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A Psicologia nos Cenários de Atendimento a Saúde

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AT 1
A PSICOLOGIA 
NOS CENÁRIOS DE 
ATENDIMENTO À SAÚDE
2 32
S
U
M
Á
R
IO
3 UNIDADE 1 - Introdução
6 UNIDADE 1 - Promoção da saúde, prevenção e reabilitação
10 UNIDADE 2 - Comportamento e saúde
10 2.1Comportamento saudável X comportamento de risco
26 2.2 Procurando tratamento
32 2.3 Adesão ao tratamento
34 UNIDADE 3 - Equipe interdisciplinar
37 UNIDADE 4 - Psicólogo clínico x psicólogo hospitalar x psicólogo da saúde
44 UNIDADE 5 - O Psicólogo na saúde pública
45 5.1 Histórico
49 5.2 Psicólogo no SUS
56 REFERÊNCIAS
2 33
UNIDADE 1 - Introdução
Enquanto orientadores sempre reco-
mendamos a pesquisa de materiais re-
centes, porém, ao se utilizar obras clássi-
cas (como no caso deste material em que 
grande parte do conteúdo foi embasado 
em obras de teóricos que abordam sobre 
diferentes autores) isso não se faz possí-
vel – ainda mais em caso de livros que já 
possuem edições mais recentes, porém 
lançamos mão de cópias mais antigas. 
Fora isso, é sempre importante manter-
mos o conhecimento científico atualizado! 
Também já justificamos o uso de algu-
mas citações de citações (apuds), o que 
não é recomendado do ponto de vista da 
metodologia da pesquisa, porém, se fez 
necessário em algumas situações devido à 
dificuldade em se localizar algumas obras 
originais. Sugerimos que, na introdução, 
anotem as questões que mais desperta-
ram sua curiosidade ou dúvidas e após o 
estudo da apostila revejam se as mesmas 
ficaram realmente claras. 
Intitulada “A psicologia nos cenários de 
atendimento à saúde”, esta apostila visa, 
principalmente, abordar os diversos con-
textos nos quais o profissional da psico-
logia encontra-se inserido. Entretanto, 
esse material também discorre de outros 
assuntos da práxis do psicólogo hospita-
lar e da saúde, mas que não falam dire-
tamente dos cenários de atendimento à 
saúde. Entretanto, sabemos que a temá-
tica da psicologia hospitalar e da saúde é 
muito ampla e, de maneira geral, as temá-
ticas aqui abordadas – como prevenção e 
promoção à saúde, equipe interdisciplinar 
e comportamento e saúde – dizem respei-
to aos cenários em que o psicólogo estará 
inserido e exercendo sua função com éti-
ca e profissionalismo, sempre visando o 
bem-estar da população que se encontra 
sob os seus cuidados.
Desde o início do curso falamos em 
prevenção, promoção da saúde e reabi-
litação e, nesse momento, esse assunto 
será aprofundado. Autores como Straub 
(2014), reforçam a importância não só do 
psicólogo, mas de toda a equipe interdis-
ciplinar, trabalhar visando à promoção da 
saúde e a prevenção de doenças. Políticas 
públicas do Ministério da Saúde – assunto 
que também estará presente neste ma-
terial – também discorrem sobre a impor-
tância de se adotar este ponto de vista, 
o qual é bastante divergente do modelo 
biomédico vigente, que preconiza o binô-
mio saúde e doença. 
Como essa concepção impera há mui-
tos anos a ideia de buscar os serviços de 
saúde (em especial o médico) quando se 
adoece, já está impregnada em nossa 
mentalidade. O psicólogo, especialmen-
te os graduados há mais tempo, também 
possuem essa visão e não devem ser criti-
cado por isso, visto que até recentemen-
te os cursos de graduação traziam para o 
acadêmico apenas essa visão: de que ele 
é um profissional que será habilitado para 
curar doenças. Isso não é de todo errado, 
como já foi mostrado nos materiais ante-
riores, o psicólogo realmente atua em ca-
sos onde a doença já se faz instalada, po-
rém, é importante enxergarmos que nós 
– assim como a equipe interdisciplinar em 
saúde – temos um papel de grande desta-
que antes que o problema se instale.
Nesse sentido, observaremos também 
4 5
um grande diferencial que é reservado ao 
profissional da psicologia: a intervenção 
em comportamentos que podem – por si 
só, ou associados a outros fatores (como a 
genética) – ser preditores de saúde ou de 
doença. 
Atualmente, somos bombardeados 
com informações a respeito da importân-
cia de se adotar um estilo de vida saudá-
vel, porém, mesmo meio a tantas informa-
ções (científicas ou de senso comum), por 
que muitas pessoas não adotam padrões 
de comportamentos mais saudáveis?
Esses são alguns questionamentos 
que serão aprofundados neste material. 
A este respeito, fica a seguinte interro-
gação: como os pesquisadores chegam a 
conclusões relevantes (e científicas) so-
bre de que forma determinados compor-
tamentos relacionam-se diretamente à 
saúde ou ao aparecimento de doenças? 
Retomando a um assunto abordado na 
apostila anterior – os métodos de pesqui-
sa em psicologia da saúde – fica possível 
compreender que os resultados dos estu-
dos são alcançados após estudos sistemá-
ticos, de diferentes métodos: experimen-
tais, transversais, longitudinais, dentre 
outros. Por isso, se faz muito importante 
conhecer como os estudos são realiza-
dos, já que nessa área há muito “achismo”, 
muito senso comum, e para o profissional 
da saúde o que deve importar são apenas 
as informações científicas, devidamente 
comprovadas e divulgadas.
A psicologia despontou no cenário 
mundial como uma área elitista: os psicó-
logos eram visto como pessoas de classes 
favorecidas, que trabalhavam exclusi-
vamente em consultórios particulares e, 
além de tudo, ainda carregavam o estig-
ma de serem pessoas que “liam a mente” 
dos outros. A clientela não podia ser dife-
rente: pessoas abastadas, que podiam “se 
dar ao luxo de sofrer de problemas psico-
lógicos, coisa de rico”. Nesse contexto a 
psicologia foi se consolidando como uma 
prática exercida por alguns e cujos bene-
fícios também eram estendidos somente 
àqueles que poderiam pagar por ela. Em 
termos simbólicos, fica compreendido que 
o paciente paga um preço para se desven-
cilhar de seu sintoma. Além dessa visão 
elitista, outros estigmas eram também 
associados à psicologia, tais como “profis-
sional que atende doidos”, “curso que não 
dá futuro”, dentre outras visões que aca-
bavam por afastar tanto futuros profis-
sionais quanto os pacientes da psicologia.
Frente a isso tudo, uma corrente diver-
gente começou a surgir. A psicologia vem 
passando por uma mudança de paradigma, 
a qual reflete o contexto sócio-histórico e 
cultural pelo qual o Brasil vem passando, 
principalmente nas três últimas décadas. 
Com a criação do SUS – Sistema Único de 
Saúde – e a compreensão das doenças a 
partir de uma perspectiva biopsicossocial 
a psicologia desponta, juntamente com 
várias outras profissões que compõem a 
equipe multiprofissional em saúde, como 
uma possibilidade para promover a saúde 
mental de todos aqueles que sofrem, in-
clusive os que não podem pagar pelos tra-
tamentos tradicionais nos consultórios. 
Mas quem irá pagar para ficar livre do seu 
sintoma? Nos ambulatórios assistencialis-
tas mais clássicos (como as clínicas-escola 
e os atendimentos psicológicos que costu-
mam acontecer em ambulatórios de igre-
jas e outros espaços voltados à população 
carente) paga-se um preço simbólico pelo 
tratamento, mas no SUS não pode haver 
esse pagamento em espécie, os profissio-
4 5
nais, os espaços e todo o tratamento em 
si é custeado pelos impostos arrecadados 
de todos os cidadãos brasileiros, os quais 
têm o direito de usufruir da assistência.
Observa-se que com essa mudança, o 
psicólogo encontra mais campo de traba-
lho. Muitos almejam ser aprovados num 
concurso público, porém, para que a prá-
tica do profissional da psicologia seja real-
mente eficaz, ela precisa acompanhar as 
mudanças que o contexto de saúde bra-
sileiro vem sofrendo ao longo dos anos. A 
mudança precisa começar na graduação, 
onde se modifica o foco de formar apenas 
psicólogos clínicos para atuar em consul-
tórios particulares. Esses profissionais 
são importantes e têm seu espaço de atu-
ação garantido(ainda mais na última dé-
cada, com a inclusão da psicoterapia no rol 
de procedimentos disponibilizados pela 
saúde suplementar privada), entretanto, 
se faz necessário fornecer subsídios para 
a formação de profissionais que atuem 
em equipe interdisciplinar, que voltem 
seu foco para grupos (ao invés de indiví-
duos), para a prevenção (ao invés de prio-
rizar apenas o tratamento de pessoas que 
já apresentam sintomas), que conheçam 
o SUS e, mais do que isso, que se rompam 
paradigmas e estereótipos relacionados à 
saúde pública, ao cliente de baixa renda e 
ao contexto no qual ele está inserido – de-
finitivamente determinante eu seu pro-
cesso de saúde e de adoecimento. Traba-
lhar em equipe é um desafio, o qual deve 
ser encarado diariamente.
Também serão apresentadas as dife-
renças e semelhanças na práxis do psi-
cólogo hospitalar, psicólogo clínico e psi-
cólogo da saúde – denominação que não 
é utilizada no Brasil, mas cujos princípios 
são diretamente relacionados a tudo o 
que se espera do profissional que atue na 
área da saúde, seja em nível privado ou 
público.
Os principais autores utilizados neste 
material são Straub (2014), o Portal de 
Atenção Básica do Ministério da Saúde 
(DAB), Zurba, 2011, Lacerda Jr e Guzzo 
(2005), página do Conselho Federal de 
Psicologia (CFP), dentre outros. 
6 76
UNIDADE 1 - Promoção da saúde, pre-
venção e reabilitação
Desde o início desse curso, temos re-
forçado a importância do psicólogo traba-
lhar privilegiando a prevenção em detri-
mento da reabilitação; voltar sua atenção 
para os grupos em detrimento de voltar o 
foco apenas para o indivíduo e de sempre 
buscar a promoção da saúde. Mas o que é 
prevenção? Se eu pensar em só prevenir 
doenças, o que faremos nos casos onde 
o mal já se instalou? Como é possível pro-
mover uma boa saúde?
