Buscar

Homem, Cultura e Sociedade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 185 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 185 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 185 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ISBN 978-85-8143-641-8
U
N
O
P
A
R
 
Homem, cultura 
e sociedade
Giane Albiazzetti
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
H
o
m
e
m
, cu
ltu
ra
 e
 so
cie
d
a
d
e
C M Y K CL ML LB LLB
88822-978-85-8143-641-8_Unopar_capa.pdf, page 1 @ Preflight Server ( 9788581436418_UNOPAR_Homem_cultura_sociedade.indd ) - 06:34:48 - January 10, 2014 - PG-1
C M Y K CL ML LB LLB
Homem, 
cultura e 
sociedade
Homem_cultura_e_sociedade.indd 1 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-1
Avaliação e 
ação docente
Sandra Regina dos Reis Rampazzo
Marlizete Cristina Bonafini Steinle
Edilaine Vagula
AvaliacaoAcaoDocente.indd 3 8/3/12 3:28 PM
Homem_cultura_e_sociedade.indd 2 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-2
Homem, 
cultura e 
sociedade
Giane Albiazzetti
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Avaliação e 
ação docente
Sandra Regina dos Reis Rampazzo
Marlizete Cristina Bonafini Steinle
Edilaine Vagula
AvaliacaoAcaoDocente.indd 3 8/3/12 3:28 PM
Homem_cultura_e_sociedade.indd 3 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Albiazzetti, Giane 
 Homem, cultura e sociedade / Giane Albiazzetti, Márcia Bastos de 
Almeida, Okçana Battini. — São Paulo : Pearson Education do Brasil, 
2013. 
Bibliografia
ISBN 978-85-8143-641-8
1. Cultura – Estudo e ensino 2. Desenvolvimento cultural 3. Evolução 
humana 4. Homem 5. Sociedade I. Almeida, Márcia Bastos de. II. Battini, 
Okçana. III. Título. 
13-01074 CDD-306.07
Índices para catálogo sistemático:
1. Cultura e sociedade : Sociologia : Estudo e ensino 306.07 
2. Sociedade e cultura : Sociologia : Estudo e ensino 306.07
© 2013 by Pearson Education do Brasil e Unopar 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação 
poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo 
ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, 
gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, 
sem prévia autorização, por escrito, da Unopar e da Pearson Education do Brasil.
Diretor editorial e de conteúdo: Roger Trimer
Gerente de produção editorial: Kelly Tavares
Supervisora de produção editorial: Silvana Afonso
Coordenador de produção editorial: Sérgio Nascimento
Editor: Casa de Ideias
Editor assistente: Marcos Guimarães
Revisão: Viviane Oshima
Capa: Solange Rennó e Wilker Araujo
Diagramação: Casa de Ideias
2013
Pearson Education do Brasil
Rua Nelson Francisco, 26 
CEP: 02712 ‑100 — São Paulo — SP 
Tel.: (11) 2178 ‑8686, Fax: (11) 2178 ‑8688 
e ‑mail: vendas@pearson.com
Homem_cultura_e_sociedade.indd 4 01/03/13 11:10
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-4
Sumário
Unidade 1 — A transição do mito ao logos ....................1
Seção 1 A filosofia e sua origem ........................................................3
Seção 2 O movimento sofista e socrático .......................................12
Seção 3 Do pensamento clássico aos medievais ..............................18
Seção 4 Filosofia dos modernos ......................................................25
Unidade 2 — O pensamento moderno ........................39
Seção 1 Concepção de ciência moderna .........................................41
Seção 2 O racionalismo ..................................................................46
Seção 3 O empirismo ......................................................................50
Seção 4 O mundo máquina .............................................................53
Seção 5 O criticismo kantiano no movimento iluminista ................55
Seção 6 O positivismo .....................................................................57
Unidade 3 — Cultura e ideologia .................................69
Seção 1 Ideologia e cultura: uma relação indissociável e espaço 
de contradição .................................................................70
Seção 2 O surgimento do modo de produção capitalista e a 
formação da nossa sociedade .......................................... 73
Unidade 4 — Antropologia e cultura ...........................85
Seção 1 Cultura: o “cimento” que possibilita a união social ...........86
Seção 2 Antropologia: as correntes teóricas e a interpretação 
sobre a construção da cultura ...........................................89
2.1 Por que a Antropologia surgiu? ..............................................................89
2.2 O pensamento científico como base para o surgimento da Antropologia ..93
Homem_cultura_e_sociedade.indd 5 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-5
vi H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
2.3 Estruturalismo .....................................................................................108
2.4 Antropologia interpretativa ou hermenêutica .......................................114
2.5 Diversidade cultural: etnocentrismo e relativização .............................117
Unidade 5 — Formação da cultura brasileira .............131
Seção 1 Aspectos históricos na formação da cultura brasileira .....132
1.1 Gilberto Freire .....................................................................................137
1.2 Sérgio Buarque de Holanda .................................................................137
1.3 Florestan Fernandes .............................................................................139
Seção 2 Diversidade cultural brasileira e relações inter-étnicas ....141
Referências ................................................................159
Sugestão de leitura .....................................................163
Homem_cultura_e_sociedade.indd 6 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-6
O crescimento e a convergência do potencial das tecnologias da informação 
e da comunicação fazem com que a educação a distância, sem dúvida, contribua 
para a expansão do ensino superior no Brasil, além de favorecer a transformação 
dos métodos tradicionais de ensino em uma inovadora proposta pedagógica.
Foram exatamente essas características que possibilitaram à Unopar ser o que 
é hoje: uma referência nacional em ensino superior. Além de oferecer cursos nas 
áreas de humanas, exatas e da saúde em três campi localizados no Paraná, é uma 
das maiores universidades de educação a distância do país, com mais de 450 
polos e um sistema de ensino diferenciado que engloba aulas ao vivo via satélite, 
Internet, ambiente Web e, agora, livros‑texto como este.
Elaborados com base na ideia de que os alunos precisam de instrumentos didáticos 
que os apoiem — embora a educação a distância tenha entre seus pilares o autodesen‑
volvimento —, os livros‑texto da Unopar têm como objetivo permitir que os estudantes 
ampliem seu conhecimento teórico, ao mesmo tempo em que aprendem a partir de 
suas experiências, desenvolvendo a capacidade de analisar o mundo a seu redor.
Para tanto, além de possuírem um alto grau de dialogicidade — caracterizado 
por um texto claro e apoiado por elementos como “Saiba mais”, “Links” e “Para 
saber mais” —, esses livros contam com a seção “Aprofundando o conhecimento”, 
que proporcionaacesso a materiais de jornais e revistas, artigos e textos de outros 
autores.
E, como não deve haver limites para o aprendizado, os alunos que quiserem 
ampliar seus estudos poderão encontrar na íntegra, na Biblioteca Digital, acessando 
a Biblioteca Virtual Universitária disponibilizada pela instituição, a grande maioria 
dos livros indicada na seção “Aprofundando o conhecimento”.
Essa biblioteca, que funciona 24 horas por dia durante os sete dias da semana, 
conta com mais de 2.500 títulos em português, das mais diversas áreas do conhe‑
cimento, e pode ser acessada de qualquer computador conectado à Internet.
Somados à experiência dos professores e coordenadores pedagógicos da 
Unopar, esses recursos são uma parte do esforço da instituição para realmente 
Carta ao aluno
Homem_cultura_e_sociedade.indd 7 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-7
viii H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
fazer diferença na vida e na carreira de seus estudantes e também — por que 
não? — para contribuir com o futuro de nosso país.
Bom estudo!
Pró‑reitoria
Homem_cultura_e_sociedade.indd 8 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-8
O presente texto aborda a importância do homem como agente responsável 
pela construção da realidade social, enfocando a cultura como categoria central 
para a constituição das relações sociais vigentes. Para isso torna‑se essencial a 
discussão dos princípios do modo de produção capitalista e sua influência nos 
aspectos econômicos, políticos e culturais, sendo que esses fatores é que sustentam 
a sociedade e a formação do ser social. 
Para isso devemos analisar o processo de expansão europeia a partir do século 
XV e da dominação colonialista e imperialista, com suas consequências sobre a 
organização social, cultural, política e econômica dos povos dominados. Além 
disso, o livro propõe uma discussão em relação às implicações desse processo 
colonialista e imperialista sobre o caso particular do Brasil, especialmente no que 
se refere à formação histórica, cultural e educacional da sociedade e da cultura 
brasileira, enfatizando‑se as relações de dominação política e econômica como 
fundamentos da hierarquização social e das desigualdades étnicas e de classe ao 
longo da nossa história. 
O passado, portanto, não pode ser tomado como obra do acaso ou de meros 
acidentes históricos, tampouco como o acúmulo progressivo de grandes atos e 
feitos heroicos de homens especiais. O que o professor Mota (1974, p. 14, grifo 
do autor) propõe é que “[...] há em curso uma história profunda, lenta, silenciosa, 
subterrânea, uma história das estruturas, diversa de uma história de superfície, 
rápida, leve, do dia a dia, uma ‘história dos acontecimentos’”. 
Com isso, o presente e o cotidiano passam a ser reconhecidos como resultado 
de um contexto mais amplo, que comanda os bastidores da realidade social, e por 
isso todas as evidências históricas têm que ser pesquisadas e analisadas em suas 
inúmeras facetas. Eric Hobsbawm, em seu livro Era dos Extremos (2000), afirma 
que essa articulação entre passado e presente é recuperar dados precisos e com‑
prováveis acerca da trajetória humana ao longo do tempo, fornecendo informações 
indispensáveis para a compreensão da realidade social.
