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INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS PROFESSOR (A): COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 2 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 Sumário Introdução ................................................................................................................... 4 A Libras – Linguagem Brasileira De Sinais .............................................................. 6 Histórico Da Língua Brasileira De Sinais Na Educação De Surdos ......................... 8 As Línguas De Sinais No Mundo ............................................................................. 9 Características Próprias Das Línguas De Sinais ................................................... 20 Libras: História E Evolução .................................................................................... 21 A Libras É Uma Língua Natural .......................................................................... 24 Desenvolvimento Da Pessoa Surda....................................................................... 27 A Libras No Contexto Do Ensino Fundamental ...................................................... 29 Preparação Dos Profissionais ................................................................................ 31 As Diferenças Humanas ........................................................................................ 35 Alfabetização E O Ensino Da Língua De Sinais ........................................................ 37 Introdução .............................................................................................................. 37 Alfabetização Na Língua De Sinais Brasileira ........................................................ 38 Estágios De Aquisição Da Língua De Sinais ......................................................... 39 Instrumentos Do Processo De Alfabetização ......................................................... 41 O Ensino Da Língua De Sinais .............................................................................. 47 Reflexão Final ........................................................................................................ 49 Sugestões De Dicionários Eletrônicos E Links Para Pesquisa: .......................... 53 A Prática Pedagógica Mediada (Também) Pela Língua De Sinais: Trabalhando Com Sujeitos Surdos* ............................................................................................... 55 A Língua De Sinais E O Espaço Escolar ............................................................... 57 file:///Y:/Acadêmico/Cursos/_Material%20Didático%20-%20Pendrive/APOSTILAS%20NOVAS/_PÓS%20GRADUAÇÃO/CURSOS%20-%20NUMERAÇÃO%20APOSTILA%20NOVA/EIE/apost1-INTRODUÇÃO%20AO%20ESTUDO%20DE%20LIBRAS.docx%23_Toc368893874 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Estudo Eletroencefalografico De Sua Funcionalidade Cerebral ......................................................................................... 100 Introdução ............................................................................................................ 100 Objetivos .............................................................................................................. 106 Metodologia ......................................................................................................... 107 Resultados ........................................................................................................... 112 Discussão ............................................................................................................ 117 Referências Bibliográficas ....................................................................................... 126 Anexos .................................................................................................................... 133 História Dos 3 Porquinhos Em Libras .................................................................. 133 file:///Y:/Acadêmico/Cursos/_Material%20Didático%20-%20Pendrive/APOSTILAS%20NOVAS/_PÓS%20GRADUAÇÃO/CURSOS%20-%20NUMERAÇÃO%20APOSTILA%20NOVA/EIE/apost1-INTRODUÇÃO%20AO%20ESTUDO%20DE%20LIBRAS.docx%23_Toc368893895 file:///Y:/Acadêmico/Cursos/_Material%20Didático%20-%20Pendrive/APOSTILAS%20NOVAS/_PÓS%20GRADUAÇÃO/CURSOS%20-%20NUMERAÇÃO%20APOSTILA%20NOVA/EIE/apost1-INTRODUÇÃO%20AO%20ESTUDO%20DE%20LIBRAS.docx%23_Toc368893895 file:///Y:/Acadêmico/Cursos/_Material%20Didático%20-%20Pendrive/APOSTILAS%20NOVAS/_PÓS%20GRADUAÇÃO/CURSOS%20-%20NUMERAÇÃO%20APOSTILA%20NOVA/EIE/apost1-INTRODUÇÃO%20AO%20ESTUDO%20DE%20LIBRAS.docx%23_Toc368893896 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file:///Y:/Acadêmico/Cursos/_Material%20Didático%20-%20Pendrive/APOSTILAS%20NOVAS/_PÓS%20GRADUAÇÃO/CURSOS%20-%20NUMERAÇÃO%20APOSTILA%20NOVA/EIE/apost1-INTRODUÇÃO%20AO%20ESTUDO%20DE%20LIBRAS.docx%23_Toc368893912 INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 4 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 INTRODUÇÃO Na discussão sobre a educação dos surdos, devem-se relevar as necessidades e dificuldades linguísticas dos mesmos. Atualmente, entende-se, na educação desses alunos, a primeira língua deve ser a de sinais, pois possibilitam a comunicação inicial na escola em que eles são estimulados a se desenvolver, uma vez que os surdos possuem certo bloqueio para a aquisição natural da linguagem oral. O ensino de libras vem sendo reconhecido como caminho necessário para uma efetiva mudança nas condições oferecidas pela escola no atendimento escolar desses alunos, por ser uma língua viva, produto de interação das pessoas que se comunicam. Essa linguagem é um elemento essencial para a comunicação e fortalecimento de uma identidade Surda no Brasil e, dessa forma, a escola não pode ignorar no processo de ensino aprendizagem. A educação inclusiva se orienta pela perspectiva da diversidade, com metodologias e estratégias diferenciadas, com responsabilidade compartilhada, cuja capacitação do professor passa pelo conhecimento sobre a diversidade, com a família, responsabilidade para com o exercício da profissão. As transformações acontecem na atividade principal, quando o aluno esta dentro da sala de aula. Este é o principal motivo de haver modificação, pois sem ela, não haverá mudança, considerando que as relações e a constituição do ser humano acontecem nas situações mais ocultas da vida. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 5 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 Segundo Quadros (1998, p. 64), assim como as línguas faladas,as línguas de sinais não são universais: cada país apresenta a sua própria língua. No caso do Brasil, tem-se a LIBRAS. O ensino de dessa linguagem é uma questão preocupante no contexto da educação dos surdos, pois o reconhecimento da importância do estudo da mesma no ensino de surdos, ainda é deixado de lado. Portanto há uma necessidade maior de reflexão no sentido de evidenciar a sua importância. De acordo com FRITH (1990 p. 1503): A dislexia do desenvolvimento consiste numa interrupção da progressão da leitura ao longo dos estágios logográfico, alfabético e ortográfico. Nessa dislexia, a criança tem dificuldades para progredir do estagio logográfico ao alfabético, e em desenvolver a rota fonológica. Assim, ela tende a fazer leitura visual de um conjunto limitado de palavras de sobrevivência de alta INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 6 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 frequência que conseguiu memorizar, e comete erros visuais envolvendo a composição grafêmica das palavras. A principal função da escola é possibilitar ao aluno adequar-se ao conhecimento ensinado pelo professor. Neste processo de ensino aprendizagem, os conceitos oferecidos pela escola interagem com os conceitos do senso comum aprendidos no cotidiano e, nessa interação é que a escola reorganiza os ensinamentos modificando-os, que se consolidam a partir do senso comum. Para essas reflexões serem realizadas, as bases teóricas foram buscadas na bibliografia de diversos autores como: Heloisa Maria Moreira Lima Salles, EnildeFaulstich, Orlene Lúcia Carvalho, Ana Adelina Lopo Ramos, Carlos Skiliar, entreoutros, pois desenvolvem pesquisas e análises de suma importância em LIBRAS. A LIBRAS – Linguagem Brasileira de sinais A libra, não é apenas uma linguagem, uma vez que prestam as mesmas funções das línguas orais, pois ela possui todos os níveis linguísticos INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 7 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 e como toda língua de sinais, a LIBRAS é uma língua de modalidade visual- gestual, não estabelecida através do canal oral, mas através da visão e da utilização do espaço. Como a língua de sinais se desenvolve de forma visual, é lógico e aceitável que os surdos se comuniquem naturalmente utilizando as mãos, cabeça e outras partes do corpo, por estarem privados da audição. Sobre isto, SALLES (2004), menciona: A LIBRAS é adotada de uma gramática constituída a partir de elementos Constitutivos das palavras ou itens lexicais e de um léxico que se estruturam a partir de mecanismos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos que apresentam também especificidades, mas seguem também princípios básicos gerais. É adotada também de componentes pragmáticos convencionais codificados no léxico e nas estruturas da LIBRAS e de princípios pragmáticos que permitem a geração de implícitos sentidos metafóricos, ironias e outros significados não literais. A LIBRAS é a língua utilizada pelos surdos que vivem em cidades do Brasil, portanto não é uma língua universal. