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A Desgraça do Ateísmo na Educação - Felipe Sabino de Araujo Neto

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Prévia do material em texto

A	desgraça	do	ateísmo	na	educação
	
Felipe	Sabino	de	Araújo	Neto	(org.)
	
	
	
	
A	educação	das	crianças	para	Deus	é	a	tarefa	mais	importante	desempenhada
sobre	a	terra.	Trata-se	do	único	negócio	para	o	qual	a	terra	existe.	A	ela
deveriam	estar	subordinadas	a	política,	a	guerra,	a	literatura	e	a	produção	de
dinheiro	em	sua	totalidade.	Todo	pai,	a	cada	hora	do	dia,	deveria	sentir
especialmente	que,	após	assegurar	a	própria	eleição	e	vocação,	é	este	o	fim
para	o	qual	Deus	o	mantém	vivo	—	essa	é	a	sua	tarefa	sobre	a	terra.
R.L.	Dabney
	
	
	
	
Copyright	©	2019	de	Editora	Monergismo
Títulos	dos	artigos	originais:	On	Secular	Education,	Politics	and	Education,	Education	and	the	Family,	Sovereignty	and	Education,
Christian	Schools.
■
Todos	os	direitos	em	língua	portuguesa	reservados	por
EDITORA	MONERGISMO
SCRN	712/713,	Bloco	B,	Entrada	28	—	Ed.	Francisco	Morato
Brasília,	DF,	Brasil	—	CEP	71.760-620
www.editoramonergismo.com.br
	
1ª	edição,	2019
	
Tradução:	Felipe	Sabino	de	Araújo	Neto	e	Fabrício	Tavares	de	Moraes		
Revisão:	Fabrício	Tavares	de	Moraes	e	Felipe	Sabino
	
	
PROIBIDA	A	REPRODUÇÃO	POR	QUAISQUER	MEIOS,	
SALVO	EM	BREVES	CITAÇÕES,	COM	INDICAÇÃO	DA	FONTE.
	
Todas	as	citações	bíblicas	foram	extraídas	
da	versão	Almeida	Revista	e	Atualizada	(ARA)	salvo	indicação	em	contrário.
	
	
	
Dados	Internacionais	de	Catalogação	na	Publicação	(CIP)
(Câmara	Brasileira	do	Livro,	SP,	Brasil)
	
Araújo	Neto,	F.	S.
A	desgraça	do	ateísmo	na	educação	/	Felipe	Sabino	de	Araújo	Neto	(org.),	tradução	Felipe	Sabino	de	Araújo	Neto	e	Fabrício
Tavares	de	Moraes	—	Brasília,	DF:	Editora	Monergismo,	2019.
	
ISBN	978-85-69980-86-5
1.	Educação 2.	Humanismo 3.	Ateísmo 4.	Cristianismo I.	Título
CDD:	261
	
	
	
SUMÁRIO
			Prefácio	do	editor
Parte	I
1.	Sobre	educação	secular
Parte	II
1.	Política	e	educação
2.	Educação	e	a	família
3.	Soberania	e	educação
Parte	III
1.	Escolas	cristãs
PREFÁCIO
	
Fumantes	 de	 cigarro	 encontram	 em	 cada	 maço	 uma	 advertência	 que	 fumar	 pode	 ser
prejudicial	à	saúde	deles.	Ora,	eu	não	sou	fumante,	mas	ressinto-me	diante	da	reivindicação
superzelosa	do	Big	Brother	de	dizer	o	que	 é	bom	ou	 ruim	para	nós.	Em	meu	 livro,	 esse
poder	pertence	a	Deus,	não	ao	Estado.
Além	 do	 mais,	 por	 que	 não	 colocar	 um	 aviso	 em	 cada	 edifício	 federal,	 afirmando:
“Atenção!	Um	governo	grande	pode	ser	prejudicial	à	sua	saúde”?	Ou	por	que	não	avisar
cada	pai	de	um	estudante:	“Atenção!	Escolas	públicas	podem	ser	prejudiciais	à	 saúde	do
seu	filho”?[1]
	
Nesta	 nova	 coletânea	 sobre	 as	 sucessivas	 “desgraças”	 ocasionadas	 pela
desobediência	aos	mandamentos	divinos	e	apostasia	modernas,[2]	analisamos	os
efeitos	deletérios	do	ateísmo	 (ou	humanismo)	na	educação	de	nossos	 filhos.	O
livro	 está	 dividido	 em	 três	 partes,	 cada	 uma	 escrita	 por	 um	 autor	 distinto,
abordando	 um	 assunto	 correlato	 aos	 problemas	 do	 secularismo[3]	 na	 educação,
formando	assim	—	apesar	das	diferentes	abordagens	—	um	todo	coeso.
Na	primeira	parte,	 intitulada	“Educação	secular”,	Robert	L.	Dabney	 (1820-
1898)	 apresenta	 os	 problemas	de	uma	possível	 secularização	 total	 das	 escolas,
algo	 que	 já	 se	 tornou	 realidade	 em	 certas	 partes	 de	 nosso	 país	 (e	 quase
plenamente	 nos	 Estados	 Unidos,	 cenário	 que	 Dabney	 está	 avaliando).	 Não
bastasse	 a	 secularização,	 isto	 é,	 um	 ensino	 limitado	 “a	 disciplinas	 puramente
seculares”,	 como	 Dabney	 chama,	 o	 que	 vemos	 hoje	 é	 uma	 militância	 aberta
contra	o	cristianismo	em	geral	e	a	moralidade	judaico-cristão	em	particular.	Tal
desfecho	 era	 inevitável,	 pois	 todo	 ato	 de	 educar	 —	 que	 inclui,	 entre	 outras
coisas,	treinar	os	alunos	para	que	sejam	competentes	em	suas	responsabilidades,
seja	na	esfera	civil,	familiar,	profissional	e	que	tais	—	pressupõe	uma	base	ética,
e	o	Estado	nunca	reivindicou	para	si	a	mera	tarefa	de	instruir,	mas	sim	de	educar
nossas	 crianças	 e	 jovens.[4]	 Sendo	 assim,	 as	 escolas	 públicas	 (não	 obstante
mesmo	pais	piedosos	e	preocupados	com	os	seus	filhos	não	verem	dessa	forma)
tornaram-se	muito	mais	prejudiciais	do	que	o	tabagismo.	Essa	visão	profética	de
Dabney	é	reconhecida	por	Douglas	Wilson:
	
Há	alguns	anos	fui	apresentado	aos	escritos	de	R.	L.	Dabney.	Em	seu	texto	“secular”	fiquei
impressionado	 com	 o	 que	 só	 pode	 ser	 chamado	 sua	 visão	 profética.	 Embora	 estivesse
envolvido	 nas	 controvérsias	 do	 último	 século,	 é	 bastante	 claro	 que	 ele	 entendia	 os
princípios	fundamentais	envolvidos.	Por	ser	um	pensador	de	princípios,	ele	foi	capaz	de	ver
aonde	o	Estados	Unidos	estavam	indo.	Os	anos	têm	provado	que	ele	estava	certo	em	muitas
coisas.[5]
	
É	justamente	por	considerarmos	o	texto	valioso	ao	público	moderno	que	o
incluímos	nesta	breve	coletânea	de	artigos	sobre	educação.	Prossegue	Wilson:
Pelo	valor	dos	 seus	 insights,	 julguei	 que	 seria	 proveitoso	 apresentar	 algo	de	 sua	 obra	 ao
público	 cristão	 moderno.	 Este	 artigo	 se	 provará	 especialmente	 útil	 àqueles	 cristãos	 que
estão	envolvidos	na	educação,	quer	em	escolas	privadas	ou	domiciliares.[6]
Desnecessário	dizer	que	não	endossamos	tudo	o	que	Dabney	diz,	quer	em
suas	críticas,	quer	em	suas	“soluções”.	A	ressalva	de	Wilson	é	salutar:
Alguns	 podem	 achar	 a	 polêmica	 de	 Dabney	 contra	 a	 educação	 católica	 desagradável,	 e
podem	se	perguntar	o	porquê	de	tê-la	mantido.	Há	duas	razões.	A	primeira	é	que	a	questão
católica	 está	 tão	 ligada	 ao	 seu	 argumento,	 que	 não	 seria	 possível	 removê-la	 sem	 fazer
considerável	violência	ao	texto.	A	segunda	razão	é	que	acredito	que	o	catolicismo	romano
de	hoje	é	uma	ameaça	maior	do	que	quando	Dabney	escreveu	essas	palavras	e,	portanto,
não	há	necessidade	de	remover	suas	advertências.	Aqueles	que	se	 impressionarem	com	a
sua	 percepção	 sobre	 a	 natureza	 da	 “educação	 secular”	 podem	 talvez	 considerar	 que	 sua
posição	sobre	a	ameaça	do	catolicismo	tenha	algum	peso.[7]
Isso	 não	 significa	 que	 concorde	 com	 tudo	 no	 artigo.	 Por	 exemplo,	 não	 sou	 tão	 otimista
quanto	ele	parece	ser	em	relação	à	“lei	natural”	como	a	base	do	governo	civil.	Todavia,	as
reflexões	 que	 ele	 apresenta	 são	 dignas	 de	 nossa	 análise,	 particularmente	 quando
consideramos	 a	 época	 em	 que	 escreveu.	 Estamos	 no	 meio	 das	 ruínas	 de	 um	 outrora
orgulhoso	 sistema	 educacional	 público,	 e	 muitos	 cristãos	 ainda	 não	 perceberam	 o	 que
Dabney	 percebeu	 no	 século	 passado.	Confio	 que	Deus	 usará	 seus	 pensamentos	 uma	 vez
mais,	e	oro	para	que	eles	 tenham,	entre	os	cristãos,	uma	recepção	melhor	do	que	quando
primeiramente	publicado.[8]
	
Esperamos	que	ao	final	deste	artigo	de	Dabney	percebamos	a	pertinência
da	afirmação	de	Machen:	“Vejo	pouca	consistência	num	tipo	de	atividade	cristã
que	 prega	 o	 evangelho	 nas	 esquinas	 das	 ruas	 e	 até	 os	 confins	 da	 terra,	 mas
negligencia	 os	 filhos	 da	 aliança	 abandonando-os	 a	 um	 secularismo	 frio	 e
incrédulo”.	[9]
Na	 segunda	 parte	 deste	 livreto	 incluímos	 três	 artigos	 incisivos	 de	 R.	 J.
Rushdoony,	 um	 profeta	 moderno	 que	 denunciou	 a	 secularização	 da	 educação,
bem	como	o	caráter	messiânico	que	assumiu	nos	Estado	Unidos	(e,	por	certo,	no
Brasil).
Em	“Política	 e	 educação”,	Rushdoony	desenvolve	as	 implicações	de	um
mote	 (pronunciado,	 conforme	 ele	 explica,	 num	 contexto	 subversivo,	 porém
contendo	em	seu	núcleo	uma	poderosa	intuição)	para	a	realidade	da	educação	e
sua	 soberania	 dentro	 de	 sua	 esfera	 divinamente	 designada:	 “Mantenham	 a
política	 fora	 da	 educação!”.	De	 fato,	Rushdoony,	 assumindo	 uma	 posição	 que
talvez	surpreenda	aqueles	ainda	não	familiarizados	com	seu	pensamento,	afirma
que	a	educação	deve	livrar-se	das	cadeias	não	somente	do	Estado,	mas	também
de	 quaisquer	 ditames	 eclesiásticos.	 Isto	 é,	 seguindo	 o	 que	 Kuyper	 fizera	 na
Universidade	 Livre	 de	 Amsterdã,	 ao	 menos	 conforme	 inicialmente	 planejara,
Rushdoony	 defende	 que	 a	 escola	 é	 um	 aspecto	 do	Reino	 de	Deus,	 e	 portanto
submete-se	 diretamente	 à	 lei	 divina.Esta	 é	 a	 razão	 pela	 qual	 a	 soberania	 das
esferas	não	se	confunde	jamais	com	a	autonomia,	que	faz	do	homem	e	sua	razão
a	fonte	de	toda	norma.
O	 autor	 nos	 lembra,	 contudo,	 que	 uma	 das	 questões	 aparentemente
ignoradas	 ou	 suprimidas	 da	 discussão	 pública	 é	 a	 impossibilidade	 de	 uma
educação	 neutra.	 Há	—	 no	 debate	 de	 ideias	 brasileiros	—	 uma	 real	 confusão
entre	 neutralidade	 e	 objetividade.	 Com	 efeito,	 é	 impossível	 conceber	 um
professor	ou	mesmo	uma	simples	exposição	neutra	de	qualquer	tema	concebível.
A	 objetividade,	 por	 sua	 vez,	 é	 uma	 questão	 não	 somente	 metodológica,	 mas
também	virtuosa,	isto	é,	fundamenta-se	na	honestidade,	sinceridade	e	amor	pela
verdade.	 Não	 afirma	 um	 ponto	 de	 vista	 imparcial,	 ou	 uma	 perspectiva	 supra-
pessoal	 (por	 si	 só	 uma	 contradição)	 que	 transcenda	 as	 “querelas”	 intelectuais,
ideológicas	 e	 partidárias.	 Nisto	 torna-se	 evidente	 a	 importância	 da	 ética
subjacente	na	prática	 educacional	—	sua	 fonte	moral	 (vale	dizer:	 sua	 religião)
necessariamente	 permeia	 todo	 seu	 ensino.	 Com	 isso,	 obviamente,	 a	 educação
estatal	promove	não	só	os	interesses,	mas	os	valores	do	Estado,	dentre	os	quais
sua	 supremacia	 moral	 sobre	 todas	 as	 demais	 instâncias	 e	 instituições.	 Nas
palavras	de	Rushdoony:	“Se	o	Estado	ou	a	igreja	controla	a	escola,	então	torna-
se	função	da	escola	servir	aos	propósitos	do	Estado	ou	da	igreja.	A	propaganda
passa	a	governar	a	educação”.
Em	 “Educação	 e	 a	 família”,	 por	 sua	 vez,	 Rushdoony	 retoma	 um	 dos
aspectos	 que,	 recentemente,	 tem	 sido	 objeto	 de	 controvérsia	 mesmo	 em
ambientes	 eclesiásticos.	 O	 “castigo”,	 disciplina	 e	 punição	 dos	 filhos	 é	 uma
questão	passível	 de	 contemporização	ou	um	dever	oriundo	da	prática	 e	 ensino
bíblicos?	Ora,	desde	Locke,	passando	por	Dewey	e	Piaget,	a	noção	que	se	tem	da
criança	 é	 geralmente	 a	 de	 um	 ente	 neutro,	 maleável	 e	 plástico,	 suscetível	 à
modelação	 por	 parte	 dos	 educadores.	 Não	 há	 inclinação	 inata,	 nem	 pecado
original;	de	modo	que	a	criança	é	sempre	presa	das	circunstâncias,	um	reagente
em	 estado	 puro	 que	 não	 carrega	 consigo	 as	 tendências	 à	 rebeldia,	 revolta	 e
desobediência	comuns	aos	filhos	de	Adão.	Contra	isso,	Rushdoony	nos	lembra	o
ensino	e	prática	bíblicos,	manifestos	principalmente	no	 livro	de	Provérbios,	de
que	os	verdadeiros	pais,	 em	semelhança	ao	Pai	 eterno,	 repreendem	aquele	que
ama.
No	 capítulo	 “Soberania	 e	 educação”,	 por	 seu	 turno,	 Rushdoony,	 retoma	 o
tratamento	sobre	o	mito	da	neutralidade	da	educação,	que	hoje	em	dia	predomina
mesmo	 entre	 os	 cristãos.	 É	 de	 fato	 estranho	 que	 mesmo	 cristãos	 versados	 na
apologética	 pressuposicional	 —	 seja	 nos	 moldes	 de	 Van	 Til,	 Gordon	 Clark,
Bahnsen	ou	John	Frame	—,	um	movimento	intelectual	que	se	opõe	frontalmente
à	 ideia	da	 factualidade	bruta	virgemente	acessível	à	 interpretação	desenviesada
dos	humanistas,	não	reconhecem,	numa	espécie	de	paralaxe	cognitiva,	que	todo
o	 sistema	 educacional	 em	 nossos	 dias	 é	 baseado	 numa	 “falsidade	 satânica”,
como	 já	 dizia	 Cornelius	 Van	 Til	 e	 Louis	 Berkhof.[10]	 Ora,	 “na	 grande	 batalha
espiritual,	 as	 forças	 das	 trevas	 são	 organizadas	 contra	 o	Senhor	 e	 seu	Ungido.
Qualquer	 organização	 que	 se	 diz	 neutra,	 como	 as	 escolas	 públicas	 e	 algumas
organizações	de	trabalho,	nega	as	exigências	de	Cristo	de	rendição	absoluta	a	seu
senhorio	 sobre	 todas	 as	 coisas.	 Dessa	 maneira,	 estão	 servindo	 à	 causa	 do
anticristo.	 Negar	 tal	 fato	 é	 andar	 obstinadamente	 cego	 ou	 ser,	 infelizmente,
ignorante	quanto	 às	 intenções	do	maligno	e	 às	 exigências	de	Cristo”.[11]	 Como
disse	Gordon	Clark,
	