Assim, este livro faz uma abordagem histórica, filosófica, sociológica e antro‑
pológica mostrando como se deu a passagem do pensamento mitológico para o 
Apresentação
Homem_cultura_e_sociedade.indd 9 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-9
x H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
pensamento filosófico e como este último foi se modificando e modificando a forma 
de conhecimento e as relações sociais.
Esperamos que você se sinta provocado à busca de um conhecimento mais pro‑
fundo e consistente. Que este livro seja um “esticador” de horizontes em sua vida 
acadêmica.
Homem_cultura_e_sociedade.indd 10 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-10
A transição do
mito ao logos
 Seção 1: A filosofia e sua origem
Nesta seção apresentaremos os aspectos gerais do 
pensamento mitológico e do nascimento do pensa-
mento filosófico na Grécia Antiga como uma interpre-
tação racional do mundo e dos fenômenos naturais 
seu sentido pedagógico.
 Seção 2: O movimento sofista e socrático
Nesta seção apresentaremos o movimento que se 
tornou importante para o conhecimento e dissemina-
ção da filosofia e a inauguração de um novo projeto 
filosófico-pedagógico: o movimento dos sofistas. Os 
sofistas, além de ensinarem, provocaram conflitos 
conceituais e promoveram discussões em torno da 
política e do novo modelo de governo instaurado 
Objetivos de aprendizagem: O objetivo desta unidade é aprender 
como o pensamento mitológico se constituiu em elemento fun-
damental na passagem para o pensamento racional, lógico ou 
filosófico. 
Unidade 1
Márcia Bastos de Almeida
Homem_cultura_e_sociedade.indd 1 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-11
naquele período. Ainda na mesma seção, apresen-
taremos a figura de Sócrates que mudou o eixo da 
discussão filosófica e inaugurou a Ética, conforme 
conhecemos e pensamos.
 Seção 3: Do pensamento clássico aos medievais
Apresentaremos nesta seção o pensamento pedagó-
gico de Platão, Aristóteles e os filósofos que represen-
taram a Idade Média: Santo Agostinho e São Tomaz 
de Aquino. O pensamento desses filósofos representa 
importante marco na Filosofia e, principalmente, na 
Filosofia da Educação no Brasil.
 Seção 4: Filosofia dos modernos
Nesta seção, vamos apresentar o movimento filosó-
fico educacional no período moderno que marcou 
profundamente o modelo educacional da contem-
poraneidade. Da modernidade herdamos o modelo 
de conhecimento, os valores, o modo de produção 
e o modelo educacional. O pensamento de impor-
tantes filósofos como Descartes, Rousseau e Locke 
ainda figura em fundamentação dos modelos peda-
gógicos vigentes no sistema educacional brasileiro, 
daí a importância de dedicarmos uma seção aos 
modernos.
Homem_cultura_e_sociedade.indd 2 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-12
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 3
Introdução ao estudo
Nesta unidade, apresentaremos a origem da Filosofia e a Filosofia da Educação 
em sua especificidade. A importância de iniciarmos nossa leitura e o nosso curso 
com esse tema significa a importância que a instituição assegura ao curso de Peda‑
gogia por uma formação humanista e, principalmente, por um profissional reflexivo 
e comprometido com a educação em sua forma científica e não técnica.
Todas as seções abordadas terão como foco a relação entre filosofia e educação 
em todos os períodos marcantes da História do pensamento da humanidade: a anti‑
guidade clássica, o período medieval, os modernos e os contemporâneos. Para isso 
iniciaremos uma breve apresentação da origem da filosofia, seus principais movi‑
mentos e filósofos em seus aspectos centrais.
Faremos esse movimento porque precisamos voltar ao passado e conhecer 
as raízes no pensamento filosófico que inauguraram uma forma específica de 
conhecer e dar respostas à realidade, ao mundo e a tudo o que nele existe. A 
Filosofia, portanto, nasceu como teoria do conhecimento e se mantém até a atua‑
lidadedesvelando o real com a intenção de explicá‑lo e socializá‑lo, e isto só é 
possível por uma educação sistematizada. Assim, podemos dizer que a Filosofia 
também nasceu com vocação pedagógica, porque com ela se inicia um período 
de construção de conhecimento e um projeto pedagógico a ser executado: a Pai-
deia. Eis o motivo de estudarmos, no curso de Pedagogia, a disciplina filosófica: 
teoria geral do conhecimento.
A filosofia da Educação é uma disciplina que com a História, a Psicologia e a 
Sociologia se constituem como fundamentação da educação nos cursos de Pedago‑
gia. Nos anos 1970, com a abertura e a proliferação dos cursos de pós‑graduação, a 
disciplina conquistou um amplo espaço no debate educacional e se tornou uma das 
mais importantes áreas de pesquisa e produção literária.
Contudo, consideramos por bem iniciarmos este trabalho explicitando a gênese 
(início) do pensamento filosófico, sua vocação educacional e sua trajetória no espaço 
acadêmico e, principalmente, no curso de Pedagogia.
Portanto, vamos iniciar nossa leitura, ou melhor, a nossa viagem ao mundo do 
conhecimento. 
 Seção 1 A filosofia e sua origem
A filosofia nasceu da curiosidade e do espanto e é uma produção grega. Como 
área de conhecimento, que chegou até nós e influenciou o desenvolvimento da ci‑
vilização ocidental, a filosofia teve sua gênese e desenvolvimento na Grécia Antiga. 
Os povos do Oriente, embora com níveis de conhecimento, desenvolvimento social, 
político e econômico muito mais avançados, não conseguiram “fazer filosofia” da 
mesma forma que o conseguiram os gregos. Reale (1993, p. 11) explica:
Homem_cultura_e_sociedade.indd 3 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-13
4 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
Crenças e cultos religiosos, manifestações artísticas de natureza 
diversa, conhecimentos e habilidades técnicas de diferentes espé‑
cies, instituições políticas, organizações militares existiram seja nos 
povos orientais que chegaram à civilização antes dos gregos, seja 
entre os gregos, e, consequentemente, é possível fazer confrontos 
[...]. No que diz respeito à filosofia, porém, encontramo‑nos diante 
de um fenômeno tão novo que, como dissemos, não só não há entre 
os povos orientais idêntico correlativo, mas nem mesmo algo que 
analogicamente comporte comparação com a filosofia dos gregos 
ou que a prefigure de momo inequívoco. 
Ou seja, havia desenvolvimento em povos tão antigos quanto os gregos, mas a 
forma de pensar, de usar a razão e desenvolver o que ficou conhecido como LOGOS 
foi um fenômeno que se restringiu ao povo grego.
Antes do que costumamos chamar de nascimento da Filosofia, assim mesmo, 
com F maiúsculo, as pessoas que ensinavam, explicavam os acontecimentos de or‑
dem natural, como os ciclos da natureza, a origem do universo e do homem, eram 
os poetas. Um desses poetas gravou seu nome na história da humanidade: Homero. 
Seus poemas eram lidos e relidos e, pode‑se arriscar uma afirmação aqui, tinham 
o mesmo valor que um livro “sagrado”. Isto porque seus poemas continham uma 
conotação mística e religiosa. Não podemos desprezar essa necessidade inerente ao 
ser humano de buscar explicações do cotidiano no sobrenatural daquilo que foge à 
sua racionalidade comum.
Outros poetas existiram ao tempo de Homero, mas somente ele os construiu com 
imaginação rica e peculiar de uma mente privilegiada. Suas narrativas continham 
descrições dos eventos — tanto bons quanto ruins — de forma harmoniosa. Reale 
descreve seus dois grandes poemas, Odisseia e Ilíada:
[...] foi bem observado que seus dois poemas, construídos por 
uma imaginação tão rica e variada, transbordantes de maravilha, 
de situações e eventos fantásticos, não caem, senão raras vezes, 
na descrição do monstruoso e disforme, como em geral acontece 
nas primeiras manifestações artísticas dos povos primitivos: a ima‑
ginação homérica já se estrutura segundo o sentido da harmonia, 
da eurritmia, da proporção, do limite e da medida, que se revelará, 
depois, uma constante da filosofia grega, a qual erigirá a medida e 
o limite até mesmo em princípios metafisicamente determinantes 
(REALE, 1993, p. 19).
A produção poética de Homero já apresentava uma racionalidade sistemática, 
organizada e com nexos causais. Neles já se anunciava o afastamento de uma racio‑
nalidade mitológica para dar espaço a uma racionalidade lógica. Em seus poemas, 
os fatos são narrados com a apresentação de suas razões. Ou seja, há a explicações 
dos “porquês” dos eventos, ou a presença dos nexos causais.
Dando continuidade à nossa caminhada em busca da compreensão da origem 
da filosofia, apresentamos na sequência pontos elucidativos para que isso aconteça.
Compreender o mundo, os ciclos da natureza, o ser humano e suas fases crono‑
lógicas até a morte, a origem de todos os astros que compõem o universo, o ciclo 
Homem_cultura_e_sociedade.indd 4 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-14
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 5
marítimo e sua relação com as fases lunares, enfim, tudo isso e muito mais fazem 
parte de um conjunto de fenômenos que na antiguidade eram desconhecidos. Esse 
desconhecimento provocava a curiosidade, a admiração, a perplexidade, ou seja, 
provocava espanto! Tudo o que nos é estranho, ou que não conseguimos compreen‑
der a partir de nossas experiências e conhecimentos, nos causam esses sentimentos. 
