamento social. Outros objetos de estudo eram os provérbios populares, além da interpretação dos augúrios. Esta última atividade consistia em adivinhar o futuro e o desejo dos deuses, a partir da observação dos fenômenos da natureza. O Egito Faraós, pirâmides, hieróglifos, Nef ertiti, Tutancâmon são pala- vras que habitam o universo da história do Egito Antigo. Mas este povo milenar tem muito a nos ensinar. I Localizado no Norte da Africa, em tomo do baixo curso do Rio Nilo, o Egito foi uma das primeiras grandes civilizações da Anti- guidade. A primeira forma de organização social na região era um conjunto de nomos, comunidades patriarcais lideradas por monar- cas. A civilização egípcia formou-se por volta de 3200 a.C., e se desenvolveu ao longo de três milênios, dividida por três fases: Antigo, Médio e Novo Impérios, separados por períodos interme- diários de instabilidade. O faraó era o senhor supremo de todas as terras e da população. Como era considerado o representante dos deuses na terra, a forma de governo era uma monarquia teocrática. Abaixo do faraó na hie- rarquia política estavam os vizires do Alto e Baixo Egito e o sumo sacerdote do deus Amon-Rá. Os vizires eram auxiliados na admi- nistração do Estado pelos supervisores e pelos nomarcas. Estes, por sua vez, eram auxiliados pelos escribas, que sabiam ler e escrever. Durante o Antigo Império (3200 a.C. a 2100 a.C.) foram cons- truídas importantes obras de drenagem e irrigação, que favorece- ram a atividade agrícola. Foi durante esse período que foram construídas as famosas pirâmides Quéops, Quéfren e Miquerinos, monumentos funerários que abrigam, cada um, o túmulo do faraó que lhe deu o nome. As disputas políticas envolvendo os nomar- cas e os grandes proprietários de terras, que se opunham à centra- lização em tomo dos faraós, enfraqueceu o poder político do Raízes históricas da educação J _,_s __ __ 16., ( História da educação Estado. Como resultado, durante três séculos o Egito voltou ao antigo sistem a de nomos. O Médio Império (2. 100 a.C. a 1.580 a.C.) teve início com o restabelecimento do Estado centralizado dos f araós e a transf erên- cia da capital de Mênfis para Tebas. A reconquista militar da Nú- bia deu aos egípcios o controle de uma região rica em pedreiras e jazidas de ouro. A estabilidade política e a exploração de riquezas agrícolas e minerais propiciaram o florescimento da cultura e das artes, sempre impregnadas por forte devoção religiosa. O progres-sivo declínio que se seguiu culmina com a sublevação dos colonos asiáticos admitidos na região do Delta, e os hicsos alcançam o poder em todo o Egito, poder este que manterão por 170 anos. O Novo Império (1.580 a.C. a 715 a.C.) teve início com a ex- pulsão dos hicsos. Esse período corresponde a uma era de apogeu da civilização egípcia, com a realização de importantes obras de irrigação e a expansão territorial, com a dominação sobre assírios, fenícios e hebreus. Apesar dessas conquistas, mais tarde o Egito sofreu invasões de assírios, persas, m acedônios e romanos. Alexandre Magno conquistou o Egito em 332 a.C. , dando iní- cio à dinastia dos Ptolomeus, com a capital na nova cidade de Alexandria, cujo famoso farol sinalizava a prioridade dada ao co- mércio exterior. A cidade logo se tornou um polo de cultura e en- sino, centralizado na célebre Biblioteca de Alexandria. O Egito tomou-se uma província romana em 30 a.C., quando Marco Antônio e a rainha Cleópatra foram derrotados por Otaviano I na batalha de Accio. Depois da dominação romana, seguiram outras ocupações. Ao longo de aproximadamente 2.000 anos que se segui- ram, os egípcios foram subjugados pelos árabes, turcos e britânicos. A cultura egípcia A religião ocupava um papel central na sociedade egípcia, com suas normas regendo todos os aspectos da vida das pessoas. O politeísmo incluía a adoração de vários deuses, sendo alguns de forma humana e animal ou elementos da natureza, como o sol e o rio Nilo. Os antigos egípcios acreditavam no retorno do espírito ao corpo após a morte. Essa crença explica os rituais funerários e a mumificação de cadáveres por meio de técnicas de embalsama- mento. Objetos de uso cotidiano, armas e riquezas eram deposita- dos no interior do túmulo, de modo a garantir conforto e segurança na vida após a m orte. A civilização eg ípcia desenvolv eu importantes