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2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...................................................................... 5 1.1 Conceito de educação .......................................................................... 7 1.2 Educação e Direito ............................................................................. 10 1.3 Direito à educação ............................................................................. 11 1.4 Diferença entre Legislação do Ensino e Direito Educacional ............. 13 2 EDUCAÇÃO .............................................................................................. 14 2.1 A educação, com seus aspectos sociais e individuais, é ponte que leva de um comportamento a outro ............................................................................... 14 2.2 Educação nacional e formação do cidadão ........................................ 15 2.3 Objetivo primordial da educação ........................................................ 16 2.4 Importância das leis que regulam o ensino ........................................ 17 3 SÍNTESE HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA 17 4 COMENTÁRIOS AOS PRINCÍPIOS E DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS ................................................................................................. 23 4.1 O conteúdo político norteador da educação nacional ........................ 23 4.2 Competência para legislar sobre educação ....................................... 24 4.3 Competência comum.......................................................................... 25 4.4 Competência concorrente para legislar .............................................. 26 4.5 Intervenção nos estados e nos municípios ......................................... 27 4.6 Competência dos municípios ............................................................. 28 5 POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS: APONTAMENTOS SOBRE O DIREITO SOCIAL DA QUALIDADE NA EDUCAÇÃO ............................................... 29 5.1 Educação Pública no Brasil: uma história de encontros e desencantos 31 5.2 Qualidade da Educação ..................................................................... 32 3 5.3 A Educação com Base nas Leis Federais .......................................... 33 5.4 A Educação e o ECA .......................................................................... 34 5.5 A Educação à Luz da Constituição Federal ........................................ 35 6 DIREITO EDUCACIONAL E LEGISLAÇÃO DO ENSINO: A COMUNICAÇÃO INTERTEXTUAL ........................................................................... 37 6.1 O Estado Democrático, os Direitos Fundamentais Prestacionais e a Ordem da Cidadania Qualificada ........................................................................... 39 6.2 Educação: Direito de Todos e Dever do Estado ................................. 40 6.3 Princípios-Pilares do Conhecimento e da Educação Escolar de Qualidade Social .................................................................................................... 43 6.4 As deslinearidades sociais e a Educação como alavanca para a igualação de direitos .............................................................................................. 44 6.5 Responsabilidades do Estado: Equalização e Qualidade .................. 45 7 CATEGORIAS ATRIBUTIVAS DA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL ........................................................................................ 47 7.1 Dimensão do Respeito aos Direitos Individuais ................................. 47 7.2 Dimensão da Pertinência ................................................................... 50 7.3 Dimensão da Relevância .................................................................... 50 7.4 Dimensão da eficiência - Dimensão da eficácia ................................. 51 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 53 4 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Lei, por si, não muda a realidade, mas indica caminhos, orienta o cidadão e a sociedade dos seus direitos, propiciando a exigência do que nela está contido. O Direito Educacional é o conjunto de normas, princípios, leis e regulamentos que versam sobre as relações de alunos, professores, administradores, especialistas e técnicos, enquanto envolvidos, mediata ou imediatamente, no processo ensino- aprendizagem. É o conjunto de normas, de todas as hierarquias: Leis Federais, Estaduais e Municipais, Portarias e Regimentos que disciplinam as relações entre os envolvidos no processo de ensino aprendizagem. Fonte: institutoelm.com.br O Direito Educacional enfatiza três contornos principais: a) o conjunto de normas reguladoras dos relacionamentos entre as partes envolvidas no processo-aprendizagem; b) a faculdade atribuída a todo ser humano e que se constitui na prerrogativa de aprender, de ensinar e de se aperfeiçoar e c) o ramo da ciência jurídica especializado na área educacional. A Educação como Direito Social na Constituição Federal está disposta em seu art. 6º, que preconiza que são direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o 6 lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. No art. 205 dispõe que: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A Educação é direito público subjetivo, e isso quer dizer que o acesso ao ensino fundamental é obrigatório e gratuito; o não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público (federal, estadual, municipal), ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. Quanto à competência, os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96, a Educação Básica compreende a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. As suas modalidades são: educação especial, educação de jovens e adultos, educação profissional, educação indígena, educação do campo. A competência do Sistema Federal é elaborar o Plano Nacional de Educação e assegurar o processo nacional de avaliação do rendimento escolar em todos os níveis e sistemas de educação. Ao Sistema Estadual cabe assegurar o ensinofundamental e oferecer com prioridade o ensino médio. Cabe ao Sistema Municipal assegurar o ensino infantil e oferecer com prioridade o ensino fundamental. A LDBEN 9394/96, assinala como diretrizes: a inclusão, a valorização da diversidade, a flexibilidade, a qualidade e a autonomia, assim como, a competência para o trabalho e a cidadania. A flexibilidade que a LDBEN oferece é garantida à escola, ao professor e ao aluno através de: recuperação paralela. Art.24; progressão parcial. Art.24; avanços em cursos e séries. Art.24; aproveitamento de estudos. Art.24; organização da escola: séries, semestres, ciclos, módulos. Art.23; organização das turmas: idade, série. Art.24; currículo: 25% parte diversificada totalmente organizada pela escola. Art.26, Art.27. 7 A competência para o trabalho e exercício da cidadania é garantida no artigo 22 da LDBEN, quando o trabalho é entendido como produção cultural, artística, social e econômica e cidadania é entendida como resultado da formação integral do sujeito, ou seja, a formação ética, estética, política, cultural e cognitiva. Devemos lembrar que existem outras reivindicações que se impõem no mundo contemporâneo, como por exemplo, a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa categórica de formas de discriminação, a importância da solidariedade e a capacidade de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolítica e cultural. Poderíamos aqui elencar citações sobre o direito à educação, sem querer, no entanto “fechar questão”, colocaremos em foco, a necessidade de proposta de uma política educacional que contemple uma decisiva revisão das condições salariais dos professores, com aumentos reais para os ativos e inativos, assim como uma estrutura de apoio que favoreça o desenvolvimento do trabalho educacional1 1.1 Conceito de educação O termo educação tem sido utilizado com diferentes significados ou concepções por toda a história, até porque a educação é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária a existência e funcionamento de todas as sociedades. Aliás, cada sociedade cuida da formação dos indivíduos, auxiliando no desenvolvimento de suas capacidades física, intelectual e espiritual. Convém ressaltar que a dificuldade inicial para conceituar educação deve-se ao fato da existência de diferentes acepções de educação no processo histórico. Resultado, também, dos diferentes modos de conhecer, tais como vulgar, teológico, filosófico, histórico e, ainda, pelas ciências, tais como a pedagogia, psicologia, biologia, sociologia, antropologia, direito, política etc. Contudo, segundo Paul Moroe, os gregos foram os primeiros a formular as concepções de educação como desenvolvimento intelectual da personalidade e preparação para cidadania. Aliás, dentre as normas de Sólon estabelecidas por volta de 638-558 a.C., consta a de que todos os pais deveriam ensinar os filhos a ler e escrever e as mulheres a