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pensamento filosofico e social no brasil

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Prévia do material em texto

2013
Pensamento FilosóFico e 
social no Brasil
Prof. Joel Haroldo Baade
Prof. Joel Cezar Bonin 
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof. Joel Haroldo Baade
Prof. Joel Cezar Bonin
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
101
B111p Baade, Joel Haroldo
 Pensamento filosófico e social no Brasil / Joel Haroldo Baade; 
Joel Cezar Bonin. Indaial : Uniasselvi, 2013.
 
 270 p. : il
 
 ISBN 978-85-7830- 688-5
 1. Filosofia – Teoria.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
 
III
aPresentação
A filosofia e a sociologia fazem parte do nosso cotidiano, embora 
muitas vezes, não nos damos conta disso. Por essa razão, a presente 
disciplina tem como proposta aproximar a reflexão filosófica e sociológica 
daquilo que vivemos em nosso dia a dia, para que possamos compreendê-
lo melhor. Além disso, o foco desta disciplina não é tanto que você, caro(a) 
acadêmico(a), “decore” os conteúdos, mas que participe da reflexão e, desse 
modo, exercite a capacidade de pensar filosófica e sociologicamente.
A trama de constituição desse Caderno de Estudos foi pensada para 
que a sua leitura e estudo possibilitem justamente o desenvolvimento dos 
objetivos traçados. Preferiu-se seguir uma ordem histórico-cronológica, pois 
a historicidade é própria da existência humana. Quando pensamos em nós 
mesmos e de quem somos, pensamo-nos como seres históricos. Por essa 
razão, iniciamos a reflexão com o surgimento do pensamento científico na 
Grécia Antiga através da filosofia. Ao longo da primeira unidade, é seguida a 
trajetória do pensamento filosófico até a atualidade, buscando-se identificar 
continuidades e rupturas em cada novo período do pensamento humano.
Na segunda unidade, faz-se exercício semelhante em relação ao 
pensamento social, como um desdobramento e especialização do pensamento 
filosófico a partir do século XVIII com as Revoluções Industrial e Francesa. 
O pensamento social surge como necessidade de as sociedades humanas 
compreenderem melhor a sua existência coletiva, seja pela necessidade de 
organização da vida em sociedade ou como forma de denúncia das injustiças 
que ela possa gerar.
Por fim, na terceira unidade, será analisada a construção do 
pensamento filosófico e social no Brasil. Por um lado, ele está na continuidade 
da reflexão filosófica e sociológica anterior. Mas, por outro lado, desenvolveu 
também as suas particularidades, conforme as necessidades da realidade 
brasileira.
Convidamos você, caro(a) acadêmico(a), a fazer esta reflexão conosco.
Bons estudos!
Prof. Dr. Joel Haroldo Baade
Prof. Joel Boni
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL ..... 1
TÓPICO 1 – OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS ................................................................ 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 A FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA .............................................................................................. 4
2.1 O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO ............................................................... 5
2.2 OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS ............................................................................................. 8
2.3 OS SOFISTAS .................................................................................................................................... 10
2.4 SÓCRATES ........................................................................................................................................ 13
2.5 PLATÃO ............................................................................................................................................ 15
2.6 ARISTÓTELES .................................................................................................................................. 20
3 O PENSAMENTO FILOSÓFICO HELENÍSTICO ......................................................................... 24
3.1 A FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA ............................................................................................... 25
3.2 SANTO AGOSTINHO E A PATRÍSTICA ..................................................................................... 25
3.3 TOMÁS DE AQUINO E A ESCOLÁSTICA ................................................................................. 27
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 29
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 32
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 33
TÓPICO 2 – A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE ........................ 35
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35
2 CONTEXTO HISTÓRICO, O SÉCULO XVI E A RENASCENÇA ............................................. 36
2.1 NICOLAU MAQUIAVEL E A FILOSOFIA POLÍTICA.............................................................. 40
2.2 FILOSOFIA MODERNA: RACIONALISMO E EMPIRISMO ................................................... 44
2.2.1 Racionalismo: René Descartes............................................................................................... 45
2.2.2 Empirismo: Francis Bacon, John Locke e David Hume .................................................... 48
2.2.3 Francis Bacon ........................................................................................................................... 49
2.2.4 John Locke ............................................................................................................................... 50
2.2.5 David Hume ............................................................................................................................ 51
2.2.6 Racionalismo ou empirismo? ................................................................................................ 52
2.3 ILUMINISMO ...................................................................................................................................53
2.3.1 Immanuel Kant ....................................................................................................................... 54
2.3.2 Jean-Jacques Rousseau e Montesquieu ................................................................................ 55
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 58
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 60
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 61
TÓPICO 3 – A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA ............................................................................ 63
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63
2 A FILOSOFIA NO SÉCULO XIX ....................................................................................................... 63
3 O IDEALISMO HEGELIANO ............................................................................................................ 64
3.1 O PENSAMENTO MATERIALISTA DE FEUERBACH ............................................................. 68
3.2 ANTECEDENTES DA CRISE DA RAZÃO .................................................................................. 69
3.3 A FILOSOFIA NO SÉCULO XX .................................................................................................... 71
sumário
VIII
3.3.1 O pragmatismo ....................................................................................................................... 73
3.3.2 A fenomenologia ..................................................................................................................... 73
3.3.2.1 Edmund Husserl .................................................................................................................. 74
3.3.2.2 Martin Heidegger ................................................................................................................ 75
3.3.2.3 Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir............................................................................. 76
4 A FILOSOFIA DA LINGUAGEM ..................................................................................................... 77
4.1 JÜRGEN HABERMAS E A TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA ....................................... 78
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 80
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 83
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84
UNIDADE 2 – PENSAMENTO SOCIOLÓGICO ............................................................................. 87
TÓPICO 1 – DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA ........................................................ 89
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 89
2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ......................................................................................................... 90
3 REVOLUÇÃO FRANCESA ................................................................................................................. 95
4 O ILUMINISMO ................................................................................................................................... 99
5 POSITIVISMO ....................................................................................................................................103
6 ESCOLA DE CHICAGO ....................................................................................................................108
7 ESCOLA DE FRANKFURT E A REIFICAÇÃO DO SUJEITO ...................................................111
8 A SOCIOLOGIA NA PÓS-MODERNIDADE ..............................................................................117
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................119
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................120
TÓPICO 2 – IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU 
PENSAMENTO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................121
2 KARL MARX .......................................................................................................................................122
3 ÉMILE DURKHEIM ...........................................................................................................................128
4 MAX WEBER .......................................................................................................................................132
5 MICHEL FOUCAULT ........................................................................................................................137
6 NORBERT ELIAS, ERWING GOFFMAN, PIERRE BOURDIEU E ZYGMUNT BAUMAN 
 E OS PROCESSOS DE DEFINIÇÃO DO “EU” NA SOCIEDADE ...........................................142
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................152
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................153
TÓPICO 3 – TEMAS SOCIOLÓGICOS ............................................................................................155
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................155
2 PROCESSOS SOCIAIS ......................................................................................................................156
2.1 STATUS E PAPEL SOCIAL ...........................................................................................................160
2.2 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO SOCIAL ..............................................................................162
2.3 INSTITUIÇÕES SOCIAIS .............................................................................................................164
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................169
3 ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E MOBILIDADE ...........................................................................171
4 MOVIMENTOS SOCIAIS ................................................................................................................174
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................176
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................179
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180
IX
UNIDADE 3 – PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL .....................................181
TÓPICO 1 – FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL .............................. 183
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183
2 DO PERÍODO COLONIAL ATÉ OS DIAS ATUAIS ...................................................................184
3 IMIGRAÇÃO EUROPEIA E INDUSTRIALIZAÇÃO .................................................................190
4 A REPÚBLICA VELHA ......................................................................................................................1995 A ERA VARGAS ..................................................................................................................................201
6 A DITADURA MILITAR ...................................................................................................................206
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................212
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................213
TÓPICO 2 – FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE .........................215
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................215
2 EUCLIDES DA CUNHA ....................................................................................................................216
3 OLIVEIRA VIANA .............................................................................................................................221
4 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA .............................................................................................227
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................231
5 FLORESTAN FERNANDES..............................................................................................................233
6 DARCY RIBEIRO ...............................................................................................................................238
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................242
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................243
 
TÓPICO 3 – QUESTÕES SOCIAIS BRASILEIRAS NA ATUALIDADE: 
 CRIMINALIDADE, SOCIOLOGIA RURAL, MOVIMENTOS SOCIAIS, 
RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO ........................................................................................245
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................245
2 CRIMINALIDADE E COMPORTAMENTO.................................................................................246
3 SOCIOLOGIA DO MEIO AMBIENTE RURAL ...........................................................................253
4 TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO .......................................................................................................256
5 MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL ........................................................................................259
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................263
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................265
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................266
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................267
X
1
UNIDADE 1
Pensamento FilosóFico e a 
comPreensão Da ViDa social
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• conhecer a história e o desenvolvimento do pensamento filosófico no oci-
dente a partir da tradição greco-romana;
• reconhecer os principais períodos da história da filosofia com os seus res-
pectivos pensadores e tendências;
• compreender a relação entre produção filosófica e contexto histórico.