conhecimentos em ciências como a química, a m atemática e a astronomia. Esses conhecimentos atendiam a uma necessidade prática de sobrev i- vência, no sentido de dominar técnicas para o controle de inundações, a construção de sistemas hidráulicos e tratos culturais do solo para a agricultura. O estág io de sua arquitetura e engenha- ria está até hoj e representado nas grandes construções de pirâmi- des e templos. A medicina também era bastante avançada, com o domínio de tratamentos clínicos e até técnicas cirúrg icas. As for- mas de expressão artística eram sempre voltadas a temas relig io- sos, g lorificando os deuses ou exaltando a natureza divina dos faraós. Por volta de 3200 a. C. os egípcios começaram a utilizar o re- gistro e a comunicação por hieróglifos, um sistema de imagens pictóricas que constitui uma das primeiras escritas da história. Esse sistema de grafia fo i div idido em três níveis: • Hieroglífico - a escrita sagrada, de aprendizado e uso exclusi- vo por sacerdotes. • Hierático - utilizado pelos escribas. • Demótico - o mais simples, de uso popular. Percebeu como a escrita estava relacionada à div isão das clas- ses sociais? O material para escrever era o pigmento de tinta, transferido por pincéis umedecidos em água para uma base de papiro. Produ- zido a partir do talo de uma planta, em um processo secreto de fabricação que era monopólio do estado, o papiro era um impor- tante artigo de exportação. Sua utilização só fo i abandonada com a popularização do papel, inventado na China em 105 a.C. A educação no Egito Antigo Como acontecia em todas as sociedades da Antiguidade, a educa- ção obedecia a uma organização hierarquizada. As ciências sagradas e esotéricas eram reservadas exclusivamente aos sacerdotes. O aces- so aos estudos de ciências como matemática, química, geometria e astronomia, além de noções morais e comportamentais, eram reser- vados aos filhos da nobreza e das classes dominantes. Aos segmentos mais baixos da população restava o adestramento "prático", como o treinamento de guerreiros e a formação nos ofícios artesanais, condi- zentes com seu futuro papel no mercado de trabalho. Assim, poucas Raízes históricas da educação) _1_1 __ __ , a_ ( História da educação pessoas sabiam ler, escrever e tinham acesso à cultura. O monopólio sobre o conhecimento era uma forma de dominação social, garantin- do a continuidade de uma elite no poder. As ativ idades de ensino eram realizadas em templos e em ca- sas, frequentadas por grupos com cerca de v inte alunos. A apren- dizagem se dava pela transcrição de livros e cânticos sagrados, associada a rígidas exortações morais e punições f ísicas. A escrita, a matemática e a geometria eram vinculadas a problemas práticos de agronomia, botânica, mineralogia e zoologia. Paralelamente ao processo de instrução representado pela edu- cação escolar, havia a educação familiar, em uma primeira fase atribu ída à mãe, e mais tarde, ao pai. Para a m aior parte da popu- lação, o aprendizado dos ofícios era feito diretamente em oficinas artesanais, onde os próprios pais ou parentes artesãos transmitiam aos jovens os rudimentos de uma ocupação. O adestramento se dava por meio da observação e imitação, sob supervisão. Ativida- des como os exercícios físicos e a música eram restritas aos futu- ros guerreiros, como treinamento para a guerra. A educação hebraica ''A coisa principal da vida não é o conhecimento, mas o uso que dele se faz." (Frase do Tal mude) Percebeu como as relações entre religião e educação estão pre- sentes nas civ ilizações orientais? Contudo, essas relações não se restringem ao Oriente! Os hebreus preservaram a cultura e a reli- gião, tendo a educação com o importante aliado. Vamos ver como isso ocorreu? Assim como ocorreu com outros povos da Antiguidade, a religião tem papel fundamental na educação dos hebreus (também chamados de judeus ou israelitas). Além disso, as transformações sociais e polí- ticas determinavam mudanças em seus hábitos culturais. Antes da escravização no Eg ito, a educação do povo judeu baseava-se na família, centralizada na figura do pai, fonte e sím- bolo da sabedoria. Após o período de escrav idão, as chamadas escolas dos profetas instruíam sobre serviços relig iosos e estuda- vam as sagradas escrituras contidas no livro Levítico. Além da religião, os estudos abrangiam também a