frequentar escolas. Acrescenta-se que Sócrates (469-339) 1 Texto extraído do link: http://educador.brasilescola.uol.com.br/politica-educacional/o-direito- educacional-direito-educacao.htm. 8 foi o primeiro filósofo a definir o problema do conflito entre a velha e a nova educação grega, entre o interesse social e individual. Ele tomou como ponto de partida, o princípio básico da doutrina sofista: “O homem é a medida de todas as coisas”. Se o homem é a medida de todas as coisas, conclui Sócrates, a primeira obrigação de todo homem é procurar conhecer-se a si mesmo. Também, ainda do ponto de vista histórico vale lembrar que, no primeiro momento, temos a concepção de educação como necessidade de vida, vinculada aos valores morais, religiosos e aos costumes. Aqui, trata-se da educação tradicional, como um conjunto de práticas educativas baseadas no princípio da autoridade, que atribuía ao mestre o papel essencial na instrução e fazendo com que a criança adquirisse hábitos conforme as exigências do meio social. Surge, no segundo momento, a concepção de educação como possibilidade de desenvolvimento da pessoa para qualificá-la para o trabalho e o exercício da cidadania. Trata-se da educação nova, concepção pedagógica que, reagindo contra os métodos tradicionais, centra a obra educativa na criança: a sua atividade própria, as necessidades da sua idade, os seus gostos ou interesses pessoais. Cabe indagar: educação, instrução e ensino significam a mesma coisa ou tem os mesmos objetivos? A Constituição de 1988 emprega o termo “educação” (caput do art. 205), mas utiliza frequentemente a expressão “ensino” nos arts. 206 e 208 (Educação escolarizada). Um pouco diferente a lei ordinária de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96) utiliza poucas vezes a expressão “ensino”, mas frequentemente emprega o termo “educação”. A dicotomia de um lado a educação, do outro a instrução, tem sua origem na educação grega. Na polis ou cidades-estados, a educação cabia a um pedagogo e era ministrada no próprio lar, cujo objetivo primeiro era a formação do caráter e da integridade moral das crianças e adolescentes. Já a instrução cabia ao professor e englobava conhecimentos básicos de matemática, escrita etc. e ocupava lugar secundário. No caso brasileiro, a expressão “instrução” foi utilizada durante o Brasil colônia, Brasil Império e, ainda, na república velha. Somente na década de 30 surge a expressão “educação no manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (Brasil, 1932), que proclamava expressamente o direito de cada indivíduo à sua educação integral”, independentemente da sua condição econômica e social, de que decorre logicamente para o Estado que o reconhece e o proclama, o dever de considerar a educação, na 9 variedade de seus graus e manifestações, como uma função social e eminentemente pública, que ele é chamado a realizar, com a cooperação de todas as instituições sociais. Em seguida, a Constituição de 1934 incorporou a expressão educação no seu texto, que foi seguida pelas constituições posteriores. No que diz respeito ainda ao direito à educação, em particular, a Carta das Nações Unidas de 1945 menciona a educação ou instrução nos artigos 13, 55, 57, 62, 73, 76, 83 e 88. A instrução leva o aluno a adquirir conhecimentos, informações e técnicas necessárias para a prática de uma profissão ou atividades em geral, aspectos informativos, menos complexos e de domínio de certo nível de conhecimento. Porém, nem todos aqueles, que dominam uma técnica, através da instrução, ou tem habilidade profissional, podem ser considerados como educados. Além disso, embora haja uma unidade entre educação e instrução, são processos diferentes, pois se pode instruir sem educar e educar sem instruir, embora devam caminhar juntas e integrar- se. A educação engloba a instrução, mas é muito mais ampla, abrange os aspectos materiais, imateriais e as atividades culturais, esportivas, lazer, envolvendo a família, o Estado e a sociedade (art. 205 da Constituição Federal). Sua finalidade é tornar os homens mais íntegros, a fim de que possam usar da técnica que receberam com sabedoria, aplicando-a disciplinadamente. A educação é o processo que visa capacitar o indivíduo a agir conscientemente diante de situações novas de vida, com aproveitamento de experiências anteriores. Neste sentido, o professor Pedro Demo diz que educar é diferente de ensinar, a educação precisa formar rebeldes, é deles que precisamos para mudar a sociedade. Contudo, “não se pode educar sem, ao mesmo tempo, ensinar, uma educação sem aprendizagem é vazia.” (apud. Muniz, p.9). O ensino corresponde a ações, planejamento, organização, direção e avaliação da atividade didática. Ele é o principal meio e fator da educação – ainda que não o único – contém a instrução, mas corresponde ações, meios e condições para realizá-la, associado àsnecessidades do mercado de trabalho. Aliás, quando usamos o termo “educação escolar”, referimo-nos a ensino. Aqui, o principal direito de todo estudante, engajado em uma relação de ensino-aprendizagem é o direito ao ensino, até porque o legislador constitucional optou pela expressão ensino no art. 206 da Constituição Federal de 1988. 10 Hoje, aquele que instrui também tem a responsabilidade de educar. Segundo Paulo Freire a educação que liberta é aquela que faz com que o aluno desenvolva uma consciência crítica e participe ativamente no processo de aprendizagem, pois só assim o homem torna-se, efetivamente, livre. Continua o autor “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua construção”. (2003, p. 22). Acrescenta Paulo Freire: “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Enfim, prevalece o entendimento de que a educação e o ensino devem caminhar juntos, integrados na sociedade do conhecimento, que exige um cidadão instruído, qualificado para o trabalho, educado e participativo. 1.2 Educação e Direito Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com Onde há sociedade, há direito. Da mesma forma podemos afirmar onde há seres humanos há educação. Sempre houve direito, isto é, normas de conduta para disciplinar o comportamento humano, primeiro a educação natural ou informal, com base nos valores morais e religiosos, depois a educação de forma organizada e formal, com a participação do Estado e da sociedade, tendo o direito como um instrumento de garantia da convivência social. Assim, pode-se perceber que existe uma relação entre educação e direito. Segundo a educadora Patrice Canivez, a educação dos cidadãos supõe um mínimo 11 de conhecimento do sistema jurídico e das instituições. O cidadão deve, para os atos mais simples da vida, conhecer os princípio e leis, que fixam seus direitos e deveres e distinguir os casos em que se aplicam. Todos aqueles que lutam ou atuam na defesa do direito à educação encontram no Direito um instrumento pedagógico-didático e jurídico fundamental, não apenas para disciplinar o comportamento humano, mas, sobretudo um instrumento para garantir a igualdade de condições para acesso e permanência na escola. Enfim, a educação tem uma dimensão jurídica cujo estudo ainda está pouco desenvolvido, mas necessário a cultura pedagógica e a formação dos profissionais da educação, daí a importância do Direito Educacional. Contudo a reflexão sobre as relações entre educação e direito não pode ser feita desvinculada do compromisso de pensar a sociedade, até porque o direito à educação faz parte das preocupações tanto de educadores quanto de juristas, pois não é um campo específico do conhecimento. Além disso, o objeto de estudo do direito à educação tem bases históricas. 1.3 Direito à educação O direito à educação como proteção da vida não tem fronteiras, por ser anterior e superior a qualquer norma ou lei e necessário a todos os povos e nações. Aliás, sob qualquer aspecto, que se queira analisar a educação, ela é indispensável ao ser humano, para que a pessoa tenha uma vida digna, por isso a importância do direito à educação. Embora não seja nosso propósito apresentar o direito à educação nas constituições brasileiras, não podemos deixar de destacar a importância da Constituição promulgada em 1934, até porque a expressão direito à educação surgiu em meados do século XX, o que havia antes era apenas o termo instrução. A Constituição de 1934 foi a primeira a incluir um capítulo específico, com 11 artigos sobre educação. Ela tratava sobre vários assuntos importantes na área da educação, tais como reconheceu o direito à educação como direito de todos, obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, direito social, direito público subjetivo, organização dos sistemas educacionais, ensino religioso, liberdade de cátedra e vinculação de recursos, os de impostos na manutenção e no desenvolvimento dos sistemas de ensino, vinculou uma percentagem de recursos federais, que deveriam ser aplicados exclusivamente na educação. 