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AT 1 A PSICOLOGIA NOS CENÁRIOS DE ATENDIMENTO À SAÚDE 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 - Introdução 6 UNIDADE 1 - Promoção da saúde, prevenção e reabilitação 10 UNIDADE 2 - Comportamento e saúde 10 2.1Comportamento saudável X comportamento de risco 26 2.2 Procurando tratamento 32 2.3 Adesão ao tratamento 34 UNIDADE 3 - Equipe interdisciplinar 37 UNIDADE 4 - Psicólogo clínico x psicólogo hospitalar x psicólogo da saúde 44 UNIDADE 5 - O Psicólogo na saúde pública 45 5.1 Histórico 49 5.2 Psicólogo no SUS 56 REFERÊNCIAS 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Enquanto orientadores sempre reco- mendamos a pesquisa de materiais re- centes, porém, ao se utilizar obras clássi- cas (como no caso deste material em que grande parte do conteúdo foi embasado em obras de teóricos que abordam sobre diferentes autores) isso não se faz possí- vel – ainda mais em caso de livros que já possuem edições mais recentes, porém lançamos mão de cópias mais antigas. Fora isso, é sempre importante manter- mos o conhecimento científico atualizado! Também já justificamos o uso de algu- mas citações de citações (apuds), o que não é recomendado do ponto de vista da metodologia da pesquisa, porém, se fez necessário em algumas situações devido à dificuldade em se localizar algumas obras originais. Sugerimos que, na introdução, anotem as questões que mais desperta- ram sua curiosidade ou dúvidas e após o estudo da apostila revejam se as mesmas ficaram realmente claras. Intitulada “A psicologia nos cenários de atendimento à saúde”, esta apostila visa, principalmente, abordar os diversos con- textos nos quais o profissional da psico- logia encontra-se inserido. Entretanto, esse material também discorre de outros assuntos da práxis do psicólogo hospita- lar e da saúde, mas que não falam dire- tamente dos cenários de atendimento à saúde. Entretanto, sabemos que a temá- tica da psicologia hospitalar e da saúde é muito ampla e, de maneira geral, as temá- ticas aqui abordadas – como prevenção e promoção à saúde, equipe interdisciplinar e comportamento e saúde – dizem respei- to aos cenários em que o psicólogo estará inserido e exercendo sua função com éti- ca e profissionalismo, sempre visando o bem-estar da população que se encontra sob os seus cuidados. Desde o início do curso falamos em prevenção, promoção da saúde e reabi- litação e, nesse momento, esse assunto será aprofundado. Autores como Straub (2014), reforçam a importância não só do psicólogo, mas de toda a equipe interdis- ciplinar, trabalhar visando à promoção da saúde e a prevenção de doenças. Políticas públicas do Ministério da Saúde – assunto que também estará presente neste ma- terial – também discorrem sobre a impor- tância de se adotar este ponto de vista, o qual é bastante divergente do modelo biomédico vigente, que preconiza o binô- mio saúde e doença. Como essa concepção impera há mui- tos anos a ideia de buscar os serviços de saúde (em especial o médico) quando se adoece, já está impregnada em nossa mentalidade. O psicólogo, especialmen- te os graduados há mais tempo, também possuem essa visão e não devem ser criti- cado por isso, visto que até recentemen- te os cursos de graduação traziam para o acadêmico apenas essa visão: de que ele é um profissional que será habilitado para curar doenças. Isso não é de todo errado, como já foi mostrado nos materiais ante- riores, o psicólogo realmente atua em ca- sos onde a doença já se faz instalada, po- rém, é importante enxergarmos que nós – assim como a equipe interdisciplinar em saúde – temos um papel de grande desta- que antes que o problema se instale. Nesse sentido, observaremos também 4 5 um grande diferencial que é reservado ao profissional da psicologia: a intervenção em comportamentos que podem – por si só, ou associados a outros fatores (como a genética) – ser preditores de saúde ou de doença. Atualmente, somos bombardeados com informações a respeito da importân- cia de se adotar um estilo de vida saudá- vel, porém, mesmo meio a tantas informa- ções (científicas ou de senso comum), por que muitas pessoas não adotam padrões de comportamentos mais saudáveis? Esses são alguns questionamentos que serão aprofundados neste material. A este respeito, fica a seguinte interro- gação: como os pesquisadores chegam a conclusões relevantes (e científicas) so- bre de que forma determinados compor- tamentos relacionam-se diretamente à saúde ou ao aparecimento de doenças? Retomando a um assunto abordado na apostila anterior – os métodos de pesqui- sa em psicologia da saúde – fica possível compreender que os resultados dos estu- dos são alcançados após estudos sistemá- ticos, de diferentes métodos: experimen- tais, transversais, longitudinais, dentre outros. Por isso, se faz muito importante conhecer como os estudos são realiza- dos, já que nessa área há muito “achismo”, muito senso comum, e para o profissional da saúde o que deve importar são apenas as informações científicas, devidamente comprovadas e divulgadas. A psicologia despontou no cenário mundial como uma área elitista: os psicó- logos eram visto como pessoas de classes favorecidas, que trabalhavam exclusi- vamente em consultórios particulares e, além de tudo, ainda carregavam o estig- ma de serem pessoas que “liam a mente” dos outros. A clientela não podia ser dife- rente: pessoas abastadas, que podiam “se dar ao luxo de sofrer de problemas psico- lógicos, coisa de rico”. Nesse contexto a psicologia foi se consolidando como uma prática exercida por alguns e cujos bene- fícios também eram estendidos somente àqueles que poderiam pagar por ela. Em termos simbólicos, fica compreendido que o paciente paga um preço para se desven- cilhar de seu sintoma. Além dessa visão elitista, outros estigmas eram também associados à psicologia, tais como “profis- sional que atende doidos”, “curso que não dá futuro”, dentre outras visões que aca- bavam por afastar tanto futuros profis- sionais quanto os pacientes da psicologia. Frente a isso tudo, uma corrente diver- gente começou a surgir. A psicologia vem passando por uma mudança de paradigma, a qual reflete o contexto sócio-histórico e cultural pelo qual o Brasil vem passando, principalmente nas três últimas décadas. Com a criação do SUS – Sistema Único de Saúde – e a compreensão das doenças a partir de uma perspectiva biopsicossocial a psicologia desponta, juntamente com várias outras profissões que compõem a equipe multiprofissional em saúde, como uma possibilidade para promover a saúde mental de todos aqueles que sofrem, in- clusive os que não podem pagar pelos tra- tamentos tradicionais nos consultórios. Mas quem irá pagar para ficar livre do seu sintoma? Nos ambulatórios assistencialis- tas mais clássicos (como as clínicas-escola e os atendimentos psicológicos que costu- mam acontecer em ambulatórios de igre- jas e outros espaços voltados à população carente) paga-se um preço simbólico pelo tratamento, mas no SUS não pode haver esse pagamento em espécie, os profissio- 4 5 nais, os espaços e todo o tratamento em si é custeado pelos impostos arrecadados de todos os cidadãos brasileiros, os quais têm o direito de usufruir da assistência. Observa-se que com essa mudança, o psicólogo encontra mais campo de traba- lho. Muitos almejam ser aprovados num concurso público, porém, para que a prá- tica do profissional da psicologia seja real- mente eficaz, ela precisa acompanhar as mudanças que o contexto de saúde bra- sileiro vem sofrendo ao longo dos anos. A mudança precisa começar na graduação, onde se modifica o foco de formar apenas psicólogos clínicos para atuar em consul- tórios particulares. Esses profissionais são importantes e têm seu espaço de atu- ação garantido(ainda mais na última dé- cada, com a inclusão da psicoterapia no rol de procedimentos disponibilizados pela saúde suplementar privada), entretanto, se faz necessário fornecer subsídios para a formação de profissionais que atuem em equipe interdisciplinar, que voltem seu foco para grupos (ao invés de indiví- duos), para a prevenção (ao invés de prio- rizar apenas o tratamento de pessoas que já apresentam sintomas), que conheçam o SUS e, mais do que isso, que se rompam paradigmas e estereótipos relacionados à saúde pública, ao cliente de baixa renda e ao contexto no qual ele está inserido – de- finitivamente determinante eu seu pro- cesso de saúde e de adoecimento. Traba- lhar em equipe é um desafio, o qual deve ser encarado diariamente. Também serão apresentadas as dife- renças e semelhanças na práxis do psi- cólogo hospitalar, psicólogo clínico e psi- cólogo da saúde – denominação que não é utilizada no Brasil, mas cujos princípios são diretamente relacionados a tudo o que se espera do profissional que atue na área da saúde, seja em nível privado ou público. Os principais autores utilizados neste material são Straub (2014), o Portal de Atenção Básica do Ministério da Saúde (DAB), Zurba, 2011, Lacerda Jr e Guzzo (2005), página do Conselho Federal de Psicologia (CFP), dentre outros. 