legislação e a medicina, além de artes como a música e a poesia. As escolas hebraicas tiveram seu auge na época da realeza. Du- rante os reinados de Davi e Salomão, o sistema educacional fo i pro- " gressivamente aperfeiçoado. Mas foi a escravidão e o Exodo em direção à Terra Prometida na Palestina que despertaram nos judeus um forte sentimento de identidade nacional, que procuravam con- servar e transmitir de uma geração para outra por meio da educação. Nesse sentido, tom aram-se comuns as profissões de escriba e dou- tor da lei, muito importantes em um Estado teocrático, no qual as leis eram inseparáveis da religião. Cabia ao escriba conservar as narrativas, enquanto o doutor da lei estudav a as parábolas e investi- gava o sentido oculto dos provérbios nos textos sagrados. A escola elementar só surgiria mais tarde, tornando-se presente em todas as cidades. Ao completar 6 anos de idade, iniciava-se o processo educativo, div idido em três classes: • Mingrah - a leitura e a escrita eram ensinadas a crianças de até 10 anos. • Mishnath -para crianças entre 1 O e 15 anos, que aprendiam as leis civis, comerciais e penais. • Guemara - estudavam-se as ciências naturais e o direito comum. O método de ensino era baseado na repetição e na rev isão de conceitos, sendo muito empregada a forma de diálogos. Paralela- mente ao aprendizado teórico, os alunos eram adestrados para um ofício de trabalhos manuais, como carpintaria ou construção de tendas. A educação na civilização da Grécia "O homem é a medida de todas as coisas." (Protágoras) Assim com o a Mesopotâmia é denominada "berço da civiliza- ção", nessa regiãodo Oriente Médio desenvolveu-se a escrita, o Estado, o comércio, a agricultura, o calendário, as cidades, a irri- gação, a drenagem, entre muitas outras "novidades" . A civilização grega é referência para a cultura ocidental. Na Grécia surgiram a mitologia, a filosofia, a história, as olimpíadas, a dem ocracia, o teatro, a poesia, a arquitetura, os colégios e muito mais. Então, vam os iniciar nossa caminhada, marcada pelos sofistas, que durante o século de Péricles (V a.C. ) desenvolveram uma Raízes históricas da educação) _1_9 __ __ 2_0., (H istória da educação intensa vida cultural e educacional. São considerados os primeiros pedagogos, ocupavam-se do ensino itinerante e recebiam pelos ensinamentos ministrados. Entre os sofistas, destaca-se Protágo- ras de Abdera (485-411 a.C.). Confira a imagem do H amem vitruviano (1490) de Leonardo da Vinci (Figura 1.1 ): Figura 1.1 Homem vitruviano, de Leonardo da Vinci. '• -,< . - - Fonte: Jana ka Dha rmasena/ShuttersStock. I A partir do século V a.C ., ocorre uma profunda reformulação na educação grega. Os objetivos, métodos pedagógicos e conteú- dos didáticos sofreram forte influência das reflexões de filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Por outro lado, a organização do sistema educacional inicia sua evolução desde o ensino parti- cular na casa paterna até a escola de Estado, mantida pelas contri- buições financeiras de particulares, cidades e soberanos. Quando a cidade-estado, a polis, assumiu diretamente a tarefa da instrução e as escolas tornaram-se públicas, o acesso à instrução foi estendi- do não só aos meninos livres, mas também a meninas, pobres e até escravos, o que se mostrou revolucionário, levando-se em conta a época em que essas medidas foram tomadas. O ginásio, originalmente limitado a um centro de cultura física para adultos, incorporou os adolescentes e tornou-se a típica esco- la grega, voltada para a cultura física e intelectual. Nas escolas de Retórica, os sofistas preparavam os cidadãos para as atividades da vida prática, com especial ênfase sobre a oratória. Nas escolas de dialética e filosofia, Aristóteles, Platão e outros filósofos reuniam grupos de estudantes em torno das questões da metafísica e da ética. Esses estudantes logo se organizavam em outras escolas, sendo que duas delas formaram as univers idades de Atenas e de Alexandria. A pedagogia socrática "Conhece-te a ti mesmo." (Sócrates) A filosofia de Sócrates ( 470-399 a.C. ) provocou uma verdadei- ra revolução no pensamento humano. Até então, a filosofia procu- rava explicar a vida e o universo com base na observação das forças da natureza. Sócrates fez o ser humano voltar-se para si mesmo. Conforme observou mais tarde o pensador