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 8 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 Histórico da Língua Brasileira de Sinais na Educação de Surdos Não se sabe ao certo onde surgiu a língua de sinais nas comunidades surdas, mas, sabe-se que foram criadas por homens que tentaram recuperar a comunicação através dos demais canais, por terem um impedimento auditivo. Não existem muitos registros oficiais do surgimento da língua de sinais no mundo, por isso, tivemos muita dificuldade em encontra-los. Mas, vamos lá. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 9 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 AS LÍNGUAS DE SINAIS NO MUNDO Em nossa empreitada pela busca desse tema, iniciamos com a Wikipédia, a enciclopédia livre1. Nela encontramos que, “assim como entre os idiomas falados, é grande a variedade de línguas de sinais ao redor do mundo”. (PARA UMA GRAMÁTICA DE LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA, 2010, p. 54). Continuando este caminho, encontramos no site da revista “Mundo Estranho” (disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem- criou-a-linguagem-de-sinais-para-surdos. Acesso em: 30 set. 2013.), que foi o abade francês Charles-Michel. Na metade do século XVIII, ele desenvolveu um sistema de sinais para alfabetizar crianças surdas que serviu de base para o método usado até hoje. Na época, as crianças com deficiências auditivas e na fala não eram alfabetizadas. O abade fundou, em 1755, a primeira escola para surdos, ensinando o alfabeto a seus alunos com gestos manuais descrevendo letra por letra. Esse método foi, então, aperfeiçoado ao longo dos séculos nos vários países onde foi adotado. "Em 1856, o conde francês Ernest Huet, que era surdo, trouxe ao Brasil a língua de sinais francesa", afirma Moisés Gazale, diretor da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (Feneis), no Rio de Janeiro. Essa globalização do sistema foi facilitada pelo fato de os sinais também representarem - além das letras - conceitos como fome ou sono, permitindo a comunicação entre pessoas de diferentes nacionalidades. Em 1966, o médico americano OrinCornett deu uma importante contribuição a essa linguagem, unindo a utilização dos sinais com a leitura labial. Hoje, cada país tem sua própria linguagem de sinais para surdos. Todas elas derivam do alfabeto manual francês, mas podem apresentar pequenas variações em função da gramática local. No Brasil o sistema é conhecido como Libras: Língua Brasileira de Sinais. Nesse percurso, encontramos diversos autores e pesquisadores que nos informam que, foi predominante, na antiguidade, a visão negativa do surdo como aquele que não pode ser educado. Mais além, eram vistos com piedade 1 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_de_sinais. Acesso em: 30 set. 2013. http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-criou-a-linguagem-de-sinais-para-surdos http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-criou-a-linguagem-de-sinais-para-surdos http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_de_sinais INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 10 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 e compaixão, como castigados pelos deuses ou enfeitiçados; ou, de forma mais desprezada, sendo abandonados ou até sacrificados. Em sociedades onde predominavam o espírito guerreiro e a idolatria pela perfeição física (como Esparta e Roma) havia sacrifícios daqueles que nasciam fora do padrão da “normalidade”, isto é, com algum tipo de deficiência física ou mental. De modo geral, nas sociedades do mundo considerado antigo e/ou clássico, o povo surdo era marginalizado: estereotipados como “anormais”, isolados, presos, considerados párias e vistos como improdutivos ou inúteis. É somente então no século XVI, período considerado como a modernidade, que surgem os primeiros educadores de surdos. O monge beneditino espanhol Pedro Ponce de Leon (1520-1548) foi um importante educador, além de fundador de uma escola de professores de surdos. Utilizava a datilologia – representação manual das letras do alfabeto, a escrita e a oralização como metodologias de ensino. Esta preocupação educacional de surdos deu lugar às aparições de numerosos professores que desenvolveram, simultaneamente, seus trabalhos com os sujeitos surdos e de maneira independente, em diferentes lugares da Europa. Havia professores que se abocavam na tarefa de comprovar a veracidade da aprendizagem dos sujeitos surdos ao usar a língua de sinais e o alfabeto manual e em muitos lugares havia professores surdos (STROBEL, 2006, p. 248). INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 11 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 O século XVIII é considerado o período mais fértil da educação surda face ao aumento do número de escolas e do ensino de língua de sinais. Os surdos podiam aprender e dominar diversos assuntos, bem como exercer várias profissões. Destacou-se na época, o abade francês Charles Michel de L’Epée (1750), que criou os “Sinais Metódicos”, uma combinação de língua de sinais com gramática sinalizada francesa. Este educador transformou sua casa em escola pública e acreditava que todos surdos deveriam ter acesso à educação. No mesmo século, o alemão Samuel Heinick (1754) esboçou as primeiras noções da filosofia oralista. No século seguinte, nos Estados Unidos, Thomas Hopkins Gallaudet e Laurent Clerc (1815) unem o léxico da língua de sinais francesa com a estrutura da língua francesa, adaptando para o inglês, em 1815. Disto surgiram os primeiros esboços da Comunicação Total. Em 1864 é fundada a primeira universidade para surdos em homenagem ao pesquisador, a Universidade Gallaudet. Atualmente, além desta, existe apenas a TsukubaCollegeof Technology (Japão). INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 12 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 A partir da década de 1860, o oralismo ganhou força e aumentou a oposição à língua de sinais. Em 1880, durante o Congresso Internacional de Educadores de Surdos em Milão, na Itália, a língua de sinais foi proibida, o que provocou uma reviravolta na educação de surdos. Naquela ocasião os professores surdos haviam sido proibidos de votar. Apesar de tal mudança, oscódigos não chegaram a serem eliminados, porém simplesmente foram conduzidos ao mundo marginal, onde sobreviveram devido às contraculturas. Dessa forma, o atendimento aos surdos ficou voltado à filantropia e ao assistencialismo: os indivíduos eram entregues pelas famílias às instituições e aos asilos, em regime de internato. Existiram tentativas de resgate dos surdos do anonimato durante século XX, contudo o ouvintismo cada vez mais ganhava força e legitimidade pelos discursos científicos, sobretudo pela visão clínica que, de modo geral, encara a surdez como uma doença. Em 1960, a publicação de William Stokoe, SignLanguageStructure: AnOutlineofthe Visual Communication System ofthe American Deaf, começou modificar a visão da sociedade perante os surdos. A partir desta publicação surgiram diversas pesquisas sobre a língua de sinais e sua aplicação na educação e na vida do surdo, que, aliadas a uma grande insatisfação por parte dos educadores e dos surdos com o método oral, INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 13 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 deram origem à utilização da língua de sinais e de outros códigos manuais na educação da criança surda (GOLDFELD, 2001, p. 28). A década de sessenta ainda seria marcada pelos estudos de Dorothy Schifflet (1965), constituindo a Abordagem Total, e Roy Holcom (1968), que fundamentou a Comunicação Total. Nas décadas seguintes, diversos países perceberam