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Comunicação, linguagem e leitura *Identificar os elementos da comunicação e sua função no processo comunicativo. * Relacionar os tipos de linguagem existentes e suas características. * Caracterizar o processo de leitura e suas especificidades. Comunicação: definições, princípios e funções A comunicação confunde-se com a própria vida. Temos tanta consciência de que nos comunicamos como a de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua essencial importância quando, por acidente ou doença, perdemos a capacidade de nos comunicar.” (BORDENAVE, 1986). O conceito será analisado de duas maneiras: pela origem da palavra e pelo significado apontado por algumas obras. origem da palavra “comunicação”, aprende-se que ela ter origem de duas palavras do latim communis, que significa “comum”, e communicare, que significa “participar, fazer, tornar comum”. quando se comunica com alguém, é estabelecido algo em comum entre transmissor e o receptor; esse “algo em comum” pode ser a língua, o conteúdo, a forma, etc. mas para que haja comunicação, é preciso que exista algo em comum entre o emissor e receptor (também chamados de locutor e interlocutor de acordo com diferentes perspectivas teóricas). As definições apresentadas pelos dois dicionários têm em comum os conceitos que sempre apresentam alguma forma de relação e algum tipo de mensagem, informação ou dado que é transmitido entre aquele que transmite e aquele que recebe. Abaixo desfinições: Comunicação 1. Informação; participação; aviso. 2. Transmissão. 3. Notícia. [...] 5. Ligação. [...] 7. Relações. [...] 9. Comunicação social: conjunto dos órgãos de difusão de notícias (imprensa, rádio, televisão). 10. Prática ou campo de estudo que se debruça sobre a informação, a sua transmissão, captação e impacto social (FERREIRA, 2014). Comunicação 1. Ato ou efeito de comunicar (-se). 2. Ato que envolve a transmissão e a recepção de mensagens entre o transmissor e o receptor, através da linguagem oral, escrita ou gestual, por meio de sistemas convencionados de signos e símbolos. 3. O conteúdo da mensagem transmitida. 4. Transmissão de uma mensagem a outrem. 5. Exposição oral ou escrita sobre determinado assunto, geralmente de cunho científico, político, econômico, etc. 6. Ato de conversar ou de trocar informações verbais. 7. Nota, carta ou qualquer outro tipo de comunicado através da linguagem escrita. 8. Comunicado oral ou escrito sobre algo; aviso. [...] 10. União ou ligação entre duas ou mais coisas (MICHAELIS, 2014). COMUNICAÇÃO: como um processo social e natural que tem o objetivo de transmitir um pensamento, um desejo, um impulso ou uma ação (transformados em mensagens) entre um participante e outro. Embora o conceito de “comunicação” tenha se tornado bastante amplo com o tempo, a origem da palavra sugere alguns conceitos que delimitam o seu sentido: 1. comunicação é, primeiramente, um processo social; portanto, envolve o ser humano; 2. é um fenômeno objetivo, que envolve a transmissão de uma mensagem entre um transmissor e um receptor; 3. é um processo ativo que tem uma finalidade: persuadir, informar, influenciar, obter resposta, emocionar, etc.; 4. é, quase sempre, multidirecional, uma vez que existe uma alternância de posições entre transmissor e receptor, isto é, a cada nova mensagem transmitida, 5. o processo ocorre em três etapas, sendo elas: emissão, transmissão e recepção. É importante mencionar que para que se tenha comunicação, é necessário que haja um objetivo, um propósito e a racionalidade. É uma ação pensada. Existem, obviamente, diferentes tipos de comunicação. Vamos tentar abordá-las de forma resumida abaixo: * Direta ou indireta: ■ Direta é quando o emissor e o receptor trocam mensagens de forma direta, sem nenhum intermediário. ■ Indireta: há um intermediário entre o emissor e o receptor, por exemplo, um telefone De acordo com a quantidade de pessoas ■ Intrapessoal: comunicação é feita por uma pessoa consigo mesma como escrever em um diário, em um blog. ■ Interpessoal: comunicação é realizada entre duas pessoas. ■ Intergrupal: comunicação é transmitida entre grupos (turmas de escola, partidos políticos, etc.). ■ Intragrupal: comunicação é realizada entre mais de duas pessoas (grupo de mensagens em redes sociais, conversa entre grupos de amigos, etc.). ■ Em massa: comunicação em que uma mensagem é transmitida de um emissor para um grupo (como mensagens transmitidas na televisão ou rádio). De acordo com a direcionalidade ■ Unidirecional: uma mensagem é transmitida e não há resposta (por não haver necessidade ou objetivo do receptor em