Pretendemos responder a essas e a ou-
tras questões a seguir.
a) Promoção da saúde
Às vezes, somos nossos piores inimi-
gos na batalha pela saúde. Na ado-
lescência e no começo da idade adul-
ta, quando estamos desenvolvendo 
hábitos relacionados com a saúde, 
normalmente somos bastante sau-
dáveis. Fumar cigarros, comer muita 
gordura e não fazer exercícios nessa 
época são coisas que não parecem 
ter efeito algum sobre a saúde. Des-
se modo, os jovens têm poucos incen-
tivos imediatos para praticar bons 
comportamentos e corrigir mais há-
bitos relacionados à saúde (STRAUB, 
2014, p.153).
Neste material, iremos falar bastan-
te sobre a adoção de hábitos saudáveis 
– como uma alimentação balanceada e a 
presença de atividades físicas na nossa 
rotina diária – como comportamentos im-
portantes para uma boa saúde. Isso é uma 
forma de se promover saúde. A questão 
da promoção da saúde é bastante com-
plexa, não se resume à adoção de um es-
tilo de vida saudável e compreender isso 
é essencial para o trabalho do psicólogo. 
A seguir tentaremos compreender de for-
ma mais detalhada o que é a promoção da 
saúde e o que podemos fazer para promo-
ver a nossa saúde e a de nossos pacientes.
Segundo Buss (2000), verificam-se 
progressos mensuráveis nas condições 
de vida e saúde das populações, na maio-
ria dos países, nos últimos séculos. Essas 
melhorias se dão, principalmente, devido 
aos avanços políticos, sociais, econômi-
cos e ambientais na saúde pública e na 
medicina. Entretanto, as desigualdades 
também continuam marcantes em muitos 
países. Observa-se, em algumas regiões, 
a permanência de problemas já resolvi-
dos em outras, assim como o surgimento 
de alguns novos e o crescimento de ou-
tros já existentes. Para solucionar tais 
problemas (como, por exemplo, a AIDS, as 
doenças crônicas não transmissíveis, ou o 
estresse) têm sido investidos muitos re-
cursos em assistência médica curativa e 
individual, porém, sabe-se que esse não 
é o caminho mais eficaz. A solução para 
esses problemas consiste em medidas 
preventivas e a promoção da saúde, além 
da melhoria das condições de vida da po-
pulação em geral, ou seja, retirar o foco do 
individual e voltar para o grupo, prevenir 
ao invés de remediar.
Numa tentativa de discutir o tema, 
Buss (2000) abordou, em seu artigo de 
revisão, vários autores e documentos 
que trataram do assunto nas últimas 
décadas. Assim, para fins didáticos, 
iremos compreender a promoção da 
6 77
saúde como:
[...] uma estratégia promissora para 
enfrentar os múltiplos problemas de 
saúde que afetam as populações hu-
manas e seus entornos neste final 
de século. Partindo de uma concep-
ção ampla do processo saúde-doen-
ça e de seus determinantes, propõe 
a articulação de saberes técnicos e 
populares, e a mobilização de recur-
sos institucionais e comunitários, 
públicos e privados, para seu enfren-
tamento e resolução (p.165).
A partir dessa definição, acrescenta-
mos que o conceito de promoção de saúde 
reforça também a importância do prota-
gonismo do indivíduo como agente ativo 
de seu estado de saúde (ao contrário de 
ocupar uma posição passiva, onde apenas 
a equipe de saúde tomava as decisões e 
ações e o paciente, passivo, acatava as 
mesmas) (BUSS, 2000). 
Em relação ao controle do indiví-
duo, essa outra citação traz mais de-
talhes acerca de uma definição sobre 
a promoção da saúde, a qual pode 
ser de interesse para o psicólogo por 
abordar aspectos passíveis de mu-
danças comportamentais, tais como 
estilo de vida e dieta, que implicam 
em saúde:
[...] os programas ou atividades de 
promoção da saúde tendem a con-
centrar-se em componentes educa-
tivos, primariamente relacionados 
com riscos comportamentais pas-
síveis de mudanças, que estariam, 
pelo menos em parte, sob o controle 
dos próprios indivíduos. Por exem-
plo, o hábito de fumar, a dieta, as ati-
vidades físicas, a direção perigosa no 
trânsito (BUSS, 2000, p.166). 
Para se promover a saúde, deve-se 
pensar em estratégias mais amplas, uti-
lizando, para isso, dos canais de comuni-
cação disponíveis. Antes disso, os gesto-
res de saúde, juntamente com os setores 
políticos competentes, precisam elaborar 
documentos e legislações que têm como 
objetivo geral a promoção da saúde da 
população: “Os psicólogos também pro-
movem a saúde incentivando a ação legis-
lativa e realizando campanhas educativas 
na mídia. Esses esforços focalizam muitos 
níveis, do individual à comunidade e à so-
ciedade como um todo” (STRAUB, 2014, 
p.153).
b) Prevenção primária, secundária 
e terciária
Além da promoção da saúde, a preven-
ção é outra estratégia que se faz muito 
importante. Assim como o que foi aborda-
do na promoção da saúde, o foco é o gru-
po, não o indivíduo. 
Importante destacar que, segundo 
Straub (2014), é comum relacionar o ter-
mo “prevenção” apenas em relação aos 
esforços para modificar os riscos aos quais 
uma pessoa está exposta antes que uma 
doença se manifeste. Essa realmente é 
uma estratégia de prevenção, a que ocor-
re antes do problema se instalar, porém 
existem estratégias de prevenção que 
acontecem durante o curso da doença e 
mesmo depois que a mesma já aconteceu.
A partir dos estudos de alguns auto-
res, como Goldston (1980 apud LACERDA 
JR; GUZZO, 2005) e Leavell e Clark (1976 
apud BUSS, 2000), as estratégias de pre-
venção podem ser divididas em três ní-
veis, os quais serão elucidados a seguir. 
8 9
Atualmente, o termo prevenção pri-
mária (PP) encontra-se em voga e é 
compreendido por:
O conceito PP é proveniente da saú-
de pública e refere-se à ação que 
busca evitar a incidência de doenças. 
As ações neste campo sempre têm 
como alvo grupos e não indivíduos 
(LACERDA JR; GUZZO, 2005, p.241).
A prevenção primária e se caracteriza 
por ações dirigidas a grupos amplos, an-
tes do estabelecimento de uma doença, 
ou seja, busca-se atingir uma saúde geral 
melhor pela proteção do homem contra 
os agentes nocivos do meio.A educação 
em saúde aparece como um grande dife-
rencial (GOLDSTON, 1980 apud LACERDA 
JR; GUZZO, 2005; LEAVELL; CLARK,1976 
apud BUSS, 2000). 
Prevenção primária refere-se a 
ações que promovem a saúde, que 
são realizadas para prevenir que 
uma doença ou lesão ocorra. Exem-
plos de prevenção primária são usar 
cinto de segurança, seguir uma boa 
nutrição, fazer exercícios, não fumar, 
manter padrões saudáveis de sono e 
fazer exames de saúde regularmen-
te (STRAUB, 2014, p.153).
Entendemos que o psicólogo tem 
um grande diferencial na prevenção 
primária como agente da educação 
em saúde, especialmente por poder 
atuar com o ser humano em diferen-
tes estágios de seu desenvolvimento. 
Em determinadas situações, o psicó-
logo pode realizar estratégias de pre-
venção primária indireta, ou seja, o 
psicólogo irá intervir em profissionais 
que irão lidar diretamente com os pa-
cientes, prática essa denominada in-
terconsulta:
Esses profissionais incentivam mé-
dicos e outros trabalhadores na área 
da saúde a aconselharem seus pa-
cientes. Por mais que essa atenção 
personalizada possa parecer efeti-
va, muitos médicos têm dificuldade 
em usar medidas preventivas. Uma 
razão para essa dificuldade é que 
as faculdades de medicina tradicio-
nalmente colocam pouca ênfase em 
medidas preventivas. Outra é a falta 
de tempo, devido ao número de pes-
soas que os médicos precisam aten-
der por dia (STRAUB, 2014, p.153).
Já o segundo nível, denominado pre-
venção secundária, ocorre após a identifi-
cação de fatores de risco. Objetiva evitar 
que o problema se torne crônico através 
do diagnóstico e intervenção precoces 
(LACERDA JR; GUZZO, 2005). Pode-se citar 
como exemplo um filho de pai diabético, 
sem nenhuma doença diagnosticada no 
momento, que procura a atenção de uma 
equipe multidisciplinar em saúde em bus-
ca de mudança de estilo de vida visando à 
prevenção da doença no futuro devido ao 
seu histórico familiar.
Podemos ver na citação a seguir 
um exemplo da atuação do psicólogo 
num nível de prevenção secundária, 
ou seja, em indivíduos cujos fatores 
de risco para doenças cardiovascula-
res identificados. Vê-se que a situação 
é complexa, daí a importância da atu-
ação da equipe multidisciplinar, na 
qual o psicólogo encontra-se inserido:
Prevenção secundária envolve 
ações para identificar e tratar uma 
doença, no começo de seu curso. No 
caso de uma pessoa com pressão 
8 9
alta, por exemplo, a prevenção se-
cundária envolveria exames regula-
res para monitorar sintomas, o uso 
de medicamentos para a pressão e 
alterações na dieta (STRAUB, 2014, 
p.153).
Finalmente, o último nível, denominado 
prevenção terciária, é o mais específico de 
todos os níveis. Seu foco é a reabilitação 
ou diminuir os efeitos de uma doença já 
instalada (LACERDA JR; GUZZO, 2005). 
Prevenção terciária envolve ações 
para conter ou retardar danos uma 
vez que a doença já tenha avança-
do além de seus estágios iniciais. Um 
exemplo de prevenção terciária é o 
uso de radioterapia ou quimioterapia 
para destruir um tumor. A prevenção 
terciária também busca reabilitar 
as pessoas ao maior nível possível 
(STRAUB, 2014, p.153).
Observa-se que, mesmo como a ten-
dência atual é priorizar a prevenção primá-
ria e a promoção à saúde, nós, profissio-
nais, acabamos ainda encontrando mais 
frentes de trabalho nos setores voltados 
à prevenção secundária ou terciária. Se-
gundo Straub (2014), a prevenção terciá-
ria é menos efetiva em termos de custos 
e menos benéfica que os outros tipos de 
prevenção, porém esta é a forma mais 
comum de cuidados em saúde. Essa es-
tratégia de cuidado é mais fácil de ser ins-
talada porque os grupos-alvo adequados 
(pessoas com doenças e/ou lesões) são 
identificados com facilidade. Os pacientes 
em tratamento nesse nível terciário cos-
tumam ter maior motivação para a adesão 
ao tratamento e a adoção de outros com-
portamentos relacionados à saúde. 