romano Cíce- ro , "coube a Sócrates trazer a filosofia do céu para a terra" . A maior preocupação de Sócrates era orientar as pessoas para a sa- bedoria e a prática do bem. E o melhor caminho a seguir nesse sentido seria o autoconhecimento. O ser humano é entendido como um composto de dois elemen- , tos complementares: corpo e alma (espírito). E a partir desse fun- damento que são construídas as duas grandes vertentes do pensamento ocidental: 8 a idealista, desenvolvida por Platão, discípulo de Sócrates; 8 a realista, desenvolvida por Aristóteles, discípulo de Platão. A pedagogia socrática baseia-se nas reflexões sobre a natureza e o sentido da educação, girando em torno dos objetivos que se espera alcançar com a formação e a instrução dos jovens. Você já ouviu falar que o conhecimento nasce, brota de dentro de você? Sócrates demonstrou que podemos chegar ao conheci- mento e nos ensinou o caminho. Seu método é composto da ironia, quando faz perguntas e desacredita das respostas do interlocutor, fazendo com que ele descubra a verdade; assim nascem as ideias, o Raízes históricas da educação) _2_1 __ __ 2_2., ( História da educação que ele denominou de maiêutica. Assim chega-se ao objetivo ime- diato da educação, que não é repassar informações, e sim desenvol- ver a capacidade de pensar. Esse método, desenvolvido por Sócrates no século IV a.C. , está mais atual do que nunca. A República de Platão "Aprender é lembrar." (Platão) Platão, discípulo de Sócrates ( 420-348 a. C. ), afirma que o co- nhecimento é um esforço da alma para se apoderar da verdade, e não algo que venha de fora para o homem. Portanto, a educação consiste na atividade que cada homem desenvolve para conquistar as ideias e v iver de acordo com elas. Para Platão, a missão da educação é a formação moral do ho- mem, algo tão importante para se alcançar uma ordem política baseada na justiça que deveria ser tarefa de toda a sociedade. As- sim, ele defendia que o Estado deveria se responsabilizar por toda a educação. A pedagogia platônica baseia-se em sua filosofia, onde todo aprendizado não passaria de um esforço de reminiscência. Assim, ele rejeitava a educação praticada na época pelos sofistas, que transmitia conhecimentos técnicos - especialmente a oratória - aos jovens da elite, com a finalidade de capacitá-los a ocupar fun- ções públicas. Em vez de transmitir conhecimentos de forma autoritária, os alunos - principalmente as crianças - deveriam ser deixados livres para buscar por si mesmos as respostas por meio do debate e da conversação. Platão rejeitava a democracia que vigorava então em Atenas, que "concedia poder a pessoas despreparadas para exercê-lo" . Sua proposta era de que o poder fosse exercido por uma aristocracia do saber, e não por ricos e nobres. Ou seja, os reis deveriam ser filósofos e vice-versa. A educação platônica estabelecia que, aos 1 O anos de idade, as crianças fossem separadas dos pais e encaminhadas para o campo. Ali, o aprendizado seria principalmente físico, com brincadeiras e esporte. A etapa seguinte era a instrução musical. Além de harmo- nia, ritmo e poesia, os alunos aprendiam também matemática, histó- ria e ciência. Depois dos 16 anos, eram acrescentados exercícios físicos, com o objetivo de aprimorar de forma equilibrada a força muscular e o espírito. Ao completar 20 anos, os jovens eram subme- tidos a um exame, para definir se seguiriam adiante nos estudos. Mas o que acontecia com aqueles que não conseguiam ir adiante nos estudos, que eram reprovados? Os reprovados eram encaminha- dos para a carreira militar. Os aprovados iam para a filosofia, onde receberiam mais dez anos de formação. O objetivo era aprender a pensar com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos de ida- de, completava-se a preparação dos "reis-filósofos" . A partir daí, durante quinze anos eles testariam suas habilidades entre as pessoas comuns, trabalhando para se sustentar. Somente os bem-sucedidos se tornariam governantes ou "guardiões do Estado" . Aristóteles e a educação ''A dúvida é o começo da sabedoria." (Aristóteles) Ao contrário de Platão , Aristóteles (385-322 a.C.) não rejeita- va a democracia de Atenas, nem era um crítico da sociedade do seu tempo. Para ele, a família era a célula básica da organização social, e responsável pelo estágio inicial da educação das crianças. O papel