6 76 UNIDADE 1 - Promoção da saúde, pre- venção e reabilitação Desde o início desse curso, temos re- forçado a importância do psicólogo traba- lhar privilegiando a prevenção em detri- mento da reabilitação; voltar sua atenção para os grupos em detrimento de voltar o foco apenas para o indivíduo e de sempre buscar a promoção da saúde. Mas o que é prevenção? Se eu pensar em só prevenir doenças, o que faremos nos casos onde o mal já se instalou? Como é possível pro- mover uma boa saúde? Pretendemos responder a essas e a ou- tras questões a seguir. a) Promoção da saúde Às vezes, somos nossos piores inimi- gos na batalha pela saúde. Na ado- lescência e no começo da idade adul- ta, quando estamos desenvolvendo hábitos relacionados com a saúde, normalmente somos bastante sau- dáveis. Fumar cigarros, comer muita gordura e não fazer exercícios nessa época são coisas que não parecem ter efeito algum sobre a saúde. Des- se modo, os jovens têm poucos incen- tivos imediatos para praticar bons comportamentos e corrigir mais há- bitos relacionados à saúde (STRAUB, 2014, p.153). Neste material, iremos falar bastan- te sobre a adoção de hábitos saudáveis – como uma alimentação balanceada e a presença de atividades físicas na nossa rotina diária – como comportamentos im- portantes para uma boa saúde. Isso é uma forma de se promover saúde. A questão da promoção da saúde é bastante com- plexa, não se resume à adoção de um es- tilo de vida saudável e compreender isso é essencial para o trabalho do psicólogo. A seguir tentaremos compreender de for- ma mais detalhada o que é a promoção da saúde e o que podemos fazer para promo- ver a nossa saúde e a de nossos pacientes. Segundo Buss (2000), verificam-se progressos mensuráveis nas condições de vida e saúde das populações, na maio- ria dos países, nos últimos séculos. Essas melhorias se dão, principalmente, devido aos avanços políticos, sociais, econômi- cos e ambientais na saúde pública e na medicina. Entretanto, as desigualdades também continuam marcantes em muitos países. Observa-se, em algumas regiões, a permanência de problemas já resolvi- dos em outras, assim como o surgimento de alguns novos e o crescimento de ou- tros já existentes. Para solucionar tais problemas (como, por exemplo, a AIDS, as doenças crônicas não transmissíveis, ou o estresse) têm sido investidos muitos re- cursos em assistência médica curativa e individual, porém, sabe-se que esse não é o caminho mais eficaz. A solução para esses problemas consiste em medidas preventivas e a promoção da saúde, além da melhoria das condições de vida da po- pulação em geral, ou seja, retirar o foco do individual e voltar para o grupo, prevenir ao invés de remediar. Numa tentativa de discutir o tema, Buss (2000) abordou, em seu artigo de revisão, vários autores e documentos que trataram do assunto nas últimas décadas. Assim, para fins didáticos, iremos compreender a promoção da 6 77 saúde como: [...] uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações hu- manas e seus entornos neste final de século. Partindo de uma concep- ção ampla do processo saúde-doen- ça e de seus determinantes, propõe a articulação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de recur- sos institucionais e comunitários, públicos e privados, para seu enfren- tamento e resolução (p.165). A partir dessa definição, acrescenta- mos que o conceito de promoção de saúde reforça também a importância do prota- gonismo do indivíduo como agente ativo de seu estado de saúde (ao contrário de ocupar uma posição passiva, onde apenas a equipe de saúde tomava as decisões e ações e o paciente, passivo, acatava as mesmas) (BUSS, 2000). Em relação ao controle do indiví- duo, essa outra citação traz mais de- talhes acerca de uma definição sobre a promoção da saúde, a qual pode ser de interesse para o psicólogo por abordar aspectos passíveis de mu- danças comportamentais, tais como estilo de vida e dieta, que implicam em saúde: [...] os programas ou atividades de promoção da saúde tendem a con- centrar-se em componentes educa- tivos, primariamente relacionados com riscos comportamentais pas- síveis de mudanças, que estariam, pelo menos em parte, sob o controle dos próprios indivíduos. Por exem- plo, o hábito de fumar, a dieta, as ati- vidades físicas, a direção perigosa no trânsito (BUSS, 2000, p.166). Para se promover a saúde, deve-se pensar em estratégias mais amplas, uti- lizando, para isso, dos canais de comuni- cação disponíveis. Antes disso, os gesto- res de saúde, juntamente com os setores políticos competentes, precisam elaborar documentos e legislações que têm como objetivo geral a promoção da saúde da população: “Os psicólogos também pro- movem a saúde incentivando a ação legis- lativa e realizando campanhas educativas na mídia. Esses esforços focalizam muitos níveis, do individual à comunidade e à so- ciedade como um todo” (STRAUB, 2014, p.153). b) Prevenção primária, secundária e terciária Além da promoção da saúde, a preven- ção é outra estratégia que se faz muito importante. Assim como o que foi aborda- do na promoção da saúde, o foco é o gru- po, não o indivíduo. Importante destacar que, segundo Straub (2014), é comum relacionar o ter- mo “prevenção” apenas em relação aos esforços para modificar os riscos aos quais uma pessoa está exposta antes que uma doença se manifeste. Essa realmente é uma estratégia de prevenção, a que ocor- re antes do problema se instalar, porém existem estratégias de prevenção que acontecem durante o curso da doença e mesmo depois que a mesma já aconteceu. A partir dos estudos de alguns auto- res, como Goldston (1980 apud LACERDA JR; GUZZO, 2005) e Leavell e Clark (1976 apud BUSS, 2000), as estratégias de pre- venção podem ser divididas em três ní- veis, os quais serão elucidados a seguir. 8 9 Atualmente, o termo prevenção pri- mária (PP) encontra-se em voga e é compreendido por: O conceito PP é proveniente da saú- de pública e refere-se à ação que busca evitar a incidência de doenças. As ações neste campo sempre têm como alvo grupos e não indivíduos (LACERDA JR; GUZZO, 2005, p.241). A prevenção primária e se caracteriza por ações dirigidas a grupos amplos, an- tes do estabelecimento de uma doença, ou seja, busca-se atingir uma saúde geral melhor pela proteção do homem contra os agentes nocivos do meio.A educação em saúde aparece como um grande dife- rencial (GOLDSTON, 1980 apud LACERDA JR; GUZZO, 2005; LEAVELL; CLARK,1976 apud BUSS, 2000). Prevenção primária refere-se a ações que promovem a saúde, que são realizadas para prevenir que uma doença ou lesão ocorra. Exem- plos de prevenção primária são usar cinto de segurança, seguir uma boa nutrição, fazer exercícios, não fumar, manter padrões saudáveis de sono e fazer exames de saúde regularmen- te (STRAUB, 2014, p.153). Entendemos que o psicólogo tem um grande diferencial na prevenção primária como agente da educação em saúde, especialmente por poder atuar com o ser humano em diferen- tes estágios de seu desenvolvimento. Em determinadas situações, o psicó- logo pode realizar estratégias de pre- venção primária indireta, ou seja, o psicólogo irá intervir em profissionais que irão lidar diretamente com os pa- cientes, prática essa denominada in- terconsulta: Esses profissionais incentivam mé- dicos e outros trabalhadores na área da saúde a aconselharem seus pa- cientes. Por mais que essa atenção personalizada possa parecer efeti- va, muitos médicos têm dificuldade em usar medidas preventivas. Uma razão para essa dificuldade é que as faculdades de medicina tradicio- nalmente colocam pouca ênfase em medidas preventivas. Outra é a falta de tempo, devido ao número de pes- soas que os médicos precisam aten- der por dia (STRAUB, 2014, p.153). Já o segundo nível, denominado pre- venção secundária, ocorre após a identifi- cação de fatores de risco. Objetiva evitar que o problema se torne crônico através do diagnóstico e intervenção precoces (LACERDA JR; GUZZO, 2005). Pode-se citar como exemplo um filho de pai diabético, sem nenhuma doença diagnosticada no momento, que procura a atenção de uma equipe multidisciplinar em saúde em bus- ca de mudança de estilo de vida visando à prevenção da doença no futuro devido ao seu histórico familiar. Podemos ver na citação a seguir um exemplo da atuação do psicólogo num nível de prevenção secundária, ou seja, em indivíduos cujos fatores de risco para doenças cardiovascula- res identificados. Vê-se que a situação é complexa, daí a importância da atu- ação da equipe multidisciplinar, na qual o psicólogo encontra-se inserido: Prevenção secundária envolve ações para identificar e tratar uma doença, no começo de seu curso. No caso de uma pessoa com pressão 8 9 alta, por exemplo, a prevenção se- cundária envolveria exames regula- res para monitorar sintomas, o uso de medicamentos para a pressão e alterações na dieta (STRAUB, 2014, p.153). Finalmente, o último nível, denominado prevenção terciária, é o mais específico de todos os níveis. Seu foco é a reabilitação ou diminuir os efeitos de uma doença já instalada (LACERDA JR; GUZZO, 2005). Prevenção terciária envolve ações para conter ou retardar danos uma vez que a doença já tenha avança- do além de seus estágios iniciais. Um exemplo de prevenção terciária é o uso de radioterapia ou quimioterapia para destruir um tumor. A prevenção terciária também busca reabilitar as pessoas ao maior nível possível (STRAUB, 2014, p.153). Observa-se que, mesmo como a ten- dência atual é priorizar a prevenção primá- ria e a promoção à saúde, nós, profissio- nais, acabamos ainda encontrando mais frentes de trabalho nos setores voltados à prevenção secundária ou terciária. Se- gundo Straub (2014), a prevenção terciá- ria é menos efetiva em termos de custos e menos benéfica que os outros tipos de prevenção, porém esta é a forma mais comum de cuidados em saúde. Essa es- tratégia de cuidado é mais fácil de ser ins- talada porque os grupos-alvo adequados (pessoas com doenças e/ou lesões) são identificados com facilidade. Os pacientes em tratamento nesse nível terciário cos- tumam ter maior motivação para a adesão ao tratamento e a adoção de outros com- portamentos relacionados à saúde. Em síntese, sobre os programas de prevenção podemos observar que: Os programas de prevenção são divididos em universais e específi- cos. Os universais referem-se aos programas direcionados à população em geral e têm como objetivo reduzir a incidência da doença, por elimina- rem ou reduzirem fatores de risco que são prevalentes na população. Os programas específicos têm como foco reduzir fatores de risco em ado- lescentes e adultos jovens que ainda não desenvolveram a doença, mas têm risco aumentado de se tornar casos clínicos ou subclínicos (ÁVILA; NUNES, 2006, p.100). Como os conceitos de prevenção e pro- moção da saúde costumam ser confun- didos, finalizamos essa seção com uma síntese sucinta que esclarece possíveis dúvidas. Segundo Ronzani e Rodrigues (2006), a prevenção é compreendida como uma tentativa de se evitar doenças, enquanto que a promoção da saúde con- siste na melhoria da qualidade de vida das pessoas avaliada por vários aspectos. 