responder). ■ Bidirecional: existe uma participação equivalente entre receptor e emissor e os participantes assumem o papel de ora receptor, ora emissor em uma troca de mensagens. De acordo com os sentidos e os tipos de mensagens ■ Visual: recursos visuais são utilizados para a transmissão das mensagens (sinalização, gestos, desenhos, etc.). ■ Auditiva: mensagem é transmitida por meio de sons (fala, música, sirene, etc.). ■ Tátil: realizada por meio do toque (abraços, beijos, leitura em braile). ■ Olfativa: comum entre os animais reconhecimento de um odor para ensinar o que é um tipo de tempero,etc. ■ Gustativa: o paladar é envolvido para que uma mensagem seja comunicada (como provar uma comida para demonstrar que é doce ou salgada). Outra abordagem importante para os estudos sobre a comunicação se refere aos modelos de representação prototípica de uma comunicação, mais comum e canônico é aquele que define três componentes essenciais da comunicação: 1. o emissor – é o indivíduo com racionalidade e que deseja transmitir uma mensagem com um certo objetivo. 2. a mensagem – aquilo que é transmitido para um receptor. 3. o receptor – é o indivíduo com a capacidade de receber a mensagem transmitida, decodificá-la, processá-la e agir (ou deixar de agir) sob ela. Modelo mais elaborado adiciona outros três elementos ao modelo canônico, sendo eles: 4. o canal – é o meio de transmissão da mensagem. 5. o código – é o conjunto de signos utilizados para a formulação da mensagem. 6. o contexto – situação ou objetivo em que a situação comunicativa está inserida. As máximas comunicacionais de Grice (1957, 1975) defende que existe um conjunto de regras (que ele denomina de máximas). De acordo com o autor, para que haja uma comunicação eficiente, deve existir uma cooperação entre os participantes da emissão/recepção de mensagens. Essas máximas podem ser entendidas como norteadores do comportamento linguístico do emissor e que, caso sejam desrespeitadas (a menos que se tenha um objetivo para que alguma máxima seja propositalmente quebrada), podem prejudicar o ato comunicativo. Essas máximas são: # Máxima da qualidade — preza que a mensagem seja a mais verdadeira possível, sem afirmações sobre o que se acredita que seja falso e sem posicionamentos. A: — Oscar Wilde é o autor do Orgulho e Preconceito? B: — Não. Se B respondesse “não sei”, ou alguma resposta que fosse positiva, ele estaria violando a máxima da qualidade. existem situações em que essa máxima é propositalmente violada, ironias e metáforas.. #Máxima da quantidade — defende que a mensagem transmitida (informação passada a alguém) não seja nem menos, nem mais informativa. Exemplo.: Atendente (enquanto preenche um formulário): — Qual a sua cidade natal? Cliente: — Porto Alegre, que é onde tem o Guaíba e é a cidade onde nasceu a cantora Elis Regina. Mensagem tem que ser simples e objetiva, neste exemplo ele deveria apenas responder, Porto Alegre. # Máxima da relevância - objetiva que a contribuição para a situação comunicacional seja relevante e pertinente ao objetivo da interação. Tome por exemplo a seguinte conversa: A: — Preciso de ajuda para comprar um computador novo. B: — Posso te encontrar na loja às 12 horas. # Máxima de modo —a mensagem deve ser clara, sem ambiguidade e comunicada de forma breve e organizada. Para Grice, essas máximas são as principais organizadoras de qualquer situação comunicativa e suas violações só podem ocorrer quandofor para um objetivo proposital de uma determinada situação, como para confundir propositalmente alguém, ou para tentar fugir de uma resposta, etc. podemos chegar à conclusão de que comunicação, é um objetivo da linguagem, que envolve a transmissão da mensagem de forma racional e objetiva e pode se manifestar de diferentes formas. Não podemos esquecer que o principal fundamentador da comunicação é a interação proposital, uma vez que exista comunicação, sempre tem um objetivo ou uma necessidade para que ela seja colocada em prática. A comunicação acontece por meio da linguagem e também (mas não exclusivamente) da língua. Portanto, a seguir vamos estudar os conceitos de linguagem e língua, suas diferenças e objetivos. Linguagem: conceitos e tipos Definição do que consiste linguagem é um assunto amplamente discutido nos estudos linguísticos. Algumas teorias tratam de linguagem como sinônimo de língua. Saussure (1975) (considerado o pai da linguística moderna), apresentam uma distinção bastante clara sobre os dois conceitos. Diferença entre linguagem e língua. Linguagem, língua: Mesmo não sendo sua língua nativa e você esteja em outro país, os símbolos como sinaleira nós