…	 as	 escolas	 não	 são,	 obviamente,	 cristãs.	 Mas,	 com	 semelhante	 obviedade,	 não	 são
neutras.	As	Escrituras	 dizem	que	o	 temor	do	Senhor	 é	 o	 princípio	da	 sabedoria	—	parte
essencial	do	conhecimento;	mas	as	escolas,	omitindo	todas	as	referências	a	Deus,	passam
aos	 alunos	 a	 noção	 de	 que	 o	 conhecimento	 é	 obtido	 sem	 qualquer	 relação	 a	Deus.	 Elas
ensinam,	na	realidade,	que	Deus	não	tem	qualquer	controle	sobre	a	história;	que	não	existe
qualquer	 planejamento	 nos	 eventos	 operados	 por	 Deus;	 e	 que	 Deus	 não	 preordenou
qualquer	acontecimento…	As	escolas	não	são,	nunca	foram,	nunca	poderão	ser	neutras.	O
sistema	 escolar	 que	 ignora	 a	 Deus,	 ensina	 seus	 alunos	 a	 ignorarem	 a	 Deus.	 Isso	 não	 é
neutralidade,	é	a	pior	forma	de	antagonismo,	porque	julga	que	Deus	não	é	importante;	ele	é
irrelevante	à	raça	humana.	Isso	é	ateísmo.[12]
	
Na	última	parte	deste	livro	incluímos	um	breve	artigo	do	teólogo	e	filósofo
John	Frame	sobre	escolas	cristãs.	Cremos	que	o	ensino	de	Frame	é	relevante	ao
público	 brasileiro	 por	 dois	motivos:	 (1)	Muitas	 escolas	 que	 arrogam	 para	 si	 o
nome	de	cristã	não	passam	de	escolas	seculares	que	incluem	aqui	ou	acolá	algum
ensino	“bíblico”,	quiçá	uma	matéria	sobre	ensino	religioso;	(2)	Muitos	pais	que
têm	 testemunhado	 a	 calamidade	 do	 sistema	 educacional	 pensam	 que	 a	 única
alternativa	 cristã	 seria	 o	 chamado	 homeschool	 (ensino	 no	 lar),	 quando,	 na
verdade,	 a	 igreja,	 juntamente	 com	 os	 pais	 e	 todos	 os	 seus	membros	 deveriam
lutar	 para	 estabelecer	 escolas	 verdadeiramente	 confessionais,	 com	 preços
acessíveis	sobretudo	aos	seus	membros,	e	na	qual	a	Bíblia	fosse	de	fato	(e	não
apenas	 nominalmente)	 o	 fundamento	 de	 todo	 o	 currículo	 escolar.	Mesmo	 que
alguém	favoreça,	como	Frame,	o	ensino	no	lar,	isso	não	diminui	a	importância	e
a	necessidade	do	estabelecimento	de	escolas	que	façam	jus	ao	nome	“cristã”.
Que	 este	 livro	 possa	 despertar	 pais,	 pastores,	 professores,	 e	 cristãos	 em
geral,	 acerca	 da	 urgente	 necessidade	 de	 uma	 educação	 distintamente	 cristã.
Nosso	Senhor	não	exige	nada	menos	do	que	isso	dos	seus	servos!
	
—	Felipe	Sabino	de	Araújo	Neto	e	
Fabrício	Tavares	de	Moraes
Novembro	de	2018
PARTE	I
1.	SOBRE	EDUCAÇÃO	SECULAR	
	