10 11 UNIDADE 2 - Comportamento e saúde 10 2.1Comportamento saudá- vel X comportamento de risco Sabemos como os conceitos de saúde e doença foram sofrendo variações no de- correr do percurso histórico. Inicialmente atribuídas a possessões demoníacas, as doenças passaram a ser compreendidas como desequilíbrio entre os humores (lí- quidos) corporais, atribuíram algumas delas a vírus e bactérias, passaram a en- fatizar a importância dos aspectos emo- cionais tanto na etiologia de doenças quanto para uma boa saúde. Até 1947, saúde estava compreendida como a ausência de doenças, ou seja, re- afirmavam-se a visão do modelo biomédi- co, reforçando a primazia da ausência de doenças no corpo. Essa visão também foi modificando e dentre várias definições de saúde merece destaque o conceito apre- goado pela OMS, o qual é questionado por alguns autores, mas que reforça a impor- tância de uma abordagem multidiscipli- nar – o que sempre pretendemos reforçar neste curso. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza saúde como o estado de mais completo bem-estar físico, mental e so- cial e espiritual, e não apenas a ausência de enfermidade. Esta definição marca um avanço na área da saúde, já que englo- ba aspectos físicos, psíquicos e sociais. A partir daí passa-se a pensar não apenas na cura de patologias, mas nas práticas de prevenção e promoção da saúde (priori- dade da Saúde, em especial, da Saúde Pú- blica na atualidade). Nota-se também um viés biopsicossocial, o qual temos reforça- do intensamente ao longo do curso. Nessa perspectiva, fica evidente que o estado de ser saudável não é algo estático; pelo contrário, é necessário adquiri-lo e reconstruí-lo de forma individualizada e constantemente ao longo de toda a vida, oferecendo indícios de que a saúde é também domínio educacional e, por sua vez, deva ser tratada não apenas com base em referências de natureza biológica e higienista, mas, sobretu- do num contexto didático-pedagógi- co (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 11). Observa-se, na citação anterior, que os autores não fazem menção à ideia de do- ença, rompendo definitivamente a ideia da dicotomia saúde – doença do conceito de saúde. Para se promover a saúde, o in- divíduo precisa ser protagonista, diferen- te de ser passivo em relação à equipe de saúde. Como consequência dessa definição, tem-se a necessidade do cliente ser abor- dado por uma equipe multidisciplinar que dê atenção para o mesmo a partir de um pressuposto biopsicossocial. Outra definição, mais recente, aborda com mais detalhes o conceito de saúde, também de maneira holís- tica. Define a saúde coo: [...] resultante das condições de ali- mentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberda- 10 1111 de, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. É assim, an-tes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar desigualdades nos níveis de vida. (FLEURY, 1992, p.170 apud BAGRICHEVSCHI; ESTE- VÃO, 2005, p.71) Por outro lado, em relação ao conceito de doença, é sabido que devemos abor- dar o homem como um todo: um ser único, dinâmico, dotado de corpo e alma, que se desenvolve em determinado ambiente, dentro do qual o mesmo interage e sofre interações. Neste contexto, entendemos a doença como a desarmonia orgânica ou psíquica responsável por interferir na di- nâmica de desenvolvimento da pessoa. Assim, este desequilíbrio acarreta conse- quências biopsicossociais e culturais. Entendendo por outra linha de raciocí- nio, o organismo busca a constante home- ostase – equilíbrio dinâmico entre as fun- ções do corpo e o ambiente – e a doença não permite este equilíbrio, já que há uma ruptura nas relações existentes entre o indivíduo consigo mesmo e com o mun- do. Enquanto perdurar sua enfermidade, a pessoa assume uma nova condição, de ser ou estar doente, o que acarreta numa série de mudanças e perdas que alterarão de modo decisivo sua identidade e as rela- ções estabelecidas com a sociedade. Atualmente já sabemos que existem várias causas para as doenças, dentre elas podemos citar as contaminações (micro- -organismos, substâncias tóxicas, dentre outras fontes nocivas ao ser humano), os traumas (físicos, como uma queda, ou psí- quicos, como a perda abrupta de um ente querido), as condições herdadas heredi- tariamente, os modelos de vida não sau- dáveis (como sedentarismo, tabagismo, etilismo), dentre outras condições que acarretam em alguma forma de adoeci- mento. Sabe-se que existe um número muito grande de doenças, dentre as quais é pos- sível apontar diferentes meios de con- traí-las e formas de evitá-las. Quando os fatores de risco dizem respeito a fatores genéticos, não há o que fazer para mo- dificar essa bagagem inata que o indiví- duo carrega, mas, em muitos casos, como nas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), há incidência de fatores multicau- sais e o indivíduo pode modificar as vari- áveis ambientais e comportamentais para visar a promoção da saúde e a prevenção nos três níveis estudados. A importância relativa de cada um desses componentes pode variar dependendo do genótipo, da idade e dos hábitos de vida das pessoas; no entanto, todos demonstram rela- ção bastante estreita com o melhor estado de saúde (GUEDES; GUEDES, 1995, p. 19). Em síntese, é possível concluir que, partindo desse pressuposto, algumas doenças podem ser prevenidas (ou seus danos podem ser minimizados visando a uma melhoria da qualidade de vida) e essa prevenção depende diretamente do pró- prio indivíduo. Dentre elas podemos citar, por exemplo, o câncer de pulmão, cuja in- cidência é maior dentre os fumantes. Fica fácil compreender que a pessoa não taba- gista está, de certa forma, prevenindo o aparecimento da doença. Um outro exemplo que encaixa nesse grupo é o da pessoa que sempre lava bem 12 1312 as verduras e as frutas, além de deixá-las livres de moscas para evitar sua possível contaminação. Lógico que precisamos compreender que, na maioria das vezes, as doenças são provenientes de fontes multicausais, ou seja, não são derivadas de uma ou outra situação específica, mas talvez de um conjunto de variáveis. Entre- tanto, a adoção de atitudes preventivas acaba por resultar um modo de vida mais saudável. A relação entre estilo de vida e a saúde desencadeou grande esforço de pesquisa, visando a prevenir doenças e ferimentos. Às vezes, a doença não pode ser preveni- da [...]. Ainda assim, mesmo nesses casos extremos, desenvolver nossas potenciali- dades humanas pode nos dar a capacida- de de florescer (STRAUB, 2014, p.145). Outras doenças aparecem independen- temente do comportamento do paciente. Como exemplo, podemos citar as doenças degenerativas, como a Doença de Alzhei- mer, Parkinson e esclerose múltipla, pois até hoje não foi cientificamente compro- vado que é possível prevenir as mesmas ou que algum tipo de comportamento por parte do indivíduo aumenta as chances do mesmo desenvolvê-las. Importante que isso fique claro para o psicólogo, visto que, atualmente, com a ampla divulgação de mensagens desti- nadas às pessoas prevenirem doenças a partir da adoção de um estilo de vida mais saudável, é comum que o paciente chegue até o profissional com grande demanda de culpa pelo seu processo de adoecimento, responsabilidade por algo que, em muitas vezes, não estava ao alcance do paciente prevenir ou mesmo evitar que aconteces- se. Por despreparo, alguns profissionais atribuem a causa de doenças graves, como o câncer, apenas ao estado emocional do paciente, como se ele fosse capaz de, so- zinho, sem nenhum tipo de ajuda, interfe- rir no seu estado emocional para não ado- ecer. Já discutimos amplamente a questão da psicossomática e vimos que essas do- enças acontecem de forma inconsciente, ou seja, fazer com que o paciente se sinta culpado pelo seu estado de padecimento só irá gerar ainda mais sofrimento e senti- mentos conflituosos para ele mesmo. A partir de agora, veremos, com mais detalhes, como o comportamento do indi- víduo pode está diretamente relacionado com seu padrão de saúde e doença. É difícil imaginar uma atividade ou um comportamento que não in- fluenciem a saúde de alguma forma – para melhor ou pior, direta ou indi- retamente, de imediato ou a longo prazo. Os comportamentos de saúde são comportamentos das pessoas para melhorar ou manter sua saúde. Exercitar-se com regularidade, usar protetor solar, seguir uma dieta com baixo teor de gordura, dormir bem, praticar sexo seguro e usar o cinto de segurança são comportamentos que ajudam a “imunizar” você con- tra doenças e ferimentos. Exemplos menos óbvios incluem passatempos prazerosos, meditação, rir, férias re- gulares e até ter um animal de esti- mação. Essas atitudes ajudam mui- tas pessoas a lidar com o estresse e manter uma perspectiva otimista sobre a vida (STRAUB, 2014, p.145). Dentre esses comportamentos de ris- cos – muitos dos quais são adotados des- de a juventude – os citados abaixo podem 12 1313 ocasionar risco de morte prematura, defi- ciência e doenças crônicas. Alguns desses fatores interferem na saúde de modo ime- diato, outros a longo prazo e ainda há ou- tros que prejudicam o indivíduo tanto no presente quanto no futuro: 1. Fumar e outras formas de abuso de tabaco. 