12 Vale destacar a importância do Movimento da Educação Nova. Na realidade, foi a onda mais poderosa na história da educação brasileira na defesa do direito à educação, até porque, entre outras contribuições, ele influenciou a elaboração da Constituição de 1934. Em 1932, um grupo de educadores lançou o manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: Este documento apresenta ideias, propostas e soluções que, a partir de então, foram sendo aplicadas à educação brasileira. Aqui, entre outros podemos destacar os educadores Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo. Além desse fato, em 1933 o jurista e filósofo Pontes de Miranda publicou uma obra inédita na área de sociologia jurídica com o título “Direito à Educação”, ressaltando a importância da escola única e de todos, a qual todo povo deve exigir. Ele propõe que o Estado reconheça os 5 (cinco) novos direitos do homem: direito à subsistência, direito ao trabalho, direito à educação, direito à assistência e direito ao ideal. Afirma o jurista que os cinco direitos devem ser executados todos simultaneamente. O direito à educação é o terceiro dos novos direitos do homem. Segundo o autor, “deem tudo mais, mas não doem educação, com igualdade e escola para todos – e não deram nada. A ausência de direito voltará.” (Miranda, 1933: p. 6) Na Constituição de 1988, direito à educação passa a ter uma dimensão jurídico- social como direito social fundamental (arts. 6º e 205 da Constituição Federal), mas também dimensão política, pedagógica e ética, responsabilizando a família, o Estado e a sociedade, estabelecendo ainda três objetivos. A maioria dos doutrinadores e, ainda a própria legislação, como se vê, consideram o direito à educação um direito social, até porque a proteção desse direito era garantida apenas no âmbito do direito público como direito fundamental Todavia, esta concepção de direito à educação exigia a intervenção e ação do Estado, que no processo histórico e na prática não ocorreu satisfatoriamente, uma vez que não existia punição para o Estado, caso não proporcionasse para todos a educação gratuita e obrigatória. Mas com o advento da Constituição de 1988 modificou-se esta situação, uma vez que agora está prevista na Lei Magna punição para o Estado, caso não proporcione a educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria (art. 206, inciso I; art. 208, inciso I, § 1º § 2º da CF). Aliás, direito à educação corresponde, também, ao direito de matrícula 13 como direito constitucional fundamental que todos têm e o dever da família e do Estado de efetuá-la e garanti-la na educação básica (art. 4º, inciso I; art. 6º da LDB) Hoje se ampliaram as concepções do direito à educação e a responsabilidade social com a educação. A educação é um processo de toda sociedade – não só da escola – afeta todas as pessoas e instituições, até porque toda sociedade educa quando transmite ideias, valores, conhecimento e quando busca novas ideias, valores, conhecimentos2. 1.4 Diferença entre Legislação do Ensino e Direito Educacional Fonte: xml.editorapreparatoria.com.br No primeiro sentido, temos um conjunto de normas que vão desde leis federais, estaduais e municipais até pareceres do Conselho Nacional de Educação, decretos do Poder Executivo, portarias ministeriais, estatutos e regimentos das escolas, que constituem a conhecida e tradicional disciplina Legislação do Ensino, a qual é parte integrante, mas restrita, do Direito Educacional, pois não inclui nem a unidade doutrinária, nem a sistematização de princípios, nem tampouco a metodologia que estrutura um corpo jurídico pleno.2 Texto extraído do link: http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13083. 14 Não há, portanto, como confundir Legislação do Ensino com Direito Educacional: enquanto aquela se limita ao estudo do conjunto de normas sobre educação, este tem um campo muito mais abrangente e "pode ser entendido como um conjunto de técnicas, regras e instrumentos jurídicos sistematizados que objetivam disciplinar o comportamento humano relacionado à educação" como conceituou Álvaro Melo Filho. 2 EDUCAÇÃO A Educação é a manifestação cultural que, de maneira sistemática e intencional, forma e desenvolve o ser humano. A Educação é mais do que aquisição e transmissão de conhecimentos; é processo de humanização e capacitação para a vida. A Educação constitui-se, portanto, no processo pelo qual o ser humano, por um lado, adquire conhecimentos e desenvolve sua capacidade intelectual, sua sensibilidade afetiva e suas habilidades psicomotoras. Por outro lado, é também o processo pelo qual ele transmite tudo isso para outra pessoa. A Educação engloba, pois, de forma indissociável, tanto os processos de aprendizagem quanto os de ensino, e envolve, normalmente, dois interlocutores, o educando e o educador, ou o educando e algum meio educativo. Dessa forma, a Educação se confunde com o próprio processo de humanização, pois é a capacitação do indivíduo tanto para viver civilizadamente e produtivamente, quanto para formar seu próprio código de comportamento e para agir coerentemente com seus princípios e valores, com abertura para revisá-los e modificar seu comportamento quando mudanças se fizerem necessárias. 2.1 A educação, com seus aspectos sociais e individuais, é ponte que leva de um comportamento a outro Ao educar-se, o indivíduo passa por mudanças comportamentais que o levam da ignorância para o conhecimento; da impotência para a potencialidade; da deficiência, inclusive física e mental, para a reabilitação; da incapacidade para a ação eficiente e a habilitação profissional; da incompetência para a eficácia; da 15 inconsciência para a consciência de si mesmo e de seu papel na sociedade; da amoralidade e imoralidade para a ética e a moral. Assim, a Educação tem o seu lado individual, que envolve a formação e o desenvolvimento da personalidade de cada indivíduo, bem como o lado social, pois toda educação escolar, analisada c o m o processo sociocultural, normalmente, está ligada a u m projeto nacional. Daí podermos falar também em educação nacional, a qual tem tanto o seu lado universal e individual, quanto o regional e, no caso do Brasil, também o estadual e o municipal. 2.2 Educação nacional e formação do cidadão A este respeito, é interessante relembrarmos a lição de Newton Sucupira: A ideia que nós fazemos de educação nacional parte desta verdade evidente de que na realidade não há formação do homem abstrato, não pode haver educação desvinculada das motivações concretas e dos objetivos de uma determinada sociedade. Não se pode pensar o processo de humanização do homem independentemente de um povo, de uma cultura, de uma circunstância histórica, de uma comunidade nacional. Por isso, a cada configuração histórico-cultural corresponde uma auto compreensão do homem e, consequentemente, toda educação que nela se elabore, mesmo visando à realização do homem em suas dimensões universais, reflete, necessariamente, o espírito de sua época, a vida e a alma de sua cultura. Por outro lado, a formação do homem está ligada à dialética do indivíduo e da cultura. Esta é certamente uma expressão da atividade criadora do homem, mas é também espírito objetivo e objetivado e, como tal, ela oferece as condições e os elementos necessários para a realização do espírito subjetivo, isto é, o indivíduo se forma através de sua cultura ao mesmo tempo que contribui para enriquecê-la e modificá-la acrescentando novos valores que por sua vez vão se tornar bens de formação para outras gerações. (...) Com isso não pretendemos que a formação do homem se esgote na imanência de uma cultura nacional. Seria absurdo fazer da nação um absoluto, fons et origo de todos os valores. Queremos ressaltar apenas que o homem não é uma universalidade abstraía e que se ele tende de si ao universal é através de objetivações históricas distintas e particulares. É, assim, através da Educação nacional, que se forma tanto o homem nos sentido individual e universal, quanto o cidadão de uma nação, o qual, quando efetivamente educado, contribui, a seu modo, para o desenvolvimento da sociedade onde vive. Mas, como continua ensinando o mestre Sucupira, isto não quer dizer que atribuamos à educação uma força e um poder capaz, por si só, de transformar a sociedade em que se insere, mas que dentro da dinâmica total da cultura ela é na verdade um importante instrumento de realização dos fins a que ela se propõe. É que toda educação ajustada e 16 atuante mantém com a cultura a que ela serve uma relação dialética de concordância e assimilação, de crítica e de superação. 2.3 Objetivo primordial da educação Fonte: unidea.com.br É importante se deixar claro que o objetivo primordial da educação é despertar e proporcionar o crescimento da criticidade (entendida esta como a capacidade de crítica da história, da realidade e das ideologias e de autocrítica) e da criatividade, que impulsionam o homem a tentar a conquista, por si mesmo e com seus semelhantes, da sua liberdade e a evoluir, no mundo e com o mundo, descobrindo o micro e o macrocosmos, inventando interferências e transformações na realidade, e transcendendo a si mesmo, tendendo para a sua plena realização. É também evidente que cada um de nós, o Estado (como estrutura que representa os interesses maiores da sociedade) e o Governo (que representa interesses conjunturais dos grupos majoritários no exercício do poder), temos o direito de esperar algo (diferente de alienação) do processo organizado e formal de educação, que se desenvolve por meio do ensino e em instituições apropriadas para sua efetivação, sejam da rede privada, sejam da rede pública. 