que a língua de sinais deveria ser utilizada independentemente da língua oral, isto é, o surdo deveria utilizar sinais em determinadas situações e a oral em outras ocasiões, e não concomitantemente, como era feito. As décadas de 1980 e 1990 marcaram o desenvolvimento da filosofia Bilíngue, que, a partir de então, popularizou-se pelo mundo2. No Brasil, percebemos a convivência das três principais abordagens pedagógicas, em que divergências sempre existiram – oralismo, comunicação total e bilinguismo. A educação surda iniciou aqui durante o Segundo Império quando Dom Pedro II trouxe o professor surdo francês HernestHuet. Em 1857 foi fundado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos (atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES). Em 1911 foi estabelecido o oralismo puro, contudo, de forma marginalizada, outras filosofias perduraram. Este panorama começou se alterar nas décadas de 1970 e 1980, com os estudos sobre Comunicação Total e a visita da pesquisadora Ivete Vasconcelos. As décadas seguintes marcaram a ascensão do Bilinguismo com as pesquisas da professora Lucinda Ferreira Brito (1993), que em 1994 propôs a abreviação “LIBRAS” para a língua de sinais no Brasil. Hoje, contamos com várias classes especiais, salas de recursos e espaços educacionais para os surdos, contudo, isto se mostra insuficiente diante da realidade que vivemos. A maioria dos países convive com estas diferentes visões filosóficas sobre os surdos e sua educação. Observemos brevemente os princípios de cada uma destas filosofias. Noutrossim, escreveClélia Regina Ramos3, “o primeiro livro conhecido em inglês que descreve a Língua de Sinais como um sistema complexo, na qual "homens que nascem surdos e mudos (...) podem argumentar e discutir 2 Parte integrante do artigo: “Língua de Sinais Brasileira e Breve Histórico da Educação Surda”. Publicado em: http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=466. Por: RODRIGO JANONI CARVALHO: Mestre, Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Uberlândia. 3 Diretora Executiva da Editora Arara Azul. Disponível em: http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=13&idart=168. Acesso em: 30 set. 2013. http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=466 http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=13&idart=168 INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 14 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 retoricamente através de sinais", data de 1644, com autoria de J. Bulwer, Chirologia. Mesmo acreditando que a Língua de Sinais que conhecia era universal e seus elementos constitutivos "naturais" (icônicos, de certa forma), o fato de ter sido publicado um livro a respeito do assunto em uma época que eram raras as edições em geral já demonstra o interesse do tema, evidenciando uma preocupação com a educação dos surdos. Preocupação essa ratificada com a publicação, em 1648, do livro Philocophus, do mesmo autor, dedicado a dois surdos: o baronês Sir Edward Gostwick e seu irmão William Gostwick, no qual se afirma que o surdo pode expressar-se verdadeiramente por sinais se ele souber essa língua tanto quanto um ouvinte domine sua língua oral (WOLL,1987, p. 12)”. Ainda, na concepção da autora supra citada, “quase dois séculos depois, em 1809, Watson (que era neto de Thomas Braidwood, fundador da primeira escola para surdos na Inglaterra) descreve em seu livro Instructionofthedeafanddumb um método combinado de sinais e desenvolvimento da fala”. Contudo, no site ("HowStuffWorks - Como funciona a linguagem de sinais". Publicado em 04 de junho de 2007 - atualizado em 25 de junho de 2008.Disponível em: http://pessoas.hsw.uol.com.br/linguagem-dos-sinais.htm. Acesso em: 1 out. 2013), temos que: “Durante séculos, os deficientes auditivos ou surdos se basearam na comunicação com os outros através de dicas visuais. Conforme a comunidade dos surdos cresceu, as pessoas começaram a padronizar os sinais, construindo um vocabulário e gramática ricos, que existem independentemente de qualquer outra língua. Um observador casual de uma conversa na linguagem dos sinais pode descrevê-la como graciosa, dramática, nervosa, engraçada ou irritada, mesmo sem saber o que um único sinal quer dizer”. “Existem centenas de linguagem de sinais. Onde houver comunidades de surdos, você os encontrará se comunicando com vocabulário e gramática específicos. Dentro de um mesmo país, encontramos variações regionais e dialetos: como em qualquer língua falada, é possível encontrar pessoas em regiões diferentes que transmitem o mesmo conceito de formas distintas”. http://pessoas.hsw.uol.com.br/linguagem-dos-sinais.htm INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 15 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 Pode parecer estranho para quem não entende a linguagem dos sinais, mas os países que possuem a mesma língua falada não têm necessariamente uma linguagem de sinais em comum. A linguagem americana de sinais (ASL) ou Ameslan e a linguagem britânica de sinais (BSL) se desenvolveram independentemente uma da outra, então seria muito difícil ou até mesmo impossível para um surdo americano se comunicar com um surdo britânico. De qualquer forma, muitos dos sinais da ASL foram adaptados da linguagem francesa de sinais (LSF), de forma que um usuário da ASL na França provavelmente conseguiria se comunicar claramente com os surdos de lá, mesmo as línguas faladas sendo completamente diferentes. Não há uma correlação direta entre as linguagens naturais de sinais e as línguas faladas: os usuários das linguagens de sinais se comunicam através de conceitos, e não de palavras. Embora seja possível interpretar a linguagem dos sinais para uma língua falada como o inglês e vice-versa, tal interpretação não seria uma tradução direta. A maioria dos usuários da linguagem dos sinais acha difícil aprendê-la nos livros e por meio de figuras estáticas. O jeito que uma pessoa sinaliza um conceito pode dizer mais sobre seu significado do que o sinal em si. As figuras não capturam as nuances que são intrínsecas à comunicação clara da linguagem de sinais e, às vezes, é difícil sinalizar os movimentos que alguns sinais exigem sem vídeo, animação ou demonstração ao vivo. De fato, aprender a língua de sinais não é simples e, por conta disso, existem diversas abordagensfilosóficas e pedagógicas sobre ela, que, de acordo com Soares (1999) e Moura (2000), podem ser relacionadas e definidas a seguir, bem como, tratam da descrição das mesmas, e de seus respectivos defensores. São elas: Treinamento da Fala (fala/som) ou oralismo: defende o aprendizado da língua oral, com o objetivo de aproximar os surdos ao máximo possível do modelo ouvinte. Gerolamo Cardano (Médico Italiano, 1501-1576): Interessou-se mais pelo estudo do ouvido, nariz e cérebro, escreveu a condução óssea do som. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 16 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 Segundo ele, a escrita poderia representar os sons da fala e do pensamento e a surdez não alterava a inteligência. Juan Pablo Bonet(Espanhol. 1579-1629): Baseado nos trabalhos de León, escreveu sobre as maneiras de ensinar os Surdos a ler e a falar por meio do alfabeto manual e proibia o uso da Língua gestual. Johann Conrad Ammam (Médico Suíço,1669-1724): Defensor da leitura labial; com o uso de espelhos, descobriu a imitação dos movimentos da linguagem, como também a percepção através do tato das vibrações da laringe. Considerava que a fala era uma dádiva de Deus e fazia com que a pessoa fosse humana e que o uso da língua gestual atrofiava a mente. SammuelHeinicke (Alemão,1729-1790): Fundou uma escola de Surdos, em Edimburgo (a primeira escola de correção da fala da Europa); ensinou vários surdos a falar, criando e definindo o método hoje conhecido como Oralismo; edificou a aprimeira escola pública para deficientes físicos. Segundo ele, o pensamento só é possível através da língua oral. (fala/som). Alexander Graham Bell (Cientista Escocês, 1847-1922): Era grande defensor do oralismo e opunha-se a língua gestual e as comunidades de surdos, uma vez que as considerava como um perigo para a sociedade. Foi professor de surdos em Londres e desenvolveu a metodologia denominada “fala visível”. Jacob Rodrigues Pereira (Francês,1715-1780): Era o maior opositor do Abade L’Epeé, usava gestos, mas defendia a oralização dos surdos, iniciou o trabalho de desmutização por meio da visão e do tato. Método Combinado ou Bimodal: defende o uso da língua oral, língua de sinais, treinamento auditivo, leitura labial e o alfabeto digital, entre outros recursos. Pedro Ponce de León (Monge Espanhol,1520-1584): Iniciou a