Esta unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles você encontrará 
atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
TÓPICO 1 – OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
TÓPICO 2 – A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
TÓPICO 3 – A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), o pensamento filosófico tem grande importância 
para o pensamento social, pois ele é reflexo e aprofundamento deste. Você 
já estudou a história da filosofia. Contudo, é necessário retomarmos alguns 
aspectos do pensamento filosófico ao longo da história da humanidade para 
entendermos em que medida eles contribuíram para a formação do pensamento 
atual, especialmente o pensamento social brasileiro. 
No primeiro tópico deste Caderno de Estudos nós estudaremos o 
desenvolvimento do pensamento filosófico desde a antiguidade grega até a 
Idade Média. Em relação à filosofia grega, veremos que ela não surge do acaso 
e, tampouco, como invenção ou imaginação de algumas poucas pessoas. Mas ela 
surge justamente como uma maneira mais profunda de compreender e interpretar 
a realidade social em que a Grécia dos filósofos se encontrava.
Veremos que com a perda da autonomia política da Grécia, após ela ser 
invadida por vários impérios, também a filosofia sofre mudanças. Gradativamente, 
as preocupações dos filósofos se voltam para o sobrenatural, pois neste mundo 
já não havia muitas perspectivas para se viver uma vida em plenitude. Esse foi o 
período do helenismo.
Por fim, a respeito da Idade Média, veremos que a tendência do helenismo 
se aprofundou. A filosofia nesta fase da história será transformada em ferramenta 
da teologia e da igreja cristã. Os representantes principais da filosofia da Idade 
Média são Santo Agostinho e Tomás de Aquino.
Ao final da unidade, você, prezado(a) acadêmico(a), tem uma leitura 
complementar sobre a lógica aristotélica, que pode ser muito útil para que 
possamos desenvolver uma argumentação mais consistente e coerente.
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
4
2 A FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA
A Grécia Antiga é berço da Filosofia, mas isso você já viu em outras 
disciplinas do curso. Portanto, não cabe aqui retomar esse discurso. Mesmo assim, 
vamos retomar algumas ideias da antiguidade grega, procurando relacionar a 
reflexão filosófica do período com a realidade social onde ela surge. 
Dessa forma, queremos entender como as ideias filosóficas são, por um 
lado, resultado do meio social onde surgem e, por outro, almejamos contemplar 
em que medida elas também são formadoras da realidade.
O salto qualitativo que possibilitou o surgimento da filosofia foi, em boa 
medida, a intensificação da vida social. Nesse sentido, o surgimento das cidades, 
das polis gregas, foi fundamental para o advento da filosofia. 
Segundo Trigo (2009, p. 12):
[...] o surgimento das cidades-estados gregas (pólis) [...] significou o 
desenvolvimento de vários aspectos significativos da cultura grega 
(teatro, literatura, oratória), das formas de governo, da participação 
do povo nas tomadas de decisão (a antiga democracia grega) e nas 
questões mais práticas, como agricultura, construção civil, navegação, 
comércio, matemática e geometria.
Para ilustrar como a vida em sociedade exige dos indivíduos uma maior 
capacidade de articulação, é interessante fazer uma analogia com o programa 
Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo de Televisão. Enquanto os indivíduos 
estão vivendo de forma isolada, distantes um do outro, há pouca necessidade de 
esforço que possibilite a convivência. 
Da mesma forma, no tempo em que a vida era predominantemente 
rural, em que as pessoas moravam longe umas das outras, pouco precisavam se 
preocupar em organizar as suas vidas ao lado de outras pessoas. 
Contudo, quando no BBB diversas pessoas diferentes umas das outras 
são colocadas numa mesma casa, ou seja, quando elas repentinamente estão 
muito próximas umas das outras, surgem necessidades de organizar este local 
de convivência. Não demora e surgem os primeiros conflitos. É preciso criar leis 
e normas de convivência. Quando alguém desrespeitaessas leis, é preciso criar 
formas de punição, correção, reparação... 
Na Grécia antiga, quando as cidades cresceram, havia muitas pessoas 
ocupando um espaço físico limitado. Essa nova forma de vida humana precisava 
ser organizada. A grande dificuldade, por sua vez, estava no fato de que não 
havia precedentes, ou seja, era a primeira vez em que o ser humano se deparava 
com uma situação daquele tipo.
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
5
 No esforço de responder a esses novos problemas é que algumas pessoas 
se dispõem a pensar sobre eles. Estes primeiros pensadores e articuladores da 
vida social ainda não podem ser chamados de filósofos, mas contribuem de modo 
decisivo para uma mudança de mentalidade que viria a ser fundamental para o 
surgimento do filósofo.
Feita esta reflexão inicial, vamos nos ocupar a seguir com alguns fatores 
e mudanças na organização da vida social, que propiciaram o surgimento do 
pensamento filosófico e que serviriam de base para a estruturação de todo o 
pensamento racional humano posterior.
2.1 O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
Fundamental para o desenvolvimento do pensamento racional e filosófico 
foi a superação da mentalidade mítica. Segundo os mitos, a Terra era povoada por 
seres sobrenaturais, que habitavam os confins dos mares e os locais mais distantes 
do planeta. Como estes lugares longínquos ainda não haviam sido alcançados, 
eles representam um vazio que acaba sendo preenchido pelo imaginário humano.
Ocorreu que, com o desenvolvimento da sociedade humana na Grécia, o 
crescimento das cidades e o avanço do comércio daí decorrente, surge a necessidade 
de ir cada vez mais longe em busca de produtos para atender às necessidades das 
populações das cidades. Quando os povos viviam predominantemente em espaços 
rurais, tudo aquilo que era necessário para o sustento da vida era obtido nas 
proximidades. Mas quando a população se torna mais numerosa, o aumento da 
demanda faz com que as áreas de cultivo tenham que ser cada vez maiores.
Contudo, a geografia da Grécia não possibilita muita ampliação, pois ela 
é constituída de uma península e de várias ilhas no Mar Mediterrâneo. Observe 
a figura a seguir:
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
6
FIGURA 1– MAPA DA GRÉCIA ANTIGA
FONTE: Disponível em: <http://www.hipatia.com.pt/imagens_site/mapa_da_grecia_
antiga_2.jpg>. Acesso em: 20 out. 2012.
E então, caro(a) acadêmico(a), o que restava aos gregos para que 
pudessem continuar se desenvolvendo como sociedade? Diante de tais condições, 
um elemento essencial é a navegação. Mas a navegação não contribuiu para o 
surgimento do pensamento filosófico apenas de modo indireto, na medida em 
que possibilita o avanço da sociedade. 
Ela foi fundamental, isto sim, porque as pessoas puderam navegar para 
locais cada vez mais distantes na Terra e, aos poucos, foram se dando conta 
de que as criaturas mitológicas ou a própria imagem que se tinha do mundo, 
transmitidas através dos mitos, não correspondiam à realidade. 
Em terras distantes ninguém encontrou ciclopes, serpentes marinhas, 
gigantes etc., apenas outras pessoas iguais ou, pelo menos, muito parecidas 
com elas mesmas. Nesse sentido, o desenvolvimento da navegação teve uma 
contribuição fundamental para o surgimento do pensamento filosófico.
Um segundo elemento fundamental para o desenvolvimento do 
pensamento filosófico foi a invenção do calendário. Assim como a navegação 
surge em atendimento a necessidades bem concretas da sociedade, também 
o calendário visava a este propósito. Com o aumento populacional, havia 
necessidade de mais alimentos, levando à expansão da agricultura. 
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
7
Para satisfazer a demanda por alimentos, esta agricultura precisava ser 
eficaz. Ou seja, não se podia correr o risco de perder safras, pois isto poderia 
desencadear crises de fome e outros problemas relacionados. Era preciso, portanto, 
saber quais eram as melhores épocas do ano para o plantio de determinada safra 
e quando havia os menores riscos de perda das lavouras devido a intempéries 
climáticas.
 
O calendário surge como registro dessas experiências e permite a sua 
aplicação nas atividades humanas posteriores. Ele contribuiu para o surgimento do 
pensamento filosófico, na medida em que faz ver que a prosperidade da agricultura 
não dependia da vontade de entidades sobrenaturais e dos deuses, mas, sim, 
dependia em boa medida das condições climáticas de cada época do ano. 