R.	L.	Dabney
	
Quem	deveria	controlar	a	educação,	e	o	que	é	uma	educação	apropriada?
Estas	duas	questões	são	interdependentes.
Ao	longo	da	história,	duas	respostas	têm	sido	apresentadas	para	a	primeira
questão	—	 o	 Estado	 e	 a	 Igreja.	 Na	 Europa,	 o	 progressismo	 tem	 insistido	 no
Estado,	 e	 busca	 secularizar	 a	 educação.	 Isto	 implica	 arrancar	 a	 educação	 do
controle	 do	 catolicismo.	Os	 esquerdistas	 veem	 claramente	 que,	 sob	 o	 controle
católico,	não	existe	nenhuma	liberdade	verdadeira	na	educação.	Mas,	conforme
insistem	também	na	secularização	do	Estado,	sua	ideia	de	uma	educação	livre	é
uma	 destituída	 de	 religião.	 Eles	 separam	 a	 cultura	mental	 da	 espiritual.	Dessa
forma	concluem	que	a	educação	deve	abstrair-se	de	Deus	a	fim	de	ser	livre.
A	Igreja	Católica	deve	culpar	a	si	mesma	por	isso	—	ela	alega	ser	a	única
igreja	 cristã.	 Mentes	 independentes	 replicam:	 “Bem,	 então	 o	 cristianismo	 é
perverso”.	 Se	 a	 educação	 católica	 fosse	 a	 única	 educação	 cristã	 possível,	 os
homens	livres	teriam	de	rejeitar	a	educação	cristã.	Considere:	se	o	juízo	privado
é	pecado;	se	o	professor	é	um	verdadeiro	sacerdote;	se	seu	ensino	é	infalível;	se
o	 fim	 real	 da	 cultura	 é	 escravizar	 a	 alma	 a	 um	 sacerdócio	 com	 um	 cabeça
exterior;	 se	 este	 cabeça	 é	 absolutamente	 superior	 às	 autoridades	 seculares,	 a
educação	baseada	nesses	princípios	levará	à	escravidão	civil.	Não	é	estranho	que
homens	em	busca	de	liberdade	a	rejeitem.
O	engano	reside	em	confundir	educação	eclesiástica	com	educação	cristã.
Que	a	Escritura	seja	ouvida:	“O	reino	de	Deus	está	dentro	de	vós”	(Lc	17.21).
Ele	 consiste	 não	 numa	 hierarquia	 gananciosa,	 mas	 no	 governo	 da	 verdade.	 O
clero	 não	 deve	 ser	 senhor	 sobre	 o	 povo	 de	Deus,	mas	 somente	 “ministros	 por
meio	de	quem	cremos”	(1Co	3.5).
A	igreja	não	tem	penalidades	senão	as	espirituais.	Ela	não	toca	no	direito
civil	 de	 nenhum	 homem.	 Sua	 única	 outra	 função	 é	 ensinar,	 e	 seu	 ensino	 é
obrigatórioapenas	na	medida	em	que	a	própria	consciência	do	leigo	responde	à
Palavra	de	Deus	como	esta	é	declarada.
Ora,	é	dever	da	igreja	instruir	os	pais	sobre	como	Deus	deseja	que	criem
seus	filhos,	e	 impor	o	dever	com	sanções	espirituais;	mas	aí	 termina	seu	poder
oficial.	Ela	não	usurpa	o	cumprimento	da	importante	tarefa	que	instrui	os	pais	a
fazer.
Como	 um	 cristão	 privado,	 o	 ministro	 empresta	 a	 outros	 pais	 seu
conhecimento	e	exemplo	para	ajudá-los	em	sua	obra.	Mas	tudo	isso	não	constitui
nenhum	perigo	à	liberdade	espiritual	ou	religiosa.
Assim,	seria	bom	que	o	esquerdista	moderno	parasse	e	se	perguntasse	se
ele	assegura	algo	mediante	essa	transferência	de	responsabilidade	educacional	da
igreja	para	o	Estado.	Ele	aponta	para	os	resultados	do	ensino	católico?	Ali	vemos
uma	erudição	espúria	e	superficial,	juntamente	com	uma	consciência	escravizada
e	 mórbida,	 que	 não	 ousa	 sequer	 desejar	 quebrar	 seus	 grilhões.	 Há	 também	 a
ganância	 insaciável	 da	 hierarquia	 por	 influência	 e	 dinheiro.	 O	 retrato	 é
suficientemente	repulsivo.
Mas	 os	 clérigos	 católicos	 são	 os	 únicos	 gananciosos?	Não	 são	 todos	 os
homens	depravados?	O	mesmo	não	se	dá	essencialmente	com	todos	os	homens?
Então	por	que	ficamos	surpresos	quando	os	clérigos	agem	de	maneira	similar	aos
outros	 homens,	 quando	 sujeitos	 às	mesmas	 tentações?	O	 esquerdista	moderno
deveria	ser	o	último	homem	a	 ignorar	esta	verdade;	ele	 já	é	cético	de	 todas	as
profissões	 de	 princípios	 espirituais	 em	 clérigos.	 Ele	 já	 é	 propenso	 a	 atribuir
motivos	seculares.	Ele	deveria	ser	coerente	e	esperar	que	o	demagogo	exiba	uma
ambição	imprudente	exatamente	como	os	sacerdotes.	O	que	é	um	clérigo	senão
um	 demagogo	 espiritual?	 O	 demagogo	 é	 apenas	 um	 sacerdote	 no	 altar	 do
Dinheiro.
O	 progressista	 não	 perverte	 aquela	 outra	 agência	 educacional,	 a	 imprensa,
tão	 violentamente	 como	 o	 jesuíta	 faz	 com	 a	 escola?	 Se	 ele	 vier	 a	 controlar	 o
Estado,	 e	 este	 assumir	 a	 responsabilidade	 pela	 educação,	 existe,	 portanto,	 um
grande	 risco	 de	 que	 a	 educação	 dos	 jovens	 será	 pervertida	 para	 servir	 a	 uma
facção	 ideológica.	 Isto	dar-se-á	por	odiosos	meios	de	 saturar	 suas	mentes	 com
erros	e	paixões	ao	 invés	da	verdade	e	do	certo.	O	resultado	é	o	despotismo	de
uma	facção	em	vez	de	um	papa.	Um	pode	ser	tão	ruim	quanto	o	outro.	
Se	o	Estado	 tornar-se	o	educador	na	América,	então	a	educação	deverá	ser
inteiramente	 secularizada.	 Em	 teoria,	 nosso	 Estado	 é	 a	 instituição	 para	 a
consecução	da	justiça	secular.	Ele	se	separou	absoluta	e	igualmente	de	todas	as
religiões.	 Comprometeu-se	 para	 que	 nenhum	 dos	 direitos	 civis	 do	 indivíduo
fossem	 modificados,	 ou	 que	 a	 igualdade	 fosse	 diminuída,	 em	 razão	 de	 sua
religião,	ou	ausência	dela.	Proibiu	o	estabelecimento	de	qualquer	religião	por	lei,
bem	 como	 a	 imposição	 de	 qualquer	 fardo,	 por	motivos	 religiosos,	 a	 qualquer
pessoa.	
Ora,	o	professor	da	escola	pública	é	um	oficial	do	Estado,	e	ensina	pautado
em	 sua	 autoridade.	 Todos	 os	 funcionários	 da	 escola	 têm	 como	 fonte	 de	 sua
autoridade	 as	 leis	 do	 Estado.	 Por	 conseguinte,	 todas	 suas	 funções	 são
efetivamente	ações	do	Estado	—	tais	como	a	do	xerife	na	execução	pela	forca,
ou	a	do	juiz	ao	sentenciar	um	assassino.	Os	fundos	da	escola,	captados	mediante
a	taxação,	é	propriedade	comum	e	igual	do	povo.
Porém	os	 americanos	 se	 dividem	 em	várias	 religiões,	 de	modo	 que	 não	 se
deve	usar	dinheiro	nas	escolas	para	o	ensino	de	uma	religião	em	detrimento	das
outras	—	assim	como	não	seria	usado	para	o	estabelecimento	de	uma	igreja.
Certa	feita,	em	estados	como	Connecticut,	a	população	era	tão	homogênea,	e
os	dissidentes	tão	poucos,	que	a	religião	dominante	pôde	ser	ensinada	por	conta
do	 Estado	 sem	 qualquer	 protesto	 inflamado	 que	 chegasse	 ao	 ponto	 da
inconveniência.	Mas	a	mistura	de	nosso	povo,	e	especialmente	a	força	e	audácia
do	catolicismo,	agora	torna	tudo	isto	muito	diferente.
Os	 católicos	 apresentam	um	argumento	 eficaz	 quando	dizem	que	 o	Estado
não	 deve	 usar	 o	 dinheiro	 do	 povo	 para	 um	 ensino	 que	 utiliza	 a	 versão	 King
James	da	Bíblia,	a	qual	eles,	uma	parte	do	povo,	acreditam	ser	herética.
Protestantes	 zelosos,	 em	 geral	 defensores	 fervorosos	 das	 escolas	 públicas,
tentam	refutar	essa	argumentação.	No	entanto,	consentiriam	eles	que	seus	filhos,
com	seu	dinheiro,	fossem	ensinados	a	partir	de	uma	versão	bíblica	que	diz:	“Mas
se	 não	 fizerdes	 penitência,	 pereceis	 todos	 do	 mesmo	 modo”?	 Eles	 afirmam:
“Trata-se	 de	 uma	 versão	 equivocada,	 ao	 passo	 que	 a	 King	 James	 é	 fiel”.
Teologicamente,	isso	é	decerto	verdade.	Porém,	deve-se	designar	o	Estado	para
julgar	se	tal	afirmação	é	verdadeira?
Na	esfera	pública,	nossa	obrigação	é	 respeitar	os	pontos	de	vista	 religiosos
dos	 católicos,	 do	 mesmo	 modo	 que	 exigimos	 que	 eles	 respeitem	 os	 nossos.
Suponhamos,	 então,	 que,	 certo	 dia,	 uma	 maioria	 num	 Estado,	 tão	 numerosa
quanto	os	protestantes	o	são	na	Nova	Inglaterra,	busquem	tornar	compulsório	o
estudo	 de	 uma	 versão	 católica	 da	 Bíblia	 em	 escolas	 públicas.	 A	 menos	 que
admitamos	que	nosso	poder	cria	o	direito,	não	convém	impor	tais	erros	sobre	os
judeus,	 os	 muçulmanos,	 os	 ateístas	 e	 os	 budistas	 que	 vivem	 conosco,
simplesmente	porque	são	menos	numerosos.
Busca-se	 desviar-se	 dessa	 conclusão	 do	 seguinte	 modo:	 Embora	 todas	 as
religiões	 sejam	 iguais,	 e	 nenhuma	 seja	 estabelecida,	 o	 Estado	 não	 é	 uma
instituição	ateísta.	Fundamenta-se	na	vontade	de	Deus,	que	é	o	padrão	de	todos
os	 direitos.	 O	 Estado	 é	 uma	 instituição	 ética,	 e	 existe	 para	 fins	 éticos.
Consequentemente,	ele	implementa	o	Sabbath,	pune	a	blasfêmia	etc.	O	Estado,
embora	não	estabeleça	uma	religião	em	detrimento	das	demais,	deve	ensinar	as
verdades	divinas	comuns	a	todos,	mediante	o	uso	não	sectário	da	Bíblia.	
Mas	 seja	 esta	 a	 base	 justa	 ou	 não	 de	 uma	 nação,	 nossos	 estados	 não	 a
reconhecem	declaradamente.	Em	segundo	lugar,	a	questão	diz	respeito	à	versão
que	 se	 deve	 utilizar,	 dentre	 outras	 versões	 concorrentes.	 Em	 vista	 disto,	 tal
questão	ascende	disputas	sectárias.
Em	 terceiro	 lugar,	 não	cremos	—	não	mais	do	que	esses	 sofistas	—	que	o
Estado	 possa	 ser	 ateísta.	É	 uma	 instituição	 ética,	 e	 a	 vontade	 divina	 é	 a	 única
norma	ética	válida.	Todavia,	o	Estado	encontra	seu	fundamento	teísta	na	teologia
natural.	A	 prova	 é	 que	 os	Estados	 pagãos,	 assentando-se	 somente	 num	 teísmo
natural,	 eram	 autênticos	 e	 possuíam	 legitimamente	 a	 obediência	 dos	 próprios
cristãos	(Romanos	13.5).	Evadir-se	da	questão	é,	pois,	fútil.
Mas	independentemente	da	lógica	da	questão,	a	consequência	visível	é	certa.
Os	católicos	inevitavelmente	cumprirão	seu	objetivo,	assim	como	já	fizeram	em
várias	 partes.	Que	 triunfarão	 em	qualquer	 outro	 lugar	 em	 que	 se	 importem	de
tentar,	 é	 evidente	 pela	 crescente	 tibieza	 dos	 evangélicos,	 pela	 pobreza	 dos
acordos	que	oferecem	e	pela	indiferença	cada	vez	maior	das	massas	em	relação
ao	valor	do	ensino	bíblico.
De	 fato,	 considerando-se	 as	 premissas	 americanas,	 os	 evangélicos	 não	 têm
argumento	 senão	 um	 apelo	 piedoso	 ao	 preconceito.	 Cedo	 ou	 tarde,	 as
considerações	 lógicas,	 que	 são	 tão	 claras,	 deverão	 asseverar	 sua	 força.	 A
dificuldade	do	problema	pode	ser	vista	nas	complicações	que	também	afetaram
outros	governos	livres,	como	a	Grã-Bretanha	e	a	Holanda.
No	tocante	à	educação	pública,	há	quatro	soluções	possíveis	ao	problema.
A	primeira	é	a	injusta	solução	de	forçar	a	religião	da	maioria	sobre	a	minoria.
A	 segunda	 é	 aquilo	 que	 é	 chamado	 na	 Grã-Bretanha	 de	 plano	 de
“financiamentos	 concorrentes”.	 Cada	 denominação	 pode	 ter	 suas	 próprias
escolas	 financiadas	pelo	Estado	e	ensinar	nelas	sua	própria	 religião	 juntamente
com	o	 aprendizado	 secular.	 Este	 é	 praticamente	 o	 esquema	 que	 apaziguou	 em
parte	os	católicos	de	Nova	York.	É	rejeitado,	com	razão,	por	protestantesde	toda
parte,	 devido	 a	 uma	 série	 de	 razões.	 Em	 primeiro	 lugar,	 porque	 não	 oferece
solução	 exceto	 onde	 haja	 várias	 denominações	 grandes	 o	 suficiente	 para
sustentarem,	nessas	 localidades,	 uma	escola	para	 cada	uma	de	 si.	Em	 segundo
lugar,	o	Estado	não	tem	direito	de	afirmar	o	valor	igual	de	credos	opostos,	cuja
verdade	de	um	pode	implicar	a	falsidade	positiva	do	outro.	Em	terceiro	lugar,	o
Estado	não	tem	o	direito	de	afirmar,	seja	de	um	credo	ou	de	outro,	o	que	é	ou	não
verdadeiro	 e	 proveitoso.	 Em	 quarto	 lugar,	 o	 protestantismo	 promove	 mais
parcimônia	 e	 riqueza	 do	 que	 os	 restantes	 credos	 equivocados.
Consequentemente,	 determinado	 número	 de	 protestantes	 pagará	mais	 impostos
destinados	às	escolas	do	que	o	mesmo	número	de	pessoas	que	se	encontram	no
erro,	de	maneira	que	esse	plano	usa	uma	parte	de	seu	dinheiro	para	impulsionar
credos	que	os	protestantes	conscientemente	consideram	perniciosos.	Em	quinto
lugar,	 concede	 ao	 erro	 um	 apoio	 moral	 e	 financeiro	 além	 daquele	 que	 seria
recebido	 pelo	 zelo	 espontâneo	 de	 seus	 adeptos.	 E,	 por	 fim,	 causa	 desunião	 à
população	ao	treinar	os	jovens	em	campos	religiosos	hostis.	Católicos	irlandeses
e	americanos	declararam	sua	aprovação,	porque	ganham	com	esse	plano.	Porém,
quem	se	ilude	que,	caso	fossem	a	maioria,	eles	estariam	dispostos	a	ver	o	“bom
dinheiro	católico”	sendo	gasto	para	o	ensino	da	heresia	protestante?
O	 terceiro	plano	propõe	dar	 instrução	a	 religiões	não	 sectárias	no	primeiro
horário	 da	 manhã,	 ao	 passo	 que	 os	 pais	 que	 discordassem	 disso	 tivessem
autorização	 de	 não	manter	 seus	 filhos	 na	 escola	 até	 o	 fim	 desse	 período.	 Isto
equivale	 a	 estabelecer	 uma	 religião	 e	 usar	 o	 dinheiro	 do	 povo	 para	 ensiná-la,
embora	 permitindo	 a	 discordância	 sem	 qualquer	 outra	 penalidade	 que	 não	 a
taxação	 em	 prol	 de	 um	 propósito	 religioso	 que	 o	 contribuinte	 condena.	 Em
outras	palavras,	coloca	a	questão	na	mesma	posição	em	que	a	Inglaterra	coloca
sua	 religião	 estabelecida	 desde	 que	 o	 “Ato	 de	 Tolerância”	 de	Guilherme	 III	 e
Maria	Stuart	 livrou	os	dissidentes	das	penalidades	pela	ausência	aos	cultos	das
igrejas	anglicanas.
Mas	o	ponto	reivindicado	pelos	americanos	é	a	liberdade,	e	não	a	tolerância.
Eles	negam	o	direito	do	Estado	de	escolher	uma	religião	como	a	verdadeira	e	a
mais	importante,	para	quem	quer	que	seja,	deliberadamente	ou	não.	Aqueles	que
discordam	dessa	religião	escolhida	negam	que	o	Estado	possa	então	dispender	o
dinheiro	 público	 como	 uma	 isca	 para	 induzir	 pais	 incautos	 ou	 equivocados	 a
submeterem	seus	filhos	à	inculcação	do	erro.
A	 única	 alternativa	 restante	 é	 a	 secularização	 total	 do	 ensino	 nas	 escolas
púbicas,	 limitando-o	a	disciplinas	puramente	 seculares,	deixando	aos	pais	ou	à
igreja	 suplementarem-no	 com	 o	 ensino	 religioso	 que	 lhes	 apraz	 ou	 nenhum.
Alguns	 cristãos,	 impelidos	 pelas	 dificuldades	 criadas	 pelas	 escolas	 públicas,
adotam	 essa	 conclusão.	 No	 entanto,	 a	 maioria,	 não	 obstante	 essa	 dificuldade,
rejeita-a	energicamente.	Vejamos	se	esse	plano	é	possível	ou	admissível.
Essa	é	de	fato	a	questão	vital,	porém	não	pode	ser	discutida	até	chegarmos	a
um	acordo	sobre	o	que	é	a	educação	e	assim	afastar	concepções	equivocadas	e
enganadoras	sobre	o	tema.
De	modo	conveniente,	educa-se	o	homem	ou	a	pessoa	em	sua	integralidade;
no	entanto	o	objeto	principal	do	trabalho	de	educação	é	o	espírito.	A	educação	é
o	 treino	 e	 o	 desenvolvimento	do	homem	 inteiro	para	 seu	 fim	apropriado.	Este
fim	 deve	 ser	 corretamente	 concebido	 para	 que	 se	 compreenda	 o	 processo,	 e
mesmo	o	fim	terreno	do	homem	é	preponderantemente	moral.
Se	a	destreza	em	qualquer	arte,	como	o	manuseio	de	um	tipo	da	prensa,	de
um	arcabuz	ou	de	um	tear,	 fosse	educação,	sua	secularização	poderia	ser	 tanto
possível	 quanto	 apropriada.	 Ora,	 não	 é	 uma	 confusão	 neste	 ponto	 a	 fonte	 de
grande	parte	do	argumento	em	defesa	desse	tipo	de	educação	pública?
Por	 exemplo:	 “Por	 que	 o	 Estado	 não	 pode	 ensinar	 a	 ler	 e	 a	 escrever	 sem
qualquer	viés	 religioso?	Por	que	não	o	 fazer	 tal	 como	o	mecânico	 ensina	 seus
aprendizes	 a	 limar,	 delinear	 e	martelar?”.	Porque	 a	 destreza	 numa	 arte	 não	 é
educação.
Esta	última	nutre	a	alma,	a	outra	apenas	exercita	um	órgão	do	sentido	ou	um
músculo;	 uma	 tem	 uma	 finalidade	 mecânica,	 a	 outra,	 um	 propósito	 moral.	 A
resposta	 não	 pode	 satisfazer	 simplesmente	 com	 a	 afirmação:	 “Concordemos
então	que	o	Estado	está	somente	ensinando	a	destreza	nas	letras”.
O	Estado	 recusa-se	 a	 ser	 concebido	dessa	 forma.	Ele	 afirma	educar,	 e	 isto
pode	ser	visto	no	argumento	universal	dos	defensores	da	educação	pública.	Essa
perspectiva	pressupõe	que	o	Estado	possui	o	direito	e	o	dever	de	possibilitar	que
os	 jovens	 cidadãos	 sejam	 competentes	 em	 suas	 responsabilidades	 enquanto
cidadãos.	Todavia,	essa	responsabilidade	é	por	natureza	ética.
Novamente,	se	o	Estado	afirma	conceder	a	mera	destreza	e	não	educação,
a	 igualdade	exigiria	a	concessão	de	mais	do	que	 simples	habilidade	nas	 letras.
Todas	as	demais	artes	úteis	teriam	de	ser	incluídas.	As	crianças	teriam	o	direito
igual	de	serem	ensinadas	nas	demais	artes	que	podem	trazer-lhes	o	sustento,	e	o
governo	 teria	 de	 abraçar	 o	 comunismo	 mais	 feroz.	 Não,	 o	 Estado	 não	 pode
adotar	essa	evasiva.	A	menos	que	afirme	educar,	não	há	nada	que	possa	fazer.
É	preciso	também	aqui	salientar	que	as	artes	da	leitura	e	da	escrita	são	antes
meios	de	educação	do	que	educação	em	si,	e	não	necessariamente	são	os	mais
eficazes.	 Conforme	 Macaulay	 demonstrou,	 em	 resposta	 ao	 dr.	 Johnson,	 o
segmento	iletrado	dos	atenienses	eram,	em	alguns	aspectos,	altamente	instruídos.
Também	vemos	muitas	pessoas,	que	embora	letradas,	são	contudo	desinstruídas.
À	vista	disso,	uma	educação	secularizada	é	possível	ou	admissível?
1.	Antes	 de	 nós,	 nenhum	 povo	 de	 qualquer	 época,	 religião	 ou	 civilização
jamais	pensou	que	o	fosse.	Contra	o	presente	esforço,	certo	ou	errado,	impõe-se
todo	o	senso	comum	da	humanidade.	Pagãos,	católicos,	muçulmanos,	gregos	e
protestantes	 —	 todos	 rejeitaram	 qualquer	 educação	 não	 fundamentada	 na
religião	como	algo	absurdo	e	maligno.
Um	 exemplo	 pode	 ser	 visto	 na	 controvérsia	 em	 relação	 ao	 Testamento	 de
Gerard.	Com	o	intuito	de	excluir	o	cristianismo	de	uma	faculdade,	exigia-se	que
nenhum	ministro	 jamais	entrasse	em	seus	domínios.	O	sr.	Webster	argumentou
contra	o	 testamento	da	seguinte	maneira:	o	 fideicomisso	cujo	cumprimento	era
ali	 proposto	 opunha-se	 de	 tal	 modo	 a	 toda	 jurisprudência	 civilizada,	 que	 se
tornava	 ilegal	 e	 portanto	 nulo.	 O	 argumento	 pareceu	 tão	 formidável	 aos
advogados,	 que	 o	 advogado	 de	 defesa,	 o	 sr.	 Horace	 Binney,	 dirigiu-se	 à
Inglaterra	 para	 espoliar	 as	 leis	 britânicas	 de	 fideicomisso.	 Foi	 ao	 instar	 nesse
ponto	que	o	sr.	Webster	pronunciou	estas	memoráveis	palavras:
	
