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CÓ PIA C ON TR OL AD A ■ INTRODUÇÃO Embora dor de cabeça seja uma queixa muito frequente na prática clínica diária, seu diagnóstico diferencial muitas vezes é feito de maneira errada e, consequentemente, o tratamento não é o mais específico nem o mais adequado.1,2 Se for considerado o impacto socioeconômico das cefaleias, baseado em dados recentes da Global Burden of Disease , crises de migrânea ocupam o sétimo lugar entre as patologias que mais causam incapacidade ao longo da vida (years lived with disability — YLWD). Em dados do mesmo estudo, quando avaliados apenas os indivíduos de 25 a 39 anos, a migrânea sobe para a terceira posição em causa de incapacidade, atrás apenas da dor lombar e cervical e da depressão.3 A migrânea apresenta uma prevalência global aproximada de 13,6%, sendo de 17,5% nas mulheres.3 Dados de um estudo de revisão evidenciaram, no Brasil, uma prevalência de cefaleia (qualquer tipo) igual a 70,6% — de migrânea, de 15,8%, de cefaleia do tipo tensional, de 29,5%, e de cefaleia crônica diária, de 6,1%.4 Dada a alta prevalência dos diferentes tipos de cefaleias e, principalmente, o impacto socioeconômico que as crises acarretam, é fundamental ao clínico fazer o diagnóstico correto e instituir o tratamento mais adequado a cada caso, o que promoverá uma melhora substancial da qualidade de vida de seus pacientes. ■ OBJETIVOS Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de: ■ fazer o diagnóstico diferencial entre as principais cefaleias primárias; ■ estabelecer estratégias de tratamento abortivo e profilático para as cefaleias, baseado na melhor evidência disponível; ■ identificar os sinais de alerta (red flags), que indicam investigação complementar para o diagnóstico das cefaleias secundárias. ALAN CHRISTMANN FRÖHLICH CEFALEIAS — ATUALIZAÇÃO NO MANEJO AMBULATORIAL 63 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 | CÓ PIA C ON TR OL AD A 64 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | ■ ESQUEMA CONCEITUAL Conclusão Caso clínico Migrânea Diagnóstico Tratamento da cefaleia do tipo tensional Tratamento da migrânea Cefaleia do tipo tensional Tratamento da crise migranosa Tratamento profi lático da migrânea Cefaleias trigeminoautonômicas Tratamento da cefaleia em salvas Tratamento da hemicrania paroxística e da hemicrania contínua Tratamento das cefaleias unilaterais neuralgiformes de curta duração Tratamento das cefaleias trigeminoautonômicas ATIVIDADES 1. Em que se baseia o diagnóstico das cefaleias? Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 2. Mencione sinais de alerta na avaliação do paciente com cefaleia. Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 3. Qual o principal instrumento que orienta o diagnóstico das cefaleias? Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... CÓ PIA C ON TR OL AD A 65 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |4. Ao se coletar a história clínica, mencione fatores que são rotina na anamnese das cefaleias. Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 5. Em que consiste a migrânea? Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ■ DIAGNÓSTICO O diagnóstico das cefaleias primárias, diferente de outras patologias, é baseado principalmente na história clínica, ou seja, na anamnese e no exame físico. Os exames complementares, como a coleta de líquor cefalorraquidiano ou exames de imagem, são úteis no diagnóstico de cefaleias secundárias, quando dados da história tragam sinais de alerta (red flags)5 que indiquem investigação adicional (Quadro 1). Quadro 1 SINAIS DE ALERTA (RED FLAGS) NA AVALIAÇÃO DOS PACIENTES COM CEFALEIA ■■ Cefaleia de início abrupto (atinge a intensidade máxima em menos de 1 minuto) ■■ Primeira ou pior cefaleia já ocorrida ■■ Progressão subaguda (dias a semanas) com piora na intensidade e/ou frequência ■■ Mudança de padrão ou surgimento de um novo tipo de cefaleia ■■ Novo tipo de cefaleia em pacientes com mais de 50 anos ■■ Cefaleia em pacientes com sintomas sistêmicos (febre, emagrecimento, rinorreia purulenta, hipertensão súbita, espessamento das artérias temporais superficiais, etc.) ■■ Cefaleia em pacientes com HIV ou câncer ■■ Cefaleia em pacientes com glaucoma ou outras doenças oculares ■■ Aura prolongada ou persistente ■■ Cefaleia que surge ou desaparece com a alteração postural ■■ Cefaleia em pacientes com história de epilepsia ou traumatismo craniencefálico recente ■■ Anormalidades no exame neurológico (alteração de consciência, linguagem, motricidade ocular, campos visuais, funções sensitivas ou motoras, papiledema ou sinais de irritação meníngea) ■■ Cefaleia unilateral estrita ou exclusivamente occipital ■■ Ausência de melhora com tratamento adequado ■■ Cefaleia desencadeada pela tosse, atividade física, atividade sexual ou manobra de Valsalva Fonte: Adaptado de Bordini e colaboradores (2016).5 CÓ PIA C ON TR OL AD A 66 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | Desde a primeira edição, publicada em 1988,6 a Classificação Internacional das Cefaleias (International Classification of Headache Disorders — ICHD) modificou a pesquisa e a prática clínica diária. Atualmente na 3ª edição, aICHD-37 é o principal instrumento que orienta o diagnóstico das cefaleias. Ao coletar a história clínica, deve-se lembrar sempre de vários aspectos que são rotina na anamnese da dor e que auxiliarão a codificar as cefaleias dentro dos diagnósticos descritos na ICHD-3:7 ■ número de crises ─ o relato de cefaleia recorrente, com diversas crises ao longo da vida, sugere o diagnóstico de uma cefaleia primária, enquanto uma crise única ou diferente das anteriores leva à suspeita de uma cefaleia secundária; ■ duração e frequência das crises ─ as crises de cefaleia podem durar de segundos a dias ou ocorrer de maneira contínua, com frequência variada, o que auxilia no diagnóstico diferencial; ■ características da cefaleia ─ vários aspectos das crises de cefaleia devem ser avaliados: • qualidade da cefaleia ─ pulsátil, não pulsátil, em choques ou agulhadas; • localização ─ unilateral, bilateral, holocraniana ou localizada em pontos específicos; • intensidade ─ leve, que não atrapalha a realização das atividades diárias; moderada, que atrapalha as atividades diárias; forte, que impede as atividades diárias; ou excruciante, que é extremamente incapacitante; • fatores de alívio e agravantes ─ piora ou melhora com atividade física rotineira, como caminhar ou subir escadas; mudança da cefaleia com a postura (supina ou ortostática); desencadeada por mastigação, calor, frio, vento, toque ou aperto local; ■ sintomas associados: • fotofobia, fonofobia e osmofobia ─ intolerância à luz, barulho e cheiros, respectivamente. Importante salientar que o paciente apresenta esses sintomas durante as crises, mas pode estar absolutamente normal no período em que não está com dor; • náuseas e/ou vômitos ─ a presença ou ausência desses sintomas pode auxiliar no diagnóstico de diferentes tipos de cefaleia, como migrânea e cefaleia do tipo tensional; • sinais autonômicos ─ hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, edema palpebral, sudorese ou anidrose facial, miose