Nesse sentido, Marilena Chauí (2008, p. 37) acentua que, com o calendário, 
foi possível:
Calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos 
importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de 
abstração nova ou uma percepção do tempo como algo natural e não 
como uma força divina incompreensível.
Com o calendário foi possível observar que muitas das condições 
necessárias para o êxito da agricultura se repetiam, independentemente da 
fidelidade do povo a uma determinada divindade, de modo que a mentalidade 
retratada pelo mito passasse a ser posta cada vez mais em dúvida ou, no mínimo, 
perdesse importância.
O desenvolvimento das cidades e a complexificação da vida daí decorrente 
ainda levaram ao desenvolvimento do comércio e ao surgimento da moeda, que 
visou facilitar as operações de trocas de mercadorias entre as pessoas. Quando 
a sociedade era constituída de um número reduzido de indivíduos, havia 
pouca necessidade de troca de mercadorias. As que eram realizadas geralmente 
ocorriam de modo direto. 
Ou seja, quem tinha maior quantidade de farinha do que necessitava para o 
próprio consumo, mas queria ter azeitonas em sua dieta, poderia procurar alguém 
que cultivava azeitonas e propor uma troca por alguma quantidade de farinha. A 
troca se concretizava pela entrega de um produto e o recebimento de outro. 
Contudo, quando cresceram as cidades e o número de habitantes e a 
própria agricultura se tornou bem mais diversificada, também se tornou mais 
difícil encontrar alguém que estivesse disposto a trocar farinha por azeitonas. 
Dependendo do produto que se procurava ou que se tinha para oferecer, as trocas 
poderiam ser quase impossíveis. 
Diante dessa necessidade, a moeda surge como possibilidade de troca, 
independentemente do que se procura de mercadoria. É possível se desfazer dos 
excedentes de produção, entregando-os a quem neles estivesse interessado, em 
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
8
troca de algumas moedas, que correspondem a um determinado valor. Com as 
moedas, por sua vez, podia-se procurar quem estivesse vendendo os produtos 
que se deseja adquirir, que podem ser comprados mediante a entrega dos valores 
monetários. 
Marilena Chauí (2008, p. 37) acentua a esse respeito:
[a moeda] permitiu uma forma de troca que não se realiza como 
escambo ou em espécie (isto é, coisas trocadas por outras coisas) e sim 
uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante 
das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de 
abstração e de generalização.
Em virtude disso, o desenvolvimento da moeda e do comércio também 
contribuiu para o surgimento do pensamento filosófico. Essa nova situação fez 
com que a mentalidade dos indivíduos fosse gradativamente deslocada de uma 
esfera sobrenatural e mitológica para a dimensão do cotidiano.
No ponto seguinte vamos nos ocupar com o pensamento dos primeiros 
filósofos, procurando perceber de que modo as suas filosofias contribuíram para 
o entendimento da sociedade em formação e de que modo essas novas formas de 
pensar corroboram para o avanço da nova sociedade.
2.2 OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
A classificação de "filósofos pré-socráticos" é recente e decorre da 
importância central que o filósofo Sócrates ocupa dentro da história da filosofia no 
Ocidente. Então, os pré-socráticos são os filósofos que viveram antes de Sócrates, 
cujo pensamento será analisado mais adiante.
A partirdo que já estudamos anteriormente, Trigo (2008, p. 12-13) afirma 
que:
O desenvolvimento intelectual da civilização grega possibilitou a 
discussão de suas comunidades sobre problemas mais abrangentes, 
denominados cósmicos. Para os antigos gregos, o mundo era o cosmos, 
uma palavra que significa "ordem", "beleza", "harmonia", em oposição 
ao caos, a desordem que existia antes da criação do mundo. E a filosofia 
[...] nasce nesse contexto repleto de mudanças. Os filósofos, assim 
chamados por seguirem a postura de se relacionarem intensamente 
com o conhecimento, eram os "amantes da sabedoria", esta constituindo 
o objetivo final desses grandes pensadores.
Conforme Chauí (2008, p. 39), o trabalho dos pré-socráticos “é uma 
explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da 
natureza, da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a 
natureza, a Filosofia também explica a origem e as mudanças dos seres humanos”.
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
9
Assim, por exemplo, podemos citar os filósofos Heráclito e Parmênides. 
Estes dois pensadores elaboraram duas diferentes concepções de cosmologia. 
Ou seja, tentaram explicar, cada um a seu modo, qual a ordem fundamental e 
constitutiva do universo. Eles não se preocuparam em descrever o que ocorre do 
ponto de vista histórico, mas quiseram achar a arché (origem), entendido como 
aquilo que é o fundamento do ser. 
Segundo Aranha e Martins (2003, p. 83), "buscar a arché é explicar qual é o 
elemento constitutivo de todas as coisas”.
Heráclito viveu entre os anos 544 e 484 a.C.. Ele nasceu em Éfeso, na 
Jônia, que nos dias atuais é a Turquia. A sua grande preocupação foi entender a 
multiplicidade do real. Ao olhar o mundo, percebia que ele não era uniforme, mas 
que tudo estava em constante transformação. Heráclito não rejeita as contradições 
do mundo e procura entendê-lo em sua dimensão de mudança, ou no seu devir. 
Aquilo que está diante de nossos olhos em determinado momento é algo 
diferente do que foi no dia anterior, mesmo que, muitas vezes, as mudanças 
não sejam perceptíveis aos nossos olhos. Por essa razão, Heráclito afirmava que 
"nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio". 
Ele tinha a convicção de que todas as coisas têm em si o germe da 
transformação; cada coisa possui contradições internas que levam à contínua 
mudança. A harmonia no mundo brota da síntese desses contrários. 
ESTUDOS FU
TUROS
Mais tarde, quando estudarmos o pensamento de Hegel no século XIX sobre a 
lógica dialética, veremos que muitas destas ideias serão retomadas. O mesmo acontecerá 
com Karl Marx, que enfatizará as lutas e as contradições de classe. (ARANHA; MARTINS, 2003).
Já o filósofo Parmênides acentuará em sua filosofia a imobilidade do ser. 
Parmênides viveu entre 540 e 470 a.C. em Eleia, uma cidade ao sul da região que 
então era chamada de Magna Grécia e que hoje forma a Itália. 
Ele é o principal representante da denominada escola eleática. Segundo 
seu pensamento filosófico, era absurda a ideia de Heráclito, segundo a qual todas 
as coisas possuem em si o embrião da contradição e da mudança. Parmênides 
não conseguia entender como algo poderia "ser" e "não ser" ao mesmo tempo. Por 
isso, ele contrapõe à filosofia heraclitiana a imobilidade do ser. 
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
10
Devido às suas convicções, Parmênides postula que o ser é único, imóvel, 
imutável e infinito. A essência de todas as coisas é sempre a mesma, apenas na 
aparência é que percebemos a mudança. 
As diferenças são percebidas apenas no mundo sensível, que, segundo 
este filósofo, é falso, pois a percepção pelos sentidos é ilusória. Parmênides estava 
convicto de que somente o mundo inteligível é verdadeiro e que o pensamento 
corresponde à realidade. Esta correspondência entre pensamento e realidade será 
chamada na Filosofia de princípio da identidade. (ARANHA; MARTINS, 2003). 
UNI
Mais adiante, no século XVI, esta ideia irá ser retomada por René Descartes, 
quando este acentuar o papel da razão na construção do conhecimento. Mas isto é assunto 
para o segundo tópico deste estudo.
Outros filósofos pré-socráticos ainda disseram que o fundamento de 
todas as coisas estava na água (Tales), no ar (Anaxímenes), no átomo (Demócrito) 
ou nos quatro elementos – terra, ar, água e fogo (Empédocles) (ARANHA; 
MARTINS, 2003). O trabalho dos filósofos pré-socráticos é distinto das narrativas 
mitológicas, pois eles discutem de maneira racional sobre a natureza e de que 
forma ela está organizada. 
Essas primeiras formas de pensamento filosófico foram possíveis graças 
ao ambiente da cidade, do pensamento progressivamente concreto e racional. O 
contexto da cidade possibilitou que pessoas se ocupassem com esse tipo de questões.
A vida na cidade também fez surgir outro tipo de reflexão, preocupada 
com a convivência das pessoas na cidade, a sua organização e desenvolvimento. 
Quando havia pessoas pensando de formas diferentes sobre o progresso da cidade, 
era preciso convencer as demais para que seguissem um plano determinado. 
Essas estratégias foram pensadas pelos chamados sofistas, sobre quem 
falaremos no próximo ponto.
2.3 OS SOFISTAS
A atuação dos sofistas destoa bastante da reflexão dos filósofos pré-
socráticos. Isto se deve, em boa medida, porque os seus interesses são distintos. 
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
11
A atuação dos chamados sofistas ocorre no período áureo da cultura grega, no 
século V a.C. Em Atenas existe uma intensa atividade artística e cultural nesse 
período, que também se caracteriza pelo auge da democracia. 