Por isso, à medida que aos poucos a racionalidade filosófica passava a dar res‑
postas para esses “mistérios”, o espanto ia dando lugar a novas perguntas que eram 
respondidas por esse novo modo de conhecer: a Filosofia. Por isso é que podemos 
dizer que a Filosofia tem uma pergunta básica, ou seja, aquela pergunta que está 
sempre (ou deveria estar) em nossos pensamentos: o que é a realidade? Ou ainda: 
por que tudo o que está a nossa volta existe? Por que nós existimos? Qual o sentido 
da vida se existe a morte? Por que precisamos fazer escolhas? Depois de respondidas 
essas questões surgem outras, e outras, e outras... infinitamente. A Filosofia procura 
respostas e, quando as encontra, muda as perguntas! Atenção! Não é verdade que a 
Filosofia não encontra respostas. Encontra sim, mas suas respostas não têm o caráter 
de conhecimento absoluto e, dessa forma, todos podemos concordar ou não com 
as suas conclusões e é assim que o pensamento e o mundo vão se transformando.
Na contemporaneidade, isto é, nos tempos atuais, nossas curiosidades não são 
tantas como no período antigo e para respondê‑las todos nós recorremos à Internet. 
Mas na antiguidade não existia Internet com todos os sites de busca que hoje nos 
são disponibilizados. Por isso e muito mais, convido o leitor para um passeio até a 
Grécia Antiga, mais especificamente entre os séculos V e VI a.C., e visitar as origens 
do pensamento ocidental, o nosso pensamento. Isto mesmo, o nosso modo de pensar, 
nossa cultura, nossos valores são marcados pela influência da Filosofia Grega. 
Pois bem, vamos começar por entender o significado etimológico da palavra Fi‑
losofia, ou seja, vamos entender o que a palavra significa ao pé da letra. Essa palavra 
é composta por outras duas palavras: Philo e Sophia, assim mesmo com PH. Philo 
significa amigo/amizade e Sophia que significa saber/sabedoria. Portanto, juntando 
o significado das duas palavras temos amigo do saber e daí pode‑se entender que o 
filósofo é aquele que é amigo da sabedoria ou aquele que busca sempre o conhe‑
cimento, o saber. A Profa. Marilena Chaui oferece a seguinte explicação: “Assim, 
filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama a sabedoria, tem amizade 
pelo saber, deseja saber” (CHAUI, 2002, p. 19).
Sevocê chegou até aqui, podemos dizer que a busca pelo conhecimento o está 
motivando e, no sentido exposto acima, podemos dizer que você é um filósofo e, 
portanto, podemos continuar estudando. Segundo registros na literatura, foi Pitágoras 
de Samos (século V a.C.) o criador da palavra filosofia sem dar a ela o estatuto de área 
de conhecimento, mas sim de uma postura diante do que se lhe apresenta diante dos 
olhos. Vamos compreender melhor a ideia de Pitágoras:
Pitágoras teria afirmado que a sabedoria completa pertence aos 
deuses, mas os homens podem desejá‑la e amá‑la, tornando‑se 
filósofos. Dizia ainda que três tipos de pessoas compareciam aos 
jogos olímpicos (festa mais importante na Grécia): as que iam para 
Homem_cultura_e_sociedade.indd 5 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-15
6 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
comerciar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos pró‑
prios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as 
que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (durante os jogos 
havia competições artísticas: dança, teatro, poesia, musica); e as 
que iam contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho 
e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de 
pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo (CHAUI, 2002, p. 20).
Isso quer dizer que o comportamento natural de um filósofo não está ligado a 
interesses pessoais, mas tão somente à busca de uma compreensão das coisas, à busca 
da sabedoria e do conhecimento. Buscar o conhecimento, aprender e socializar esse 
conhecimento e aprender faz parte do perfil do filósofo. Pensando assim, podemos 
dizer que somos filósofos!
Os primeiros gregos considerados sábios ou sophos ficaram conhecidos como filó‑
sofos pré‑socráticos. Isto porque Sócrates figura na história da Filosofia como “divisor 
de águas” na discussão filosófica. É assim porque 
os primeiros filósofos ou pré‑socráticos queriam 
compreender o mundo natural, a physis, e Sócrates 
concentraram‑se em compreender o agir humano 
inaugurando a Ética e, também, uma forma e um 
método de encontrar a verdade.
A Filosofia Antiga está dividida conforme os 
problemas, as discussões e os confrontos entre os 
pensadores iam se definindo. Dessa forma, ela (a Filosofia) se dividiu nos seguintes 
períodos:
1. Período naturalista ou pré‑socrático: o problema dessa fase era a busca da 
compreensão da physis, ou seja, o cosmo e tudo o que nele existe. Os gru‑
pos de pensadores que o representaram estão divididos entre os jônicos, os 
pitagóricos, os eleatas e os pluralistas.
2. Período humanista: surgiu quando o período naturalista não atendia as “de‑
mandas” das discussões políticas, sociais e morais. Esse período é represen‑
tado no primeiro momento pelos sofistas e, na sequência, por Sócrates, que 
inaugura a busca pela essência do homem.
3. Período das Sínteses Platônica e Aristotélica: esse período, muito rico no pensa‑
mento filosófico, traz à tona a ideia do suprassensível e a formulação orgânica 
dos problemas filosóficos. Ou seja, explicam os problema de ordem ética e 
política (para citar apenas dois), a partir de uma ideia de organismo vivo.
4. Período das escolas helenísticas: esse período foi marcado pelas escolas que 
representavam os sistemas filosóficos: estoicismo, epicurismo e ceticismo.
5. Período religioso: representado pelo encontro entre a cultura helênica em 
Alexandria e o cristianismo.
Vamos abordar aqui o primeiro período, conhecido também por movimento pré‑
‑socrático. Sobre o movimento dos filósofos pré‑socráticos chamaremos a sua aten‑
Para saber mais
A palavra sophos é de origem 
grega e significa saber/sabedoria.
Homem_cultura_e_sociedade.indd 6 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:50 - January 10, 2014 - PG-16
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 7
ção para três movimentos que consideramos fundamentais para o seu entendimento 
posterior quando examinarmos a relação que pretendemos fazer com a educação e, 
mais especificamente, com a Pedagogia. Primeiro vamos compreender os atomistas. 
Esse nome, atomista, vem da palavra átomo (menor partícula indivisível) e o fundador 
desse movimento foi Leucipo. No entanto, suas ideias principais foram desenvolvidas 
por seu discípulo Demócrito que desenvolveu as ideias de Leucipo e as transformou 
em uma das doutrinas filosóficas mais influentes de toda a Antiguidade. Isto quer 
dizer que o modo como Leucipo e depois Demócrito compreendiam a realidade, 
ou o modo como eles interpretavam o mundo, a natureza e tudo o que nela existe, 
ficou marcado e influenciou muitos pensamentos, incluindo até o pensamento de 
Karl Marx muitos séculos depois.
A doutrina atomista afirma que tudo que está a nossa volta (inclusive nós mesmos) 
se constitui por matéria. Tudo é matéria, ou melhor, tudo está formado por átomos. 
Eles foram os primeiros materialistas do mundo ocidental. Vamos entender melhor:
A doutrina atomista sustenta que a realidade consiste em átomos e 
no vazio, os átomos se atraindo e se repelindo, e gerando com isso 
os fenômenos naturais e o movimento. A atração e repulsão dos 
átomos devem‑se às suas formas geométricas, sendo que átomos 
de formas semelhantes se atraem e os de forma diferente se repe‑
lem. Os átomos são imperceptíveis e existem em número infinito 
(MARCONDES, 2000, p. 34‑35).
Mas agora é preciso compreender o conceito de átomos dos antigos. Você deve 
estar se perguntando: como eles viram os átomos se não existiam equipamentos, como 
os microscópios, para vê‑los? Então vamos à explicação! Os átomos a que eles se 
referiam eram uma ideia. Qual era o conceito de ideia? Reale (1993, p. 155) ensina:
[...] ideia é o visível. Mas o átomo é invisível, pela sua pequenez, 
afirmada como consequência da sua indivisibilidade, pois é difícil 
declarar indivisível o que é perceptível aos sentidos e, portanto, 
pode ser considerado suscetível de fragmentação em partes. E 
então, em que sentido ideia, em que sentido visível? Visível, evi‑
dentemente, só à visão do intelecto: o intelecto abstrato, que parte 
do visível corpóreo, indo sempre mais além até onde os sentidos 
não podem chegar, encontra o seu termo final num mundo quin‑
tessenciado e despotenciado, que é a analogia do visível corpóreo. 
Forma é, pois, o visível geométrico, o que é visível ao intelecto.
Assim, podemos compreender que para os antigos o átomo não estava visível dire‑
tamente ao concreto, ou, aos sentidos, mas à ideia das formas. Quando olhamos um 
objeto em forma de círculo, por exemplo, não estamos vendo o círculo de fato, mas 
a ideia de uma representação geométrica. Essa é a ideia de átomo para os filósofos 
atomistas. Os átomos eram, portanto, considerados qualitativamente iguais e quan‑
titativa e geometricamente diferentes (círculo esfera, triângulo retângulo, quadrado 
e outros de tamanhos diferentes).
A Filosofia moderna se apropria desse pensamento para fundamentar a base da 
ciência experimental que permanece em nossos dias. No entanto, também esse mo‑
Homem_cultura_e_sociedade.indd 7 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-17
8 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
vimento apresentou falhas significativas em sua construção. O movimento atomista 
não deu conta, por assim dizer, das explicações acerca da existência do homem, 
da sua vida e do conhecimento. O ser humano não se constitui apenas de átomos, 
mas tem uma alma (a vida mesmo) e, segundo a teoria atomista, esta vida também 
se constitui por átomos. Ainda Reale (1993,159‑160):
O corpo humano, como todas as outrascoisas, é constituído de 
um encontro de átomos, e assim, naturalmente, também a alma. 