e ptose são sintomas caracteristicamente encontrados nas cefaleias trigeminoautonômicas; • postura ou atitude ─ sensação de inquietude, agitação ou preferência por permanecer imóvel, quieto; ■ excluir cefaleias secundárias ─ deve-se sempre estar atento a qualquer achado na história clínica ou exames complementares que sugiram o diagnóstico de uma cefaleia secundária. ■ MIGRÂNEA A migrânea, ou enxaqueca, é uma doença altamente prevalente, com um impacto socioeconômico de grande magnitude. Entretanto, menos de 50% dos indivíduos com migrânea na população em geral recebem tratamento, e somente uma minoria procura tratamento especializado.8 CÓ PIA C ON TR OL AD A 67 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |A fisiopatologia das crises de migrânea envolve uma disfunção no tronco cerebral de vias que normalmente modulam as aferências sensitivas. Diferentes vias e estruturas estão envolvidas na origem e perpetuação dos diferentes sintomas das crises de migrânea, como a via trigeminovascular, o complexo trigeminocervical, o trato quintotalâmico, o núcleo salivatório superior e o gânglio pterigopalatino.9 ATIVIDADES 6. Quais os 2 subtipos da migrânea? Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... É importante o conhecimento desses mecanismos no manejo das cefaleias e, principalmente, a orientação aos pacientes sobre a origem cerebral da migrânea,10 desmitificando inúmeros pré-conceitos a respeito das cefaleias. A migrânea se divide em 2 subtipos principais:7 ■ migrânea sem aura; ■ migrânea com aura. A migrânea sem aura é uma síndrome clínica com características e sintomas associados (Quadro 2). Quadro 2 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA MIGRÂNEA SEM AURA A. Pelo menos 5 crises, preenchendo os critérios B–D. B. Cefaleia durando de 4–72 horas (sem tratamento ou com tratamento ineficaz). C. A cefaleia tem pelo menos 2 das 4 características seguintes: 1. localização unilateral; 2. caráter pulsátil; 3. intensidade moderada ou forte; 4. exacerbada por ou levando o indivíduo a evitar atividades físicas rotineiras (por exemplo: caminhar ou subir escadas). D. Durante a cefaleia, pelo menos 1 dos seguintes: 1. náuseas e/ou vômitos; 2. fotofobia e fonofobia. E. Não mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Fonte: Adaptado de Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) (2013).7 CÓ PIA C ON TR OL AD A 68 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | ATIVIDADES 7. Que outros sintomas a migrânea com aura apresenta além daqueles presentes na migrânea sem aura? Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... A migrânea com aura, além das características e sintomas presentes na migrânea sem aura, apresenta-se com sintomas neurológicos focais que precedem ou acompanham as crises de cefaleia (Quadro 3). Quadro 3 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA MIGRÂNEA COM AURA A. Pelo menos 2 crises, preenchendo os critérios B e C. B. Um ou mais dos seguintes sintomas de aura, completamente reversíveis: 1. visual; 2. sensitiva; 3. fala e/ou linguagem; 4. motora; 5. tronco cerebral; 6. retiniana. C. Pelo menos 2 das 4 características seguintes: 1. pelo menos 1 sintoma de aura desenvolve-se gradualmente em ≥ 5 minutos, e/ou 2 ou mais sintomas ocorrem em sucessão. 2. cada sintoma de aura individual dura de 5–60 minutos. 3. pelo menos 1 dos sintomas de aura é unilateral. 4. a aura é acompanhada, ou seguida, dentro de 60 minutos, por cefaleia. D. Não mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3, e ataque isquêmico transitório foi excluído. Fonte: Adaptado de Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) (2013).7 A aura mais comum é a visual, que ocorre em mais de 90% dos pacientes com migrânea com aura, pelo menos em parte das crises. Os sintomas visuais geralmente ocorrem em uma progressão descrita como espectro de fortificação: uma figura em zigue- zague surge próxima ao ponto de fixação, que gradualmente se alastra para a direita ou esquerda e assume uma forma com convexidade lateral e uma borda angulada cintilante, causando perda de campo visual absoluta ou intensidades variáveis de escotomas. Em outros casos, escotomas sem fenômenos positivos podem ocorrer — esses sintomas, embora possam ser percebidos como de início súbito, geralmente aumentam gradualmente.7 CÓ PIA C ON TR OL AD A 69 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |Independentemente do subtipo, mais de 70% dos pacientes apresentam sinais premonitórios ou pródromos, que ocorrem horas a dias antes do início da cefaleia. A presença de sinais premonitórios está associada a um maior impacto e gravidade da migrânea.11 Os pródromos mais frequentes estão descritos no Quadro 4, a seguir.12 Quadro 4 SINAIS PREMONITÓRIOS FREQUENTES NA MIGRÂNEA Neuropsiquiátricos Sensoriais Gastrintestinais Gerais ■■ Ansiedade ■■ Irritabilidade■■ Tristeza ■■ Dificuldade de concentração ■■ Sonolência ■■ Hiperatividade ■■ Euforia ■■ Fonofobia ■■ Fotofobia ■■ Dificuldade de fala ■■ Náuseas ■■ Flatulência ■■ Fissura por alimentos ■■ Astenia ■■ Fadiga ■■ Rigidez de nuca Fonte: Adaptado de Becker (2013).12 TRATAMENTO DA MIGRÂNEA O fator mais importante no tratamento da migrânea baseia-se na capacidade de ouvir atentamente e orientar de maneira clara os pacientes. Embora o conhecimento e habilidade médicas sejam fundamentais, a migrânea é uma doença complexa, que, além da cefaleia, apresenta diversos desencadeantes, sinais premonitórios e sintomas associados, além de um impacto socioeconômico importante. Os pacientes frequentemente já consultaram diversos especialistas, com diferentes diagnósticos a respeito da cefaleia e têm expectativas variadas em relação ao tratamento. Em um estudo com migranosos, o fator considerado mais importante pelos pacientes foi a disposição do médico a responder perguntas (Figura 1).13 Disposto a responder perguntas Ensina sobre as causas Ensina como tratar as crises Ensina como prevenir as crises Habilidade médica Compaixão 0 20 40 60 80 100 % 61 67 69 72 72 86 Figura 1 — Características do médico consideradas importantes ou muito importantes pelos pacientes com migrânea que procuram atendimento. Fonte: Adaptada de Lipton e Stewart (1999).13 CÓ PIA C ON TR OL AD A 70 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | ATIVIDADES 8. Mencione medidas gerais de tratamento da migrânea. Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 9. Mencione desencadeantes individuais da migrânea. Compare sua resposta com a Figura 2, a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Como medidas gerais de tratamento, os pacientes dever ser orientados sobre os fatores desencadeantes das crises, a fim de que possam identificá-los e evitar os mais comuns. Esses fatores são múltiplos e individuais, e cada paciente deve observar os próprios possíveis desencadeantes.5 Os gatilhos das crises de migrânea mais comuns estão descritos na Figura 2.14 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 79,7 57,3 37,8 32 49,8 38,4 26,9 5,2 65,1 53,2 35,7 30,3 43,7 38,1 22,1 Alim ent açã o Dis túrb io d o s ono Álc ool Do rmi r ta rde Ho rmo nal Ativ ida de sex ual Ce rvic alg ia Ca lor Mu dan ça no clim a Jej um Cla rida de Cig arr o Est res se Exe rcíc io Pe rfum es/ odo res Figura 2 — Frequência de desencadeantes individuais de migrânea que ocorrem pelo menos ocasionalmente (> 33% das crises). Desencadeante hormonal refere-se exclusivamente ao sexo feminino. Fonte: Adaptada de Kelman (2007).14 CÓ PIA C ON TR OL AD A 71 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |Embora as crises de migrânea possam ser desencadeadas por diversos tipos de alimentos, não é recomendado que o paciente faça dietas restritivas, uma vez que a relação entre os tipos de alimentos desencadeantes é muito heterogênea entre os pacientes. O ideal é sempre conversar com o paciente sobre possíveis desencadeantes e evitar apenas aqueles que recorrentemente sejam gatilhos das crises em um determinado paciente. Tratamento da crise migranosa O tratamento das crises de migrânea (tratamento abortivo) deve ser individualizado, dependendo das comorbidades, características, resposta prévia e preferências individuais, associado à melhor evidência científica disponível.15 O tratamento precoce, no início dos primeiros sintomas da crise, é mais efetivo do que quando a medicação abortiva é utilizada mais tardiamente. Durante as crises de migrânea, os pacientes apresentam gastroparesia, que se agrava à medida que a crise evolui e diminui a resposta ao tratamento via oral.16 Na migrânea, o tratamento estratificado é mais adequado do que o tratamento escalonado.17 Diferentemente de outras formas de dor crônica, na qual se aumenta a potência da analgesia gradativamente, nas crises de migrânea, o objetivo é o rápido alívio da dor e reestabelecimento das atividades diárias. Dessa forma, deve ser utilizada a medicação mais específica e mais eficaz, dependendo das características da crise.16 Para crises moderadas a fortes, triptanos devem ser utilizados como primeira escolha de tratamento. Em comparação com os derivados da ergotamina, os triptanos têm vantagens distintas:9 ■ farmacologia mais seletiva; ■ farmacocinética simples e consistente; ■ prescrição baseada em evidências; ■ efeitos adversos moderados; ■ perfil de segurança bem estabelecido. Os triptanos (e derivados da ergotamina) são contraindicados em pacientes com doença cardiovascular e hipertensão não controlada. O uso de triptanos e derivados a ergotamina concomitantemente também é contraindicado. Os pacientes devem ser orientados previamente sobre qual medicamento usar nas crises, bem como sobre o intervalo em que podem repetir a dose, quando necessário, e sobre o número máximo de tomadas por dia. Além disso, devem ser orientados a respeito dos riscos da automedicação e do risco de agravamento das crises pelo uso excessivo de analgésicos. O uso de abortivos mais do que 10 a 15 dias por mês aumenta o risco de cefaleia atribuída ao uso excessivo de medicação. Os pacientes podem se beneficiar da associação com antieméticos mesmo na ausência de náuseas — naqueles com náuseas importantes e vômitos, o uso de medicações com apresentação nasal, subcutânea ou endovenosa são preferíveis. A resposta a um determinado medicamento não pode ser predita com certeza. Por exemplo, cerca de 30% dos pacientes podem não responder ao uso de triptanos. Os pacientes devem ser orientados que existem diversas opções de tratamento, e a resposta deve ser avaliada a cada consulta. CÓ PIA C ON TR OL AD A 72 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | Duas ou mais medicações com mecanismos de ação distintos podem ser combinadas para o tratamento das crises. A combinação mais estudada é a sumatriptana mais naproxeno, cuja associação é mais efetiva do que cada fármaco isoladamente.18 O uso de opioides deve ser evitado, por serem menos efetivos e com maior risco de desenvolvimento de cefaleia atribuída ao uso excessivo de medicamentos. A Tabela 1, a seguir, traz as estratégias de tratamento para as crises de migrânea. Tabela 1 ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO PARA AS CRISES DE MIGRÂNEA Estratégia Medicamentos Doses Intervalo (se repetida dose por recorrência) Dose máxima diária Paracetamol e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): para o tratamento inicial das crises de migrânea de intensidade leve a moderada Paracetamol 1.000mg 4 horas 4.000mg Ácido acetilsalicílico 1.000mg 4 a 6 horas 5.400mg Ibuprofeno 400 a 600mg 4 horas 2.400mg Naproxeno sódico 500 a 550mg 4 horas 1.375mg Diclofenaco potássico 50mg 4 horas 150mg Triptanos: crises de migrânea moderadas a graves Sumatriptana Oral 50a 100mg 2 horas 200mg Nasal 10 a 20mg 2 horas 40mg Subcutânea 6mg 2 horas 12mg Rizatriptana 10mg 2 horas 20mg Zolmitriptana 2,5mg 2horas 10mg Naratriptana 2,5mg 4 horas 5mg Crises refratárias Naproxeno + sumatriptana 500 + 50mg 500 + 85mg 4 horas Duas doses Di-idroergotamina (apenas os que não respondem aos triptanos) 2mg 30min 6mg Clorpromazina 10 a 50mg 6 horas 200mg Dexametasona 4mg 8 horas Fixo por 3 a 5 dias Pacientes com contraindicações a fármacos vasoconstritores AINEs, agonistas dopaminérgicos, analgésicos combinados com cafeína Individualizar Fonte: Adaptada de Bordini e colaboradores (2016);5 Becker (2015).15,19 CÓ PIA C ON TR OL AD A 73 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |Tratamento profilático da migrânea São indicações para o tratamento profilático da migrânea:20 ■ crises recorrentes de migrânea que interferem significativamente com a qualidade de vida e rotina do indivíduo, apesar do manejo dos fatores desencadeantes, uso apropriado das medicações abortivas e estratégias de modificação do estilo de vida; ■ crises frequentes de migrânea (4 ou mais crises por mês ou 8 ou mais dias de cefaleia por mês), devido ao risco de migrânea crônica; ■ falha, contraindicações ou abuso das medicações abortivas; ■ preferência do paciente; ■ presença de tipos específicos de migrânea (migrânea hemiplégica, migrânea com aura de tronco cerebral, aura prolongada ou infarto migranoso). São princípios do tratamento profilático:20 ■ o tratamento profilático deve ser escolhido de acordo com as comorbidades do paciente. Atualmente, todos os medicamentos disponíveis para a profilaxia da migrânea são fármacos que foram inicialmente desenvolvidos para tratamento de outras patologias. Assim, dentre aqueles considerados de primeira e segunda escolhas, pode-se optar pelo que possivelmente terá a melhor efetividade no paciente. Por exemplo, o topiramato pode ser o fármaco de escolha para pacientes com sobrepeso, enquanto um betabloqueador seja mais adequado para hipertensos; ■ deve-se iniciar sempre com doses pequenas e aumentá-las gradualmente. Em geral, as doses máximas são menores do que aquelas utilizadas para o tratamento de outras patologias com o mesmo fármaco; ■ é necessário avaliar a eficácia após um tempo adequado de tratamento antes de considerar falha terapêutica: geralmente, são necessários de 2 a 6 meses antes da resposta máxima; ■ é preciso orientar os pacientes em relação aos objetivos do tratamento e à resposta esperada. A maioria dos ensaios clínicos considera um tratamento bem-sucedido quando há uma redução de 50% ou mais na frequência ou dias de cefaleia, redução na intensidade das crises