história sistematizada de educação dos Surdos. Fundou uma escola para professores de deficientes auditivos e desenvolveu uma metodologia de educação que incluía leitura e escrita, treinamento da fala e o alfabeto manual. Thomas Hopkins Gallaudet (Prof. Americano,1837-1917): Era opositor ao oralismo puro, defendia os sinais metódicos do Abade De L’Epee; fundou a INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 17 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 escola de Hartford para surdos, em abril de 1817. Gallaudet e seu filho Edward Miner Gallaudet instituíram nessa escola a Língua Gestual Americana com o método combinado, inglês escrito e o alfabeto manual. Em 1857, a escola passou a ser Universidade Gallaudet. Linguagem Gestual (hoje Língua de Sinais): considerada importante veículo de aquisição de conhecimento, comunicação e organização do pensamento no desenvolvimento da pessoa surda. Charles MicheldeL'Épeé (Abade Frances, 1712-1789): Criador da língua gestual (língua de sinais), criou os “sinais metódicos”. Reconheceu que essa língua existia e se desenvolvia entre grupos de surdos, embora não fosse considerada uma língua com gramática, mas, com características linguísticas apoiada no canal visual-gestual. Fundou oInstituto Nacional de Surdos-Mudos, em Paris (primeira escola pública de Surdos do mundo). Após a Revolução Francesa e durante a Revolução Industrial (séc.XVIII), a disputa tornou-se mais acirrada entre os métodos oralistas e os baseados na língua gestual. No Congresso de Milão (1880) instituiu-se o oralismo como filosofia oficial de educação dos surdos, nesse período o ensino da língua gestual passou a ser proibido nas escolas em toda a Europa. Logo, o oralismo espalhava-se para outros continentes e, em consequência disso, tornou-se a abordagem mais priorizada na educação dos surdos, durante fins do século XIX e grande parte do século XX. De acordo com Lacerda (1998), os resultados de muitas décadas de trabalho nessa linha, no entanto, não mostraram grandes sucessos. O processo de aquisição da fala era parcial e tardio em relação aos ouvintes, comprometendo o desenvolvimento global dos surdos. No ano de 1960, Willian Stokoe publicou artigos demonstrando que a American Signan Language - Língua de Sinais Americana-ASL - possuía características semelhantes às da língua oral. Nessa mesma década, Doraty Schifflet, professora e mãe de deficiente auditivo, utilizou o método que combinava língua de sinais associada a língua oral, treinamento auditivo, leitura labial e o alfabeto digital denominado “Total Approach”, traduzido para “Abordagem Total” ou “Comunicação Total”. Embora, esta tenha apresentado INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 18 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 avanços, a maioria dos surdos não conseguiu atingir níveis acadêmicos compatíveis (idade/série), pois os sinais apenas representavam recursos de auxílio da fala e não comprovavam desenvolvimento linguístico. (LACERDA, 1998). Na década de 1970, a Suécia e a Inglaterra observaram que os deficientes auditivos utilizavam em momentos distintos a oralização e a língua de sinais, originando à filosofia bilíngue, ou seja, a utilização pelos surdos da língua de sinais como primeira língua (L1) e , como segunda, a língua majoritária do seu país (L2). Logo, expandiu-se na década seguinte para todos os países esse tipo de educação que se contrapõem aos modelos oralistas e a comunicação total, advogando que cada língua deve manter suas características próprias. Quanto à Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) essa é uma modalidade de comunicação que tem adquirido maior visibilidade na sociedade, na medida em que se expandem os movimentos surdos a favor de seus direitos, conforme a cultura e a língua própria do povo surdo, mediante a opressão de uma sociedade, que ao longo dos anos, impôs uma espécie de “modelo ouvintista” de viver. Quanto ao seu surgimento no Brasil e legalidade, é tudo muito novo, pois, conforme a Constituição Federal (19884). Contudo, a luta pelos direitos dos surdos é longa. Dessa forma, ao esboçarmos um breve histórico sobre a educação surda, assim como sobre as filosofias educacionais neste campo, podemos compreender aspectos importantes na relação entre surdos e ouvintes, o choque entre culturas e especificidades e metodologias de ensino. A referida língua visual possui todos os elementos classificatórios identificáveis numa língua e demanda prática para seu aprendizado, sendo uma língua viva e autônoma. Da mesma forma que as línguas orais-auditivas não são iguais, variando de lugar para lugar, de comunidade para comunidade, a língua de sinais também varia, existindo em vários países (SILVA, 2007, p. 9- 10). A língua não é de um país, mas de um povo que se autodenomina povo 4 Disponível em: Cf. Lei Federal nº 10.436/2002 (Lei Ordinária); Decreto nº 5.626/2005; Lei nº 10.098/2000. Disponíveis em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10436.htm>; <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm> e <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L10098.htm>. Acesso em: 30 set. 2013. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 19 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 surdo, isto é, pessoas que se reconhecem culturalmente – e não pela ótica medicalizada - e possuem organizaçãopolítica e habilidades, nas quais a habilidade visual é a principal, constituindo o cerne da expressão linguística. Muitos linguistas se dedicaram a estudar diferentes línguas gestuais, concluindo que estas apresentavam diferenças consideráveis entre si. Deve-se levar em conta que diferenças culturais são determinantes nos modos de representação do mundo. Assim, os surdos sentem as mesmas dificuldades que os ouvintes quando necessitam comunicar com outros que utilizam uma língua diferente. Cada país tem a sua própria língua gestual. Tomando como exemplo alguns países lusófonos, vemos que utilizam diferentes línguas de sinais: no Brasil existe a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), em Portugal existe a Língua Gestual Portuguesa (LGP), em Angola existe a Língua Angolana de Sinais (LAS), em Moçambique existe a Língua Moçambicana de Sinais (LMS). Além disso, da mesma forma que acontece nas línguas faladas oralmente, existem variações linguísticas dentro da própria língua de sinais, isto é, regionalismos e/ou sotaques. Essas variações se devem a ligeiras diferenças culturais e influências diversas no sistema de ensino do país, por exemplo. Há, inclusive, uma língua de sinais pretensamente universal, análoga ao Esperanto, conhecida como Gestuno, que é usada em convenções e competições internacionais. Nesse sentido, podemos concluir que a origem da linguagem de sinais remonta possivelmente à mesma época ou a épocas anteriores àquelas em que foram sendo desenvolvidas as línguas orais. Uma pista interessante para esta possibilidade das línguas de sinais terem se desenvolvido primeiro que as línguas orais é o fato que o bebê humano desenvolve a coordenação motora dos membros antes de se tornar capaz de coordenar o aparelho fonoarticulatório. As línguas de sinais são criações espontâneas do ser humano e se aprimoram exatamente da mesma forma que as línguas orais. Nenhuma língua é superior ou inferior a outra, cada língua se desenvolve e expande na medida da necessidade de seus usuários. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 20 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 Também é comum aos ouvintes pressupor que as línguas de sinais sejam versões sinalizadas das línguas orais; por exemplo, muitos acreditam que a LIBRAS é a versão sinalizada do português; que a Língua Americana de Sinais é a versão sinalizada do inglês; que a Língua Japonesa de Sinais é a versão sinalizada do japonês; e assim por diante. No entanto, embora haja semelhanças ou aspectos comuns entre as línguas de sinais, devido a certo contágio linguístico, as línguas de sinais são autônomas, não derivando das orais e possuindo peculiaridades que as distinguem umas das outras e das línguas orais. A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as línguas orais, dispondo de recursos expressivos suficientes para permitir aos seus usuários expressar-se sobre qualquer assunto, em qualquer situação, domínio do conhecimento e esfera de atividade. Mais importante, ainda: é uma língua adaptada à capacidade de expressão dos surdos. Alguns educadores, mesmo fracassando não mediam esforços para fazer os surdos falarem, inclusive no Brasil, já outros, criavam adaptações técnicas e metodologia especifica para ensinar os surdos levando em consideração as suas diferenças linguísticas. No entanto, vários surdos sinalizavam entre si, criando um momento propício para a constituição de uma língua de sinais. CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DAS LÍNGUAS DE SINAIS Kyle e Woll apontam algumas propriedades exclusivas das línguas de sinais, tais como o uso de gestos simultâneos, o uso do espaço e a organização e ordem que daí resultam. Assim, as línguas de sinais possuem uma modalidade de produção motora (mãos, face e corpo) e uma modalidade de percepção visual. Embora existam aspectos universais, pelos quais se regem todas as línguas de sinais, a comunicação gestual dos Surdos não é universal. As línguas de sinais, assim como as orais, pertencem às comunidades onde são usadas, tendo apresentando diferenças consideráveis entre as determinadas línguas. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 21 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 As línguas de sinais não seguem a ordem e estrutura frásicas das línguas orais, assim o importante não é colocar um sinal atrás do outro, como se faz nas línguas orais (uma palavra após a outra). O importante em sinais é representar a informação, reconstruir o conteúdo visual da informação, pois os surdos lidam com memória visual. As línguas de sinais possuem sua gramática própria, assim como as línguas orais possuem as suas, sendo elas totalmente independentes. LIBRAS: HISTÓRIA E EVOLUÇÃO A LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) é uma língua natural usada pela maioria dos surdos do Brasil. Diferente de todos os idiomas já conhecidos, que são orais e auditivos, a libras é visual-gestual, é uma língua pronunciada pelo corpo. No período de 1500 a 1855, já existiam muitos surdos no país. Nessa época, a educação era precária. Em 1855, ocorreu a vinda ao Brasil de um professor francês surdo, chamado Hurt, e, em 1887, foi fundado o primeiro Instituto Nacional de Surdos Mudos no Rio de Janeiro. No período de 1970 a 1992, os surdos se fortalecerem e reivindicaram os seus direitos. Desde aquela época, as escolas tradicionais existentes no método oral mudaram de filosofia e, até hoje, boa parte delas vêm adotando a comunicação total. Em 2002, foi promulgada uma lei que reconhecia a Língua Brasileira de Sinais como meio de comunicação objetiva e de utilização das comunidades surdas no Brasil. Em 2005, foi promulgado um decreto que tornou obrigatória a inserção da disciplina nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério em nível médio (curso Normal) e superior (Pedagogia, Educação Especial, Fonoaudiologia e Letras). Desde então, as instituições de ensino veem procurando se adequar a essa lei. Nesse sentido, ao buscarmos por essa temática, encontramos um consenso entre diversos autores, que afirmam ser o "início oficial" da educação dos surdos brasileiros a fundação, no Rio de Janeiro, do Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos- INES), INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 22 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 através da Lei 839, que D. Pedro II assinou em 26 de setembro de 1857. Porém, já em 1835, um deputado de nome Cornélio Ferreira apresentara à Assembleia um projeto de lei que criava o cargo de "professor de primeiras letras para o ensino de cegos e surdo-mudos" (REIS,1992, p. 57). Projeto esse que não conseguiu ser aprovado. Reis relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque, discípulo do professor João Brasil Silvado (diretor do INSM em 1907), informou-lhe em entrevista que o interesse do imperador D. Pedro II em educação de surdos viria do fato de ser a princesa Isabel mãe de um filho surdo e, casada com o Conde D’Eu, parcialmente surdo. Sabe-se que, realmente, houve empenho especial por parte de D. Pedro II quanto à fundação de uma escola para surdos, mandando inclusive trazer para o país em 1855 um professor surdo francês, Ernest (ou Eduard) Huet, vindo do Instituto de Surdos- Mudos de Paris, para que o trabalho com os surdos estivesse atualizado com as novas metodologias educacionais. A LIBRAS, em consequência, foi bastante influenciada pela Língua Francesa de Sinais, apesar de não se encontrar, através da análise do programa de ensino adotado inicialmente por Huet (Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, Leitura Sobre os Lábios para os com aptidão e Doutrina Cristã), nenhuma referência à Língua de Sinais. Entretanto, poucos anos depois,Tobias Rabello Leite (diretor da escola de 1868 a 1896) publica Notícias do Instituto dos Surdos e Mudos do Rio de Janeiro pelo seu diretor Tobias Leite (1877) e Compêndio para o ensino dos surdos-mudos (1881), nos quais se percebe que havia aceitação da Língua de Sinais e do alfabeto datilológico. O autor considerava a utilidade dos dois no ensino do surdo, como forma de facilitar o entendimento professor/aluno. (LEITE,1881 apud Reis, 1992, p. 60/68) É de 1873 a publicação do mais importante documento encontrado até hoje sobre a Língua Brasileira de Sinais, o Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos, de autoria do aluno surdo Flausino José da Gama, com ilustrações de sinais separados por categorias (animais, objetos, etc). Como é explicado no prefácio do livro, a inspiração para o trabalho veio de um livro INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 23 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 publicado na França e que se encontrava à disposição dos alunos na Biblioteca do INSM. Vale ressaltar que Flausino foi autor das ilustrações e da própria impressão em técnica de litografia. Não sabemos se o organização também foi realizada por ele. Em 1911, seguindo os passos internacionais que em 1880 no Congresso de Milão proibira o uso da Língua de Sinais na educação de surdos, estabelece-se que o INSM passaria a adotar o método oralista puro em todas as disciplinas. Mesmo assim, muitos professores e funcionários surdos e os ex- alunos que sempre mantiveram o hábito de frequentar a escola, propiciaram a formação de um foco de resistência e manutenção da Língua de Sinais. Somente em 1957, por iniciativa da diretora Ana Rímoli de Faria Doria e por influência da pedagoga Alpia Couto, finalmente a Língua de Sinais foi oficialmente proibida em sala de aula. Medidas como o impedimento do contato de alunos mais velhos com os novatos foram tomadas, mas nunca o êxito foi pleno e a LIBRAS sobreviveu durante esses anos dentro do atual INES. De acordo com pesquisa realizada por Clélia Regina Ramos (2002), em depoimento informal, uma professora que atuou naquela época de proibições (que durou, aliás, até a década de 1980) contou-nos que os sinais nunca desapareceram da escola, sendo feitos por debaixo da própria roupa das crianças ou embaixo das carteiras escolares ou ainda em espaços em que não havia fiscalização. É evidente, porém, que um tipo de proibição desses gera prejuízos irrecuperáveis para uma língua e para uma cultura. Assim, pesquisar as origens da LIBRAS é realmente uma tarefa a ser realizada, pois surpreende a todos aqueles que trabalham com a comunidade surda brasileira (tão espalhada por este imenso país) a homogeneidade linguística da mesma. Apesar dos "sotaques" regionais, podemos observar apenas algumas variações lexicais que não comprometem em nenhum momento sua unidade estrutural. Em 1969, foi feita uma primeira tentativa no sentido de tentar registrar a Língua de Sinais falada no Brasil. Eugênio Oates, um missionário americano, publica um pequeno dicionário de sinais, Linguagem das mãos, que segundo Ferreira Brito (1993), apresenta um índice de aceitação por parte dos surdos de 50% dos sinais listados. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 24 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 A partir de 1970, quando a filosofia da Comunicação Total e, em seguida, do Bilinguismo, firmaram raízes na educação dos surdos brasileiros, atividades e pesquisas relativas à LIBRAS têm aumentado enormemente. Em 2001 foi lançado em São Paulo o Dicionário Enciclopédico Ilustrado de LIBRAS, em um projeto coordenado pelo Professor Doutor (Instituto de Psicologia/USP) Fernando Capovilla e em março de 2002 o Dicionário LIBRAS/Português em CD-ROM, trabalho realizado pelo INES/MEC e coordenado pela Professora Doutora Tanya Mara Felipe/UFPernambuco/FENEIS. Nacionalmente, a LIBRAS foi, recentemente, oficializada através da Lei n.