do Estado nessa fase seria vigiar o funcionamento das famílias para garantir que as crianças crescessem saudáveis e conscientes de suas obrigações cívicas. Para Aristóteles, o aprendizado se dava pela imitação. Era o exemplo dos adultos que formava os bons hábitos nas crianças. Quanto ao conteúdo didático, ele não valorizava muito o "saber útil", pois os escravos se encarregavam de realizar a maior parte dos trabalhos. Portanto, o objetivo da educação seria formar o cidadão para a vida pública, por meio da prática da virtude. Praticar a virtude significa buscar, em todas as atitudes, o justo meio, ou seja, o que não é demais nem muito pouco. Para isso, o ser hwnano depende dos seguintes fatores: as disposições naturais (natura), os meios para aprender ( ars) e a prática ou hábito ( exercitatio). Um dos fundamentos do pensamento de Aristóteles é que todas as coisas têm uma finalidade. A semente, por exemplo, transforma-se em planta, que produz frutos e novas sementes, cumprindo seu ciclo natu- ral. O ser humano precisa ter as condições necessárias para desenvol- ver suas múltiplas potencialidades e alcançar sua plenitude. Este é o Raízes históricas da educação) _2_3 __ __ 2_4., ( História da educação papel que cabe à educação - completar o que a natureza começou, proporcionando ao homem o bem e a felicidade. O bem consiste em dirigir a conduta por meio da razão, a parte mais elevada da natureza humana. Existem duas espécies de bem : o bem do caráter (fruto do hábito) e o bem do intelecto ( alcançado por meio do ensino). Portanto, a escola não deve se limitar a ensinar o que é v irtuoso, mas colaborar para que os alunos pratiquem constantemente a virtude, até que setor- ne um hábito. A educação no Império Romano A educação está no lar. Esse é o princípio da educação roma- na. No entanto, ao estender seu império e dominar vastas re- giões, essa educação recebeu muitas influências da educação grega na cultura e na filosofia, sendo esta a que exerceu maior influência sobre seus dominadores. Esse intercâmbio cultural deu-se em todas as frentes, desde a religião, as artes e letras e a educação. Vamos v er como isso ocorreu? A humanitas de Cícero "Como tiveres semeado, assim hás de colher." (Cícero) Assim com o a Grécia teve seus filósofos, a educação rom ana também foi m arcada por pensadores, como Cícero (106-43 a.C. ), brilhante orador e político que estudou em Atenas. Em sua obra Dos deveres, ele chama de humanitas a cultura do espírito (para os gregos era a Paideia), a educação do ser humano de acordo com a sua natureza. Com base nas ideias de Aristóteles e Platão das vo- cações humanas , Cícero enfatiza as peculiaridades pessoais que dev em levar o indivíduo a escolher sua profissão. As ideias pedagógicas de Cícero atribuíam grande importância à eloquência. O bom orador seria uma raridade, pois deveria reunir as qualidades do dialético, filósofo , poeta, jurista e ator, além de um comportamento moral exemplar. Considerado o fundador da ciência do direito, Cícero acreditava em Deus e na imortalidade da alma. Inata em todas as pessoas, essa crença deveria fundamentar um direito natural igual para todos, daí originando as normas do direito civ il, penal e internacional. Dois milênios depois, os princípios fundamentais do direito romano ainda constituem a base do direito moderno no Ocidente. As escolas romanas As escolas de Retórica desfrutaram de muito prestígio em Roma. Com o tempo, a educação retórica foi caindo num forma- lismo vazio, e foi progressivamente substituída pelo direito e pela filosofia. Junto com as escolas de direito, multiplicavam-se as es- colas de filósofos e os institutos helenísticos. O Ateneu, fundado pelo imperador Adriano, foi um centro de ensino superior que serviu de m odelo para a criação das universi- dades rom anas. Protegidas e incentivadas por decretos imperiais, essas universidades eram verdadeiros centros de pesquisa e edu- cação onde mestres e discípulos se reuniam em torno das diversas disciplinas. O sistema de ensino no Império Romano compreendia três ' . n1ve1s: • as escolas dos ludi-magister, para a educação elementar~ • as escolas do gramático, equivalentes ao atual curso secundário~ • o ensino superior, em que as escolas de Retórica incorpora- ram o ensino de direito e filosofia e se transformaram em universidades. Além de Roma e Constantinopla, os imperadores procuravam disseminar a educação pelas numerosas províncias do vasto impé- , rio. Na Africa do Norte, na Gália Meridional e na Espanha, as es- colas provinciais produziam grandes m estres. Nascido em Córdoba (Espanha), Sêneca foi um desses mestres que rivaliza- vam com os pensadores rom anos. Sêneca e a educação romana "O caminho da sabedoria é longo através dos preceitos, breve e encaz através dos exemplos." (Sêneca) O ponto de partida das ideias pedagógicas de Sêneca (2 a.C.