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O-TRABALHO-DO-PSICOLOGO-NA-PEDIATRIA

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1 
SUMÁRIO 
1 PSICOLOGIA PEDIÁTRICA ....................................................................... 3 
1.1 Psicologia Da Saúde ............................................................................ 4 
1.2 Psicologia Pediátrica ............................................................................ 6 
2 PSICOTERAPIA INFANTIL: COMO FUNCIONA E QUANDO É 
RECOMENDADO. ..................................................................................................... 14 
2.1 O que é a Psicoterapia Infantil? ......................................................... 15 
2.2 Qual o objetivo da Psicoterapia Infantil? ............................................ 15 
2.3 Como funciona a Psicoterapia Infantil? .............................................. 16 
2.4 Como perceber que a criança precisa de psicoterapia?..................... 16 
2.5 Benefícios da Psicoterapia Infantil ..................................................... 17 
3 O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL E O TRABALHO DA 
PSICOLOGIA EM UNIDADES DE PEDIATRIA ......................................................... 18 
3.1 A Inserção da Psicologia no Contexto Hospitalar ............................... 28 
3.2 - Cuidar do Cuidador: A Contribuição da Psicologia na Humanização do 
Atendimento da Equipe de Saúde à Díade Paciente-Acompanhante .................... 31 
3.3 Cuidar do Acompanhante: A Importância de sua Participação no 
Cuidado do Paciente e a Parceria com a Equipe de Saúde .................................. 35 
3.4 O Desenvolvimento Infantil e o Espaço para Brincar no Cenário da 
Hospitalização Infantil ............................................................................................ 37 
4 O PSICÓLOGO E O CÂNCER INFANTIL ................................................. 39 
4.1 Diagnóstico ......................................................................................... 41 
4.2 Tratamento. ........................................................................................ 42 
4.3 Prognóstico ........................................................................................ 42 
4.4 A Criança com Câncer ....................................................................... 42 
4.5 A Família da Criança Portadora de Câncer ........................................ 47 
4.6 A Atuação Do Psicólogo ..................................................................... 50 
 
2 
4.7 A Psico-oncologia: .............................................................................. 55 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 62 
 
 
 
3 
1 PSICOLOGIA PEDIÁTRICA 
 
Fonte:nucleo-ppa.com.br 
A história da Psicologia nos domínios da saúde mental é relativamente recente, 
como de resto o é a história da própria psicologia enquanto ciência aplicada. A 
penetração dos psicólogos no contexto da saúde em geral (Serviços Hospitalares, 
Centros de Saúde, etc.) é muitíssimo mais recente e conta com um passado de 
apenas algumas décadas. Neste sentido, Victor Viana e J. Paulo Almeida afirmam ser 
tradicional a intervenção psicológica na saúde mental. Tradicional porque, apesar de 
tudo, mas antiga, especialmente por ter sido já produzido neste domínio uma vasta 
teorização, relativa a diagnóstico e processos terapêuticos, baseada numa prática de 
inquestionável valor, e traduzida em bibliografia prestigiada. Tradicional também 
porque se constituiu em modelo para outras práticas em outros domínios. Referimo-
nos, como é óbvio, ao modelo de intervenção clínico, a psicologia clínica, muitas vezes 
identificada com a psicologia da saúde. 
Alicerçados numa exploração bibliográfica, e na experiência de mais de uma 
década como psicólogos de um serviço de pediatria, os autores realçaram na presente 
obra a especificidade da intervenção dos psicólogos nos serviços de saúde para 
crianças, contribuindo, assim, para uma reflexão que permita implementar e 
 
4 
desenvolver este domínio no país, de modo a que os psicólogos da saúde possam 
desempenhar plenamente o seu papel, contribuindo para o bem-estar físico, social e 
psicológico da criança. 
Começamos por situar a psicologia pediátrica como psicologia da saúde e, se 
compararmos com o que se passa entre a medicina e a pediatria (Teixeira Santos et 
al., 1987), poderemos dizer que a psicologia pediátrica é uma psicologia geral da 
saúde de um grupo etário. São apresentados os domínios que mais atenção têm 
obtido dos psicólogos que intervêm na saúde da criança, relativos à prevenção 
primária, abordagem da criança doente e investigação. 
1.1 Psicologia Da Saúde 
As doenças mais temidas nos países desenvolvidos, deixaram de ser as 
tradicionais, provocadas por agentes infecciosos, como a tuberculose, cólera, o 
sarampo etc., e passaram a ser as doenças relacionadas com os padrões de consumo 
e estilo de vida, como as doenças cardíacas, cancro, obesidade, diabetes, etc. Tal 
fato concorreu para o desenvolvimento de um modelo ecológico da saúde. De acordo 
com este modelo, a doença e a saúde são entendidas como o resultado da interação 
de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais. O chamado modelo psicossomático 
(Lipowski, 1977) ou modelo biopsicossocial (Matarazzo, 1980; 1982), traz implícito o 
reconhecimento da insuficiência do modelo tradicional biomédico e, por isso, tornou 
possível e entrada, nos ambientes relacionados com a doença, de outros especialistas 
além dos médicos e enfermeiras. Biólogos, matemáticos, psicólogos, sociólogos e 
educadores, tem vindo desde então a desempenhar papéis, nos hospitais e centros 
de saúde, que antes ou não existiam ou não se encontravam adequadamente 
desenvolvidos. 
O conceito de saúde, entendida então como um processo global, implicou uma 
abordagem multidisciplinar do doente e da doença. A doença é concebida como o 
resultado de fatores biológicos intrínsecos ao indivíduo que podem ser hereditários ou 
não e em qualquer dos casos são potenciados pelo comportamento de cada cidadão. 
O comportamento diz respeito à forma como o sujeito se relaciona com o ambiente e 
depende da aprendizagem, da personalidade e de outros aspectos socioculturais, dele 
decorrendo em parte a saúde ou a doença. Alguns comportamentos transformam-se 
ao longo do tempo em hábitos, cada um de nós dispõe de alguma liberdade para 
 
5 
decidir sobre os hábitos a adoptar que podem ter implicações na saúde e doença, por 
exemplo: evitar hábitos nocivos à saúde, manter ou desenvolver hábitos saudáveis ou 
comportamentos de risco (comportamento alimentar, comportamentos aditivos, 
prática de desporto, comportamento sexual, etc.). A relação entre comportamento e 
doença é mediatizada por alguns fatores. A forma como o sujeito reage ao stress 
psicossocial é um dos aspectos mais importantes. Está demonstrado o impacto 
negativo do stress, que atua como facilitador do desenvolvimento de algumas das 
chamadas doenças da “civilização”. Doenças cardiovasculares, doenças endócrinas, 
alguns tipos de cancro, etc., parecem ser fortemente determinadas pelos 
acontecimentos marcantes da vida do sujeito e pelo padrão de resposta a situações 
de stress e à frustração. Está também comprovado que a exposição a baixos níveis 
stress com muita frequência, ou a situações de stress agudo pode provocar 
imunodepressão tornando o sujeito mais susceptível de contaminação por diversos 
agentes patogénicos (Engel, 1977). Os mecanismos hipotéticos através dos quais o 
stress perturba o sistema imunológico poderão ser: 
1) provocando a libertação de hormônios na corrente sanguínea, ou 
2) afetando diretamente as estruturas do sistema nervoso que controlam o 
sistema imunitário. 
Quer um ou outro mecanismo poderão ser desencadeados por fatores 
psicossociais. As estratégias sistemáticas de que cada um dispõe para responder ao 
stress podem aumentar ou diminuir os efeitos deste, dependemde fatores de 
personalidade, de sentimentos de auto eficácia e da percepção do controle. 
Estratégias de coping são as formas como o sujeito lida com as situações 
estressantes, são particularmente importantes na situação de doença aguda e 
crônica, influenciam o modo como o sujeito se vai adaptar à nova situação, no sentido 
de ser um indivíduo psicológica e socialmente integrado e de prevenir recaídas, a 
aderência do doente ao tratamento e às recomendações médicas é então um fator 
determinante do prognóstico. 
O estilo de vida do indivíduo depende de aspectos da personalidade, de 
atitudes e hábitos adquiridos ao longo do seu desenvolvimento. Depende de valores 
e normas sociais típicas de uma dada cultura, traduz-se no conjunto de padrões de 
comportamento quotidiano, e pode ser considerado saudável ou de risco (Wankel & 
Sefton, 1994). Uma grande percentagem das mortes por doença e acidente 
provavelmente poderia ser evitada através de modificações no estilo de vida dos 
 
6 
cidadãos. O tipo e qualidade das ligações sociais estabelecidas pelo indivíduo, 
interações familiares e conjugais, amizades e relações com colegas, parece funcionar 
como moderador ou atenuador dos fatores de risco (Contrada, Baum, Glass, & Friend, 
1991). Os mecanismos pelos quais o comportamento se relaciona com a saúde 
podem ser resumidamente descritos em três categorias. O comportamento afeta a 
saúde através das alterações fisiológicas provocadas por acontecimentos ou fatores 
psicossociais. O comportamento consiste em ações que direta ou indiretamente 
influenciam o funcionamento biológico, tais como o tabagismo, consumo de álcool, 
drogas, ingestão de alimentos e medicamentos, comportamento sexual, exercício 
físico, etc. As respostas dos indivíduos doentes, que implicam reações aos sintomas, 
decisões a propósito dos tratamentos e a experiência de estar doente (Contrada, et 
al., 1991), constitui outra forma de associação entre comportamento e saúde. 
1.2 Psicologia Pediátrica 
 
Fonte:hcancer.com.br 
Desde a década de 70 que se tem vindo a propagar, nos E.U.A., a denominação 
de Psicologia Pediátrica aplicada ao exercício da psicologia nos serviços de saúde 
infantil, centros de saúde materno-infantil, serviços de pediatria, hospitais pediátricos, 
centros de desenvolvimento, etc. (Pires & Pires, 1995; Viana & Almeida, 1991, 1987; 
Tuma, 1982 ), tal como foi proposto por Wright (1967). 
Em 1987 o Executive Committee of the Society of Pediatric Psychology definiu 
a psicologia pediátrica como: “... an interdisciplinary field addressing the full range of 
 