sabemos que temos que para o veículo, uma ambulância em suas cores vermelho e branca, e seu sinal sonoro, sabemos que demos que dar passagem ao veículo. Isso compreendemos não pela fala, mas através dos vários recursos visuais e auditivos comunicaram as mensagens necessárias para que você compreendesse uma determinada situação e agisse em consequência dela. Podemos perceber, com esse exemplo, que a linguagem tem a função principal de comunicar e que ela não está – necessariamente – atrelada a uma língua específica; ou seja, as línguas trabalham para a linguagem e são uma forma de manifestação da linguagem, mas a língua é um componente da linguagem e não comporta todas as possibilidades dela. Saussure (1975) entende linguagem como uma faculdade fornecida pela natureza; isto é, ela é uma capacidade humana (e até animal) de se comunicar. A linguagem, independe de um único canal e forma – ou seja, não está atrelada e fixa à língua, mas é vista como uma “entidade” maior do que a língua – que passa a ser vista como uma “ferramenta” organizadora e sistêmica dessa faculdade comunicacional. Esse conceito e “regra” fazem parte do conjunto da língua (e não da linguagem), que é entendida como um sistema de regras, definições, conjuntos lexicais e gramaticais que servem como organizador do pensamento e da faculdade da linguagem. Linguagem: linguagem é tudo aquilo que comunica, podendo ser visual, auditiva, sensorial e não necessariamente apenas verbal. Pode-se dizer que a linguagem surgiu antes da língua e que está presente em todos os momentos dos nossos dias, mesmo quando a língua se ausenta. Primeiros exemplos de linguagem são os gestos. Exemplo de linguagem, dedo indicador em frente à boca sinaliza um pedido de silêncio. Uma mão estendida com a palma voltada para a pessoa em frente significa “pare”. Contudo, é preciso observar que os gestos, muitas vezes, acabam tendo uma interface com a cultura e podem ter significados diferentes em consequência disso. 2 definições para linguagem: # 1 : Linguagem é a faculdade mental para a aquisição e o emprego de diferentes formas e sistemas utilizados para a comunicação. Essa capacidade permite que o ser humano desenvolva e se aproprie de diferentes formas e sistemas (como as línguas, as sinalizações, etc.). # 2: Linguagem é qualquer sistema/elemento que permite que se estabeleça uma comunicação, servindo como uma função social e levando em consideração todas as manifestações que possam ser utilizadas para expressar uma mensagem. De acordo com esse processo de pensamento, podemos entender que a linguagem é tudo aquilo que comunica. Além dos gestos, entre os exemplos de linguagem, podemos pensar em: ■ desenhos, pinturas e esculturas ■ expressões faciais e corporais — como sorrisos, lágrimas e abraços ■ música — que pode alterar emoções, fazer chorar, ■ ícones, símbolos e placas — como as de trânsito. ■ sons — como gritos, suspiros, ■ cores — como os semáforos ■ língua — português, inglês. A partir das delimitações dos conceitos de linguagem, podemos perceber que existem diferentes tipos de linguagem que se dividem de acordo com o tipo de “materialização” da mensagem e que podem ser categorizados da seguinte forma: Linguagem verbal: aquela que utiliza a verbalização para a comunicação, ou seja, que ocorre por meio da fala ou da escrita utilizando palavras, como, por exemplo, uma conversação. Linguagem não verbal: aquela que não utiliza verbalização (palavras) para transmitir uma mensagem não acontece nem por meio da fala, nem da escrita. exemplos de linguagens não verbais estão as placas de trânsito. Linguagem mista: mistura a linguagem verbal e não verbal; ou seja, transmite uma mensagem utilizando recursos verbais e recursos não verbais, como placas de sinalização com um símbolo e texto, músicas Linguagem artificial: linguagem criada por alguém ou por um grupo que é desenvolvida para um fim específico, em que os elementos da linguagem natural podem ser inseridos, como, por exemplo, as linguagens de programação de software. As funções da linguagem de Jakobson (1960) De acordo com Jakobson, existem seis funções de linguagens principais que regem qualquer situação comunicativa. São elas: - Função referencial (denotativa): aquela que enfatiza e dá importância ao referente de uma mensagem. Exemplos: textos jornalísticos ou científicos. - Função emotiva (expressiva): o emissor explicita suas emoções, opiniões, sentimentos, crença. maior foco dessa função é o emissor. Exemplos: cartas ou letras de música. - Função conativa (apelativa): objetivo persuadir/ convencer o receptor da mensagem. Exemplo: textos publicitários. - Função