Em	que	época,	qual	culto,	onde,	quando,	por	quem	a	verdade
religiosa	 foi	 excluída	da	educação	da	 juventude?	Nenhures.
Nunca!	Por	toda	parte,	e	em	todos	os	tempos,	foi	tida	como
essencial.	É	da	essência,	da	vitalidade	da	instrução	valiosa.
Não	foi	uma	declaração	do	sr.	Webster,	o	político,	mas	do	douto	advogado,
frente	a	frente	a	oponentes	muito	capacitados.	Naquele	momento,	realizava	um
dos	 esforços	 forenses	mais	 respeitáveis	 de	 sua	 vida.	 Ele	 sabia	 que	 exprimia	 a
densa	voz	da	história	e	da	jurisprudência.
Ouçamos	 outra	 testemunha,	 de	 igual	 erudição	 e	 caráter	 superior.	 John	 B.
Minor	disse	o	seguinte	acerca	dessa	questão:
	
Deve-se	reconhecer	como	um	dos	fenômenos	mais	notáveis
de	 nossa	 humanidade	 pervertida	 o	 fato	 de	 que,	 dentre	 um
povo	 cristão,	 e	 numa	 terra	 protestante,	 tal	 discussão	 [se	 a
educação	dos	jovens	pode	ser	secularizada]	não	devesse	soar
tão	 absurda	 quanto	 indagar	 se	 as	 salas	 de	 aula	 deveriam
localizar-se	 sob	a	água	ou	em	cavernas	escuras!	O	 judeu,	o
muçulmano,o	seguidor	de	Confúcio	e	o	seguidor	de	Brama,
cada	um	deles	e	portanto	todos	cuidam	de	instruir	os	jovens
de	seu	povo	nas	doutrinas	das	religiões	que	professam,	e	não
se	 contentam	 até	 que,	 por	 ensino	 direto	 e	 reiterado,	 eles
tenham	se	familiarizado	com	pelo	menos	os	traços	gerais	dos
livros	 que	 contêm,	 de	 acordo	 com	 suas	 crenças,	 a	 vontade
revelada	de	Deus.	Por	que	os	cristãos	são	 tão	 indiferentes	a
esse	 dever	 tão	 óbvio,	 que	 é	 tão	 patentemente	 reconhecido
pelo	judeu	e	pelo	pagão?
Estamos	 lutando,	pois,	em	prol	de	uma	 inovação	absoluta.	Mas	não	pode	a
árvore	ser	conhecida	pelos	seus	frutos?	A	educação	estatal	entre	os	americanos
tende	a	ser	inteiramente	secularizada.	Qual	é	o	resultado	disso?
Neste	país,	há	uma	revolta	generalizada	para	com	a	fé	cristã,	ainda	que	o
país	esteja	repleto	de	igrejas,	pregadores	e	um	excesso	de	literatura	cristã.
E	 o	 que	 preparou	 tantos	 para	 as	 deprimentes	 absurdidades	 do
materialismo?	Por	que	os	jornais	que	almejam	a	circulação	nacional	pensam	que
é	de	seu	interesse	afetarem	irreligião?	Por	que	tantas	lamentações	a	respeito	das
corrupções	públicas	e	populares?
Observando	a	corrente	de	opinião,	percebe-se	que	os	mais	sábios	possuem
muitas	 reservas	 quanto	 aos	 frutos	 de	 nossos	 presentes	 métodos	 de	 educação
pública.	A	título	de	ilustração,	analisemos	estas	palavras.	O	governador	Rice	de
Massachusetts	“ergueu	uma	voz	de	alerta,	com	relação	à	inadequação	e	perigos
de	 nosso	 moderno	 sistema	 unilateral	 de	 educação,	 que	 supostamente	 poderia
desenvolver	 a	 natureza	 humana	 e	 a	 cidadania	 somente	 a	 partir	 do	 cultivo
mental”.
2.	A	verdadeira	 educação	 é,	 em	 certo	 sentido,	 um	 processo	 espiritual.	 É	 o
treinamento	 de	 uma	 alma.	 A	 educação	 é	 o	 treinamento	 de	 um	 espírito	 que	 é
racional	e	moral,	no	qual	a	consciência	é	a	faculdade	reguladora	e	imperativa.	O
propósito	característico	da	consciência,	mesmo	neste	mundo,	é	moral.
Mas	Deus	 é	 o	 único	 Senhor	 da	 consciência;	 a	 alma	 é	 sua	 semelhança	 em
miniatura.	A	vontade	divina	é	a	fonte	das	obrigações	da	alma,	e	a	semelhança	a
Deus	é	sua	perfeição.	A	religião	é	a	ciência	das	relações	da	alma	para	com	Deus.
Reunamos	essas	declarações,	e	os	processos	teológico	e	educacional	mostram-se
tão	intimamente	relacionados	a	ponto	de	não	poderem	ser	separados.	
É	 por	 essa	 razão	 que	 o	 senso	 comum	 da	 humanidade	 sempre	 invocou	 a
orientação	de	um	ministro	da	religião	para	a	educação	da	juventude.	Na	Índia	é	o
brâmane,	na	Turquia,	o	imã,	no	judaísmo,	o	rabi,	e	nas	terras	cristãs,	o	pastor.	Do
mesmo	modo,	os	livros	sagrados	sempre	foram	os	principais	livros	didáticos.	A
única	exceção	no	mundo	é	a	que	Roma	estabeleceu	para	si	mesma	por	meio	do
abuso	intolerável	de	seus	poderes.
A	alma	é	espiritualmente	indivisível.	Esses	poderes,	que	nomeamos	como
faculdades	separadas,	 são	apenas	modos	diferentes	de	 funcionamento.	O	poder
central	é	ainda	uno.	Partindo	destas	verdades,	aparentemente	a	alma	não	poderia
ser	 cultivada	 com	 êxito	 mediante	 parcelas.	 Não	 é	 possível	 ter	 o	 trabalhador
intelectual	 polindo-a	 num	 lugar	 e	 o	 trabalho	 espiritual,	 em	 outro.	 Pode-se
apresentar	 uma	 sucessão	 de	 objetos	 à	 alma	 a	 fim	 de	 evocar	 e	 disciplinar	 suas
potências;	contudo,	a	unidade	do	ser	demonstraria	a	necessidade	de	uma	unidade
em	sua	educação	bem-sucedida.
Os	 conceitos	 cristãos	 são	 os	 que	 mais	 estimulam	 e	 enobrecem	 a	 alma.
Aquele	que	os	omite	de	seus	ensinamentos	vê-se	privado	da	destra	de	sua	força.
Onde	há	de	extrair	uma	definição	semelhante	de	virtude,	 tal	como	a	que	nos	é
apresentada	 no	 caráter	 revelado	 de	 Deus?	 Onde	 há	 outra	 representação	 tão
enobrecedora	da	benevolência	como	a	demonstrada	no	 sacrifício	de	Cristo	por
seus	 inimigos?	 A	 concepção	 de	 espaços	 interestelares	 pode	 expandir	 a	 mente
tanto	quanto	o	pensamento	de	um	Deus	 infinito,	de	uma	existência	eterna	e	de
um	destino	sempiterno?
Toda	linha	de	conhecimento	genuíno	deve	encontrar	sua	completude	na	sua
convergência	em	Deus,	assim	como	 todo	 raio	de	 luz	do	dia	conduz	o	olhar	ao
sol.	 Se	 se	 exclui	 a	 religião	 do	 estudo,	 todo	 processo	 de	 pensamento	 será
interrompido	antes	de	alcançar	seu	fim	apropriado.	A	estrutura	do	pensamento
deve	continuar	sendo	um	cone	truncado,	privado	de	seu	vértice	superior.
3.	Se	é	para	tornar	a	educação	secular	consistente	e	honestamente	não	cristã,
então	deve-se	omitir	 todos	os	principais	 ramos,	ou	deve-se	mutilá-los	e	 falseá-
los,	 o	 que	 é	 muito	 pior	 do	 que	 a	 omissão	 absoluta.	 O	 instrutor	 deve	 ensinar
história,	cosmogonia,	psicologia,	ética	e	as	 leis	das	nações.	Pode	ele	 fazer	 isso
sem	 dizer	 nada	 favorável	 ou	 desfavorável	 acerca	 das	 crenças	 dos	 cristãos
evangélicos,	católicos,	socinianos,	deístas,	panteístas,	materialistas	ou	animistas,
todos	 os	 quais	 exigem	 direitos	 iguais	 sob	 a	 autoridade	 das	 instituições
americanas?	O	ensino	desse	instrutor	será	de	fato	“a	peça	de	Hamlet,	omitindo-
se	as	partes	de	Hamlet”.
	