Ainda que as questões da natureza apareçam nas reflexões filosóficas, o 
foco se torna cada vez mais o próprio ser humano. Ou seja, a filosofia assume 
gradativamente um enfoque antropológico, envolvendo questões de ordem 
moral e política. (ARANHA; MARTINS, 2003).
Os sofistas surgem a partir dos novos desafios que o desenvolvimento 
das cidades e do comércio na Grécia geraram. Antes, a sociedade era regida por 
uma elite proprietária de terras e do poder militar. Esta classe baseava a educação 
dos seus filhos no modelo dos heróis mitológicos, especificamente dos guerreiros 
belos e bons. A beleza se caracterizava pelo corpo escultural formado pelos 
exercícios físicos, pela ginástica, pela dança e pelos jogos de guerra. 
O ser bom era definido a partir das leituras de Homero e Hesíodo, por 
exemplo, que descreviam as características dos heróis, cujas virtudes eram 
admiradas pelos deuses, sendo a principal delas a coragem diante da morte na 
guerra. A coragem aparece como importante elemento na luta de Heitor e Aquiles, 
contada por Homero e retratada no cinema através do filme "Troia". 
DICAS
Assista ao filme A Guerra de Troia.
FONTE: Disponível em: < monteolimpoblog.blogspot.com>. 
Acesso em: 15 dez. 2012.
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
12
Conforme Chauí (2008, p. 40), "a virtude era a aretê (palavra grega que 
significa 'excelência e superioridade'), própria dos melhores, ou, em grego, dos 
aristoi." Daí deriva a palavra aristocracia, que quer dizer o governo dos melhores.
Quando se desenvolveram as cidades e o comércio, surgiu também 
uma nova classe social rica que estava igualmente interessada em ter influência 
política. Assim, desenvolveu-se a democracia grega, pela qual essa participação 
se tornou possível. As decisões concernentes à vida na cidade passaram a ser 
tomadas na praça pública, a Ágora. Das reuniões na praça pública participavam 
todos os cidadãos, expondo as suas ideias de modo a convencer os demais dos 
seus pontos de vista. 
O modelo de educação aristocrático já não atendia mais às novas 
necessidades, por isso surgiu um novo modelo de educação, protagonizado pelos 
sofistas. Os sofistas eram membros da nova classe social que procurou ampliar 
a sua influência política, que poderia ser concretizada a partir dos debates na 
praça pública. Era preciso que houvesseconhecimento e argumentos para estas 
discussões.
Assim, os sofistas se tornam os primeiros educadores, pois contribuíram 
para a sistematização dos conhecimentos de tal forma que pudessem formar 
o cidadão que faz a sua voz ser ouvida na Ágora. Eles dão uma contribuição 
fundamental para a sistematização do ensino, ao formarem um currículo de 
estudos: gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, astronomia e música. 
(CHAUÍ, 2008).
Os sofistas se tornaram especialistas em retórica, que é a arte da 
argumentação. À medida que se dispõem a ensinar os filhos da nova classe rica, 
os sofistas iniciam os jovens na arte da retórica. Ao mesmo tempo, considerando o 
aspecto bastante prático de sua reflexão, ou seja, a preocupação com as discussões 
na praça pública, eles acabaram por elaborar o ideal teórico da democracia. Os 
cidadãos da nova classe rica tiveram especial interesse neste assunto, pois ele 
se contrapõe diretamente aos interesses da velha aristocracia rural. (ARANHA; 
MARTINS, 2003).
Através de sua atuação, os sofistas contribuíram ainda para a 
profissionalização da educação, pois muitos deles cobravam pelos serviços 
prestados. Essa prática lhes rendeu muitas críticas, como as feitas, por exemplo, 
por Sócrates, que os acusava de "prostituição". 
Segundo o filósofo, o conhecimento não poderia ser vendido. Mas, 
conforme alertam Aranha e Martins (2003), mesmo que alguns sofistas poderiam 
ser chamados de "mercenários do saber", isto de modo algum pode ser aplicado 
a todos eles. Os sofistas deixaram uma contribuição muito valiosa para a 
filosofia posterior e, certamente, podem ser considerados entre os precursores 
dos modernos estudos da linguagem, que incluem a linguística, o jornalismo, 
marketing e outros.
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
13
2.4 SÓCRATES
Como já vimos no ponto anterior, Sócrates não simpatizava com os sofistas. 
Em primeiro lugar, pelo fato de eles cobrarem pelo ensino que ministravam, mas 
também porque Sócrates não aceitava a possibilidade de se defender qualquer 
ideia somente para que se pudesse ganhar um debate em praça pública. 
O filósofo estava convicto de que somente a verdade deveria ser defendida. 
E, antes de querer convencer os outros de alguma ideia, cada um deveria primeiro 
conhecer a si mesmo. Por outro lado, Sócrates concordava com os sofistas quando 
eles afirmavam que a educação aristocrática já não atendia mais às necessidades 
da cidade. Era preciso, portanto, que se criasse um novo modelo educacional, 
mais adequado aos novos tempos. (CHAUÍ, 2008).
Mas, quem foi Sócrates e quais foram as suas principais ideias filosóficas?
Sócrates viveu aproximadamente entre os anos 470 e 399 a.C., em Atenas, e 
não deixou nenhum testemunho escrito. Tudo o que se sabe sobre ele é transmitido 
por dois de seus discípulos, Xenofontes e Platão. 
Platão apresenta Sócrates como um homem que andava pelas ruas de 
Atenas fazendo perguntas às pessoas, principalmente àquelas que discursavam 
em praça pública. Ele perguntava sobre os valores que os gregos consideravam 
fundamentais para a sua sociedade, tais como a coragem, a virtude, o amor, a 
honestidade, a amizade e a verdade. Para a sua surpresa, as pessoas sempre lhe 
respondiam com exemplos, ao que retrucava dizendo que não estava interessado 
nos exemplos e, sim, queria saber o que é o amor, a amizade etc. A atitude de 
Sócrates causava embaraço. As pessoas se sentiam constrangidas e percebiam 
que não tinham as respostas para as perguntas do filósofo. (CHAUÍ, 2008).
FIGURA 2 – SÓCRATES
FONTE: Disponível em: <http://ghiraldelli.pro.br/wp-content/
uploads/2011/02/socrates.gif>. Acesso em: 20 out. 2012. 
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
14
Aranha e Martins (2003) ressaltam que, ao adotar esses procedimentos, 
Sócrates lança mão de um método próprio de reflexão filosófica, que chamam de 
ironia e maiêutica. Ironia é um verbo grego usado para "perguntar" e maiêutica 
significa "parto". O método socrático teria sido assim denominado em homenagem 
à mãe de Sócrates, que era parteira. Ou seja, enquanto ela ajudava as pessoas a vir 
à luz, o filho era um parteiro de ideias.
O pensamento socrático é, muitas vezes, identificado com a famosa 
afirmação "Só sei que nada sei". Em outras palavras, isto quer dizer que Sócrates 
não se considerava uma pessoa arrogante, pois tinha consciência de que não era 
possível conhecer tudo. Essencial para a reflexão filosófica é a capacidade de 
perguntar, de querer saber coisas novas. Quando alguém pensa que já sabe tudo, 
que já está pronta, então não há mais necessidade de aprendizado e também de 
reflexão, muitos menos de filosofia. 
Portanto, o filósofo considerava a humildade como elemento essencial da 
pessoa que quer ser sábia. O sábio sabe reconhecer os seus próprios limites e não 
hesita em admitir que não é dono da verdade, que não possui todas as respostas. 
Quando Sócrates fazia perguntas às pessoas até lhes mostrar que aquilo que 
acreditavam ser a verdade não era realmente algo consistente, não queria dizer 
que ele mesmo possuía todas as respostas.
Sócrates introduziu na filosofia a necessidade de se fazer uma diferença 
entre aquilo que se apresenta aos nossos olhos, aquilo que assimilamos através 
dos nossos sentidos, e as essências das coisas. Ele não queria apenas saber a 
opinião dos cidadãos de Atenas sobre determinado assunto, mas estava disposto 
a procurar o conceito que oferecesse o acesso à própria verdade. Essa busca da 
verdade tem uma enorme força social e política, pois faz as pessoas perguntarem 
pelo real sentido do que está à sua volta.
Por essa razão, Sócrates logo passou a ser visto como um perigo pelos 
poderosos de Atenas e considerado alguém que estava corrompendo a juventude 
com as suas ideias. Ele foi levado perante a assembleia da cidade e foi julgado 
culpado, sendo obrigado a tomar veneno, a cicuta. Sócrates não se defendeu das 
acusações, dizendo que não as aceitava. Também não abriu mão de suas ideias e 
da liberdade de pensar e, dessa forma, preferiu a morte. (CHAUÍ, 2008).