7 
physical and mental development, health, and illness issues affecting children, 
adolescent, and families.” O mesmo órgão estabeleceu os critérios dos artigos a 
serem publicados no Journal of Pediatrics Psychology como relacionados com uma 
grande variedade de tópicos 
Roberts, McNeal, Randall e Roberts (1996) descrevem este campo como: uma 
amálgama de prática aplicada e pesquisa básica relacionada com os problemas 
médicos e psicológicos que afetam as crianças e famílias. 
Nestas definições realçamos alguns fatores que nos parecem determinantes 
para a caracterização do psicólogo pediátrico: o contexto e objetivos. O contexto de 
intervenção é o dos serviços médicos de saúde infantil, a atenção recai naturalmente 
na criança e no ambiente sócio afetivo envolvente. Quanto aos objetivos, nem sempre 
consistem em intervir na criança doente e família, pois um domínio ainda pouco 
explorado, mas, quanto aos profissionais, fundamental e prometedor é o da criança 
saudável em risco, ou seja, o objetivo situa-se no domínio da prevenção, e 
especialmente nos níveis primário e secundário. O modelo de intervenção e 
perspectivas teóricas são da teoria do comportamento (Tuma, 1982), psicologia do 
desenvolvimento (Maddux, Roberts, Sledden, & Wright, 1986) e psicologia social 
(Contrada, Baum, Glass, & Friend, 1991). 
As seguintes questões, formuladas por Lipowski (1977), traduzem as 
interrogações fundamentais da psicologia da saúde, e definem, de certo modo, os 
caminhos a desbravar: 
 - Porque é que uma pessoa (criança) responde a uma situação social particular 
e acontecimento de vida específico com um dado padrão de mudança fisiológica e 
psicológica? 
 - Que variáveis psicológicas podem ajudar a predizer quando um indivíduo se 
tornará doente e que doença irá contrair? 
 - Que tipo de situações sociais serão predisponentes mais prováveis de 
precipitar doença numa dada pessoa ou grupo? - Que comportamentos, atitudes, ou 
condições sociais predispõe mais facilmente à saúde ou ao coping adaptado à 
doença? 
Estas questões, ao definirem muito claramente o domínio e objetivos da 
psicologia da saúde em adultos ou crianças, estabelecem-nos concretamente dentro 
do que se designa de prevenção primária e secundária. As respostas implicariam 
diagnosticar os fatores psicossociais associados à ocorrência de algumas doenças 
 
8 
(etiologia), assim como a interação dos mecanismos fisiológicos e psicológicos 
(influência recíproca dos processos somáticos e psicológicos), identificação dos 
fatores que contribuem para que o doente lide eficazmente com a doença, de modo a 
ser facilitada a sua adaptação e reabilitação (reações à doença). Nesse caso poderão 
ser desenvolvidos e implementados métodos e procedimentos que possam contribuir 
para prevenir a doença, prevenir e atenuar as consequências das disfunções crônicas 
e morte prematura. Para Tuma (1982), este objetivo poderá ser atingido modificando 
comportamentos específicos, atitudes e respostas emocionais e melhorando o suporte 
social (e. g. através da intervenção comportamental). 
 
1.2.1.1 Prevenção Primária 
 
Por prevenção primária entende-se a exclusão ou modificação das causas de 
uma ou várias doenças de modo a impedir a sua ocorrência (Engstrom, 1984). 
Algumas áreas parecem prioritárias no que concerne à prevenção primária. A 
implementação de hábitos alimentares adequados e prevenção da obesidade (Dietz, 
1994; Johnson & Birch, 1994; Brwnell, 1982) de cuidados básicos de higiene, de 
prática de exercício físico (McAuley, 1994; Taylor & Calfas, 1994), medidas de 
segurança nos transportes e face ao risco de acidentes na estrada, na rua, em casa, 
edifícios públicos etc. (Cristoffel, Donovan et al., 1996), a prevenção do alcoolismo, 
toxicodependência e tabagismo, tem sido alvo, com maior ou menor intensidade, de 
campanhas realizadas pelas entidades governamentais que superintendem a Saúde 
ou o Ensino. Refira-se a título de exemplo que, a propósito do tabagismo nos jovens, 
a indústria de tabaco nos E.U.A. fatura cerca de 1.5 milhões de dólares por ano, em 
vendas ilegais a crianças e jovens, o logotipo da marca de cigarros Camel (o camelo 
Joe) é associado ao tabaco, e reconhecido por cerca de 90% das crianças de 6 anos, 
como acontece com rato Mickey (Roberts, 1994). O objetivo das ações de educação 
para a saúde é implementar e desenvolver atitudes que suportem ao longo do ciclo 
de vida comportamentos saudáveis, ou seja, estimular que desde muito cedo se 
estabeleça uma predisposição para que seja adaptado um estilo de vida saudável. 
Quer os comportamentos saudáveis quer o estado de saúde, relacionados 
entre si, parecem depender das atitudes face à saúde interiorizadas ao longo do 
processo de socialização (Bachanas & Roberts, 1995; Tinsley, 1992). Os pais e as 
suas atitudes e ações, em relação a si e aos filhos, constituem a mais importante fonte 
 
9 
das atitudes relativas à saúde. A escola, os colegas e os amigos, assim como os meios 
de comunicação e especialmente a televisão são fontes determinantes das atitudes 
infantis face à saúde, nomeadamente através da publicidade dos produtos 
alimentares. 
Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, a morbilidade no grupo etário 
dos adolescentes é atribuída esmagadoramente a fatores psicossociais (Levy, 1995; 
Jessor,1991), e a mortalidade por acidentes representa cerca de metade de toda a 
mortalidade nesta idade. Os problemas de saúde dos jovens agrupam-se 
maioritariamente nas seguintes categorias: conduta alimentar, insucesso e 
absentismo escolar, sexualidade (comportamento sexual, doenças sexualmente 
transmissíveis e gravidez), comportamentos aditivos e comportamentos de risco 
(Levy, 1995). Conflitos familiares, o comportamento da família, influência e 
comportamento dos amigos, são indicadores preditivos dos comportamentos e hábitos 
de saúde neste grupo (Sussman, Dent et al. 1995). Mesibov e Johnson (1982) 
estabeleceram três alvos principais a ser atingidos pelo esforço de prevenção do 
psicólogo pediátrico. Educação dos pais – este alvo seria alcançado principalmente 
através de duas estratégias. Sugerem a criação de grupos de pais, que receberiam 
informação, treino e apoio em áreas em que fossem considerados carentes. Propõem 
a contribuição dos psicólogos na edição de manuais e guias de apoio aos pais em 
área como princípios comportamentais e sua aplicação a problemas do quotidiano, 
desenvolvimento infantil normal e estratégias para lidar com problemas de 
desenvolvimento, e manuais sobre a comunicação e relações entre pais e filhos. 
Avaliação e intervenção precoce em populações de alto-risco, incluindo famílias 
socioeconomicamente desfavorecidas e crianças com problemas de 
desenvolvimento, crianças maltratadas, etc.. Por fim o desenvolvimento de 
competências sociais em crianças. O treino de competências visaria implementar 
estratégias de resolução de problemas, compreensão das perspectivas dos outros, e 
aptidões sociais. 
A intervenção psicológica nas Unidades de Neonatologia poderá ser um 
exemplo de um modelo que engloba as áreas referidas. Implica uma intervenção 
remediativa, que tem como objetivo ajudar os pais a lidar com as reações emocionais 
desencadeadas pelo nascimento de uma criança inesperadamente em risco de vida. 
Poderá ser um ponto de partida para uma abordagem educativa, que visa desenvolver 
competências que facilitem a adaptação destes pais às características inesperadas 
 
10 
do recém-nascido, e promover uma vinculação adequada e estimuladora do 
desenvolvimento da criança em risco. 
 
1.2.1.2 A Criança Doente 
 
A doença, especialmente se crónica e ameaçadora da vida, é provavelmente 
uma das maiores fontes de stress para a criança, com implicações por vezes 
devastadoras no seu desenvolvimento psicossocial (Perrin & Mclean, 1988; Willis, 
Elliot & Jay, 1982). Apesar de tudo, a doença aguda, ou com poucas implicações no 
dia a dia do doente pode, quando vivida num ambiente familiar eficaz e 
adequadamente tratada do ponto de vista físico e psicológico, constituir uma 
oportunidade única para o desenvolvimento de aptidões de coping, de 
autoconhecimento e de competências sociais, e mesmo de desenvolvimento 
emocional e cognitivo (Crisp et al., 1996; Parmelee, 1986). 
O tipo de intervenção realizada no internamento de crianças depende das 
características da criança como a personalidade, o meio social envolvente, 
características familiares, idade, sexo, tipo de patologia e modo como a criança reage 
à doença. A idade e personalidade da criança, as características da família, são 
determinantes no modo como a criança entende e maneja a doença, e se adapta à 
situação, de maneira a concretizar um estilo de vida adequado e realista que facilite a 
sua reintegração em casa, na escola, no grupo de amigos etc. No que diz respeito à 
doença é necessário ter em consideração se é uma situação aguda, crónica, se é 
incapacitante; que tipos de tratamentos são necessários, tratamentos agressivos, 
dolorosos, que implicam idas frequentes ao hospital e por isso interrupções das aulas, 
etc.; qual a qualidade de vida possível para a criança, e qual o prognóstico (Almeida 
& Viana, 1990). 
Os fatores referidos podem influenciar o desenvolvimento da criança e podem 
ter implicações na sua personalidade. A interação de fatores psicológicos ou 
psicossociais e funcionamento fisiológico encontra-se largamente demonstrada, 
nomeadamente no caso da criança com doença crónica (Ungerer et al., 1988; 
Achterberg-Lawlis, 1982; Hamburg & Inoff, 1982; Engel, 1977). A relação entre o curso 
da doença e os aspectos psicossociais poderá ser em parte explicada por conceitos 
como locus de control, e reatividade que se refere à intensidade com que o sistema 
 
11 
fisiológico de um indivíduo reage ao stress psicossocial, e aderência aos tratamentos 
e recomendações. 
 