fática: Inicia ou termina uma interação conversacional, que tem como foco a relação entre o emissor e o receptor. Exemplos: saudações e cumprimentos. - Função metalinguística: utiliza a linguagem para falar da própria linguagem, quando o código linguístico. Exemplos: gramáticas e textos explicativos sobre algum componente da língua. - Função poética: a forma estética é importante para a mensagem e há uma preocupação na forma como a mensagem será transmitida, tal como o uso de figuras de linguagem, rimas, etc. Exemplos: poesias. Portanto, a linguagem tem duas principais definições (faculdade/habilidade para a comunicação e qualquer forma/sistema que comunique) e ela pode ser categorizada de acordo com o tipo de mensagem e pode exercer diferentes tipos de função. Uma das formas de manifestação da linguagem é por meio da língua, que pode ser representada por meios sonoros e escritos. a representação escrita da língua, encontramos a prática da leitura, que serve tanto como manifestação linguística quanto para a forma de comunicação. Leitura: definições e processos leitura ao ser abordado, abre algumas possibilidades para a exploração de diferentes perspectivas teóricas podemos falar de leitura da perspectiva cognitiva, da comunicacional, da inter- e intrapessoal, da metatextual, da complexidade, da linguística, da cultural, da psicológica e assim por diante. Antes de mais nada, devemos ter alguns conhecimentos básicos que envolvem a leitura: · a leitura é um processo: ela é uma ação que envolve esforço cognitivo, atenção e objetivo. · esse processo é social, comunicativo, cognitivo, linguístico e cultural: · social e comunicativo porque embora a leitura possa ser, na maioria das vezes, uma atividade individual e silenciosa, o texto, além de ser uma mensagem, também é um canal de comunicação entre o autor e o leitor. · cognitivo porque é necessário um conjunto de esforços e atividades mentais tanto para a decodificação, quanto para a interpretação, significação, etc. Esse conhecimento cognitivo vai além da alfabetização. *** Quando faço uma leitura , mesmo compreendendo suas termologias mas não compreendo o contexto ali escrito, chamo de leitura foi apenas a nível lexical. Poiso nível semântico (significado) e do nível pragmático (língua em uso) não foi atingida e, nesse caso, alguns teóricos afirmam que o processo de leitura não foi verdadeiro e/ou satisfatório aos objetivos do texto. · Linguístico Esse sistema envolve a capacidade cognitiva e a internalização das regras e componentes da língua para que o leitor possa, eficientemente, interpretar e entender os significantes gráficos que carregam significados. Definição do que é leitura é um processo composto por subprocessos para a decodificação, identificação, interpretação e manutenção de significados, com o objetivo de assimilar uma mensagem transmitida por meio de um texto. Se a leitura é, então, uma ponte entre o leitor e a realidade, é preciso que o leitor tenha conhecimento prévio dessa realidade. Esse conhecimento envolve a capacidade linguística de decodificar os signos escritos e a capacidade mental de conectar esses signos com seus referenciais no mundo real. A leitura é um processo de subprocessos guiados para um determinado objetivo. Ainda sobre a complexidade da leitura, podemos identificar pelo menos três componentes que fazem parte desse processo, sendo eles: a habilidade de enxergar (uma vez que para a leitura é necessário que o olho “passe” sobre palavras), o conhecimento para decodificar e interpretar os códigos textuais (a alfabetização e o conhecimento prévio da realidade) e o uso da memória de trabalho – componente cerebral bastante ativo durante o processo de leitura e que possibilita a manutenção da informação e conecta as ideias apresentadas no texto com o acesso das informações já existentes na memória de longo prazo para a construção de novos significados. Leffa (1996, p. 20) diz sobre o processo linguístico e cognitivo necessário para a leitura: Da palavra, o processo avança para o sintagma; do sintagma à unidade de sentido, da unidade de sentido à frase – quando houver – e, assim por diante, até esgotar o texto, que pode ser um conto, um poema, um romance, um noticiário de jornal, um rótulo, um painel de propaganda, um horário de avião, uma programação de televisão ou qualquer outra manifestação textual. Em suma, a leitura pode ser considerada um fenômeno de interação entre o leitor e o texto. O leitor, que possui habilidades e conhecimentos prévios que são constantemente ativados durante o processo de leitura, interage com um autor por meio de um canal-mensagem: o texto.