A	 educação	 secular	 deixará	 o	 cidadão	 jovem	 totalmente	 ignorante	 de	 suas
próprias	origens?	Como	ele	aprenderá	a	narrativa	das	lutas	por	meio	das	quais	os
ingleses	alcançaram	as	liberdades	que	as	colônias	herdaram,	sem	o	entendimento
das	 ferozes	 perseguições	 aos	 protestantes	 da	 parte	 de	 Maria,	 a	 Sanguinária?
Como	os	 filhos	dos	huguenotes	 em	Nova	York,	na	Virgínia	ou	na	Carolina	do
Sul	saberão	a	razão	por	que	seus	pais	deixaram	a	bela	França,	esconderam-se	em
meio	às	nevascas	do	Norte	ou	nos	bosques	assolados	pela	malária	do	Sul?	Eles
não	 leram	 algo	 sobre	 a	 violação	 do	 “Édito	 de	 Nantes”,	 as	 “Dragonadas”	 e	 o
massacre	 indiscriminado	 da	 Noite	 de	 São	 Bartolomeu,	 em	 honra	 do	 qual	 um
predecessor	 “infalível”	 do	 papa	 entoou	 o	 Te	 Deum	 e	 cunhou	 medalhas?	 Se	 o
médico	tenta	olhar	para	os	primórdios	da	história	do	homem,	ele	pode	apresentar
a	gênese	da	terra	e	do	ser	humano	sem	indicar	se	é	Moisés	ou	Julian	Huxley	seu
profeta?
É	possível	estabelecer	a	ciência	do	imperativo	moral	sem	qualquer	referência
a	Deus?	Não	é	preciso	indagarmo-nos	se	sua	vontade	define	ou	não	todo	dever
humano?
O	etnólogo	é	capaz	de	determinar	os	direitos	da	natureza	e	das	nações	sem
afirmar	 ou	 negar,	 juntamente	 com	 o	 apóstolo,	 que	 “de	 um	 só	 fez	 toda	 a	 raça
humana	 para	 habitar	 sobre	 toda	 a	 face	 da	 terra,	 havendo	 fixado	 os	 tempos
previamente	estabelecidos	e	os	limites	da	sua	habitação”	(Atos	17.26)?
E	quanto	da	mais	nobre	literatura	deveria	ser	excluído	caso	esse	plano	fosse
sistematicamente	 levado	 a	 cabo?	 O	 professor	 da	 escola	 pública	 não	 deve
mencionar	Shakespeare	a	seus	alunos,	nem	Bacon,	nem	Milton,	nem	Macauley.
A	censura	da	livre	democracia	será	mais	rigorosa	do	que	a	da	Roma	despótica!
Porém	 não	 é	 preciso	 multiplicar	 os	 exemplos.	 Eles	 demonstram	 que	 as
verdades	e	os	fatos	cristãos	estão	tão	entrelaçados	na	tessitura	do	conhecimento
dos	 americanos,	 que	 consequentemente	 constituem	 uma	 parte	 benéfica	 e
essencial	de	nossa	civilização.	O	professor	da	escola	pública	que	imparcialmente
evita	 tanto	 a	 afirmação	ou	 a	negação	dessas	verdades	 e	 fatos	deve	 reduzir	 seu
ensino	a	uma	modesta	concessão	dos	rudimentos	insuficientes.	Tais	rudimentos,
conforme	vimos,	não	são	conhecimento,	mas	meros	indícios	de	conhecimento.
Alguém	pode	dizer	 que	 se	 trata	 de	um	exagero.	Por	que	um	professor	 não
pode	simplesmente	apresentar	uma	matéria	secular,	sem	mutilar	o	conteúdo	ou	o
cristianismo?
Se	seu	ensino	é	de	fato	mais	do	que	uma	simples	frivolidade	numa	área	da
educação,	perceberemos	que	será,	pois,	 tacitamente	anticristão.	Não	há	ataques
diretos,	porém,	há	uma	evasão	calculada	que	é,	com	efeito,	hostil.	Não	é	possível
haver	posição	neutra	entre	esses	dois	extremos,	que	têm	um	“grande	golfo	fixo”
entre	si.
4.	 No	 tocante	 à	 ação	 humana,	 a	 vontade	 e	 a	 consciência	 devem	 ser
purificadas	e	iluminadas.	Aumentar	o	vigor	das	demais	ações	da	alma	por	meio
do	 treinamentonada	mais	 é	 do	 que	 um	malefício	 supérfluo.	 Se,	 num	navio,	 a
bússola	está	danificada	e	o	piloto	é	cego,	é	preferível	que	não	haja	uma	grande
força	 a	 mover	 seu	maquinário.	 Quanto	mais	 potente	 seu	movimento,	 maior	 a
probabilidade	de	o	navio	ir	celeremente	de	encontro	às	rebentações.	Certamente
isto	 basta	 para	 demonstrar	 à	 mente	 reflexiva	 que	 não	 é	 possível	 separar	 a
instrução	 moral	 correta	 nesse	 ponto,	 ou	 em	 qualquer	 outro,	 do	 treinamento
intelectual,	sem	que	haja	grande	dano.
Uma	 pequena	 porém	 óbvia	 aplicação	 dessa	 verdade	 dá-se	 em	 relação	 à
própria	disciplina	da	escola.	Não	se	desenvolve	nenhuma	faculdade	sem	algum
governo.	 Para	 o	 professor	 que	 omite	 completamente	 todo	 recurso	 à	 religião,
sobre	que	base	moral	se	assenta	sua	autoridade	a	ser	exercida	na	sala	de	aula?
Ele	perceberá	que	é	necessário	dizer	ao	pupilo:	“Seja	diligente.	Seja	obediente.
Não	 minta”.	 Isto	 deve	 ser	 feito	 de	 maneira	 que	 o	 estudante	 possa	 adquirir	 o
conhecimento	secular.	Mas	com	base	em	que	autoridade?	Por	qual	padrão?
Há	apenas	um	fundamento	da	obrigação	moral	—	a	vontade	de	Deus.	Entre
as	 pessoas	 deste	 país,	 aquela	 que	 não	 se	 depara	 com	 o	 desvelamento	 dessa
vontade	nas	Escrituras	no	mais	das	vezes	também	não	a	encontra	em	outra	parte.
Contudo,	 o	 professor	 não	 deve	 imprimir	 no	 espírito	 de	 seu	 pupilo	 os
ensinamentos	 da	 Bíblia.	 Por	 conseguinte,	 seu	 poder	 somente	 deve	 produzir	 o
direito	—	ou	também	o	poder	dos	pais,	ou	do	magistrado,	para	cuja	autoridade
delegada	 ele	 aponta.	 Ou	 seu	 apelo	 deveria	 ser	 ao	 interesse	 próprio	 do	 aluno?
Esse	governo	será	salutar	à	alma	do	jovem?
Quando	cresce,	o	aluno	torna-se	um	cidadão.	Passa	a	ter	obrigações	maiores
e	 mais	 complexas.	 O	 propósito	 das	 escolas	 públicas	 é	 equipá-lo	 para	 isso.	 A
mesma	questão	vem	à	tona	novamente.	Em	que	base	se	assentam	esses	deveres?
Quando	homem	crescido,	é	presumível	que	ele	agirá	tal	como	fora	ensinado	em
sua	 infância.	 Segue-se,	 pois,	 que	 os	 fundamentos	 da	 obrigação	 que	 lhe	 foram
apresentados	 na	 escola	 devem	 ser	 aqueles	 que	 reconhecerá	 na	 vida	 adulta.	Na
escola	pública,	é	possível	que	lhe	tenha	sido	dado	apenas	um	padrão	não	cristão.
Não	se	pode	esperar	que	agora	seja	elevado	a	um	padrão	superior,	embora	seja
possível	 degradar-se	 a	 um	 padrão	 inferior,	 visto	 que	 o	 que	 lhe	 fora	 dado
primeiramente	não	possui	um	fundamento	subjacente.	
Qual	 é	 o	 resultado?	 Jovens	 americanos	 devem	 assumir	 suas
responsabilidades	 com	 os	 costumes	morais	 pagãos,	 pois	 é	 somente	 isto	 que	 a
razão	humana	obtém	sem	a	revelação	de	Deus.	Será	o	suficiente	para	sustentar	as
instituições	americanas?
Possivelmente	 dirão	 que	 o	 teísmo	 natural	 é	 capaz	 de	 deduzir	 um	 código
moral	 bastante	 elevado,	 conforme	 evidenciado	 na	 filosofia	 grega	 clássica.	Um
homem	que	entende	corretamente	os	dados	de	sua	consciência	pode	ser	um	ateu,
e	mesmo	o	ateísta	é	capaz	de	encontrar	neles	alguma	prova	da	necessidade	de
governar-se	a	consciência.	Mas	não	é	assim	que	funciona	na	prática.	Passemos	a
legislar	para	o	povo	conforme	este	deveria	ser	ao	invés	de	como	ele	é	de	fato,	e
assim	teremos	um	belo	castelo	de	cartas!
De	 fato,	 não	 há	 americanos,	 considerados	 aqui	 no	 modo	 que	 com	 eles
habitualmente	nos	deparamos,	cujas	restrições	morais	não	provenham	da	Bíblia.
Se,	 quando	 treinarmos	moralmente	os	 jovens,	 abrirmos	mãos	do	 “Assim	diz	o
Senhor”,	 não	 teremos	mais	 o	 governo.	 O	 ensinamento	 que	 não	 fundamenta	 o
dever	no	cristianismo	é,	para	nós,	praticamente	imoral.	
Se	é	preciso	um	testemunho,	citemos	o	dr.	Griffin:	“Educar	a	mente	de	um
homem	 mau	 sem	 corrigir	 sua	 moral	 é	 colocar	 uma	 espada	 nas	 mãos	 de	 um
maníaco”.
John	Locke	tratou	dessa	mesma	questão.	“É	a	virtude,	pois,	a	virtude	direta,
que	 é	 a	 parte	 difícil	 e	 valiosa	 que	 a	 educação	 deve	 visar.	 Se	 a	 virtude	 não	 se
arraigar	no	aluno,	excluindo	assim	todos	os	hábitos	viciosos,	toda	a	educação	no
mundo	nada	fará	senão	tornar	o	estudante	pior	ou	mais	perigoso”.
Escutemos	 o	 dr.	 Francis	 Wayland:	 “O	 cultivo	 intelectual	 pode	 existir
facilmente	 sem	 a	 existência	 da	 virtude	 ou	 do	 amor	 à	 retidão.	 Neste	 caso,	 seu
único	efeito	é	incitar	o	desejo;	e	este,	sem	as	restrições	do	amor	à	retidão,	deve,
por	 fim,	 transtornar	 o	 tecido	 social	 que	 o	 cultivo	 intelectual	 num	 primeiro
momento	havia	construído”.
E,	por	fim,	deveríamos	considerar	o	que	Washington	disse	em	seu	discurso
de	despedida.	Ele	ensinou-nos	que	a	virtude	dos	cidadãos	é	a	única	base	para	a
segurança	 social,	 e	 que	 a	 religião	 cristã	 é	 a	 única	 base	 adequada	 para	 essa
virtude.
No	entanto,	o	cultivo	mental	não	é,	em	si	mesmo,	enobrecedor?	É-nos	difícil
desistir	 desse	 conceito,	 porque	 até	 aqui	 a	 educação	 foi	 relativamente	 cristã.	O
ministro	 foi	 o	 diretor	 da	 escola	 americana.	 Mas	 os	 mais	 educados	 não	 são
também	 os	 mais	 elevados?	 Sim,	 isto	 é	 verdade	 pela	 razão	 que	 acabamos	 de
apresentar.	 Há	 outra	 ainda.	Não	 é	 que	 o	 cultivo	 da	 mente	 dos	 alunos	 os	 fez
buscar	uma	moralidade	 superior;	antes,	 sua	moralidade	 superior	 (e	a	de	 seus
pais)	os	fez	buscar	o	cultivo	mental.	Somos	propensos	a	pôr	a	carroça	na	frente
dos	bois.	Novamente	é	preciso	retornar	às	evidências.
O	 conhecimento	não	governa	o	 coração.	Se	 algo	o	 faz,	 é	 a	 consciência.	O
simples	conhecimento,	sem	o	temor	a	Deus,	faz	com	que	o	desejo	se	desenvolva
mais	rapidamente	do	que	a	prudência.
Sir	Henry	 Bulwer	 coloca	 isso	 da	 seguinte	 maneira:	 “Não	 deposito	 muita
confiança	no	filósofo	que	finge	que	o	conhecimento	que	desenvolve	as	paixões
seja	um	instrumento	para	sua	supressão,	ou	que	onde	há	mais	desejos,	é	provável
que	 haja	 mais	 ordem,	 e	 também	 maior	 abstinência	 na	 gratificação	 desses
desejos”.
A	 alma	 deve	 desenvolver-se	 simetricamente.	 Se	 os	 ramos	 de	 uma	 árvore
crescem,	ao	passo	que	as	raízes	(inteiramente	saudáveis)	não	se	expandem,	será
derrubada	no	primeiro	vendaval	em	razão	da	desproporção	de	suas	partes.
5.	Precisamos	 dos	 melhores	 homens	 ensinando	 nossas	 crianças.	 Porém	 os
melhores	são	os	cristãos	genuínos,	que	carregam	sua	religião	consigo	em	 todas
as	 coisas.	 Esses	 homens	 não	 podem	 se	 comprometer	 a	 serem	 professores	 de
preciosas	 almas	pelas	quais	Cristo	morreu	 e	não	 fazer	 quaisquer	 esforços	para
salvá-las.
Desse	modo,	a	tendência	necessariamente	será	a	entrega	das	escolas	públicas
nas	 mãos	 dos	 cristãos	 titubeantes	 ou	 nas	 mãos	 de	 descrentes	 insolentes.	 É
possível	sequer	confiar	em	tais	pessoas	com	uma	tarefa	secular	importante?	As
ferrovias	 persistem	 em	 transgredir	 o	 Dia	 do	 Senhor;	 desse	 modo	 elas	 têm	 de
empregar	exclusivamente	transgressores	profanos	do	Dia	do	Senhor	ou	adeptos
transigentes	da	religião.	Qual	é	a	consequência?	São	atormentados	com	oficiais
negligentes,	engenheiros	bêbados	e	caixas	desonestos.
Assim,	 nossas	 escolas	 públicas	 cairão	 nas	 mãos	 de	 professores	 que	 nem
mesmo	ministrarão	honestamente	o	ensino	secular.	Dinheiro	será	desperdiçado,	e
as	escolas	tornar-se-ão,	para	seus	próprios	pupilos,	exemplos	corrompedores	de
trabalho	desleixado	e	abuso	de	fideicomissos.
6.	 Para	 cada	 cidadão	 cristão,	 o	 argumento	 conclusivo	 contra	 a	 educação
escolar	está	presente	em	seu	próprio	credo	no	que	se	 refere	à	 responsabilidade
humana.	 De	 acordo	 com	 este	 credo,	 a	 obrigação	 para	 com	 Deus	 envolve	 a
totalidade	dos	atos	e	do	ser	de	cada	homem.	Mesmo	as	melhores	tentativas	serão
julgadas	imperfeitas.	“A	lâmpada	do	perverso…	é	pecado”	[Provérbios	21.4].	O
fim	deliberado	para	o	qual	nossos	atos	se	dirigem	determina	derradeiramente	sua
(dos	atos)	compleição	moral.
Nosso	Salvador	 também	 afirmou	 que	 não	 há	 neutralidade	moral	—	 aquele
que	não	é	por	ele	é	contra	ele.	Juntamente	a	isto,	consideremos	que	todo	homem
nasce	 num	 estado	 de	 alienação	 em	 relação	 a	 Deus.	 A	 inimizade	 e	 ateísmo
práticos	são	o	desenvolvimentonatural	dessa	disposição.	O	único	remédio	para
essa	 doença	 natural	 do	 espírito	 do	 homem	 é	 a	 verdade	 do	 evangelho.	 A
comparação	dessas	verdades	tornará	perfeitamente	claro	que	o	ensino	não	cristão
deve	ser	literalmente	um	ensino	anticristão.
Eis,	 portanto,	 o	 argumento	 conclusivo.	 A	 réplica	 já	 foi	 lançada:	 “Não	 é
verdade	que	os	cristãos	não	sustentam	essa	teologia	como	membros	da	igreja,	e
não	 como	 cidadãos?	 Tu	 mesmo	 não	 disseste	 que	 o	 Estado	 não	 é	 um	 agente
evangélico,	e	sua	função	apropriada	não	é	a	conversão	de	almas	de	seu	pecado
original?”.
É	verdade,	mas	o	Estado	também	não	tem	o	direito	de	tornar-se	uma	agência