Marilena Chauí (2008) faz uma analogia do trabalho de Sócrates com o 
personagem Neo do filme Matrix. Assim como Sócrates acreditava que a maioria 
dos gregos estava vivendo num mundo de ilusão, também em Matrix o mundo 
dominado pelas máquinas sujeitou a humanidade à escravidão. Era preciso, dessa 
forma, libertar-se das amarras que oprimem e não nos deixam ver a realidade 
como ela é de fato.
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
15
DICAS
Caro(a) acadêmico(a), sugiro que assista ao primeiro filme da trilogia Matrix.
MATRIX
FONTE: Disponível em: <http://www.euniverso.com.br/Filmes/
matrix01.jpg>. Acesso em: 20 out. 2012.
No ponto seguinte vamos analisar o pensamento do principal discípulo 
de Sócrates, que é Platão.
2.5 PLATÃO
Platão foi discípulo de Sócrates, como já referido acima, e desenvolveu 
o pensamento do seu mestre. Muitas vezes é difícil saber onde termina o 
pensamento de Sócrates e em que ponto começa o de Platão. Platão viveu em 
Atenas entre os anos 428 e 347 a.C., onde fundou uma escola chamada Academia. 
O seu pensamento pode ser mais bem compreendido a partir de uma análise do 
seu famoso "Mito da Caverna".
DICAS
A seguir vamos ler este trecho da obra de Platão, no livro VII de “A República”. 
Platão narra este mito como se fosse um diálogo entre Sócrates e alguém chamado Glauco.
Sócrates – [...] Pense em homens encerrados numa caverna, dotada de uma abertura que 
permite a entrada de luz em toda a sua extensão da parede maior. Encerrados nela desde a 
infância, acorrentados por grilhões nas pernas e no pescoço que os obrigam a ficar imóveis, 
podem olhar para a frente, porquanto as correntes no pescoço os impedem de virar a cabeça. 
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
16
Atrás e por sobre eles, brilha à distância uma chama. Entre esta e os prisioneiros delineia-
se uma estrada em aclive, ao longo da qual existe umpequeno muro, parecido com os 
tabiques que os saltimbancos utilizam para mostrar ao público suas artes.
Glauco – Estou imaginando tudo isso.
S. – Suponha ainda, ao longo daquele pequeno muro, homens que carregam todo tipo 
de objetos que aparecem por sobre o muro, figuras de animais e de homens de pedra, de 
madeira, de todos os tipos de formas. Alguns dentre os homens que as carregam, como é 
natural, falam, enquanto outros ficam calados.
G. – Que visão estranha e que estranhos prisioneiros!
S. – Malgrado isso, são semelhantes a nós. Pense bem! Em primeiro lugar, deles mesmos e 
de seus companheiros poderiam ver algo mais do que sombras projetadas pela chama na 
parede da caverna diante deles?
G. – Impossível, se foram obrigados a ficar por toda a vida sem mover a cabeça.
S. – E não se encontram na mesma situação no tocante aos objetos que desfilam perante 
eles?
G. – Certamente.
S. – Supondo que pudessem falar, você não acha que considerariam reais as figuras que 
estão vendo?
G. – Sem dúvida alguma.
S. – E se a parede oposta da caverna fizesse eco? Quando um dos que passam se pusesse a 
falar, você não acha que eles haveriam de atribuir aquelas palavras à sua sombra?
G. – Claro, por Zeus!
S. – Então para esses homens a realidade consistiria somente nas sombras dos objetos.
G. – Obviamente haveria de ser assim.
S. – Vamos ver agora o que poderia significar para eles a eventual libertação das correntes 
e da ignorância. Um prisioneiro que fosse libertado e obrigado a se levantar, virar a cabeça, 
a caminhar e a erguer os olhos para a luz, haveria de sofrer ao tentar fazer tudo isso, ficaria 
aturdido e seria incapaz de discernir aquilo de que antes só via a sombra. Se a ele se dissesse 
que antes via somente as aparências e que agora poderia ver melhor porque seu olhar está 
mais próximo da realidade e voltado para objetos bem reais; se lhe fosse mostrado cada 
um dos objetos que desfilam e se fosse obrigado com algumas perguntas a responder o 
que era isso, como você acha que ele haveria de se comportar? Você não acha que ficaria 
atordoado e haveria de considerar as coisas que via antes mais verdadeiras do que aquelas 
que são mostradas agora?
G. – Sem dúvida, muito mais verdadeiras.
II.
Sócrates – Se fosse obrigado a olhar extremamente para a luz, não haveria de sentir os olhos 
doloridos e não tentaria desviá-los e dirigi-los para o que pode ver? Não haveria de acreditar 
que isto seria na realidade mais verdadeiro do que agora se quer mostrar a ele?
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
17
Glauco – Certamente.
S. – E se alguém o tirasse à força dali, fazendo-o subir pela áspera e íngreme subida, 
libertando-o somente depois de tê-lo levado à luz do sol, o prisioneiro não sentiria dor e 
ao mesmo tempo raiva por ser assim arrastado? Uma vez fora, à luz do dia, por acaso não é 
verdade que, com seus olhos cegados pelos raios do sol, não conseguiria contemplar sequer 
um só dos objetos que agora nós consideramos reais?
G. – Sim, pelo menos não de imediato.
S. – Acho que precisaria de tempo para habituar-se a contemplar essas realidades superiores. 
Primeiramente, haveria de ver com a maior facilidade as sombras, depois as figuras humanas 
e todas as outras refletidas na água e, por último, poderia vê-las como são na realidade. Após 
isso, seria capaz de filtrar os olhos nas constelações e contemplaria o próprio céu à noite, à 
luz das estrelas e da lua, mais facilmente que durante o dia, sob o esplendor do sol.
G. – Sem sombra de dúvida.
S. – Acho que, por fim, haveria de contemplar o sol, não sua imagem refletida na água ou em 
qualquer outra superfície, mas em sua realidade, assim como realmente é, em seu próprio 
lugar.
G. – Perfeito.
S. – Depois passaria a refletir que é o sol que produz as estações e os anos, que governa 
todos os fenômenos do mundo visível e que, de algum modo, é ele a verdadeira causa 
daquilo que os prisioneiros viam. 
G. – Evidentemente que refletindo assim chegaria gradualmente a essas conclusões.
S. – E depois? Lembrando-se de sua antiga morada, da ideia de sabedoria que lá imperava 
e de seus velhos companheiros de prisão, não se consideraria afortunado pela mudança 
efetuada e não sentiria compaixão por eles?
G. – Obviamente.
S. – Se aqueles da caverna inventassem atribuir honras, elogios e prêmios a quem melhor 
visse a passagem das sombras e se recordasse com maior exatidão quais passavam primeiro, 
quais por último e quais passavam juntas e, com base nisso, adivinhasse com grande 
habilidade aquelas que passavam em cada preciso momento, você acha que ele ficaria com 
desejo e com inveja de suas honras e de seu poder ou se haveria de encontrar na condição 
do herói homérico e preferiria ardentemente “trabalhar como assalariado a serviço de um 
pobre camponês” e sofrer qualquer privação, antes que dividir as opiniões deles e voltar a 
viver à maneira deles?
G. – Sim, acho que aceitaria sofrer qualquer tipo de privação, antes de retornar a viver 
daquela maneira.
S. – Mais um ponto a ser considerado. Se aquele homem tivesse de descer novamente e 
retomar seu lugar, não haveria de sentir os olhos doloridos por causa da escuridão, vindo 
inopinadamente do sol?
G. – Certamente.
S. – Se, enquanto tivesse a vista confusa pelo tempo que se passaria antes que os olhos se 
acostumassem novamente com a obscuridade, devesse avaliar novamente aquelas sombras 
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
18
e apostasse com aqueles eternos prisioneiros, você não acha que passaria por ridículo e 
dele diriam que sua saída lhe havia arruinado a vista e que sequer valia a pena enfrentar 
essa subida? Não haveria de ser morto aquele que tentasse libertar e fazer subir os outros, 
bastando para isso que o tivessem entre as mãos para matar?
G. – Não há dúvida alguma.
FONTE: Adaptado de: <books.google.com.br/books?isbn=8561495014>. Acesso em: 15 dez. 
2012.
No mito da caverna, Platão faz uma diferença entre o mundo sensível e o 
mundo das ideias. O mundo sensível é aquele que era percebido pelos sentidos 
dos prisioneiros como sombras refletidas na parede. A realidade, para aquelas 
pessoas que nunca haviam experimentado algo diferente, era um mundo de 
sombras e de ecos. Imaginar outro mundo, onde houvesse outras condições de 
luminosidade, de cores, de cheiros e formas, era algo que poderia ser comparado 
à loucura. Quem ousasse mencionar algo assim era ridicularizado.