2. Comer alimentos com alto teor de gorduras e baixo de fibras. 3. Não fazer atividades físicas sufi- cientes. 4. Abusar de álcool e outras substân- cias (incluindo as de prescrição). 5. Não usar métodos comprovados para prevenir ou diagnosticar doenças precocemente (ex: vacinas para gripe, de- cisões saudáveis relacionadas com o sexo, papanicolau, colonoscopias, mamogra- fias). 6. Participar de comportamento vio- lento ou que possa causar lesões invo- luntariamente (ex.: dirigir intoxicado) (CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2010 apud STRAUB, 2014, p.146). Os fatores de risco para as doenças po- dem ser de ordem genética / biológica, ambiental e comportamental, como eluci- dado na figura a seguir: Figura 01: Principais categorias de fatores de risco Fonte: U.S., 1979 apud POWERS; HOWLEY, p.258 14 15 Como foi possível observar, existem comportamentos de risco extremamente nocivos para a saúde no tempo presente ou no futuro e também comportamen- tos diretamente relacionados a uma boa saúde. Dentre os fatores de risco acima enumerados, percebe-se que nem todos podem ser modificados (biológicos e ge- néticos), assim o papel do psicólogo reside junto àqueles fatores que podem ser mo- dificados.É importante que a pessoa se conscientize de que sua saúde pode estar em suas mãos, assim, o psicólogo pode ocupar um lugar de destaque junto a esse contexto. A terapia individual ou de grupo pode auxiliar o paciente a abrir mão de hábitos não saudáveis – o que em muitos casos é difícil, visto que envolve aquilo que pode lhe proporcionar mais prazer ou mesmo in- terferir em situações onde há verdadeira dependência física ou psíquica. Da mesma forma, é papel do psicólogo auxiliar o pa- ciente a reorganizar sua vida, adequando a mesma a partir de estratégias mais sau- dáveis. Importante destacar que o aban- dono de um estilo de vida marcado por si- tuações de risco e a adoção de um modo de vida saudável é um processo bastante difícil e deve ser assistido por uma equipe interdisciplinar, dentro da qual o psicólogo deve estar inserido. Enfocaremos a seguir alguns compor- tamentos relacionados à saúde (atividade física) e de risco (obesidade e transtornos alimentares; abuso de substâncias). Exis- tem outros fatores comportamentais que se reacionam diretamente com o surgi- mento de doenças (como foi mostrado na figura 1), porém, para fins didáticos, limi- taremos nosso estudo a esses fatores: a) Atividade física Como temos enfatizado a importância da prevenção, iniciaremos falando sobre uma estratégia de prevenção que, em muitos casos, envolve a mudança de com- portamentos não saudáveis, muitos deles praticados durante muitos anos de vida: a atividade física. A vida sedentária tem sido consi- derada como um dos fatores de risco coronariano (infarto do miocárdio, morte súbita, angina prectoris). A prática regular de exercícios físicos tem sido considerada “fator de pro- teção” contra processos degenera- tivos no organismo, principalmente doenças como arteroclerose sistêmi- ca, obesidade, hipertensão arterial e distúrbios psicossomáticos leves e moderados (LEITE, 2000, p.5). Sabe-se que os programas de atividade física corretamente prescritos e adequa- dos são benéficos para a saúde do pon- to de vista da prevenção, manutenção e aprimoramento da capacidade funcional. Por outro lado, a falta de atividade físi- ca regular contribui para o surgimento das doenças crônico-degenerativas, tais como a hipertensão arterial, as cardio- patias coronarianas, o diabetes melitus e a obesidade. Essas doenças atualmente são a principal causa de mortalidade entre os adultos (GUEDES; GUEDES, 1995). Segundo Straub (2014), a prática de exercícios físicos promove o bem-estar físico e psicológico, minimiza os riscos de ansiedade e depressão, melhora a auto- eficácia e a autoestima, além de ajudar a desacelerar ou mesmo reverter alguns dos efeitos do envelhecimento. A ativi- dade física auxilia a reduzir o risco de do- 14 15 enças cardiovasculares, diabetes, muitos tipos de câncer e condições relacionadas ao estresse. O tipo de atividade mais reco- mendado é o aeróbico. Nieman (1999) reforça que grande par- cela dos casos de diabetes tipo 2 poderia ser evitável e tratável por meio da melho- ria nos hábitos no estilo de vida, ou seja, dieta ideal a longo prazo, exercícios físicos e obtenção do peso ideal. Na maioria dos casos havendo essa real mudança não se faz necessária a administração de medi- camentos. Programas de reabilitação do cardiopa- ta com a prática de exercícios físicos pro- porcionam benefícios psicossociais, tais como diminuição da ansiedade e depres- são ocasionadas pela doença, melhora da autoestima e consequente reinserção so- cial e profissional. A partir de todas essas mudanças, o cardiopata pode encontrar o incentivo para modificar os hábitos não saudáveis e então atingir a necessária mudança em seu estilo de vida. (GUEDES; GUEDES, 1995). Os indivíduos portadores de do- enças orgânicas, metabólicas e psi- cossomáticas (pacientes cardíacos, obesos, portadores de depressão e ansiedade) procuram fazer exercí- cios fiscos para recuperarem parte de suas capacidades funcionais que foram debilitadas pela doença, rein- tegração social e preenchimento de “vazios existenciais” que acompa- nham as doenças crônicas e/ou psi- cossomáticas. (LEITE, 2000, p.4-5). O que foi abordado sobre a ativi- dade física não é nenhuma novidade nos meios acadêmicos e mesmo nas conversas informais, onde o apelo pela vida saudável é cada vez mais evidente. Entretanto, isso parece mais conversa de profissionais da educa- ção física do que de psicólogos, não é mesmo? Ao contrário do que possa parecer num contato inicial, a ques- tão da atividade física na promoção da saúde também é área de interesse do psicólogo por envolver a questão de uma possível modificação de com- portamento. A citação a seguir deixa isso bem claro: Às vezes, somos nossos piores ini- migos na batalha pela saúde. Na adolescência e no começo da vida adulta, quando estamos desenvol- vendo hábitos relacionados com a saúde, normalmente somos bastan- te saudáveis. Fumar cigarros, comer muita gordura e não fazer exercí- cios nessa época são coisas que não parecem ter efeito algum sobre a saúde. Desse modo, os jovens têm poucos incentivos imediatos para praticar bons comportamentos e corrigir mais hábitos relacionados com a saúde. Muitos comportamen- tos que promovem a saúde, como fa- zer exercícios vigorosos e seguir uma dieta com baixo teor de gordura, são menos prazerosos ou mais difíceis do que alternativas menos saudáveis. Se um comportamento (como comer quando está deprimido) causar alívio ou gratificação imediata, ou se não apresentá-lo proporciona descon- forto imediato, será difícil eliminar tal comportamento (STRAUB, 2014, p.153-154). 16 17 Nesse sentido, torna-se visível que o psicólogo pode atuar visando a educação em saúde de clientes de diferentes faixas etárias, além de realizar a interconsulta em equipes interdisciplinares que atuam no sentido de promover ou restaurar a qualidade de vida dos indivíduos. É pre- ciso que fique claro que nas condições em que haja necessidade de mudança de comportamento – como nas que veremos a seguir – há muitos fatores psicológicos envolvidos no processo, o que torna a mo- dificação de comportamento mais difícil e complexa. b) Obesidade A obesidade precisa ser compreendida como um fenômeno biopsicossocial, ou seja, suas causas e consequências atin- gem o indivíduo em todas as suas dimen- sões. Dentre os fatores biológicos, des- taca-se o papel da hereditariedade (em interação com os fatores ambientais – pa- drão alimentar e nível de atividade física) (STRAUB, 2014). Para o psicólogo, os fatores psicosso- ciais envolvidos à obesidade são os que mais merecem destaque. Os padrões de fome e alimentação variam individual- mente. Como a maioria das confraterni- zações e eventos sociais envolvem a ali- mentação, é comum associar o estresse à ingestão de certos tipos de alimentos, ou seja, em situações de estresse agudo ou crônico as pessoas tendem a comer mais (STRAUB, 2014). Segundo Nieman (1999), dentre os riscos associados à obesidade podem-se destacar dificuldades emocionais (como baixa autoestima e depressão) aumento de osteoartrite; aumento de incidência de hipertensão arterial e diabetes; au- mento dos níveis de colesterol; aumen- to dos riscos de doença cardíaca, câncer e morte prematura. O autor pontua que um dos grandes problemas é que a maio- ria dos tratamentos enfoca a obesidade como uma doença aguda (que se resolve num curto período de tempo), sendo que, na verdade, é uma doença crônica (como a hipertensão arterial). As pessoas preocupam-se com o que e quanto comer devido aos efeitos fisiológicos e psicológicos negativos da obesidade. O fato de ser obeso carrega um estigma social em mui- tas partes do mundo de hoje, o que indicaa importância que muitas sociedades