antievangélica,	 impondo	 resistência	 ao	 trabalho	 da	 comunidade	 espiritual.
Embora	 o	 Estado	 não	 autorize	 as	 crenças	 teológicas	 dos	 cidadãos	 cristãos,
também	não	possui	o	direito	de	travar	guerra	contra	elas.	Não	obstante	o	fato	de
não	 termos	 o	 direito	 de	 pedir	 ao	 Estado	 para	 difundir	 nossa	 teologia,	 temos,
contudo,	 o	 direito	 de	 exigir	 que	 não	 se	 oponha	 a	 ela.	 E	 educar	 almas	 dessa
maneira	é	opor-se	à	nossa	teologia.	Eis	a	razão	por	que	um	ensino	não	cristão	é
um	ensino	anticristão.
Pode-se	 apresentar	 ainda	 outro	 argumento	 contrário:	 “Essa	 consequência,
embora	maligna,	não	será	mitigada	caso	o	Estado	cesse	por	completo	de	ensinar,
pois	 então	 o	 ensino	 dos	 jovens	 será,	 ao	 menos	 no	 que	 lhe	 diz	 respeito,
igualmente	não	cristão”.
A	resposta:	uma	coisa	é	 tolerar	um	erro	cometido	por	alguém	sobre	o	qual
não	 temos	 autoridade	 legal,	 e	 outra	 inteiramente	 diferente	 é	 cometermos	 nós
mesmos	esse	erro.	Pois	o	Estado	fazer	aquilo	que	lhe	cabe	a	fim	de	condenar	os
pais	ímpios	(embora	ele	não	tenha	autoridade	para	interferir)	seria	o	pecado	de
“forjar	 o	 mal,	 tendo	 uma	 lei	 por	 pretexto”	 [Salmo	 94.20].	 Esta	 é	 a	 própria
característica	de	um	“trono	da	 iniquidade”,	 com	o	qual	 o	Senhor	não	pode	 ter
comunhão.
Outra	objeção	é	que	se	o	Estado	deve	governar	e	punir	—	ambas	as	quais	são
funções	morais	—,	ele	também	deve	ensinar.	Se	estamos	preparados	para	a	ideia
totalitária	 de	 Estado,	 que	 faz	 deste	 a	 instituição	 humana	 universal,	 então
podemos	chegar	a	essa	conclusão	acima.	Entretanto,	o	Estado	deve	 fazer	 tudo,
desde	reparar	uma	estrada	e	drenar	um	pântano	até	apoiar	uma	religião?
Mas	 então	 a	 coerência	 fará	 com	que	 adicionemos	 às	 escolas	 públicas	 uma
religião	governamental,	um	clero	sustentado	por	 impostos,	um	exame	religioso
para	 cargos	públicos,	 e	 o	Estado	 empunhando	 seu	poder	 para	 suprimir	 tanto	o
erro	 teológico	 quanto	 o	 social.	 Novamente,	 embora	 o	 governo	 e	 punição
seculares	sejam	funções	éticas,	eles	estão	suficientemente	fundamentados	à	 luz
do	 teísmo	natural.	No	entanto,	o	 ensino	é	uma	 função	espiritual	—	no	 sentido
acima	definido.	Para	o	ensino	de	indivíduos	caídos	e	moralmente	arruinados,	o
teísmo	natural	é	totalmente	inadequado,	conforme	vê-se	no	Estado	da	sociedade
pagã.
Os	 cidadãos	 cristãos	 estão	 autorizados	 por	 Deus	 (e	 não	 pelo	 Estado)	 a
sustentar	 que	 o	 único	 ensino	 adequado	 para	 uma	 alma	 caída	 é	 o	 ensino	 da
redenção.	Mas	disto	o	Estado,	enquanto	tal,	nada	sabe.	Como	instituição	de	Deus
para	a	consecução	da	justiça	secular,	o	Estado	sabe	o	suficiente	da	retidão	moral
para	honrar	aqueles	que	fazem	o	bem	e	para	trazer	terror	aos	malfeitores.
A	 evasiva	 mais	 plausível	 que	 se	 possa	 apresentar	 é	 esta:	 “Visto	 que	 a
educação	é	 tão	abrangente,	por	que	não	podemos	 ter	uma	‘divisão	de	 tarefas’?
Deixem	o	Estado	educar	o	intelecto,	enquanto	os	pais	cristãos	e	a	igreja	educam
a	consciência	e	o	coração,	 tanto	em	casa	quanto	no	local	de	adoração”.	Muitos
cristãos	 julgam	 essa	 solução	 satisfatória.	 É	 claro	 que	 tal	 arranjo	 não	 seria	 tão
maligno	 quanto	 a	 negligência	 para	 com	 a	 educação	 do	 coração	 por	 parte	 do
Estado	e	dos	pais.
Essas	objeções,	contudo,	já	foram	respondidas.	Uma	vez	que	a	consciência	é
a	faculdade	reguladora	de	todas	as	demais,	o	professor	que	não	pode	lidar	com	a
consciência	 não	 pode	 também	 lidar	 adequadamente	 com	 qualquer	 outra	 coisa.
Visto	que	a	alma	é	indivisível,	não	se	pode	equipá-la	em	diferentes	partes	e	em
momentos	e	locais	diferentes	do	mesmo	modo	que	um	homem	pode	comprar	seu
chapéu	numa	loja	e	suas	botas	em	outra.
Tendo	em	vista	que	 todas	 as	verdades	 se	 convergem	em	Deus,	 o	professor
que	não	pode	mencionar	o	nome	de	Deus	necessariamente	ministra	um	ensino
fragmentado.	Ele	é	capaz	de	construir	somente	uma	figura	truncada.	Na	história,
na	ética,	na	filosofia	e	na	 jurisprudência,	os	fatos	e	pressupostos	religiosos	são
absolutamente	 inseparáveis	 do	 conteúdo	 que	 se	 tem	 em	 mãos.	 A	 disciplina
necessária	de	uma	sala	de	aula	e	a	 fidelidade	secular	dos	professores	exigem	a
religião.
E	 nenhuma	 pessoa	 ou	 instituição	 tem	 o	 direito	 de	 dizer	 a	 uma	 alma
responsável,	imortal:	“Nesta	extensa	porção	intelectual	e	ética	de	tua	vida,	estás
autorizado	 a	 ser	 ímpio”.	 A	 escola	 pública	 não	 deve	 sequer	 ousar	 negar	 a	 seu
pupilo	 o	 estabelecimento	 de	 sua	 própria	 atividade.	 Essa	 negação	 seria,	 por	 si
mesma,	uma	inculcação	religiosa!
Porém,	há	mais	ainda.	Por	que	as	pessoas	desejam	que	o	Estado	interfira	na
educação?	A	resposta	é	que	ele	possui	o	poder	e	os	recursos	para	melhor	fazê-lo.
Mas	então,	a	menos	que	sua	intervenção	seja	uma	fraude,	sua	educação	secular
deve,	com	efeito,	ser	algo	que	exerça	profunda	impressão.	Isto	significa	que	essa
impressão	—	 que,	 de	 acordo	 com	 a	 teoria,	 será	 não	 cristã	—,	 terá	 um	 efeito
maior	 na	 alma	 do	 jovem.	 E	 é	 o	 ensino	 mais	 fraco	 ministrado	 na	 Escola
Dominical	que	deverá	contrabalancear	isso.
O	 coração	 natural	 é	 carnal	 e	 naturalmente	 se	 inclina	 para	 longe	 do
evangelho.	 Para	 o	 jovem,	 quando	 inspirado	 por	 seus	 estudos,	 o	 professor	 é
geralmente	um	deus;	e,	neste	estado	de	coisas,	será,	para	o	estudante	entusiasta,
uma	divindade	completamente	pagã.	O	lado	cristão	do	professor,	caso	exista,	não
poderá	mostrar-se	a	esse	adorador!	Se	estas	coisas	de	fato	ocorrem,	quão	pálido
e	 frio	 parecerá	 o	 raro	 raio	 de	 evangelho,	 quando	 vier	 sobre	 o	 jovem	 aos
domingos!	Em	resumo,	ao	estudante	de	sucesso	que	está	sob	a	autoridade	de	um
professor	competente,	a	escola	é	seu	mundo.	Torne	a	escola	irreligiosa,	e	a	vida
do	estudante	tornar-se-á	irreligiosa.
Perguntemos	 novamente:	 “Por	 que	 o	 Estado	 não	 se	 poupa	 de	 problemas
simplesmente	deixando	toda	educação	aos	pais?”.	A	resposta	que	nos	chega	é	a
seguinte:	“Porque	muitos	pais	são	incapazes	ou	descuidados	para	que	possamos
confiar	a	eles	essa	tarefa”.
Evidentemente	 se	 a	 maioria	 dos	 pais	 cumprissem	 o	 trabalho	 de	 forma
satisfatória,	 o	 Estado	 não	 teria	 razão	 para	 intrometer-se.	 Mas	 então	 a	 própria
razão	para	a	existência	da	escola	pública	é	essa	ampla	classe	de	pais	negligentes.
Porém,	o	homem	é	um	ser	carnal,	alienado	da	piedade.	Consequentemente,	todos
aqueles	 que	 negligenciam	 o	 desenvolvimento	 mental	 de	 seus	 filhos	 também
negligenciam	seu	cultivo	espiritual.
Portanto,	devemos	supor	que,	na	própria	classe	que	serve	de	pretexto	para	a
intervenção	 do	 Estado,	 o	 desenvolvimento	 fatalmente	 parcial	 que	 ele	 fornece
permanecerá	sendo	parcial.	O	Estado	não	tem	direito	de	presumir	nada	diferente
disso.	No	entanto,	alguém	pode	replicar:	“Nisto,	não	cabe	à	igreja	assumir	esse
trabalho,	negligenciado	tanto	pela	escola	pública	secularizada	quanto	pelos	pais
ímpios?”.
A	resposta	é	que	a	escola	secular	não	pode	declarar	a	igreja	como	um	aliado.
Ademais,	se	a	igreja	se	encontra	suficientemente	onipresente,	disposta	e	eficiente
ao	redor	de	todo	o	país	para	que	se	possa	confiar	nela,	por	que	ela	não	inspirará,
nos	 pais	 e	 indivíduos	 filantropos,	 zelo	 suficiente	 para	 cuidarem	 de	 toda	 a
educação	 da	 juventude?	 Assim,	 mais	 uma	 vez,	 desaparecerão	 todas	 as	 razões
para	a	intervenção	do	Estado.
Todavia,	a	 igreja	de	 fato	não	 repara,	nem	é	capazde	 fazê-lo,	o	agravo	que
está	 sendo	 causado	pelo	 seu	mais	 rico	 e	 poderoso	 rival.	O	Estado	 secular	 está
fornecendo,	sob	o	disfarce	de	uma	educação	não	cristã,	uma	educação	anticristã.
É	 também	um	 fato	 bastante	 conhecido	 aos	 homens	práticos	 que	 as	 escolas
públicas	obstruem	os	empenhos	dos	pais	e	de	filantropos.	Desse	modo,	caso	não
houvesse	 interferência,	 pais	 seguiriam	 o	 impulso	 de	 cristãos	 iluminados,	 seus
próximos	e	seus	guias	naturais,	criando	assim	escolas	privadas	para	seus	filhos.
As	 escolas	 seriam	 tanto	 primárias	 quanto	 clássicas.	 Porém,	 agora
invariavelmente	 oferecem	apenas	 a	 educação	primária.	 “O	 imposto	 referente	 à
escola	deve	 ser	 pago	de	qualquer	modo,	 e	 é	pesado.	 Isso	 é	 tudo	que	podemos
fazer”.
No	 passado,	 filhos	 de	 pais	 pobres	 que	 demonstravam	 aspiração	 para	 a
aprendizagem	 encontravam	 sua	 oportunidade	 para	 receber	 a	 instrução	 clássica
perto	 de	 seus	 lares,	 nas	 incontáveis	 escolas	 privadas	 criadas	 pela	 iniciativa	 de
pais	e	pelo	espírito	público.	A	caridade	da	vizinhança	 jamais	permitiu	que	 tais
jovens	merecedores	fossem	impedidos	pela	simples	falta	de	instrução.	Uma	vez
que	os	melhores	homens	são	líderes	naturais	de	seus	próximos,	eles	trariam	uma
grande	parte	 das	 crianças	 das	 classes	 próximas	 a	 eles	 para	 as	 escolas	 privadas
criadas	 para	 suas	 próprias	 famílias.	 Essas,	 por	 essa	 mesma	 razão,	 seriam
certamente	escolas	cristãs.	
No	entanto,	 o	objetivo	da	 educação	pública	 é	 trazer	um	grande	número	de
crianças	para	as	escolas	primárias	e	reduzir	de	algum	modo	a	iliteracia	—	o	que
é	 um	 grande	 deleite	 para	 filantropos	 superficiais.	 Porém	 o	 número	 de	 jovens
educados	 para	 além	 dos	 meros	 rudimentos,	 e	 especialmente	 aqueles	 que
passaram	por	educação	cristã	cotidiana,	é	diminuto.
Dessa	maneira,	 a	 secularização	efetiva	 e	 consistente	da	 educação	não	deve
ser	tolerada.	Mas	quase	todos	os	homens	públicos	e	pregadores	declaram	que	as
escolas	públicas	 são	 a	glória	da	América.	Elas	 são	uma	 finalidade,	 e	 de	modo
nenhum	 deve-se	 abrir	 mão	 delas.	 Vimos	 que	 sua	 secularização	 total	 é
logicamente	inevitável.	Os	cristãos	devem	preparar-se,	então,	para	as	seguintes
consequências:	todas	as	orações,	catecismos	e	Bíblias	serão,	por	fim,	retiradas
das	escolas.
Mas	isto	não	satisfará	os	católicos,	que	obstinadamente	—	e	caso	sua	religião
estivesse	certa,	corretamente	—	insistem	que	a	educação	para	suas	crianças	deve
ser	 cristã.	 Esse	 poder	 sobre	 as	 esperanças	 e	medos	 dos	 demagogos	 assegurar-
lhes-á	aquilo	que	os	protestantes	não	podem	exigir	por	coerência	—	uma	verba
separada	retirada	dos	fundos	públicos.
Portanto,	 em	 relação	 ao	 protestantismo,	 Roma	 desfrutará	 de	 uma	 grande
vantagem	na	corrida	do	propagandismo.	A	humanidade	sempre	perceberá,	mais
cedo	ou	mais	tarde,	que	não	pode	subsistir	sem	uma	religião,	e	isto	fará	com	que
assuma	preferencialmente	uma	religião	falsa	em	lugar	de	nenhuma.	Infidelidade
e	 impiedade	práticas	 tornar-se-ão	cada	vez	mais	predominantes	entre	os	 jovens
protestantes,	 e	 nossas	 igrejas	 enfrentarão	 uma	 dificuldade	 maior	 para	 seu
crescimento,	quando	não	para	sua	existência.
Talvez	os	protestantes	americanos	possam	ser	conduzidos	não	ao	abandono,
mas	à	revisão	de	suas	opiniões	no	tocante	à	educação.	Eles	poderiam	relembrar
as	condições	sob	as	quais	a	teoria	da	educação	pública	veio	a	ser	primeiramente
aceita	 neste	 país.	 Deu-se	 nas	 colônias	 que,	 ao	 mesmo	 tempo,	 advogavam
firmemente	a	união	entre	igreja	e	Estado.
As	 colônias	 de	 Massachusetts	 e	 Connecticut,	 por	 exemplo,	 honoráveis
pioneiras	 na	 educação	 pública	 desta	 nação,	 eram	 resolutamente	 teocráticas	 em
sua	constituição.	A	religião	reformada	fora	estabelecida	por	lei.
O	 mesmo	 sucedeu	 em	 todos	 os	 países	 protestantes	 da	 Europa,	 cujos
exemplos	 bem-sucedidos	 são	 sempre	 citados.	 Escócia	 e	 Prússia,	 por	 exemplo,
têm	 a	 fé	 protestante	 como	 religião	 estabelecida.	 Essa	 união	 igreja/Estado	 e	 a
educação	 pública	 primária	 sempre	 foram	 parte	 de	 um	 sistema	 coerente	 nas
mentes	de	seus	governantes	na	igreja	e	no	Estado.
Uma	educação	secular,	tal	como	esta	que	resultará	de	nosso	sistema	escolar
público,	 teria	 sido	 repudiada	 com	 indignação	 pelos	 Winthrops	 e	 Mathers,	 os