A principal característica do pensamento de Platão é a dualidade entre 
o mundo ideal, ou das ideias, e o mundo sensível. O seu esforço maior foi o de 
tentar realizar a síntese entre os pensamentos opostos de Parmênides e Heráclito. 
O primeiro, como estudamos no ponto sobre os filósofos pré-socráticos, defendia 
a imutabilidade do ser; enquanto o segundo ressaltava a existência de um mundo 
em constante transformação.
Para Platão, as conclusões de Heráclito decorriam da experiência que 
fazemos com os nossos sentidos, mas que seriam enganosos. O filósofo ilustra 
isso no mito da caverna ao ressaltar que a vivência em diferentes ambientes leva à 
formação de diferentes concepções da realidade. A vivência na prisão da caverna 
durante toda a vida levou aquelas pessoas a acreditarem que o seu mundo, a 
realidade, era o que estava diante dos seus olhos. A verdade era associada às 
sombras que eram projetadas na parede. 
A possibilidade de sair daquele lugar e experimentar a existência de 
outras formas de realidade provocou uma mudança na concepção de mundo. Os 
sentidos nos oferecem novos parâmetros para a compreensão do mundo. Mas o 
que Platão quer justamente mostrar é que não há garantia de que o que vemos 
corresponda efetivamente à realidade. 
Portanto, segundo Platão, os nossos sentidos nos enganam e a verdade 
deveria residir em outra esfera, não na do mundo sensível. Assim, tanto o 
pensamento socrático como o de Platão ressaltam que o verdadeiro conhecimento 
não está na experiência sensível, mas na essência das coisas, que pode seralcançada mediante o uso da inteligência. O mundo inteligível, da razão, é o que 
corresponde à verdade.
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
19
DICAS
O cartunista Maurício de Souza fez uma representação moderna do mito da 
caverna de Platão.
FIGURA 3 – VERSÃO MODERNA DO MITO DA CAVERNA
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_4TStK8uZrgU/TJT2SLWn6tI/
AAAAAAAAFRI/NXprcpgW250/s1600/mitodacaverna.png >. Acesso em: 20 out. 2012.
NOTA
Portanto, Sócrates e Platão foram sérios críticos dos sofistas, que aceitavam como 
verdadeiros os conhecimentos formados pela experiência sensível. Segundo os filósofos, 
esta forma a mera opinião, ou dóxa em grego, que poderia variar de pessoa para pessoa, 
conforme cada circunstância particular. A preocupação da filosofia, por sua vez, deveria ser 
com o conhecimento verdadeiro, alcançável unicamente pelo pensamento. (CHAUÍ, 2008).
Vejamos, agora, como o pensamento de Sócrates e Platão foi desenvolvido 
pelo filósofo Aristóteles.
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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2.6 ARISTÓTELES
O tempo de atuação de Aristóteles é caracterizado na história da 
filosofia como período sistemático. Isso se deve ao fato de que o filósofo tem um 
papel fundamental na organização e sistematização do pensamento filosófico 
desenvolvido até então e, ainda, ao seu aprofundamento. 
Devemos a Aristóteles a organização do pensamento lógico através do qual 
elabora uma explicação da realidade a partir do princípio de causalidade, ou seja, 
para ele, todas as coisas têm uma causa, que pode ser estudada e compreendida.
Aristóteles viveu entre os anos de 384 e 322 a.C. Ele frequentou a Academia 
de Platão e a sua fidelidade ao mestre é relativa. O filósofo desenvolveu o 
pensamento de Platão e o aprofundou, mas também foi divergente em muitos 
aspectos. Entre os principais aspectos críticos estava a compreensão de um 
mundo separado das ideias.
Aristóteles não achava que seria possível conceber a realidade em duas 
esferas completamente distintas, independentes uma da outra. Se Platão apenas 
tentou realizar a síntese entre os pensamentos de Parmênides e Heráclito, 
Aristóteles funde definitivamente essas duas grandes proposições filosóficas 
num único sistema.
 
Para superar a dicotomia platônica, a teoria aristotélica está fundamentada 
em três distinções fundamentais: substância-essência-acidente; ato-potência; 
forma-matéria. (ARANHA; MARTINS, 2003). 
Vejamos a seguir de que forma Aristóteles propôs uma nova explicação da 
realidade a partir desses conceitos.
Segundo Aristóteles, toda a realidade é composta de substância. Para ele, 
a substância é "aquilo que é em si mesmo". Toda substância, por sua vez, possui 
atributos, que podem ser ou não essenciais. Se os atributos da substância não são 
essenciais, então eles podem ser chamados de acidentais. Se os atributos essenciais 
faltam a uma determinada substância, ela não poderia ser considerada o que é. 
Vamos pensar em um exemplo para tornar mais compreensível a distinção 
de substância, essência e acidente feita por Aristóteles. 
Aranha e Martins (2003) propõem que imaginemos um ser humano, que 
podemos considerar como sendo uma substância individual. Para que possamos 
considerar essa substância um ser humano e não outra coisa qualquer, é preciso 
que a substância tenha alguns atributos essenciais. Na história da filosofia, a 
característica essencial do ser humano sempre foi considerada a racionalidade. 
Então, se não houver racionalidade, não podemos considerar uma 
substância como um ser humano. Por outro lado, há vários atributos no ser 
humano que não são essenciais para que ele seja considerado como tal. Se uma 
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
21
pessoa for velha, nova, obesa ou magra, ou então tiver cabelos longos ou nem 
sequer tiver cabelo, isso não faz com que ela deixe de ser um ser humano.
Contudo, com a distinção acima ainda não é possível resolver o problema 
das transformações dos seres e explicar a origem das diferenças. De que modo 
os seres humanos se tornaram diferentes uns dos outros? Para resolver este 
problema, Aristóteles recorre às noções de matéria e forma. A matéria é aquilo de 
que todas as coisas são feitas. Esse conceito é muito próximo à concepção que a 
física moderna tem de matéria. 
A característica da matéria é a indeterminação. Desse modo, um amontoado 
de células não constitui um ser humano; tampouco uma porção de granito pode 
ser considerada uma estátua. Para que a matéria seja considerada algo é preciso 
que ela adquira forma. A matéria tem a forma apenas potencialmente. Várias 
células podem tornar-se um ser humano, mas não necessariamente. Do mesmo 
modo, uma semente possui a forma de árvore como potencial, assim como uma 
pedra pode vir a ser uma estátua.
A matéria é a parte constante e imutável da realidade e, nesse sentido, 
engloba as conclusões a que chegou Parmênides, de que o mundo é imutável. Já 
com a noção de forma, Aristóteles nos remete ao pensamento de Heráclito, que 
privilegiou a mudança como elemento constitutivo da realidade e do mundo. 
Contudo, ainda é preciso entender como Aristóteles concebia a 
transformação da matéria para que ela viesse a adquirir uma forma determinada. 
Segundo o filósofo, como já referimos acima, toda a matéria tem a forma em 
potência. Quando a matéria adquiriu uma forma determinada, então ele dizia 
que se havia chegado ao ato. (ARANHA; MARTINS, 2003). 
O ato é a forma adquirida. No exemplo do ser humano que tomamos acima, 
a matéria são as células logo após a fecundação do óvulo pelo espermatozoide. Estas 
células têm a forma humana somente em potencial. O ato é o ser humano formado. 
FIGURA 4 – EMBRIÃO HUMANO
FONTE: Disponível em: <http://espectivas.files.wordpress.
com/2009/03/embriao2.jpg>. Acesso em: 20 out. 2012.
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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NOTA
Há uma discussão muito séria, atualmente, sobre qual seria o momento em que 
o óvulo passa a ser um ser humano. Esta polêmica, normalmente, está associada à discussão 
sobre o aborto. Então, caro(a) acadêmico(a), quando ocorre a passagem da simples matéria 
para a vida humana? Pense a respeito!
Segundo Aranha e Martins (2003), para explicar o movimento de passagem 
da potência ao ato, Aristóteles recorre à teoria das quatro causas:
a) A causa material: é aquilo de que uma coisa é feita. Ela é determinante, pois 
de um monte de pedras não se pode esperar um ser humano. Mas as pedras 
podem ser transformadas em uma estátua.
b) A causa eficiente: é aquilo com que a coisa é feita. Para que as pedras virem 
esculturas, é preciso que haja um escultor.
c) A causa formal: é aquilo que a coisa vai ser. No caso das pedras, a estátua é a 
causa formal, especificamente a imagem feita na mente do escultor. Quando 
ele vê a pedra, ele já é capaz de imaginar em seu lugar a estátua pronta.
d) A causa final: é aquilo para o qual a coisa é feita. A estátua pode ter a finalidade 
de servir de decoração ou homenagear alguma pessoa importante.