Em síntese, sobre os programas de 
prevenção podemos observar que:
Os programas de prevenção são 
divididos em universais e específi-
cos. Os universais referem-se aos 
programas direcionados à população 
em geral e têm como objetivo reduzir 
a incidência da doença, por elimina-
rem ou reduzirem fatores de risco 
que são prevalentes na população. 
Os programas específicos têm como 
foco reduzir fatores de risco em ado-
lescentes e adultos jovens que ainda 
não desenvolveram a doença, mas 
têm risco aumentado de se tornar 
casos clínicos ou subclínicos (ÁVILA; 
NUNES, 2006, p.100).
Como os conceitos de prevenção e pro-
moção da saúde costumam ser confun-
didos, finalizamos essa seção com uma 
síntese sucinta que esclarece possíveis 
dúvidas. Segundo Ronzani e Rodrigues 
(2006), a prevenção é compreendida 
como uma tentativa de se evitar doenças, 
enquanto que a promoção da saúde con-
siste na melhoria da qualidade de vida das 
pessoas avaliada por vários aspectos.
10 11
UNIDADE 2 - Comportamento e saúde
10
2.1Comportamento saudá-
vel X comportamento de 
risco
Sabemos como os conceitos de saúde e 
doença foram sofrendo variações no de-
correr do percurso histórico. Inicialmente 
atribuídas a possessões demoníacas, as 
doenças passaram a ser compreendidas 
como desequilíbrio entre os humores (lí-
quidos) corporais, atribuíram algumas 
delas a vírus e bactérias, passaram a en-
fatizar a importância dos aspectos emo-
cionais tanto na etiologia de doenças 
quanto para uma boa saúde.
Até 1947, saúde estava compreendida 
como a ausência de doenças, ou seja, re-
afirmavam-se a visão do modelo biomédi-
co, reforçando a primazia da ausência de 
doenças no corpo. Essa visão também foi 
modificando e dentre várias definições de 
saúde merece destaque o conceito apre-
goado pela OMS, o qual é questionado por 
alguns autores, mas que reforça a impor-
tância de uma abordagem multidiscipli-
nar – o que sempre pretendemos reforçar 
neste curso.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) 
preconiza saúde como o estado de mais 
completo bem-estar físico, mental e so-
cial e espiritual, e não apenas a ausência 
de enfermidade. Esta definição marca um 
avanço na área da saúde, já que englo-
ba aspectos físicos, psíquicos e sociais. A 
partir daí passa-se a pensar não apenas 
na cura de patologias, mas nas práticas de 
prevenção e promoção da saúde (priori-
dade da Saúde, em especial, da Saúde Pú-
blica na atualidade). Nota-se também um 
viés biopsicossocial, o qual temos reforça-
do intensamente ao longo do curso.
Nessa perspectiva, fica evidente que 
o estado de ser saudável não é algo 
estático; pelo contrário, é necessário 
adquiri-lo e reconstruí-lo de forma 
individualizada e constantemente 
ao longo de toda a vida, oferecendo 
indícios de que a saúde é também 
domínio educacional e, por sua vez, 
deva ser tratada não apenas com 
base em referências de natureza 
biológica e higienista, mas, sobretu-
do num contexto didático-pedagógi-
co (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 11).
Observa-se, na citação anterior, que os 
autores não fazem menção à ideia de do-
ença, rompendo definitivamente a ideia 
da dicotomia saúde – doença do conceito 
de saúde. Para se promover a saúde, o in-
divíduo precisa ser protagonista, diferen-
te de ser passivo em relação à equipe de 
saúde. 
Como consequência dessa definição, 
tem-se a necessidade do cliente ser abor-
dado por uma equipe multidisciplinar que 
dê atenção para o mesmo a partir de um 
pressuposto biopsicossocial.
Outra definição, mais recente, 
aborda com mais detalhes o conceito 
de saúde, também de maneira holís-
tica. Define a saúde coo:
[...] resultante das condições de ali-
mentação, habitação, educação, 
renda, meio ambiente, trabalho, 
transporte, emprego, lazer, liberda-
10 1111
de, acesso e posse da terra e acesso 
aos serviços de saúde. É assim, an-tes de tudo, o resultado das formas 
de organização social da produção, 
as quais podem gerar desigualdades 
nos níveis de vida. (FLEURY, 1992, 
p.170 apud BAGRICHEVSCHI; ESTE-
VÃO, 2005, p.71)
Por outro lado, em relação ao conceito 
de doença, é sabido que devemos abor-
dar o homem como um todo: um ser único, 
dinâmico, dotado de corpo e alma, que se 
desenvolve em determinado ambiente, 
dentro do qual o mesmo interage e sofre 
interações. Neste contexto, entendemos 
a doença como a desarmonia orgânica ou 
psíquica responsável por interferir na di-
nâmica de desenvolvimento da pessoa. 
Assim, este desequilíbrio acarreta conse-
quências biopsicossociais e culturais. 
Entendendo por outra linha de raciocí-
nio, o organismo busca a constante home-
ostase – equilíbrio dinâmico entre as fun-
ções do corpo e o ambiente – e a doença 
não permite este equilíbrio, já que há uma 
ruptura nas relações existentes entre o 
indivíduo consigo mesmo e com o mun-
do. Enquanto perdurar sua enfermidade, 
a pessoa assume uma nova condição, de 
ser ou estar doente, o que acarreta numa 
série de mudanças e perdas que alterarão 
de modo decisivo sua identidade e as rela-
ções estabelecidas com a sociedade.
Atualmente já sabemos que existem 
várias causas para as doenças, dentre elas 
podemos citar as contaminações (micro-
-organismos, substâncias tóxicas, dentre 
outras fontes nocivas ao ser humano), os 
traumas (físicos, como uma queda, ou psí-
quicos, como a perda abrupta de um ente 
querido), as condições herdadas heredi-
tariamente, os modelos de vida não sau-
dáveis (como sedentarismo, tabagismo, 
etilismo), dentre outras condições que 
acarretam em alguma forma de adoeci-
mento.
Sabe-se que existe um número muito 
grande de doenças, dentre as quais é pos-
sível apontar diferentes meios de con-
traí-las e formas de evitá-las. Quando os 
fatores de risco dizem respeito a fatores 
genéticos, não há o que fazer para mo-
dificar essa bagagem inata que o indiví-
duo carrega, mas, em muitos casos, como 
nas doenças crônicas não transmissíveis 
(DCNT), há incidência de fatores multicau-
sais e o indivíduo pode modificar as vari-
áveis ambientais e comportamentais para 
visar a promoção da saúde e a prevenção 
nos três níveis estudados. 
A importância relativa de cada um 
desses componentes pode variar 
dependendo do genótipo, da idade 
e dos hábitos de vida das pessoas; 
no entanto, todos demonstram rela-
ção bastante estreita com o melhor 
estado de saúde (GUEDES; GUEDES, 
1995, p. 19).
Em síntese, é possível concluir que, 
partindo desse pressuposto, algumas 
doenças podem ser prevenidas (ou seus 
danos podem ser minimizados visando a 
uma melhoria da qualidade de vida) e essa 
prevenção depende diretamente do pró-
prio indivíduo. Dentre elas podemos citar, 
por exemplo, o câncer de pulmão, cuja in-
cidência é maior dentre os fumantes. Fica 
fácil compreender que a pessoa não taba-
gista está, de certa forma, prevenindo o 
aparecimento da doença. 
Um outro exemplo que encaixa nesse 
grupo é o da pessoa que sempre lava bem 
12 1312
as verduras e as frutas, além de deixá-las 
livres de moscas para evitar sua possível 
contaminação. Lógico que precisamos 
compreender que, na maioria das vezes, 
as doenças são provenientes de fontes 
multicausais, ou seja, não são derivadas 
de uma ou outra situação específica, mas 
talvez de um conjunto de variáveis. Entre-
tanto, a adoção de atitudes preventivas 
acaba por resultar um modo de vida mais 
saudável.
A relação entre estilo de vida e a saúde 
desencadeou grande esforço de pesquisa, 
visando a prevenir doenças e ferimentos. 
Às vezes, a doença não pode ser preveni-
da [...]. Ainda assim, mesmo nesses casos 
extremos, desenvolver nossas potenciali-
dades humanas pode nos dar a capacida-
de de florescer (STRAUB, 2014, p.145).
Outras doenças aparecem independen-
temente do comportamento do paciente. 
Como exemplo, podemos citar as doenças 
degenerativas, como a Doença de Alzhei-
mer, Parkinson e esclerose múltipla, pois 
até hoje não foi cientificamente compro-
vado que é possível prevenir as mesmas 
ou que algum tipo de comportamento por 
parte do indivíduo aumenta as chances do 
mesmo desenvolvê-las. 
Importante que isso fique claro para o 
psicólogo, visto que, atualmente, com a 
ampla divulgação de mensagens desti-
nadas às pessoas prevenirem doenças a 
partir da adoção de um estilo de vida mais 
saudável, é comum que o paciente chegue 
até o profissional com grande demanda de 
culpa pelo seu processo de adoecimento, 
responsabilidade por algo que, em muitas 
vezes, não estava ao alcance do paciente 
prevenir ou mesmo evitar que aconteces-
se. Por despreparo, alguns profissionais 
atribuem a causa de doenças graves, como 
o câncer, apenas ao estado emocional do 
paciente, como se ele fosse capaz de, so-
zinho, sem nenhum tipo de ajuda, interfe-
rir no seu estado emocional para não ado-
ecer. Já discutimos amplamente a questão 
da psicossomática e vimos que essas do-
enças acontecem de forma inconsciente, 
ou seja, fazer com que o paciente se sinta 
culpado pelo seu estado de padecimento 
só irá gerar ainda mais sofrimento e senti-
mentos conflituosos para ele mesmo.
A partir de agora, veremos, com mais 
detalhes, como o comportamento do indi-
víduo pode está diretamente relacionado 
com seu padrão de saúde e doença.
É difícil imaginar uma atividade ou 
um comportamento que não in-
fluenciem a saúde de alguma forma 
– para melhor ou pior, direta ou indi-
retamente, de imediato ou a longo 
prazo. Os comportamentos de saúde 
são comportamentos das pessoas 
para melhorar ou manter sua saúde. 
Exercitar-se com regularidade, usar 
protetor solar, seguir uma dieta com 
baixo teor de gordura, dormir bem, 
praticar sexo seguro e usar o cinto 
de segurança são comportamentos 
que ajudam a “imunizar” você con-
tra doenças e ferimentos. Exemplos 
menos óbvios incluem passatempos 
prazerosos, meditação, rir, férias re-
gulares e até ter um animal de esti-
mação. Essas atitudes ajudam mui-
tas pessoas a lidar com o estresse 
e manter uma perspectiva otimista 
sobre a vida (STRAUB, 2014, p.145).