e melhora da resposta ao tratamento abortivo; ■ deve-se iniciar a profilaxia com monoterapia, ou fazer uso de politerapia racional com medicações com diferentes mecanismos de ação e efeito nas comorbidades; ■ se ocorrer falha no tratamento inicial, deve-se considerar a troca por outro profilático de primeira escolha ou politerapia racional. Faz-se necessário sempre avaliar a possibilidade de abuso de medicamentos analgésicos, que pode ser uma das causas de ineficácia da profilaxia. ■ nos casos de migrânea crônica (dor em mais de 15 dias por mês), deve-se considerar o uso de toxina botulínica;21,22 ■ é preciso envolver os pacientes no cuidado: orientá-los quanto aos possíveis efeitos adversos e como manejá-los, bem como ao período de tratamento, e explicar sobre a possibilidade de outras abordagens caso ocorra falha ao medicamento de primeira escolha. CÓ PIA C ON TR OL AD A 74 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | ATIVIDADES 10. Mencione fármacos, com nível de evidência A e B, recomendados para profilaxia da migrânea. Compare sua resposta com o Quadro 5, a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... O Quadro 5, a seguir, apresenta os fármacos com nível de evidência A e B recomendados para profilaxia da migrânea. Quadro 5 FÁRMACOS COM NÍVEL DE EVIDÊNCIA A E B RECOMENDADOS PARA PROFILAXIA DA MIGRÂNEA Classe e droga Dose diária Evidência Comentários Betabloqueadores Metoprolol 100-200mg A Efeitos adversos comuns: sonolência, fadiga, insônia, pesadelos, sonhos vívidos, depressão, diminuição da tolerância ao exercício, bradicardia, hipotensão, impotência. Contraindicações: asma, DPOC, doença de condução atrioventricular, doença de Raynald, doença vascular periférica. Propranolol 40-240mg A Timolol 20-60mg A Atenolol 50-200mg B Nadolol 20-160mg B Antiepilépticos Divalproato de sódio 500-2.000mg A Efeitos adversos comuns: ganho de peso, náuseas, vômitos, tremor, alopecia. A apresentação com liberação prolongada pode ser melhor tolerada. Teratogênicos, usar com cautela em mulheres em idade gestacional. Ácido valproico 500-2.000mg A Topiramato 50-200mg A Efeitos adversos comuns: parestesias, dificuldade de concentração e memória, fadiga, diminuição do apetite, perda de peso, cálculo renal. Antidepressivos Amitriptilina 10-200mg B Efeitos adversos comuns: ganho de peso, xerosto- mia, gosto metálico, desconforto gástrico, constipação, tonturas, sonolência, confusão mental, taquicardia, borramento visual, retenção urinária, sedação. Venlafaxina 75-225mg B Efeitos adversos comuns: insônia, nervosismo, midríase, disfunção sexual, ganho de peso, desconforto gastrintestinal. Fonte: Adaptado de Silberstein e colaboradores (2012).23 CÓ PIA C ON TR OL AD A 75 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 | ATIVIDADES 11. Analise as afirmativas a seguir e assinale V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Os homens são mais acometidos por cefaleias do que as mulheres. ( ) Dados da Global Burden of Disease revelam que as crises de migrânea ocupam o sétimo lugar entre as patologias que mais causam incapacidade ao longo da vida. ( ) O diagnóstico de todos os tipos de cefaleia deve incluir exames complementares. ( ) Os exames complementares devem ser realizados somente na presença de sinais de alerta (red flags). Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) F — V — F — V B) V — F — V — F C) V — V — F — F D) F — F — V — V Resposta no final do artigo 12. Estão entre os sinais de alerta (red flags) na avaliação dos pacientes com cefaleia: I — cefaleia de início abrupto (atinge a intensidade máxima em menos de 1 minuto). II — mudança de padrão ou surgimento de um novo tipo de cefaleia. III — novo tipo de cefaleia em pacientes com mais de 20 anos. IV — aura prolongada ou persistente. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas III e IV. C) Apenas I, II e IV. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo 13. Em que consiste a ICHD? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... CÓ PIA C ON TR OL AD A 76 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | 14. Considere as seguintes afirmativas a respeito dos aspectos que devem ser verificados na anamnese da dor para auxiliar a codificar as cefaleiasdentro dos diagnósticos descritos na ICHD-3. I — Deve-se analisar o número, a duração e a frequência das crises. II — O relato de cefaleia recorrente, com diversas crises ao longo da vida, sugere o diagnóstico de uma cefaleia secundária. III — A cefaleia pode ser unilateral, bilateral, holocraniana ou localizada em pontos específicos. IV — A presença ou ausência de náuseas e vômitos pode auxiliar no diagnóstico de diferentes tipos de cefaleia, como migrânea e cefaleia do tipo tensional. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas III e IV. C) Apenas I, III e IV. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo 15. Estão entre os sinais premonitórios frequentes da migrânea: I — irritabilidade. II — dificuldade de fala. III — euforia. IV — rigidez de nuca. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas III e IV. C) Apenas I, II e IV. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo 16. Estão entre os gatilhos mais comuns de uma crise de migrânea: I — estresse. II — perfumes. III — falta de luminosidade. IV — alimentação. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas III e IV. C) Apenas I, II e IV. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo CÓ PIA C ON TR OL AD A 77 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |17. Considere e analise as afirmativas a seguir com relação ao tratamento da crise migranosa e assinale V (verdadeiro) ou F (falso). ( ) Os pacientes devem ser orientados previamente sobre qual medicamento usar nas crises, assim como sobre o intervalo em que podem repetir a dose, se necessário, e sobre a dosagem diária máxima. ( ) Os pacientes devem ser orientados a respeito dos riscos da automedicação e do risco de agravamento das crises pelo uso excessivo de analgésicos. ( ) Somente os pacientes que apresentam náuseas ou vômito como sintoma se beneficiam da associação do medicamento com antieméticos. ( ) Deve-se evitar a associação de fármacos, pois funcionam melhor isoladamente do que em combinação. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) V — F — V — V B) V — V — F — F C) F — V — V — F D) F — F — V — V Resposta no final do artigo 18. Considere as seguintes afirmativas em relação ao tratamento da migrânea. I — O diagnóstico correto é a primeira etapa na escolha no tratamento. II — A orientação para o paciente sobre o diagnóstico, objetivo e plano de tratamento é tão importante quanto o tratamento medicamentoso. III — O paciente deve ser orientado sobre todos os alimentos que podem desencadear crises de migrânea e seguir uma dieta rigorosa. IV — A ausência de resposta ao tratamento profilático, em tempo e doses adequadas, pode sugerir o diagnóstico de uma cefaleia secundária concomitante. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas III e IV. C) Apenas I, II e IV. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo CÓ PIA C ON TR OL AD A 78 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | 19. Considere as seguintes afirmativas a respeito do tratamento profilático da migrânea. I — Risco de migrânea crônica é indicação de tratamento profilático. II — A preferência do paciente não pode ser levada em consideração na hora de se optar por um tratamento profilático. III — Migrânea hemiplégica, migrânea com aura de tronco cerebral, aura prolongada ou infarto migranoso são indicações de tratamento profilático. IV — O tratamento profilático é igual para todos, seguindo uma ordem pré-determinada. Quais estão corretas? A) Apenas I e III. B) Apenas II e IV. C) Apenas I, II e III. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo 20. Em que se baseia o diagnóstico da cefaleia tipo tensional, segundo a Sociedade Internacional de Cefaleias? Compare sua resposta com o texto a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 21. Mencione critérios diagnósticos para a cefaleia do tipo tencional. Compare sua resposta com o Quadro 6, a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ■ CEFALEIA DO TIPO TENSIONAL A cefaleia do tipo tensional é muito frequente, com uma prevalência na população em geral de 30 a 78% em diferentes estudos, e também tem um impacto socioeconômico significativo.7 Em um estudo no Brasil, a prevalência de cefaleia do tipo tensional foi de 13%, mais baixa do que a média dos estudos em outros países.24 Embora a cefaleia do tipo tensional tenha sido previamente considerada como primariamente psicogênica, vários estudos mostram uma base neurofisiológica, e tanto mecanismos centrais quanto periféricos estão envolvidos na sua fisiopatologia.7 CÓ PIA C ON TR OL AD A 79 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |O diagnóstico da cefaleia do tipo tensional é baseado nos critérios da Sociedade Internacional de Cefaleias (Quadro 6), mas os sintomas são não específicos, e muitas das características fenotípicas da cefaleia do tipo tensional podem ocorrer em paciente com cefaleias secundárias. Dessa forma, é extremamente importante estar atento aos sinais de alerta em pacientes que se apresentam com uma cefaleia “nova” ou “diferente”, bem como aquelas que progridem em intensidade e frequência (conforme visto anteriormente no Quadro 1).25 Quadro 6 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA CEFALEIA DO TIPO TENSIONAL A. Pelo menos 10 crises, preenchendo os critérios B–D. B. Cefaleia durando de 30 minutos a 7 dias. C. A cefaleia tem pelo menos 2 das 4 características seguintes: 1. localização bilateral; 2. caráter em pressão/aperto (não pulsátil); 3. intensidade leve ou moderada; 4. não é agravada por atividades físicas rotineiras, como caminhar ou subir escadas. D. Ambos os seguintes: 1. ausência de náuseas ou vômitos; 2. não mais do que 1 dos sintomas de fotofobia ou fonofobia. E. Não mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Fonte: Adaptado de Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) (2013).7 Dentre os sinais presentes na cefaleia do tipo tensional, o mais frequente é o dolorimento pericraniano. Pode ser percebida contratura da musculatura pericraniana à palpação, mesmo entre as crises, com aumento na intensidade durante os ataques de cefaleia.7 A cefaleia do tipo tensional também pode ser classificada em:7 ■ episódica infrequente — quando ocorre menos de 1 vez por mês; ■ episódica frequente — quando ocorre até 14 dias por mês; ■ crônica — quando ocorre 15 ou mais dias por mês. TRATAMENTO DA CEFALEIA DO TIPO TENSIONAL O tratamento da cefaleia do tipo tensional envolve mudança do estilo de vida, medidas físicas e o tratamento farmacológico. Recomendam-se horários regulares de sono, das refeições e atividade física, embora exista evidência esparsa na literatura para o tratamento não farmacológico. O tratamento adjunto com maior evidência é biofeedback guiado por eletromiografia, mas é pouco difundido no meio médico.25 Da mesma forma que a migrânea, o manejo farmacológico da cefaleia do tipo tensional envolve o tratamento abortivo e a profilaxia. No tratamento abortivo,como a cefaleia do tipo tensional é, por definição, leve a moderada, a maioria das crises pode ser manejada com analgésicos comuns ou AINEs. É importante que o uso das medicações para tratamento abortivo da cefaleia do tipo tensional seja limitado em 2 a 3 dias por semana, para evitar o desenvolvimento de cefaleia por uso excessivo de medicação e a transformação para cefaleia crônica do tipo tensional.25 CÓ PIA C ON TR OL AD A 80 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | Os fármacos recomendados para o tratamento abortivo da cefaleia do tipo tensional, de acordo com as Diretrizes da Federação Europeia de Neurologia, estão apresentados na Tabela 2, a seguir.26 Tabela 2 FÁRMACOS RECOMENDADOS PARA O TRATAMENTO ABORTIVO DA CEFALEIA DO TIPO TENSIONAL Fármaco Dose Evidência Ibuprofeno 200–800mg A Cetoprofeno 25mg A Ácido acetilsalicílico 500–1.000mg A Naproxeno 375–550mg A Diclofenaco 12,5–100mg A Paracetamol 1.000mg A Analgésicos combinados com cafeína 65–200mg (cafeína) B Fonte: Adaptada de Bendtsen e colaboradores (2010).26 O tratamento profilático é indicado para os pacientes com cefaleia do tipo tensional episódica muito frequente ou crônica. Quando iniciado tratamento, as medicações mais indicadas são os antidepressivos tricíclicos e a mirtazapina (Tabela 3).26 Tabela 3 FÁRMACOS RECOMENDADOS PARA O TRATAMENTO PROFILÁTICO DA CEFALEIA DO TIPO TENSIONAL Fármaco Dose Evidência Fármaco de primeira escolha Amitriptilina 30–75mg A Fármacos de segunda escolha Mirtazapina 30mg B Venlafaxina 150mg B Fármacos de terceira escolha Clomipramina 75–150mg B Maprotilina 75mg B Mianserina 30–60mg B Fonte: Adaptada de Bendtsen e colaboradores (2010).26 CÓ PIA C ON TR OL AD A 81 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 | ATIVIDADES 22. Em que consistem as cefaleias trigeminoautonômicas? Compare sua resposta com o texto, a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 23. Mencione características das cefaleias trigeminoautonômicas. Compare sua resposta com a Tabela 4, a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 24. Mencione critérios diagnósticos para cefaleia em salvas. Compare sua resposta com o Quadro 7, a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 25. Mencione critérios diagnósticos para hemicrania paroxística. Compare sua resposta com o Quadro 8, a seguir. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ■ CEFALEIAS TRIGEMINOAUTONÔMICAS As cefaleias trigeminoautonômicas são um grupo de cefaleias relativamente incomuns, caracterizadas clinicamente por crises recorrentes unilaterais e de curta-duração. As cefaleias trigeminoautonômicas também estão associadas com 1 ou mais sintomas autonômicos, como ptose, hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal ou rinorreia, ipsilaterais à dor. CÓ PIA C ON TR OL AD A 82 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | Embora tenha características semelhantes, as cefaleias trigeminoautonômicas diferem quanto à duração e resposta ao tratamento (Tabela 4).27 Tabela 4 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DAS CEFALEIAS TRIGEMINOAUTONÔMICAS Característica Cefaleia em salvas Hemicrania paroxística SUNCT*/SUNA** Hemicrania contínua Sexo F:M 1:3 1:1 (episódica) 2:1 (crônica) 1:1,5 2:1 Qualidade da dor Pontadas, contínua Pulsátil, contínua, pontadas Queimação, pontadas, pulsátil Padrão: persistente Exacerbações: pulsátil, pontadas Local de intensidade máxima Orbital, temporal Orbital, temporal Orbital, temporal Orbital, temporal Crises por dia 1–8 1–40 1–100 Diária em 50% Duração das crises 15–180 minutos 2–30 minutos 1–10 minutos 30 minutos a 3 dias Sintomas autonômicos Presentes Presentes Presentes Presentes durante as exacerbações Inquietude/ agitação 90% 80% 65% Infrequente Padrão temporal habitual Episódica Crônica Crônica Sem remissão Periodicidade circadiana Sim Não Não Não Crises noturnas Sim Não Não Não Desencadeantes Álcool Sim Sim Não Não Nitroglicerina Sim Sim Não Não Cutâneos Não Não Sim Não Pressão em raiz cervical Não Sim Não Não Movimento cervical Não Sim Sim Não Resposta ao tratamento Oxigênio Sim Não Não Não Sumatriptana Sim Parcial Não Parcial Indometacina Ocasional Sim Não Sim *SUNCT = Cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com hiperemia conjuntival e lacrimejamento, do inglês Short acting Unilateral Neuralgiform headache with Conjunctival injection and Tearing. **SUNA = Cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com sintomas autonômicos cranianos, do inglês Short-lasting Unilateral Neuralgiform headache Attacks with cranial autonomic symptoms. Fonte: Adaptada de Newman (2015).27 CÓ PIA C ON TR OL AD A 83 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 | Nos pacientes com cefaleia em salvas (Quadro 7) as crises são mais longas e menos frequentes. Quadro 7 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA CEFALEIA EM SALVAS A. Pelo menos 5 crises, preenchendo os critérios B–D. B. Dor forte ou muito forte, unilateral, orbitária, supraorbitária e/ou temporal, durando de 15 a 180 minutos (quando não tratada). C. Um ou ambos dos seguintes: 1. Pelo menos 1 dos seguintes sinais e sintomas, ipsilaterais à cefaleia: a) hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento; b) congestão nasal e/ou rinorreia; c) edema palpebral; d) sudorese facial e frontal; e) rubor facial e frontal; f) sensação de plenitude auricular; g) miose e/ou ptose; 2. Sensação de inquietude ou agitação. D. As crises têm uma frequência de 1 a cada 2 dias a 8 por dia em mais da metade do tempo quando a doença está ativa. E. Não mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Fonte: Adaptado de Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) (2013).7 A hemicrania paroxística (Quadro 8) apresenta duração e frequência intermediária em relação às anteriores. Quadro 8 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA HEMICRANIA PAROXÍSTICA A.Pelo menos 20 crises, preenchendo os critérios B–D. B. Dor forte unilateral, orbitária, supraorbitária e/ou temporal, durando de 2 a 30 minutos. C. Pelo menos 1 dos seguintes sinais e sintomas, ipsilaterais à cefaleia: a) hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento; b) congestão nasal e/ou rinorreia; c) edema palpebral; d) sudorese facial e frontal; e) rubor facial e frontal; f) sensação de plenitude auricular; g) miose e/ou ptose. D. As crises têm uma frequência superior a 5 por dia em mais da metade do tempo. E. As crises são completamente evitadas por doses terapêuticas de indometacina. F. Não mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Fonte: Adaptado de Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) (2013).7 CÓ PIA C ON TR OL AD A 84 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | As cefaleias neuralgiformes de curta duração (Quadro 9) são as que os pacientes apresentam crises mais curtas e mais frequentes. Quadro 9 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA CRISES DE CEFALEIA NEURALGIFORME UNILATERAL DE CURTA DURAÇÃO A. Pelo menos 20 crises, preenchendo os critérios B–D. B. Cefaleia moderada a forte, unilateral, com distribuição orbitária, supraorbitária, temporal e/ou trigeminal, durando de 1 a 600 segundos e ocorrendo em pontadas únicas, série de pontadas ou padrão de “dente de serra”. C. Pelo menos 1 dos seguintes sinais e sintomas autonômicos cranianos, ipsilaterais à cefaleia: 1. hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento; 2. congestão nasal e/ou rinorreia; 3. edema palpebral; 4. sudorese facial e frontal; 5. rubor facial e frontal; 6. sensação de plenitude auricular; 7. miose e/ou ptose. D. As crises têm uma frequência de pelo menos 1 por dia em mais da metade do tempo quando a doença está ativa. E. Não mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Fonte: Adaptado de Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) (2013).7 Já a hemicrania contínua (Quadro 10) se caracteriza por ser uma cefaleia unilateral persistente, associada a sinais e sintomas autonômicos durante períodos de exacerbação.7,27 Quadro 10 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA HEMICRANIA CONTÍNUA A. Cefaleia unilateral preenchendo os critérios B–D. B. Presente por mais de 3 meses, com exacerbações de intensidade moderada a grave. C. Um ou ambos dos seguintes: 1. Pelo menos 1 dos seguintes sinais e sintomas, ipsilaterais à cefaleia: a) hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento; b) congestão nasal e/ou rinorreia; c) edema palpebral; d) sudorese facial e frontal; e) rubor facial e frontal; f) sensação de plenitude auricular; g) miose e/ou ptose. 2. Sensação de inquietude ou agitação, ou piora da dor pelo movimento. D. Resposta absoluta a doses terapêuticas de indometacina. E. Não mais bem explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Fonte: Adaptado de Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) (2013).7 CÓ PIA C ON TR OL AD A 85 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |Nota: as cefaleias neuralgiformes de curta duração apresentam 2 subtipos, com características semelhantes, exceto os sintomas autonômicos: SUNCT (cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com hiperemia conjuntival e lacrimejamento) e SUNA (cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com sintomas autonômicos cranianos).7 As evidências recentes sugerem que as cefaleias trigeminoautonômicas apresentam um substrato fisiopatológico comum. Contudo, existem algumas diferenças notáveis entre as síndromes individualmente, como demonstrado por estudos com ressonância magnética funcional e tomografia por emissão de pósitrons. A cefaleia em salvas e a SUNCT estão associadas à ativação hipotalâmica ipsilateral à dor, enquanto ativação contralateral é vista na hemicrania contínua e na hemicrania paroxística.27 Além dos sintomas autonômicos característicos, a cefaleia em salvas episódica caracteriza-se por uma ritmicidade anual e circadiana.27,28 Os pacientes apresentam períodos agrupados de cefaleia ao longo do ano, ou salvas, nos quais os pacientes apresentam cefaleia diária durante algumas semanas a meses, seguidos de períodos de remissão que variam de meses a anos. Quando as crises ocorrem sem intervalos de remissão maiores do que 1 mês, é chamada de cefaleia em salvas crônica.7,27 Outro fator comum na cefaleia em salvas é a ocorrências de crises