FIGURA 5 – ESTÁTUA DA JUSTIÇA NA PRAÇA DOS TRÊS PODERES EM 
BRASÍLIA
FONTE: Disponível em: <http://www.infopedia.pt/mostra_imagem.
jsp?recid=20034>. Acesso em: 20 out. 2012. 
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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Desse modo, com uma única teoria, Aristóteles foi capaz de reunir 
os pensamentos de Parmênides e Heráclito e superar o mundo separado das 
ideias proposto por Platão. O sistema aristotélico contempla ao mesmo tempo 
a imutabilidade do mundo e as mudanças. Com Aristóteles se concretiza 
definitivamente a mudança na mentalidade da antiguidade de uma esfera 
sobrenatural e mítica para uma mentalidade racional e orientada exclusivamente 
para a esfera imanente. Não era mais necessária a recorrência à transcendência 
para explicar o cotidiano.
Ainda assim, o divino não se tornou completamente desnecessário para 
explicar a realidade como um todo. Ele não era mais essencial para entender a 
realidade presente, mas continuoua existir como princípio que deu origem a 
todo o universo.
 
Por isso, Aranha e Martins (2003, p. 124) dizem que "toda a estrutura 
teórica da filosofia aristotélica desemboca no divino". Vejamos: se todas as coisas 
têm uma causa, como propôs Aristóteles, então nos restam duas possibilidades 
para explicar a origem do universo. Ou ele é infinito, de modo que não haja uma 
origem, mas cuja ideia é difícil de ser apreendida pela razão humana; ou então 
ele é finito e, nesse caso, é preciso que haja um princípio gerador. Como princípio 
primeiro, é preciso que seja diferente de todas as outras coisas, pois não pode ser 
fruto de uma causa anterior. 
Aranha e Martins (2003, p. 124) dizem a respeito:
Ou seja, todo ser contingente foi produzido por outro ser, que também é 
contingente e assim por diante. Para não ir ao infinito na sequência das 
causas, é preciso admitir uma primeira causa, por sua vez incausada, 
um ser necessário (e não contingente). Esse Primeiro Motor (imóvel, 
por não ser movido por nenhum outro) é também um puro ato (sem 
nenhuma potência). Chamamos Deus ao Primeiro Motor Imóvel, Ato 
Puro, Ser Necessário, Causa Primeira de todo existente.
Além das questões acima, Aristóteles ainda se ocupou com o tema da ética, 
que é extremamente atual, se considerarmos os inúmeros escândalos políticos, 
financeiros e as recorrentes denúncias de corrupção (TRIGO, 2009). Se o mundo é 
organizado a partir do princípio de causas e efeitos, então o comportamento das 
pessoas produz efeitos, que podem ser bons ou ruins. Desse modo, a ação humana 
deve ser direcionada de tal forma a produzir os melhores efeitos possíveis. A ação 
humana exige responsabilidade, segundo a teoria aristotélica.
Podemos ver, então, que o pensamento aristotélico tem grande 
profundidade e capacidade de explicação da realidade em que vivemos. Não foi 
por acaso que ele se tornou modelo para toda a ciência ocidental até a atualidade. 
Vamos aprofundar isso ao longo dos próximos tópicos.
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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3 O PENSAMENTO FILOSÓFICO HELENÍSTICO
A filosofia posterior a Platão e Aristóteles se desenvolveu em um ambiente 
político muito diferente daquele dos primeiros filósofos. Até então, Atenas era 
politicamente independente e havia experimentado a possibilidade da democracia. 
A partir da segunda metade do século IV a.C., Atenas perdeu a sua autonomia, 
quando foi conquistada, primeiro por Tebas e depois pelos macedônios. Todas as 
tentativas de libertação fracassaram e terminaram em grande derramamento de 
sangue. Embora a dominação macedônica tenha durado pouco, as pretensões de 
independência da Grécia não duraram, pois logo caiu sob o domínio do Império 
Romano. (MONDIN, 1981).
Por outro lado, segundo Mondin (1981), o pensamento e a cultura gregos 
conquistaram o mundo da antiguidade e o marcaram para toda a história 
posterior. Esse fenômeno de expansão da língua e da cultura gregas é chamado 
de helenismo. Helenismo provém de Hélade, que era o nome da Grécia na 
antiguidade. Com o helenismo surgiram alguns centros intelectuais de destaque, 
tais como Pérgamo, Antioquia e Alexandria.
No período helenístico não surgem ideias novas. De algum modo, tinha-
se a impressão de que todas as grandes ideias e teorias a respeito do universo, de 
sua origem e de seu fundamento já haviam sido formuladas no período clássico 
da filosofia grega. Assim, para muitos restava a adesão a alguma dessas teorias 
e a sua repetição, quem sabe o seu aprofundamento. Nesse sentido, pode-se 
experimentar um desenvolvimento significativo dos conhecimentos específicos, 
tais como a matemática, a geometria, a astronomia, a geografia, as ciências 
naturais, a medicina e a história.
Diante de uma sociedade em que a perda de autonomia era crescente, 
as preocupações se voltaram gradativamente para o indivíduo. A antiga pólis, a 
cidade, na qual se debatia os interesses em praça pública, na ágora, já não existe 
da mesma forma. A vida coletiva estava sob a condução dos conquistadores e, 
nesse sentido, não oferecia grandes possibilidades para a reflexão filosófica. Por 
isso, no período helenístico, progressivamente a filosofia voltou as suas atenções 
para questões éticas. Diante das novas perguntas, especialmente a pergunta pelo 
Sumo Bem, ou o bem supremo, desenvolveram-se quatros tipos de respostas. 
Segundo Bondin (1981, p. 109):
Quanto ao Sumo Bem, os estoicos fazem-no consistir na apatia (ou 
eliminação das paixões); os epicuristas colocam-no na ataraxia (ausência 
de preocupações e perturbações) e no prazer. Mas muitos espíritos não 
se sentem satisfeitos com nenhuma destas soluções, e em suas mentes 
ganha terreno um sentimento de desconfiança em relação a qualquer 
solução filosófica não só do problema do Sumo Bem, mas também do 
da verdade: esta é a solução dos céticos. Outros pensadores, ao contrário, 
julgam que para problemas tão árduos, que nenhuma inteligência 
humana pode resolver sozinho, seja mais recomendável reunir o que 
há de bom nos diversos sistemas filosóficos: é a solução dos ecléticos.
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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Podemos perceber, a partir dessa breve caracterização do período 
helenístico, como a realidade social, econômica e política influenciara diretamente 
nas maneiras de pensar de pessoas e, dessa forma, contribuiu para o surgimento 
de novas reflexões filosóficas. Se, por um lado, a filosofia pretende contribuir para 
a mudança da realidade social, ela é, ao mesmo tempo, determinada por esta 
realidade que almeja alterar.
Ao longo da Idade Média, a mudança na sociedade foi ainda mais 
significativa. Vejamos esse desenvolvimento no ponto seguinte.
3.1 A FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA
A Idade Média compreende um período histórico de mais de mil anos, 
estendendo-se desde a queda do Império Romano no século V até o século XV, 
com as expansões turcas. Durante esse longo período, o interesse da filosofia, que 
se desenvolverá estreitamente ligada à religião, terá o seu interesse voltado para 
o além, para o céu, para o divino. (TRIGO, 2009).
Ainda durante o Império Romano, o cristianismo já experimentou um 
crescimento bastante significativo, embora fosse uma religião perseguida durante 
quase três séculos, até o ano 313, quando o imperador Constantino a tornou uma 
religião legal. Em 390, o cristianismo se tornou a religião oficial do Império. Antes 
disso, porém, era visto como uma ameaça, pois os cristãos se recusavam a prestar 
o culto ao imperador, que era sinal de fidelidade ao Estado.
Esta realidade de perseguição, martírio e morte fez com que se desenvolvesse 
uma mentalidade muito particular, quase totalmente voltada para o além. O 
cotidiano dos cristãos no Império Romano não oferecia grandes perspectivas e 
as esperanças dessas pessoas foram sendo depositadas progressivamente numa 
vida depois da morte, no paraíso. Mesmo após a queda do Império Romano, as 
condições de vida nunca foram exatamente favoráveis. (TRIGO, 2009).
Dois movimentos filosóficos caracterizam a Idade Média: um no início, a 
Patrística, e outro no final, a Escolástica. Vejamos a seguir cada um deles.
3.2 SANTO AGOSTINHO E A PATRÍSTICA
A Patrística desenvolveu-se no período de decadência do Império Romano, 
no segundo século da era cristã. Nessa época, o cristianismo experimentou uma 
grande expansão e a preocupação desses cristãos foi a defesa da fé cristã diante 
das heresias. Esses defensores da fé são também chamados de pais da igreja e a 
sua forma de usar a filosofia é conhecida de apologética. Durante toda a Idade 
Média, aliás, a razão foi subordinada à fé; ela foi feita uma auxiliar da fé cristã. 