17 2.4 Importância das leis que regulam o ensino As causas das falhas na busca de mudanças de comportamento através dos processos de ensino-aprendizagem desenvolvidos em sala de aula são tanto sistêmicas quanto não sistêmicas; muitas são estruturais e, outras, conjunturais. Essas causas podem, em alguns aspectos, depender da legislação vigente. Esta, se engessada e retrógrada, pode ser um empecilho ao desenvolvimento dos indivíduos como pessoas humanas e das sociedades; se aberta e voltada para o futuro, pode ser instrumento positivo a alavancar o progresso de cada um e da humanidade, contribuindo para a produção e a divulgação da Cultura e para o desenvolvimento científico e tecnológico, pessoal e profissional. Entendendo-se, pois, a Educação como processo de informação e formação do homem, por meio de mudanças de comportamento visando ao desenvolvimento pessoal, organizacional, econômico, político, social e cultural, e, pela pesquisa e divulgação, objetivando a evolução científica e tecnológica, entende-se, também, a importância das leis que regulam o ensino, principalmente das que definem os princípios e as dimensões de seus sistemas e dão as diretrizes e bases que norteiam sua organização e seu funcionamento, como é o caso da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional3. 3 SÍNTESE HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA Com a chegada dos portugueses ao Brasil e a insubordinação dos nativos à coroa – que precisava dos indígenas para a exploração do pau-brasil –, a coroa decidiu que os índios precisavam ser catequisados. Por isso, ela enviou uma missão jesuíta com o intuito de ensinar aos nativos os costumes e a religião de Portugal. O marco inicial da sistematização do ensino pode ser considerado a vinda da juntamissionária católica em 1549, além disso a sistematização de transmissão de conhecimentos é indissociável da história da Companhia de Jesus. Porém, com o fracasso da missão e a expulsão dos jesuítas em 1759, foram instauradas as reformas pombalinas, as quais instituía o ensino laico e público através 3 Texto extraído do livro: Direito Educacional e educação no século XXI: com comentários à nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de Elias de Oliveira Motta. 18 das Aulas Régias – os conteúdos baseiam-se nas Cartas Régias. A data de implantação oficial do ensino público no Brasil foi em 1772, porém, o Ensino Religiosa nas escolas foi mantido. Durante quase 300 anos da história do país, as mulheres e os escravos – oriundos da África, não tinham direito ao acesso à educação. Os homens brancos estudavam nos colégios religiosos ou iam para a Europa. Com a vinda da família real ao país no início do século XIX, houve uma ruptura com a situação do sistema educacional anterior. Dom João VI, para preparar terreno para sua estadia no Brasil, abriu Academias Militares, Escolas de Medicina, Biblioteca Real e a Imprensa Régia. Em 1816 foi criada a Escola Nacional de Belas Artes, influenciada por artistas franceses. Porém, a educação ainda foi tratada com importância secundária. Somente em 1909 foi criada a primeira Universidade Brasileira, a Universidade Federal do Amazonas. A USP (mais importante universidade no Brasil atualmente), foi fundada em 1934. Já no Império, a Constituição de 1824 manteve o princípio da liberdade de ensino, sem restrições, e a intenção de “instrução primária gratuita a todos os cidadãos”. Em 15 de outubro de 1827 foi aprovada a primeira lei sobre o Ensino Elementar e a mesma vigoraria até 1946 (quando a lei fracassou por motivos econômicos, técnicos e políticos). Em 1827, surge a primeira lei sobre educação das mulheres, permitindo que as mesmas frequentassem as escolas elementares, entretanto, as instituições de ensino mais adiantado eram proibidas a elas. Em 1834 (Ato Adicional que emendou a Constituição) houve a reforma que deixava o ensino elementar, secundário e de formação dos professores a cargo das províncias, enquanto o poder central cuidaria do Ensino Superior. Em 1879 houve a reforma de Leôncio de Carvalho que propunha dentre outras coisas o fim da proibição da matrícula para escravos, mas que vigorou por pouco tempo. Em 1879, as mulheres têm autorização do governo para estudar em instituições de ensino superior, mas as que seguiam este caminho eram criticadas pela sociedade. Com a instauração da República em 1889, a educação passou por várias reformas, porém, as mudanças continuavam seguindo princípios adotados pelo Novo Regime: centralização, formalização e autoritarismo. Durante a Primeira República, entre 1889 a 1930 foram feitas cinco reformas: a Reforma Benjamim Constant, a Reforma Epitácio Pessoa, a Reforma Rivadavia, a 19 Reforma Carlos Maximiliano e a Reforma João Luiz Alves – de âmbito nacional do ensino secundário, com o intuito de implantar um currículo unificado para todo o país. Até a época entre 1911 e 1915 as classes de Ensino reuniam alunos de todas as idades, além disso, o Ensino Secundário era visto como um preparatório para o Ensino Superior. Nessa época surgiu o conceito de “Grupo Escolar” (o qual reunia escolas isoladas de uma região comum). E as classes passaram a distribuir os alunos em séries, o chamado “Ensino Seriado”. A década de 1920, na área da educação, foi um período de grandes iniciativas. Foi a década das reformas educacionais. Não havia ainda um sistema organizado de educação pública, como é hoje a rede de ensino. Um dos movimentos mais importantes da época ficou conhecido com o nome de Escola Nova. Grandes temas e grandes figuras ficaram associados a esse movimento. A defesa de uma escola pública, universal e gratuita se tornou sua grande bandeira. Até o final da década 1920, havia quase 70% de analfabetos entre a população com mais de 15 anos de idade no país. Em 1924 foi fundada a Associação Brasileira de Educação (ABE), que a partir de 1932 foi dominada pelos adeptos da Escola Nova. A partir de 1930 (início da Era Vargas), surgem as reformas educacionais mais modernas. Com o Decreto 19.402 de 14 de novembro de 1930, foi criado o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública. O Ministro Francisco Campos reformou o Ensino Secundário (Reforma Campos). Em 1932 alguns intelectuais brasileiros como Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, dentre outros, assinaram o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”. Diante do mundo moderno, capitalista e que passou por uma avassaladora guerra, os intelectuais ligados à área da educação declararam insuficiência da pedagogia tradicional. Concluíram, então, que as instituições escolares deveriam ser atualizadas de acordo com a nova realidade social. Tanto a constituição de 1934 como o manifesto de 1932 traçaram pela primeira vez as linhas mestras de uma política educacional brasileira. Contudo, a constituição de 1934 durou pouco e foi substituída pela de 1937, imposta por Getúlio Vargas. A constituição de 1934 foi a primeira a incluir um capítulo especial sobre a educação, a mesma trata da educação no seguinte artigo: 20 Art. 149. A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela família e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana. Em 1942, o ministro Gustavo Capanema incentivou novas leis de reforma do Ensino, que ficaram conhecidas como “Reforma Capanema”. Nesse ano surgiram a Lei Orgânica do Ensino Industrial e a Lei Orgânica do Ensino Secundário, além de ter sido fundado o SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Com a lei orgânica, o Ensino Secundário foi dividido em três modalidades: Clássico, Científico e Normal (ensino profissionalizante, porém considerado dentro do ensino secundário). Em 1937, com a implementação da ditadura varguista e a substituição da constituição de 1934, é possível perceber as consequências da organização e implementação de uma política de Estado para a educação baseado nas reformas propostas pelo Ministro da Educação Gustavo Capanema. Ocorreu um crescimento percentual das matriculas em relação à população total brasileira e também, uma diminuição relativa do analfabetismo. Com o fim do Estado Novo, surgiu a Constituição de 1946 e que trouxe dispositivos dirigidos à educação, como a gratuidade para o Ensino Primário. Em 1948, também surgiu a discussão para uma Lei de Diretrizes Básicas, a partir da proposta do deputado Clemente Mariani. A constituição de 1946 trata da educação no seguinte artigo: “Art. 166 – A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana”. Nesse período, foi implementado a Lei de Diretrizes e Bases de Educação pelo governo João Goulart. Além disso, novos debates surgiram em torno do tema educação, como a defesa dos interesses dos proprietários de escolas privadas. Nesse período, o movimento