º 4.857 / 2002, enquanto língua dos surdos brasileiros, o que, aliada à aceitação da LIBRAS pelo MEC, irá tornar a educação dos surdos e a vida dos surdos cada vez mais fácil. A LIBRAS é uma Língua Natural A LIBRAS, como toda Língua de Sinais, é uma língua de modalidade gestual-visual porque utiliza, como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão; portanto, diferencia-se da Língua Portuguesa, que é uma língua de modalidade oral-auditiva por utilizar, como canal ou meio de comunicação, sons articulados que são percebidos pelos ouvidos. Mas, as diferenças não estão somente na utilização de canais diferentes, estão também nas estruturas gramaticais de cada língua. (Revista da FENEIS, número 2, p. 16). Para que as Línguas de Sinais tenham chegado ao ponto de serem reconhecidas como línguas naturais, entendendo o conceito natural em oposição a código e linguagem, avaliaram-se, evidentemente, as semelhanças existentes entre as mesmas e as línguas orais. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 25 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 Uma dessas semelhanças, seguindo a linha saussuriana, a existência de unidades mínimas formadoras de unidades complexas, pode ser observada em todas as Línguas de Sinais espalhadas pelo mundo, possuidoras dos níveis fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático. A existência de registros diversos (por categoria profissional, status social, idade, nível escolar etc.), além de dialetos regionais, também referendam as semelhanças com as línguas orais. A busca por uma “norma culta” vem sendo observada nos últimos anos nos encontros e publicações realizados por surdos, pelos instrutores de LIBRAS e pelos intérpretes de LIBRAS, indicando que a gramaticalização formal da LIBRAS está em vias de ser agilizada. Resumidamente, podemos afirmar que os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros, portanto, nas Línguas de Sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros: ➢ configuração das mãos: são formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros), ou pelas duas mãos do emissor ou sinalizador. Os sinais APRENDER, LARANJA e ADORAR têm a mesma configuração de mão; ➢ ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até à cabeça) e horizontal (à frente do emissor). Os sinais TRABALHAR, BRINCAR, CONSERTAR são feitos no espaço neutro e os sinais ESQUECER, APRENDER e PENSAR são feitos na testa; ➢ movimento: os sinais podem ter um movimento ou não. Os sinais citados acima tem movimento, com exceção de PENSAR que, como os sinais AJOELHAR, EM-PÉ, não tem movimento; INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 26 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 ➢ orientação: os sinais podem ter uma direção e a inversão desta pode significar ideia de oposição, contrário ou concordância número- pessoal, como os sinais QUERER E QUERER-NÃO; IR e VIR; ➢ expressão facial e/ou corporal: muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados acima, em sua configuração tem como traço diferenciador também a expressão facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL. Na combinação destes quatro parâmetros, ou cinco, tem-se o sinal. Falar com as mãos é, portanto, combinar estes elementos que formam as palavras e estasformam as frases em um contexto.” (Revista da FENEIS, número 2, p. 16). Hoje, podemos afirmar que não existem barreiras para a educação de surdos, no Brasil, haja vista, publicação recente (13 de Agosto de 2013), na página do site PORSINAL (Disponível em: http://www.porsinal.pt/index.php?ps=destaques&idt=not&iddest=181. Acesso em: 30 ago. 2013), em que vemos a seguinte manchete: “Aluno com surdez conclui mestrado na Universidade Federal do Espírito Santo, no Brasil”. Seguida do texto abaixo: Além de ser o primeiro aluno surdo a concluir o mestrado na UFES, Ademar Miller Júnior também foi o primeiro a formar-se no curso de Pedagogia e o primeiro professor substituto da UFES, com surdez. Como não poderia deixar de ser, Ademar Miller Júnior comemorou o feito. “Tenho certeza de que serei um modelo para tantos outros que verão em mim uma possibilidade de entrar no mestrado. No futuro penso em fazer o doutorado, aqui ou nos Estados Unidos", disse. Durante a pesquisa, Júnior teve uma bolsa de estudos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES) e, em agosto de 2011, interrompeu o mestrado para participar de um intercâmbio de seis meses na Universidade Gallaudet, nos Estados Unidos, a única no mundo cujos programas são desenvolvidos para pessoas surdas. http://www.porsinal.pt/index.php?ps=destaques&idt=not&iddest=181 INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 27 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 No seu mestrado, a banca examinadora foi composta pela orientadora do trabalho e professora Ivone Martins, da coorientadora e sub-chefe do Departamento de Educação Integrada em Saúde, Lucyenne Machado, da professora Edna Castro e do professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rodrigo Marques, que aprovaram a tese “A inclusão do aluno surdo no Ensino Médio”. DESENVOLVIMENTO DA PESSOA SURDA A relação entre o homem e o mundo acontece mediada pela linguagem, porque permite ao ser humano planejar suas ações, estruturar seu pensamento, registrar o que conhece e comunicar-se. A língua é o principal meio de desenvolvimento do processo cognitivo do pensamento humano. Por isso a presença de uma língua é considerada fator indispensável ao desenvolvimento dos processos mentais. A disposição de um ambiente linguístico é necessária para que a pessoa possa sintetizar e recriar os mecanismos da língua. É através da linguagem que a criança percebe o mundo e constrói a sua própria concepção. Com base na pesquisa realizada, percebemos que os surdos possuem desenvolvimento cognitivo compatível de aprender como qualquer ouvinte, no entanto, os surdos que não adquirem uma língua, têm dificuldade de perceber INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 28 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 as relações e o contexto mais amplo das atividades em que estão inseridos, assim o seu desenvolvimento e aprendizagem ficam fragmentados. Segundo Lúria (1986), os processos de desenvolvimento da linguagem incluem o conjunto de interações entre a criança e o ambiente tornando-se necessário desenvolver alternativas que possibilitem os alunos com surdez adquirir linguagem aperfeiçoando esse potencial. Quando uma criança surda tem acesso a sua língua natural, ou seja, a língua de sinais, ela se desenvolve integralmente, pois tem inteligência semelhante a dos ouvintes, diferindo apenas na forma como aprendem que é visual e não oral-auditiva. No entanto, a maioria das crianças surdas vêm de INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 29 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 famílias ouvintes que não dominam a língua de sinais, e por isso, é essencial a imersão escolar na primeira língua das crianças surdas, já que essa aquisição da linguagem permitem o desenvolvimento das funções cognitivas. A LIBRAS no contexto do Ensino Fundamental A escola é muito importante na formação dos sujeitos em todos os seus aspectos. É um lugar de aprendizagem, de diferenças e de trocas de conhecimento, precisando, portanto atender a todos sem distinção, a, fim de não promover fracassos, discriminações e exclusões. Diferente dos ouvintes, grande parte das crianças surdas entram na escola sem o conhecimento da língua, sendo que a maioria delas vem de famílias ouvintes que não sabem a língua de sinais, portanto, a necessidade INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 30 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 que a LIBRAS seja, no contexto escolar, não só língua de instrução, mas, disciplina a ser ensinada, por isso, é imprescindível que o ensino de LIBRAS seja incluído nas séries iniciais do ensino fundamental para que o surdo possa adquirir uma língua e posteriormente receber informações escolares em língua de sinais. O papel da língua de sinais na escola vai além da sua importância para o desenvolvimento do surdo, por isso, não basta somente a escola colocar duas línguas nas classes, é preciso que haja a adequação curricular necessária, apoio para os profissionais especializados para favorecer surdos e ouvintes, a fim de tornar o ensino apropriado a particularidade de cada aluno. Sobre isso Skliar menciona: Segundo SKLIAR (2005, p. 27): “Usufruir da língua de sinais é um direito do surdo e não uma concessão de alguns professores e escolas”. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 31 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 A escola deve apresentar alternativas voltadas ás necessidades linguísticas dos surdos, promovendo estratégias que permitam a incursão e o desenvolvimento da língua de sinais como primeira língua. As diferentes formas de proporcionar uma educação à criança de uma escola, dependem das decisões político-pedagógicas adotadas pela escola. Ao optar por essa educação, o estabelecimento de ensino assume uma política em que duas línguas passarão a ser exercitadas no espaço escolar. PREPARAÇÃO DOS PROFISSIONAIS Deve-se pensar em uma preparação para os profissionais para incluir crianças com necessidades especiais no ensino fundamental, pois nesse processo, o educador irá estar diretamente interligado com esses alunos favorecendo o desenvolvimento das habilidades para a prática pedagógica, INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 32 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 com o auxílio de um programa assistencial infantil, que atende essas crianças, que obrigatoriamente deve estar presente na escola. Quando ocorre o preconceito da sociedade quanto ao deficiente auditivo, é preciso que haja educadores qualificados e ambiente adequado para o atendimento aos alunos amenizando essa problemática, dando importância à perspectiva de atender as exigências da sociedade que só alcançará seu objetivo quando todas as pessoas tiverem acesso à informação e conhecimento necessário para a formação de sua cidadania. Em meio a discussões sobre os questionários aplicados aos profissionais, participantes dessa pesquisa, releva-se que para o desempenho das atividades pedagógicas em relação às crianças com deficiência auditiva, devem receber assessoramento da equipe pedagógica e de intérpretes que atendem as necessidades dos alunos surdos inclusos no ensino regular. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 33 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 A inclusão do deficiente auditivo deve ser integral, acima de tudo, digna de respeito e direito a educação com qualidade atendendo aos interesses individuais e nos grupos sociais. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 34 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 A educação especial passa por uma transformação em termos da suaconcepção e diretrizes legais. É preciso estabelecer um plano de ação político- pedagógico que envolva a inclusão das pessoas portadoras de necessidades especiais. Faz-se necessário lembrar que a Educação Especial delineia um processo de construção e compreensão de posicionamentos quanto às orientações e diretrizes atuais. Com o processo de inclusão dos portadores de necessidades educativas especiais no ensino fundamental, devemos levar em consideração que as mudanças são frequentes, principalmente quando consideramos que toda a nossa tradição histórica tem sido preconceituosa e discriminativa. Quanto a isso, os profissionais sabem que existe uma grande preocupação no rendimento escolar, por isso, o educador deve estar preparado para lidar com situações constrangedoras, pois terá contato com diferentes tipos de alunos. Há ainda, uma grande preocupação quanto a participação dos pais na escola, pois são poucos os que são presente na educação escolar. Os mesmos, muitas vezes desconhecem a LIBRAS, pois utilizam gestos que são reproduzidos naturalmente. No processo de inclusão no âmbito escolar, deverá ser feito um trabalho de conscientização que é um trabalho essencial para a construção de uma sociedade justa e igualitária, na qual as diferenças sejam consideradas e respeitadas. INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 35 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 AS DIFERENÇAS HUMANAS Os ouvintes são acometidos pela crença de que ser ouvinte é melhor do que ser surdo, pois, na ótica do ouvinte, ser surdo é o resultado da perda de uma habilidade disponível para a maioria dos seres humanos. No entanto, essa parece ser uma questão de mero ponto de vista. “Um órgão a mais ou a menos em nossa máquina teria feito de nós outra inteligência” (FAULSTICH, 2004 p.36). Se não há limite entre a grandeza e a pequenez podemos concluir que ser surdo não é melhor nem pior de ser ouvinte, mas diferente. Esta é uma questão que merece ser amplamente discutida, pois, estão limitadas as considerações das pessoas com necessidades especiais. Segundo Skliar (2005) explica que falar em Cultura Surda como um grupo de pessoas localizados no tempo e no espaço é fácil, mas refletir sobre o fato de que nessa comunidade surgem processos culturais específicos é uma visão rejeitada por muitos, sobre o argumento da concepção da cultura universal. Quanto à Língua de sinais, cabe ressaltar a forma como os indivíduos são nela nomeados, atribuindo-se aos sujeitos características físicas, psicológicas, associadas ou não a comportamentos particulares, os mais variados, os quais personificam os indivíduos. É uma língua adquirida efetivamente no contato com seus falantes. Esse contato acontece com a participação da família, onde a cultura esta em plena transformação e ao mesmo tempo diversifica seus hábitos e costumes que refletem nessa cultura. Nesse sentido, é fundamental o contato da criança surda com os adultos surdos e outras crianças com as mesmas necessidades para que haja a interação linguística favorável que possibilite um ambiente de interação, quando se trata de língua de sinais. O processo de alfabetização de surdos tem duas enquetes a serem ressaltadas: o relato de estórias por parte da comunidade e a produção de literatura infantil em sinais (não sistemas de comunicação artificial, portuguesa, sinalizado, ou qualquer outra coisa que não seja a Língua de Sinais Brasileira INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 36 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 (LSB)). Recuperar a produção literária da comunidade surda é necessário para tornar produtivo o processo de alfabetização. Segundo Quadros, o papel do surdo adulto na educação se torna fundamental para o desenvolvimento da pessoa surda. É preciso produzir estórias utilizando-se configurações de mãos específicas, produzirem estórias em primeira pessoa sobre pessoas surdas, sobre pessoas ouvintes, produzir vídeo de produções literárias de adultos surdos. A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Constituição da República Federativa do Brasil, III, Art. 205). INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 37 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 ALFABETIZAÇÃO E O ENSINO DA LÍNGUA DE SINAIS Ronice Müller de Quadros5 O presente trabalho6 desenvolve duas questões: a alfabetização e o ensino da língua de sinais no processo educacional da criança surda. A alfabetização em sinais e na escrita de sinais são formas de garantir a aquisição da leitura e escrita da criança surda e o ensino da língua de sinais de forma consciente é um modo de prover o refinamento de tais processos. Além de apresentar uma análise de cada questão, este trabalho lista alguns aspectos linguísticos e atividades que devem ser considerados nesse contexto educacional. INTRODUÇÃO 5 Professora e investigadora da Universidade Luterana do Brasil. 6 Disponível em: http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47. Acesso em: 30 set. 2013. http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47 INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 38 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 Os objetivos deste artigo envolvem duas questões básicas: a alfabetização e o ensino da língua de sinais no processo educacional de alunos surdos. Para isto, estou considerando aqui os estudos relacionados à comunidade surda e à língua de sinais brasileira. Ao longo das discussões são propostas algumas abordagens dos aspectos em questão no processo educacional, bem como sugestões de atividades. Gostaria de esclarecer que parto de pressupostos básicos que não serão discutidos no presente artigo, uma vez que dispomos de razoável literatura que aborda tais aspectos (por exemplo, Ferreira-Brito, 1992; Quadros, 1997a; 1997b; Skliar, 1997a, 1997b, 1997c; Souza, 1998)2. Listo a seguir tais pressupostos 3: ➢ Bilinguismo - quando me refiro à “bilinguismo” não estou estabelecendo uma dicotomia, mas sim reconhecendo as línguas envolvidas no cotidiano dos Surdos, ou seja, a língua de sinais brasileira (LSB) e o português no contexto mais comum do Brasil; ➢ Multiculturalismo – está relacionado ao reconhecimento das culturas, bem como, de semelhanças e diferenças comuns existentes entre a forma de ser, agir e pensar das pessoas surdas e das pessoas ouvintes da comunidade brasileira; ➢ Identidade/cultura surda – envolve o incentivo da formação e preservação da identidade surda através do reconhecimento e valorização da comunidade surda e produção cultural específica; ➢ LSB – língua de sinais brasileira, língua que é o meio e o fim da interação social, cultural e científica da comunidade surda brasileira 