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I LIÇÕES DE HIDRÁULICA GERAL Parte II Escoamento Livre Gilberto Queiroz da Silva Lições de Hidráulica Básica - Parte II II LIÇÕES DE HIDRÁULICA GERAL Parte II Escoamento Livre SETEMBRO DE 2014 Lições de Hidráulica Básica - Parte II III GILBERTO QUEIROZ DA SILVA Departamento de Engenharia Civil Escola de Minas Universidade Federal de Ouro Preto Endereço para contato: Gilberto Queiroz da Silva Departamento de Engenharia Civil Escola de Minas/UFOP Campus Universitário do Morro do Cruzeiro 35.400-000 – Ouro Preto, MG gqueiroz@em.ufop.br – (31)3559-1546 Copyright Gilberto Queiroz da Silva Lições de Hidráulica Básica - Parte II IV Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em sistemas que permitem a sua recuperação ou transmitida por qualquer forma ou meio sem permissão escrita do autor. Impresso no Brasil Dedicatória Lições de Hidráulica Básica - Parte II V Informações sobre o autor: Lições de Hidráulica Básica - Parte II 1 CONTEÚDO Prefácio .............................................................................................................. X Agradecimentos .................................................................................................XI Escoamento em Condutos Livres . ...................................................................1 1. Generalidades ..................................................................................................1 1.1. Tipos de Escoamentos .............................................................................7 1.2. Elementos da Seção Transversal ............................................................8 Tipos de seções transversais ...................................................................7 1.3. Variação da pressão na seção transversal .............................................9 1.4. Profundidade média .............................................................................10 1.5. Distribuição de velocidades nos canais ...............................................10 1.5.1. Variação da velocidade numa seção transversal de um canal..11 1.5.2. Variação da velocidade segundo a vertical ............................ 1.5.3. Determinação da velocidade média segundo uma vertical ...... 2. MÉTODO DE MEDIÇÃO DE VAZÃO EM RIOS.................................... 2.1. Método da meia seção para cálculo de vazão nos cursos d´água....... 2.2. Método da seção média para o cálculo da vazão em cursos d´água...... 2.3. Método dos flutuadores para a determinação da vazão em cursos d´água ........................................................................................ 2.4. Velocidade média e limites práticos ................................................... 3. CARACTERÍSTICAS DOS ESCOAMENTOS LIVRES ........................ 3.1. Tipos de Escoamentos......................................................................... completar ...... Lições de Hidráulica Básica - Parte II 2 ESCOAMENTO EM CONDUTOS LIVRES (CANAIS) 1. Generalidades O escoamento da água com uma superfície livre sujeita à pressão atmosférica é um dos problemas que os engenheiros enfrentam e que são resolvidos com a aplicação de teorias e métodos da hidráulica dos canais abertos. Tais escoamentos são representados pelos escoamentos que acontecem em rios, canais, canais de drenagem, canaletas, calhas, condutores de água pluvial, bueiros e nos pequenos cursos d’água de diversas naturezas. Em tais escoamentos a determinação do nível da água é parte integrante do problema e o escoamento formado é denominado escoamento em canais. O equacionamento dos escoamentos com superfície livre fica mais complicado visto que está presente um grande número de variáveis que caracterizam o escoamento real. Assim é preciso fazer hipóteses simplificadoras de forma a se obter um resultado mais simples e que possa ser compreendido mais facilmente. As hipóteses simplificadoras serão tanto melhores quanto mais o resultado obtido se aproximar dos valores reais observados. Em muitos casos, a complexidade dos problemas pode ser representada pela introdução de coeficientes empíricos, determinados experimentalmente, que tornam os resultados teóricos aceitáveis. São também chamados de escoamento em canais; • São escoamentos em que o líquido possui uma superfície livre sujeita à pressão atmosférica; • O contorno sólido do escoamento não é completamente fechado, apresentando uma superfície livre em contato com o ar atmosférico; principal força responsável pelo escoamento � força gravitacional Lições de Hidráulica Básica - Parte II 3 Exemplos de escoamentos livres: • cursos d’água, riachos, ribeirões e rios; • canais artificiais: geração de energia elétrica, irrigação, abastecimento, drenagem ou controle de cheias; • galerias pluviais e coletores de esgotos; • canaletas, calhas e túneis canais. Na figura xx representa-se os escoamentos em um canal de seção trapezoidal e em um canal de seção circular. Fig. xx - Desenho esquemático de escoamentos livre em canais de seção trapezoidal e em canais de seção circular. Os escoamentos serão representados pela sua seção transversal ao escoamento conforme ilustrado na figura xx, nos casos de escoamentos livres e de escoamento em conduto forçado (caso d). Fig. xx - Seções transversais para: a) Canal Trapezoidal, b) Canal Circular parcialmente cheio, c) canal circular a seção plena, d) Duto sob pressão Lições de Hidráulica Básica - Parte II 4 • A solução exata dos problemas de escoamento em canais é mais complexa que a dos escoamentos em tubos, devido à forma variável da seção, à variação do grau de rugosidade das paredes e à variação da altura na lâmina d’água, declividade do fundo, etc. 1.1. TIPOS DE ESCOAMENTOS: Escoamentos em condutos livres se classificam em diversas categorias, principalmente no que diz respeito à variação das grandezas no espaço e no tempo. Alteração das características do escoamento tais como áltura da lâmina d´água, área da seção, perímetro molhado, velocidade do escoamento, etc, dá origem a diferentes tipos de escoamentos, sintetizados no quadro seguinte. Permanente as grandezas, tais como vazão, velocidade, profundidade e área não variam com o tempo: Q = constante. Não permanente as grandezas, tais como vazão, velocidade, profundidade e área variam com o tempo: Q = variável (onda de cheia). CLASSIFI- CAÇÃO Uniforme velocidade, vazão e profundidade permanecem constantes com a posição. Variado (não uniforme) velocidade, vazão e profundidade variam com a posição (crista de vertedor): gradualmente e bruscamente variado. Laminar Fluido escoa em lâminas aproximadamente paralelas, sendo que uma porção não se mistura com outras. Turbulento Fluido se movimenta de forma complexa, formando turbilhões. Paralelo Filetes fluidos são aproximadamente paralelos. Não paralelo Filetes fluidos divergentes ou convergentes. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 5 No escoamento uniforme a redução da energia potencial devida à queda na altura ocorre através da dissipação de energia por atrito e por turbulência. Assim, velocidade, área, vazão e profundidade permanecem constantes. Esse regime pode acontecer em canais longos, de inclinação e seção reta constantes, distantes de estruturas de controle da água. Assim, em qualquer canal com rugosidade, de seção reta e inclinação constantes, existe, para uma dada vazão, apenas uma profundidade da água, ho, para a qual o escoamento será uniforme. Em canal longo, de forma geométrica, rugosidade e inclinação constantesa água escoa pela ação da gravidade, com velocidade, V, e profundidade, h. Forças que movem o líquido = Forças de atrito (resistência) Aumento de declividade: � V aumenta � h diminui � Fmov =Fresist; Vazão constante � Escoamento permanente \ � linha d’água paralela ao fundo V e H constantes � Escoamento uniforme / Nos escoamentos permanentes, a vazão e as demais grandezas envolvidas não variam com o tempo em um dado ponto. Matematicamente, podemos expressar tal condição afirmando que ∂[grandeza]/∂t = 0. Já nos escoamentos não permanentes, tanto a vazão como as demais grandezas presentes no escoamento variam com o tempo em uma dada posição do espaço. Matematicamente, escreve-se que ∂[grandeza]/∂t ≠ 0. As equações são mais Lições de Hidráulica Básica - Parte II 6 complexas e, em geral não têm uma solução analítica, requerendo o uso de métodos computacionais que irão fornecer uma solução numérica. Em geral são escoamentos temporários e que, com o passar do tempo tornam-se permanentes. É o caso do estudo das enchentes, representados por uma onda de cheia que se propaga ao longo do canal, tornando o escoamento variável no tempo e variado no espaço. Nos escoamentos gradualmente variados as grandezas presentes variam pouco ao longo do eixo do canal. O nível d’água varia pouco devido a introdução de uma estrutura destinada a controlar o escoamento. Nesse caso pode-se admitir que as pressões variam de forma hidrostática (proporcional à altura da água). É o caso da elevação do nível da água necessária para atravessar uma represa destinada a armazenar água. Nesse caso, as forças gravitacionais e as forças devidas à viscosidade podem ser consideradas em equilíbrio para pequenos trechos do escoamento. Em muitos casos, o escoamento é bruscamente variado pois mudanças nas grandezas ocorrem de maneira rápida e em pequenos trechos dos escoamentos. Esse é o caso da elevação brusca do nível da água que se observa no ressalto hidráulico ou mesmo na saída de comportas de fundo instaladas em reservatórios de acumulação de água. Em todos os casos dos escoamentos em canais, o conhecimento da seção transversal do escoamento (perpendicular à direção do escoamento) é de fundamental importância, pois os elementos geométricos envolvidos devem ter relações definidas com os elementos hidráulicos. 