estudantil cresceu com maior atuação da União Nacional dos Estudantes (UNE). O debate, que girava em torno da legitimação da educação privada era apoiada pelos conservadores, como o famoso jornalista Carlos Lacerda e por uma ala da Igreja Católica. O debate em torno da Lei de Diretrizes e Bases da Educação foi retomado no Governo do Presidente Juscelino Kubitschek. Nesse contexto, é de suma importância 21 destacar o papel empenhado pela Igreja Católica, que desde período colonial participava ativamente da educação no Brasil.Fonte: www.cfn.org.br Entretanto, após a entrada do Estado no ensino público, a instituição anteriormente citada perdeu seu prestígio político. Por isso, além do interesse da presença/ausência do ensino religioso no currículo escolar, a Igreja também tinha interesses nos recursos públicos para a educação escolar. Mesmo com toda campanha a favor a escola pública, as forças conservadoras, as quais tinham maior representação no Congresso, saiu vitoriosa e em 1961 foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 4.024). A lei, prevaleceu o modelo de política educacional já em vigência. Nesse modelo, o Estado custeava parte das despesas das escolas particulares e não criava novas oportunidades escolares fora dos grandes centros urbanos. Assim sendo, esse sistema estava longe de suprir as necessidades reais da população no que tange a gestão da política educacional. A pouca permanência dos estudantes brasileiros na escola e o elevado índice de analfabetismo, sobretudo no interior, foram alguns problemas não resolvidos pelo Governo, naquela época. Após o golpe em 1964 e a implantação da Ditadura Militar, houve um aumento do autoritarismo marcado na área da educação com o banimento de organizações estudantis como a UNE – União Nacional dos Estudantes –, considerada 22 “subversivas”. Em 1969, foi tornado obrigatório o ensino de Educação Moral e Cívica em todos os graus de ensino. O Decreto 68 908/71 criou o “Vestibular Classificatório”, garantindo a vaga nas universidades apenas até o preenchimento das vagas disponíveis. O Movimento Brasileiro de Alfabetização foi criado em 1967, objetivando diminuir os níveis de analfabetismo entre os adultos. A reforma dos ensinos fundamental e médio foi feita durante o governo Médici, com a Lei 5 692/71. Em 1982, a Lei 7 044/82 retirou a obrigatoriedade do Ensino Profissionalizante nas Escolas de Ensino Médio. Durante sua gestão, Robert McNamara (1968-1981) afirmou ser a educação uma indústria que necessitava de revolução tecnológica. Reconhecia sua necessidade básica, mas havia outros problemas. A expansão horizontal da educação como necessidade para todos e essencial para o desenvolvimento econômico, mas qualitativa para uns poucos eleitos, foi um procedimento perverso e constante. Essa política de exclusão sintomática ficou evidente quando o Banco Mundial exteriorizou as estratégias de investimentos no ensino técnico profissional e o desenvolvimento de um sistema de educação tecnológica média superior. Pretendiam, assim, instituir, através da legislação, mecanismos para deter o crescimento da demanda pelo ensino superior. (Silva, 2002: 58) Nessa época, disciplinas como filosofia foram banidas do 2º grau e outras como História e Geografia foram aglutinadas no chamado “Estudos Sociais”. E a educação superior foi restrita a uma pequena fração da sociedade. Nessa época, a escola privada ganhou forças após o Governo investir em bolsas para os estudantes, pois o ensino público não tinha cobertura suficiente, e, além disso, a evasão escolar abriu margens para as empresas privadas receberem recursos do governo para realizarem o que as escolas públicas em sua maioria não faziam – é importante salientar que as instituições privadas possuíam isenção de impostos (instituídos na Constituição de 1946 e reforçado nas emendas promulgadas durante a ditadura militar). Por isso, pode-se concluir que o dinheiro que poderia ser investido na ampliação e expansão do ensino público foi destinado ao empresariado. É marcante, nessa época, as lutas contra a censura por parte dos estudante e intelectuais. A UNE, que foi banida, atuou de forma clandestina contra a Ditadura Militar, organizando protestos contra o governo entre outras coisas. Alguns professores universitários e outros intelectuais (pessoas ligadas a jornais, a arte, a 23 música, advogados e até mesmo políticos), também atuaram de forma clandestina e sutil para driblar a censura imposta pelo regime. Após o regime militar, e a retomada da democracia no final da década de 80, a educação mereceu destaque na Constituição Brasileira de 1988, que em seus dispositivos transitórios dava o prazo de dez anos para a universalização do Ensino e a erradicação do analfabetismo. Ainda em 1996 surgiu a nova LDB – Lei das Diretrizes Básicas, que instituiu a Política Educacional Brasileira. Nessa época, também foi criado o Conselho Nacional de Educação, substituindo o antigo Conselho Federal de Educação que havia surgido em 1961 e havia sido extinto em 1994. Em 1996, foi criado o FUNDEB (Fundo de Manutenção do Ensino Fundamental) que depois de dez anos foi substituído pelo FUNDEF, que obriga os Estados e Municípios a aplicarem anualmente um percentual mínimo de suas receitas onde 60% pelo menos é para pagamento do pessoal do magistério. Em fevereiro de 2006, foi aprovada a lei nº 11.274, que aumentou a duração do ensino fundamental de oito para nove anos.4 4 COMENTÁRIOS AOS PRINCÍPIOS E DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS 4.1 O conteúdo político norteador da educação nacional A Constituição de 1988, como consta de seu preâmbulo, foi promulgada para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de urna sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias. Tais valores devem ser balizadores de qualquer análise, comentário ou interpretação que se faça da legislação secundária, pois foram eles que inspiraram os próprios princípios constitucionais. Além desses valores, os fundamentos da República Federativa do Brasil e os seus objetivos fundamentais devem ser aqui transcritos, pois são esses três aspectos 4 Texto extraído do link: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/evolucao- sistema-educacional. 24 que devem ser tanto o ponto de partida como a bússola de todo o conteúdo político da educação nacional. Não se deve entender a educação de maneira simplista, como um mero instrumento de reprodução infalível e automático da ideologia da classe dominante, tese bastante difundida há algumas décadas e fundamentada em um determinismo histórico já sepultado. Mas também não se pode vê-la como algo neutro. Inegavelmente, a educação tem o seu conteúdo político e, às vezes, até ideológico e partidário, mas não é, como a encaram de maneira simplista alguns grupos idealistas, o meio mais importante e fácil para se fazer urna revolução. O caráter político claro que deve acompanhar todo o processo educativo nacional está descrito na própria Constituição, em seu art. 1º, que enumera os cinco fundamentos sobre os quais a República Federativa do Brasil se constitui como um Estado democrático de direito: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político; Completa esse caráter político da educação nacional os objetivos constantes do art. 3° de nossa Carta Magna: I - construir urna sociedade livre, justa e solidaria; II - garantir o desenvolvimento nacional; III- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Os Constituintes, após definirem com essas rápidas pinceladas o perfil do Estado que a Nação brasileira almeja construir, passaram a sintetizar os demais princípios de cada área, dentre elas a de educação. A seguir, transcrevemos os dispositivos constitucionais, cujos conteúdos dizem respeito a questões educacionais e servem d e fundamento parao Direito Educacional, e, após cada um deles, faremos os devidos comentários. 4.2 Competência para legislar sobre educação Art. 22 . Compete privativamente à União legislar sobre: 25 XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; Esse mandamento da nossa Constituição deixa claro que as leis de caráter geral sobre a educação brasileira, que definem diretrizes e fixam bases, só podem ser elaboradas, privativamente, pela União, isto é, nenhum estado ou município pode traçar diretrizes e bases da educação nacional, o que é lógico, levando-se em conta ser o Brasil urna federação. Assim, o art. 22 é uma decorrência natural da existência de diversas esferas de competência na estrutura organizacional da República Federativa do Brasil, e ele se faz necessário para expressar e garantir o próprio princípio da hierarquia das leis. O Congresso Nacional é, pois, o local apropriado, constitucionalmente, para apreciar e votar tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional quanto qualquer outra da caráter geral, cuja vigência e obrigatoriedade deva abranger todo o território nacional. Consequentemente, cabe também à União, por meio do Ministério da Educação - MEC e de seu Conselho Nacional de Educação - CNE, que substituiu o antigo Conselho Federal de Educação - CFE, interpretar o texto legal e baixar normas complementares que, com força de lei, terão validade nacional, como decretos, portarias ministeriais e resoluções e pareceres do CNE. Aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios, dentro da esfera de ação de cada um, cabe legislar de forma complementar, derivada e supletiva, e até de forma concorrente, desde que respeitada a LDB, como veremos nos dois próximos itens. 