Dentre esses comportamentos de ris-
cos – muitos dos quais são adotados des-
de a juventude – os citados abaixo podem 
12 1313
ocasionar risco de morte prematura, defi-
ciência e doenças crônicas. Alguns desses 
fatores interferem na saúde de modo ime-
diato, outros a longo prazo e ainda há ou-
tros que prejudicam o indivíduo tanto no 
presente quanto no futuro:
1. Fumar e outras formas de abuso de 
tabaco.
2. Comer alimentos com alto teor de 
gorduras e baixo de fibras.
3. Não fazer atividades físicas sufi-
cientes.
4. Abusar de álcool e outras substân-
cias (incluindo as de prescrição).
5. Não usar métodos comprovados 
para prevenir ou diagnosticar doenças 
precocemente (ex: vacinas para gripe, de-
cisões saudáveis relacionadas com o sexo, 
papanicolau, colonoscopias, mamogra-
fias).
6. Participar de comportamento vio-
lento ou que possa causar lesões invo-
luntariamente (ex.: dirigir intoxicado) 
(CENTER FOR DISEASE CONTROL AND 
PREVENTION, 2010 apud STRAUB, 2014, 
p.146).
Os fatores de risco para as doenças po-
dem ser de ordem genética / biológica, 
ambiental e comportamental, como eluci-
dado na figura a seguir:
 
Figura 01: Principais categorias de fatores de risco
Fonte: U.S., 1979 apud POWERS; HOWLEY, p.258
14 15
Como foi possível observar, existem 
comportamentos de risco extremamente 
nocivos para a saúde no tempo presente 
ou no futuro e também comportamen-
tos diretamente relacionados a uma boa 
saúde. Dentre os fatores de risco acima 
enumerados, percebe-se que nem todos 
podem ser modificados (biológicos e ge-
néticos), assim o papel do psicólogo reside 
junto àqueles fatores que podem ser mo-
dificados.É importante que a pessoa se 
conscientize de que sua saúde pode estar 
em suas mãos, assim, o psicólogo pode 
ocupar um lugar de destaque junto a esse 
contexto. 
A terapia individual ou de grupo pode 
auxiliar o paciente a abrir mão de hábitos 
não saudáveis – o que em muitos casos é 
difícil, visto que envolve aquilo que pode 
lhe proporcionar mais prazer ou mesmo in-
terferir em situações onde há verdadeira 
dependência física ou psíquica. Da mesma 
forma, é papel do psicólogo auxiliar o pa-
ciente a reorganizar sua vida, adequando 
a mesma a partir de estratégias mais sau-
dáveis. Importante destacar que o aban-
dono de um estilo de vida marcado por si-
tuações de risco e a adoção de um modo 
de vida saudável é um processo bastante 
difícil e deve ser assistido por uma equipe 
interdisciplinar, dentro da qual o psicólogo 
deve estar inserido.
Enfocaremos a seguir alguns compor-
tamentos relacionados à saúde (atividade 
física) e de risco (obesidade e transtornos 
alimentares; abuso de substâncias). Exis-
tem outros fatores comportamentais que 
se reacionam diretamente com o surgi-
mento de doenças (como foi mostrado na 
figura 1), porém, para fins didáticos, limi-
taremos nosso estudo a esses fatores:
a) Atividade física
Como temos enfatizado a importância 
da prevenção, iniciaremos falando sobre 
uma estratégia de prevenção que, em 
muitos casos, envolve a mudança de com-
portamentos não saudáveis, muitos deles 
praticados durante muitos anos de vida: a 
atividade física.
A vida sedentária tem sido consi-
derada como um dos fatores de risco 
coronariano (infarto do miocárdio, 
morte súbita, angina prectoris). A 
prática regular de exercícios físicos 
tem sido considerada “fator de pro-
teção” contra processos degenera-
tivos no organismo, principalmente 
doenças como arteroclerose sistêmi-
ca, obesidade, hipertensão arterial e 
distúrbios psicossomáticos leves e 
moderados (LEITE, 2000, p.5).
Sabe-se que os programas de atividade 
física corretamente prescritos e adequa-
dos são benéficos para a saúde do pon-
to de vista da prevenção, manutenção e 
aprimoramento da capacidade funcional. 
Por outro lado, a falta de atividade físi-
ca regular contribui para o surgimento 
das doenças crônico-degenerativas, tais 
como a hipertensão arterial, as cardio-
patias coronarianas, o diabetes melitus e 
a obesidade. Essas doenças atualmente 
são a principal causa de mortalidade entre 
os adultos (GUEDES; GUEDES, 1995).
Segundo Straub (2014), a prática de 
exercícios físicos promove o bem-estar 
físico e psicológico, minimiza os riscos de 
ansiedade e depressão, melhora a auto-
eficácia e a autoestima, além de ajudar 
a desacelerar ou mesmo reverter alguns 
dos efeitos do envelhecimento. A ativi-
dade física auxilia a reduzir o risco de do-
14 15
enças cardiovasculares, diabetes, muitos 
tipos de câncer e condições relacionadas 
ao estresse. O tipo de atividade mais reco-
mendado é o aeróbico.
Nieman (1999) reforça que grande par-
cela dos casos de diabetes tipo 2 poderia 
ser evitável e tratável por meio da melho-
ria nos hábitos no estilo de vida, ou seja, 
dieta ideal a longo prazo, exercícios físicos 
e obtenção do peso ideal. Na maioria dos 
casos havendo essa real mudança não se 
faz necessária a administração de medi-
camentos.
Programas de reabilitação do cardiopa-
ta com a prática de exercícios físicos pro-
porcionam benefícios psicossociais, tais 
como diminuição da ansiedade e depres-
são ocasionadas pela doença, melhora da 
autoestima e consequente reinserção so-
cial e profissional. A partir de todas essas 
mudanças, o cardiopata pode encontrar 
o incentivo para modificar os hábitos não 
saudáveis e então atingir a necessária 
mudança em seu estilo de vida. (GUEDES; 
GUEDES, 1995).
Os indivíduos portadores de do-
enças orgânicas, metabólicas e psi-
cossomáticas (pacientes cardíacos, 
obesos, portadores de depressão e 
ansiedade) procuram fazer exercí-
cios fiscos para recuperarem parte 
de suas capacidades funcionais que 
foram debilitadas pela doença, rein-
tegração social e preenchimento de 
“vazios existenciais” que acompa-
nham as doenças crônicas e/ou psi-
cossomáticas. (LEITE, 2000, p.4-5).
O que foi abordado sobre a ativi-
dade física não é nenhuma novidade 
nos meios acadêmicos e mesmo nas 
conversas informais, onde o apelo 
pela vida saudável é cada vez mais 
evidente. Entretanto, isso parece mais 
conversa de profissionais da educa-
ção física do que de psicólogos, não 
é mesmo? Ao contrário do que possa 
parecer num contato inicial, a ques-
tão da atividade física na promoção 
da saúde também é área de interesse 
do psicólogo por envolver a questão 
de uma possível modificação de com-
portamento. A citação a seguir deixa 
isso bem claro:
Às vezes, somos nossos piores ini-
migos na batalha pela saúde. Na 
adolescência e no começo da vida 
adulta, quando estamos desenvol-
vendo hábitos relacionados com a 
saúde, normalmente somos bastan-
te saudáveis. Fumar cigarros, comer 
muita gordura e não fazer exercí-
cios nessa época são coisas que não 
parecem ter efeito algum sobre a 
saúde. Desse modo, os jovens têm 
poucos incentivos imediatos para 
praticar bons comportamentos e 
corrigir mais hábitos relacionados 
com a saúde. Muitos comportamen-
tos que promovem a saúde, como fa-
zer exercícios vigorosos e seguir uma 
dieta com baixo teor de gordura, são 
menos prazerosos ou mais difíceis do 
que alternativas menos saudáveis. 
Se um comportamento (como comer 
quando está deprimido) causar alívio 
ou gratificação imediata, ou se não 
apresentá-lo proporciona descon-
forto imediato, será difícil eliminar 
tal comportamento (STRAUB, 2014, 
p.153-154).
16 17
Nesse sentido, torna-se visível que o 
psicólogo pode atuar visando a educação 
em saúde de clientes de diferentes faixas 
etárias, além de realizar a interconsulta 
em equipes interdisciplinares que atuam 
no sentido de promover ou restaurar a 
qualidade de vida dos indivíduos. É pre-
ciso que fique claro que nas condições 
em que haja necessidade de mudança de 
comportamento – como nas que veremos 
a seguir – há muitos fatores psicológicos 
envolvidos no processo, o que torna a mo-
dificação de comportamento mais difícil e 
complexa.
b) Obesidade
A obesidade precisa ser compreendida 
como um fenômeno biopsicossocial, ou 
seja, suas causas e consequências atin-
gem o indivíduo em todas as suas dimen-
sões. Dentre os fatores biológicos, des-
taca-se o papel da hereditariedade (em 
interação com os fatores ambientais – pa-
drão alimentar e nível de atividade física) 
(STRAUB, 2014).
Para o psicólogo, os fatores psicosso-
ciais envolvidos à obesidade são os que 
mais merecem destaque. Os padrões de 
fome e alimentação variam individual-
mente. Como a maioria das confraterni-
zações e eventos sociais envolvem a ali-
mentação, é comum associar o estresse à 
ingestão de certos tipos de alimentos, ou 
seja, em situações de estresse agudo ou 
crônico as pessoas tendem a comer mais 
(STRAUB, 2014).
Segundo Nieman (1999), dentre os 
riscos associados à obesidade podem-se 
destacar dificuldades emocionais (como 
baixa autoestima e depressão) aumento 
de osteoartrite; aumento de incidência 
de hipertensão arterial e diabetes; au-
mento dos níveis de colesterol; aumen-
to dos riscos de doença cardíaca, câncer 
e morte prematura. O autor pontua que 
um dos grandes problemas é que a maio-
ria dos tratamentos enfoca a obesidade 
como uma doença aguda (que se resolve 
num curto período de tempo), sendo que, 
na verdade, é uma doença crônica (como a 
hipertensão arterial). 
As pessoas preocupam-se com o que 
e quanto comer devido aos efeitos 
fisiológicos e psicológicos negativos 
da obesidade. O fato de ser obeso 
carrega um estigma social em mui-
tas partes do mundo de hoje, o que 
indicaa importância que muitas 
sociedades dão à aparência física 
(STRAUB, 2014, p.189).