dão à aparência física (STRAUB, 2014, p.189). Observa-se que o peso afeta homens e mulheres de diferentes formas. As mulhe- res obesas possuem maior probabilidade de se sentirem depressivas, até mesmo com tendência suicida, se comparadas às mulheres mais magras. Já em relação ao sexo masculino ocorre o inverso: os ho- mens que se encontram abaixo do peso costumam ter maior tendência à depres- são que aqueles mais pesados (STRAUB, 2014). Segundo o mesmo autor, uma série de fatores explica por que muitas dietas não funcionam. Dentre esses fatores citamos as expectativas irrealísticas, o incômodo da sensação de privação de algo conside- rado prazeroso. As dietas de maior sucesso são as intervenções clínicas que incluem alguma forma de pós-tratamento depois da perda de peso, com apoio social, programas de exercícios ou continuação do contato com o tera- 16 17 peuta. [...] Para muitas pessoas, os tratamentos em grupo produzem resultados melhores do que inter- venções de autoajuda individuais (STRAUB, 2014, p.198). O objetivo final de um tratamento para a obesidade é a reeducação alimentar, perda de peso e sua manutenção, por- tanto, são recomendáveis programas que incluam dieta, exercícios, modificação de comportamento, visando sempre resulta- dos de longo prazo. O psicólogo encontra espaço dentre a equipe multidisciplinar, evitando que as dietas deem errado. Em conjunto com os profissionais de saúde, é importante que o usuário dos serviços de saúde reconstrua o modelo de vida saudável e incorpore mudanças de estilo de vida. Não des- prezando as limitações socioeconô- micas, presentes na vida da maioria dos usuários dos serviços públicos de saúde no Brasil, é fundamental que a população portadora de excesso de peso assuma o ônus de reestrutu- rar suas práticas mais cotidianas de saúde, empenhando-se no aumento de seu tempo de prática de atividade física, bem como a opção por alimen- tos menos ricos em gordura e menos energéticos (PINHEIRO; FREITAS; CORSO, 2004, p.531). O papel do psicólogo numa equipe mul- tidisciplinar – que também engloba pro- fissionais como médico, nutricionista, profissional da educação física, dentre outros, tem sido cada vez mais valorizado num tratamento complexo da obesidade. Segundo Straub (2014), a terapia cogni- tivo comportamental é uma abordagem de sucesso frente às pessoas obesas que, normalmente, começam o tratamento com expectativas irrealistas e pensamen- tos autodestrutivos. Esse tipo de terapia objetiva focar na interdependência de sentimentos, pensamentos, comporta- mentos, consequências, contexto social e processos fisiológicos. Deve-se também levar em consideração a individualidade de cada paciente, ou seja, os pacientes variam quanto ao tipo de tratamento mais eficaz, pois as pessoas apresentam dife- rentes estilos de personalidade, níveis de obesidade, história médica e compor- tamentos alimentares. “A premissa sub- jacente a essas terapias é que os hábitos e as atitudes alimentares devem ser mo- dificados de forma permanente para que ocorra perda de peso e sua manutenção” (p.199). A obesidade pode atingir padrões tão alarmantes para o paciente e chegar a ser caracterizada como obe- sidade mórbida, quadro que carrega grandes implicações para o estado geral de saúde do paciente: Devido ao grande crescimento da obesidade nas últimas décadas, pro- fissionais de diversas áreas da saúde estão sendo requisitadas para tratar da obesidade e de suas comorbida- des associadas. No momento, além dos tratamentos convencionais para obesidade (reorientação nutricional, uso de agentes antiobesidade e prá- tica regular de exercícios físicos), a cirurgia bariátrica (CB) é considerada o tratamento de escolha para obe- sos graves que não respondem às te- rapêuticas convencionais (FANDIÑO; APPOLINARIO, 2006, p.367). O psicólogo é um profissional de suma importância na equipe multidisciplinar que atua com profissionais candidatos a 18 19 se submeterem à cirurgia bariátrica. No período pré-operatório, uma avaliação psiquiátrica e/ou psicológica do paciente se faz de suma importância. Essa avalia- ção pode ser auxiliada pelos testes psico- lógicos (os quais são atribuição exclusiva do psicólogo) e também por entrevistas psiquiátricas estruturadas. Nessa avalia- ção, objetiva-se rastrear transtornos psi- quiátricos atuais e preexistentes, além de investigar a capacidade do paciente de lidar com as modificações comporta- mentais impostas pela cirurgia e mudança no estilo de vida. A atuação do psicólogo não se resume ao momento pré-operató- rio, um acompanhamento pós-operatório também é importante para se avaliar o funcionamento psicológico do paciente, assim como para avaliar possíveis compli- cações psiquiátricas que podem ocorrer nesse período crítico (FANDIÑO; APPOLI- NARIO, 2006). Segundo os mesmos autores, para que a cirurgia seja satisfatória é imprescindí- vel que o paciente esteja motivado e bem informado acerca da cirurgia e das impli- cações da mesma para a sua vida; além disso, devem se conscientizar de que o processo não se resume ao procedimento cirúrgico, faz-se necessário um tratamen- to de longo prazo. Mais uma vez observamos como a mu- dança de comportamento do paciente é essencial nos tratamentos de pacientes obesos e como a atuação do psicólogo é imprescindível para auxiliá-lo a lidar com as mudanças decorrentes do emagreci- mento. No caso dos pacientes que se sub- metem à cirurgia bariátrica, as mudanças que ocorrem no corpo costumam ser mais rápidas e significativas, assim o paciente precisa estar preparado psicologicamen- te a lidar com o corpo novo, rotinas novas, padrões alimentares completamente di- ferenciados. Em relação aos aspectos psicopa- tológicos apontados como comorbi- dades ao quadro de obesidade, após a cirurgia, costuma-se observar uma melhora no funcionamento psicológi- co. Entretanto, podem surgir compor- tamentos compulsivos (alcoolismo, impulsividade e bulimia nervosa), o que parece apontar que esses com- portamentos já existiam antes da ci- rurgia, mas eram “camuflados” pela obesidade, a queixa principal. Alguns pacientes chegam a tentar o suicídio (FANDIÑO; APPOLINARIO, 2006). Se- gundo os autores supracitados: Observamos que, em relação à mor- bidade psiquiátrica geral, pacientes com obesidade grave, candidatos à cirurgia bariátrica evidenciam uma prevalência aumentada de transtor- nos do humor, alguns transtornos de ansiedade e história de dependência ou abuso de substâncias psicoativas. Na categoria dos transtornos do hu- mor, o transtorno depressivo (histó- ria atual e/ou passada) parece ser o diagnóstico mais prevalente (p.372). Em síntese, o psicólogo que trabalha com pacientes de cirurgia bariátrica deve ficar muito atento em sua avaliação pré- -operatória, já que ele é um dos profis- sionais responsáveis por recomendar ou não o procedimento e, caso ele apresente algumas das condições enumeradas an- teriormente, o risco é de não resolver o problema da obesidade, como também de favorecer o surgimento de outras condi- ções graves a ponto de levarem o pacien- 18 19 te ao óbito. Mais que isso, é importante conscientizar o paciente da necessidade de acompanhamento psicológico pós-ci- rúrgico, pois as mudanças de autoimagem e comportamentos alimentares também podem ser danosas ao paciente. Assim, vemos que há demanda de trabalho para o psicólogo tanto em nível clínico (con- sultório, ambulatório), quanto no próprio hospital. As intervenções podem ser indi- viduais ou em grupo. Entendemos que esse deve ser o último recurso utilizado em pacientes que apre- sentam obesidade mórbida e suas compli- cações, não como um simplesrecurso de emagrecimento para pacientes que não conseguem modificar seus hábitos ali- mentares e estilo de vida sedentário. c) Transtornos alimentares Assim como ocorre com a obesidade, os transtornos alimentares são um problema muito frequente na atualidade e mere- cem a atenção da equipe multidisciplinar em saúde, em especial o psicólogo. Fala- remos aqui sobre a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno dismórfico corporal (vigorexia). Numa sociedade marcada pelo culto ao corpo, onde a necessidade de se mos- trar se faz evidente, marcada pela busca incessante aos ideais de beleza impos- tos pela mídia, os quais são muitas vezes inatingíveis pela maioria das pessoas, os transtornos alimentares e da imagem cor- poral tornam proporções alarmantes. Dentre os fatores psicológicos, um que merece destaque é a autoestima. Ter uma boa autoestima é fator protetor não ape- nas para os transtornos alimentares, mas, sem sombra de dúvidas, uma pessoa com boa autoestima é uma pessoa mais sau- dável, que lida melhor com as adversida- des impostas pela vida. Mas, o que é auto- estima? Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), autoestima significa gostar de si mesmo de modo genuíno e altruísta; não se trata de excesso de valorização de si mesmo ou de arrogância e egocentrismo. Gostamos do que realmente somos, acei- tando nossas próprias habilidades e limi- tações. O papel do outro é importante no desenvolvimento da autoestima, sejam eles familiares, amigos, ou mesmo desco- nhecidos. Afirmar que um sujeito possui uma autoestima elevada é o mesmo que dizer que ele tem um julgamento positivo de si mesmo. A partir dessa definição, é possível per- ceber que a autoestima de uma pessoa com transtorno alimentar (ou às vias de desenvolver um desses transtornos) não é positiva, por isso é necessária uma aten- ção especial no que diz respeito à atenção a este público-alvo, o que será elucidado a seguir. Outro conceito que precisa ser escla- recido e que caminha muito próximo da autoestima é a autoimagem. Define-se autoimagem como a forma como as pes- soas vêm e percebem o seu próprio cor- po, percepção essa que sofre influência de aspectos físicos, psicológicos e cultu- rais. Importante destacar que a insatis- fação com a imagem corporal é comum nos transtornos alimentares, associados à adolescência, como também na fase do envelhecimento, marcada por uma série de mudanças no esquema corporal, como sinaliza pesquisa de Pereira e colaborado- res (2009). Os distúrbios alimentares podem ser 20 21 ocasionados tanto por fatores invariá- veis – como genética, personalidade e antecedentes familiares – quanto por fa- tores mutáveis, como aqueles relaciona- dos ao ambiente esportivo e sociocultural (WEINBERG; GOULD, 2006). Anorexia Segundo Borges e colaboradores (2006), a anorexia nervosa é um transtor- no alimentar que se caracteriza por perda significativa de peso que acontece após ocorrência de dieta extremamente res- trita. A pessoa que sofre com esse trans- torno apresenta uma verdadeira busca desenfreada pelo padrão de magreza que deseja atingir e a sua autoimagem encon- tra-se distorcida. Além disso, as mulheres com esse problema começam a apresen- tar alterações do ciclo menstrual. O portador da anorexia nervosa pos- sui o agravante de não se enxergar como anormal, correndo sério risco de morte por inanição ou devido a complicações de- correntes de seu estado de saúde. Duran- te as refeições observa-se que essas pes- soas beliscam a comida, remexem o prato, comem alimentos pouco calóricos e men- tem sobre a sua alimentação (WEINBERG; GOULD, 2006). Geralmente os pacientes relatam que o início do quadro se deu após um fator estressante como algum comentário sobre seu peso, ou o tér- mino de relacionamento, ou perda de ente querido. Paulatinamente, o pa- ciente passa a viver exclusivamente em função da dieta, do peso, da for- ma corporal, das atividades físicas, de tabela de calorias e do medo pa- tológico de engordar. Concomitan- temente esses pacientes apresen- tam traços de personalidade como preocupações e cautela em excesso, medo de mudanças, hipersensibili- dade e gosto pela ordem (BORGES et al., 2006, p.341). Straub (2014) elucida que essa condi- ção pode ocasionar complicações graves, tais como redução da função da tireoide; frequências cardíaca e respiratória irregu- lares; diminuição da pressão arterial; pele ressecada e amarelada; fragilidade dos ossos; anemia, tontura e desidratação; inanição, amenorreia (cessação do fluxo menstrual), dentre outras condições. Bulimia Normalmente, os bulímicos são pes- soas de baixa autoestima que se tornam depressivas e, num comportamento com- pulsivo, comem excessivamente numa tentativa de se sentirem melhor. Porém, com a ingesta excessiva surge o senti- mento de culpa, assim o indivíduo induz o vômito ou toma laxantes numa tentativa de expelir o que foi ingerido compulsiva- mente. Ao contrário do que acontece com o anoréxico, o bulímico sabe que tem um problema, porém em alguns casos a buli- mia pode levar à anorexia. No dia a dia é comum observar que essas pessoas es- condem comida e desaparecem após as refeições (normalmente é comum o vômi- to ou a diarreia como efeito dos laxantes) (WEINBERG; GOULD, 2006). A bulimia caracteriza-se, então, por um comportamento compulsivo seguido da purgação. Diferente do que acontece com a anorexia nervosa, esse transtorno difi- cilmente leva ao óbito, porém também im- plica em consequências graves, tais como 20 21 dependência de laxantes; hipoglicemia; dentes danificados pelo ácido clorídrico presente do vômito frequente; sangra- mento do estômago devido à indução dos vômitos; anemia e desequilíbrio dos ele- trólitos causados pela frequente perda de minerais essenciais ao bom funcionamen- to do organismo (STRAUB, 2014). Dismorfia muscular ou vigorexia Ao contrário do que foi abordado até aqui, com a anorexia e bulimia, transtornos associados à percepção da imagem corpo- ral que atingem principalmente mulheres, a dismorfia muscular (ou vigorexia) é um transtorno que acomete, em sua maioria, indivíduos do sexo masculino. Segundo Assunção (2002), a preocupação desses homens em relação à sua autoimagem diz respeito a tornarem-se fortes e musculo- sos, padrão de corpo ideal, imposto pela mídia, ou seja, semelhante ao que ocorre com o padrão de corpo magro, almejado por muitas mulheres. Um homem grande e musculoso que tem a dismorfia muscular sente-se pe- queno e franzino quando se olha no es- pelho. Em consequência dessa percepção distorcida adota algumas medidas, tais como dieta hiperproteica, suplementos alimentares, uso de anabolizantes, ativi- dade física exagerada (focam na muscula- ção e rejeitam atividade aeróbica). As con- sequências desse estilo de vida impactam o funcionamento biopsicossocial do indi- víduo (OLIVARDIA, 2001 apud ASSUNÇÃO, 2002). Fatores biopsicossociais e trata- mento psicológico Os transtornos alimentares são bastante graves e podem ser ocasio- nados devido a vários fatores: A abordagem consensual inte- grando os vários fatores que con- tribuem para o desenvolvimento de um transtorno alimentar é o modelo biopsicossocial, que tem a vantagem de levar em conta toda a sorte de fa- tores, desde os mais amplos, como os culturais, até os mais específicos, como os biológicos (ÁVILA; NUNES, 2006, p.95). Estudos sobre a questão da influência de fatores biológicos (como anormalida- des bioquímicas) ainda são inconclusivos, por outro lado, estudos mostram influên- cias genéticas significativas nos transtor- nos alimentares (STRAUB, 2014). Outros teóricos afirmam que as raízes dos transtornos da alimen- tação podem ser encontradas em certassituações psicológicas, como ambientes sociais semifechados e competitivos de algumas famílias, equipes atléticas e grupos universi- tários (LESTER; PETRIE, 1998 apud STRAUB, 2014, p.204). Há indícios de que vários fatores indivi- duais contribuem para o surgimento dos transtornos alimentares, tais como tra- ços de personalidade e baixa autoestima, além de experiências pessoais e interpes- soais, como abuso sexual, eventos trau- máticos e bullying escolar, caracterizado por apelidos vexatórios em decorrência do peso (ÁVILA; NUNES, 2006). Em relação aos fatores socioculturais, observa-se que a anorexia e a bulimia acometem mais mulheres do que homens. É mais frequente nas culturas ocidentais, que apresentam preocupação com o peso. 22 23 Segundo a visão sociocultural, as dietas e o comportamento alimentar desordenado são as respostas com- preensíveis das mulheres aos seus papéis sociais e aos ideais culturais de beleza (SEID, 1994 apud STRAUB, 2014, p.204). A mídia também reforça os ideais de magreza, talvez em proporções menores do que costumamos imaginar, mas sua influência não pode ser desconsiderada (STRAUB, 2014). Os ideais de magreza impostos pela so- ciedade mostram-se cada vez mais difí- ceis de serem alcançados e a esses ideais de magreza associam-se a simbologia de sucesso, eficiência e perfeição. “No en- tanto, os aspectos socioculturais, por si sós, não determinam isoladamente o de- senvolvimento dos transtornos alimenta- res” (ÁVILA; NUNES, 2006, p.96). Há suficientes evidências de que as famílias influenciam atitudes e valo- res de seus filhos, o que pode aumen- tar o risco para o desenvolvimento de um transtorno alimentar. É pouco provável, no entanto, que essa influ- ência, por si só, seja suficiente para desencadear tais patologias, a me- nos que seja combinada com outro fator, como vulnerabilidade biológi- ca ou psicológica, como demonstrou estudo de Davis e colaboradores (2004) (ÁVILA; NUNES, 2006, p.98). Devido à multiplicidade de fatores envolvidos na etiologia desses trans- tornos, para a abordagem do mes- mo se faz necessária uma equipe multidisciplinar, na qual o psicólogo encontra-se inserido. Os programas que visam abordar os transtornos alimentares podem ser tanto a nível de prevenção quanto para quando o problema já houver se instalado: As evidências atuais sugerem que os programas de prevenção especí- ficos podem reduzir fatores de risco potenciais em adolescentes e uni- versitárias [...]. Esforços para preve- nir esses transtornos são essenciais, em função da sua alta prevalência em jovens e do consequente impacto na saúde, tanto física quanto psicos- social, além dos elevados custos do tratamento (ÁVILA; NUNES, 2006, p.100-101). Em relação aos tratamentos dis- poníveis para a problemática dos transtornos alimentares vale a pena ressaltar que uma abordagem efi- caz deve incluir a atenção de equipe multidisciplinar. Como nosso foco é a psicologia, iremos enfocar apenas a possibilidade de atuação desse pro- fissional nos pacientes com esse tipo de transtorno, como mostra a citação a seguir: Diversas terapias são utilizadas para tratar anorexia, bulimia e transtorno de compulsão alimentar. Entre elas, estão a alimentação forçada, a tera- pia familiar, a terapia interpessoal, a terapia comportamental dialética, a hipnose e as abordagens psicodi- nâmicas (WILSON; GRILO; VITOUSEK, 2007). Especialistas concordam que o trata- mento deve abordar o comportamento e as posturas que perpetuam a alimentação desregrada (STRAUB, 2014, p.208). 