A alma, que é o que dá a vida e também o movimento ao corpo, é 
constituída de átomos mais sutis que os outros, lisos e esferiformes, 
de natureza ígnea. Esses átomos propagam‑se por todo o corpo, e 
assim o vivificam. Pela sua sutileza, eles tendem também sair do 
corpo, mas com a respiração são sempre reintegrados todos aqueles 
átomos ígneos que conseguem sair. Cessando a respiração, advém 
a morte, e todos os átomos ígneos que estavam no corpo se dis‑
persam. A alma é, pois, da mesma natureza do corpo, e, portanto, 
mal se explica a sua superioridade sobre o corpo.
Assim é a explicação da vida humana para os atomistas. A alma não tem nada de 
sobrenatural, mas é um conjunto de átomos redondinhos, lisos e quentinhos (natureza 
ígnea que é uma palavra para designar fogo) que se movimentam, entrando e saindo 
do corpo. Quando esse movimento cessa é porque o corpo morreu. 
Sobre o conhecimento, eles explicam que o movimento dos átomos que chegam 
aos sentidos gera a sensação e o conhecimento, que, por sua vez, se dividem em 
conhecimento obscuro e genuíno. O conhecimento obscuro advém das sensações, 
dos sentidos (olfato, tato, visão, audição e paladar) enquanto o conhecimento verda‑
deiro é aquele que está no intelecto e, dessa forma, sem contato com o conhecimento 
obscuro.
Depois temos dois movimentos (e aí completamos três, conforme já anunciamos) 
que também influenciaram muito nossa cultura e, mais ainda, a nossa educação esco‑
lar. Porque, dessas duas, surgiram teorias de conhecimento e tendências pedagógicas. 
Então vamos aprender bem para depois ensinar.
Para saber mais
Atenção, leitor! Quando dizemos que uma pessoa é materialista porque gosta de comprar e dá 
extremo valor ao dinheiro e aos bens que ele proporciona, estamos fazendo uma interpretação 
economicista e até de senso comum, porque essa pessoa é consumista e não necessariamente 
materialista. Uma pessoa materialista é aquela que não acredita na formação do universo, da 
natureza e do próprio ser humano a partir de um ente espiritual. O materialista, de acordo com 
Demócrito, é aquele que não vê na realidade algo que se aproxima da espiritualidade. Para ele 
tudo se origina da matéria e por ela se mantêm. Isto sim é ser um materialista!
Homem_cultura_e_sociedade.indd 8 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-18
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 9
Os dois movimentos ficaram conhecidos como mobilismo e monismo. Um se 
contrapondo ao outro. Heráclito nasceu em Éfeso e por isso tinha o nome da cidade 
natal como sobrenome (Heráclito de Éfeso), seu nascimento ocorreu em final do sé‑
culo VI e início do século V a.C. No entanto, não há um consenso na historiografia 
sobre o período exato do seu nascimento e morte. No entanto, seu pensamento filo‑
sófico marcou o pensamento ocidental de forma definitiva. Os problemas filosóficos 
que o antecederam não explicaram o dinamismo, real e perceptível aos sentidos, na 
realidade.
Heráclito percebeu e falou sobre o seguinte: nada fica imóvel para sempre. Sempre 
há mudanças, tudo se modifica ao longo do tempo, tudo se move constantemente, 
tudo se transforma sem parar. Nada permanece igual. Para explicar isso, ele utilizou 
o exemplo de um rio que, depois, se tornou a frase (ou fragmento de seu pensamento) 
mais conhecida no mundo acadêmico e fora dele. A frase é: “Não se pode descer 
duas vezes ao mesmo rio” (HERÁCLITO apud REALE, 1993, p. 64). O que se tornou 
popular dessa frase é a ideia de que o rio muda sempre (renovando suas águas) e as 
pessoas se modificam constantemente (envelhecendo a cada segundo). Reale (1993, 
p.64) ensina ainda sobre essa frase:
[...] o rio é aparentemente sempre o mesmo, mas na realidade é 
feito de águas sempre novas, que se acrescentam e se dispersam; 
por isso à mesma água do rio não se pode descer duas vezes, jus‑
tamente, porque, quando se desce a segunda vez, já é outra a água 
que se encontra; e porque nós mesmos mudamos, no momento 
em que completamos a imersão no rio, tornamo‑nos diferentes do 
momento em que nos movemos para mergulhar. 
Isto quer dizer que nada permanece e há movimento em todos os aspectos. O 
mundo, os fenômenos que compõem a realidade e a vida propriamente dita passam 
por mudanças constantes e eternamente. Trata‑se de um ciclo, ou como Heráclito 
dizia: é um constante devir. Uma coisa se transformando em outra. Por exemplo: 
um bebê em uma criança, que se transforma em um adolescente que se transforma 
em um adulto que envelhece e morre. No bebê há o devir da velhice porque ele 
irá passar por todos os processos de transformações da vida. A natureza, também, 
apresenta essa transformação. A semente se transforma em árvore que dá frutos e, 
novamente, a semente.
No entanto, não se pode reduzir o pensamento de Heráclito ao aspecto do de‑
vir apenas no processo de transformação. Há também a questão dos opostos onde 
o devir se harmonizam. O devir é, também, um eterno conflito assim descrito em 
Reale (1993, p. 65):
O devir é, pois, um contínuo conflito dos contrários que se alter‑
nam, é uma perene luta de um contra o outo, é uma guerra perpé‑
tua. Mas, dado que as coisas só têm realidade, como veremos, no 
perene devir, então, por consequência necessária, a guerra revele 
como o fundamento da realidade das coisas: a guerra é mãe de 
todas as coisas e de todas rainha.
Homem_cultura_e_sociedade.indd 9 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-19
10 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
É importante compreender que essa guerra de Heráclito é, também e ao mesmo 
tempo, paz. A paz é buscada porque existe a guerra. É nesse contraste que se cons‑
titui a harmonia.
Outro ponto importante no pensamento de Heráclito é a formulação do princípio 
de tudo e de todas as coisas: o fogo. Para ele, o fogo, estando em movimento cons‑
tante, provoca as transformações existentes. Assim:
O fogo, com efeito, é perenemente móvel, é vida que vive da morte 
do combustível, é incessante transformação em fumaça e cinzas, é, 
como diz perfeitamente Heráclito do seu Deus, fome e saciedade, 
vale dizer, unidade de contrários, fome das coisas, eu faz as coisas 
serem, e saciedade das coisas, que as destrói e faz perecer. E, com 
isso, fica claro também que o Deus heraclitiano (que já tinha sido 
chamado de noite‑dia, fome‑saciedade, guerra‑paz, isto é, unidade 
dos contrários) (REALE, 1993, p. 68).
Quanto à alma, Heráclito expressou alguns pensamentos que afirmaram que esta 
(a alma) tinha propriedades muito diferentes do corpo. Sobre essa ideia encontrou‑
‑se um fragmento que está registrado em Reale (1993, p. 70, grifo do autor): “Os 
confins da alma não os encontrarias nunca, embora percorrendo os seus caminhos; 
tão profundo é o seu logos”.
Por fim, encontramos no pensamento desse filósofo alguns pensamentos sobre 
moral. Para ele, “[...] a felicidade não pode se constituir nos prazeres do corpo: se 
assim fosse, felizes seriam os bis diante do feno [...] difícil é a luta contra o desejo, 
pois o que este quer, compra‑o a preço da alma” (REALE, 1993, p. 71).
Assim, para Heráclito e seus seguidores estava entendida que a realidade natural 
de constitui pelo movimento (daí a palavra mobilismo) e nada permanece igual para 
sempre e tudo vai se modificando no decorrer do tempo, ou seja, tudo é passageiro. 
Você percebeu que essa é uma ideia presente em nosso cotidiano? Nós sempre di‑
zemos que tudo passa, mas foi o Heráclito quem percebeu isso na realidade natural. 
Mas ele disse mais: tudo se constitui, também, pelos contrários. O mundo se compõe 
de quente e frio, seco e úmido, fogoe água, amor e ódio e daí por diante.
Agora vamos entender um pouco do monismo que está representado por Parmê‑
nides. Esse movimento defende a ideia de uma realidade única, sem mudanças e 
sem transformações. O movimento e as transformações que percebemos são apenas 
aparentes e, de fato, não existe. 
Para Parmênides os nossos sentidos não são capazes de conhecer a realidade como 
de fato ela é. E como ela é? Parmênides responderá que temos a ilusão de movimento, 
mas a verdadeira realidade não se movimenta, é única e imutável.
Parmênides também é considerado o filósofo que inaugurou a ideia de SER. Porque 
para ele o Ser é idêntico a si mesmo e não se modifica. O real e a verdade consistem 
naquilo que não muda, não se transforma nunca. O que muda, não pode ser verda‑
deiro. “[...] o ser é sempre idêntico a si mesmo, imutável, eterno, imperecível, invisí‑
vel aos nossos sentidos e visível apenas para pensamento” (CHAUI, 2002, p. 211).
Homem_cultura_e_sociedade.indd 10 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-20
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 11
Os seus seguidores ou discípulos ficaram conhecidos como os Eleatas (Escola 
Eleata). Para esses filósofos, seguidores de Parmênides, uma coisa ou um ser que 
fosse ao mesmo tempo uno e múltiplo não poderia existir por que não seria nada. 