Observa-se que o peso afeta homens e 
mulheres de diferentes formas. As mulhe-
res obesas possuem maior probabilidade 
de se sentirem depressivas, até mesmo 
com tendência suicida, se comparadas às 
mulheres mais magras. Já em relação ao 
sexo masculino ocorre o inverso: os ho-
mens que se encontram abaixo do peso 
costumam ter maior tendência à depres-
são que aqueles mais pesados (STRAUB, 
2014). 
Segundo o mesmo autor, uma série de 
fatores explica por que muitas dietas não 
funcionam. Dentre esses fatores citamos 
as expectativas irrealísticas, o incômodo 
da sensação de privação de algo conside-
rado prazeroso. 
As dietas de maior sucesso são as 
intervenções clínicas que incluem 
alguma forma de pós-tratamento 
depois da perda de peso, com apoio 
social, programas de exercícios ou 
continuação do contato com o tera-
16 17
peuta. [...] Para muitas pessoas, os 
tratamentos em grupo produzem 
resultados melhores do que inter-
venções de autoajuda individuais 
(STRAUB, 2014, p.198).
O objetivo final de um tratamento para 
a obesidade é a reeducação alimentar, 
perda de peso e sua manutenção, por-
tanto, são recomendáveis programas que 
incluam dieta, exercícios, modificação de 
comportamento, visando sempre resulta-
dos de longo prazo. O psicólogo encontra 
espaço dentre a equipe multidisciplinar, 
evitando que as dietas deem errado.
Em conjunto com os profissionais de 
saúde, é importante que o usuário 
dos serviços de saúde reconstrua o 
modelo de vida saudável e incorpore 
mudanças de estilo de vida. Não des-
prezando as limitações socioeconô-
micas, presentes na vida da maioria 
dos usuários dos serviços públicos de 
saúde no Brasil, é fundamental que 
a população portadora de excesso 
de peso assuma o ônus de reestrutu-
rar suas práticas mais cotidianas de 
saúde, empenhando-se no aumento 
de seu tempo de prática de atividade 
física, bem como a opção por alimen-
tos menos ricos em gordura e menos 
energéticos (PINHEIRO; FREITAS; 
CORSO, 2004, p.531).
O papel do psicólogo numa equipe mul-
tidisciplinar – que também engloba pro-
fissionais como médico, nutricionista, 
profissional da educação física, dentre 
outros, tem sido cada vez mais valorizado 
num tratamento complexo da obesidade. 
Segundo Straub (2014), a terapia cogni-
tivo comportamental é uma abordagem 
de sucesso frente às pessoas obesas que, 
normalmente, começam o tratamento 
com expectativas irrealistas e pensamen-
tos autodestrutivos. Esse tipo de terapia 
objetiva focar na interdependência de 
sentimentos, pensamentos, comporta-
mentos, consequências, contexto social 
e processos fisiológicos. Deve-se também 
levar em consideração a individualidade 
de cada paciente, ou seja, os pacientes 
variam quanto ao tipo de tratamento mais 
eficaz, pois as pessoas apresentam dife-
rentes estilos de personalidade, níveis 
de obesidade, história médica e compor-
tamentos alimentares. “A premissa sub-
jacente a essas terapias é que os hábitos 
e as atitudes alimentares devem ser mo-
dificados de forma permanente para que 
ocorra perda de peso e sua manutenção” 
(p.199).
A obesidade pode atingir padrões 
tão alarmantes para o paciente e 
chegar a ser caracterizada como obe-
sidade mórbida, quadro que carrega 
grandes implicações para o estado 
geral de saúde do paciente:
Devido ao grande crescimento da 
obesidade nas últimas décadas, pro-
fissionais de diversas áreas da saúde 
estão sendo requisitadas para tratar 
da obesidade e de suas comorbida-
des associadas. No momento, além 
dos tratamentos convencionais para 
obesidade (reorientação nutricional, 
uso de agentes antiobesidade e prá-
tica regular de exercícios físicos), a 
cirurgia bariátrica (CB) é considerada 
o tratamento de escolha para obe-
sos graves que não respondem às te-
rapêuticas convencionais (FANDIÑO; 
APPOLINARIO, 2006, p.367).
O psicólogo é um profissional de suma 
importância na equipe multidisciplinar 
que atua com profissionais candidatos a 
18 19
se submeterem à cirurgia bariátrica. No 
período pré-operatório, uma avaliação 
psiquiátrica e/ou psicológica do paciente 
se faz de suma importância. Essa avalia-
ção pode ser auxiliada pelos testes psico-
lógicos (os quais são atribuição exclusiva 
do psicólogo) e também por entrevistas 
psiquiátricas estruturadas. Nessa avalia-
ção, objetiva-se rastrear transtornos psi-
quiátricos atuais e preexistentes, além 
de investigar a capacidade do paciente 
de lidar com as modificações comporta-
mentais impostas pela cirurgia e mudança 
no estilo de vida. A atuação do psicólogo 
não se resume ao momento pré-operató-
rio, um acompanhamento pós-operatório 
também é importante para se avaliar o 
funcionamento psicológico do paciente, 
assim como para avaliar possíveis compli-
cações psiquiátricas que podem ocorrer 
nesse período crítico (FANDIÑO; APPOLI-
NARIO, 2006).
Segundo os mesmos autores, para que 
a cirurgia seja satisfatória é imprescindí-
vel que o paciente esteja motivado e bem 
informado acerca da cirurgia e das impli-
cações da mesma para a sua vida; além 
disso, devem se conscientizar de que o 
processo não se resume ao procedimento 
cirúrgico, faz-se necessário um tratamen-
to de longo prazo.
Mais uma vez observamos como a mu-
dança de comportamento do paciente é 
essencial nos tratamentos de pacientes 
obesos e como a atuação do psicólogo é 
imprescindível para auxiliá-lo a lidar com 
as mudanças decorrentes do emagreci-
mento. No caso dos pacientes que se sub-
metem à cirurgia bariátrica, as mudanças 
que ocorrem no corpo costumam ser mais 
rápidas e significativas, assim o paciente 
precisa estar preparado psicologicamen-
te a lidar com o corpo novo, rotinas novas, 
padrões alimentares completamente di-
ferenciados.
Em relação aos aspectos psicopa-
tológicos apontados como comorbi-
dades ao quadro de obesidade, após 
a cirurgia, costuma-se observar uma 
melhora no funcionamento psicológi-
co. Entretanto, podem surgir compor-
tamentos compulsivos (alcoolismo, 
impulsividade e bulimia nervosa), o 
que parece apontar que esses com-
portamentos já existiam antes da ci-
rurgia, mas eram “camuflados” pela 
obesidade, a queixa principal. Alguns 
pacientes chegam a tentar o suicídio 
(FANDIÑO; APPOLINARIO, 2006). Se-
gundo os autores supracitados:
Observamos que, em relação à mor-
bidade psiquiátrica geral, pacientes 
com obesidade grave, candidatos à 
cirurgia bariátrica evidenciam uma 
prevalência aumentada de transtor-
nos do humor, alguns transtornos de 
ansiedade e história de dependência 
ou abuso de substâncias psicoativas. 
Na categoria dos transtornos do hu-
mor, o transtorno depressivo (histó-
ria atual e/ou passada) parece ser o 
diagnóstico mais prevalente (p.372).
Em síntese, o psicólogo que trabalha 
com pacientes de cirurgia bariátrica deve 
ficar muito atento em sua avaliação pré-
-operatória, já que ele é um dos profis-
sionais responsáveis por recomendar ou 
não o procedimento e, caso ele apresente 
algumas das condições enumeradas an-
teriormente, o risco é de não resolver o 
problema da obesidade, como também de 
favorecer o surgimento de outras condi-
ções graves a ponto de levarem o pacien-
18 19
te ao óbito. Mais que isso, é importante 
conscientizar o paciente da necessidade 
de acompanhamento psicológico pós-ci-
rúrgico, pois as mudanças de autoimagem 
e comportamentos alimentares também 
podem ser danosas ao paciente. Assim, 
vemos que há demanda de trabalho para 
o psicólogo tanto em nível clínico (con-
sultório, ambulatório), quanto no próprio 
hospital. As intervenções podem ser indi-
viduais ou em grupo.
Entendemos que esse deve ser o último 
recurso utilizado em pacientes que apre-
sentam obesidade mórbida e suas compli-
cações, não como um simplesrecurso de 
emagrecimento para pacientes que não 
conseguem modificar seus hábitos ali-
mentares e estilo de vida sedentário.
c) Transtornos alimentares
Assim como ocorre com a obesidade, os 
transtornos alimentares são um problema 
muito frequente na atualidade e mere-
cem a atenção da equipe multidisciplinar 
em saúde, em especial o psicólogo. Fala-
remos aqui sobre a anorexia nervosa, a 
bulimia nervosa e o transtorno dismórfico 
corporal (vigorexia).
Numa sociedade marcada pelo culto 
ao corpo, onde a necessidade de se mos-
trar se faz evidente, marcada pela busca 
incessante aos ideais de beleza impos-
tos pela mídia, os quais são muitas vezes 
inatingíveis pela maioria das pessoas, os 
transtornos alimentares e da imagem cor-
poral tornam proporções alarmantes.
Dentre os fatores psicológicos, um que 
merece destaque é a autoestima. Ter uma 
boa autoestima é fator protetor não ape-
nas para os transtornos alimentares, mas, 
sem sombra de dúvidas, uma pessoa com 
boa autoestima é uma pessoa mais sau-
dável, que lida melhor com as adversida-
des impostas pela vida. Mas, o que é auto-
estima? Segundo Papalia, Olds e Feldman 
(2006), autoestima significa gostar de si 
mesmo de modo genuíno e altruísta; não 
se trata de excesso de valorização de si 
mesmo ou de arrogância e egocentrismo. 
Gostamos do que realmente somos, acei-
tando nossas próprias habilidades e limi-
tações. O papel do outro é importante no 
desenvolvimento da autoestima, sejam 
eles familiares, amigos, ou mesmo desco-
nhecidos. Afirmar que um sujeito possui 
uma autoestima elevada é o mesmo que 
dizer que ele tem um julgamento positivo 
de si mesmo.
A partir dessa definição, é possível per-
ceber que a autoestima de uma pessoa 
com transtorno alimentar (ou às vias de 
desenvolver um desses transtornos) não 
é positiva, por isso é necessária uma aten-
ção especial no que diz respeito à atenção 
a este público-alvo, o que será elucidado 
a seguir.