1.2.1.3 Criança doente e influência da família 
 
Como é sabido a família tem uma influência determinante na criança, e 
especialmente na criança doente. Silver et al. (1996) referem a importância dos fatores 
relacionados com a estrutura familiar, como moderadores dos efeitos da doença na 
criança, chamam a atenção para a influência negativa da ausência de outros adultos, 
para além da mãe da criança. 
A propósito da interação de fatores familiares com o curso da doença, Minuchin 
e col. propuseram um modelo da família psicossomática, que pretendia explicar o 
modo como o sistema familiar contribuía para desencadear, e afetava o curso de uma 
determinada patologia. Características da estrutura e interação familiar relacionadas 
com a coesão, a aglutinação, e relacionadas com a adaptabilidade, isto é a rigidez, e 
ainda a superproteção, deficiente capacidade para resolver conflitos, e envolvimento 
da criança doente nos conflitos parentais, contribuiriam eventualmente para 
desencadear uma patologia como diabetes ou asma, ou outra, no caso de existir uma 
fragilidade biológica predisponente, ou contribuiriam para uma deficiente adaptação 
da criança doente (Sargent, 1983; Minuchin et al., 1975). Olson e col. desenvolveram 
um método de avaliação, que permite operacionalizar os conceitos coesão e 
adaptabilidade através dos itens de uma escala (FACES) (Olson et al., 1985). Este 
método possibilita a comparação estatística dos dados transmitidos por diversas 
famílias, e tem inspirado diversas investigações sobre a criança com doença crónica 
e família (Overstreet, et al., 1995; Viana, 1992; Chaney & Peterson, 1989, Gustafsson, 
Kjellman et al., 1987; Gustafsson, Cederblad et al., 1987). 
Recentemente Wood propôs um modelo familiar que, ultrapassando algumas 
imperfeições da perspectiva de Minuchin (família psicossomática), nomeadamente a 
incapacidade em integrar aspectos do nível psicológico e fisiológico no nível sistêmico 
e familiar, permite compreender as relações entre as variáveis familiares sistêmicas, 
a reatividade comportamental do indivíduo doente e a doença. Este foi designado 
Modelo Biocomportamental da Doença Pediátrica (Wood, 1993). O novo modelo 
retém do anterior a abordagem da família como um sistema e, particularmente 
importante no caso do doente- -criança, o pressuposto da relação entre o 
 
12 
funcionamento do indivíduo e padrões de interação interpessoal, acrescenta o 
princípio de que estes padrões interpessoais interagem com processos 
biocomportamentais e inclui um nível individual de funcionamento psicológico e 
fisiológico. Trata-se por isso de um novo paradigma, biopsicossocial, no qual o nível 
biológico corresponde ao processo fisiológico relativo à doença da criança, o nível 
psicológico corresponde à reatividade biocomportamental da criança associada esta 
à vulnerabilidade à doença, e o nível social corresponde aos padrões de interação 
familiar. Neste último patamar estão incluídos alguns conceitos com interpretação 
semelhante à de outros do modelo da “família psicossomática” tais como: proximidade 
que se refere à proximidade emocional entre os membros da família, com 
repercussões na autonomia, na privacidade e definição dos espaços familiares; 
hierarquia geracional, a capacidade dos pais se aliarem de modo a cumprir os papéis 
parentais, fornecendo apoio, regras e disciplinaaos filhos; responsividade, definida 
como o grau ou intensidade com que as pessoas reagem emocional comportamental 
e fisiologicamente umas às outras. Todos estes incluídos no conceito de aglutinação. 
Os conceitos de triangulação e relações parentais, de certa forma implícitos no 
conceito de “triangulação” da criança, referem-se ao grau de envolvimento da criança 
nos conflitos e problemas conjugais. De acordo com o modelo, algumas famílias mal 
adaptadas tenderão a responder às melhoras com diminuição da responsividade e da 
triangulação da criança doente, e redução da disfunção na relação parental. Outras 
famílias mal adaptadas tenderão a reagir às melhoras reduzindo a intensidade da 
triangulação, o que deverá provocar aumento da disfunção parental. Em qualquer 
família, o agravamento da doença tenderá a aumentar a responsividade, a 
triangulação e o stress na relação parental. O impacto do curso da doença na 
responsividade, na triangulação e na relação parental será atenuado ou incrementado 
conforme a família apresenta um nível baixo ou elevado de proximidade, e conforme 
o nível de hierarquia é moderado ou extremo (forte ou fraco) (Wood, 1993). 
 
1.2.1.4 Investigação em Psicologia Pediátrica 
 
Do que foi dito e da análise do que existe publicado, ressalta a grande 
importância atribuída à investigação em psicologia pediátrica. Este parece ser um 
aspecto privilegiado pelos psicólogos que se têm dedicado a este campo e, para 
alguns dos autores citados, é um traço de identidade da psicologia da saúde face a 
 
13 
outros ramos da psicologia. Roberts e col. comentam que muito da pesquisa em 
psicologia pediátrica tem pouca relevância para a saúde infantil, e que a investigação 
neste domínio deve ser preferencialmente aplicada e de interesse prático para os 
outros especialista da saúde (Roberts, McNeal, Randall, & Roberts, 1996). Ou seja, a 
investigação deve contribuir para esclarecer processos e problemas do dia a dia dos 
médicos e outros especialistas da saúde infantil, e dar respostas que possam ser de 
imediato utilizadas com eficácia. A pesquisa teórica e acadêmica, desligada da prática 
dos centros de saúde infantil, é considerada inadequada e por isso desencorajada. 
Lemanek (1994), considerando a pesquisa em torno da doença e doente crônicos, 
afirma que o foco da investigação está direcionado atualmente para a identificação 
das variáveis que melhor predizem o funcionamento adaptado ou mal adaptado à 
doença quando ela se manifesta e no futuro. Ainda para esta autora, é necessário 
dirigir a pesquisa para a identificação dos estádios de desenvolvimento em que as 
crianças, adolescentes e suas famílias, estão mais expostos ao risco de desenvolver 
problemas psicológicos específicos, ou estão mais resistentes ao stress. 
A propósito da investigação surge o problema dos métodos e técnicas de 
avaliação. São raros os instrumentos desenvolvidos especificamente para populações 
pediátricas, ou que tomem em consideração as características das populações alvo 
(La Greca, 1994). Assim os esforços dos psicólogos deverão ser direcionados para a 
criação de instrumentos adequados aos grupos em causa, tendo em conta, no 
entanto, que uma especialização extrema poderá prejudicar a generalização das 
conclusões (Dongen-Melman et al., 1996; Drotar, 1994a). Embora sejam necessários 
instrumentos específicos de avaliação psicológica de diferentes grupos de doentes 
crônicos (crianças diabéticas, reumáticas, leucêmicas, asmáticas, obesas, etc., para 
só citar os mais significativos em número), estes instrumentos terão que permitir a 
comparação dos resultados entre diversos grupos e subgrupos. Por exemplo 
comparar crianças asmáticas com crianças diabéticas, ou diabéticos mal controlados 
com diabéticos bem controlados. Comparar também os resultados dos grupos de 
crianças saudáveis com os resultados dos grupos de crianças doentes, sejam 
crianças asmáticas com crianças saudáveis, por exemplo. A avaliação no contexto 
pediátrico deve ser entendida como um processo e nunca como uma meta nem 
diagnóstico psicológico. La Greca e Lemanek (1996) consideram que, ao longo do 
processo de avaliação, é fundamental responder, em diferentes momentos, às 
questões sobre quem vai ser avaliado, ou seja quais as características da amostra ou 
 
14 
indivíduo (e.g., que idades e que problemas são apresentados), quais os momentos 
adequados e quais os instrumentos que devem ser utilizados, tendo em conta as suas 
características psicométricas, e se são mais adequados instrumentos genéricos ou 
específicos. Spieth e Harris (1996) consideram fundamental a utilização de 
instrumentos específicos na avaliação de fatores como a qualidade de vida e estado 
de saúde de crianças com doença crónica, uma vez que a comparação destas com 
crianças saudáveis não adequada. 
As áreas de pesquisa consideradas mais importantes, por psicólogos da saúde 
infantil, foram a doença crônica, adesão e colaboração com o tratamento, prevenção 
primária, crianças em risco, os papéis relacionados com a doença na criança, eficácia 
do tratamento, neuropsicologia, e estudos de custo-benefício (Walker, 1988). Para 
Routh (1982) os aspectos a investigar, característicos do contexto médico, são os 
relacionados com o desenvolvimento e comportamento, prevenção primária e 
intervenção precoce, técnicas comportamentais de tratamento, acompanhamento dos 
pais e família, aspectos psicológicos da saúde e doença infantil, maus-tratos, 
acidentes, implicações psicológicas dos tratamentos médicos e internação, doenças 
crônicas e que ameaçam a sobrevivência. 
2 PSICOTERAPIA INFANTIL: COMO FUNCIONA E QUANDO É 
RECOMENDADO. 
 
Fonte:i0.wp.com 
 
15 
Ser criança é mergulhar em um mundo de descobertas, de transformações e 
contato direto com o desconhecido. Para cada fase da vida há um cuidado específico, 
e esse cuidado se intensifica quando falamos sobre a infância. 
A psicóloga Aline Lisboa explica que é nessa fase que a criatividade se 
expressa com facilidade, que os primeiros afetos vão proporcionar acolhimento para 
encorajar a vida no futuro e que os monstros imaginários podem provocar mudança 
no comportamento e alimentar medos fantasiosos. 
Quando a bagunça e o barulho dão espaço ao silêncio e ao isolamento, 
causando mudança no comportamento, significa que é um bom momento de cuidar 
da saúde mental dos pequenos. 
Esse cuidado na infância é de grande importância para que não tome 
proporções maiores, impedindo que a as fases seguintes sejam prejudicadas. Cuidar 
da saúde mental das crianças é também exercer a função de prevenção da saúde 
mental do adolescente, tornando um adulto mais consciente de seus sentimentos. 
2.1 O que é a Psicoterapia Infantil? 
A psicoterapia infantil é o cuidado e a atenção com a saúde mental da criança. 
É um espaço potencial para acolhimento das angústias, medos, inseguranças e um 
momento de intervenções com os pais. 
 