4.3 Competência comum Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; Fica claro, pela simples leitura e interpretação literal deste artigo, qual é o seu significado, ou seja, tanto a União, como os estados, o Distrito Federal e os municípios têm competência (entendida está mais como obrigação) para oferecer os meios adequados de acesso à educação, podendo, portanto, cada um deles no âmbito de seus serviços, legislar a respeito. 26 No título "Da Ordem Social", art. 211, tal competência é distribuída entre os três sistemas educacionais: o federal, o estadual e o municipal, cabendo à União, além da organização do sistema federal de ensino (mais ensino superior e técnico), uma ação supletiva e de colaboração técnica e financeira com os demais sistemas. Os municípios ficaram responsáveis por uma atuação prioritária no ensino fundamental e na educação infantil, enquanto os estados cuidarão mais do ensino médio e fundamental. Proporcionar os meios de acesso à educação é, pois, um dever do Estado, que está mais detalhado no art. 208 da Constituição. 4.4 Competência concorrente para legislar Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; Apesar da legislação de caráter federal relativa as diretrizes e bases da educação ser competência privativa da União, a Constituição deixa expresso, neste artigo, que os estados e o Distrito Federal, quando se trata de educação, cultura, ensino e desporto, têm também competência para legislar concorrentemente, salvo o previsto no art. 22 já comentado. No entanto, para que essa liberdade de legislar concorrentemente não leve a confutes, é necessário que o legislador de cada esfera respeite a hierarquia das leis, não podendo, por exemplo, urna lei estadual contrariar urna outra federal já publicada anteriormente. Havendo choque entre elas prevalecerá a de maior hierarquia, ou seja, a federal. As unidades da federação, por meio de seus respectivos Poderes Executivos e Legislativos, bem como dos órgãos normativos de seus sistemas educacionais, os conselhos estaduais que forem mantidos ou quaisquer outros que venham a ser criados, deverão aprovar a legislação conexa – que terá vigência na área de competência de cada um – e baixar as normas complementares essenciais para o bom funcionamento de suas organizações educacionais. Assim, as normas específicas para o adequado funcionamento dos sistemas de ensino de cada unidade federada serão definidas por elas próprias, de vez que, além de a Constituição Federal prever essa possibilidade, a própria LDB, pelo seu 27 espirito efetivamente descentralizador, deu mais força aos estados, ao Distrito Federal e até aos municípios. 4.5 Intervenção nos estados e nos municípios Art. 34. A União não intervira nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: III- não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; O previsto no art. 35 foi uma forma eficiente introduzida na Carta de 1969, e repetida em 1988 pelos Constituintes, para garantir que um percentual mínimo (exigido pela Constituição) da receita de cada município seja efetivamente gasto na manutenção e desenvolvimento do ensino. Assim, o município que quiser se eximir do cumprimento desta ordem constitucional, poderá sofrer intervenção estadual; ou da União, se pertencer a um Território Federal. O percentual mínimo a que se refere o inciso III do art. 35 está expresso no caput do art. 212. Apesar dessa rigidez com os municípios, os Constituintes de 1988 não deram o mesmo tratamento aos estados membros. A União não tinha, portanto, o poder para intervir em um Estado que desobedecesse a obrigatoriedade prevista no art. 212. No entanto, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, bem como no Poder Executivo foi-se formando uma corrente para defender a intervenção, pelo Governo Federal, nas unidades da Federação que não aplicassem o percentual constitucional mínimo de suas receitas com manutenção e desenvolvimento do ensino. O sucesso desse movimento se consolidou, em setembro de 1996, com a aprovação da Emenda Constitucional n° 14, a qual modificou o art. 34, acrescentando, no inciso VII, a alínea "e", a qual prevê a possibilidade de intervenção pela União nos estados que não aplicarem o mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. 28 Uma das razões para a aprovação desse acréscimo foi a necessidade de equidade no tratamento dado aos estados e aos municípios pela União. Se os Estados podem intervir nos municípios pelo justo motivo apontado no art. 35, nada mais justo do que a União também poder intervir nos estados se eles incorrerem no mesmo motivo que, em ambos os casos se constituí em afronta as mesmas determinações constitucionais. Esta responsabilidade da União é decorrente do fato de ela também ter, nos termos do inciso IV do art. 23 da Constituição Federal, a competência de proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência. O mecanismo da intervenção, nos parece, será fator decisivo para inibir as autoridades estaduais e municipais competentes em relação à possibilidade de descumprimento da norma constitucional e de negligência em relação aos recursos para a educação. 4.6 Competência dos municípios Art. 30. Compete aos Municípios: VI - manter, com a cooperação técnicae financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; Esse artigo esclarece bem que a manutenção de programas de educação infantil e de ensino fundamental é uma competência municipal, cabendo à União e aos estados prestar colaboração técnica e financeira. A União e os estados não deveriam, portanto, atuar diretamente na execução de programas de educação infantil e de ensino fundamental, e nem na sua manutenção. Aliás, essa disposição é repetida no §2° do art. 211, da Constituição de 1988, cujo §1° define como competência da União prestar assistência técnica e financeira aos estados e aos municípios, especialmente para o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, ou seja, para o desenvolvimento do ensino fundamental. A Emenda Constitucional n° 14, de 1996, alterou a redação do art. 211, estabelecendo que "Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil." Ampliou-se assim, a área de atuação dos municípios também para o atendimento de crianças de zero a três anos de idade, em creches, pois o pré- escolar abrange crianças de quatro a seis anos. 29 Assim, estabelecer e manter programas de educação infantil e de ensino fundamental é, no campo da educação, a missão primordial das municipalidades brasileiras. É, na realidade, um enorme desafio para o qual os municípios precisam ser devidamente preparados pelos sistemas estadual e federal de ensino, por meio de assessoramento técnico e de apoio financeiro, que poderá se concretizar, c om amplas perspectivas de sucesso, ao serem colocadas em prática as medidas constantes do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, com a redação dada pela Emenda Constitucional n° 14, de 1996. 5 POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS: APONTAMENTOS SOBRE O DIREITO SOCIAL DA QUALIDADE NA EDUCAÇÃO Fonte: interneeduca.com.br Antes de adentrar no contexto que envolve as Políticas Públicas Educacionais, tem-se o entendimento do que vem a ser Política Pública, que a partir da etimologia da palavra se refere ao desenvolvimento a partir do trabalho do Estado junto à participação do povo nas decisões (Oliveira, 2010). Sob este entendimento conceitua-se que: se “políticas públicas” é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer, políticas públicas educacionais é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer em educação. Porém, educação é um conceito muito amplo para se tratar das políticas educacionais. Isso quer dizer que políticas educacionais é um foco mais específico do tratamento da educação, que em geral se aplica 30 às questões escolares. Em outras palavras, pode-se dizer que políticas públicas educacionais dizem respeito à educação escolar (Oliveira, 2010). É importante observar que as Políticas Públicas Educacionais não apenas se relacionam às questões relacionadas ao acesso de todas as crianças e adolescentes as escolas públicas, mas também, a construção da sociedade que se origina nestas escolas a partir da educação. Neste entendimento, aponta-se que as Políticas Públicas Educacionais influenciam a vida de todas as pessoas. No Brasil, com ênfase para a última década a expressão Políticas Públicas ganhou um rol de notoriedade em todos os campos, fala-se de Políticas Públicas para a educação, saúde, cultura, esporte, justiça e assistência social. No entanto, tais políticas nem sempre trazem os resultados esperados, pois somente garantir o acesso a todos estes