Outro conceito que precisa ser escla-
recido e que caminha muito próximo da 
autoestima é a autoimagem. Define-se 
autoimagem como a forma como as pes-
soas vêm e percebem o seu próprio cor-
po, percepção essa que sofre influência 
de aspectos físicos, psicológicos e cultu-
rais. Importante destacar que a insatis-
fação com a imagem corporal é comum 
nos transtornos alimentares, associados 
à adolescência, como também na fase do 
envelhecimento, marcada por uma série 
de mudanças no esquema corporal, como 
sinaliza pesquisa de Pereira e colaborado-
res (2009).
Os distúrbios alimentares podem ser 
20 21
ocasionados tanto por fatores invariá-
veis – como genética, personalidade e 
antecedentes familiares – quanto por fa-
tores mutáveis, como aqueles relaciona-
dos ao ambiente esportivo e sociocultural 
(WEINBERG; GOULD, 2006).
 Anorexia
Segundo Borges e colaboradores 
(2006), a anorexia nervosa é um transtor-
no alimentar que se caracteriza por perda 
significativa de peso que acontece após 
ocorrência de dieta extremamente res-
trita. A pessoa que sofre com esse trans-
torno apresenta uma verdadeira busca 
desenfreada pelo padrão de magreza que 
deseja atingir e a sua autoimagem encon-
tra-se distorcida. Além disso, as mulheres 
com esse problema começam a apresen-
tar alterações do ciclo menstrual.
O portador da anorexia nervosa pos-
sui o agravante de não se enxergar como 
anormal, correndo sério risco de morte 
por inanição ou devido a complicações de-
correntes de seu estado de saúde. Duran-
te as refeições observa-se que essas pes-
soas beliscam a comida, remexem o prato, 
comem alimentos pouco calóricos e men-
tem sobre a sua alimentação (WEINBERG; 
GOULD, 2006).
Geralmente os pacientes relatam 
que o início do quadro se deu após 
um fator estressante como algum 
comentário sobre seu peso, ou o tér-
mino de relacionamento, ou perda de 
ente querido. Paulatinamente, o pa-
ciente passa a viver exclusivamente 
em função da dieta, do peso, da for-
ma corporal, das atividades físicas, 
de tabela de calorias e do medo pa-
tológico de engordar. Concomitan-
temente esses pacientes apresen-
tam traços de personalidade como 
preocupações e cautela em excesso, 
medo de mudanças, hipersensibili-
dade e gosto pela ordem (BORGES et 
al., 2006, p.341).
Straub (2014) elucida que essa condi-
ção pode ocasionar complicações graves, 
tais como redução da função da tireoide; 
frequências cardíaca e respiratória irregu-
lares; diminuição da pressão arterial; pele 
ressecada e amarelada; fragilidade dos 
ossos; anemia, tontura e desidratação; 
inanição, amenorreia (cessação do fluxo 
menstrual), dentre outras condições.
 Bulimia
Normalmente, os bulímicos são pes-
soas de baixa autoestima que se tornam 
depressivas e, num comportamento com-
pulsivo, comem excessivamente numa 
tentativa de se sentirem melhor. Porém, 
com a ingesta excessiva surge o senti-
mento de culpa, assim o indivíduo induz o 
vômito ou toma laxantes numa tentativa 
de expelir o que foi ingerido compulsiva-
mente. Ao contrário do que acontece com 
o anoréxico, o bulímico sabe que tem um 
problema, porém em alguns casos a buli-
mia pode levar à anorexia. No dia a dia é 
comum observar que essas pessoas es-
condem comida e desaparecem após as 
refeições (normalmente é comum o vômi-
to ou a diarreia como efeito dos laxantes) 
(WEINBERG; GOULD, 2006).
A bulimia caracteriza-se, então, por um 
comportamento compulsivo seguido da 
purgação. Diferente do que acontece com 
a anorexia nervosa, esse transtorno difi-
cilmente leva ao óbito, porém também im-
plica em consequências graves, tais como 
20 21
dependência de laxantes; hipoglicemia; 
dentes danificados pelo ácido clorídrico 
presente do vômito frequente; sangra-
mento do estômago devido à indução dos 
vômitos; anemia e desequilíbrio dos ele-
trólitos causados pela frequente perda de 
minerais essenciais ao bom funcionamen-
to do organismo (STRAUB, 2014).
 Dismorfia muscular ou vigorexia
Ao contrário do que foi abordado até 
aqui, com a anorexia e bulimia, transtornos 
associados à percepção da imagem corpo-
ral que atingem principalmente mulheres, 
a dismorfia muscular (ou vigorexia) é um 
transtorno que acomete, em sua maioria, 
indivíduos do sexo masculino. Segundo 
Assunção (2002), a preocupação desses 
homens em relação à sua autoimagem diz 
respeito a tornarem-se fortes e musculo-
sos, padrão de corpo ideal, imposto pela 
mídia, ou seja, semelhante ao que ocorre 
com o padrão de corpo magro, almejado 
por muitas mulheres.
Um homem grande e musculoso que 
tem a dismorfia muscular sente-se pe-
queno e franzino quando se olha no es-
pelho. Em consequência dessa percepção 
distorcida adota algumas medidas, tais 
como dieta hiperproteica, suplementos 
alimentares, uso de anabolizantes, ativi-
dade física exagerada (focam na muscula-
ção e rejeitam atividade aeróbica). As con-
sequências desse estilo de vida impactam 
o funcionamento biopsicossocial do indi-
víduo (OLIVARDIA, 2001 apud ASSUNÇÃO, 
2002). 
 Fatores biopsicossociais e trata-
mento psicológico
Os transtornos alimentares são 
bastante graves e podem ser ocasio-
nados devido a vários fatores:
A abordagem consensual inte-
grando os vários fatores que con-
tribuem para o desenvolvimento de 
um transtorno alimentar é o modelo 
biopsicossocial, que tem a vantagem 
de levar em conta toda a sorte de fa-
tores, desde os mais amplos, como 
os culturais, até os mais específicos, 
como os biológicos (ÁVILA; NUNES, 
2006, p.95).
Estudos sobre a questão da influência 
de fatores biológicos (como anormalida-
des bioquímicas) ainda são inconclusivos, 
por outro lado, estudos mostram influên-
cias genéticas significativas nos transtor-
nos alimentares (STRAUB, 2014).
Outros teóricos afirmam que as 
raízes dos transtornos da alimen-
tação podem ser encontradas em 
certassituações psicológicas, como 
ambientes sociais semifechados e 
competitivos de algumas famílias, 
equipes atléticas e grupos universi-
tários (LESTER; PETRIE, 1998 apud 
STRAUB, 2014, p.204).
Há indícios de que vários fatores indivi-
duais contribuem para o surgimento dos 
transtornos alimentares, tais como tra-
ços de personalidade e baixa autoestima, 
além de experiências pessoais e interpes-
soais, como abuso sexual, eventos trau-
máticos e bullying escolar, caracterizado 
por apelidos vexatórios em decorrência 
do peso (ÁVILA; NUNES, 2006).
Em relação aos fatores socioculturais, 
observa-se que a anorexia e a bulimia 
acometem mais mulheres do que homens. 
É mais frequente nas culturas ocidentais, 
que apresentam preocupação com o peso. 
22 23
Segundo a visão sociocultural, as 
dietas e o comportamento alimentar 
desordenado são as respostas com-
preensíveis das mulheres aos seus 
papéis sociais e aos ideais culturais 
de beleza (SEID, 1994 apud STRAUB, 
2014, p.204). 
A mídia também reforça os ideais de 
magreza, talvez em proporções menores 
do que costumamos imaginar, mas sua 
influência não pode ser desconsiderada 
(STRAUB, 2014). 
Os ideais de magreza impostos pela so-
ciedade mostram-se cada vez mais difí-
ceis de serem alcançados e a esses ideais 
de magreza associam-se a simbologia de 
sucesso, eficiência e perfeição. “No en-
tanto, os aspectos socioculturais, por si 
sós, não determinam isoladamente o de-
senvolvimento dos transtornos alimenta-
res” (ÁVILA; NUNES, 2006, p.96).
Há suficientes evidências de que as 
famílias influenciam atitudes e valo-
res de seus filhos, o que pode aumen-
tar o risco para o desenvolvimento 
de um transtorno alimentar. É pouco 
provável, no entanto, que essa influ-
ência, por si só, seja suficiente para 
desencadear tais patologias, a me-
nos que seja combinada com outro 
fator, como vulnerabilidade biológi-
ca ou psicológica, como demonstrou 
estudo de Davis e colaboradores 
(2004) (ÁVILA; NUNES, 2006, p.98).
Devido à multiplicidade de fatores 
envolvidos na etiologia desses trans-
tornos, para a abordagem do mes-
mo se faz necessária uma equipe 
multidisciplinar, na qual o psicólogo 
encontra-se inserido. Os programas 
que visam abordar os transtornos 
alimentares podem ser tanto a nível 
de prevenção quanto para quando o 
problema já houver se instalado:
As evidências atuais sugerem que 
os programas de prevenção especí-
ficos podem reduzir fatores de risco 
potenciais em adolescentes e uni-
versitárias [...]. Esforços para preve-
nir esses transtornos são essenciais, 
em função da sua alta prevalência 
em jovens e do consequente impacto 
na saúde, tanto física quanto psicos-
social, além dos elevados custos do 
tratamento (ÁVILA; NUNES, 2006, 
p.100-101).
Em relação aos tratamentos dis-
poníveis para a problemática dos 
transtornos alimentares vale a pena 
ressaltar que uma abordagem efi-
caz deve incluir a atenção de equipe 
multidisciplinar. Como nosso foco é a 
psicologia, iremos enfocar apenas a 
possibilidade de atuação desse pro-
fissional nos pacientes com esse tipo 
de transtorno, como mostra a citação 
a seguir:
Diversas terapias são utilizadas para 
tratar anorexia, bulimia e transtorno 
de compulsão alimentar. Entre elas, 
estão a alimentação forçada, a tera-
pia familiar, a terapia interpessoal, 
a terapia comportamental dialética, 
a hipnose e as abordagens psicodi-
nâmicas (WILSON; GRILO; VITOUSEK, 
2007). 
Especialistas concordam que o trata-
mento deve abordar o comportamento e 
as posturas que perpetuam a alimentação 
desregrada (STRAUB, 2014, p.208).
22 23
Galvão, Pinheiro e Nunes (2006) 
corroboram essa citação, ao afirma-
rem que:
Os transtornos alimentares (TA) são 
tidos como patologias difíceis de 
abordar devido a sua complexa etio-
logia. Seu aspecto multidimensional 
traduz a necessidade de integrar vá-
rias técnicas psicoterápicas, como a 
psicoeducacional, a cognitivo-com-
portamental e as psicodinâmicas, 
que podem ser aplicadas individu-
almente, em grupo ou com a família 
(p.137).