predominantemente durante o sono.28 TRATAMENTO DAS CEFALEIAS TRIGEMINOAUTONÔMICAS Embora das cefaleias trigeminoautonômicas apresentem características semelhantes, a resposta ao tratamento e aos fármacos utilizados divergem. Tratamento da cefaleia em salvas O tratamento da cefaleia em salvas divide-se em 3 categorias de tratamento:27,29 ■ abortivo; ■ preventivo/profilático; ■ de transição. O tratamento abortivo envolve o das crises individualmente. Como as crises de cefaleia em salvas têm início agudo e curta duração, somente medicações com rápido início de ação são eficazes. Como os pacientes podem ter várias crises no mesmo dia, a medicação pode ser repetida. As medicações mais eficazes são o oxigênio e o sumatriptana subcutâneo, ambas com resposta em mais de 70% dos pacientes (alívio completo da dor em 30 minutos).30,31 O tratamento de transição é recomentado quando se inicia o período de salvas, com o objetivo de interromper as crises rapidamente, enquanto as medicações profiláticas são ajustadas até o nível terapêutico.29 O tratamento profilático nos pacientes com cefaleia em salvas crônica deve ser mantido indefinidamente; no paciente com a forma episódica, deve ser continuado por pelo menos 2 meses após ele estar assintomático. A duração do período de salvas prévio pode servir como guia da duração do tratamento. CÓ PIA C ON TR OL AD A 86 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | Várias medicações podem ser utilizadas no tratamento da cefaleia em salvas (Tabela 5).29 Tabela 5 TRATAMENTO DA CEFALEIA EM SALVAS Medicação Dose Comentários Evidência Tratamento abortivo Sumatriptana 6mg subcutâneo Pode ser usado 2x/dia, com ação rápida. A Oxigênio 100% com máscara a 6–12L/min, durante 15 minutos Pode ser alugado pelo paciente durante período de salvas. A Sumatriptana 20mg nasal Menos efetivo do que a forma subcutânea. B Estímulo do gânglio esfenopalatino Cirúrgico Indicado para forma crônica quando o tratamento medica- mentoso é ineficaz. B Tratamento de transição Prednisona 60–80mg Primeiros 4 dias com dose plena e, após, redução gradual em 2 semanas. Evidência insuficiente para fazer recomendação (U) Bloqueio do nervo occipital maior Bloqueio com 3mL de bupivacaína 0,5% e 40mg de metilpredni- solona Pode ser feito ambulatorialmen- te, em única aplicação. A Tratamento profilático Verapamil 360mg Doses mais altas podem ser utilizadas, com monitorização eletrocardiográfica. C Carbonato de lítio 900mg Devem-se monitorar os níveis séricos. C Fonte: Adaptada de Newman (2015);27Becker (2013);29 Robbins e colaboradores (2016).32 Tratamento da hemicrania paroxística e da hemicrania contínua A hemicrania paroxística e a hemicrania contínua apresentam uma característica peculiar: a resposta absoluta a doses terapêuticas de indometacina, que apresenta ações específicas no sistema nervoso central que a diferenciam de outros AINEs.32 Em adultos, a dose inicial de indometacina para o tratamento da hemicrania paroxística e da hemicrania contínua deve ser de pelo menos 150mg/dia e aumentada até 225mg/dia, ao passo que, na manutenção, doses menores podem ser empregadas.7 CÓ PIA C ON TR OL AD A 87 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |Tratamento das cefaleias unilaterais neuralgiformes de curta duração As síndromes SUNCT e SUNA têm como tratamento de primeira escolha a lamotrigina, com até 75% dos pacientes apresentando alívio. As doses efetivas diárias de lamotrigina para o tratamento das SUNCT e SUNA variam de 100a 400mg, com necessidade de aumento gradual, para evitar eventos adversos. Fármacos de segunda escolha são topiramato (50mg a 400mg/dia) e gabapentina (600mg a 3.600mg/dia).27 ATIVIDADES 26. Segundo a Classificação Internacional das Cefaleia (IHS – III, versão beta), no diagnóstico da cefaleia do tipo tensional, qual dos sintomas abaixo NÃO pode estar presente? A) Náuseas. B) Fonofobia. C) Cefaleia de intensidade moderada. D) Cefaleia não-pulsátil. Resposta no final do artigo 27. Classifique a cefaleia tensional quanto à sua frequência. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... Resposta no final do artigo 28. Por que é importante que o uso de medicações para o tratamento abortivo da cefaleia do tipo tensional seja limitado em 2 a 3 dias por semana? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 29. Mencione fármacos recomendados para o tratamento abortivo da cefaleia do tipo tensional, de acordo com as Diretrizes da Federação Europeia de Neurologia. ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... CÓ PIA C ON TR OL AD A 88 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | 30. Considere as seguintes afirmativas a seguir a respeito do tratamento da cefaleia do tipo tensional. I — O tratamento da cefaleia do tipo tensional envolve mudança do estilo de vida, medidas físicas e o tratamento farmacológico. II — Embora pouco difundido no meio médico, o tratamento adjunto com maior evidência é biofeedback guiado por eletromiografia. III — O tratamento profilático da cefaleia do tipo tensional é indicado para os pacientes com cefaleia do tipo tensional episódica muito frequente ou crônica. IV — Não existe tratamento abortivo para cefaleias do tipo tensional, apenas profilaxia. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas III e IV. C) Apenas I, II e III. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo 31. Em que consistem a SUNCT e a SUNA? ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... ........................................................................................................................................... 32. Estão entre os critérios diagnósticos para as cefaleias trigeminoautonômicas: I — ptose. II — náuseas. III — inquietude ou agitação. IV — dor unilateral. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas III e IV. C) Apenas I, III e IV. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo CÓ PIA C ON TR OL AD A 89 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |33. Correlacione a primeira e a segunda colunas com relação às cefaleias trigeminoautonômicas. (1) Cefaleias neuralgiformes de curta duração (2) Cefaleia em salvas (3) Hemicrania paroxística (4) Hemicrania contínua ( ) Crises mais longas e menos frequentes. ( ) Duração e frequência intermediária em relação aos outros tipos. ( ) Crises mais curtas e mais frequentes. ( ) Cefaleia unilateral persistente, associada a sinais e sintomas autonômicos durante períodos de exacerbação. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. A) 1 — 2 — 3 — 4 B) 2 — 3 — 1 — 4 C) 3 — 4 — 2 — 1 D) 4 — 2 — 1 — 3 Resposta no final do artigo ■ CASO CLÍNICO Paciente do sexo feminino, 20 anos, estudante, procura atendimento de urgência por dor de cabeça. Refere que permaneceu durante a noite anterior estudando para uma prova, além de ter consumido várias xícaras de café. No dia do atendimento, refere que estava com sensação de dor e contratura cervical, e associou com o fato de ter permanecido sentada por várias horas estudando. Após a prova, no fim do dia, iniciou com dor de cabeça bilateral, pulsátil, de forte intensidade. Disse que precisou se deitar no escuro e no silêncio, e que o mínimo movimento piorava a dor. Iniciou com vômitos frequentes e só obteve alívio após o uso de sumatriptana subcutânea administrado na emergência. A paciente nega qualquer alteração visual, sensitiva, motora ou de linguagem associadas ao quadro. No dia seguinte ao atendimento, estava com sensação de “ressaca”, com alodinia e dificuldade de concentração. Refere que já teve várias crises semelhantes anteriormente, geralmente associadas a períodos de maior estresse. Referiu que, em média, apresenta 6 crises de cefaleia com características semelhantes por mês, com prejuízo das atividades diárias. Refere que tem o diagnóstico de asma, fazendo apenas uso de broncodilatador eventual. Ao exame geral, apresenta índice de massa corporal igual a 29, sem outras particularidades. O exame neurológico estava normal no momento do atendimento. CÓ PIA C ON TR OL AD A 90 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | ATIVIDADES 34. Em relação ao caso clínico apresentado, qual é o diagnóstico mais provável? A) Cefaleia do tipo tensional. B) Migrânea com aura. C) Migrânea sem aura. D) Cefaleia em salvas. Resposta no final do artigo 35. Os sintomas a seguir estão associados a um pródromo da crise de cefaleia: I — cansaço. II — contratura cervical. III — alodinia. IV — alteração do apetite. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas III e IV. C) Apenas I, II e IV. D) I, II, III e IV. Resposta no final do artigo 36. Em relação ao tratamento abortivo a ser recomendado para uso nas próximas crises, se houver, qual dos fármacos a seguir deve ser evitado? A) Tramadol. B) Sumatriptana. C) Naratriptana. D) Naproxeno sódico. Resposta no final do artigo 37. Considerando a história referida pela paciente, qual dos fármacos a seguir seria mais bem indicado para o tratamento profilático da cefaleia? A) Propranolol. B) Fluoxetina. C) Topiramato. D) Amitriptilina. Resposta no final do artigo CÓ PIA C ON TR OL AD A 91 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 | ■ CONCLUSÃO As cefaleias são muito frequentes na prática clínica diária e apresentam um impacto socioeconômico significativo. A ICHD-3 é a base para o diagnóstico das diferentes cefaleias primárias, que podem ser diagnosticadas, na maioria dos casos, apenas com uma anamnese e exame físico cuidadosos. A migrânea e a cefaleia do tipo tensional são as mais frequentes narotina ambulatorial, e existem diversas opções de tratamento para essas enfermidades, tanto abortivo quanto profilático. Entretanto, o clínico deve sempre estar atento aos sinais de alerta que sugiram a presença de uma cefaleia secundária e, consequentemente, deve partir para a realização de investigação complementar. Da mesma forma, a presença de características atípicas, como sinais autonômicos, deve sempre levar à investigação de cefaleias primárias menos frequentes, como as trigeminoautonômicas. ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 11 Resposta: A Comentário: As mulheres são mais acometidas por cefaleias do que os homens — a prevalência global é de aproximadamente 13,6%, sendo que 17,5% dos pacientes são mulheres. Diferente- mente das cefaleias secundárias, o diagnóstico das cefaleias primárias é realizado com base na anamnese e exame físico. Atividade 12 Resposta: C Comentário: Novo tipo de cefaleia em pacientes com mais de 50 anos, e não 20. Os demais sinais de alerta podem ser buscados no Quadro 1. Atividade 14 Resposta: C Comentário: O relato de cefaleia recorrente, com diversas crises ao longo da vida, sugere o diagnóstico de uma cefaleia primária, e não secundária. Suspeita-se de cefaleia secundária em casos de crise única ou diferente das anteriores. Atividade 15 Resposta: D Comentário: O Quadro 4 apresenta uma lista desses sinais. Atividade 16 Resposta: C Comentário: A falta de luminosidade não está associada a crises de migrânea, e sim a claridade. Confira a lista completa na Figura 2. Atividade 17 Resposta: B Comentário: Mesmo os pacientes que não apresentam náuseas podem se beneficiar da associa- ção com antieméticos. Fármacos com mecanismos de ação distintos podem ser combinados para o tratamento das crises. A combinação mais estudada é a sumatriptana e naproxeno, cuja associação é mais efetiva do que cada fármaco isoladamente. CÓ PIA C ON TR OL AD A 92 CE FA LE IAS — AT UA LIZ AÇ ÃO NO M AN EJ O A MB UL AT OR IAL | Atividade 18 Resposta: C Comentários: Dietas restritivas não são recomendadas nos pacientes com migrânea, uma vez que os desencadeantes alimentares são muito heterogêneos entre os pacientes. Atividade 19 Resposta: A Comentário: A preferência do paciente deve, sim, ser levada em consideração para se optar ou não pelo tratamento profilático. O tratamento profilático deve ser escolhido de acordo com as comorbidades do paciente, não sendo, portanto, igual para todos. Atividade 26 Resposta: A Comentários: Náuseas é critério de exclusão na cefaleia do tipo tensional; foto ou fonofobia podem ocorrer, mas apenas um deles; a cefaleia do tipo tensional geralmente é não-pulsátil. Atividade 27 Resposta: A cefaleia tensional pode ser classificada em 3 tipos: episódica infrequente (ocorre menos de 1 vez por mês), episódica frequente (ocorre até 14 dias por mês) e crônica (ocorre mais de 15 dias por mês). Atividade 30 Resposta: C Comentário: Assim como nos casos de migrânea, o manejo farmacológico da cefaleia do tipo tensional envolve, sim, o tratamento abortivo e a profilaxia. Atividade 32 Resposta: C Comentários: Embora possam ocorrem, náuseas não fazem parte dos critérios diagnósticos para as cefaleias trigeminoautonômicas. Atividade 33 Resposta: B Comentário: Para mais detalhes, ver Quadros 7–10. Atividade 34 Resposta: C Comentários: De acordo com os critérios da Sociedade Internacional de Cefaleias, a paciente já apresentou pelo menos 5 crises de cefaleia, com duração de 4 a 72h, pulsátil, de forte intensidade, piora com atividade física rotineira, associada a fotofobia, fonofobia e náuseas. O fato de a cefaleia ser bilateral não exclui o diagnóstico, uma vez que os outros critérios estão presentes. Não há, no caso, descrição de sintomas sugestivos de aura. Atividade 35 Resposta: C Comentários: Os pródromos são sintomas que ocorrem até 48 horas antes do início da cefaleia e são frequentes nos pacientes com migrânea. Alodinia é um sintoma pós-crise. CÓ PIA C ON TR OL AD A 93 | P RO CL IM | C icl o 14 | V ol um e 4 |Atividade 36 Resposta: A Comentários: O uso de opioides, embora possa ser efetivo em alguns pacientes, deve ser evitado nos pacientes com migrânea, devido ao risco de recorrência e de desenvolvimento de cefaleia atribuída ao uso excessivo de medicamentos. Atividade 37 Resposta: C Comentários: A paciente apresenta crises frequentes, com indicação de profilaxia. Devido ao sobrepeso, o topiramato é uma excelente escolha, pois é uma medicação de primeira escolha e pode causar perda de peso. A amitriptilina pode acarretar em ganho de peso, o propranolol não é recomendado em pacientes asmáticos, e a fluoxetina e outros ISRS não têm evidência no manejo da migrânea, podendo até aumentar a frequência das crises. ■ REFERÊNCIAS 1. 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