serviços públicos não significa que estes tenham qualidade e, que efetivamente, os usuários terão seus direitos respeitados (Setubal, 2012). Diante destes aspectos tem-se que as Políticas Públicas se voltam para o enfrentamento dos problemas existentes no cotidiano das escolas, que reduzem a possibilidade de qualidade na educação. No entanto, somente o direcionamento destas para a educação não constitui uma forma de efetivamente auxiliar crianças e adolescentes a um ensino de melhor qualidade, posto que existam outros pontos que também devem ser tratados a partir das Políticas Públicas, como os problemas de fome, drogas e a própria violência que vem se instalando nas escolas em todo o Brasil (Quadros, 2008). Quando se fala em Políticas Públicas na educação a abordagem trata-se da articulação de projetos que envolvem o Estado e a sociedade, na busca pela construção de uma educação mais inclusiva e de melhor qualidade, ou seja, que resgate a construção da cidadania (Giron, 2008). Tem-se que o sistema educativo adotado e as Políticas Públicas direcionadas para a educação, são elementos que demonstram a preocupação do país com o seu futuro, pois somente o ensino público gratuito, inclusivo e de qualidade pode construir uma sociedade em que as diferenças socioculturais e socioeconômicas não são tão díspares (Freire, 1998). Neste sentido, tem-se que as Políticas Públicas Educacionais estão diretamente ligadas a qualidade da educação e, consequentemente, a construção de uma nova ordem social, em que a cidadania seja construída primeiramente nas famílias e, posteriormente, nas escolas e na sociedade. 31 5.1 Educação Pública no Brasil: uma história de encontros e desencantos A escola pública brasileira vem demonstrando, especialmente, nas últimas décadas um processo de desenvolvimento no contexto organizacional e de gestão, partindo do princípio que a democracia gera qualidade e oportunidade a todos também no âmbito escolar. Porém, a educação pública necessita mais do que oferecer escolas, é imprescindível ter docentes conscientes de seu papel educacional, tanto quanto social, bem como sejam oferecidas as crianças oportunidades de aprendizagem a partir da construção de conhecimento (Bolzano, 2004). A luta por uma escola cidadã no Brasil é envolvida por uma história de encontros e desencantos em que nem sempre o foco dos projetos é a qualidade da educação e a construção da cidadania, isto é: ao evidenciar um conjunto de concepções, práticas e estruturas inovadoras, a experiência da escola cidadã aponta possibilidades de uma educação com qualidade social, não redutora à dinâmica mercantil. O desenvolvimento de uma cultura participativa, de uma inquietação pedagógica com a não- aprendizagem, da busca dos aportes teóricos da ciência da educação, legitima a ideia de que a não-aprendizagem é uma disfunção da escola e que a reprovação e a evasão são mecanismos de exclusão daqueles setores sociais que mais necessitam da escola pública. Isso levou à convicção da necessidade de reinventar a escola, de redesenhá-la de acordo com novas concepções. Os avanços na formação em serviço evidenciaram aos educadores que a estrutura convencional da escola está direcionada para transmissão, para o treinamento e para a repetição, tendendo a neutralizar as novas proposições pedagógicas, no máximo transformando-as em modismos fugazes. Por isso, embora essenciais, não bastam apenas mudanças metodológicas, novidades teóricas, a adesão aos princípios de uma escola inclusiva, democrática, com práticas avaliativas voltadas ao sucesso do educando, é indispensável ainda a superação da estrutura taylorista-fordista, redefinindo os espaços, os tempos e os modelos de trabalho escolar (Azevedo, 2007). Neste sentido, se observam que as transformações vivenciadas no cenário educacional, especialmente, nas escolas públicas nas últimas décadas, estão diretamente ligadas às mudanças ocorridas nos campos político, social econômico e cultural, que originam uma nova situação nas condições de vida da sociedade, seja no campo social ou econômico (Furghestti, 2012). Compreender a necessidade de qualidade na educação e buscar a construção desta qualidade somente ocorre quando a escola cumpre com seu papel social e educacional, pois, quando a escola não cumpre efetivamente seu papel (Saviani, 2010). 32 Esta realidade de desencanto com a educaçãobrasileira assegura a esta um status de baixa qualidade, seja no contexto de toda a estrutura organizacional e educacional vivenciada, seja nos resultados de desempenho dos estudantes no processo ensino-aprendizagem. 5.2 Qualidade da Educação A qualidade na educação é elemento complexo devido a sua abrangência e necessidade de ter nas características físicas da escola, nos docentes e na didática de ensino fatores que possibilitem a construção desta qualidade. Isto não significa dizer que nenhuma criança ou adolescente fique fora da sala de aula é, importante que exista qualidade nesta escola básica, oferecida para todos (Bolzano, 2004). Com a necessidade de construir uma sociedade mais justa, digna e cidadã as discussões sobre a qualidade da educação se exacerbaram, neste campo tem-se que: a qualidade do ensino tem sido foco de discussão intensa, especialmente na educação pública. Educadores, dirigentes políticos, mídia e, nos últimos tempos, economistas, empresários, consultores empresariais e técnicos em planejamento têm ocupado boa parte do espaço dos educadores, emitindo receitas, soluções técnicas e, não raro, sugerindo a incompetência dos educadores para produzir soluções que empolguem a qualificação do ensino. Essa invasão de profissionais não identificados ou não envolvidos com as atividades do campo educacional merece uma reflexão. Não se trata aqui de preconizar o monopólio da discussão da educação aos educadores, mas de registrar a intensa penetração ideológica das análises, dos procedimentos e das receitas tecnocráticas à educação (Azevedo, 2007). A qualidade da educação, especialmente nas escolas públicas não podem ser construídas com base unicamente em políticas quantitativas e privatizadoras, em que a escola particular seja símbolo de eficiência, mas em programas que tenham no resgate da qualidade da escola pública a sua força para alcançar efetivamente um melhor nível educacional. No Brasil a eficiência das escolas públicas, que poderiam ser traduzidas em qualidade educacional, está intimamente ligada a influência tecnicista dos americanos e do humanismo republicano. Porém, este humanismo é contraditório, pois não tem por objetivo a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres e, sim, de seus direitos, fazendo surgir um paternalismo que oprime a escola a oferece educação e não educação de qualidade (Liberati, 2004). 33 Esta qualidade não é alcançada com uma educação institucionalizada que busca fornecer conhecimento já pronto para que as crianças e os adolescentes continuem a propagação desta sociedade mercantilizada, mas deve buscar a geração e transmissão de valores éticos, morais e cidadãos que efetivamente são construtores de novos conhecimentos e de uma sociedade a luz da cidadania (Furghestti, 2012). 5.3 A Educação com Base nas Leis Federais Embora as Leis 11.114/2005 e 11.274/2006 possam ser compreendidas como instrumentos de avanço na educação, há que se avaliar que as mudanças na educação brasileira iniciaram-se com a LDB 9.394/1996, que constituíram a fonte de ações para um novo olhar das políticas públicas na educação (Furghestti, 2012). Considera-se importante comentar que a LDB 9.394/1996 foi um marco nos rumos da educação brasileira, consubstanciando em seu art. 2º que: Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Brasil, 1996). A luz desta avaliação tem-se que as leis 11.114/2005 e 11.274/2006, trouxeram mudanças, porém não alteraram na essência a LDB 9.394/1996 devido a sua importância no campo dos avanços para a educação e de leis a ela direcionadas. Dentre as principais inovações das Leis Federais nº 11.114/2005 e 11.274/2006, está à garantia de que a educação oferecida a todas as crianças e adolescentes na escola pública brasileira será de qualidade, pois não basta apenas acesso à escola é preciso oportunidade de aprendizagem e construção de conhecimento. No que concerne à garantia de qualidade da educação, tem-se: [...] o inciso IX do art. 4º da LDB dispõe que: “o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: [...] IX – padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem” (Azevedo, 2007) A LDB apresentou que o ensino de qualidade está diretamente ligado a diversos fatores, como a quantidade de alunos em sala de aula; a disponibilidade de recursos materiais, humanos e didáticos em sala de aula e a contextualização da 34 escola com a sociedade, especificamente, com a comunidade em que se encontra inserida (Furghestti, 2012). 