Segundo Straub (2014), o TCC é uma linha 
de grande aplicabilidade em pacientes bu-
límicos e compulsivos alimentares, já que 
visa aumentar a motivação para mudar; 
substituir dietas prejudiciais à saúde por 
padrões de alimentação adequados; re-
duz a preocupação do paciente com seu 
peso e previne recaídas do problema. 
Estudos mostram a eficácia da terapia 
cognitivo-comportamental em pacientes 
com transtornos alimentares, mas isso 
não afirma que outras linhas de psicote-
rapia não sejam válidas, pois cada pacien-
te é único. Observa-se que as estraté-
gias mais efetivas devem considerar uma 
compreensão mais ampla dos processos 
de mudança psicológica e outros fatores 
que possam estar associados às mudan-
ças sintomatológicas (GALVÃO; PINHEIRO; 
NUNES, 2006). Ou seja, a questão da mu-
dança de comportamento também se faz 
essencial nesses quadros.
Terapeutas psicodinâmicos têm re-
conhecido a importância de focalizar 
os aspectos da alimentação, peso e 
reeducação alimentar dos pacien-
tes. Da mesma forma, a abordagem 
cognitivo-comportamental tem le-
vado em conta a relação terapêuti-
ca e os transtornos na autoestima 
dos pacientes. Psicoterapeutas de 
diferentes escolas enfatizam que é 
importante o paciente reconhecer e 
expressar afetos e explorar padrões 
de interação familiar. Também reco-
nhecem a relevância dos aspectos 
do processo de desenvolvimento, 
como separação, autonomia, temo-
res sexuais e formação de identi-
dade (GALVÃO; PINHEIRO; NUNES, 
2006, p.139).
A terapia familiar apresenta resultados 
satisfatórios para pacientes anoréxicos, 
pois todos os membros da família apren-
dem formas mais saudáveis de interagir 
entre si e assim resolver seus conflitos. O 
papel dos pais pode ser decisivo para au-
xiliar na modificação do comportamento 
nocivo, principalmente no caso de filhos 
adolescentes anoréxicos, que costumam 
requerer maior monitoração (GALVÃO; PI-
NHEIRO; NUNES, 2006; STRAUB, 2014).
A atuação do psicólogo nos transtor-
nos alimentares pode ser a nível clínico ou 
hospitalar. Lembrando-se que nos caso de 
anorexia pode haver até mesmo risco de 
morte, a intervenção psicológica a nível 
hospitalar se faz muito necessária, porém, 
para um tratamento satisfatório, a conti-
nuidade do mesmo se faz imprescindível 
mesmo após a alta hospitalar. Fica regis-
trado que sem a atuação do psicólogo na 
equipe interdisciplinar que atenderá a es-
ses pacientes o prognóstico dos transtor-
nos alimentares pode não ser satisfató-
rio devido à necessidade de mudança de 
comportamentos extremamente nocivos 
24 25
para outros saudáveis.
d) Abuso de substâncias
A questão do abuso de substâncias é 
algo que merece ser discutido em nossa 
sociedade. Enquanto algumas substân-
cias, como o álcool, são bem vistas em reu-
niões sociais e até mesmo em ritos religio-
sos, outras, tais como as drogas ilícitas, 
medicamentos que causam dependência 
e tabaco não são bem vistos. De qualquer 
forma, ressalta-se que todas as substân-
cias são fonte de prazer para as pessoas 
que delas fazem uso, porém o abuso das 
mesmas pode ser extremamente nocivo à 
saúde.
O abuso de substâncias pode ser com-
preendido como o uso de qualquer subs-
tância em um nível que interfira negativa-
mente nos domínios biológico, psicológico 
ou social nos quais o indivíduo encontra-
-se inserido. Algumas dessas substâncias 
são denominadas legais – como os medi-
camentos – mas esses também podem ser 
consumidos de forma abusiva. “O uso de 
substâncias ilegais, álcool e tabaco causa 
mais morte, doença e incapacidades do 
que qualquer outro problema de saúde 
evitável” (ROBERT WOOD JOHNSON FUN-
DATION apud STRAUB, 2014, p.215).
Para darmos continuidade a esse racio-
cínio, algumas definiçõesprecisam ser re-
alizadas:
 Adicção: padrão de comportamen-
to caracterizado por dependência física 
e possivelmente psicológica, bem como 
pelo desenvolvimento de tolerância.
 Dependência: estado em que uso 
de uma substância é necessário para que 
uma pessoa funcione normalmente.
 Abstinência: sintomas físicos e 
psicológicos desagradáveis que ocorrem 
quando a pessoa para de usar determina-
da substância de forma abrupta.
 Uso de substâncias: ingestão de 
uma substância, independentemente da 
quantidade ou do efeito da ingestão.
 Substâncias psicoativas: substân-
cias que afetam o humor, o comportamen-
to e os processos de pensamento, alte-
rando o funcionamento dos neurônios no 
cérebro; incluem estimulantes, tranqui-
lizantes e alucinógenos (STRAUB, 2014, 
p.218).
A partir dessas definições, afirmamos 
que todas as pessoas, em determinado 
momento da vida, podem vir a fazer uso 
de uma substância, porém nem todas irão 
manifestar comportamentos adictivos ou 
se tornar dependentes. 
O abuso de drogas tem aspectos de 
reforços negativos e positivos. Os 
adictos habitualmente abusam de 
drogas para escapar aos aspectos 
psicológicos e físicos da abstinência, 
desse modo reforçando negativa-
mente o uso de drogas. As pessoas 
também tomam drogas para esque-
cer seus problemas ou lidar com o 
estresse, e isso também envolve re-
forço negativo. [...] O uso de drogas 
também é positivamente reforça-
do. As pessoas usam drogas para se 
sentir bem. O potencial de adicção de 
uma droga específica é determinado 
pela velocidade de seus efeitos re-
compensadores (GAZZANINGA; HEA-
THERTON, 2005, p.204-205).
Diferentes modelos explicam como 
as pessoas se tornam dependentes, 
24 25
aqui iremos mencionar apenas os 
modelos de aprendizagem social. Se-
gundo esse modelo:
Embora as substâncias psicoativas 
de fato produzam alterações neuro-
químicas, e a pesquisa mostre os fa-
tores de risco hereditários na depen-
dência, existem boas razões para 
considerar a dependência um com-
portamento moldado pela apren-
dizagem, assim como por fatores 
sociais e cognitivos (STRAUB, 2014, 
p.223).
Segundo o mesmo autor, os efeitos 
fisiológicos prazerosos de determinada 
substância no organismo, assim como ou-
tros aspectos gratificantes da situação 
social envolvidos no uso dessa substân-
cia, aparecem como estímulo a este com-
portamento.
Considerar-se um usuário pesado de 
álcool ou tabaco, por exemplo, pode 
levar à adoção de um certo estilo de 
vida que torna a abstinência uma ta-
refa monumental, que envolve um 
novo sentido de self. Indivíduos que 
bebem cujas redes sociais giram in-
teiramente em torno do bar do bairro 
têm especial dificuldade para parar 
de beber (STRAUB, 2014, p.233).
Entretanto, o oposto também é verda-
deiro. Ao se pensar em estratégias de pre-
venção ao abuso de substância é possível 
concluir que instituições como família, es-
cola e Igreja podem ser fatores protetores 
ao abuso de substâncias, principalmente 
entre os adolescentes (STRAUB, 2014).
A questão da dependência química é 
bastante complexa e não será pormeno-
rizada aqui, pretendemos ressaltar que é 
importante que a busca de ajuda parta do 
próprio dependente, o qual deve-se cons-
cientizar de seu comportamento de risco. 
Faz-se necessária a atuação de uma equi-
pe multidisciplinar em saúde, dentre eles 
o psicólogo, visando, em linhas gerais, 
modificação de comportamento. 
Decidir abrir mão de uma substância – 
seja álcool, tabaco, drogas ilícitas ou fár-
macos – implica em uma série de modifi-
cações, já que muitas situações envolvem 
a substância em questão. Assim, a pes-
soa normalmente precisa modificar seu 
círculo social (composto por pessoas que 
também compactuam do seu vício), parar 
de frequentar certos locais (onde ocorria 
o uso e a compra das substâncias), den-
tre outras atitudes que implicam numa 
mudança radical de comportamento. Em 
suma, a pessoa precisará abrir mão de 
uma substância que lhe proporcionava 
uma sensação extremamente prazerosa, 
de situações e pessoas também de seu 
agrado, em busca de um novo estilo de 
vida, mais saudável e regrado. O papel da 
psicologia encontra espaço nesse contex-
to.
O psicólogo pode atuar em contexto clí-
nico (consultório e ambulatório), em hos-
pitais gerais. Com a reforma psiquiátrica e 
toda a mudança destinada ao atendimen-
to aos portadores de transtornos mentais 
(dentre eles incluem-se os dependen-
tes químicos), os hospitais psiquiátricos 
fecharam suas portas e surgiram novas 
alternativas para um tratamento mais 
humanizado a esses pacientes. Dessa for-
ma, o psicólogo também encontra espa-
ço nas residências terapêuticas, centros 
de atenção psicossocial – álcool e drogas 
(CAPS-AD) e clínicas destinadas ao trata-
26 27
mento específico de pessoas dependen-
tes de substâncias.
Nesses contextos diversificados, o tra-
tamento pode ser individual, em grupo e 
extensivo aos familiares. Merecem desta-
que os grupos de ajuda mútua, como AA 
(Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos 
Anônimos), os quais funcionam em diver-
sas comunidades e oferecem resultados 
satisfatórios.
Os grupos de autoajuda como o AA, 
normalmente envolvem discussões 
em grupo sobre experiências dos 
membros na recuperação do abuso 
do álcool. Os membros se benefi-
ciam conectando-se com uma nova 
rede de pessoas que não bebem e 
compartilhando seus temores e pre-
ocupações com a recaída (STRAUB, 
2014, p.235).
Definimos anteriormente como deter-
minados comportamentos adotados pelo 
indivíduo ao longo do seu curso de vida po-
dem ser preditores tanto da saúde quanto 
da doença. Também buscamos compreen-
der como o psicólogo pode ser importan-
te frente os pacientes que apresentam 
esses comportamentos insalubres, já que 
a mudança de comportamento se faz ne-
cessária, porém pode ser bastante difícil 
para o paciente. Tentaremos agora enten-
der como se dá a busca do paciente pelo 
tratamento.