Todos seriam alguma coisa e, ao mesmo tempo, não seriam. Isso é impensável. Por 
exemplo: como alguém pode ser bonito e feio ao mesmo tempo (alguém acha bonito 
e outro feio); como o gelo, que é frio, pode queimar? Para ele, esse antagonismo era 
impensável e, assim, inexistente. Segundo Chaui (2002, p. 212):
O que Parmênides afirmava era a diferença entre pensar e perceber. 
Percebemos a Natureza na multiplicidade das coisas que se trans‑
formam uma nas outras e se tornam contrárias a si mesmas. Mas 
pensamos ser, isso é, a identidade, a unidade, a imutabilidade e a 
eternidade daquilo que é em si mesmo. Perceber é ver aparências. 
Pensar é contemplar a realidade como idêntica a sim mesmo. Pensar 
é contemplar o to on, o ser.
Toda a concepção essencialista de mundo e de homem tem sua inspiração em 
Parmênides.
Os quatro filósofos apresentados — Leucipo, Demócrito, Heráclito e Parmênides — não foram 
os únicos filósofos daquele período. Outros que não estão citados, como Tales de Mileto, são 
muito importantes e também influenciaram o pensamento Ocidental. Só elegemos os primeiros 
por considerá-los fundamentais para o nosso estudo. Se você quiser saber mais dos pré-socráticos 
acesse os sites: 
<www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/presocraticos.htm>.
<paxprofundis.org/livros/presocraticos/filosofos.htm>.
<educacao.uol.com.br/filosofia/pre-socraticos-origens-da-filosofia-e-os-primeiros-filosofos-
-gregoshtm>.
Saiba mais
Vamos dar uma paradinha para refletir sobre o tema apresentado até aqui:
Como você avalia os argumentos de Heráclito e Parmênides? 
Você os reconhece em nossa vida e em nosso cotidiano?
Existe alguma coisa que permanece e outras que se modificam?
Questões para reflexão
Homem_cultura_e_sociedade.indd 11 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-21
12 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
 Seção 2 O movimento sofista e socrático 
Neste espaço vamos conhecer uma parte muito importante para nossa compre‑
ensão do tema e, por isso, vamos apresentar o segundo momento da Filosofia na 
Antiguidade Clássica, ou seja, na Grécia Antiga, que compreende o período do século 
V e VI a. C. Vamos conhecer os sofistas e Sócrates, mas sem nos aprofundar muito; o 
texto é um encorajamento para aqueles que buscam o conhecimento.
O segundo momento do pensamento filosófico está marcado por Sócrates e o 
movimento sofista. A importância de Sócrates está centrada na mudança do eixo 
das discussões ou dos problemas a que ele se dedicou. Enquanto os pré‑socráticos 
se preocupavam em compreender o mundo natural, esse filósofo que escreveu seu 
nome na História da humanidade se preocupou em compreender o agir do homem na 
polis. Pode‑se dizer que ele inaugurou o problema da relação entre ética e política.
Mas antes de começarmos uma reflexão sobre a questão ética dos sofistas é preciso 
algum entendimento sobre as distinções sobre a questão moral. Todos os povos, desde 
o período primitivo, tiveram algum tipo de organização (mínima) para a manutenção 
do grupo. Assim, havia uma reflexão ética antes da Filosofia. Quando dizemos que 
Sócrates inaugurou a ética, significa que ele sistematizou essa área de conhecimento. 
Reale (1993, p. 179‑180) explica da seguinte forma essa questão: 
[...] para examinar, embora brevemente, as características da 
reflexão moral pré‑filosófica, e para compreender a fundo a dife‑
rença daquela sobre esta, é necessário que procedamos a algumas 
distinções terminológicas, da máxima importância: a) uma coisa 
é a moralidade ou conduta moral; b) outra são as convicções mo‑
rais que os homens expressamente professam; c) outra ainda é a 
filosofia moral. A) moralidade ou conduta moral, todos os homens 
a possuem [...] mesmo os primitivos e os selvagens. B) também 
as convicções morais são uma herança espiritual de todos os 
homens [...]. C) [...] no nível de filosofia moral, a razão vai além 
do particular, busca estabelecer não regras que valham para casos 
particulares, mas, em geral, busca estabelecer nexos e ligações 
universais e necessários. 
Vamos nos ater à questão da filosofia moral, que é a busca de um princípio das 
normas que regem a vida. Esse princípio, que irá fundamentar a ideia de uma filo‑
sofia moral, está na busca de uma essência humana. Ou seja, está na condição da 
determinação orgânica o princípio da moralidade.
Antes disso, no período pré‑filosófico, as questões morais tinham como funda‑
mento as explicações mitológicas. Homero, em sua Odisseia, ofereceu um sentido ou 
uma concepção ética um pouco mais geral, como explica Reale (1993, p. 181): “[...] 
o homem reverente e obediente aos deuses tem sempre vantagem sobre os homens 
prepotentes e maus, os quais não podem fugir à vingança divina”. Trata‑se de uma 
motivação externa. Além disso, os gregos impressionam‑se pelos atos de seus heróis 
(Ulisses, Aquiles, Heitor, Helena, Penélope e outros/outras). Esses atos são estimula‑
dores de um comportamento para um ordenamento moral e social.
Homem_cultura_e_sociedade.indd 12 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-22
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 13
Outro grande e notável poeta registrado pela historiografia é Hesíodo. Em seu 
poema O trabalho e os dias ele ensina que a vida dedicada ao trabalho eleva o ho‑
mem. Ainda Reale (1993, p. 181‑182):
[...] o ideal da vida camponesa elevando à mais alta dignidade 
moral o humilde sacrifício de cada dia, a cotidiana fadiga sem 
prêmio, o trabalho como tal; mas sobretudo porque o poema con‑
tém preceitos, máximas e sentenças. A concepção ético‑religiosa 
da vida delineia‑se de maneira nítida em Hesíodo. Os males dos 
quais os homens sofrem são a punição infligida pelos deuses por 
causa da arrogância dos próprios homens. O duro trabalho vincula‑
‑se a culpas humanas, mas é a única via que resta ao homem para 
viver; quem não trabalha deve recorrer à injustiça, a qual reclama 
a expiação, a punição. 
Para Hesíodo, o ideal de uma vida virtuosa estava atrelada ao trabalho diário e 
duro. Ensina, também, a seguir uma vida com moderação.
Outros filósofos também refletiram e apresentaram suas concepções de vida 
moral no período que antecedeu à filosofia clássica. A historiografiaregistra que 
Sócrates, Platão e Aristóteles foram profundamente influenciados pelos sete sábios 
gregos que os antecederam. Não há um consenso sobre alguns nomes desses sábios. 
Transcreveremos aqui os sete sábios elencados por Platão, conforme Reale (1993, 
p. 182) “São eles: Tales, Pítaco, Bias, Sólon, Cleóbulo, Míson, Quíton”. Os filósofos 
e historiadores se divergem entre um e outro nome. Apenas isso.
Por outro lado, os sofistas também fizeram história porque se dedicaram às ques‑
tões éticas e políticas, mas de uma forma diferente (aliás, bem diferente) de Sócrates. 
Mas é preciso deixar registrado o importante momento político de Atenas naquele 
período fazendo com que a Filosofia deixe de ter uma preocupação norteada pelos 
fenômenos naturais e passe a se constituir culturalmente naquele contexto. Vejamos:
Esse surgimento corresponde ao começo da estabilização da socie‑
dade grega, com o desenvolvimento da atividade comercial, com 
a consolidação das várias cidades‑estados e com a organização da 
sociedade ateniense, que finalmente assumirá a hegemonia através 
da liderança da liga de Delos. Há um progressivo enriquecimento 
proveniente do comércio e da expansão marítima, dando origem 
a uma classe mercantil politicamente muito influente (477 a.C.) 
(MARCONDES, 2000, p. 40).
Isto significa que a sociedade grega estava passando por profundas modificações 
em todos os segmentos. A política estava passando por uma reforma de governo e 
o comércio modificando os costumes locais com a influência de outros povos nos 
locais de intenso comércio e, ainda, uma classe emergente que exigia participação 
política. Foi nesse período que Sólon inicia uma reforma de governo instituindo a 
democracia no lugar da aristocracia. 
Homem_cultura_e_sociedade.indd 13 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-23
14 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
Mas por que Sólon, que era um aristocrata 
(sem dinheiro porque sua família perdeu todos os 
bens, mesmo assim a sua condição de aristocrata 
foi mantida), resolveu mudar o modelo de go‑
verno para a democracia? Em primeiro lugar por‑
que a aristocracia estava em decadência, e depois 
porque na democracia todas as vozes podem ser 
ouvidas e todos os interesses podem ser contem‑
plados. Veja bem: podem! Não significa que são, 
porque na verdade nem todos são contemplados 
com a distribuição de riquezas, entretanto ela 
oferece espaço público para que todos possam se manifestar. Essa é uma das boas 
características da democracia.
É nessa nova fase da Grécia que surgem em Atenas os sofistas e Sócrates, porque 
agora todas as deliberações são tomadas em as‑
sembleia em praça pública, na Ágora, por todos 
os cidadãos. Ah! Agora temos a figura do cidadão 
que se manifesta em praça pública. Mas a condi‑
ção de cidadão exige que ele seja homem, maior 
de 21 anos, nascido em Atenas e proprietário de 
terras. Ficaram excluídos desse modelo de cida‑
dania, as mulheres, crianças e estrangeiros.