Com o intuito de promover uma infância saudável a psicoterapia infantil utiliza 
a Ludoterapia para caminhar rumo ao bem-estar familiar, a prevenção e solução de 
conflitos. 
2.2 Qual o objetivo da Psicoterapia Infantil? 
O objetivo é auxiliar na expressão das emoções de cada criança, pois através 
da brincadeira ela pode expandir seus sentimentos acumulados de tensão, frustração, 
insegurança, agressividade, medo, espanto, confusão e ressignificar os eventos 
traumatizantes. 
Desta forma, o terapeuta exerce a função de facilitador, sendo capaz de 
identificar os conflitos e auxiliar na busca de melhores alternativas para lidar com eles, 
ao mesmo tempo em que, orienta os pais a como intervir diante dessas vivências. 
https://vittude.com/psicologo/aline-lisboa-farias
 
16 
2.3 Como funciona a Psicoterapia Infantil? 
As primeiras sessões são realizadas com os pais, ou quem exerce essa função. 
O psicólogo realiza entrevistas iniciais para reunir informações sobre a históriada 
criança e para conhecer a dinâmica da família em que a criança está inserida. Depois, 
o psicólogo tem maiores condições de entender a queixa e avaliar os objetivos do 
trabalho. 
As sessões seguintes são realizadas apenas com a criança. Sabemos que as 
crianças não expressam seus sentimentos e emoções como fazem os adultos, 
verbalizam menos e tem outras formas de comunicações, por isso, o atendimento a 
ela é feito de forma lúdica, ou seja, “brincando” (desenhos, jogos, massinhas, etc.). 
É através do brincar que a criança expressará seu mundo simbólico, e com o 
auxílio do terapeuta encontrará recursos de enfrentamento para se posicionar diante 
do mundo, mas desta vez, de forma saudável e sem prejuízos no seu dia a dia. 
Encontros periódicos com os pais serão importantes ao longo da psicoterapia. 
A participação dos pais neste processo é imprescindível para sua evolução, muitas 
vezes, se faz necessário solicitar aos pais informações, como também, oferecer-lhes 
auxílio para o desenvolvimento satisfatório do processo psicoterapêutico. A parceria 
com a escola também é importante, já que, é no ambiente escolar que a criança passa 
boa parte do tempo. 
2.4 Como perceber que a criança precisa de psicoterapia? 
São muitos os motivos que fazem uma pessoa necessitar de psicoterapia, 
porém, isso pode ser percebido quando você sentir que a criança está passando por 
“alguma dificuldade” que nem ele e nem os responsáveis, têm conseguido lidar ou 
entender tais questões. 
Outras vezes, o encaminhamento à psicoterapia pode ser feito por outros 
profissionais da área da saúde como pediatra, psiquiatra, fisiologista, fisioterapeuta, 
neurologista, entre outros, ou pela escola. 
Muitos pais têm dúvidas sobre quando buscar ajuda para os filhos e acabam 
inseguros por desinformação. Dificuldades no relacionamento com as pessoas, na 
atenção ou aprendizado são aspectos relevantes para buscar auxílio de um psicólogo, 
 
17 
outras queixas comuns que indicam a necessidade de acompanhamento psicológico 
são: 
 
 Choro excessivo 
 Irritabilidade 
 Timidez excessiva 
 Birras e malcriações 
 Isolamento 
 Agressividade 
 Medo de ficar em determinado ambiente sozinho 
 Ciúmes após a chegada do (a) irmão (a) 
 Necessidade extrema de proximidade com os pais 
 Enurese e encoprese 
 Dificuldades escolares 
 Recusar ir à escola de forma repentina 
 Demora a falar ou andar 
 Separação dos Pais 
 Perda de algum familiar 
 Mudanças no comportamento em geral 
2.5 Benefícios da Psicoterapia Infantil 
Através do brincar a criança encontrará com o auxílio do terapeuta recursos de 
enfrentamento e expressão dos sentimentos, permitindo a resolução de conflitos 
internos e aliviando os sintomas. O acompanhamento psicológico na infância promove 
uma vida emocional equilibrada, já que é ensinada de forma lúdica a importância de 
compreender as emoções para enfrentar os conflitos de forma saudável. 
Os benefícios também são voltados aos pais, já que, também é trabalhado as 
necessidades de se afastarem da ideia de terem que ser perfeitos em suas funções. 
É importante lembrar que, a busca de Psicoterapia Infantil não significa que os 
pais não estão sendo bons suficientes, mas é preciso ressaltar que filhos não vem 
com manual de instrução, e que as falhas vão existir, mesmo quando os pais estão 
fazendo de tudo para não falhar. 
 
18 
Muitos se sentem culpados por não conseguir dar o suporte necessário e 
resolucionar as dificuldades que a criança está enfrentando. Quanto mais os pais 
perceberem o psicólogo como companheiro, mais os ganhos serão alcançados para 
o bem-estar da criança. 
Os pais não podem ter medo de pedir ajuda, pois em nenhum momento serão 
julgados, o psicoterapeuta os receberá com o mesmo acolhimento dado a criança. 
Quanto mais os pais compreenderem o que é a psicologia, e o quanto ela está 
disponível para o bem-estar da dinâmica familiar, maior é a participação dos 
integrantes e mais conquistas o paciente apresentará. 
3 O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO INFANTIL E O TRABALHO DA 
PSICOLOGIA EM UNIDADES DE PEDIATRIA 
 
Fonte:br.guiainfantil.com 
Para descrever o cenário da hospitalização pediátrica, considerou-se a área de 
investigação e intervenção denominada Psicologia da Saúde Infantil, a qual está 
“relacionada com os aspectos psicológicos da saúde e das doenças das crianças” 
(Melamed & Matthews, 1986; 1988, citado por Trindade & Teixeira, 1998). 
Para tanto, entende-se que “a abordagem desenvolvimentista e o papel da 
família assumem particular importância” (Trindade & Teixeira, 1998). 
A expressão Psicologia da Saúde Infantil foi considerada mais apropriada do 
que o termo Psicologia Pediátrica, o qual foi cunhado pela APA em 1968. Essa opção 
 
19 
justifica-se pelo fato de que a terminologia Psicologia Pediátrica possui um caráter de 
subordinação da Psicologia “a uma especialidade médica”, conforme consideram 
Trindade & Teixeira (1998). 
No presente estudo, Thainá H Moreira considera- que crianças são pessoas 
com até 12 anos de idade incompletos e adolescentes aquelas entre doze e dezoito 
anos de idade, como definido no Art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA) (Lei nº 8.069 de 13 de julho 1990). Entendidos como sujeitos de direito, o ECA 
instituiu que o SUS seja o provedor do direito à vida e à saúde de crianças e 
adolescentes. Portanto, sua atuação deverá ocorrer de forma integral, universal e 
igualitária, sendo prioridade nas políticas de saúde e nos três níveis de atenção: “essa 
tarefa exige o desenvolvimento de ações de promoção da saúde, a prevenção de 
doenças, e agravos, a atenção humanizada e o trabalho em rede” (Ministério da 
Saúde, 2012b, p. 7). 
Para compreender a faixa etária estabelecida pelo ECA para as crianças, é 
preciso considerar as modificações que a terminologia infância sofreu ao longo da 
história da humanidade ocidental. Segundo Ariès (1981), verifica-se que, inicialmente, 
não havia um estágio específico do desenvolvimento humano com tal denominação e 
percebe-se que, pela iconografia, a criança era representada como a miniatura de um 
adulto, estando expostas a todos os elementos da vida adulta. 
Na modernidade, entre o final do século XIX e o começo do século XX, a 
infância adquiriu valor moral e social, passando a ser “propriedade” do estado, o qual 
garantia a proteção à criança a partir da lei (Ariès, 1981; Postman, 2002). Nas 
ciências, o apogeu da discussão sobre infância ocorreu no pós-iluminismo a partir de 
variadas publicações de estudiosos, os quais definiam e caracterizavam esse conceito 
da sua forma, dentre eles Freud e Piaget (Postman, 2002). 
Atualmente, a infância é caracterizada como um estágio específico do 
desenvolvimento humano, o qual busca compreender as fases em que a criança se 
desenvolve a partir de três grandes domínios que constituem o processo unificado do 
desenvolvimento e que estão interligados entre si, sendo eles: físico, cognitivo e 
psicossocial (Papalia, Olds & Feldman, 2006). As autoras definem os três grandes 
domínios como: 
• Desenvolvimento físico: o crescimento do corpo e do cérebro, das 
capacidades sensórias, das habilidades motoras e da saúde. 
 