Knoxs,	os	Melvilles	e	os	Chalmers.	Pode-se	até	mesmo	dizer	com	segurança	que
os	Tholucks	 e	 os	Bismarcks,	 que	 são	 apontados	 como	precedentes	 e	modelos,
condenariam	tal	coisa.
Será	de	 fato	honesto	os	defensores	da	escola	pública	 citarem	as	opiniões	 e
ações	 de	 todos	 esses	 grandes	 homens,	 para	 algo	 que	 é	 inteiramente	 diferente
daquilo	que	defendiam?	John	Knox,	por	exemplo,	insistia	na	educação	primária
para	cada	criança	na	Escócia	por	parte	do	Estado.	Mas	isto	porque	o	Estado	que
ele	havia	auxiliado	a	reconstruir	na	Escócia	estava	revestido	do	poder	legitimado
para	ensinar	a	religião	reformada	(por	meio	da	igreja	aliada),	e	porque	era	assim
competente	 para	 ensinar	 as	 crianças	 a	 lerem	 e	 de	 igual	 modo	 ensiná-las	 as
Escrituras	e	o	Catecismo	da	Assembleia	[de	Westminster].
Se	Knox	tivesse	testemunhado	uma	ruptura	entre	igreja	e	Estado	(a	qual	ele
teria	 condenado	 como	maligna	 e	 pagã)	 conduzindo	 a	 uma	 educação	 secular,	 e
que	educasse	o	intelecto	sem	a	consciência	ou	o	coração,	sua	língua	heroica	não
teria	pronunciado	palavras	inseguras.	
Vemos,	pois,	que	homens	bons	e	sábios	adotaram	e	desenvolveram	com	êxito
esse	sistema.	Mas	eles	o	fizeram	somente	por	comunidades	que	uniam	igreja	e
Estado,	 e	 a	 educação	 mental	 com	 a	 espiritual.	 A	 questão	 para	 consideração
honesta	 é,	 pois,	 a	 seguinte:	 “Que	 modificações	 a	 teoria	 da	 educação	 pública
deveria	 receber,	 quando	 é	 importada	 para	 comunidades	 cujos	 governos	 civis
secularizaram-se	de	forma	absoluta,	tornando	ilegal	e	impossível	a	união	entre	os
poderes	secular	e	espiritual?”.
A	 resposta	 talvez	 possa	 ser	 encontrada	 ao	 retrocedermos	 ao	 primeiro
princípio	 sugerido	 no	 início	 desta	 discussão.	 A	 educação	 das	 crianças	 é	 uma
função	cívica	ou	eclesiástica?
Não	 é	 propriamente	 uma	 função	 doméstica	 que	 cabe	 aos	 pais?
Primeiramente,	lemos	nas	Escrituras	que	Deus	estabeleceu	a	família	pela	união
de	 uma	 mulher	 com	 um	 homem,	 numa	 só	 carne,	 para	 a	 vida,	 para	 o	 fim
declarado	de	“buscar	a	descendência	que	prometera”	[Malaquias	2.15].	Isto	não
implica	que	Deus	olha	para	os	pais,	nos	quais	se	fundamenta	a	família,	como	os
agentes	responsáveis	desse	resultado?
No	Quinto	Mandamento,	Deus	vinculou	o	 filho	não	com	o	presbítero	ou	o
magistrado,	mas	com	seus	pais,	o	que	evidentemente	confere	a	estes	a	autoridade
apropriada	e	primacial.	Esse	argumento	aparece	novamente	na	própria	ordem	da
gênese	histórica	da	família	e	do	Estado,	assim	como	da	igreja	visível.	A	família
foi	estabelecida	em	primeiro	lugar.
Os	 pais,	 no	 princípio,	 foram	os	 únicos	 chefes	 sociais	 existentes.	A	 criação
correta	das	crianças	por	parte	deles	foi	necessária	para	a	constituição	correta	de
duas	 outras	 instituições.	 Consequentemente,	 a	 autoridade	 dos	 pais	 sobre	 as
crianças	aparentemente	não	pôde	 ter	 se	originado	pela	delegação	do	Estado	ou
da	 igreja	 visível	—	 não	mais	 do	 que	 a	 água	 na	 fonte	 procede	 do	 reservatório
inferior.
Em	segundo	lugar,	o	modo	como	Deus	opera	no	curso	da	natureza	demonstra
onde	estão	depositados	o	poder	e	o	dever	da	educação.	Deus	determinou	que	os
pais	 decidam	 em	 que	 momento	 a	 criança	 iniciará	 sua	 carreira	 adulta.	 O	 filho
herda	a	fortuna,	a	posição	social,	a	responsabilidade,	ou	a	má	reputação	de	seu
pai.
Em	 terceiro	 lugar,	 Deus	 deu	 aos	 pais	 influências	 sociais	 e	 morais	 tão
singulares,	 tão	 extensas,	 que	 nenhum	outro	 poder	 terreno,	 ou	 todos	 os	 demais
poderes	 juntos,	 podem	 substituí-los	 na	 formação	 do	 caráter	 da	 criança.	 O
exemplo	 doméstico,	 fortalecido	 pela	 venerável	 autoridade	 do	 pai	 e	 da	 mãe,
repetido	continuamente	em	casa	e	reforçadopela	reverência	filial,	deveria	ter	a
força	 suprema	 sobre	 o	 caráter.	 Deus	 preservou	 esse	 poder	 ímpar	 por	meio	 da
afeição	natural,	a	mais	poderosa	e	mais	altruísta	que	ainda	se	mantém	no	coração
do	homem	caído.	Até	que	o	magistrado	seja	capaz	de	sentir	o	amor,	sendo	por
este	animado	para	um	cuidado	e	trabalho	abnegados	iguais	ao	de	um	pai	e	ao	de
uma	mãe,	ele	não	pode	apresentar	nenhuma	razão	para	assumir	qualquer	função
parental.
O	 melhor	 argumento	 neste	 ponto	 é	 o	 próprio	 instinto	 do	 coração.	 Pais
nenhuns	podem	deixar	de	ressentir-se	pela	intrusão	de	qualquer	autoridade	entre
sua	 consciência	 e	 convicções	 e	 a	 alma	de	 seu	 filho.	 Se	 o	 pai	 conscientemente
acredita	que	seu	próprio	credo	é	verdadeiro	e	justo	e	impreterível	perante	Deus,
então	ele	deve	 intuitivamente	considerar	como	usurpação	a	 intrusão	entre	ele	e
seu	filho	por	parte	de	qualquer	poder	que	busca	promover	a	rejeição	desse	credo.
Somente	 a	 liberdade	 da	 mente	 do	 filho,	 quando	 se	 tornar	 um	 adulto,	 pode
legitimamente	 interpor-se.	 Se	 essa	 usurpação	 é	 cometida	 pela	 igreja	 visível,	 é
uma	 caminhada	 em	 direção	 ao	 catolicismo.	 Se	 é	 cometida	 pelo	magistrado,	 é
uma	caminhada	em	direção	ao	despotismo.
Pode-se	objetar	que	essa	teoria	torna	os	pais	soberanos	durante	a	menoridade
mental	 e	 moral	 da	 criança.	 Isso	 afeta	 a	 formação	 das	 opiniões	 e	 caráter	 da
criança,	 e	 visto	 que	 os	 pais	 são	 falíveis	 e	 podem	 ensinar	 o	 filho
equivocadamente,	 é	 necessário	 que	 haja	 uma	 autoridade	 superior	 para
supervisionar	e	intervir.
A	resposta	para	isso	é	que	a	suprema	autoridade	deve	ser	colocada	em	algum
lugar.	Deus	indicou	que,	em	geral,	nenhum	lugar	é	tão	seguro	para	isso	quanto
os	braços	dos	pais,	os	quais	possuem	o	amor	maior	pela	criança	e	as	melhores
oportunidades.
Mas,	os	pais	não	podem,	no	entanto,	negligenciar	ou	perverter	esse	poder?
Sim,	mas	acaso	o	Estado	jamais	negligencia	ou	perverte	seus	poderes?	Com	as
lições	 da	 história	 para	 nos	 ensinarem	 acerca	 dos	 abusos	 de	 poder	 horríveis	 e
quase	universais	nas	mãos	de	governantes	civis,	essa	questão	é	conclusiva.	No
caso	 de	 um	Estado	 ímpio	 ou	 injusto,	 o	mal	 seria	 universal	 e	 enorme.	Não	 há
dúvida	de	que	Deus	depositou	o	dever	da	educação	no	lugar	mais	seguro.
As	competições	entre	Estado	e	igreja	pelo	poder	sobre	a	educação	têm	sido
tão	 absorventes	 que	 quase	 nos	 esquecemos	 dos	 pais,	 o	 terceiro	 e	 legítimo
competidor.	 E	 agora	 muitos	 olham	 para	 a	 reivindicação	 dos	 pais	 quase	 com
desprezo.	Uma	vez	que	as	esferas	da	igreja	e	do	Estado	são	muito	mais	amplas	e
mais	populosas	do	que	a	esfera	dos	pais,	eles	estão	inclinados	a	considerá-la	em
tudo	inferior.	No	entanto,	não	vimos	que	o	menor	círculo	é,	de	fato,	o	original	e
mais	autorizado	dentre	os	três?	
Qualquer	homem	que	faça	uso	mínimo	de	seu	intelecto	dirá	que	seu	direito
de	casar-se	e	ser	um	pai	advém	da	permissão	do	Estado?	Há	aqui	um	equívoco
em	 relação	 à	 autoridade	 do	Estado,	 porque	 as	 constituições	 civis	 conferem	 ao
Estado	certas	funções	policiais	relativas	ao	casamento	e	às	famílias.	Do	mesmo
modo,	 há	 leis	 relativas	 a	 certos	 pertences	 eclesiásticos.	 Mas	 por	 que	 os
protestantes	supõem,	a	partir	disto,	que	seus	direitos	religiosos	são	conferidos	ou
podem	ser	legitimamente	retirados	pela	autoridade	civil?
A	verdade	é	que	Deus	instituiu	imediata[13]	e	fidedignamente	três	organismos
para	 o	 homem	 na	 terra	 —	 o	 Estado,	 a	 igreja	 visível	 e	 a	 família.	 Eles	 são
coordenados	em	seus	direitos	e	mútua	independência.	O	Estado	ou	a	igreja	não
têm	mais	direito	de	invadir	a	esfera	parental	do	que	os	pais	de	invadirem	as	suas
esferas.	A	 justa	 distribuição	de	 todos	os	 deveres	 e	 poder	 entre	 os	 três	 círculos
seria	 a	 solução	 completa	 desse	 problema	 de	 bom	 governo	 que	 jamais	 foi
resolvido	com	êxito	total.
O	 que	 é	 essencial	 para	 uma	 teoria	 genuína	 dos	 direitos	 humanos?	 A
independência	 real	 do	menor	 porém	mais	 elevado	 domínio	—	 o	 domínio	 dos
pais	—	deve	ser	respeitada.	Não	ficou	provado	que	a	direção	da	educação	é	uma
de	suas	prerrogativas?
Mas	o	direito	que	o	Estado	tem	de	existir	não	implica	o	direito	de	assegurar
todas	as	condições	de	sua	existência?	Acaso	não	existe	a	possibilidade	de	os	pais
perverterem	ou	negligenciarem	de	 tal	modo	a	 educação	ao	ponto	de	criar	uma
geração	que	não	tem	a	competência	para	preservar	nossas	instituições	civis?	Isto
não	dá	ao	Estado	o	controle	sobre	a	educação?
A	primeira	resposta	é	que	isso	não	é	sequer	um	pretexto	para	a	invasão	por
parte	do	Estado	à	esfera	parental	para	além	do	que	diz	respeito	à	existência	de
uma	negligência	destrutiva.	Isto	é,	o	Estado	deve	estimular,	ou	ajudar,	ou	coagir
somente	os	pais	negligentes.
Em	 segundo	 lugar,	 este	mesmíssimo	 argumento	 pode	 autorizar	 o	 Estado	 a
intrometer-se	no	círculo	espiritual	e	estabelecer	e	ensinar	uma	religião.	Há	aqui
um	sofisma.	Pressupõe-se	que	uma	forma	particular	de	instituições	civis	tem	um
direito	prescritivo	de	perpetuar-se	a	si	mesma.	Não	há	direito	algum	desse	tipo.
Essa	 é	 a	 abordagem	 americana	—	 as	 pessoas	 possuem	 um	 direito	 inerente	 de
mudarem	suas	instituições.
Porventura	 nossos	 pais	 republicanos	 sustentaram	 que	 quaisquer	 pessoas
possuem	o	direito	de	subverter	a	ordem	moral	da	sociedade	ordenada	por	Deus	e
pela	 natureza?	Certamente	 não.	Neste	 ponto,	 então,	 a	 distinção	 entre	 a	 ordem
moral	e	qualquer	ordem	civil	particular	é-nos	desvelada.	E	isto	é	frequentemente
ignorado.	Não	é	verdade	que	a	autoridade	civil	está	autorizada	a	moldar	um	povo
que	 a	 ela	 se	 ajuste.	 O	 oposto	 é	 verdadeiro:	 o	 povo	 deve	moldar	 a	 autoridade
civil.
Trata-se	de	uma	máxima	na	filosofia	política,	assim	como	na	mecânica,	que
quando	um	organismo	é	utilizado	numa	função	para	a	qual	não	fora	projetado,
ele	 é	 danificado	 e	 a	 função	 é	 realizada	 de	 modo	 precário.	 Pensemos	 num
fazendeiro	que	tem	um	moinho	projetado	e	bem	ajustado	para	moer	seu	grão.	Ele
resolve,	 no	 entanto,	 que	 o	 moinho	 também	 há	 de	 debulhar	 seus	 feixes.	 O
resultado	é	uma	debulha	horrível	e	um	moinho	avariado.
Repito:	 Deus	 designou	 o	 Estado	 como	 o	 órgão	 para	 assegurar	 a	 justiça
secular.	 Quando	 ele	 se	 volta	 para	 o	 ensino	 ou	 a	 pregação,	 ele	 reproduz	 a
experiência	do	fazendeiro.
O	governo	afeta	poderosamente	o	caráter	nacional	pela	maneira	que	realiza
suas	funções	designadas.	Se	a	administração	é	justa,	pura	e	livre,	ela	engradece	o
povo.	Mas	isto	se	dá	mediante	influência	indireta,	e	é	tudo	que	a	administração
pode	fazer	bem.	O	resto	de	qualquer	elevação	nacional	(um	resultado	que	todo
homem	bom	tem	de	desejar)	deve	proceder	de	outras	agências.	Devemos	olhar
para	as	obras	da	Providência	todo-poderosa.	Devemos	buscar	as	ideias	férteis	e
os	 atos	 heroicos	 com	 os	 quais	 Deus	 inspira	 os	 grandes	 homens	 que	 ele
soberanamente	 concede	 às	 nações	 que	 pretende	 abençoar.	 Devemos	 também
buscar	 a	 energia	 da	 divina	 Verdade	 e	 as	 virtudes	 cristãs,	 que	 são	 vistas
primeiramente	 nos	 indivíduos,	 em	 seguida	 nas	 famílias,	 e	 por	 fim	 nas	 igrejas
visíveis.
Suponhamos	que	tanto	o	Estado	quanto	a	igreja	reconheçam	os	pais	como	o
poder	educador.	Suponhamos,	além	disso,	que	eles	assumam	em	relação	aos	pais
uma	 atitude	 comedida	 porém	 prestativa	 —	 ao	 invés	 de	 uma	 atitude	 de
dominação.	O	Estado	deveria	encorajar	os	esforços	individuais	e	voluntários	ao
preservar	o	escudo	imparcial	da	proteção	legal	sobre	toda	propriedade	que	possa
ser	dedicada	à	educação.	Deveria	encorajar	todos	os	esforços	privados,	e	poderia
ajudar	 aqueles	 cuja	 pobreza	 e	 adversidades	 incapacitaram-nos	 a	 criar
adequadamente	seus	próprios	filhos.	
Desse	modo,	 os	 problemas	 relativos	 à	 religião	 nas	 escolas	 públicas	 seriam
resolvidos.	O	Estado	não	é	o	criador	responsável	das	escolas,	mas	sim	os	pais.
Nosso	sistema	educacional	teria	uma	simetria	menos	mecânica,	porém	seria	mais
flexível,	mais	prático	e	muito	mais	proveitoso.
PARTEII
	