Os sofistas chegaram de toda parte da Grécia 
com uma bagagem de conhecimentos considerá‑
vel. Mas alguns historiadores registraram que eles 
chegaram a Atenas para ensinar tão somente a 
arte do discurso, já que agora era na Ágora que 
acontecia o debate político. Entretanto, sabe‑se 
que eles ensinavam também outros conhecimen‑
tos. Mas esse discurso tinha uma característica 
porque se tratava da retórica, ou seja, um discurso 
vazio, enganador, porque era desprovido de ver‑
dade. Além disso, eles cobravam para ensinar e 
isso causava uma grande irritação nos filósofos 
(Sócrates, Platão e Aristóteles), que não con‑
cebiam a ideia de ensinar por dinheiro. Mas é 
importante saber que Sócrates era um soldado e 
recebia o soldo (pagamento) mesmo se não hou‑
vesse guerra. Platão e Aristóteles eram aristocratas e tinham uma vida boa. Diferente 
dos sofistas, que não tinha absolutamente nada e cobravam de quem os procurava. 
Para saber mais
Sólon foi governador de Atenas 
e realizou profundas mudanças. 
Dentre elas, a instauração da de-
mocracia. Mas essa democracia 
era escravista e mantinha o Estado 
dividido por classes sociais.
Para saber mais
Democracia: do grego demo = 
povo e kratos = poder.
Portanto: poder do povo.
Para saber mais
A palavra sofista significa: sábio, 
especialista no saber, possuidor do 
saber.
No entanto, o termo ganhou um 
sentido negativo com Platão e 
Aristóteles, que assim os definiam: 
aquele que, fazendo uso de racio-
cínios enganosos, enfraquecem a 
verdade.
Homem_cultura_e_sociedade.indd 14 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-24
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 15
Quem os procurava eram os jovens da aristocracia que estavam encantados e ansio‑
sos para demonstrar a retórica em praça pública, mais especificamente, na Ágora.
É nesse momento que a Filosofia toma um corpo diferente da Filosofia dos pré‑
‑socráticos. Agora a palavra se tornou mais importante. Mas não uma palavra qual‑
quer, mas racional. A linguagem utilizada nos discursos precisa ter uma significação 
e justificativas com fundamentação racional. Assim explica Marcondes (2000, p. 41):
O surgimento da filosofia corresponde, portanto, à busca de bases 
para essa discussão legítima, tais como: o que é a verdade? Quais 
os princípios da razão? Com base em que critérios se pode justi‑
ficar aquilo que se diz? É neste sentido que podemos entender o 
contexto histórico e político de surgimento do discurso filosófico, 
da filosofia, que encontra seu apogeu nos séculos V‑IV a.C..
O período marcado pela sofística, além de mudar o eixo das discussões engendra‑
das pelos pré‑socráticos ou filosofia naturalista, também adotou um novo método que 
ficou indentificado como o método empírico‑indutivo. Conforme Reale (1993, p. 194):
[...] a sofística tem seu ponto de partida na experiência e tenta 
ganhar o maior número possível de conhecimentos em todos os 
campos da vida, dos quais, depois, extrai algumas conclusões, 
em parte de natureza teórica, como por exemplo sobre a possibi‑
lidade do saber, sobre as origens, o progresso e o fim da cultura 
humana, sobre a origem e a constituição da língua, sobre a origem 
e a essência da religião, sobre a diferença entre livres e escravos, 
helenos e bárbaros; em parte, ao invés, de natureza prática, sobre 
a configuração da vida do indivíduo e da sociedade. Ela procede, 
portanto, segundo o modo empírico‑indutivo. 
Os ensinamentos dos sofistas tinham um fim prático que se distanciava do ideal 
de busca teórica. Isso, no entanto, dava uma conotação de empobrecimento da busca 
pelo conhecimento verdadeiro, que, afinal, estava distante da vida ordinária dos 
homens comuns. Os sofistas profissionalizaram o conhecimento, o saber e, além do 
método empírico‑indutivo, ainda cobravam por esse saber. Platão e seus discípulos 
consideravam como sinal de baixeza moral o ato de cobrar para educar, para ensinar.
Os sofistas sofreram preconceitos porque iam de cidade em cidade vendendo 
conhecimentos e “portanto, infringirem a fidelidade à sua cidade, rompendo o laço 
que o grego considerava intocável” (REALE, 1993, p. 196‑197). O grego alimentava, 
naturalmente, um sentimento de cidadania muito profundo. 
Esse período foi marcado, entre outros fatores, pela liberdade de espírito, de 
pensamento. Eles inverteram a lógica marcada pelo modelo da tradição dos pré‑
‑socráticos e inauguraram a lógica da racionalidade em busca da compreensão da 
dinâmica do cotidiano.
Os sofistas marcaram presença, mas foi Sócrates quem deixou um legado. Ou 
seja, deixou um modelo de Filosofia, um projeto, um método e muitos problemas 
que ainda estão presentes no campofilosófico. Seu projeto? Encontrar o verdadeiro 
conhecimento. Seu método? A Maiêutica. Seus problemas? Todos os que envolvem 
Homem_cultura_e_sociedade.indd 15 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-25
16 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
o agir do homem: O que é o bem? O que é a justiça? O que é a verdade? O que é o 
amor? E tantos outros.
Tanto Sócrates quanto os sofistas viviam rodeados por jovens que os admiravam. 
Esses jovens, da classe aristocrática, queriam aprender a arte da argumentação, do 
discurso. Eles queriam aprender a retórica que os sofistas ensinavam de forma bri‑
lhante. Por que eles queriam aprender a retórica? Para falar na Ágora, que com a 
Democracia se tornou um espaço público onde os atenienses iam apresentar e de‑
fender suas ideias para governar a Pólis.
Mas é muito importante que todos saibam 
que esses sofistas não tinham compromisso com a 
verdade e tudo o que eles ensinavam não passava 
da superfície. Ou seja, eles tinham um projeto pe‑
dagógico sim, mas apenas para dar um “lustro” no 
aluno. Como isso é possível? Ora, eles ensinavam 
uma cultura geral ao aluno, mas essa formação 
não tinha um compromisso de uma formação 
completa do sujeito. Por fim, podemos dizer que 
se tratava de uma formação superficial.
No entanto, com Sócrates era muito diferente! 
Ele tinha um projeto pedagógico mais consistente 
e com a finalidade de fazer com que o sujeito 
alcançasse o verdadeiro conhecimento com a fi‑
nalidade de formação integral do sujeito. Sócrates 
e seu discípulo Platão entenderam que a crise instalada em Atenas era resultado de 
um modelo educacional fracassado. Chamamos a sua atenção para esse ponto muito 
importante. Hoje falamos em fracasso escolar. Falamos de uma sociedade sem prin‑
cípios, sem escrúpulos e creditamos esses vícios ao modelo educacional deficiente. 
No entanto, vimos que o modelo de sociedade vinculado ao modelo educacional 
esteve presente como problema filosófico desde sua fase inicial.
Pois bem, Platão e seu mestre Sócrates partiram do seguinte princípio: “[...] como as 
crianças e os jovens não receberam formação adequada e pertinente ao desenvolvimento 
de virtudes que levavam ao bem comum, a crise assolou a cidade” (NOGUEIRA JUNIOR, 
2009, p. 27). A educação deveria contemplar um projeto de cidadania que promovesse a 
ideia de participação coletiva, e não um projeto centrado no indivíduo (que, aliás, foi um 
conceito inaugurado na Modernidade, como veremos depois). Para que a Pólis superasse 
a crise pela qual estava passando, seria preciso uma educação que contemplasse o 
cultivo daquilo que há de melhor no ser humano. Para que haja uma cidade onde 
se efetivasse a justiça para todos, seria necessária uma educação desde a infância 
para a formação do homem com todas as virtudes do bem comum. Essa é a ideia ou 
o conceito de PAIDEIA.
A Paideia é o termo utilizado pelos gregos para indicar educação. E educação é 
a formação completa do homem desde a sua infância. Como nos ensina Nogueira 
Junior, “Paideia é o termo grego para educação, que indica formação do caráter, ação 
Para saber mais
RETÓRICA (do grego; arte da ora-
tória): Arte de utilizar a linguagem 
em um discurso persuasivo, por 
meio do qual visa-se convencer a 
audiência da verdade de algo. A 
linguagem utilizada não se baseia 
na lógica, mas na habilidade em 
empregá-la (JAPIASSU; MARCON-
DES, 1996).
Homem_cultura_e_sociedade.indd 16 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-26
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 17
de conduzir as crianças na trilha da virtude, ou simplesmente, cultura” (NOGUEIRA 
JUNIOR, 2009, p. 28).
O ideal educativo grego aparece como Pai-
deia, formação geral que tem por tarefa construir 
o homem como homem e como cidadão. Platão 
define Paideia da seguinte forma “[...] a essência 
de toda a verdadeira educação ou Paideia é a 
que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tor‑
nar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e 
a obedecer, tendo a justiça como fundamento” 
(NOGUEIRA JUNIOR, 2009, p. 27).
Portanto, para Sócrates e Platão, o conheci‑
mento tinha um alcance educacional, um projeto 
pedagógico. Ensinar o verdadeiro conhecimento 
(não aquele conhecimento ilusório dos sofistas) 
era imprescindível para a formação do homem vir‑
tuoso para que a cidade fosse justa. E o verdadeiro 
conhecimento para Sócrates está no conceito. Para ele, conhecer é conceituar! Os 
conceitos são imutáveis e universais. Para o leitor entender melhor daremos alguns 
exemplos. Para Sócrates precisamos encontrar o conceito de justiça, de bem, de bon‑
dade, de amor, de coragem — só para apresentar alguns — porque, uma vez encon‑
trado o conceito de cada um, encontraríamos a verdade que os constitui. A verdade 
não pode ser flexível e mudar sempre que for conveniente para alguém — que era o 
que os sofistas ensinavam. Para ele o conceito de uma ideia jamais poderia mudar.