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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Segundo Aranha e Martins (2003, p. 125), disso decorre a expressão de 
Agostinho: "Credo ut intelligam", que significa "Creio para que possa entender".
O principal expoente da Patrística é Santo Agostinho, que viveu entre os 
anos 354 e 430, na cidade de Hipona, no norte da África(atual Argélia), onde foi 
bispo. A principal característica do pensamento dos pais da igreja é a síntese entre 
o pensamento filosófico grego e a doutrina cristã. Nesse sentido, o pensamento 
que mais parecia adaptável à fé cristã era a teoria platônica do mundo sensível e 
do mundo das ideias, sobre a qual falamos acima. A única alteração que Agostinho 
propôs foi a substituição do mundo das ideias pelo mundo das ideias divinas. 
Para Agostinho, a verdade está no recebimento das ideias divinas. Somente Deus 
poderia oferecer o verdadeiro conhecimento e apenas a fé seria a garantia do 
pensar correto. Esta teoria ficou conhecida como teoria da iluminação. (ARANHA; 
MARTINS, 2003).
A síntese feita pelos pais da igreja entre a fé e a filosofia levou a um 
afastamento profundo entre a razão e a realidade social e cotidiana. Desenvolveu-
se, nesse contexto, um pensamento filosófico distante da vida, totalmente voltado 
para uma esfera sobrenatural. A preocupação desses pensadores era atingir a 
essência de Deus. Explicar como ele é e como funciona. Este esforço é visível, por 
exemplo, na obra "A Trindade", de Santo Agostinho. 
FIGURA 6 – CAPA DO LIVRO "A TRINDADE", DE SANTO AGOSTINHO
FONTE: Disponível em: <http://www.paulus.com.br/images/
products/G/9788534900980.jpg>. Acesso em: 25 out. 2012.
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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Esta tendência foi aprofundada pelo movimento filosófico que se sucedeu, 
ou seja, a escolástica, sobre a qual falaremos no próximo ponto desse tópico.
3.3 TOMÁS DE AQUINO E A ESCOLÁSTICA
Caro(a) acadêmico(a), como vimos no ponto anterior, a primeira parte 
da Idade Média, conhecida como Alta Idade Média, foi caracterizada pelo 
pensamento neoplatônico-agostiniano. Na segunda parte da Idade Média, ou na 
Baixa Idade Média, pode-se destacar a influência da filosofia da Aristóteles na 
reflexão cristã. O que permanece inalterado nos dois períodos é a tentativa de 
conciliar a filosofia clássica com a fé cristã. 
É importante ressaltar que, durante a Idade Média, o saber foi confinado 
aos mosteiros e somente os religiosos a ele tinham acesso. Depois que o Império 
Romano se esfacelou, as cidades gradualmente se tornaram um local de 
insegurança, miséria e fome. O comércio decresceu e, gradativamente, a população 
espalhou-se pelo território. Houve, assim, uma ruralização da população. Nesse 
contexto, os mosteiros se tornaram os únicos lugares onde se conservava livros e 
onde havia educação. As cidades voltariam a crescer somente a partir do século 
XI e, com elas, a vida cultural e intelectual sofreria novos impulsos. Entre essas 
inovações está a retomada do pensamento de Aristóteles.
Por um longo período, Aristóteles foi visto com desconfiança pelos 
filósofos cristãos, pois as suas ideias lhes pareciam pouco adaptáveis à fé cristã. 
Foi Santo Tomás de Aquino (viveu de 1225 a 1274) que resgatou o pensamento 
aristotélico e o combinou com a reflexão cristã. (TRIGO, 2009). 
O trabalho desse filósofo cristão consistiu, em boa medida, na aplicação 
da lógica aristotélica às teorizações sobre a fé, o que levou à construção de uma 
doutrina cristã extremamente complexa. Entre as vantagens do seu trabalho está 
a construção de um sistema lógico e argumentativo muito consistente. Por outro 
lado, a lógica aristotélica reserva pouco ou nenhum espaço para a inovação. O 
pensamento tomista será reproduzido, principalmente, por padres dominicanos 
e jesuítas, que serão duramente criticados nos períodos posteriores pela sua 
intransigência e adversidade à inovação científica. (ARANHA; MARTINS, 2003).
Este é um assunto para o próximo tópico desta unidade.
A grande contribuição do pensamento de Tomás de Aquino para a reflexão 
filosófica e, posteriormente, para o pensamento sociológico, está no rigor que ele 
exige da pessoa que se dispõe a filosofar. Assim, embora as suas conclusões não 
sejam o foco de análise da filosofia posterior, o seu método servirá de referência e 
ponto de partida para toda a construção científica posterior. 
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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DICAS
Há ótimos filmes sobre a Idade Média. Recomendamos assistir a um em especial: 
O Nome da Rosa, onde aparecem de modo bastante evidente as diferentes maneiras de se 
lidar com o conhecimento.
FIGURA 7 – O NOME DA ROSA
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_Cyy4Qc4kSHA/
TALSljRLRrI/AAAAAAAAAEc/5sTSpjvtKak/s1600/O_Nome_Da_Rosa.
jpg>. Acesso em: 25 out. 2012.
UNI
Como Leitura Complementar para este tópico, caro(a) acadêmico(a), você tem 
à disposição uma breve apresentação da lógica aristotélica.
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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A LÓGICA ARISTOTÉLICA
 
João Francisco Cabral
Para Aristóteles, a lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) 
para o correto pensar. O objeto da lógica é o silogismo.
Silogismo nada mais é do que um argumento constituído de proposições 
das quais se infere (extrai) uma conclusão. Assim, não se trata de conferir valor de 
verdade ou falsidade às proposições (frases ou premissas dadas) nem à conclusão, 
mas apenas de observar a forma como foi constituído. É um raciocínio mediado 
que fornece o conhecimento de uma coisa a partir de outras coisas (buscando, 
pois, sua causa).
Em si mesmas, as proposições ou frases declarativas sobre a realidade, 
como juízo, devem seguir apenas três regras fundamentais.
1- Princípio de Identidade: A é A.
2- Princípio de não contradição: é impossível A é A e não-A ao mesmo tempo.
3- Princípio do terceiro excluído: A é x ou não-x, não há terceira possibilidade.
Dessa forma, o valor de verdade ou falsidade é conferido às proposições, 
pois é imediatamente evidenciado. No entanto, a lógica trabalha com argumentos.
As proposições classificam-se em:
Afirmativas: S é P.
Negativas: S não é P.
Universais: Todo S é P (afirmativa) ou Nenhum S é P (negativa).
Particulares: Alguns S são P (afirmativa) ou Alguns S não são P (negativa).
Singulares: Este S é P (afirmativa) ou Este S não é P (negativa).
Necessárias: quando o predicado está incluso no sujeito (Todo triângulo tem três 
lados).
Não necessárias ou impossíveis: o predicado jamais poderá ser atributo de um 
sujeito (Nenhum triângulo tem quatro lados).
Possíveis: o predicado pode ou não ser atributo (Todos os homens são justos).
O silogismo é composto de, no mínimo, duas proposições das quais é 
extraída uma conclusão. É necessário que entre as premissas (P) haja um termo 
que faça a mediação (termo médio sujeito de uma P1 e predicado da P2 ou vice-
versa). Sua forma lógica é a seguinte:
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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A é B Logo, B é C (sempre os termos maior e menor).
C é A
Observem que o termo médio é o termo A, que é sujeito numa frase e 
predicado na outra. Assim, ele não aparece na conclusão, evidenciando que 
houve mediação e que a conclusão é, de fato, uma dedução ou inferência, isto é, 
ela é realmente extraída da relação entre as premissas.
A relação entre as proposições acontece da seguinte maneira:
1 Proposições contraditórias: quando se diz que Todo S é P e Alguns S não são P 
ou Nenhum S é P e Alguns S são P.
2 Proposições contrárias: quando se diz que Todo S é P e Nenhum S é P ou Alguns 
S são P e Alguns S não são P.
3 Subalternas: quando se diz que Todo S é P e Alguns S são P ou Nenhum S é P e 
Alguns S não são P.
O silogismo, portanto, é o estudo da correção (validade) ou incorreção 
(invalidade) dos argumentos encadeados segundo premissas das quais é lícito 
se extrair uma conclusão. Sua validade depende da forma e não da verdade ou 
falsidade das premissas. Desse modo, é possível distinguir argumentos bem 
feitos, formalmente válidos, dos falaciosos, ainda que a aparência nos induza a 
enganos. Por exemplo:
P1 - Todo homem é mortal (V).
P2 - Sócrates é homem (V).
C - Logo, Sócrates é mortal (V).
O argumento é válido não porque

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