1.2. ELEMENTOS DA SEÇÃO TRANSVERSAL Considere uma seção transversal de um curso d’água de forma arbitrária, conforme ilustrado na Fig. Xx, onde o eixo das abscissas, Ox, é horizontal e disposto ao longo do eixo do curso d’água (normal à figura). O eixo Lições de Hidráulica Básica - Parte II 7 das ordenadas, Oy, está na horizontal, perpendicularmente ao eixo principal do escoamento e o eixo das cotas, Oz, é vertical e com sentido contrário ao da gravidade. A superfície livre é horizontal e está a uma distância h do nível mais baixo do fundo. Para essa seção transversal foram desenhadas as curvas de igual velocidade para o escoamento. Fig. Xx – Esquema de uma seção transversal ao escoamento, de forma genérica, com as coordenadas usadas na sua definição e as curvas de igual velocidade. Características da seção transversal: Profundidade, h: distância vertical entre o ponto mais baixo da seção transversal do canal e a superfície livre do líquido. Largura na superfície, B: distância horizontal entre margem esquerda e direita, medida na superfície livre. Área Molhada, A: área da seção transversal perpendicular à direção do escoamento. Perímetro molhado, P: comprimento da linha de contorno da área molhada. Raio Hidráulico, RH: relação entre área molhada e perímetro molhado. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 8 Tipos de seções transversais: 1. simples: Retangular: A = B h B = b P = B + 2h RH = Bh/(B + 2h) Trapezoidal: tgθ = 1/z e z = cotgθ A = h(b + zh)= (B + b) h / 2; B = b + 2zh 212 zhbP ++= 212 )( zhb zhbh RH ++ += Se z = 0 � retângulo; Se b = 0 � triângulo; Triangular: tgθ = 1/z e z = cotgθ A = Bh/2 = h2 z B = 2hz P = l + l 212 zh += 2124 z hz l Bh RH + == Circular: sendo θ medido em radianos D h R h R hR 211 2 cos −=−=−=θ ou −= D ho21arccos2θ , A = AAEB = Asetor OBEC - Atriangulo OBC. = Lições de Hidráulica Básica - Parte II 9 2 22 222 R sen sen RR A θθθθ −=−= ou ( )θθ senDA −= 8 2 ou − −− −= D h D h D h D hD A 121421arccos2 8 2 2 θ DsenB = ou )(2 hDhB −= P = arco BEC ou P = (D/2).θ ou )/21arccos( DhDP −= RH = A / P ou −= θ θsenD Rh 14 Parabólica: A = 2Bh/3 B = 3A/(2h) +++ += 22 161 4 ln 4 161 2 B h B h h B B hB P RH = A / P 2. Compostas Triangular/retangular Definir equações de A, P e Rh Triangular de fundo arredondado ( ) zarcRzzRhRzhA cot1)(2 222 +−+−+= [ ]21)(2 zRRhzB ++−= [ ])cot(1)(2 2 zarczRzRhP +++−= Lições de Hidráulica Básica - Parte II 10 Retangular de fundo arredondado hrbrA )2(2 2 2 ++ −= π hbrP 2)2( ++−= π rbB 2+= 3. Naturais Fig. xx - Canal natural de leito simples e de leito múliplo A = f(y); B = f1 (y) e P = f2 (y) 1.3. VARIAÇÃO DA PRESSÃO NA SEÇÃO TRANSVERSAL Distribuição de p é muito importante no estudo do escoamento em canais: ∆p = pf - patm Fig. xx - Perfil longitudinal de um escoamento em canal Lições de Hidráulica Básica - Parte II 11 Se o escoamento é paralelo: a pressão tem distribuição hidrostática e varia linearmente com a profundidade. hghp γρ == com θcoshd = � θρ cos/gdp = Se θ ≤ 10º (1:5,7) � declividade pequena: h ≈ d � p = γ h. Se θ > 10º (1:5,7) � declividade grande: h ≠ d. 1.4. Profundidade Média Também denominada de profundidade hidráulica é a relação entre a área da seção transversal do escoamento e a largura na superfície . bdhdA= ∫= h bdhA 0 B A h = 1.5. DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES NOS CANAIS Em uma seção transversal ao escoamento, a velocidade varia com a posição, devido a presença das forças cisalhantes que geram atrito contra o fundo e nas paredes laterais do canal. Diz-se que a velocidade do escoamento é função da posição. Forças cisalhantes (atrito): � água/fundo; � água/paredes laterais; � água/ar Lições de Hidráulica Básica - Parte II 12 vdA→ ; vdAdQ = ; ∫= A vdAQ Para representar o escoamento de uma forma geral, usa-se determinar um valor para a velocidade, denominada de velocidade média, tal que: A QV = ou ∫= AvdAA V 1 Esse valor é que deverá ser usado na solução macroscópica dos problemas relativo ao escoamento nos condutos com superfície livre. Em geral, a velocidade dos escoamentos nos canais é uma função da posição e do tempo. Nos escoamentos permanentes, a dependência é apenas da posição e, nesse caso, diz-se que: V = f(x,y,z) 1.5.1. Variação da velocidade numa seção transversal de um canal: Quando se considera uma seção transversal ao escoamento em um canal, observa-se que a distribuição da velocidade não é uniforme. O efeito da tensão cisalhante (devida à viscosidade) nas paredes laterais, no fundo e na superfície livre em contato com o ar age de maneira desigual, com reflexo na falta de uniformidade da velocidade na seção transversal. A distribuição de velocidades referida irá depender da forma da seção e das condições hidrodinâmicas do escoamento. Na figura xx ilustra-se a distribuição das velocidades medidas ao longo de linhas horizontais em diversos pontos da seção transversal de um escoamentoLições de Hidráulica Básica - Parte II 13 em canal de fundo curvo e paredes quase verticais. Observar que muito próximo da parede a velocidade já assume valores consideráveis, tendendo a ter uma menor variabilidade na região central. Isso é devido à presença da camada limite. Fig. Xx – Esquema de variação da velocidade numa seção transversal de um canal. Na seção transversal ilustrada pode ser observado, ainda, que a velocidade máxima não ocorre na superfície livre e sim um pouco abaixo dela. Em escoamentos em canais rasos e de maior velocidade a velocidade máxima se encontra mais próxima à superfície. A rugosidade do leito provoca uma maior variação da velocidade segundo uma direção vertical. Em uma curva a velocidade na parte exterior da é maior e menor na parte interior. Com o conhecimento das velocidades em diversos pontos da seção transversal é possível traçar curvas de igual velocidade, com intervalos convenientes, mostrando mais claramente como ocorre a distribuição de velocidades. Tais linhas são denominadas de isótacas, usadas para avaliação da vazão escoada. ISÓTACA: linha de igual velocidade em uma seção transversal do escoamento. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 14 As figuras seguintes ilustram a distribuição de velocidade ao longo das seções transversais para algumas formas geométricas da seção. Seção retangular: Se a seção é de maior largura que a altura existe diferenças significativas na distribuição de velocidades, conforme lustrado na figura xx. Figura XX - Isótacas em seções retangulares larga e estreita. Seção triangular: A figura xx mostra um esquema da distribuição de velocidades em um escoamento em canal de seção triangular. Figura xx - Distribuição de velocidades em um escoamento livre de seção triangular Lições de Hidráulica Básica - Parte II 15 Seção trapezoidal: é muito utilizada na construção de canais. A figura xx mostra um esquema da distribuição de velocidades nos escoamentos que utilizam a seção trapezoidal. Figura xx - Distribuição de velocidades em um escoamento livre de seção trapezoidal Seção circular: Os escoamentos livres que ocorrem com seção transversal de forma circular possuem uma distribuição de velocidades dependente da altura da Lâmina d´água, conforme ilustrado na figura xx. Figura xx - Distribuição de velocidades em um escoamento livre de seção circular de maior profundidade em valo raso. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 16 Seção natural: É encontrada nos cursos d´águas naturais e costuma ser muito irregulares, inclusive apresentando leitos múltiplos, conforme ilustrado na figura xx, que apresenta um esquema da distribuição irregular de velocidades. Figura xx - Distribuição de velocidades em um escoamento livre em um curso d´água natural com dois leitos. 1.5.2. Variação da velocidade segundo a vertical: Se considerarmos uma direção vertical pertencente a uma determinada seção transversal do escoamento em canais, observa-se que a velocidade é função da altura h, variando desde um valor nulo no fundo do canal até um valor na superfície de contato entre a água e o ar, onde age a pressão atmosférica, passando por um valor máximo próximo a essa superfície livre. Na figura xx ilustra-se o perfil de velocidades segundo uma vertical de um escoamento em canal para duas situações: fundo rugoso e fundo liso. Observar que já bem próximo a fundo a velocidade tem um valor significativamente diferente de zero, sendo menor no caso do leito rugoso. No caso do fundo liso a curva que forma o perfil de velocidades é mais suave. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 17 Figura xx - Comparação do perfil de velocidades para o escoamento em um canal de leito liso e de leito rugoso. A velocidade também se distribui de maneira diferente, quando várias verticais traçadas ao longo da seção transversal são comparadas. Assim constata-se que ao longo de toda a seção transversal de um escoamento em canal a velocidade varia desde zero no fundo ou nas paredes laterais, até um valor máximo próximo ao centro e à superfície livre. Diversas verticais possuem distribuição de velocidade com a altura diferentes, conforme exemplifica a figura xx. Figura xx - Perfis de velocidade em verticais diferentes Lições de Hidráulica Básica - Parte II 18 Para um escoamento em canal conforme ilustrado na figura xx, as verticais 1, 2 e 3 terão diferentes distribuições de velocidades. Figura xx - Variação da velocidade em verticais distintas. A velocidade segundo uma vertical tem uma distribuição aproximadamente parabólica com a altura medida à partir do fundo. Para representar a distribuição de velocidades ao longo de uma vertical de uma seção transversal de um escoamento, como ilustrado na figura xx, diversas equações de previsão do perfil de velocidades tem sido propostas. Figura xx - Perfil de velocidades genérico Lições de Hidráulica Básica - Parte II 19 Para representar a distribuição de velocidades que ocorre ao longo de uma direção vertical de uma seção transversal ao escoamento em canais, é usual usar uma equação que obedece a uma lei logarítmica do tipo: oo h h kIgh vv log 3,2max = − ou ++= oh h ghI k vv log3,21 1 onde h é a distância do ponto ao fundo do canal onde a velocidade é v, ho é a profundidade do mesmo, vmax é a velocidade máxima na vertical, I é a declividade da linha de energia e k uma constante. Outras equações podem ser utilizadas para representar a variação da velocidade com a altura segundo a vertical de um escoamento de líquido que tenha uma superfície livre. Em um escoamento turbulento completamente desenvolvido, uma aproximação razoável é a lei de potência de Prandtl na forma: n oh h v v /1 max = co n variando entre 4 e 12, dependendo do atrito na superfície que encerra o escoamento e da forma da seção transversal. É usual utilizar a lei com n igual a 7 e a equação passa a ser denominada lei da raiz sétima. Numa vertical,observa-se que Vmax ocorre entre 5% e 25% de , medida à partir da superfície livre. A velocidade média em uma vertical ocorre abaixo da superfície livre a uma distância aproximadamente igual a 0,60h. 1.5.3. Determinação da velocidade média segundo uma vertical Na determinação da vazão em rios ou cursos d´água naturais, muitos métodos têm sido empregados, destacando-se os denominados métodos de Lições de Hidráulica Básica - Parte II 20 velocidade-área, nos quais a vazão será determinada somando-se os diversos produtos entre a velocidade média segundo uma vertical e a sua área de influência. Assim, a vazão ficará determinada pela integral: ∫= AvdAQ Como a velocidade varia com a profundidade em uma vertical, é conveniente, em muitos casos, conhecer a velocidade média segundo a direção vertical de um escoamento e admitir que ela permanece aproximadamente constante ao longo de uma faixa vertical. Tal velocidade pode ser obtida através de um processo de integração da velocidade com a profundidade, tal que: ∫= oh o vdh h V 0 1 onde v é a velocidade que se observa a uma altura h e ho é a profundidade da água na seção transversal. Numa tentativa de se obter um valor aproximado para a velocidade média numa vertical, algumas propostas são feitas e aceitas pelos hidrometristas. Numa primeira aproximação, para valores pequenos de ho, considera-se que a velocidade média seja igual á velocidade que se obtém a 60% da profundidade, medida em relação à superfície livre (0,60h), com erro máximo de aproximadamente 3% e médio de 1%,. Assim, pode-se aproximar a velocidade média pela velocidade observada a 60% da profundidade medida à partir da superfícielivre: 6,0VV ≅ Porém, quando a profundidade ho se torna maior, tal valor é um pouco discrepante dos valores obtidos experimentalmente, de forma que uma novo valor foi proposto, considerando-se as velocidades que se obtém a 0,20ho e Lições de Hidráulica Básica - Parte II 21 0,80ho, medidas em relação à superfície livre, com erro máximo da ordem de 1% e um erro médio quase nulo, de forma que: 2 8,02,0 VVV + = Em determinações que requerem maior precisão, é costume considerar que a velocidade média em uma vertical de uma seção transversal seja dada por: 4 2 6,08,02,0 VVVV ++ = Observa-se, também que a velocidade média em uma vertical varia entre 0,75 e 0,95 da velocidade observada na superfície da água. Também é possível, na prática, aproximar a velocidade junto ao fundo como sendo aproximadamente 0,75 da velocidade média observada na vertical. Tais valores são empregados nas campanhas para determinação da vazão em cursos d´águas naturais e em rios. 2. MÉTODO DE MEDIÇÃO DE VAZÃO EM RIOS A vazão nos cursos d´água ou rios pode ser medida por um grande número de métodos, dependendo das condições topográficas e hidrodinâmicas de cada um. Sabe-se que a área da seção transversal de um rio tem uma forma irregular e nenhuma equação simples pode ser utilizada para o seu cálculo. Assim também ocorre com a velocidade, que varia ao longo da seção transversal, de forma que aproximações numéricas são empregadas para se calcular a vazão ao se multiplicar a velocidade pela área na qual ela prevalece. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 22 Um dos métodos de medição de vazão em rios ou cursos d´água naturais é pela determinação da velocidade média em diversas verticais de uma mesma seção transversal ao escoamento e, posteriormente, fazer uso de uma fórmula para realizar a integração numérica ao longo de toda a seção transversal. Para a determinação da velocidade em um dado ponto de um curso d´água é usual utilizar um equipamento denominado molinete hidrométrico, composto por um rotor ou hélice que, ao ser imersa no escoamento passa a girar proporcionalmente à velocidade do escoamento naquela posição. Com a calibração do equipamento, é possível determinar-se a velocidade do escoamento através da medição da velocidade de rotação da hélice, cronometrando-se um intervalo de tempo para que seja dada um certo número de rotações, conhecido. Nos molinetes empregados a variação da velocidade do escoamento é linear com a velocidade de rotação da hélice de forma que v = a + b.N com N em rotação por minuto e v em m/s. A constante a e o coeficiente b são determinadas experimentalmente para cada conjunto molinete hidrométrico e hélice. Com o uso da equação de calibração e com a medida de N no campo, determina-se a velocidade na posição escolhida. A figura xx ilustra o mini molinete HIDROMEC 8143 com a hélice Nº. 3. Para esse molinete uma equação experimental fornece a velocidade do escoamento: V (m/s) = 0,00420 x N (rpm) + 0,0177. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 23 Fig. xx - Mini molinete HIDROMEC 8143. Para medir a rotação da hélice, pode-se utilizar um cronômetro para medir o tempo para que a hélice dê um número pré-fixado de voltas. O número de rotações dividido pelo tempo em minutos fornece a rotação em rpm, que levada na equação do molinete fornece a velocidade do escoamento na posição em que o molinete foi instalado. Fig. xx - Contado de pulsos da HIDROMEC Outra alternativa é utilizar um contador de pulsos como o da HIDROMEC ilustrado na figura xx. Nesse caso escolhe-se um tempo adequado na chave de tempo, pressiona-se o botão de início e, ao final do intervalo de tempo escolhido o mostrador informa o número de voltas dado pela hélice. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 24 Nesse caso basta dividir o número de voltas indicado pelo tempo escolhido, para se ter a velocidade de rotação da hélice em rpm. Um outro dispositivo, atualmente muito vantajoso para se determinar a velocidade do escoamento ou mesmo a distribuição de velocidade ao longo de um vertical é o velocímetro baseado no efeito Doppler (ADV). Tal qual um molinete hidrométrico, o equipamento é capaz de medir a velocidade do escoamento em uma dada profundidade, pela emissão de um feixe de som de frequência conhecida que, ao ser refletido por uma partícula, é captado por um sensor que verifica a variação de frequência da onda refletida. À partir de algumas considerações específicas, a velocidade das partículas onde o feixe sonoro foi refletido é determinada. Tal equipamento mostra diretamente a velocidade (ou suas componentes) que pode ser armazenada em sua memória. Na maioria dos casos o equipamento possui recursos para registrar a velocidade e da posição da sonda na vertical e na seção estabelecida, o que irá facilitar a determinação da vazão. Atualmente a medida da velocidade com tal método atinge uma resolução de 0,001 m/s. Com algoritmo previamente escolhido, a integração das vazões parciais é realizada e a vazão total do curso d´água é determinada com grande precisão. Um exemplo desse tipo de equipamento é o modelo Flowtracker, fabricado pela SONTEK, com capacidade para medir vazões em pequenos cursos d´água com profundidades desde 2 cm até 1,20 m (ou 2,40 m em casos especiais). O Flowtracker mede duas ou três componentes da velocidade numa dada posição. Lembre-se de que somente a componente longitudinal (perpendicular à seção transversal do curso d´água) é considerada para a medida da vazão. As demais componentes não contribuem para a vazão na seção transversal. O Flowtracker já considera essa recomendação para o cálculo automático da vazão. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 25 Fig. xx - Flowtracker com o dispositivo de mão (computador e visor) e a sonda bidimensional instalada em um canal para simulação de escoamentos livres. Nos métodos de velocidade-área, a velocidade média em uma vertical previamente escolhida ao longo de uma seção transversal de um curso d´água será multiplicada pela sua área de influência para a obtenção da vazão parcial na parte da seção transversal que corresponde à vertical considerada. Muitos algoritmos são apresentados por diversos organismos para melhorar a precisão na medida vazão do curso d´água. maiores detalhes serão vistos nos tópicos seguintes. Fig. xx - Vertical e sua área de influência no método velocidade-área. Como visto na figura xx, a vazão parcial segundo a vertical i poderá ser calculada, dentre outros métodos, por: Lições de Hidráulica Básica - Parte II 26 Qi = hi x di x Vi Repetindo o procedimento acima para verticais escolhidas desde a margem esquerda até a margem direita e somando-se todas as vazões parciais, obtém-se a vazão total do curso d´água. Então, para se medir a vazão de um curso d´água pelo método velocidade-área, o primeiro passo é escolher o local adequado para o traçado da seção transversal, que conterá as verticais a serem escolhidas. Para isso, algumas considerações devem ser observadas: • Escolher um local em que haja a máxima uniformidade do fundo possível; • O local ideal deve apresentar um escoamento bem definido, paralelamente às margens, sem escoamentos reversos ou obstruções ao escoamento; • Estender uma fita graduada (trena) de uma margem à outra, perpendicularmente à direção principal do escoamento; • Iniciar a medida em uma das margens, anotando a leitura na trena onde a margem se inicia, bem como a profundidade da água nesse ponto; • A seção transversal do rio será dividida em várias estações (entre 20 e 30 verticais) e em cada estação será definida uma linha vertical, cuja posição na fita dever ser anotada, assim como a profundidade e as velocidades medidas, usadas para determinação da velocidade médianaquela vertical; • É recomendável que numa vertical a vazão parcial seja sempre inferior a 10% da vazão total, para que os erros de medição não sejam grandes. A figura xx ilustra uma seção transversal escolhida para a medida da vazão em um curso d´água natural. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 27 Fig. xx - Curso d´água e a seção transversal escolhida para a medida da vazão. Vários métodos foram propostos para o cálculo da vazão pelo método velocidade-área. 2.1. Método da meia seção para cálculo da vazão em cursos d´água. Para integração dos perfis verticais, muitos métodos podem ser usados. Um deles é o método da meia seção, usado pelo U. S. Geological Survey (USGS), agência governamental americana responsável pelo monitoramento das vazões nos rios daquele país, ser discutido. A metodologia completa está padronizada pela ISO 748 (1997) e 9196 (1992). A aplicação do método está baseado na medida da velocidade média do escoamento em diversas verticais, de profundidades também medidas no campo, segundo distâncias previamente definidas, ao longo de uma seção transversal de um rio ou curso d´água. De forma geral, as distâncias entre as verticais são fixadas de forma que a vazão em uma faixa vertical não ultrapasse 10% da vazão total da seção medida. Isso significa um processo em que as velocidades serão medidas em cerca de 20 a 30 verticais. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 28 No método da meia-seção, admite-se que a velocidade média em cada vertical represente a velocidade média da subseção correspondente. Cada subseção é definida como tendo uma largura igual à metade da distância que separa as verticais anterior e seguinte à vertical em que se mede a velocidade, conforme mostrado na Figura xx. Figura xx - Elementos envolvidos no cálculo da vazão em cursos d´água pelo método da meia seção. i = índice contador das verticais a serem medidas, variando de 0 (margem esquerda) a n (margem direita). yi = posição transversal da vertical i (lida em uma trena ou cabo de aço graduado, à partir de uma origem arbitrária em uma estaca cravada em uma das margens). yo = posição transversal da margem esquerda (vertical 0) yn = posição transversal da margem direita (vertical n) Hi = profundidade da vertical. Ho = profundidade observada na margem esquerda Hn = profundidade observada na margem direita Li = largura da área de influência correspondente à vertical i. 2 11 −+ −= iii yy L , com i = 1 a n-1 Lições de Hidráulica Básica - Parte II 29 Largura da área de influência da vertical nas margens: 2 01 0 yy L −= e 2 1−−= nnN yy L Ai = área de influência da vertical i com i = 1 a n-1 iii HLA .= com i = 1 a n-1 Área considerada nas margens: 000 .HLA = e nnN HLA .= Vi = velocidade média na vertical i, com i = 0 a n. Fator de correção para a velocidade das margens: Co e Cn a ser definido pelo usuário, sendo menor ou igual a 1, em geral adotado entre 0,65 e 0,90. Nesse caso a velocidade na margem não é medida por impossibilidade de se instalar o equipamento. Velocidade média para as margens: 100 .VCV = e 1. −= nnn VCV Qi = vazão parcial na área de influência da vertical i, com i = 0 a n. iii VAQ .= , com com i = 1 a n-1 Vazão parcial nas margens: 000 .VAQ = e nnn VAQ .= Q = vazão total na seção transversal escolhida ∑∑ == n ii n i AVQQ 00 Lembrar que, se um rio encontra-se dividido em múltiplos canais, formando ilhas internas, o fato deve ser considerado no cálculo da vazão, através das considerações sobre as verticais de cada margens vistas anteriormente. A margem esquerda é encontrada quando o observador dá as costas para a nascente e fica de frente para a foz do rio. Para profundidades inferiores a 0,60 m utiliza-se medir a velocidade apenas a 0,60 da profundidade em relação à superfície livre. Para profundidades superiores a 0,60 m e 1,20 m utiliza-se a média das velocidades a 0,20 e 0,80 da Lições de Hidráulica Básica - Parte II 30 profundidade. Entre 1,20 m e 2,00 m, utiliza-se as velocidades a 0,20, 0,60 e 0,80 da profundidade. Entre 2,00 m e 4,00 m utiliza-se as velocidades na superfície (a 0,10 m abaixo da superfície), 0,20, 0,40, 0,60 e 0,80 da profundidade. Acima de 4,00 m usa-se as velocidades na superfície, o,20, 0,40, 0,60, 0,80 e no fundo (o mais próximo do fundo possível). Lições de Hidráulica Básica - Parte II 31 Exemplo: Planilha de medição de vazão em um rio nas imediações de Ouro Preto, com um mini molinete hidrométrico, em uma campanha de campo com os alunos de Hidráulica II, em dezembro de 2013. DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL/EM/UFOP LABORATÓRIO DE HIDRÁULICA MEDIÇÃO DE VAZÃO EM RIOS - Método da Meia Seção Código: M1 Rio: Maracujá - Estação Fluviométrica IGAM Nro. Medição: 1a. Data: 07/12/2013 Hora: 11:50:00 Leitura Régua: Iníco: 1,340 m Final: 1,360 m Média: 1,350 m Equipe: Grupo 3 - Molinete Hidrométrico Molinete: Hidromec 8143 Hélice: 3 (D=50 mm) Equação do molinete: V (m/s) = 0,00420.N(rpm) + 0,0177 Ver- ti Pos. Transv. Lar- gura Prof. Pos. Molinete Tem- po Rot. V ponto V. Média Área Parcial Vazão Parcial Vazão Acum. (m) (m) (m) (m) (s) (m/s) (m/s) (m2) (m3/s) (m3/s) 0 0,31 0,150 0,170 60 0 0,0000 0,0000 0,0255 0,0000 0,0000 1 0,61 0,300 0,350 0,140 60 14 0,0765 0,0765 0,1050 0,0080 0,0080 2 0,91 0,300 0,605 0,242 60 39 0,1815 0,1815 0,1815 0,0329 0,0410 3 1,21 0,400 0,640 0,256 60 52 0,2361 0,2361 0,2560 0,0604 0,1014 4 1,71 0,495 0,520 0,208 60 77 0,3411 0,3411 0,2574 0,0878 0,1892 5 2,20 0,495 0,465 0,186 60 90 0,3957 0,3957 0,2302 0,0911 0,2803 6 2,70 0,500 0,440 0,176 60 94 0,4125 0,4125 0,2200 0,0908 0,3710 7 3,20 0,500 0,420 0,168 60 97 0,4251 0,4251 0,2100 0,0893 0,4603 8 3,70 0,500 0,400 0,160 60 104 0,4545 0,4545 0,2000 0,0909 0,5512 9 4,20 0,500 0,390 0,156 60 109 0,4755 0,4755 0,1950 0,0927 0,6439 10 4,70 0,500 0,350 0,140 60 112 0,4881 0,4881 0,1750 0,0854 0,7294 11 5,20 0,500 0,320 0,128 60 116 0,5049 0,5049 0,1600 0,0808 0,8101 12 5,70 0,500 0,270 0,108 60 116 0,5049 0,5049 0,1350 0,0682 0,8783 13 6,20 0,500 0,290 0,116 60 104 0,4545 0,4545 0,1450 0,0659 0,9442 14 6,70 0,500 0,300 0,120 60 94 0,4125 0,4125 0,1500 0,0619 1,0061 15 7,20 0,500 0,320 0,128 60 83 0,3663 0,3663 0,1600 0,0586 1,0647 16 7,70 0,500 0,310 0,124 60 80 0,3537 0,3537 0,1550 0,0548 1,1195 17 8,20 0,400 0,270 0,108 60 71 0,3159 0,3159 0,1080 0,0341 1,1536 18 8,50 0,300 0,300 0,120 60 67 0,2991 0,2991 0,0900 0,0269 1,1805 19 8,80 0,300 0,400 0,160 60 31 0,1479 0,1479 0,1200 0,0177 1,1983 20 9,10 0,300 0,400 0,160 60 6 0,0429 0,0429 0,1200 0,0051 1,2034 21 9,40 0,150 0,330 0,132 60 0 0,0000 0,0000 0,0495 0,0000 1,2034 22 9,40 0,000 0,000 0,000 60 0 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 1,2034 Valor da vazão obtida: 1,2034 m3/s. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 32 2.2. Método da seção média para cálculo da vazão em cursos d´água. Descrever Lições de Hidráulica Básica - Parte II 33 2.3. Método dos Flutuadores para a determinação da vazão em cursos d´água. Quando a determinação da vazão não requerer grande exatidão ou no caso de não se dispor de recursos adequados a uma medida mais precisa, pode- se utilizar um flutuador para obter a velocidade média do escoamento e, à partir daí, calcular a vazão do curso d´água. O método consiste em escolher um trecho retilíneo do curso d´água, o mais uniforme possível, de comprimento L (maior que 2 ou 3 vezes a largura do rio), onde será lançado um flutuador que se movimentará juntamente com a corrente líquida. O tempo, ∆t, gasto para o flutuador percorrer a distância L é medido e a velocidade do flutuador determinada por: Vfl = L/∆t, em m/s. Para encontrara velocidade média do escoamento, um coeficiente menor do que 1,00 deverá ser aplicado à Vfl, ficando tal coeficiente entre 0,80 e 0,90. A dificuldade é estabelecer o valor desse coeficiente, que depende de alguns fatores externos. Assim, V = k.Vfl Na prática, três tipos de flutuadores podem ser utilizados: flutuador superficial, flutuador subsuperficial e bastão flutuante, conforme ilustrado na figura xx. Fig. xx - Desenho esquemático de diferentes tipos de flutuadores Lições de Hidráulica Básica - Parte II 34 Flutuador superficial: São objetos aproximadamente esféricos capazes de flutuar na superfície da água, o mais imerso possível, porém que ainda podem ser vistos pela superfície. Eles medem a velocidade superficial, de forma que a velocidade média na vertical será obtida pela multiplicação da velocidade do flutuador por um fator que se encontra entre 0,80 e 0,90. Este tipo de flutuador é influenciado pela ação do vento ou de ondas superficiais ou de correntes superficiais que podem desviar a trajetória do flutuador da direção longitudinal do trecho escolhido. Flutuador subsuperficial: São constituídos por flutuadores de superfície ligados por um fio a um corpo submerso (formando um lastro) que se encontra a uma profundidade previamente escolhida. O lastro é mantido, geralmente, a 60% da profundidade média do trecho, medida em relação à superfície da água. Dessa forma a velocidade medida se aproxima da velocidade que se observaria nessa profundidade e será admitida como a velocidade média da seção. Aqui, também é necessário aplicar um fator de correção à velocidade do flutuador, para obtenção da velocidade média do escoamento, que em geral se encontra entre 0,90 e 1,0. Bastão flutuante: São construídos por tubos metálicos ocos ou de material de massa específica inferior à da água (alguns tipos de madeira), com um lastro instalado na sua parte inferior (chumbo ou areia), de maneira que eles passam a flutuar em posição próxima da posição vertical. O comprimento total do bastão (B), deve ser inferior a 95% da profundidade média local, observando-se que ele não deve tocar o fundo ao longo do trecho de medida. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 35 Estudos feitos por Francis demonstram que a velocidade média na vertical é dependente da velocidade do flutuador e da relação entre o comprimento do flutuador e a profundidade média no trecho de medição. Assim, estima-se a velocidade média na seção pela equação: −−= H B VV fl 1116,102,1 Essa equação é válida para B/H superior a 0,75. Procedimentos: 1. Escolher um trecho de rio retilíneo, com o escoamento o mais uniforme possível e com um mínimo de turbulência. O ideal é que o flutuador percorra a distância entre os piquetes sempre da mesma forma. 2. Definir o comprimento do trecho, L, entre 2 e 3 vezes a largura do trecho. 3. Marcar a distância entre as seções, L, com piquetes, em uma das margens. 4. Testar o funcionamento do cronômetro. Ele será acionado quando o flutuador passar pelo primeiro piquete e travado quando passar pelo segundo piquete. 5. Escolher o tipo de flutuador adequado; Até garrafas PET podem ser utilizadas parcialmente cheias com água, de forma que apenas o gargalo fique acima da superfície da água. Lembre-se de que não se deve ter a influência do vento sobre o flutuador. 6. Lançar o flutuador um pouco a montante do primeiro piquete para fazer as medidas de tempo. Adotar como tempo médio a média de pelo menos três medidas de tempo. 7. Calcular a velocidade média do flutuador: Vfl. 8. Calcular a velocidade média do escoamento, aplicando-se o fator de redução sobre a velocidade do flutuador: V = k.Vfl. 9. Esticar uma fita graduada (trena) de uma margem a outra do rio, perpendicularmente à direção principal do escoamento. Com uma régua Lições de Hidráulica Básica - Parte II 36 graduada, medir as profundidades desde uma margem até a outra, em posições definidas pela fita graduada. Desenhar o perfil do fundo da seção e calcular a área, A, entre o fundo e a superfície livre. Determinar a área para um mínimo de duas seções transversais e adotar a área média. 10. Calcular a vazão por Q = V.A 2.4. Velocidade Média e Limites Práticos O custo de execução de um canal para o escoamento de uma dada vazão é função do seu tamanho e, assim, será tanto menor quanto a área da sua seção transversal, o que se consegue elevando-se a velocidade média do escoamento ao máximo valor possível, sem que haja erosão do fundo e das paredes. Assim, a velocidade média do escoamento deverá estar limitada à resistência do material utilizado na confecção das paredes e fundo do canal. Água limpa pode escoar com velocidade elevadas (até 10 m/s) sem danificar o material do revestimento. Entretanto, se partículas em suspensão, as velocidades não podes ser muito elevadas, sob pena de danificar o revestimento do fundo e das paredes do canal. De maneira análoga, a velocidade não pode ficar abaixo de um certo limite mínimo, sob pena de haver deposição de eventuais partículas ou materiais em suspensão. � Para dimensionar canais: Vmin < Vmed < Vmax . Vmin � é a velocidade abaixo da qual o material sólido contido na água é sedimentado, provocando assoreamento do canal. Vmax � é a velocidade acima da qual ocorre erosão das paredes do canal. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 37 A tabela seguinte fornece os valores médios para as velocidades nos canais e os valores que não devem ser ultrapassados, sob risco de haver erosão das paredes ou fundo dos canais. Tabela para velocidades médias e máximas nos canais: Material da Parede Vmed (m/s) Vmax (m/s) Areia muito fina Areia solta (média) Areia grossa 0,23 0,30 0,46 0,30 0,46 0,61 Terreno arenoso comum Terreno de aluvião Terreno argiloso compacto 0,61 0,84 0,91 0,76 0,91 1,14 Cascalho grosso ou pedregulho Rochas moles (xistos) 1,52 1,83 1,83 2,44 Alvenaria Rochas compactas Concreto 2,44 3,05 4,00 3,05 4,00 6,00 Paschoal Silvestre Velocidades muito baixas podem propiciar a deposição de material em suspensão ou mesmo o crescimento de plantas aquáticas. Em canais de terra, velocidades da ordem de 0,60 m/s impedem o assoreamento e a fixação de vegetação.Para que não haja possibilidade de sedimentação das partículas carreadas pela água em suspensão, as velocidades devem ter um valor mínimo, conforme dados na tabela seguinte. Tabela de velocidades mínimas para não deposição: Tipo de Suspensão Vmin (m/s) Água com suspensão fina 0,30 Água com areia fina 0,45 Água contendo esgoto 0,60 Águas pluviais 0,75 Azevedo Neto Lições de Hidráulica Básica - Parte II 38 Para canais de terra, a velocidade recomendada para uso nos projetos dos canais, impedindo a erosão das paredes e a deposição de partículas suspensas pode ser obtida através da fórmula de Kennedy, dada por: 64,0ChV = onde h é a profundidade média no canal e C um coeficiente que depende da granulometria do material em suspensão, conforme pode ser visto na tabela seguinte. Tabela dos coeficientes da fórmula de Kennedy para uso em projetos de canais de terra Tipo de Material em Suspensão C Água com material extremamente fino 0,36 Água com areia muito fina (0,125-0,25 mm) 0,55 Água com areia fina (0,25-0,50 mm) 0,59 Água com areia média ou barro graúdo (0,5-1,0 mm) 0,65 Água com areia grossa (1,0.2,0 mm) 0,70 Eurico Trindade Neves Para projetos de canais é costume, também, observar recomendações práticas para as velocidades médias nos canais, conforme tabela seguinte. Tabela de Velocidades Práticas Tipo de Canal Vmed (m/s) Canais p/ navegação sem Revestimento <0,50 Aquedutos p/ água potável 0,60 a 1,30 Coletores e emissários de esgotos0,50 a 1,50 Canais industriais, sem revestimento 0,40 a 0,80 Canais industriais, com revestimento 0,60 a 1,30 Azevedo Neto Ainda, no projeto dos canais é comum observar inclinações para os taludes que formam as paredes dos canais, visto que existe limitações de estabilidade para os diversos materiais. A tabela seguinte fornece Lições de Hidráulica Básica - Parte II 39 recomendações para a declividade das faces dos canais, onde z refere-se a declividade na forma 1:z (V:H) e β o ângulo da face com a direção vertical. Limitação de Talude (Valores Máximos) Tipo de parede z β Canais em terra sem revestimento 2,5–5,0 68 º a 79 º Canais em saibro, terra porosa 2 63 º Canais em cascalho roliço 1,75 60 º Terra compacta sem revestimento 1,5 56 º Terra compactada ou paredes rochosos 1,25 51 º Rocha estratificada ou alvenaria com pedra bruta 0,5 26,5 º Rocha compacta, alvenaria acabada, concreto 0 0º Azevedo Neto (modificada) OBS: β = inclinação do talude com a vertical e z = tgβ Quando se trata de se estabelecer a declividade longitudinal do eixo do canal, também é preciso levar em conta certos limites, já que a velocidade de escoamento é função da declividade do fundo do canal, Io. A tabela seguinte ilustra alguns casos práticos de declividade do fundo nos canais. Tabela de Declividades Usuais Tipo de Canal Io (m/km) Canais p/ navegação <0,25 Canais industriais 0,40 a 0,50 Canais de irrigação, pequenos 0,60 a 0,80 Canais de irrigação, grandes 0,20 a 0,50 Aquedutos p/ água potável 0,15 a 1,00 Azevedo Neto Quando se trata do projeto de escoamentos em coletores de esgoto, a declividade do fundo do coletor não deve ultrapassar os limites estabelecidos na tabela seguinte. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 40 Declividade de coletores de Esgoto Diâmetro (m) Declividade mínima recomendada (m/km) Declividades comuns (m/km) 0,10 20 20 a 250 0,15 6 6 a 200 0,20 4 4 a 150 0,25 3,5 3 a 125 0,30 2,5 2 a 100 0,40 1,5 1,5 a 50 0,50 1 1 a 40 0,60 0,75 ... 0,65 0,6 ... 1,00 0,5 0,5 a 10 grandes seções --- 0,25 a 5 Azevedo Neto (modificada) Seções compostas para atender os requisitos de Vmin: Lições de Hidráulica Básica - Parte II 41 3. CARACTERÍSTICAS DOS ESCOAMENTOS LIVRES 3.1. TIPOS DE ESCOAMENTOS: A figura seguinte ilustra os diversos tipos de escoamentos que podem ocorrer nos canais. Fig. xx - Desenho esquemático com diversos tipos de escoamento em canais. Mudança de regime de escoamento pode ocorrer com: - mudança de declividade - variação na seção transversal - eventuais obstáculos no escoamento trecho AC: escoamento variado (acelerado) � h varia, assim como V. Trecho BC: ocorre uma aceleração (componente gravitacional é maior que a resistência ao escoamento). O aumento de velocidade é acompanhado de aumento da resistência ao escoamento até tornar- se igual em C. trecho CD: escoamento torna-se estabelecido e uniforme � h torna-se constante, assim como V. trecho DE: escoamento variado bruscamente, pois sofre desaceleração rápida devida à diminuição da declividade entre D e E. Depois ocorre a formação de remanso para atravessar o obstáculo. Profundidade normal (ho): é a profundidade do escoamento uniforme. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 42 3.2. Nomeclatura: Fig. Xx – Elementos hidráulicos da seção longitudinal do escoamento em um canal. PCE � plano de carga efetivo. z = cota � energia potencial por unidade de peso de fluido. Define a linha de fundo do canal. h = p/γ � energia de pressão por unidade de peso de fluido V � Velocidade média: V = Q / A. g V 2 2 � energia cinética por unidade de peso de fluido. Na realidade dever-se-ia usar g V 2 2 α . α varia entre 1,00 e 1,10, dependendo da maneira como a velocidade se distribui na seção transversal. Na prática, geralmente é adotado α = 1,00. z + h � altura que define a linha piezométrica (LP) ou linha do gradiente hidráulico (LGH). Em trechos retilíneos com declividade constante, essa linha coincide com a superfície livre do líquido. A inclinação da LP é denominada de gradiente hidráulico, Ia. g V hzH 2 2 α++= � em qualquer seção transversal é a carga total ou energia total por unidade de peso de fluido. Ela define a linha de energia (LE) ou linha de carga. A sua inclinação é o gradiente de energia, I. g V hHe 2 2 α+= � carga ou energia específica hf = H1 – H2 � perda de carga Lições de Hidráulica Básica - Parte II 43 3.3. ESCOAMENTOS LAMINAR E TURBULENTO Conforme visto em Hidráulica I. NÚMERO DE REYNOLDS: Força de inércia: Fi = ma = ρL3V2/L = ρV2L2 Força viscosa: Fv = µAdv/dy = µVL 2/L = µVL • Re = Fi/Fv • Escoamento em canais normalmente turbulento e completamente rugoso • Re = VRh / ν • Tubos: Re = VD/ν � Re > 2000 � esc. turbulento • Canais: Re = VRh/ν com Rh = D/4 � Re > 500 � Esc. turbulento 3.4. NÚMERO DE FROUDE g i r F F F = Força gravitacional: Fg = mg = ρL3g gL LV Fr 3 22 ρ ρ= ou c r gL V F = Nos canais: Lc = profundidade do escoamento, h Lições de Hidráulica Básica - Parte II 44 3.5. DECLIVIDADES IMPORTANTES: Fig. xx - Desenho esquemático das principais declividades nos escoamentos em canais. Io = declividade do leito (fundo) Ia = declividade da superfície da água Ie = declividade da linha de energia Io = (z1 - z2) / ∆x Ia = [(z1 + h1) - (z2 + h2)] / ∆x L h L g V hz g V hz I fe = ++−++ = 22 2 2 22 2 1 11 ∆x = L cos θ se θ é pequeno � cos θ ≅ 1 � L ≅ ∆x Lições de Hidráulica Básica - Parte II 45 4. ESCOAMENTO UNIFORME EM CONDUTOS LIVRES 4.1. Introdução Um escoamento é uniforme quando as grandezas que representam o escoamento não variam com a posição, num determinado instante. Em canais, com escoamento de líquidos, as principais grandezas usadas para a descrição do escoamento são a profundidade do líquido, a largura e a área da seção transversal, a declividade longitudinal do fundo do canal e a vazão. Assim, nos escoamentos em condutos livres, diz-se que o escoamento é uniforme quando a profundidade, a área da seção transversal, a velocidade média e a vazão são constantes ao longo do canal, num dado instante. Nesse caso: h, A, Vmed e Q não variam, logo • superfície // fundo // linha de energia • Raramente ocorre em canais naturais: é uma aproximação prática. Fig. xx - Desenho esquemático de um trecho com escoamento uniforme. 4.2. lei de Chézy: Considerar um escoamento com superfície livre em que a área da seção transversal, a profundidade, a velocidade média e a declividade do fundo sejam constantes (escoamento uniforme). Nesse caso: Lições de Hidráulica Básica - Parte II 46 Profundidades \ seção transversal| são constantes � | h1 = h2 velocidade média / | V1 = V2 | Io = Ia = tgθ = -∆y/∆x | Ie =hf/L = senθ Seja uma seção longitudinal ao longo do eixo do canal, conforme ilustrado na Fig. xx, onde estão representados os principais elementos necessários à descrição do escoamento, bem como a hipotética seção transversal. Considerar duas seções transversais traçadas a uma distância L medida no fundo do canal. O volume de líquido contido entre as duas seções, o fundo do canal e a superfície livre é Vol. Denominou-se de θ o ângulo de inclinação do fundo do canal com um plano horizontal, mesmo ângulo entre a vertical que coincide com o peso do líquido e um direção perpendicular ao fundo do canal. Fig. xx - Desenho esquemático de uma seção longitudinal traçada ao longo de um escoamento em um canal, com uma superfície livre. Considerações: 1. se θ é pequeno: usualmenteθ < 5,7o ou tgθ < 1/10 Lições de Hidráulica Básica - Parte II 47 � senθ ≅ tgθ ≅ Io ≅ Ia ≅ Ie 2. se θ > 5,7o � distinguir entre Io e Ie 3. Perda de energia: ++− ++=−= g V hy g V hyHHhf 22 2 2 22 2 1 112112 Como V1 = V2 e h1 = h2, tem-se que a perda de carga entre as duas seções transversais será: hyyh f ∆=−= 2112 Fazendo o equilíbrio de forças segundo um eixo paralelo ao fundo do canal e considerando uma situação em que a aceleração longitudinal é nula, tem-se: F1 + P.sen θ - τo Per L - F2 = 0, onde τo é a tensão cisalhante média no contorno e Per o perímetro molhado. Considerar F1 = F2 , as forças resultante da ação do líquido sobre as seções de área A1 e A2, respectivamente. A profundidade h é constante e o peso do líquido contido no volume Vol será P = γ.Vol. Substituindo na equação resultante do equilíbrio das forças, tem-se: γ Vol senθ = τo Per L e, como senθ = = h L If e ; R A Ph er = e V AL= , pode-se escrever que: L R A L h AL h o f τγ = expressão que pode ser escrita de uma forma simplificada como τ γo hR I= . Se θ é pequeno I = I o , de forma que a equação do equilíbrio de forças se resume a: τ γo h oR I= Esta equação é denominada de equação fundamental do escoamento uniforme. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 48 Mas, considerando que L h I f 12= e que a perda de carga entre as seções 1 e 2 seja dada pela fórmula universal da perda de carga, g V D L fhf 2 2 12 = , podemos dizer que a declividade do fundo do canal será: L g V D L f I 2 2 = ou g V D f I 2 2 = . Considerando que o raio hidráulico é definido pela relação P A Rh = e que no caso dos escoamentos em tubulações de seção transversal circular de diâmetro D, tem-se hh RD D D D P A R 4 44 2 =⇒=== π π , Para os escoamentos em canais, a equação da declividade fica escrita em função do raio hidráulico, dimensão mais apropriada para se usar nos equacionamentos da seguinte forma: o h I g V R f I == 24 2 Então, substituindo na equação de τo, tem-se: 2424 22 Vf g V R f gR o h ho ρτρτ =⇒= ou, quando se adota um coeficiente tal que Cf = f/4, a equação da tensão cisalhante na parede fica sendo: 2 2V C fo ρτ = ; Logo, igualando-se com o resultado anteriormente obtido, tem-se: oHf IgRVC ρρ =2 2 e, explicitando-se a velocidade média do escoamento, tem- Lições de Hidráulica Básica - Parte II 49 se uma equação bastante útil para previsão da velocidade média do escoamento uniforme em um canal: oH f IR C g V 2= Essa equação é a fórmula geral para estudo dos escoamentos uniformes nos canais. Lembrar que Cf = coeficiente de atrito usual nos estudos dos escoamentos em canais e f = fator de atrito usual nos escoamentos em condutos forçados. Chézy, no passado, já tinha chegado a tal resultado, apenas adotando uma constante C tal que: f g C C g C f 8 ou 2 == A equação de Cézy (1775) para os escoamentos uniforme em canais fica sendo: V C R Ih o= � lei de CHÉZY (1775) onde C = coeficiente de Chézy ou fator de resistência de Chézy, Rh o raio hidráulico da seção do escoamento e Io a declividade do fundo do canal. O coeficiente de Chézy representa o efeito das forças de atrito decorrentes da viscosidade que agem no fundo e nas paredes dos escoamentos livres. C varia de 40 a cerca de 100: 40 para parede rugosa e 100 para parede lisa. Como C e f estão relacionados, todas as considerações feitas para f se aplicam para C. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 50 4.3. FÓRMULA DE MANNING (1890) É uma das fórmulas mais usada e confiável para escoamentos uniforme em canais, publicada por Manning em 1890, e construída à partir de numerosos testes de campo e de laboratório. Mesmo em países que adotam outras fórmulas para o cálculo dos canais, ela vem sendo utilizada com muita vantagem, devido à sua simplicidade. Manning propôs que o coeficiente de Chézy, além de variar com a rugosidade do fundo e das paredes, também variava com as condições do escoamento, representadas pelo número de Reynolds. Assim, Manning propôs que C = f(Rh,n) e em seguida afirmou que C R n h= 1 6/ , onde n é o coeficiente de rugosidade de Manning (o mesmo usado por Ganguillet e Kutter). Assim, já que Q = A V, tem-se a equação de Manning escrita para a velocidade média e para a vazão, respectivamente: V n R Ih o= 1 2 3 1 2/ / ou Q n AR Ih o= 1 2 3 1 2/ / A escolha de n para um caso real é muito crítica, devido à sua variabilidade. Se a superfície por onde o líquido escoa é regular, n é mais preciso. Se a superfície é natural, a escolha de n torna-se difícil e imprecisa. Para leito e paredes lisa, n vale cerca de 0,011. Para paredes rugosa, n pode atingir mais de 0,10. Lembrar que n é uma grandeza dimensional, possuindo unidades: U(n)=m-1/3.s. A literatura traz diversas tabelas com valores para n, numa tentativa de abranger todas as situações encontradas na prática. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 51 Tabela do coeficiente n de Manning: Segundo Azevedo Neto, Vol. II, 7ª Ed. Natureza das Paredes n Alvenaria: de pedras brutas 0,020 de pedras retangulares 0,017 de tijolos sem revestimento 0,015 De tijolos revestida 0,012 Canais de concreto: acabamento ordinário 0,014 com revestimento liso 0,012 Canais com revestimento muito liso 0,010 Canais de terra: em boas condições 0,025 com plantas aquáticas 0,035 Canais irregulares e mal conservados 0,040 Condutos de madeira aparelhada 0,011 Condutos de manilha cerâmica 0,013 Tubos de aço soldado 0,011 Tubos de concreto 0,013 Tubos de ferro fundido 0,012 Tubos de cimento-amianto 0,011 Tabela do coeficiente n de Manning: Segundo Hwang. Natureza das Paredes n Superfície lisa, de aço 0,012 Metal corrugado 0,024 Concreto liso 0,011 Bueiro de concreto (com junta) 0,013 Tijolo vidrado 0,013 Escavação em terra, limpa 0,022 Leito natural de riacho, limpo, reto 0,030 Leito em rocha lisa 0,035 Canais sem conservação 0,050-0,100 Lições de Hidráulica Básica - Parte II 52 Tabela do coeficiente n de Manning: Segundo Prof. Alfredo Bandini, Vol. I. Natureza das Paredes n Canais de chapas com rebites embutidos, juntas perfeitas e água limpa. Tubos de cimento e de fundição em perfeitas condições. 0,011 Canais de cimento muito liso, dimensões limitadas, madeira aplainada e lixada, trechos retilíneos compridos e curvas de grande raio e água limpa. Tubos de fundição usados. 0,012 Canais com reboco de cimento liso, curvas de raio limitado e águas não completamente limpas; construídos com madeira lisa, mas com curvas de raio moderado. 0,013 Canais com reboco de cimento não completamente liso; de madeira aplainada e lixada, porém com traçado tortuoso e curvas de pequeno raio e juntas imperfeitas. 0,014 Canais com parede de cimento não completamente lisas, com curvas estreitas e águas com detritos; construídos de madeira não aplainada de chapas rebitadas. 0,015 Canais com reboco de cimento não muito alisado e pequenos depósitos no fundo; revestido por madeira não aplainada; de alvenaria construído com esmero; de terra sem vegetação. 0,016 Canais com reboco de cimento incompleto, juntas irregulares, andamento tortuoso e depósitos no fundo; de alvenaria revestindo taludes não bem perfilados. 0,017 Canais com reboco de cimento rugoso, depósitos no fundo, musgo nas paredes e traçado tortuoso. 0,018 Canais de alvenaria em más condições de manutenção e fundo com barro, ou de alvenaria de pedregulhos; de terra bem construídos, sem vegetação e com curvas de grande raio. 0,020 Canais de chapa rebitadas e juntas irregulares;de terra, bem construídos com pequenos depósitos no fundo e vegetação rasteira nos taludes. 0,022 Canais de terra com vegetação rasteira no fundo e nos taludes 0,025 Canais de terra, com vegetação normal, fundo com cascalhos ou irregular por causa de erosões; revestidos com pedregulhos e vegetação 0,030 Álveos naturais, cobertos de cascalhos e vegetação 0,035 Álveos naturais, andamento tortuoso 0,040 Lições de Hidráulica Básica - Parte II 53 4.4. OUTRAS FÓRMULAS PARA O ESCOAMENTO UNIFORME Diversas outras fórmulas práticas são encontradas na literatura, tais como Tadine, Prony, St. Venant, Eytelvein, Bazin, etc. As fórmulas modernas tiveram origem nas fórmulas práticas, postulando que o coeficiente de atrito depende da natureza das paredes e do tipo do escoamento. O aluno interessado deverá pesquisar a respeito. Tadini (1828) estabeleceu que a velocidade média de escoamento em um canal, em regime uniforme, é proporcional à raiz quadrada do produto entre o raio hidráulico e a declividade do fundo, de forma que: ohIRV 50= Tal fórmula é de fácil aplicação e pode ser usada em cálculos aproximados, principalmente no caso de canais rasos e largos, quando prevalece o efeito da rugosidade do fundo. Bazin (1855-1869), por sua vez, baseado em experiências próprias e de Darcy, estabeleceu que ohIRCV = , como na fórmula de Chézy, onde o coeficiente C seria dado por hR n C ' 1 87 + = onde n’ é o coef. de Bazin e varia entre 0,06 e 1,75, conforme a natureza das paredes do canal e segundo a tabela seguinte. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 54 Ord. Natureza das paredes n' 1 Paredes muito lisas: cimento alisado, madeira aplainada 0,06 2 Paredes lisas: madeira não aplainada, pedra regular, tijolos 0,16 3 Paredes com alvenaria de pedra bruta 0,46 4 Paredes mistas, seções regulares de terra ou empedradas 0,85 5 Canais de terra, em condições ordinárias 1,30 6 Canais de terra, com excepcional resistência, fundo com vegetação e pedras 1,75 Tal fórmula já foi muito empregada na frança, assim como no Brasil. Ela vem sendo substituída por fórmulas mais modernas, como a de Manning. Contessini propôs uma modificação na fórmula de Basin, adotando um valor de C e um expoente para o raio hidráulico maior do que 0,5, dependendo, também, da natureza das paredes do canal. Nesse caso: o x h IRCV .= . Ele propôs que para canais de paredes muito lisas, C = 81,4 e x = 0,54. No caso do canal ter as parede de concreto pouco lisas e com irregularidades decorrentes das formas usadas, C=62,4 e x = 0,67. Diversos outros valores foram propostos por Contessini. Ganguillet e Kutter (1969), engenheiros suíços basearam-se em um grande número de experimentos realizados em canais artificiais e naturais e à luz da base de conhecimento existente até então, propuseram uma fórmula de grande aceitação nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha. A fórmula proposta se aplica tanto para canais de pequeno e grande porte, submetidos a grandes vazões. Na verdade adotaram a fórmula de Chézy, porém com um coeficiente de atrito modificado que dependia tanto de um coeficiente de rugosidade quanto do raio hidráulico e da declividade, de forma que: ho o R n I nI C ++ ++ = 00155,0 231 100155,0 23 Lições de Hidráulica Básica - Parte II 55 Como se pode ver a declividade do fundo somente começa a influenciar significativamente no valor de C quando for superior a 0,001 m/m. Para valores maiores, C fica praticamente independente da declividade do fundo do canal. A tabela seguinte fornece valores de n para as diversas situações, conforme proposto por Ganguillet e Kutter. Ord. Natureza das paredes n 1 Paredes muito lisas: cimento alisado, madeira aplainada 0,010 2 Paredes lisas: madeira não aplainada, pedra aparelhada, tijolos 0,013 3 Paredes pouco lisas em alvenaria de pedra aparelhada 0,017 4 Paredes pouco rugosas em alvenaria de pedra bruta 0,020 5 Paredes de terra irregulares ou empedradas 0,025 6 Paredes de terra com pedras e vegetação 0,030 7 Paredes de terra com pedras irregulares e mal conservadas 0,035 8 Canais de terra e pedras, muito irregulares com vegetação e lodo 0,040 Outros pesquisadores, como Horton, detalharam o coeficiente de atrito, n, para outras situações, tornando a aplicação da equação de Ganguillet e Kutter com boa aproximação para casos reais. A tabela seguinte, extraída do Curso de Hidráulica do Professor Eurico Trindade Neves ilustra algumas situações práticas. Valores do coeficiente de Ganguillet e Kutter e a natureza das paredes dos canais. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 56 Natureza das paredes Condições muito boas Boas Regulares Ruins Tubos de ferro fundido sem revestimento 0,012 0,013 0,014 0,015 Tubos de aço galvanizado 0,013 0,014 0,015 0,017 Condutos de barro vitrificado de esgotos 0,011 0,013 0,015 0,017 Alvenaria de tijolos com argamassa de cimento, condutos de tijolos para esgotos 0,012 0,013 0,015 0,017 Superfícies de cimento alisados 0,010 0,011 0,012 0,013 Tubos de concreto 0,012 0,013 0,015 0,016 Canais com revestimento de concreto 0,012 0,014 0,016 0,018 Alvenaria de pedra argamassada 0,017 0,020 0,025 0,030 Alvenaria de pedra seca 0,025 0,033 0,033 0,035 Alvenaria de pedra aparelhada 0,013 0,014 0,015 0,017 Calhas metálicas semicirculares lisas 0,011 0,012 0,013 0,015 Calhas metálicas circulares corrugadas 0,023 0,025 0,028 0,030 Canais de terra, retilíneos e uniformes 0,017 0,020 0,023 0,025 Canais abertos em rochas e uniformes 0,025 0,030 0,033 0,035 Canais abertos em rochas irregulares ou com paredes de pedras irregulares e mal arrumadas 0,035 0,040 0,045 Canais dragados 0,025 0,028 0,030 0,033 Canais com leito pedregoso e vegetação nos taludes 0,025 0,030 0,035 0,04 Paredes de terra com pedras e vegetação 0,030 Canais com fundo de terra e taludes empedrados 0,028 0,030 0,033 0,035 Arroios e rios limpos, retilíneos e uniformes 0,025 0,028 0,030 0,033 Arroios e rios limpos, retilíneos e uniformes mas com vegetação e pedras 0,030 0,033 0,035 0,040 Arroios e rios com meandros, bancos e poços pouco profundos, porém limpos 0,035 0,040 0,045 0,050 Arroios e rios com meandros, bancos e poços pouco profundos, porém com vegetação e pedras 0,033 0,035 0,040 0,045 Arroios e rios com margens espraiadas e muita vegetação 0,075 0,100 0,125 0,150 Lições de Hidráulica Básica - Parte II 57 Para os canais de grandes dimensões, pode-se utilizar a fórmula proposta por Forccheimer que estabelece o valor da velocidade média nos canais como sendo: oh IRCV 7,0.= Nesse caso, os valores de C são dados em função da natureza do revestimento das paredes dos canais, conforme tabela seguinte, extraída do Curso de Hidráulica Geral do Prof. Eurico Trindade Neves. Tabela com os valores de C da fórmula de Forccheimer Ord. Natureza das paredes C 1 Canais com revestimento de cimento liso ou de madeira aparelhada 80 a 90 2 Canais revestidos em alvenaria de pedra em boas condições 70 3 Canais com paredes revestidas em concreto sem alisar 60 4 Canais com revestimento de cimento, pouco liso ou em alvenaria comum 50 5 Canais de terra em boas condições 40 6 Cursos d´água naturais 24 a 30 Para cursos d´água naturais, existem fórmulas empíricas que tentam considerar a diversidade de comportamento dos parâmetros do escoamento, entretanto, sendo difícil de se encontrar uma fórmula com bons resultados em todos os casos. Uma fórmula simples e que deve ser empregada com cuidado é devida a Hermanek, em que a velocidade média do escoamento depende da profundidade média (hm) e da declividade do fundo do canal (Io), nos seguintes termos: Para hm menor ou igual a 1,50 m: omm IhhV .7,30= Para hm entre 1,50m e 6,0 m: omm IhhV.34= Para hm igual ou superior a 6,0 m: om m Ih h V .2 .2,50 += Lições de Hidráulica Básica - Parte II 58 4.5. PROBLEMAS HIDRÁULICAMENTE DETERMINADOS São aqueles em que o elemento desconhecido é deduzido diretamente das equações da continuidade e do movimento. Temos basicamente 3 tipos de problemas envolvendo Chézy e Manning: 1o.) Calcular Q dados n, A, Rh e Io; 2o.) Calcular Io dados n, A, Rh e Q; 3o.) Calcular A e Rh dados n, Q e Io. Obs: O primeiro e o segundo problemas são resolvidos diretamente. O terceiro é mais trabalhoso, em decorrência da maior dificuldade em se resolver a equação envolvendo a área e o raio hidráulico: )( . 3/2 hfAR I Qn h o == Lições de Hidráulica Básica - Parte II 59 CÁLCULO AUTOMÁTICO: Método de Newton Raphson: raiz de F(x) = 0 ver figura no quadro ( ) ( ) 00 )(1 0)( 0 01 0 01 xx dx dF xF xx dx dFxF xx −=∴ − = − − Generalizando: ( ) mx m mm dx dF xF xx )( 1 −=+ Se 0 Re 35,9 log214,1 1 )( = ++−= fD e f fF Então: f fD e f e ffdf dF Re Re 35,9 log35,9 2 1 + −−= Partindo de um valor f0 iteramos até encontra f com a precisão desejada: mx m mm df dF fF ff −=+ )( 1 Lições de Hidráulica Básica - Parte II 60 4.6. EXEMPLOS: 1. Um canal construído de concreto ( n = 0,011), com 5 m2 de área da seção transversal e raio hidráulico 1,20 m, tem inclinação do fundo igual a 0,005 m/m. Calcular a vazão que será escoada nesse canal. Resposta: Q = 36,30 m3/s Lições de Hidráulica Básica - Parte II 61 2. Um canal de irrigação, de seção retangular com largura igual a 3,00 m, conduz uma vazão de 25,3 m3/s de água quando a profundidade for de 1,20 m. Sendo o coeficiente de rugosidade de Manning igual a 0,022, calcular a declividade do canal. Resposta: Io = 0,0410 m/m Lições de Hidráulica Básica - Parte II 62 3. Um canal de seção transversal trapezoidal de 10 m de largura no fundo tem paredes laterais com inclinação de 1:2. O canal é revestido com argamassa de cimento alisada em boas condições (n = 0,011) e possui a declividade do fundo igual a 0,1 m/km. Sabendo que o escoamento é uniforme e que a profundidade da água vale 2,00 m, pede-se determinar a vazão escoada. Resposta: Q = 33,03 m3/s Lições de Hidráulica Básica - Parte II 63 4. Calcular a altura da lâmina d´água do escoamento uniforme que ocorre em um canal com a seção transversal mostrada abaixo, quando a vazão for 0,20 m3/s e a declividade do fundo 0,0004. Adotar n = 0,013. Resposta: h = 0,32 m. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 64 5. Uma canaleta de rodovia a seção transversal com a forma mostrada na figura seguinte, de altura 28 cm e declividade longitudinal de 1:600 (v:h). Supondo que irá ocorrer um escoamento uniforme nessa canaleta, verificar se ela terá capacidade para escoar 12 l/s de água, sem transbordar. Adotar n = 0,013. Resposta: Sim, pois a vazão nessa canaleta será de 28,4 l/s se o escoamento ocorrer com altura de 28 cm. Sim, calculando h tem-se h =20,28 cm. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 65 5. DIMENSIONAMENTO DE CANAIS EM ESCOAMENTO UNIFORME Conforme livro Hidráulica Básica do Rodrigo M. Porto, cp. 8.4, pg 248 Quando a água escoa em um canal e se observa que a seção transversal, a profundidade de água e a velocidade não variam de um ponto para outro, o escoamento é dito uniforme. No escoamento uniforme em canais a equação de Manning permite o cálculo da vazão escoada, quando se conhece os demais elementos. Nesse caso: oh IARn Q 32 1= .................01 Nessa equação: Q é a vazão, n é o coeficiente de rugosidade de Manning, A é a área da seção transversal ao escoamento, Rh é o raio hidráulico e Io a declividade do fundo do canal. Quando se deseja calcular os elementos da seção transversal, por exemplo, para determinação da profundidade, à partir de uma vazão, declividade e rugosidade conhecidas, a equação de Manning, pode ser escrita na forma: 32 h o AR I nQ = .................02 Nessa equação, o primeiro membro representa as condições hidrodinâmicas necessárias para o escoamento acontecer. Já o segundo membro Lições de Hidráulica Básica - Parte II 66 representa apenas as condições geométricas que a seção transversal do escoamento deve obedecer para que haja o escoamento. É de caráter puramente geométrico e, uma vez escolhida uma determinada forma geométrica da seção transversal, existirá mais de uma combinação dos elementos dessa seção (largura, altura da lâmina d´água, etc.) que irá satisfazer à Eq. 02. Então, o dimensionamento de um canal, obriga a: 1. escolher uma forma geométrica para a seção transversal e, 2. determinar os elementos que definem a seção transversal. Como a área e o perímetro da seção transversal dependem da profundidade do escoamento, h, o problema passa pela solução de uma equação não linear em função dessa variável. Assim, o h I nQ ARhf == 32)( , define um valor específico de h, valor esse que será usado na definição da seção transversal do escoamento. Atualmente, com o advento dos computadores, a solução de tal equação pode ser encontrada com muita facilidade. Entretanto, existem alguns métodos ainda utilizados para se definir completamente a seção transversal. Um deles passa por tabelar a função decorrente da equação de Manning para cada uma das seções transversais mais utilizadas, conforme será visto a seguir. Para uma seção transversal de forma definida, seja λ uma dimensão característica necessária à completa definição da seção. Nesse caso, A = αλ2 Rh = βλ Onde A é a área da seção transversal do escoamento, Rh o correspondente perímetro molhado, com α e β denominados parâmetros de forma da seção. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 67 Uma vez escolhida uma determinada seção, α e β ficam determinados. A equação de Manning pode, agora, ser escrita em função de α e β, dando: 3232232 λβαλ== h o AR I nQ Nesse caso, escreve-se: 3832 λαβ= oI nQ Observar que as condições geométricas estão expressas no segundo membro da equação anterior. Elevando ambos os membros da equação acima a 3/8, tem-se: λβα 4 1 83 83 = oI nQ Seja M o coeficiente dinâmico modificado, tal que: 83 = oI nQ M ..........03 Seja K um coeficiente de forma tal que: 4183 βα=K ............04 A equação de Manning, finalmente, fica resumida a: K M=λ .....................05 O coeficiente K será calculado e tabelado para as diversas formas geométricas que a seção transversal pode assumir. Lições de Hidráulica Básica - Parte II 68 5.1. CASO DA SEÇÃO TRAPEZOIDAL: Seja uma seção transversal de escoamento em forma de trapézio definida conforme ilustrado na figura XX. Fig. xx - dddd ho = profundidade do escoamento b = largura no fundo B = largura na linha d´água α = ângulo de inclinação das faces do trapézio z = parâmetro que define a inclinação das faces do trapézio No triângulo retângulo de cateto vertical igual a 1 e cateto horizontal igual a z, tem-se: tgα = 1/z � z = 1 / tgα = cotg α ............06 Da semelhança de triângulos, um de altura ho e outro de altura 1, pode-se escrever: x/ho = z/1 � x = z ho ..........................07 A hipotenusa do triângulo retângulo, l será dada por: 22 xhl o += � 21 zhl
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