Pensando e falando sobre essa forma de alcançar o conhecimento, Sócrates formulou 
um método que se norteava pelo diálogo: A Maiêutica. Dessa forma, os jovens que se 
dispunham a aprender e que estavam dispostos a alcançar o verdadeiro conhecimento 
começavam a interpretar a realidade, ou seja, o cotidiano e tudo que o envolve (questões 
éticas, morais, políticas — principalmente políticas!) de forma reflexiva e crítica. Os 
seguidores de Sócrates não eram superficiais como os seguidores da maioria dos sofistas. 
Esse comportamento incomodou a classe governante porque esses jovens passaram a 
contestar o modelo de governo instaurado em Atenas, a democracia e, por isso, ele foi 
preso e condenado à morte por um veneno conhecido como cicuta. 
Explicamos tudo isso para mostrar ao leitor que as mudanças sociais, políticas e 
econômicas ocorridas na Grécia Antiga projetaram uma nova forma de filosofar e, 
com ela, nasceu também um projeto de educação. Porque nesse momento em que 
a filosofia se ocupa por questões éticas e políticas também está se ocupando da for‑
mação de um novo sujeito que atua na pólis: o cidadão.
Mesmo os sofistas, ensinando de forma considerada pelos filósofos antigos como 
superficial, promoveram uma forma de educação e um debate. É do debate que sus‑
citam os movimentos sociais, econômicos, políticos e educacionais que é o nosso 
interesse aqui. Quanto a Sócrates, foi um mestre assumido e por excelência!
Acesse a Biblioteca digital: NO-
GUEIRA JUNIOR, Renato. Apren-
dendo a ensinar: uma introdu-
ção aos fundamentos filosóficos da 
educação. Curitiba: IBPEX, 2009.
E também acesse o site:
<www.educ.fc.ul.pt/docentes/
opombo/hfe/momentos/escola/
paideia/conceitodepaideia.htm>.
Saiba mais
Homem_cultura_e_sociedade.indd 17 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-27
18 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
 Seção 3 Do pensamento clássico aos 
medievais
Quando falamos de pensamento filosófico clássico estamos nos referindo a: 
Sócrates, Platão e Aristóteles (e todas as escolas que eles influenciaram). Eles formam 
a tríade que fundamenta o pensamento clássico do ocidente.
Assim, podemos dizer que, depois de Sócrates, um importante cidadão aparece 
no cenário político e educacional de Atenas: Platão (427‑348 a.C.). Foi esse filósofo 
grego que deixou registrado em toda a sua produção literária a preocupação com uma 
formação educacional, ou seja, um projeto pedagógico. Em sua importante e grande 
obra A República encontramos nos livros II, III, IV e VII o registro de sua preocupação 
com o conhecimento, a política e, principalmente, a educação. É importantedestacar 
que as três dimensões — conhecimento, política e educação — não se desvinculam 
da formação humana do sujeito. Para ele a busca do conhecimento tem o sentido 
do aperfeiçoamento humano porque o conhecimento verdadeiro leva o sujeito ao 
alcance do bem e quando isso acontece o homem está pleno em sua integralidade e 
em sua perfeição para bem conduzir a cidade.
A República, sua obra mais conhecida, apresenta a Teoria das Ideias, onde ele 
demonstra o seu conceito de conhecimento verdadeiro e para isso ele se utiliza de 
uma forma bem didática de um diálogo entre Sócrates e outros discípulos. Platão 
escolheu a forma dialógica para apresentar suas ideias — o livro todo é assim, como 
seu mestre Sócrates fazia — para que o processo de conhecimento se efetivasse. No 
Mito da Caverna ele explica o que é o conhecimento, onde ele está e como se chega 
a ele. Para Platão o conhecimento está no conceito (aprendeu com Sócrates) imutável 
e universal, está no mundo inteligível e chega‑se a ele com um método de ascensão 
dialético. Leia com atenção a citação abaixo, ela explica muito bem o pensamento 
platônico.
A caverna, enquanto signo pedagógico, é a representação da 
realidade sensível, das sombras dos reflexos, enquanto o mundo 
exterior representa o mundo inteligível, a realidade verdadeira. A 
caverna é iluminada pelo fogo, o mundo externo, pelo sol. A pas‑
sagem das sombras para o sol representa o bem e corresponde às 
etapas da educação do filósofo. Na passagem da ignorância para a 
sabedoria são relevantes os estudos de matemática, de astronomia, 
de harmonia e de dialética (522‑535 a.C.) (PAVIANI, 2008, p. 9).
Vamos entender um pouco mais. Platão divide o mundo em duas partes — ele foi 
um dualista — ou em dois mundos: o mundo sensível, das sensações ou dos sentidos 
(onde estamos), e o mundo inteligível, mundo das ideias. Aqui, onde estamos no 
mundo sensível (das sensações), só existe a aparência, as sombras ou como ele dizia 
as cópias. No mundo das ideias estão os verdadeiros conceitos, a forma verdadeira, 
a ideia real. Com esse mito ele queria dizer que é preciso muito esforço e disposição 
para romper com as amarras que estão representadas pelo preconceito, a preguiça e 
a covardia que nos prendem às sombras e buscar o verdadeiro conhecimento. Uma 
Homem_cultura_e_sociedade.indd 18 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-28
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 19
vez que alcançamos esse conhecimento é preciso dividi‑lo com os outros para que 
todos possam se libertar das amarras do mundo das aparências ou da ignorância. 
Para entender melhor: a pessoa que se apropria do conhecimento verdadeiro precisa 
voltar e socializar esse conhecimento com os outros. Podemos dizer que nesse caso 
o filosofar ou o exercício filosófico é um ato pedagógico.
O método dialético do mito da caverna se constitui de uma ascensão (uma su‑
bida) que vai do conhecimento mitológico e passa para a doxa (opinião); depois de 
algum tempo abandona a opinião e passa a se utilizar da razão e, só depois, por 
último alcança‑se o inteligível, o conceito (que é o verdadeiro conhecimento). Para 
o nosso filósofo a opinião não é um conhecimento verdadeiro por ser relativo. Ele 
estava dizendo que a opinião depende do momento, do espaço e da pessoa. Se cada 
um tem uma forma diferente de interpretar o real, essa interpretação não pode ser 
verdadeira porque a verdade está no conceito que se constitui pela essência que não 
muda e é universal. Platão acreditava em uma verdade eterna.
Esse conhecimento verdadeiro, para Platão, reside apenas na essência do conceito. 
Por isso, ele é considerado um IDEALISTA (porque o verdadeiro conhecimento está 
no mundo das ideias) e ESSENCIALISTA (a verdade está na essência do conceito que 
é imutável). Sua pedagogia é, assim, essencialista.
Para entender melhor a ideia de conceito, vamos recorrer à Chaui (2002, p. 213):
1) Um conceito ou uma ideia não é uma imagem, mas a descrição 
e uma explicação da essência própria de um ser (que pode ser 
qualquer coisa: uma pessoa, uma árvore, a água etc.);
2) Um conceito ou uma ideia não são substituídos para as coisas, 
mas a compreensão intelectual delas (porque estão na ideia);
3) Um conceito ou uma ideia não são formas de participação ou 
relação de nosso espírito em outra realidade, mas o resultado de 
uma análise dos dados da realidade ou do próprio pensamento;
4) Um juízo e um raciocínio não permanecem no nível da expe‑
riência, mas, partindo dela (da experiência) sistematizam (organi‑
zam) em relações racionais que a tornam compreensível ao ponto 
de vista lógico;
5) Um Juízo ou raciocínio buscam causas universais e necessárias 
para explicar a realidade tal como ela é.
Esse modelo de pensamento filosófico nos deixou marcas profundas, por incrível 
que pareça. Essas marcas estão em nossos preconceitos quando acreditamos que as 
pessoas já nascem com qualidades ou defeitos e que a educação não é capaz de 
transformar o que já está internalizado, pelo nascimento, na pessoa. Quando dize‑
mos “filho de peixe, peixinho é!” ou “pau que nasce torto, morre torto!” estamos 
reproduzindo uma filosofia essencialista. Ou seja, a condição do sujeito é inata. Por 
outro lado, quando dizemos que: “aqui, neste mundo, só teremos sofrimentos e no 
céu haverá uma tranquilidade eterna!”, isso também é Platão. Esse modo de pensar foi 
absorvido pela filosofia cristã. Na Idade Média, quem interpretou Platão foi o bispo 
Santo Agostinho que, com Aquino, representaram a filosofia essencialista na Igreja.
Homem_cultura_e_sociedade.indd 19 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-29
20 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
Essa ideia de Filosofia como processo educacional e, portanto, projeto pedagó‑
gico se mantém até o final da Idade Média em sua vertente religiosa. Com isso 
queremos explicar que durante a Idade Média a 
educação formal ficava por conta da Igreja, em 
geral nos mosteiros. A ideia de conhecimento se 
norteava principalmente pela metafísica aristoté‑
lica, que estava, naquele período, interpretada 
por São Tomaz de Aquino. Esse modelo de co‑
nhecimento nos chegou com os jesuítas pelo 
Ratio Studiorum (o projeto pedagógico dos jesuí‑
tas) e foi o primeiro modelo de ensino que se 
instituiu no Brasil. Saviani, em seu livro História 
das ideias pedagógicas no Brasil descreve esse 
modelo como uma “[...] verdadeira pedagogia 
brasílica, isto é, uma pedagogia formulada e 
praticada sob medida para as condições encon‑
tradas pelos jesuítas nas ocidentais terras desco‑
bertas pelos portugueses” (SAVIANI, 2010, p. 47).