4. ALFABETIZAÇÃO NA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA Quando pensamos em alfabetização, a ideia mais popular está relacionada a decifração do código escrito. Talvez o próprio nome dado a esse processo seja uma das causas de tal ideia, “alfabetização”, ligada à “alfabeto”. No entanto, o objetivo do presente artigo ao abordar o tema alfabetização http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47#n2 http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47#n3 http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47#n4 INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 39 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 envolve um conceito muito mais amplo desse termo, um processo que resulta da interação com a línguae com o meio. Quando usamos o artigo definido “a língua” e “o meio”, estamos nos referindo à língua e ao meio que a criança surda interage, ou seja, a LSB e pessoas que usam essa língua. Eu não vou discutir aqui as formas distorcidas de comunicação em que as crianças surdas estão expostas; tais como, português sinalizado, gestos e quaisquer outros tipos de comunicação que não envolvam uma verdadeira língua. A razão de minha decisão reflete minha postura diante da LSB, “a” língua em que a comunidade surda expressa suas ideias, pensamentos, poesias e arte. “A” língua que é usada como meio e fim de interação social, cultural e científica. Os falantes nativos dessa língua conversam, planejam, sonham, brigam, contam estórias explorando meios riquíssimos e complexos que são próprios de uma língua de sinais, no caso do Brasil, da LSB. Alfabetização de crianças surdas enquanto processo; portanto, só faz sentido se acontece na LSB, a língua que deve ser usada na escola para aquisição da língua, para aprender através dessa língua e para aprender sobre a língua. A primeira questão que surge é a seguinte: Qual é o nível de proficiência na própria língua das crianças surdas em fase escolar? Então discutamos sobre o desenvolvimento da LSB nas crianças pré- escolares. Não existe ainda produção científica suficiente sobre o processo de aquisição da LSB, bem como não dispomos de instrumentos que avaliem o estágio em que a criança se encontra na sua produção em sinais. Alguns registros têm sido feitos quanto ao desenvolvimento da língua de sinais americana que serão sintetizados a seguir 5. ESTÁGIOS DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS Por volta dos 2 anos de idade, as crianças estão produzindo sinais usando um número restrito de configurações de mão (sugere-se que tal número corresponda a sete configurações de mão), bem como simples combinações de sinais expressando fatos relacionados com o interesse imediato, com o “aqui” e o “agora”. As crianças nesta fase começam a marcar http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47#n5 INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 40 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 sentenças interrogativas com expressões faciais concomitantes com o uso de itens lexicais para expressar sentenças interrogativas (QUEM, O QUE e ONDE). Nesse período, também é verificado o início do uso da negação não manual através do movimento da cabeça para negar, bem como o uso de marcação não manual para confirmar expressões comuns na produção do adulto. Também se observa que as crianças começam a introduzir classificadores nos seus vocabulários 6. Por volta dos 3 anos de idade, as crianças tentam usar configurações mais complexas para a produção de sinais, mas frequentemente tais tentativas acabam sendo expressas através de configurações de mãos mais simples (processos de substituição). Os movimentos característicos dos sinais continuam sendo simplificados, embora já se observe o uso da direção dos movimentos com êxito em alguns contextos. Classificadores são usados para expressar formas de objetos, bem como o movimento e trajetórias percorridos por tais objetos. Aspecto começa a ser incorporado aos sinais para expressar diferenças entre ações (por exemplo, CORRER devagar, CORRER rápido). A criança começa a estender as marcas de negação sobre sentenças assim como os adultos fazem, inclusive omitindo o item lexical de negação. As crianças, também, já utilizam estruturas interrogativas de razão (POR QUE). Nesse período, as crianças começam a contar estórias que não necessariamente estejam relacionadas aos fatos do contexto imediato. Elas falam de algum fato ocorrido em casa, sobre o bichinho de estimação, sobre o brinquedo que ganhou, etc. No entanto, as vezes não fica claro o estabelecimento dos referentes no espaço, o que dificulta o entendimento das estórias. Por volta dos 4 anos de idade, as crianças já apresentam condições de produzir configurações de mãos bem mais complexas, bem como o uso do espaço para expressar relações entre os argumentos, ou seja, as crianças exploram os movimentos incorporados aos sinais de forma estruturada. A partir desse período, elas começam a combinar unidades de significado menores para formar novas palavras de forma consistente. Nesse período, começam a ser observadas a produção de sentenças mais complexas incluindo topicalizações. As expressões faciais são usadas de acordo com a estrutura http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47#n6 INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 41 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 produzida, isto é, as produções não manuais das interrogativas, das topicalizações e negações são produzidas corretamente. As crianças ainda não conseguem conservar os pontos estabelecidos no espaço quando contam suas estórias, apesar de já serem observadas algumas tentativas com sucesso. Aos poucos, torna-se mais claro o uso da direção dos olhos para concordância com os argumentos, bem como o jogo de papéis desempenhado através da posição do corpo explorados para o relato de estórias. Na verdade, em análises da produção das crianças adquirindo ASL e LSB observei que a direção dos olhos é usada consistentemente por volta dos 2 anos de idade. O uso da concordância verbal através do olhar é uma das informações que garante a compreensão do discurso da criança durante este período tão precoce 7. INSTRUMENTOS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Considerando essa evolução, o processo de alfabetização se inicia naturalmente. Duas chaves preciosas desse processo são o relato de estórias e a produção de literatura infantil em sinais 8. O relato de estórias inclui a produção espontânea das crianças e do professor, bem como a produção de estórias existentes; portanto, de literatura infantil. A comunidade surda tem como característica a produção de estórias espontâneas, de contos e de piadas que passam de geração em geração relatadas por contadores de estórias em encontros informais, normalmente em associações de surdos. Infelizmente, nunca houve preocupação de registrar tais produções. Pensando na alfabetização, tal material é fundamental para esse processo se estabelecer. A produção de contadores de estórias, de estórias espontâneas e de contos que passam de geração em geração são exemplos de literatura em sinais que precisam fazer parte do processo de alfabetização de crianças surdas. A produção em sinais artística não obteve a atenção merecida nas escolas de surdos, uma vez que a própria língua de sinais não é a língua usada nas salas de aulas pelos professores. Desta forma, estamos reproduzindo iletrados em sinais. A LSB é “a” língua e merece receber o tratamento de ser “a” língua. Sendo assim, recuperar a produção literária da http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47#n7 http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47#n8 INE – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO INTRODUÇÃO À LÍNGUA DE SINAIS 42 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR– (31) 3272-9521 comunidade surda é urgente para tornar eficaz o processo de alfabetização. Literatura em sinais é essencial para tal processo. Os bancos escolares devem se preocupar com tal produção, bem como incentivar seu desenvolvimento e registro. O que os alunos produzem hoje espontaneamente, pode se transformar em fonte de inspiração literária dos alunos de amanhã. A LSB é uma língua espacial-visual e existem muitas formas criativas de explorá-la. Configurações de mão, movimentos, expressões faciais gramaticais, localizações, movimentos do corpo, espaço de sinalização, classificadores são alguns dos recursos discursivos que tal língua oferece para serem explorados durante o desenvolvimento da criança surda e que devem ser explorados para um processo de alfabetização
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