2.2 Procurando tratamento
Recapitulando o que foi falado no início 
desta apostila sobre os níveis de preven-
ção, concluímos que a pessoa que busca 
ajuda profissional já apresenta alguma 
condição instalada. 
Mudamos nosso foco da prevenção 
primária para a prevenção secun-
dária, ou seja, de ações delineadas 
para prevenir doenças ou ferimentos 
para ações que visam a identificar e 
tratar a doença no começo do seu 
curso (STRAUB, 2014, p.341).
A busca de ajuda é uma etapa muito 
importante nas situações que envolvem 
o binômio saúde-doença. Sabe-se que em 
determinadas situações as chances de 
sucesso de determinado tratamento se 
fazem maiores quanto mais cedo for seu 
diagnóstico.
Partimos do pressuposto de que, em 
muitas situações, o próprio paciente nota 
que há algo de errado com ele (do ponto 
de vista biopsicossocial) e, a partir dessa 
constatação, ele se dirige a um profissio-
nal de saúde em busca de verificar o que 
realmente está ocorrendo para, a partir 
daí, iniciar o tratamento adequado. Entre-
tanto, nem sempre é isso que acontece, 
algumas pessoas, por determinados mo-
tivos, não buscam socorro logo. Quando 
falamos de pedir ajuda profissional, nor-
malmente pensamos no médico, porém, 
dependendo do problema, o paciente 
pode buscar outros profissionais da equi-
pe de saúde, inclusive o psicólogo. Na 
saúde pública isso não acontece devido 
à dinâmica do SUS, nem no contexto dos 
planos de saúde, já que em ambos os ca-
sos se faz necessário o encaminhamento 
do médico.
Em relação ao psicólogo, como foi fala-
do na primeira apostila do curso, em con-
textos ambulatoriais (consultório, clínica 
e ambulatório) é o paciente quem vai até 
o profissional em busca de ajuda, porém, 
em contexto hospitalar, o movimento é 
26 27
oposto, como o paciente se encontra im-
possibilitado, na maioria das vezes,é o 
psicólogo que vai até ele a partir de algum 
encaminhamento de outro profissional 
que compreende que há uma queixa psi-
cológica.
A comunicação profissional-pacien-
te é um ponto chave num momento 
inicial, como expresso na citação a 
seguir:
Os fatores sociais e psicológicos têm 
impactos direto e indireto nessas 
relações. Em primeiro lugar, esses 
fatores influenciam muito quando e 
como as pessoas começam a aceitar 
que estão doentes. Em segundo, a 
confiança das pessoas nos profissio-
nais da saúde influencia sua satis-
fação com o tratamento e o quanto 
respondem a ele. Em terceiro, o nível 
e a qualidade da comunicação entre 
pacientes e profissionais da saú-
de têm uma influência indireta em 
quase todos os aspectos do atendi-
mento de saúde, incluindo como os 
pacientes decidem quando precisam 
de atenção médica, por que, às ve-
zes, as pessoas ignoram sintomas e 
por que elas, às vezes, seguem com 
cuidado as instruções do profissio-
nal, mas não em outras ocasiões 
(STRAUB, 2014, p.341).
Nem todas as pessoas buscam 
atendimento de saúde quando apre-
sentam algum tipo de sintoma e dis-
so pode-se inferir que uma série de 
razões justifica tal atitude por parte 
do paciente, mesmo as mais esclare-
cidas. A citação abaixo elucida alguns 
dos motivos que levam as pessoas a 
não buscarem auxílio profissional 
quando sentem algo anormal:
Podemos evitar procurar um médico 
por acreditarmos que os sintomas 
não sejam graves e tudo o que pre-
cisamos seja 1 ou 2 dias de folga, tal-
vez uma medicação simples ou cui-
dar melhor de nós mesmos. Podemos 
evitar o uso dos serviços de saúde 
por não possuirmos seguro de saúde 
ou temermos não poder pagar pelo 
atendimento. Podemos ainda ter 
medo de que o sintoma seja sinal de 
doença grave e, assim, a inatividade 
resulta da negação. Finalmente, po-
demos evitar o cuidado médico por 
suspeitarmos do sistema de saúde 
e duvidarmos de sua capacidade de 
tratar nossa condição de forma efi-
caz (STRAUB, 2014, p.345).
É importante para o psicólogo compre-
ender os motivos que levam uma pessoa a 
não procurar os serviços de saúde quan-
do sente algo anormal, já que, em meio a 
tantas campanhas de educação em saú-
de, muitas pessoas que, por algum desses 
motivos, não pedem ajuda acabam sendo 
taxadas de várias coisas e culpabilizadas 
por seu estado. Não é papel do psicólogo 
julgar as escolhas do paciente, mas com-
preender que, em muitas situações, há 
motivos fortes que o levam a não buscar 
um tratamento. A negação é um desses 
motivos: de forma consciente ou incons-
ciente, mesmo em meio a sinais e sinto-
mas, o paciente nega que há algo ocor-
rendo com ele. Além da negação, outras 
atitudes do paciente diante de uma doen-
ça grave serão discutidas num momento 
posterior desse curso.
Alguns fatores influenciam na busca de 
28 29
tratamento, tais como idade, gênero, sta-
tus socioeconômico e condições culturais. 
Falaremos brevemente sobre apenas so-
bre os dois primeiros.
Dentre as faixas etárias, é mais co-
mum a ida aos serviços de saúde na 
infância e na terceira idade (STRAUB, 
2014). Em relação à questão da ida-
de, segundo o mesmo autor:
Na faixa etária avançada, os este-
reótipos de idade, que são comuns 
entre os profissionais da saúde e 
mesmo em alguns idosos, podem re-
presentar obstáculos importantes 
para o alcance e a manutenção da 
saúde. Entre esses obstáculos, es-
tão as visões de que a velhice é um 
período de declínio inevitável, que os 
idosos geralmente não conseguem 
ou não estão dispostos a mudar de 
estilo de vida e comportamento, que 
sua adesão a regimes de tratamento 
e intervenções preventivas é baixa 
e que os benefícios ganhos com in-
tervenções voltadas para o estilo de 
vida e o comportamento nesse está-
gio da vida são mínimos (p.346-347).
Como foi possível observar na citação 
anterior, esse estereótipo de velhice en-
quanto sinônimo de doença e dependên-
cia influencia as atitudes dos profissionais 
de saúde muito negativamente. Ou seja, 
observamos que em muitas situações não 
adianta o idoso procurar os serviços de 
saúde (coisa que ele faz muito mais que os 
mais jovens), pois ele costuma ser aten-
dido por profissionais que não acreditam 
que, mesmo em idade avançada, é impor-
tante prevenir doenças e investir na mu-
dança de comportamentos de vida saudá-
veis em busca de melhor qualidade de vida 
e, por que não falar, em mais anos de vida.
Já ao se analisar a questão de gênero, 
a partir da adolescência é mais comum a 
busca de serviços de saúde pelas mulhe-
res, em detrimento dos homens (COSTA-
-JÚNIOR; MAIA, 2010, STRAUB, 2014). No 
Brasil, as campanhas de prevenção à saú-
de da mulher são mais antigas e mais nu-
merosas se comparadas às campanhas de 
prevenção à saúde do homem. 
Em relação à saúde da mulher, cam-
panhas como as de prevenção do câncer 
feminino (mama, colo do útero, ovários), 
de doenças sexualmente transmissí-
veis, além de campanhas que incentivam 
o pré-natal e parto normal, redução da 
mortalidade materna, enfrentamento da 
violência contra a mulher, planejamento 
familiar, assistência ao climatério, assis-
tência às mulheres negras e população 
GLBTT podem ser citadas como de grande 
relevância (SUS, 2013). 
As imagens a seguir ilustram essas 
campanhas, as quais são normalmente 
conduzidas por profissionais da medicina 
e da enfermagem, mas também podem 
contar com a atenção dos demais profis-
sionais da equipe de saúde, dentre eles o 
psicólogo.
28 29
Figura 2: Prevenção ao câncer de mama e de colo do útero (nível municipal)
Fonte: Dr Roger Augusto, s.d.
No que diz respeito à saúde do homem: 
A COORDENAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE DOS HOMENS (CNSH/DAET/SAS/MS) é res-
ponsável pela implementação da Política Nacional de Atenção Integral da Saúde do 
Homem/PNAISH, que foi instituída pela Portaria nº 1.944/GM, do Ministério da Saúde, 
de 27 de agosto de 2009.
Sua atuação é desenvolvida a partir de cinco (05) eixos temáticos: Acesso e Acolhimen-
to, Saúde Sexual e Reprodutiva, Paternidade e Cuidado, Doenças prevalentes na popula-
ção masculina e Prevenção de Violências e Acidentes (SUS, s.d.).
A figura a seguir, da política de saúde do homem, mostra a importância do homem se 
conscientizar sobre a prevenção e a promoção da saúde:
30 31
Figura 3: Política de atenção integral à Saúde do homem
Fonte: UFJF, 2014
Conforme já apresentamos num 
outro momento, na idade adulta é co-
mum observarmos diferenças entre 
os padrões de busca de atendimen-
to à saúde entre homens e mulheres. 
Costa-Júnior e Maia (2010) realiza-
ram uma pesquisa com profissionais 
de saúde e os relatos apresentados 
a seguir corroboram a afirmação de 
Straub (2014) sobre a questão da di-
ferença entre os gêneros:
[...] Homem é durão, homem não 
fica doente. “Magina! Você vai no 
médico pra quê? Tá tudo bem, você 
tá forte aí” (Enfermeira, 26a).
[...] culturalmente, foi desenvol-
vida essa preocupação maior com a 
mulher. Até porque é maior a quan-
tidade de doença, ela acabou sendo 
mais cuidadosa (Enfermeiro, 30a) 
(COSTA-JÚNIOR; MAIA, 2010, p.22).
Em síntese, é errôneo afirmar que as 
mulheres adoecem mais que os homens, 
na verdade elas têm maior probabilidade 
de perceber seus sintomas e relatá-los 
aos profissionais capacitados, se compa-
radas aos homens (STRAUB, 2014).
Ao contrário das pessoas que evitam 
procurar os serviços de saúde devido a 
uma série de motivos, existem outras 
que costumam procurar médicos exces-
sivamente, mesmo quando não há uma 
necessidade real. São as pessoas denomi-
nadas hipocondríacas. A hipocondria pode 
ser compreendida como uma condição em 
que a pessoa experimenta uma ansieda-
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de anormal em relação à sua própria saú-
de, ou seja, há uma falsa crença de que se 
está doente, quando, na verdade,

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