20 
• Desenvolvimento cognitivo: a mudança e a estabilidade nas capacidades 
mentais, como aprendizagem, memória, linguagem, pensamento, julgamento moral e 
criatividade. 
• Desenvolvimento psicossocial: a mudança e a estabilidade na personalidade 
e nos relacionamentos sociais. 
Segundo Papalia et al. (2006), para compreender as diferenças entre as 
crianças, consideram-se as seguintes influências em seu desenvolvimento: 
hereditariedade (características inatas herdadas pelos pais biológicos); ambiente 
(família nuclear e família extensa, condições socioeconômicas, etnicidade e cultura); 
maturação do corpo e do cérebro (o que vai influenciar para o comportamento precoce 
ou não: na hereditariedade, assíndromes genéticas, e, no meio ambiente, os 
estímulos recebidos). 
Porém, é preciso considerar se as influências são ou não são normativas e se 
o evento é positivo ou negativo. Entende-se que normativo é a “característica de um 
evento que ocorre de modo semelhante para a maioria das pessoas de um grupo”, 
enquanto que influências não normativas “são eventos incomuns que têm grande 
impacto sobre vidas individuais” (Papalia et al., 2006). O presente estudo trabalha com 
a perspectiva de influências no desenvolvimento infantil consideradas não-normativas 
e atípicas, pois trata-se da experiência de adoecimento e do processo de 
hospitalização infantil. 
O adoecimento, por si só, mobiliza o enfermo sobremaneira, porém nem 
sempre é compreendida “como uma forma de mensagem social, física e psíquica. (...) 
muitas vezes a doença é decorrente do relacionamento interpessoal comprometido 
na família e de comportamentos, estados alterados ou acontecimentos vinculados ao 
aspecto mental do indivíduo” (Chiattone, 2003, p. 25). É preciso compreender a dor 
física e a dor psíquica como indissociáveis, “sendo que a dor psíquica equivaleria à 
expressão desta, à representação metafórica da experiência dolorosa” (Freud, citado 
por Britto, 2010, p. 31). 
O adoecimento se dá quando o sujeito humano, carregado de subjetividade, 
esbarra em um “real”, de natureza patológica, denominado “doença”, presente em seu 
próprio corpo, produzindo uma infinidade de aspectos psicológicos que podem se 
evidenciar no paciente, na família, ou na equipe de profissionais (Simonetti, 2009). No 
corte, muitas vezes abrupto, entre saúde e doença, imaginário e real do corpo, o 
sujeito se vê forçado a destituir o seu ancoramento significante, a desapegar-se, a 
 
21 
buscar nos bordejamentos, novas possibilidades de articulação da cadeia significante, 
numa tentativa de ressignificar a experiência dolorosa da perda, ruptura e trauma 
(Britto, 2010). 
Quando se trata de criança, a ressalva é ainda maior, pois se entende que ela 
não está em pleno desenvolvimento físico, mental e social. Corroborando com essa 
noção, Chiattone (2003) relata que a mobilização é mais significativa nas crianças, 
pois a atinge por completo, comprometendo seu desenvolvimento emocional. 
Segundo Lima (2004, p. 83), a explicação é devido ao “aparato psíquico ainda imaturo 
para lidar com as adversidades vividas em um contexto de adoecimento e internação”, 
enquanto para as teorias do comportamento, entende-se que “as crianças têm um 
repertório limitado de estratégias devido ao seu estágio de desenvolvimento e a sua 
pouca idade” (Trianes, 2002, citado por Castro, 2007). 
Distanciados da percepção da incompletude de algo, as crianças são 
ensinadas a viver “a sustentação imaginária, ilusória, de saúde perfeita, de certezas e 
garantias no corpo e nos laços afetivos” (Britto, 2010, p. 30). O adoecimento, portanto, 
gera angústias significativas e, quando combinada com a hospitalização, abre 
possibilidades para o aumento das sensações dolorosas e da provocação de outras 
emoções (Nigro, 2004). 
A doença faz surgir na vida da criança um novo contexto, que exige a 
mobilização de recursos internos para a adaptação necessária à situação imposta 
pela condição do adoecimento. Novas relações se estabelecem, e o médico e o 
hospital passam a fazer parte desse novo contexto (Lima, 2004) 
A doença e a hospitalização do sujeito criança repercutem na posição subjetiva 
de cada membro da rede familiar, a qual está envolta no desejo parental instável 
(Britto, 2010). Nas crianças, em se tratando de hospitalização, existem inúmeras 
consequências nocivas, sendo elas: privação materna (sensação de abandono com 
possíveis consequências emocionais, físicas, sociais e intelectuais), medo do 
desconhecido, medo da morte, estresse, ansiedade, sensação de punição/culpa, 
limitação de atividades e estimulação, aparecimento ou intensificação do sofrimento 
físico, despersonalização (Britto, 2010; Chiattone, 2003; Lewis & Kellet, citado por 
Castro, 2007; Nigro, 2004). 
Segundo Chiattone (2003) e Trinca (1987, citado por Lima, 2004), a essas 
consequências nocivas da hospitalização da criança podem incutir diversos aspectos, 
os quais são: 
 
22 
• Idade (consenso entre experiência clínica e estudos na área: faixa etária 
entre os dois e os cinco anos de idade é a mais crítica, pois elas têm poucos recursos 
para lidar com a situação de doença/hospitalização que elas já conseguem perceber), 
• Situação psicoafetiva (quando adoece e é hospitalizada), 
• Relacionamento prévio com a mãe e/ou substituta (experiência clínica: 
crianças com relacionamento seguro sofrem menos durante a hospitalização e 
apresentam poucas sequelas negativas no pós-internação), 
• Personalidade (como se caracteriza essa personalidade; como foi o 
desenvolvimento da criança antes da doença e da hospitalização; como se caracteriza 
seu relacionamento interpessoal), 
• Capacidade de adaptação (diante de novas situações, desconhecidas e 
ameaçadoras), atitudes da equipe hospitalar (sem flexibilidade e carinho), 
• Rotinas hospitalares (rigidez profissional, desconsideração dos aspectos 
biopsicossociais), 
• Experiências vividas durante a hospitalização (medidas terapêuticas 
agressivas, dor, separação materna), 
• Duração da hospitalização (aumento de sintomas ansiosos e depressivos 
aproximadamente com 14 dias), 
• Tipo de internação (emergência ou ambulatório) e 
• Natureza da doença (patologia terminal ou patologia simples). 
 
Sabendo da existência desses agressores, algumas medidas preventivas e 
humanizadoras podem ser tomadas a fim de reduzir o sofrimento causado pela 
hospitalização. Nigro (2004) aponta exemplos que estão no cotidiano da prática 
hospitalar, como chamar o paciente e o acompanhante pelo nome, bem como o 
reconhecimento dos profissionais por parte do paciente e, “no caso do psicólogo 
clínico hospitalar, disponibilizar-se para a escuta, tentando minimizar o sofrimento e a 
angústia do paciente e da sua família” (Nigro, 2004). 
Uma medida preventiva recorrente é a preparação da criança para a 
hospitalização, a qual deve ser realizada pelos pais, os quais serão instruídos para o 
bom desempenho dessa função. O objetivo é ambientar a criança quanto à estrutura 
e rotina da enfermaria, bem como as pessoas que a frequentam, além do caráter 
temporário ou não da internação (Chiattone, 2003). A equipe precisa compreender a 
necessidade do “suporte adequado à díade criança-família” (Lima, 2004). 
 
23 
É preciso ressaltar que a hospitalização pode gerar sequelas graves e ser um 
evento traumático, quando agravado por medidas terapêuticas agressivas, pelo 
ambiente ameaçador, por uma equipe de saúde rígida, por sofrimento, dor e pela 
imposição da separação da mãe (Chiattone, 2003). 
O recurso interpessoal mais importante que as crianças podem ter frente às 
situações de doença, dor e hospitalização é o apego seguro aos seus cuidadores 
(Trianes, 2002). São eles que vão ajudá-la a enfrentar as dificuldades e a modificar 
seu estilo de vida, especialmente quando a criança é pequena. Com o passar do 
tempo, as crianças assumem, pouco a pouco, sua própria capacidade de lidar com a 
situação (Castro, 2007, p. 402). 
Por isso, além de ambientar a criança, é necessário estabelecer um diálogo 
recorrente quanto sua condição de saúde, uma vez que ela é capaz de captar 
fragmentos nos olhares, gestos e falas codificadas, os quais ela utiliza para conseguir 
entender o que lhe acontece. A ausência de preparação, informação e explicação para 
os procedimentos médicos que precisa passar são elementos que contribuem para a 
criança fantasiar ainda mais sobre sua condição e sobre os medos do que lhe possa 
acontecer (Britto, 2010). 
A criança como um sujeito de direito deve saber sobre sua condição de saúde 
e sobre sua doença, o que contribui para que ele consigaorganizar seus sentimentos 
e emoções, a partir recursos internos para sua adaptação ou não à situação (Lima, 
2004; Trianes, 2002, citado por Castro, 2007). 
Diante desses temores, aqueles que estão ao redor da criança (profissionais 
de saúde e familiares) tendem a reprimir suas emoções (afetos como medo, raiva e 
tristeza) sem se dar conta de que isso pode levar às manifestações sintomáticas e 
psicossomáticas. Se a postura desses mesmos cuidadores fosse a de permitir a 
criança trazer suas angústias e seus anseios, ou mesmo de manusear os 
instrumentos e aparelhos médicos, com os quais passará pelo procedimento, a 
possibilidade dela se tranquilizar é maior, além de passar a criar um laço social pelo 
discurso com a equipe de saúde (Britto, 2010). 
É inquestionável que o diálogo com a criança deva ser franco e sincero, sem 
ludibriar com mentiras. Quando a criança percebe que foi enganada, perde a 
confiança naquele de quem recebe os cuidados o que pode torná-la resistente aos 
atos médicos posteriores (Britto, 2010; Chiattone, 2003). 
 
