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de duas mil toneladas de água por tonelada de grãos. Já o trigo e o milho consomem mil toneladas de água por tonelada de grão. Técnicas de Produção Vegetal 27 ` Atenção O uso de água, nesse caso, é considerado não consuntivo. Isso significa que a água utilizada retorna à fonte de suprimento quase que em sua totalidade. Ou seja, o consumo para o cultivo é apenas uma etapa no ciclo da água, servindo a agricultura, muitas vezes, como um filtro natural, que elimina muitos de seus contaminantes. Não é por menos que a agricultura irrigada se torna um possível destino de águas residuárias de várias origens. A qualidade dos resíduos é o grande diferencial da água utilizada na agricultura. Diferente- mente dos usos humano e industrial, que geram água de baixíssima qualidade, na agricultura bem feita, ela volta limpa. Além disso, o uso da irrigação na agricultura favorece a terceira safra no país, contribuindo para a produção de alimentos durante todo o ano. As técnicas de irrigação nas culturas com maior volume de produção, como o milho e a soja, permitiram que a produção agrícola tivesse crescimento significativo nos últimos anos. A produtividade da agricultura irrigada brasileira chega a ser três vezes maior que a obtida com a agricultura tradicional. Em termos econômicos, o ganho com a irrigação é ainda mais expressivo: a produtividade na venda dos produtos irrigados é cerca de sete vezes maior. Atualmente, segundo dados da Agência Nacional de Águas – ANA, são 5,5 milhões de hectares irrigados no país. Observe, na figura a seguir, as culturas e os estados com mais áreas irrigadas. INFOGRÁFICO 1,7 milhão de hectares Cana-de-açúcar 1,1 milhão de hectares Arroz em casca 624 mil hectares Soja 559 mil hectares Milho em grão 195 mil hectares Feijão de cor 984 mil hectares Rio Grande do Sul 770 mil hectares São Paulo 525 mil hectares Minas Gerais 299 mil hectares Bahia 270 mil hectares Goiás Curso Técnico em Agronegócio 28 Se considerarmos toda a água captada no país, 72% vão para a agricultura – o que condiz com a média mundial, de 70%. Mesmo considerando que essa água retorna, de certa forma, limpa para o ambiente, evitar o desperdício é preocupação constante. Nesse sentido, o governo, a Agência Nacional de Águas – ANA e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa têm desenvolvido ações e projetos para regulamentar e incentivar o consumo consciente de água. Apesar de ainda apresentar altos índices de desperdício, o Brasil está à frente de muitos países considerados desenvolvidos quando se trata de ações para gerenciar o uso racional da água. A Agência Nacional de Águas, criada como desdobramento da Lei nº 9.443/97 (Lei das Águas), possui características institucionais e operacionais um pouco diferentes das demais agências reguladoras. A legislação atribuiu ao Poder Executivo federal a tarefa de implementar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – Singreh e a Política Nacional de Recursos Hídricos. A ANA vem regulamentando os usos atuais e futuros de água e dos barramentos, e fomentando a instalação de comitês de manejo de bacias hidrográficas, que têm a participação de toda a sociedade civil no processo decisório. O governo federal também tem investido no aperfeiçoamento e na ampliação da área irrigada no Brasil por meio de projetos que beneficiam agricultores familiares e aumentam a oferta de produtos. Entre as iniciativas desenvolvidas está o Programa Mais Irrigação, com investimentos de R$ 10 bilhões, em recursos federais e parcerias com a iniciativa privada, para aumentar a eficiência das áreas irrigáveis e incentivar a criação de polos de desenvolvimento. Fonte: Shutterstock Em outra frente, há o incentivo para que cada estado elabore planos diretores de irrigação, com indicadores, metas e prioridades para a agricultura irrigada. Esse é um instrumento estra- tégico para a política pública voltada para o setor. Com a Política Nacional de Irrigação, estra- tégias para o desenvolvimento da agricultura irrigada são estabelecidas, visando o aumento da produtividade de forma sustentável e a redução de riscos climáticos para a agropecuária. Técnicas de Produção Vegetal 29 Mesmo sendo responsável por 72% da captação de água, a agricultura pode reduzir o uso em 20% com boas práticas (EMBRAPA, 2015). Dois exemplos do benefício da irrigação são a fruticultura irrigada, no Nordeste, que permite o desenvolvimento de polos regionais de produção e exportação, e as lavouras de arroz, no Rio Grande do Sul. Para isso, conta-se com uma técnica chamada de “reservação”, que prevê a distribuição adequada de água ao longo do ano. d Comentário do autor A regulamentação no uso da água e o licenciamento ambiental, embora sejam imprescindíveis para a sustentabilidade, ainda encontram resistência em serem adotados por grande parte dos usuários. Entre os motivos está a forma impositiva da regulação, a burocracia e o trabalho que o produtor rural tem para regularizar a sua situação. Você vivenciou ou conhece alguém que buscou essa adequação? Como você acha que podemos melhorar a conscientização dos produtores? 2. Solo O solo é a camada mais externa e agricultável da superfície terrestre. Origina-se de rochas por ação de processos físicos, químicos e biológicos de desintegração, decomposição e recombinação, que podem levar milhões de anos. Existem cinco fatores na formação do solo: material de origem (rocha), tempo (idade), clima, topografia e organismos vivos. g No AVA, você encontra um vídeo sobre as características do solo e suas formação e importância. Acesse e confira! Moreira e outros autores (2013), no livro O ecossistema solo, dizem que o solo é um material solto, macio, que cobre a superfície da Terra como a casca cobre a laranja. No entanto, ao contrário da casca da laranja, que apresenta superfície relativamente uniforme, os solos se diferenciam muito na superfície da Terra, tanto em relação à espessura, quanto em relação às suas características, como: cor, quantidade e organização de partículas (argila, silte e areia), fertilidade (capacidade em suprir nutrientes e água, e favorecer o crescimento das plantas), porosidade (quantidade e arranjamento dos poros), entre outras características. São constituídos por água, ar e materiais minerais e orgânicos, contendo ainda organismos vivos. Existem diferentes classes de solos na natureza de acordo com suas características e perfis. No Brasil, temos o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, publicado originalmente pela Embrapa em 1999 e que está em constante atualização. Os solos mais comuns no Brasil são os latossolos e os argissolos, que ocupam aproximadamente 60% das terras brasileiras. Curso Técnico em Agronegócio 30 Latossolos São de textura variável, de média a muito argilosa, geralmente bastante profundos, porosos, macios e permeáveis, apresentando pequena diferença no teor de argila entre os horizontes superficiais e subsuperficiais do solo, sendo, comumente, de baixa fertilidade natural. Geralmente, não apresentam variação da cor e de textura à medida que aprofundamos no perfil do solo. Argissolos Formam um grupo de solos bastante heterogêneos, os quais, em geral, têm em comum um aumento substancial no teor de argila em profundidade. São bem-estruturados, apresentam profundidade variável e cores predominantemente avermelhadas ou amareladas no horizonte B, com textura variando de arenosa a argilosa nos horizontes superficiais e de média a muito argilosa naqueles mais profundos. Sua fertilidade é variada, no entanto, predominam aqueles de baixa fertilidade natural. Os solos apresentam quatro funções básicas no ambiente de produção vegetal: 1. Suporte: o solo sustenta o crescimento das plantas, fornecendo suporte mecânico, água e nutrientes para as raízes, que, posteriormente, distribuem para a planta inteira e são essenciais à sua existência. O solo, por meio de suas características, pode determinar os tipos