 47).
Continuando com Aristóteles: o interessante 
disso é que o próprio filósofo grego, que foi discí‑
pulo de Platão, pensou em um projeto pedagógico 
no sentido de formar um governante virtuoso na 
garantia de uma cidade feliz. Sua filosofia con‑
templava a ética, a política, a lógica, a poética e 
a metafísica e a ideia de educação. 
Para compreender um pouco mais sobre a 
metafísica vamos recorrer à Professora Marilena 
Chaui, que em seu livro Convite à filosofia (que 
pode ser baixado gratuitamente na Internet) 
explica as questões que são formuladas pela 
metafísica: O que é uma coisa? O que é um 
objeto? O que é o corpo humano? O que é uma 
consciência?
[...] um filósofo grego não falaria em “nada”, mas em 
“não ser”. Não falaria em “objeto”, mas em “ente”, pois 
a palavra objeto só foi usada a partir da Idade média 
e, no sentido em que a empregamos hoje, só foi usada a partir do 
século XVII. Também não falaria em “consciência”, mas em pysche, 
isto é, alma. Jamais falaria em “subjetividade”, pois essa palavra, 
com osentido que lhe damos hoje, só foi usada a partir do século 
XVIII (CHAUI, 2002, p. 206, grifo do autor).
Para saber mais
Sobre o modelo de ensino institu-
cionalizado aqui no Brasil, é muito 
importante explicar que a Ratio 
Studiorum foi o projeto pedagó-
gico trazido pelos padres jesuítas 
para ensinar os filhos dos colonos 
portugueses. Os indígenas foram 
catequizados, ou seja, foram cris-
tianizados e aculturados. Para isso 
não foi utilizado a Ratio Studiorum. 
Dica de Filmes:
Sobre o ensino na Idade Média, 
assistam: Em nome do Pai.
Sobre os primeiros Jesuítas no Bra-
sil: A missão.
Saiba mais
Para saber mais
Metafísica: A metafísica define-se 
como a filosofia primeira, o ponto 
de partida do sistema filosófico, 
na medida em que examina os 
princípios e as causas primeiras. 
(JAPIASSU; MARCONDES, 1996)
Homem_cultura_e_sociedade.indd 20 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-30
a t r a n s i ç ã o d o m i t o a o l o g o s 21
Isso pode até parecer muito estranho para nós, mas já percebemos que a linguagem 
se modifica constantemente. Isto para falar do nosso vocabulário em nossos dias. Ima‑
gine você que a filosofia tem, pelo menos, 25 séculos de vida e a linguagem humana, 
muito mais do que isso. Por isso quando ouvimos um professor de Filosofia dizer que 
a pretensão de determinado filósofo é “conhecer a coisa em si” achamos que está 
divagando ou está muito longe da nossa realidade. Mas é preciso lembrar que “a 
coisa ou ente” é o nosso “objeto”. Mas por que não falar logo de uma vez a palavra 
objeto? Porque nós estaríamos ferindo o vocabulário do Filósofo.
A Metafísica investiga a realidade em si de forma racional e não se baseia em da‑
dos conhecidos pela experiência sensível, mas nos 
conceitos formulados pelo pensamento. Portanto, 
é um conhecimento puramente abstrato. É um 
conhecimento sistemático (organizado) porque 
os conceitos se relacionam de forma dependente.
No entanto, depois que Aristóteles se desligou 
de Platão, fundou uma escola para a pesquisa em‑
pírica e o ensino. As duas mantinham a interface 
porque para ele não existia conhecimento sem 
passar pela experiência.
Vamos compreender um pouco mais dessa 
palavra tão diferente em nosso vocabulário: META‑
FÍSICA. A palavra meta significa depois ou acima 
e é por isso que dizemos nos dias atuais muito em 
“alcançar metas”. Isto quer dizer que tem alguma 
coisa acima que precisamos ou devemos alcançar, ou, algum lugar onde devemos 
chegar. Mas, verdade seja dita, a palavra metafísica não foi utilizada por Aristóteles 
e sim por um organizador, ou uma espécie de “bibliotecário” das suas obras: An‑
drônico de Rodes, por volta de 50 a.C. Pois bem, esse homem, Andrônico, recolheu 
e classificou todas as obras (de Aristóteles) que ficaram dispersas ou perdidas. Com 
a palavra grega ta meta ta physika, o organizador indicava um conjunto de escritos 
que, em sua classificação, localizavam‑se após os tratados sobre a física ou natureza. 
Já vimos o que significa a palavra meta (depois). A palavra ta aqueles; ta physika, 
aqueles da física. Então ficou assim: aqueles (escritos) que estão (catalogados) após 
os (escritos) da física. Portanto, METAFÍSICA. 
Aristóteles se referia a esses escritos como a FILOSOFIA PRIMEIRA, porque o seu 
tema era a o estudo do “ser enquanto ser”. Assim, o que Aristóteles designou como 
Filosofia Primeira, passou a ser conhecida como Metafísica.
Vamos entender um pouco mais sobre a metafísica. Em seu primeiro momento 
os filósofos metafísicos, mais especificamente Aristóteles, investigavam somente aquilo 
que é, aquilo que existe. Olhando em torno de si mesmo, o filósofo se perguntava: 
o que é isso tudo que vejo, que posso tocar, ouvir e sentir (veja bem: ele utiliza todos 
os órgãos dos sentidos: visão, olfato, tato, audição e paladar). Mas aqui tem uma 
Aristóteles foi mestre de Alexan-
dre, o Grande.
Assista ao filme com o mesmo 
nome. Nele há uma cena com o 
filósofo ensinando alguns meninos 
da aristocracia. Aliás, Aristóteles 
ficou decepcionadíssimo com o 
comportamento violento com que 
Alexandre conduzia seu governo. 
Saiba mais
Homem_cultura_e_sociedade.indd 21 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January 10, 2014 - PG-31
22 H o m e m , c u l t u r a e s o c i e d a d e
diferença porque para compreender tudo o que existe é preciso ter o exercício ra‑
cional e apriorístico, ou seja, para conhecer o mundo existente de fato como ele é, 
é necessário abandonar a ideia de que o conhecimento é aquele que se nos apresenta 
pela experiência sensível ou sensorial (a partir dos órgãos dos sentidos).
O conhecimento metafísico é, principal‑
mente, sistemático. Isto é, existe um sistema de 
organização, é organizado, tem uma lógica de 
encadeamento: um conceito depende de outros 
e se relaciona com outros. Percebeu? Não se trata 
de um conhecimento sem fundamentação, sem 
critério e sem rigor metodológico.
A primeira metafísica faz uma distinção en‑
tre o que é e o que parece ser. Entre verdade e 
mentira. Ou, melhor ainda: entre realidade e 
aparências, entre o que é real e o que é falso.
Esse primeiro momento foi longo e permane‑
ceu de Aristóteles, na antiguidade clássica, aos medievais. Somente com o filósofo 
David Hume (1711‑1776), no século XVIII, é que aconteceu uma grande mudança 
conceitual. Como demorou! Mas Hume demonstrou que os conceitos construídos 
pela metafísica não correspondem, exatamente, à realidade externa. O que a meta‑
física fornece são apenas nomes gerais para as coisas ou ainda como explica Chaui 
(2002, p. 207): “[...] nomes que nos vêm à mente pelo hábito mental ou psíquico de 
associar em ideias as sensações, as percepções e as impressões dos sentidos, quando 
são constantes, frequentes e regulares”. 
Logo, podemos entender que o filósofo Hume colocou um ponto final no primeiro 
período metafísico. Mas quem deu o “pontapé” inicial para o segundo período desse 
modelo de conhecimento foi Immanuel Kant, que demonstra a impossibilidade da utili‑
zação dos conceitos construídos pela metafísica para se conhecer a realidade como esta 
se apresenta. Por isso, ele propôs um conhecimento a partir da nossa própria capacidade 
racional. Ou ainda, a partir de uma razão crítica. Para Kant, a metafísica agora toma 
um caminho diferente daquele iniciado com Aristóteles e mantido pelos medievais. O 
sentido do conceito é aquilo que existe para nós e organizado por nossa razão.
No século XVII (antes ainda de Hume, que era um inglês), outro filósofo (dessa 
vez um alemão), Jacobus Thomasius, decidiu que a palavra correta para designar os 
estudos da Filosofia Primeira ou Metafísica seria: ONTOLOGIA. Outra palavrinha 
para complicar a nossa vida de estudantes. Essa palavra, ontologia, é composta por 
duas palavras gregas: onto e logia. Onto vem de dois substantivos: ta onta (os bens 
e as coisas possuídas por alguém) e ta onta (as coisas realmente existentes). Essas 
duas palavras derivam do verbo ser. O ser é aquilo que realmente é e não aquilo 
que aparenta ser. Assim, podemos entender que Metafísica e Ontologia têm o mesmo 
significado, afinal estão dizendo que: para compreender o real é preciso buscar o 
princípio (racional) de cada ”coisa” para conhecê‑la (lembre‑se de que nesse período 
não havia a palavra objeto) de forma verdadeira e não de forma fantasiosa.
Para saber mais
APRIORISMO: O que vem em pri-
meiro lugar.
CONHECIMENTO SENSÍVEL: Aquilo 
que apreendemos com os cinco 
sentidos — tato, olfato, paladar, 
visão e audição.
Homem_cultura_e_sociedade.indd 22 20/02/13 18:53
88822-978-85-8143-641-8.pdf, page 97 @ Preflight Server ( Homem_cultura_e_sociedade.indd ) - 06:43:51 - January

Outros materiais