24 
O que se espera, portanto, é a honestidade dos pais, que devem conversar 
com ela sobre o que sabem, explicando-lhe o que vai ser feito, para que vai ser feito, 
de forma clara e em uma linguagem compreensível, ainda que a internação seja de 
emergência (Britto, 2010, p. 35). 
Outras medidas preventivas e humanizadoras são: recepção do paciente e 
familiar ao processo de hospitalização (preparação da equipe para acolher e 
orientação clara do funcionamento da enfermaria) prazo de internação (quando 
prolongado, utilizar licenças temporárias), direito da criança em receber visitas e 
preparo da alta (evita reinternações, abandono do tratamento e prejuízos à saúde 
física e mental das crianças) (Chiattone, 2003). 
Faz-se necessário salientar que o direito da criança em receber visitas é 
diferente do direto da criança à acompanhante. O Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA) estabelece que a criança tenha o direito de ser acompanhada em 
tempo integral durante a internação. É evidente a redução dos efeitos traumáticos 
causados pelo distanciamento da criança do que lhe é conhecido e do impacto 
emocional da hospitalização quando na presença de seus pais (Britto, 2010; Crepaldi 
& Hackbarth, 2002, citado por Broering & Crepaldi, 2008). 
Entendida como um ser único, cada criança terá um posicionamento subjetivo 
frente à experiência de internação, “expressando diferentes conteúdos emocionais” 
(Mondolfi & Salmem, 1993, citado por Broering & Crepaldi, 2008). E é oferecendo esse 
espaço subjetivo que os profissionais de Psicologia encontram a possibilidade de 
atuar, acolhendo as demandas, buscando compreender a história da criança até 
aquele momento e oferecendo uma escuta que permita o próprio sujeito encontrar 
outras saídas para suas angústias e sofrimento (Britto, 2010). O objetivo da Psicologia 
nesse contexto é “a diminuição do sofrimento inerente ao processo de hospitalização 
e doença” (Chiattone, 2003, p.55). 
Entende-se que trabalhar na pediatria é “objetivar a que a criança e a família 
sejam elementos ativos no processo de hospitalização e doença, recebendo, é claro, 
um suporte verdadeiro por parte da equipe de saúde” (Chiattone, 2003, p.55). Para a 
criança, informar sobre questões médicas possibilita que ela adquira e amplie seu 
repertório de comportamentos mais ativo em relação ao ambiente hospitalar (Costa, 
Coutinho & Ferreira, 2006, citado por Broering & Crepaldi, 2008). 
Para tanto, o psicólogo possui diversos instrumentos de trabalho, os quais 
podem ser utilizados durante as intervenções, mas a escolha por um ou por outro 
 
25 
dependerá do estado em que se encontra a criança no quadro clínico de sua doença. 
Chiattone (2003) afirma que “a atuação junto aos pacientes é operacionalizada 
através de estimulação, terapia através do brinquedo e terapia de apoio (individual ou 
em grupo) ”. O fato é que, “no hospital, faz-se necessário instituir um espaço para o 
brincar” (Britto, 2010, p. 47). E é nesse brincar que “muitas vezes, a criança nos 
surpreende com a sua capacidade para enfrentar as adversidades, o inusitado, a 
doença e a dor” (Britto, 2010, p. 48). 
Broering & Crepaldi (2008), ao realizar uma revisão crítica literária quanto às 
intervenções com crianças no contexto hospitalar, levantam informações 
interessantes como a necessidade de informação à criança do que está acontecendo 
com ela e dos diversos procedimentos médicos que o tratamento do seu quadro clínico 
exige. Os estudos descritos apontam inúmeras maneiras de intervenção para 
promover a preparação psicológica para os procedimentos médicos como um todo, 
por exemplo, punções venosas, injeções, administração de medicamentos, cirurgias 
etc. São “procedimentos que costumam gerar dor e ansiedade e, embora necessários, 
adquirem caráter ameaçador, agressivo e invasivo” (Uman, Chambers, McGrath & 
Kisely, 2008, citado por Broering & Crepaldi, 2008, p. 62). 
O planejamento da intervenção requer a consideração de fatores importantes 
para serem levantados com a família, os quais embasarão a “análise acurada da 
criança e de suas condições psicossociais” (Le Roy & cols, 2003, citado por Broering 
& Crepaldi, 2008, p. 64). São eles: 
(...) o nível de desenvolvimento da criança e seu estilo de enfrentamento; a 
compreensão da criança e da família sobre sua condição médica e sobre o 
procedimento médico a ser realizado; experiência prévia de hospitalização e 
particularmente de situações adversas; sintomas emocionais, cognitivos e físicos; 
medos em geral e de procedimentos específicos; composição familiar, incluindo 
fatores linguísticos, culturais e religiosos; o método mais apropriado para lhes 
transmitir as informações (verbal, visual, escrita e sensorial); outros estressores 
familiares como os financeiros, sociais, outros eventuais problemas de saúde; além 
do modo segundo o qual os familiares tomam decisões (Le Roy & cols, 2003, citado 
por Broering & Crepaldi, 2008). 
As intervenções são diversas, mas percebe-se que recorrentemente tem-se a 
descrição daquelas utilizadas pela teoria cognitivo comportamental, como “exercícios 
 
26 
de respiração, de imaginação, modelação, reforçamento e ensaio comportamental” 
(Broering & Crepaldi, 2008, p. 64). 
Porém, existem outras possibilidades como a representação do próprio corpo 
pela arte ou pelo desenho infantil, “pois transmite de forma simbólica essa relação do 
sujeito com os outros e com seu mundo interno” (Nigro, 2004, p. 66). 
Independente da intervenção utilizada, a Psicologia clínica hospitalar possibilita 
o lugar do sujeito por trás da doença ao funcionar como interlocutora dele a partir da 
rede de comunicação estabelecida por uma escuta significativa. Esse lugar permite 
ao sujeito que adoece ou ao seu familiar diminuir o sentimento de despersonalização 
(Nigro, 2004). 
Tanto a criança quanto seus pais devem ser encorajados a expressar suas 
emoções durante o período de internação. A adaptação pretendida não é a obtenção 
da conformidade e da passividade extremas, mas sim a de ter reações normais de 
alegria, de medo, com riso, choro, nos diferentes momentos da hospitalização (Lima, 
2004, p. 82). 
Considerando a rede de pessoas que está em torno da criança, sejam eles 
cuidadores (acompanhantes e familiares), ou profissionais de saúde, as demandas 
para os psicólogos também são constantes. Inserida no trabalho de humanização do 
atendimento em instituições hospitalares, a família deve participar do processo de 
adoecimento e hospitalização (Chiattone, 2003). 
Para atuar junto aos cuidadores e às famílias, é preciso compreender o “baque” 
causado pelo saber sobre o diagnóstico e pela internação, onde “mitos e verdades 
coabitam o espaço/tempo de confronto com a dura realidade” (Britto, 2010, p. 36). 
Entretanto, diferentemente do que se pensa, esse “baque” não é oriundo da 
dificuldadede compreensão sobre a doença, e sim do impedimento da junção entre 
razão e afeto, causado por um bloqueio emocional de um “não querer saber” utilizado 
como mecanismo de defesa e proteção do eu (Britto, 2010). “Dificuldades de 
elaboração psíquica e de manejo pragmático da situação são comumente vivenciadas 
pelos pais, podendo levar a um aumento do nível de ansiedade, que se transmite à 
criança de forma negativa” (Lima, 2004, p. 81). 
Ainda na tentativa de querer se defender, os pais costumam buscar o culpado 
pela situação de adoecimento e pela hospitalização (Chiattone, 2003; Britto, 2010). 
Diante disso, a intervenção psicológica acontece no luto ocasionado pela “queda do 
ideal de saúde, para que possam aceitar e vir a amar a sua criança, com limitações e 
 
27 
imperfeições, duradouras ou não” (Britto, 2010, p. 37), podendo ocorrer também nas 
reações de “culpa, hostilidade, agressividade, desestruturação, negação, medo e 
depressão” (Chiattone, 2003). 
A atuação visa à atenção, o apoio, a compreensão, o suporte ao tratamento, a 
clarificação de sentimentos, o esclarecimento sobre a doença, o fortalecimento do 
grupo familiar – reorganização do grupo, o levantamento de dados sobre a relação 
familiar, o estar junto, o apoio incondicional (Chiattone, 2003, p. 95). Uma 
possibilidade de trabalhar os sentimentos e emoções dos cuidadores advindos da 
doença e da internação é o Grupo Terapêutico (GT) descrito por Britto (2010), o qual 
é um espaço para expor anseios, queixas, angústias, reinvindicações e aflições. 
Quando necessário, também é disponibilizado atendimento psicológico individual, de 
casal e familiar. 
Quanto ao trabalho com os profissionais de saúde, devido o foco do trabalho 
do psicólogo hospitalar ser o paciente e seu acompanhante, as intervenções são 
pautadas para esse fim (Romano, 1999, citado por Nigro, 2004). Para tanto, “a equipe 
de saúde deve atuar procurando fazer com que a hospitalização e a situação de 
doença sejam bem compreendidas pela criança e por sua família. Devem-se evitar, 
também, situações difíceis e traumáticas durante este período” (Chiattone, 2003). 
O objetivo do atendimento da equipe de saúde deve seguir sempre o princípio 
de minimizar o sofrimento da criança hospitalizada, promovendo-lhe saúde e 
principalmente fazendo dessa criança um elemento ativo dentro do processo de 
hospitalização e doença, valorizando a relação de influxos satisfatórios entre mãe e 
filho e compreendendo os riscos e sequelas da separação desse binômio, buscando 
atingir o desempenho de uma pediatria global (Chiattone, 2003, p. 26). 
Porém, assim como a equipe hospitalar espera da criança o comportamento 
colaborativo, Lima (2004) aponta para a expectativa que existe com referência à 
perfeição materna, sem considerar se a mãe está ou não em condições de prestar o 
suporte necessário ao filho: “com frequência, há uma expectativa de que a mãe 
permaneça constantemente como acompanhante, acate as orientações médicas e de 
enfermagem, mostre-se “estável emocionalmente”, atuando de forma resignada como 
corresponsável nos cuidados prestados à criança” (p. 83). 
Procura-se “realizar em equipe um atendimento efetivo às mães e famílias de 
todas as crianças internadas, para que elas, em troca, possam nos ajudar no 
restabelecimento ou no alívio do sofrimento do paciente” (Chiattone, 2003, p. 96). Para 
 
28 
tanto, “é desejável que os psicólogos possam contribuir para a sensibilização dos 
técnicos de saúde que trabalham com crianças e adolescentes para os aspectos 
psicológicos envolvidos nas práticas profissionais” (Trindade & Teixeira, 1998, p. 157). 
3.1 A Inserção da Psicologia no Contexto Hospitalar 
 