22 23 Galvão, Pinheiro e Nunes (2006) corroboram essa citação, ao afirma- rem que: Os transtornos alimentares (TA) são tidos como patologias difíceis de abordar devido a sua complexa etio- logia. Seu aspecto multidimensional traduz a necessidade de integrar vá- rias técnicas psicoterápicas, como a psicoeducacional, a cognitivo-com- portamental e as psicodinâmicas, que podem ser aplicadas individu- almente, em grupo ou com a família (p.137). Segundo Straub (2014), o TCC é uma linha de grande aplicabilidade em pacientes bu- límicos e compulsivos alimentares, já que visa aumentar a motivação para mudar; substituir dietas prejudiciais à saúde por padrões de alimentação adequados; re- duz a preocupação do paciente com seu peso e previne recaídas do problema. Estudos mostram a eficácia da terapia cognitivo-comportamental em pacientes com transtornos alimentares, mas isso não afirma que outras linhas de psicote- rapia não sejam válidas, pois cada pacien- te é único. Observa-se que as estraté- gias mais efetivas devem considerar uma compreensão mais ampla dos processos de mudança psicológica e outros fatores que possam estar associados às mudan- ças sintomatológicas (GALVÃO; PINHEIRO; NUNES, 2006). Ou seja, a questão da mu- dança de comportamento também se faz essencial nesses quadros. Terapeutas psicodinâmicos têm re- conhecido a importância de focalizar os aspectos da alimentação, peso e reeducação alimentar dos pacien- tes. Da mesma forma, a abordagem cognitivo-comportamental tem le- vado em conta a relação terapêuti- ca e os transtornos na autoestima dos pacientes. Psicoterapeutas de diferentes escolas enfatizam que é importante o paciente reconhecer e expressar afetos e explorar padrões de interação familiar. Também reco- nhecem a relevância dos aspectos do processo de desenvolvimento, como separação, autonomia, temo- res sexuais e formação de identi- dade (GALVÃO; PINHEIRO; NUNES, 2006, p.139). A terapia familiar apresenta resultados satisfatórios para pacientes anoréxicos, pois todos os membros da família apren- dem formas mais saudáveis de interagir entre si e assim resolver seus conflitos. O papel dos pais pode ser decisivo para au- xiliar na modificação do comportamento nocivo, principalmente no caso de filhos adolescentes anoréxicos, que costumam requerer maior monitoração (GALVÃO; PI- NHEIRO; NUNES, 2006; STRAUB, 2014). A atuação do psicólogo nos transtor- nos alimentares pode ser a nível clínico ou hospitalar. Lembrando-se que nos caso de anorexia pode haver até mesmo risco de morte, a intervenção psicológica a nível hospitalar se faz muito necessária, porém, para um tratamento satisfatório, a conti- nuidade do mesmo se faz imprescindível mesmo após a alta hospitalar. Fica regis- trado que sem a atuação do psicólogo na equipe interdisciplinar que atenderá a es- ses pacientes o prognóstico dos transtor- nos alimentares pode não ser satisfató- rio devido à necessidade de mudança de comportamentos extremamente nocivos 24 25 para outros saudáveis. d) Abuso de substâncias A questão do abuso de substâncias é algo que merece ser discutido em nossa sociedade. Enquanto algumas substân- cias, como o álcool, são bem vistas em reu- niões sociais e até mesmo em ritos religio- sos, outras, tais como as drogas ilícitas, medicamentos que causam dependência e tabaco não são bem vistos. De qualquer forma, ressalta-se que todas as substân- cias são fonte de prazer para as pessoas que delas fazem uso, porém o abuso das mesmas pode ser extremamente nocivo à saúde. O abuso de substâncias pode ser com- preendido como o uso de qualquer subs- tância em um nível que interfira negativa- mente nos domínios biológico, psicológico ou social nos quais o indivíduo encontra- -se inserido. Algumas dessas substâncias são denominadas legais – como os medi- camentos – mas esses também podem ser consumidos de forma abusiva. “O uso de substâncias ilegais, álcool e tabaco causa mais morte, doença e incapacidades do que qualquer outro problema de saúde evitável” (ROBERT WOOD JOHNSON FUN- DATION apud STRAUB, 2014, p.215). Para darmos continuidade a esse racio- cínio, algumas definiçõesprecisam ser re- alizadas: Adicção: padrão de comportamen- to caracterizado por dependência física e possivelmente psicológica, bem como pelo desenvolvimento de tolerância. Dependência: estado em que uso de uma substância é necessário para que uma pessoa funcione normalmente. Abstinência: sintomas físicos e psicológicos desagradáveis que ocorrem quando a pessoa para de usar determina- da substância de forma abrupta. Uso de substâncias: ingestão de uma substância, independentemente da quantidade ou do efeito da ingestão. Substâncias psicoativas: substân- cias que afetam o humor, o comportamen- to e os processos de pensamento, alte- rando o funcionamento dos neurônios no cérebro; incluem estimulantes, tranqui- lizantes e alucinógenos (STRAUB, 2014, p.218). A partir dessas definições, afirmamos que todas as pessoas, em determinado momento da vida, podem vir a fazer uso de uma substância, porém nem todas irão manifestar comportamentos adictivos ou se tornar dependentes. O abuso de drogas tem aspectos de reforços negativos e positivos. Os adictos habitualmente abusam de drogas para escapar aos aspectos psicológicos e físicos da abstinência, desse modo reforçando negativa- mente o uso de drogas. As pessoas também tomam drogas para esque- cer seus problemas ou lidar com o estresse, e isso também envolve re- forço negativo. [...] O uso de drogas também é positivamente reforça- do. As pessoas usam drogas para se sentir bem. O potencial de adicção de uma droga específica é determinado pela velocidade de seus efeitos re- compensadores (GAZZANINGA; HEA- THERTON, 2005, p.204-205). Diferentes modelos explicam como as pessoas se tornam dependentes, 24 25 aqui iremos mencionar apenas os modelos de aprendizagem social. Se- gundo esse modelo: Embora as substâncias psicoativas de fato produzam alterações neuro- químicas, e a pesquisa mostre os fa- tores de risco hereditários na depen- dência, existem boas razões para considerar a dependência um com- portamento moldado pela apren- dizagem, assim como por fatores sociais e cognitivos (STRAUB, 2014, p.223). Segundo o mesmo autor, os efeitos fisiológicos prazerosos de determinada substância no organismo, assim como ou- tros aspectos gratificantes da situação social envolvidos no uso dessa substân- cia, aparecem como estímulo a este com- portamento. Considerar-se um usuário pesado de álcool ou tabaco, por exemplo, pode levar à adoção de um certo estilo de vida que torna a abstinência uma ta- refa monumental, que envolve um novo sentido de self. Indivíduos que bebem cujas redes sociais giram in- teiramente em torno do bar do bairro têm especial dificuldade para parar de beber (STRAUB, 2014, p.233). Entretanto, o oposto também é verda- deiro. Ao se pensar em estratégias de pre- venção ao abuso de substância é possível concluir que instituições como família, es- cola e Igreja podem ser fatores protetores ao abuso de substâncias, principalmente entre os adolescentes (STRAUB, 2014). A questão da dependência química é bastante complexa e não será pormeno- rizada aqui, pretendemos ressaltar que é importante que a busca de ajuda parta do próprio dependente, o qual deve-se cons- cientizar de seu comportamento de risco. Faz-se necessária a atuação de uma equi- pe multidisciplinar em saúde, dentre eles o psicólogo, visando, em linhas gerais, modificação de comportamento. Decidir abrir mão de uma substância – seja álcool, tabaco, drogas ilícitas ou fár- macos – implica em uma série de modifi- cações, já que muitas situações envolvem a substância em questão. Assim, a pes- soa normalmente precisa modificar seu círculo social (composto por pessoas que também compactuam do seu vício), parar de frequentar certos locais (onde ocorria o uso e a compra das substâncias), den- tre outras atitudes que implicam numa mudança radical de comportamento. Em suma, a pessoa precisará abrir mão de uma substância que lhe proporcionava uma sensação extremamente prazerosa, de situações e pessoas também de seu agrado, em busca de um novo estilo de vida, mais saudável e regrado. O papel da psicologia encontra espaço nesse contex- to. O psicólogo pode atuar em contexto clí- nico (consultório e ambulatório), em hos- pitais gerais. Com a reforma psiquiátrica e toda a mudança destinada ao atendimen- to aos portadores de transtornos mentais (dentre eles incluem-se os dependen- tes químicos), os hospitais psiquiátricos fecharam suas portas e surgiram novas alternativas para um tratamento mais humanizado a esses pacientes. Dessa for- ma, o psicólogo também encontra espa- ço nas residências terapêuticas, centros de atenção psicossocial – álcool e drogas (CAPS-AD) e clínicas destinadas ao trata- 26 27 mento específico de pessoas dependen- tes de substâncias. Nesses contextos diversificados, o tra- tamento pode ser individual, em grupo e extensivo aos familiares. Merecem desta- que os grupos de ajuda mútua, como AA (Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos Anônimos), os quais funcionam em diver- sas comunidades e oferecem resultados satisfatórios. Os grupos de autoajuda como o AA, normalmente envolvem discussões em grupo sobre experiências dos membros na recuperação do abuso do álcool. Os membros se benefi- ciam conectando-se com uma nova rede de pessoas que não bebem e compartilhando seus temores e pre- ocupações com a recaída (STRAUB, 2014, p.235). Definimos anteriormente como deter- minados comportamentos adotados pelo indivíduo ao longo do seu curso de vida po- dem ser preditores tanto da saúde quanto da doença. Também buscamos compreen- der como o psicólogo pode ser importan- te frente os pacientes que apresentam esses comportamentos insalubres, já que a mudança de comportamento se faz ne- cessária, porém pode ser bastante difícil para o paciente. Tentaremos agora enten- der como se dá a busca do paciente pelo tratamento. 