	
	
	
	
	
1.	POLÍTICA	E	EDUCAÇÃO[14]
R.	J.	Rushdoony
	
Nos	primeiros	meses	de	1967,	estudantes	em	Berkeley	manifestaram-se	contra	a
possibilidade	de	uma	mensalidade,	e	uma	frase	excelente	foi	cunhada	por	alguns
dos	manifestantes:	Mantenham	a	política	fora	da	educação.	É	tempo	de	pensar
seriamente	sobre	esse	princípio.	Precisamos	manter	a	política	fora	da	educação.
O	Estado	não	possui	o	direito	de	governar	as	escolas,	assim	como	não	possui	o
direito	 de	 governar	 as	 igrejas,	 e	 não	 tem	 mais	 fundamentos	 para	 financiar	 a
educação	do	que	tem	para	financiar	igrejas.	O	que	precisamos	urgentemente	é	o
disestablishment[15]	das	escolas	—	a	separação	da	escola	e	o	Estado.
A	educação	não	é	função	do	Estado;	é	função	dos	educadores.	Um	advogado,
barbeiro,	 ministro,	 geólogo	 de	 petróleo	 ou	 pecuarista	 —	 todos	 agem	 sem	 o
benefício	 de	 qualquer	 subsídio	 de	 alguma	 agência	 do	 governo	 civil.	 Eles
sobrevivem	 porque,	 primeiro,	 seus	 serviços	 são	 necessários,	 e,	 em	 segundo
lugar,	porque	seus	serviços	são	melhores	do	que	aqueles	dos	seus	competidores.
Um	 subsídio	 destrói	 a	 qualidade;	 ele	 impede	 que	 os	 fracassos	 num	 campo	 de
atividade	paguem	pelo	preço	do	fracasso,	que	abandonem	o	negócio.	Visto	que	o
subsídio	permite	que	um	fracasso	continue,	ele	sustenta	a	incompetência	viva	e	a
torna	pelo	menos	igual	à	competência.
Certamente,	a	educação	é	necessária	para	a	sociedade,	mas	 igrejas	 também
são	 muito	 necessárias,	 assim	 como	 médicos,	 advogados,	 mecânicos	 e	 muitas
profissões	e	ofícios.	A	necessidade	qualifica-os,	pois,	para	o	recebimento	de	um
subsídio?	Um	subsídio	é	uma	forma	de	establishment[16];	é	 também	uma	forma
de	aprisionamento.	Sempre	e	onde	quer	que	um	governo	civil	financie	qualquer
tipo	de	atividade,	ele	tem	o	direito	legal	e	moral	de	controlar	essa	atividade.	Se	o
Estado	financia	as	igrejas,	ele	tem	o	direito	de	controlar	as	igrejas.	Se	o	Estado
financia	 as	 escolas,	 faculdades	 e	 universidades,	 ele	 tem	o	 direito	 e	 o	 dever	 de
controlá-las.
Alguns	 objetarão,	 contudo,	 que	 nem	 todos	 podem	 pagar	 pela	 educação.	A
resposta	 é	 que	 antes	 do	 Estado	 começar	 a	 financiar	 a	 educação	 nos	 Estados
Unidos,	todas	as	crianças	americanas	eram	educadas.	Os	filhos	dos	pobres	e	dos
imigrantes	 eram	 educados	 por	 sociedades	 missionárias	 educacionais.	 Além
disso,	 é	 um	 engano	 pensar	 que	 não	 pagamos	 pela	 educação	 quando	 esta	 é
custeada	pelo	Estado.	Não	só	pagamos,	mas	pagamos	mais.	Recentemente,	duas
escolas	foram	construídas	em	uma	comunidade,	para	um	número	quase	igual	de
crianças,	mas	o	custo	da	escola	cristã	 era	metade	daquele	da	escola	estadual	 e
oferecia	uma	educação	de	maior	qualidade.	Deve-se	 também	acrescentar	que	a
carga	 tributária	 educacional	 sobre	 o	 pobre	 é	 bem	 mais	 pesada	 do	 que
mensalidade	 de	 qualquer	 escola	 cristã;	 ele	 paga	 esse	 imposto	 direta	 ou
indiretamente,	quase	a	cada	momento	do	dia.
A	educação	custeada	pelo	Estado	é	uma	educação	totalitária.	A	essência	do
totalitarismo	é	simplesmente	esta:	ele	afirma	que	o	Estado	tem	todas	as	respostas
para	 a	 vida,	 e	 que	 praticamente	 toda	 esfera	 da	 atividade	 humana	 deve	 ser
governada	 pelo	 Estado.	 O	 totalitário	 crê	 que	 a	 educação,	 a	 economia	 e	 o
comércio,	a	família,	o	bem-estar	da	criança	e	do	idoso,	a	medicina,	a	ciência	e
tudo	o	mais	precisa	da	mão	controladora	e	orientadora	do	Estado.	Há	diferentes
tipos	 de	 totalitarismo	—	marxista,	 democrático,	 fascista,	 fabiano	 e	 assim	 por
diante	 —	 mas	 suas	 diferenças	 não	 são	 essenciais,	 ao	 passo	 que	 suas
correspondências	o	são.	Comum	a	todas	as	formas	de	totalitarismo	é	a	crença	no
controle	 da	 educação	 pelo	 Estado.	Desde	 o	 projeto	 de	 Platão	 para	 um	Estado
comunista	até	os	dias	de	hoje,	o	planejamento	totalitário	tem	investido	de	forma
pesada	sobre	o	controle	da	educação.
O	libertarianismo	cristão	é	hostil	à	política	na	educação.	Ele	também	não	é	a
favor	da	igreja	na	educação.	A	escola,	sob	Deus,	é	uma	agência	tão	livre	quanto
a	igreja	e	o	Estado.	Nem	a	igreja	nem	o	Estado	têm	qualquer	direito	de	controlar
o	 outro,	 nem	 possuem	 qualquer	 direito	 de	 controlar	 a	 família,	 a	 economia,	 a
cultura,	 a	 arte	 ou	 qualquer	 outra	 esfera	 de	 atividade	 humana.	 Nenhuma
instituição	tem	o	direito	de	fazer	o	papel	de	deus	e	de	guardiã	de	todas	as	outras
instituições	na	sociedade.	A	reivindicação	desse	direito	por	qualquer	instituição
se	configura	como	totalitarismo.	A	família	não	pertence	à	igreja	nem	ao	Estado;
ela	é	uma	instituição	separada,	estando	diretamente	sob	a	autoridade	de	Deus.	Da
mesma	forma,	a	escola	tem	o	direito	a	uma	existência	livre	e	separada.	Ela	é	um
reino	independente,	com	uma	função	marcadamente	diferente	daquela	da	igreja	e
do	Estado.
A	função	da	escola	e	do	professor	é	ensinar,	educar.	Se	o	Estado	ou	a	igreja
controla	 a	 escola,	 então	 torna-se	 função	 da	 escola	 servir	 aos	 propósitos	 do
Estado	 ou	 da	 igreja.	 A	 propaganda	 passa	 a	 governar	 a	 educação.	 Em	 vez	 de
servir	à	 função	primária	da	escola	ou	da	 faculdade,	o	professor	 serve	então	ao
propósito	primário	do	Estado	ou	igreja	controladores.	Além	disso,	a	qualidade	da
escola	declina,	pois	a	escola	nesse	caso	existe	por	meio	de	um	subsídio	de	outra
instituição,	não	por	estar	fazendo	um	trabalho	bem-sucedido.
Uma	 escola	 verdadeira	 bem-sucedida	 é	 aquela	 cujos	 propósitos	 e	 ensinos
agradam	 tão	 fortemente	 certo	 grupo	 de	 pessoas,	 que	 elas	 voluntariamente	 a
apoiam,	 pagam	 as	 mensalidades	 para	 matricularem-se	 nela,	 e	 julgam	 que	 sua
existência	é	importante	o	suficiente	para	promovê-la.
Sob	 o	 sistema	 de	 escolas	 livres	 —	 escolas	 não	 subsidiadas	 —	 algumas
escolas	 ensinarão	com	base	na	 fé	 cristã,	outras,	 com	base	no	humanismo,	mas
cada	 escola	 dependerá	 de	 seus	méritos	 e	 do	 apoio	 popular	 para	manter-se	 em
funcionamento.	Essa	 é	 exatamente	 a	 forma	como	as	 igrejas	 sobrevivem,	 e	não
nos	 faltam	 igrejas.	 É	 assim	 também	 que	 o	 negócio	 sobrevive,	 atendendo	 à
demanda	pública	com	um	produto	superior	que	venda	facilmente.
A	 educação	 não	 estatal	 hoje	 é	 o	 movimento	 social	 que	 mais	 cresce	 na
América.	 Todo	 o	 ano	 mais	 e	 mais	 escolas	 cristãs	 e	 privadas	 estão	 sendo
estabelecidas,	 e	 muitas	 têm	 longas	 listas	 de	 espera.	 Essas	 escolas	 não
representam	apenas	as	classes	mais	ricas.	Uma	das	melhores	escolas	que	visitei
havia	 se	 estabelecido	 numa	 pequena	 cidade,	 e	 a	maioria	 das	 crianças	 eram	de
famílias	que	trabalhavam	em	moinhos,	quase	todas	com	rendas	muito	modestas.
Essas	escolas	estavam	sendo	estabelecidas	porque	os	pais	estavam	exigindo	uma
educação	 que	 satisfizesse	 seus	 requerimentos,	 e	 não	 os	 do	 Estado.	 Hoje	 entre
25%	 e	 30%	de	 todas	 as	 crianças	 do	 ensino	 fundamental	 não	 estão	 em	 escolas
públicas;	elas	estão	em	escolas	privadas,	paroquiais	e	cristãs.	E	10%	de	todos	os
estudantes	do	ensino	médio	nos	Estados	Unidos	 também	estão	em	escolas	não
estatais.	E	a	percentagem	está	crescendo	rapidamente.	Essa	é	a	maior	revolução
social	dos	nossos	dias,	e	todavia	os	jornais	raramente	a	mencionam.	Desde	1950,
o	cenário	educacional	tem	visto	um	grande	deslocamento	da	educação	estatal	no
ensino	fundamental	e	médio,	mas	poucos	estão	cientes	desse	fato	revolucionário.
No	ritmo	atual	de	crescimento,	até	o	final	do	século	a	escola	pública	terá	sumido
e	a	escola	independente	tê-la-á	substituído.
O	slogan:	Mantenham	a	política	fora	da	educação	é	ao	mesmo	tempo	bom	e
necessário.	 A	 educação	 precisa	 de	 liberdade	 para	 sobreviver.	 O	 mundo
acadêmico	 tem	 também	 sido	há	muito	 tempo	um	 refúgio	 para	 excêntricos	 que
prosperam	 num	 mundo	 subsidiado.	 O	 professor	 mediano	 de	 hoje	 não	 é	 um
scholar.	Ele	está	disposto	a	fazer	uma	pesquisa	apenas	se	lhe	for	necessária	para
uma	promoção.	Tão	logo	se	torna	um	professor	titular	e	efetivo,	desinteressa-se
em	aprender,	pois	o	seu	mundo	é	um	lugar	melhor	para	se	esconder	da	educação
do	que	um	lugar	para	a	educação.

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