Fonte:einstein.br 
O trabalho da Psicologia no hospital tem como foco o paciente e objetiva 
“minimizar seu sofrimento” frente o adoecimento e internação. De certa forma esse 
também é o foco dos demais funcionários que trabalham no hospital. Porém, percebe-
se questões que desviam o foco dos profissionais no paciente para a preocupação 
com a hierarquia e subordinação, além da constante busca pelo fortalecimento da 
classe trabalhadora a que pertencem. 
Ressalta-se que a problemática apontada é quanto à mudança de foco, e não o 
quanto é inquestionável a necessidade de afirmar o trabalho de cada profissão no 
contexto hospitalar. Para não deixar dúvidas, compreende-se que, assim como a 
educação, a saúde e tudo o que lhe diz respeito não são tratadas no nosso país como 
prioridade, a valer pelo reconhecimento salarial dos profissionais e pela precariedade 
da infraestrutura do local de trabalho. 
Outra observação é relativa às definições dos âmbitos de atuação de cada 
profissão, pois alguns profissionais tomam a iniciativa de responder questões que 
competem a outros profissionais responderem. Talvez isso ocorra por adotarem uma 
postura de autoafirmação no trabalho ou mesmo por buscarem o sentimento de 
 
29 
pertencimento a esse ambiente. Independente do que seja, é preciso definir o que os 
profissionais juntos fazem, juntos querem e o que cabe a cada um. 
O psicólogo pode, ainda, realizar uma análise da dinâmica multiprofissional, 
proporcionando, através dela, reflexões entre os membros, sobre os papeis de cada 
um frente ao paciente, à família do paciente e aos demais colegas do grupo, e, 
também, sobre o seu próprio papel como parte integrante da equipe, sempre no 
sentido de um favorecimento da saúde de todos os envolvidos (Bruscato et al., 2004, 
p. 39). 
 A prática do Modelo Biomédico é um fator que contribui e ainda persiste no 
contexto hospitalar. Os que ainda atuam nesse modelo, focam suas práticas na 
resolução do problema doença e desconsideram, ou mesmo desprezam, outras 
questões de ordem social e psíquica, sem contar a espiritual. 
Para melhor compreensão dessa análise, faz-se necessário descrever a 
estrutura de funcionamento onde atuam os profissionais. Em geral, as unidades de 
Pediatria do hospital são separadas por enfermarias, as quais estão localizadas em 
corredores distintos. Cada enfermaria possui os critérios de patologia (grau de 
comprometimento e natureza) e de procedimentos necessários para tratar os 
pacientes e é composta por diversos profissionais. 
Entretanto, a composição dos profissionais nas equipes varia de enfermaria 
para enfermaria. Enquanto médicos (staff, residentes e internos), enfermeiro e técnico 
de enfermagem estão sempre presentes nas equipes, os demais componentes variam 
de acordo com a disponibilidade do profissional da área no hospital, sendo eles: 
psicólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e 
nutricionista. Entendo que essa variação da composição da equipe contribui com a 
forma como ocorrem as visitas médicas, pois enquanto em algumas enfermarias pelo 
menos um profissional das várias áreas de saúde está presente para participar das 
discussões dos casos, em outras apenas o médico e seus alunos (residentes e 
internos) discutem os casos. 
Percebe-se, por essas descrições, que se o trabalho interdisciplinar da equipe 
multiprofissional ainda não é realidade em todas enfermarias pediátricas, como exigir 
que seja transdisciplinar? Acreditamos que o número insuficiente de profissionais para 
o número elevado de demanda para trabalhar seja um fator que contribui com essa 
prática. Corroborando com essa prática, os profissionais de Psicologia respondem 
administrativamente pelo seu trabalho a um setor de saúde mental, e não diretamente 
 
30 
ao chefe de cada enfermaria. Esse fato, apesar de fortalecer o trabalho da saúde 
mental a partir de planejamento, promoção e execução de intervenções, contribui para 
a perda significativa do espaço da Psicologia na equipe multiprofissional e de sua 
participação nas decisões tomadas quanto aos tratamentos oferecidos aos pacientes 
e seus acompanhantes, ou seja, deixa de ser um trabalho interdisciplinar. 
 Apesardisso, alguns profissionais de saúde reconhecem a necessidade da 
atuação da Psicologia e de sua participação nas discussões dos casos. Todavia, ainda 
permanece, em seus discursos, a incompreensão quanto às diferenças existentes 
entre os protocolos da Psicologia e os existentes nas demais categorias de 
profissionais de saúde. Por mais avançadas que sejam as pesquisas, entende-se que 
cada caso é um caso, pois falamos de pessoas que são únicas e que lidam de forma 
diferente com a mesma situação, nessa circunstância o mesmo diagnóstico. Por isso, 
faz-se mais do que necessário resgatar o sujeito por trás da doença para torná-lo 
elemento ativo no processo de adoecimento e hospitalização. 
Outra observação da prática hospitalar é a demanda elevada de pareceres 
psicológicos e psiquiátricos. Porém, sabe-se que as respostas aos pareceres, que são 
colocadas no sistema unificado de informações de saúde do hospital, nem sempre 
são utilizados pelos demais membros da equipe, por mais que seja um sistema de 
livre acesso também a esses profissionais. Pergunta-se: para que servem as 
evoluções dos atendimentos? 
Thainá H Moreira afirma aqui, em seu estudo, que o início do reconhecimento 
das questões psíquicas no tratamento do corpo físico seja a solicitação de parecer 
para a Psicologia. Contudo, o que a prática evidencia é que as evoluções dos 
atendimentos da Psicologia são utilizadas apenas pelos profissionais dessa área. Em 
se tratando de um atendimento que acontece em rede, como é o SUS, considero 
indiscutível a relevância das evoluções desses atendimentos. Porém, como o trabalho 
do psicólogo acontece em uma equipe que é multidisciplinar e que visa o atendimento 
interdisciplinar, não faz sentido os demais profissionais apenas solicitarem parecer, e 
não considerarem a resposta ao parecer para as tomadas de decisões dos casos 
atendidos. 
O número elevado de parecer, no meu entendimento, deflagra a má gestão da 
atenção básica de saúde, que sobrecarrega a atenção hospitalar e ambulatorial. Para 
o psicólogo, especificamente, o desafio torna-se a “articulação entre o atendimento às 
demandas da equipe e a preservação da atenção às necessidades do paciente” 
 
31 
(Bruscato et al., 2004, p. 39). Contudo, percebe-se que, diante desse desafio e 
considerando o número reduzido de profissionais de Psicologia, os psicólogos 
acabam sobrecarregados e adoecendo. 
Diante desse contexto, a Psicologia tenta se estruturar e se firmar como campo 
de atuação no hospital a partir do acolhimento à díade paciente-acompanhante. Para 
tanto, busca, através do estabelecimento de vínculo e de uma escuta ativa 
qualificada,: 
• Analisar a compreensão do diagnóstico e do tratamento por parte do paciente 
e seu acompanhante; 
• Identificar as estratégias de enfrentamento utilizadas por eles; 
• Avaliar a rede de apoio social e as reações emocionais de cada um; 
• Intervir após a conclusão da avaliação psicológica, a fim de realizar 
aconselhamento psicológico e orientação familiar, com o objetivo de alcançar o bem-
estar emocional do paciente e de seu acompanhante. 
3.2 - Cuidar do Cuidador: A Contribuição da Psicologia na Humanização do 
Atendimento da Equipe de Saúde à Díade Paciente-Acompanhante 
 
Fonte:i2.wp.com 
Mesmo diante de todas as possibilidades de trabalho, boa parte do tempo, as 
demandas realizadas aos profissionais de Psicologia concentram-se em “apagar 
 
32 
incêndio” e/ou “traduzir o que foi dito”. Essas expressões, geralmente indicadas, 
respectivamente, pelos termos “bombeiro” e “tradutor”, são utilizadas pelos servidores 
do hospital de maneira geral, até mesmo pelos próprios psicólogos, o que é, no 
mínimo, inaceitável, pois esses termos desqualificam nossa atuação. 
Para compreender um pouco mais sobre essa demanda, explicaremos melhor 
o que querem dizer as expressões acima citadas. O termo “bombeiro” é utilizado para 
mencionar o ato de “apagar incêndio” provocado por um paciente ou acompanhante 
“descompensado” emocionalmente, que apresenta um ou mais dos seguintes 
sintomas: choro constante, irritabilidade, agressividade e outros. 
Nessa turbulência de sentimentos, percebemos a dificuldade que os 
profissionais encontram de lidar com a dor do outro. Porém, parece existir um tabu 
que impede as pessoas de assumirem essa dificuldade, quando, na verdade, essa 
comoção pode ser utilizada como uma ferramenta para a alteridade, entendida como 
a capacidade de enxergar o outro no sentido de que ele me afeta, assim como eu o 
afeto. 
A dificuldade dos profissionais perpassa também pela necessidade que 
encontram de enquadrar o paciente e seu acompanhante numa determinada lógica 
ou papel social esperado, ou seja, nos ideais culturais de criança comportada, mãe 
imaculada e pai presente fisicamente (sim, porque o discurso é marcado por questões 
de gênero tanto da família quanto da equipe). E isso desconsidera que estamos 
lidando com pessoas com singularidades em suas histórias de vida, como por 
exemplo o baixo grau de escolaridade e/ou o contexto sociocultural em grande parte 
violento e machista. Diante dessa postura, os profissionais parecem esquecer-se da 
ética que juraram seguir, misturando-se com discursos meramente leigos e com 
posicionamentos preconceituosos, os quais podem chegar a limitar e prejudicar 
aquele que deveria ser assistido, causando-lhe sofrimento psicológico. 
(...) na equipe, o psicólogo tem ainda a função de redirecionar o olhar dos 
demais profissionais para a individualidade de cada paciente e para os aspectos 
subjetivos envolvidos no adoecer, ou seja, favorecer o reconhecimento dos aspectos 
psicológicos presentes na doença ou na relação com a equipe de saúde, colaborando, 
assim, para a humanização do atendimento (Bruscato et al., 2004, p. 39). 
O termo “tradutor” é utilizado pelos servidores para designar a função de 
traduzir o que a equipe informou ao usuário, no caso, crianças, adolescentes e seus 
acompanhantes, quanto ao diagnóstico e ao tratamento. Entendo que essa função 
 