- -66 d.C.) é a individualidade do aluno. Se o mestre não levar em conta a psique frágil e complexa do discípulo, o processo educativo Raízes históricas da educação) _2_s __ __ 2_6., ( História da educação não alcançará o seu objetivo final - a libertação das paixões e a harmonia com a natureza. De acordo com Sêneca, a educação deve ter um caráter prático. Educar para a vida. A f armação moral do jovem deve ser dada por meio dos exemplos, mais eficazes que a transmissão de conceitos teóricos. A cultura física do corpo é importante, mas deve ser um meio para alcançar a saúde, e não um fim em si mesmo. Preceptor do Imperador Nero, Sêneca desiludiu-se com seu aluno e chegou a afirmar que "quando os deuses odeiam alguém, fazem dele um professor" . Injustamente acusado de envolvimento numa conspiração contra o imperador, Sêneca foi envenenado por seu aluno. Como conseguiu se salvar, Nero obrigou-o a se suici- dar. De forma trágica, Sêneca viu confirmada sua tese - "o mestre deve levar em conta a psique frág il e complexa do aluno". As Vidas paralelas de Plutarco Assim como Sêneca, Plutarco (50 d.C.-126 d.C.) enfatiza o aspecto individual da educação. Também concorda que os exercí- cios fís icos são importantes, mas sem exagero, pois uma criança esgotada não conseguirá se dedicar ao trabalho intelectual. Consi- dera o raciocínio mais importante que a memória: "a alma não é um vaso a preencher, mas um fogão a reaquecer" . Para uma boa formação do caráter, a criança deve ser habitua- da desde cedo a autodirigir-se por meio da razão e da consciência. Os melhores meios para a educação são a exortação, a persuasão e o exemplo. Para ilustrar a trindade pedagógica de Aristóteles (natureza, aprendizado e hábito), ele se serve de um exemplo prá- tico da agricultura - o cultivo do campo demanda uma boa terra, um camponês capacitado e uma boa semente. Plutarco realmente valorizava os exemplos. Em sua obra Vidas paralelas, ele apresenta uma série de biografias de personagens greco-romanos, ilustres exemplos de vidas reais utilizados como meio de educação. A educação na Idade Média I Mil anos de História. Do século IV ao século XIV E assim que vamos começar nosso passeio pelos castelos medievais e os senho- res feudais. A História costuma se referir à Idade Média como um período de "apagão cultural", denominada por "idade das trevas", uma noite que se abateu sobre o desenvolvimento socioeconômico da Europa e que perdurou por mil anos. Quando chegarmos ao fim deste segundo tema, talvez nós es- tejamos de acordo que a "noite" medieval não foi tão escura as- sim. Vista sua armadura, monte em seu cavalo, empunhe a espada e vamos em frente! A educação cristã A Igreja Católica Romana foi a grande força hegemônica na Idade Média. Controlava o ensino, a cultura latina, a preservação da arte e da escrita, além de ter controle sobre todos os segmentos sociais. Após a queda do Império Romano, passou a exercer o poder político, por meio de um estatuto que estabeleceu o direito canônico, aplicado pelos bispos. Entre vários filósofos, teólogos, pedagogos da Idade Medieval, vamos destacar Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1274 ). A pedagogia agostiniana "Há pessoas que se apegam à sua opinião, não porque seja verdadeira, mas porque é sua." (Santo Agostinho) O pensamento filosófico de Santo Agostinho está baseado na fé e na ética cristã. Para ele, o objetivo final da educação é a con- quista da paz da alma. Em sua obra Da ordem, na qual sustenta que o mundo é regido por uma lei universal, ele aponta os conhecimentos que devem ser transmitidos às crianças e aos jovens: • leitura; • escrita~ • cálculo; • gramática; • retórica; • dialética; • geometria; • filosofia~ • teologia . Você já pensou sobre o fracasso escolar? Pois, para
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