5.4 A Educação e o ECA Fonte: kroton.vteximg.com.br O ECA pode ser considerado um dos grandes marcos do Direito brasileiro, sendo um divisor de águas, não apenas nas questões de proteção aos direitos de menores em confronto com a lei, mas também, nos aspectos que envolvem a educação. A origem do ECA assim como da LDB de 1996 se alicerçaram em uma necessidade de liberdade e direitos negados nas décadas anteriores: Nas décadas de 1970 e 1980, durante a ditadura militar pós AI-5 e até pouco depois da sua queda, teve lugar um longo processo de reorganização das forças sociais no Brasil, que levou ao surgimento de diversos movimentos sociais setoriais, à formação de novas organizações político partidárias de base e expressão popular nunca vista, como o caso do Partido dos Trabalhadores, e que culmina com o processo da Assembleia Nacional Constituinte (em diante ANC) de 1986, e da promulgação de algumas leis setoriais posteriores, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, e a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996 (Mancilla, 2006). Considera-se que tanto o ECA, quanto a LDB foram precedidos por uma mobilização social que continha ânsias sociais, especialmente, no campo da educação e da democracia. Assim, ambas as leis influenciaram grandemente no novo 35 posicionamento da educação pública que intentou o resgate da proteção dos direitos de crianças e adolescentes. A educação no ECA está priorizada nos arts. 4º e 54, sendo que o primeiro trata dos direitos essenciais de crianças e adolescentes e deveres do Estado e de toda a sociedade que deve protegê-los: Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente. § 3ºCompete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola. (Brasil, 1990). Sob o manto protetor da lei, o ECA buscou inovar por possibilitar que crianças e adolescentes a partir do seu direito de inserção a escola e ensino de qualidade, partindo do princípio que um bom nível de educação permite profundas mudanças socioculturais e políticas (Oliveira, 2003). Falar da educação em relação ao ECA é, antes de mais nada, propagar uma das principais preocupações deste estatuto, pois ele traz em seu bojo a essência do processo ensino-aprendizagem de crianças e adolescentes, enquanto direito social. 5.5 A Educação à Luz da Constituição Federal A Constituição Federal brasileira de 1988, considerada a mais humana de todos os tempos, trouxe em seu bojo abordagens importantes para a educação. 36 Não obstante aponta-se que a Constituição Federal não traz somente o acesso à escola, mas o pleno desenvolvimento das pessoas a partir da educação, o que denota a pertinência de uma educação de qualidade. Sendo que a CF em seu art. 205, VII, menciona a “garantia de padrão de qualidade” do ensino, ou seja, não apenas o acesso de crianças e adolescentes a escola, mas um ensino de qualidade. Garantia está também presente no inciso IX do art. 4º da LDB. Ao tratar sobre a educação à luz da Constituição Federal, tem-se que segundo a “[...] legislação brasileira, o direito à educação engloba os pais, o Estado e a comunidade em geral e os próprios educandos, mas é obrigação do Estado garantir esse direito, inclusive quando o assunto é qualidade. [...]” (Cabral, 2012). Em consonância com a Constituição Federal de 1988 a educação pública de qualidade é obrigação do Estado, sendo ainda o acesso ao ensino fundamental obrigatório e gratuito, um direito público subjetivo (Brasil, 1988). A Constituição Federal em seu art. 6º também preceitua que a educação faz parte dos direito sociais. Neste enfoque quando é negado a qualquer criança ou adolescente o seu direito de frequentar uma escola e receber um ensino de qualidade, possibilitando a construção de valores que o levam ao exercício da cidadania, se está negando um direito social amparado na Constituição Federal. Deste modo, conclui-se que as discussões sobre o que é qualidade na educação remontam a diversos aspectos, pois tem-se que esta qualidade origina-se de diversos indicadores: a qualidade da estrutura predial, organizacional e humana das escolas, além do aporte metodológico e didático que possibilita aos docentes oferecer um processo ensino-aprendizagem qualitativo. As Políticas Públicas Educacionais são de extrema importância no que se relaciona a tornar o ensino fundamental público mais qualitativo, em todos os âmbitos formando assim, verdadeiros cidadãos. O Brasil passou nas décadas de 70 e 80 por um processo de impedimento do crescimento intelectual e escolar. Neste sentido, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 e a LDB 9.394/1996 foram instrumentos da reconstrução de um país efetivamente democrático, em que a educação não apenas torna-se um direito de crianças e adolescentes, mas um dever do Poder Público, família, escola e toda a sociedade. 37 As alterações da LDB 9.394/1996 nos anos de 2005 e 2006, não modificaram a sua essência que constitui o alicerce de uma educação pública de qualidade efetivamente formadora de cidadãos aptos a construir uma nova sociedade. Aponta-se deste modo, que a Constituição Federal de 1988 se difere da maioria das constituições e instrumentos internacionais, não apenas tratou da educação, mas fez menção expressa a necessidade de que se ofereça uma educação pública de qualidade e acessível a todos. Sob o manto protetor deste instrumento, tornou-se assim, a educação de qualidade, um direito social5. 6 DIREITO EDUCACIONAL E LEGISLAÇÃO DO ENSINO: A COMUNICAÇÃO INTERTEXTUAL Conforme já ressaltado, deve-se estabelecer as fronteiras semânticas entre Legislação do Ensino e Direito Educacional. Este possui unidade doutrinária, marcação teórica, sistematização de princípios e, ainda, metodologias estruturadoras de um corpo jurídico pleno e coerente. De acordo com conceituação de Melo Filho (1983, p.54), [...] pode ser entendido como um conjunto de técnicas, regras e instrumentos jurídicos sistematizados que objetivam disciplinar o compartilhamento humano relacionado à educação. A legislação do Ensino, por outro lado, é “uma pletora de normas que vão desde leis federais, estaduais, municipais, decretos do Poder Executivo, portarias ministeriais até estatutos e regimentos das escolas”. Importa dizer que o Direito Educacional compreende a Legislação do Ensino, porém, não se esgota nela. Pode-se afirmar que o Direito Educacional, a par do desenvolvimento da educação, resulta do próprio desenvolvimento das ciências jurídicas, na perspectiva posta por Paulo NADER (1996), segundo a qual [...] a árvore jurídica, a cada dia que passa, torna-se mais densa, com o surgimento de novos ramos que, em permanente adequação às transformações sociais, especializam-se em sub-ramos (NADER, 1996, p.2). 5 Texto extraído do link: http://periodicos.ufc.br/labor/article/view/6627/4851. 38 Esta concepção hospeda-se in totum no pensamento do jurista Celso Afonso Bandeira de MELLO (1995, p.23), ao formular a seguinte definição lapidar para ramo do Direito: Diz-se que há uma disciplina jurídica autônoma quando corresponde a um conjunto sistematizado de princípios e normas que lhe dão identidade, diferenciando-se das demais ramificações. Como disciplina recente no palco acadêmico, o Direito Educacional extrapola os limites da legislação, entendida esta como “uma coleção de leis esparsas, e encorpa um sistema jurídico dotado de unidade doutrinária e precisos objetivos...”, para usar expressões de Sussekind e Boaventura (1996, p.46). Em conclusão, o Direito Educacional compõe o campo do Direito Positivo ao ocupar-se do universo constituinte do ordenamento normativo coativo do complexo campo da educação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) põe-se como código central deste ordenamento, desdobrada e complementada por um entranhado de leis conexas e estatutos normativos complementares. Todo este universo legal e normativo enraíza-se na seção especial da Constituição Federal, cujos princípios fundantes aí se veem inscritos. Ao lado do direito público subjetivo à educação, há o dever do Estado não apenas de garantir este direito, mas também de assegurar, à cidadania concreta, o acesso à justiça para postular, quando for o caso, tal direito. Ferraz (1982/1983, p.28- 29.) é conclusiva nesta percepção, como se vê: Existe o direito educacional no sentido objetivo, ou seja, no sentido de um conjunto, de um riquíssimo conjunto de normas e princípios jurídicos regulamentadores da atividade educacional, desenvolvidas pelo Estado e pelas pessoas e entidades particulares, por ele autorizadas e fiscalizadas. Tais normas e princípios possuem uma suficiente especificidade para merecer tratamento científico por parte da dogmática jurídica, sendo considerados uma categoria e um capítulo do direito administrativo, quando não numa linha mais ambiciosa, um ramo dessa disciplina, ou até mesmo, uma disciplina autônoma, exatamente porque a matéria tratada por essas leis – a educação – é de uma tal especificidade, de uma tal dignidade, diz tão de perto o respeito ao maior interesse da criatura humana, que é a educação, que deveria ser regulada em capítulo à parte, para bem, até mesmo, do Poder Judiciário, na hora de aplicar a lei. 39 6.1 O Estado Democrático, os Direitos Fundamentais Prestacionais e a Ordem da Cidadania Qualificada A concepção de
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