2.2 Procurando tratamento Recapitulando o que foi falado no início desta apostila sobre os níveis de preven- ção, concluímos que a pessoa que busca ajuda profissional já apresenta alguma condição instalada. Mudamos nosso foco da prevenção primária para a prevenção secun- dária, ou seja, de ações delineadas para prevenir doenças ou ferimentos para ações que visam a identificar e tratar a doença no começo do seu curso (STRAUB, 2014, p.341). A busca de ajuda é uma etapa muito importante nas situações que envolvem o binômio saúde-doença. Sabe-se que em determinadas situações as chances de sucesso de determinado tratamento se fazem maiores quanto mais cedo for seu diagnóstico. Partimos do pressuposto de que, em muitas situações, o próprio paciente nota que há algo de errado com ele (do ponto de vista biopsicossocial) e, a partir dessa constatação, ele se dirige a um profissio- nal de saúde em busca de verificar o que realmente está ocorrendo para, a partir daí, iniciar o tratamento adequado. Entre- tanto, nem sempre é isso que acontece, algumas pessoas, por determinados mo- tivos, não buscam socorro logo. Quando falamos de pedir ajuda profissional, nor- malmente pensamos no médico, porém, dependendo do problema, o paciente pode buscar outros profissionais da equi- pe de saúde, inclusive o psicólogo. Na saúde pública isso não acontece devido à dinâmica do SUS, nem no contexto dos planos de saúde, já que em ambos os ca- sos se faz necessário o encaminhamento do médico. Em relação ao psicólogo, como foi fala- do na primeira apostila do curso, em con- textos ambulatoriais (consultório, clínica e ambulatório) é o paciente quem vai até o profissional em busca de ajuda, porém, em contexto hospitalar, o movimento é 26 27 oposto, como o paciente se encontra im- possibilitado, na maioria das vezes,é o psicólogo que vai até ele a partir de algum encaminhamento de outro profissional que compreende que há uma queixa psi- cológica. A comunicação profissional-pacien- te é um ponto chave num momento inicial, como expresso na citação a seguir: Os fatores sociais e psicológicos têm impactos direto e indireto nessas relações. Em primeiro lugar, esses fatores influenciam muito quando e como as pessoas começam a aceitar que estão doentes. Em segundo, a confiança das pessoas nos profissio- nais da saúde influencia sua satis- fação com o tratamento e o quanto respondem a ele. Em terceiro, o nível e a qualidade da comunicação entre pacientes e profissionais da saú- de têm uma influência indireta em quase todos os aspectos do atendi- mento de saúde, incluindo como os pacientes decidem quando precisam de atenção médica, por que, às ve- zes, as pessoas ignoram sintomas e por que elas, às vezes, seguem com cuidado as instruções do profissio- nal, mas não em outras ocasiões (STRAUB, 2014, p.341). Nem todas as pessoas buscam atendimento de saúde quando apre- sentam algum tipo de sintoma e dis- so pode-se inferir que uma série de razões justifica tal atitude por parte do paciente, mesmo as mais esclare- cidas. A citação abaixo elucida alguns dos motivos que levam as pessoas a não buscarem auxílio profissional quando sentem algo anormal: Podemos evitar procurar um médico por acreditarmos que os sintomas não sejam graves e tudo o que pre- cisamos seja 1 ou 2 dias de folga, tal- vez uma medicação simples ou cui- dar melhor de nós mesmos. Podemos evitar o uso dos serviços de saúde por não possuirmos seguro de saúde ou temermos não poder pagar pelo atendimento. Podemos ainda ter medo de que o sintoma seja sinal de doença grave e, assim, a inatividade resulta da negação. Finalmente, po- demos evitar o cuidado médico por suspeitarmos do sistema de saúde e duvidarmos de sua capacidade de tratar nossa condição de forma efi- caz (STRAUB, 2014, p.345). É importante para o psicólogo compre- ender os motivos que levam uma pessoa a não procurar os serviços de saúde quan- do sente algo anormal, já que, em meio a tantas campanhas de educação em saú- de, muitas pessoas que, por algum desses motivos, não pedem ajuda acabam sendo taxadas de várias coisas e culpabilizadas por seu estado. Não é papel do psicólogo julgar as escolhas do paciente, mas com- preender que, em muitas situações, há motivos fortes que o levam a não buscar um tratamento. A negação é um desses motivos: de forma consciente ou incons- ciente, mesmo em meio a sinais e sinto- mas, o paciente nega que há algo ocor- rendo com ele. Além da negação, outras atitudes do paciente diante de uma doen- ça grave serão discutidas num momento posterior desse curso. Alguns fatores influenciam na busca de 28 29 tratamento, tais como idade, gênero, sta- tus socioeconômico e condições culturais. Falaremos brevemente sobre apenas so- bre os dois primeiros. Dentre as faixas etárias, é mais co- mum a ida aos serviços de saúde na infância e na terceira idade (STRAUB, 2014). Em relação à questão da ida- de, segundo o mesmo autor: Na faixa etária avançada, os este- reótipos de idade, que são comuns entre os profissionais da saúde e mesmo em alguns idosos, podem re- presentar obstáculos importantes para o alcance e a manutenção da saúde. Entre esses obstáculos, es- tão as visões de que a velhice é um período de declínio inevitável, que os idosos geralmente não conseguem ou não estão dispostos a mudar de estilo de vida e comportamento, que sua adesão a regimes de tratamento e intervenções preventivas é baixa e que os benefícios ganhos com in- tervenções voltadas para o estilo de vida e o comportamento nesse está- gio da vida são mínimos (p.346-347). Como foi possível observar na citação anterior, esse estereótipo de velhice en- quanto sinônimo de doença e dependên- cia influencia as atitudes dos profissionais de saúde muito negativamente. Ou seja, observamos que em muitas situações não adianta o idoso procurar os serviços de saúde (coisa que ele faz muito mais que os mais jovens), pois ele costuma ser aten- dido por profissionais que não acreditam que, mesmo em idade avançada, é impor- tante prevenir doenças e investir na mu- dança de comportamentos de vida saudá- veis em busca de melhor qualidade de vida e, por que não falar, em mais anos de vida. Já ao se analisar a questão de gênero, a partir da adolescência é mais comum a busca de serviços de saúde pelas mulhe- res, em detrimento dos homens (COSTA- -JÚNIOR; MAIA, 2010, STRAUB, 2014). No Brasil, as campanhas de prevenção à saú- de da mulher são mais antigas e mais nu- merosas se comparadas às campanhas de prevenção à saúde do homem. Em relação à saúde da mulher, cam- panhas como as de prevenção do câncer feminino (mama, colo do útero, ovários), de doenças sexualmente transmissí- veis, além de campanhas que incentivam o pré-natal e parto normal, redução da mortalidade materna, enfrentamento da violência contra a mulher, planejamento familiar, assistência ao climatério, assis- tência às mulheres negras e população GLBTT podem ser citadas como de grande relevância (SUS, 2013). As imagens a seguir ilustram essas campanhas, as quais são normalmente conduzidas por profissionais da medicina e da enfermagem, mas também podem contar com a atenção dos demais profis- sionais da equipe de saúde, dentre eles o psicólogo. 28 29 Figura 2: Prevenção ao câncer de mama e de colo do útero (nível municipal) Fonte: Dr Roger Augusto, s.d. No que diz respeito à saúde do homem: A COORDENAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE DOS HOMENS (CNSH/DAET/SAS/MS) é res- ponsável pela implementação da Política Nacional de Atenção Integral da Saúde do Homem/PNAISH, que foi instituída pela Portaria nº 1.944/GM, do Ministério da Saúde, de 27 de agosto de 2009. Sua atuação é desenvolvida a partir de cinco (05) eixos temáticos: Acesso e Acolhimen- to, Saúde Sexual e Reprodutiva, Paternidade e Cuidado, Doenças prevalentes na popula- ção masculina e Prevenção de Violências e Acidentes (SUS, s.d.). A figura a seguir, da política de saúde do homem, mostra a importância do homem se conscientizar sobre a prevenção e a promoção da saúde: 30 31 Figura 3: Política de atenção integral à Saúde do homem Fonte: UFJF, 2014 Conforme já apresentamos num outro momento, na idade adulta é co- mum observarmos diferenças entre os padrões de busca de atendimen- to à saúde entre homens e mulheres. Costa-Júnior e Maia (2010) realiza- ram uma pesquisa com profissionais de saúde e os relatos apresentados a seguir corroboram a afirmação de Straub (2014) sobre a questão da di- ferença entre os gêneros: [...] Homem é durão, homem não fica doente. “Magina! Você vai no médico pra quê? Tá tudo bem, você tá forte aí” (Enfermeira, 26a). [...] culturalmente, foi desenvol- vida essa preocupação maior com a mulher. Até porque é maior a quan- tidade de doença, ela acabou sendo mais cuidadosa (Enfermeiro, 30a) (COSTA-JÚNIOR; MAIA, 2010, p.22). Em síntese, é errôneo afirmar que as mulheres adoecem mais que os homens, na verdade elas têm maior probabilidade de perceber seus sintomas e relatá-los aos profissionais capacitados, se compa- radas aos homens (STRAUB, 2014). Ao contrário das pessoas que evitam procurar os serviços de saúde devido a uma série de motivos, existem outras que costumam procurar médicos exces- sivamente, mesmo quando não há uma necessidade real. São as pessoas denomi- nadas hipocondríacas. A hipocondria pode ser compreendida como uma condição em que a pessoa experimenta uma ansieda- 30 31 de anormal em relação à sua própria saú- de, ou seja, há uma falsa crença de que se está doente, quando, na verdade,
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