33 
seja empoderar o usuário quanto ao processo de doença e hospitalização, tornando-
o elemento ativo e protagonista da saúde. Na Psicologia, parte-se do princípio de que 
para cada pessoa será diferente e analisa-se os diversos fatores que podem 
influenciar a compreensão ou não do que foi informado ao usuário, sejam eles de 
ordem biológica, socioculturais ou psíquicas. Porém, independente da análise, o 
psicólogo procura deixar o registro da fala do que precisa ser dito, fazendo um paralelo 
entre os termos médicos e termos que são compreendidos pelos usuários do hospital. 
Mas por que existe essa necessidade de traduzir? Será por ausência de 
conteúdos na formação acadêmica dos profissionais que os permitam compreender a 
importância da legitimação dos sentimentos do outro? Isso não seria resolvido a partir 
da capacitação continuada? Acredito que em parte sim, pois possibilitaria que eles 
conhecessem os fatores do adoecimento e da hospitalização, como procedimentos 
invasivos e o ambiente estressante, que desencadeiam consequências emocionais 
nocivas ao paciente e seu acompanhante, que podem aparecer a curto, médio ou 
longo prazo. Outro conhecimento necessário seria quanto os diferentes perfis de 
pessoas com o objetivo de trabalhar a colaboração da díade paciente-acompanhante 
com a internação, compreendendo e respeitando a singularidade de cada um. Em se 
tratando de internação pediátrica, faz-se necessário ganhar a confiança da criança 
sendo preciso estipular a máxima “fale a verdade, jamais minta para uma criança”. 
Diante desses conhecimentos, seria possível trabalhar com prevenção no 
contexto hospitalar, como, por exemplo, a preparação da equipe para ambientar a 
díade paciente- acompanhante à estrutura da enfermaria onde estão internados e de 
sua rotina, desde os horários das visitas médicas até os procedimentos necessários 
ao tratamento,como punção venosa, raio X, entre outros. Talvez conseguiríamos, ao 
final dessa capacitação, um atendimento mais humanizado, o qual está previsto na 
Política Nacional de Humanização (PNH). Nessa política, o atendimento humanizado 
visa responsabilizar os profissionais pelo atendimento ético prestado aos usuários e o 
estabelecimento de vínculo solidário, o qual é necessário para uma prática mais 
acolhedora e mais resolutiva (Ministério da Saúde, 2010). 
A ineficiência dessa preparação também é preocupante, porque repetem-se 
inúmeras vezes os questionamentos quanto ao motivo da internação e a imposição 
das regras institucionais aos usuários, o que colabora para revitimizá-los. Nesses 
pontos levantados, questiona-se a forma como são realizadas as entrevistas 
 
34 
(anamneses), que mais parecem interrogatórios, e a orientação quanto à rotina 
hospitalar, a qual acontece repetidas vezes ou simplesmente não acontece. 
Entendo que é preciso incluir na graduação dos profissionais da área da saúde 
matérias que abordem a importância do vínculo cuidador-paciente. Nelas, um dos 
conteúdos desenvolvidos seria a legitimação dos sentimentos e emoções do outro, 
ensinando-os a deixarem de lado jargões médicos e a falar de igual para igual. Essas 
posturas são importantes para estabelecer sentimentos mútuos, como respeito e 
confiança, os quais contribuem não apenas com o tratamento, mas também para um 
clima organizacional favorável ao usuário e à equipe de saúde. 
Contudo, enquanto isso não acontece, uma estratégia importante seria investir 
no comprometimento dos funcionários com seu trabalho, a partir de questões morais 
e éticas de uma postura profissional e não leiga. Acredito que isso responsabilizaria 
os servidores pelo funcionamento adequado do SUS, pois eles são parte da 
engrenagem desse sistema e, se faltam com sua ética e compromisso com o cuidado 
do outro, acabam “emperrando” esse sistema. 
Essa questão levanta fatores relacionados à Psicologia Organizacional, como 
motivação para trabalhar, clima organizacional, saúde do trabalhador, entre outros. 
Esses fatores poderiam ser desenvolvidos no macro objetivo do Programa Humaniza 
SUS de valorização do trabalho na saúde. Esse investimento contribuiria, de alguma 
forma, para minimizar os desgastes ocasionados pela natureza do trabalho no 
contexto hospitalar, como estresse, depressão e ansiedade, os quais colaboram com 
o adoecimento dos profissionais e, consequentemente, com o aumento de 
afastamentos do trabalho por motivo de doença. 
O adoecimento dos profissionais é evidente e chega a ser ameaçador, pois 
ocorrem, recorrentemente, falhas graves de comunicação entre os membros da 
equipe quanto a reprogramação da medicação ou quando rediscutida, a pedido de 
outra área da saúde, como a Psicologia, a alta médica de um paciente, e, mesmo 
assim, não ser considerada. Percebe-se, enfim, que não há um suporte aos 
trabalhadores no que confere sua saúde mental. Exige-se deles atendimento 
humanizado, sem prestar-lhes qualquer assistência e condições de trabalho 
adequadas, além da remuneração corresponder à falta de reconhecimento da saúde 
na política brasileira. 
Existe, enfim, a necessidade de trabalhar um projeto que vise o cuidado com o 
cuidador, entendendo que eles estão na “linha de frente” dos atendimentos prestados 
 
35 
às crianças, adolescentes e seus acompanhantes. Portanto, ao cuidar do cuidador, 
podemos minimizar os efeitos nocivos que acarretam a relação interpessoal (paciente-
equipe-acompanhante), que é rotineira. 
3.3 Cuidar do Acompanhante: A Importância de sua Participação no Cuidado 
do Paciente e a Parceria com a Equipe de Saúde 
 
Fonte:ak2.picdn.net 
O direito à acompanhante conquistado pela criança existe e pareceu-me ser 
inquestionável nesse contexto hospitalar. Todavia, existe uma incompreensão de 
alguns profissionais quanto à importância do acolhimento aos acompanhantes e 
participação deles nas decisões tomadas quanto ao tratamento da criança ou 
adolescente hospitalizado. 
Acredito que, ao trabalhar essas questões, possibilitaria firmar a parceria entre 
a equipe médica e o acompanhante (evitando a transferência de cuidados entre as 
partes), o que contribuiria com a adesão ao tratamento médico e com a redução de 
re-internações, uma vez que as informações e orientações podem ser melhores 
trabalhadas e compreendidas pelos acompanhantes quando eles possuem maior 
confiança e abertura com a equipe. 
O psicólogo, ao integrar a equipe de saúde, deve favorecer o funcionamento 
grupal, facilitando, quando necessário, a comunicação interna. Com isso, estará 
 
36 
criando possibilidades de vínculos na interação entre os membros do grupo e na 
relação do paciente e familiares com a equipe, como um todo (Bruscato et al., 2004). 
Além disso, apesar de considerar de suma importância dar voz aos próprios 
pacientes (crianças e adolescentes) internados, percebo que eles se mobilizam muito 
quando seus entes queridos estão sofrendo. Por isso, faz sentido intervir também com 
seus acompanhantes para fortalece-los nos cuidados durante a internação e após alta 
médica. Na citação a seguir, por mais que esteja direcionada à primeira infância, faz 
todo o sentindo pensar como uma prática que deveria acontecer durante todas as 
fases do desenvolvimento humano. (...) o primeiro desafio que nos deparamos, na 
primeira infância, é o encontro com os pais, que são os primeiros e maiores 
promotores de saúde mental. Pouco pensamos nisso em nossas cartilhas, mas a 
saúde de cada bebê que nasce depende das qualidades destes seus primeiros (e, 
ainda que indiretamente, eternos) cuidadores (Ministério da Saúde, 2012a, p. 231). 
Na hospitalização, o acompanhante (em sua maioria os pais das crianças e 
adolescentes) precisa conhecer e reconhecer seu papel cuidador. Esse papel pode 
ser proporcionado por um ambiente de atenção, carinho, tranquilidade e amor, ou 
seja, cabe a eles transmitir e trocar sentimentos que, apesar de não serem 
mensuráveis, são reconhecidos como importantes no tratamento físico. 
Informar ao acompanhante o seu papel nos cuidados com seu ente querido e 
legitimar seus sentimentos são modos de cuidar dele. Além de prestar continência 
emocional e orientação familiar diariamente nas enfermarias pediátricas do hospital, 
o psicólogo pode trabalhar com Grupos de Convivência (Grupos de Pais e Oficinas de 
Artesanato, por exemplo) com o objetivo de reduzir os sofrimentos psíquicos oriundos 
do adoecimento e hospitalização. Essa estratégia é extremamente útil e necessária, 
uma vez que, além de minimizar em parte a elevada demanda por atendimento, 
trabalhar com grupo tem grandes vantagens terapêuticas, pois a continência 
emocional e orientação familiar servirão de alguma forma para todos os membros que 
compõem o grupo. 
Devido ao elevado índice de demanda e pela necessidade de se trabalhar com 
prevenção, entendo que se faz necessário implementar uma Escola de Pais para 
preparar mulheres e homens para exercerem a função de mãe e pai, respectivamente. 
Mas isso seria melhor implementado na atenção básica. 
 
37 
3.4 O Desenvolvimento Infantil e o Espaço para Brincar no Cenário da 
Hospitalização Infantil 
 
Fonte:3.bp.blogspot.com 
Sabe-se que para promover o desenvolvimento infantil é preciso considerar a 
brincadeira como um instrumento valioso, pois ela contribui para o desenvolvimento 
cognitivo (memória, atenção e percepção, por exemplo), sensorial (audição, paladar, 
olfato, tato e visão) e sócio afetivo. Na promoção de saúde na infância, considera-se 
a hipótese de que as práticas de brincar, imaginar e contar são necessárias (Ministério 
da Saúde, 2012a). 
No contexto hospitalar, a importância da brincadeira como estratégia de 
intervenção do psicólogo é indiscutível. Em revisão bibliográfica, Oliveira (2012, pp. 2-
4) aponta que: 
No caso de crianças, a criação de estratégias

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